Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Segundo Ortega y Gasset, "un hombre se define más por lo que cree que por lo que piensa" 1
No confronto entre os invasores europeus e as sociedades indígenas, espanhóis e astecas
lutaram para impor seus deuses e crenças. Desse embate resultou uma sociedade indígena,
mestiça e criolla, extremamente religiosa e fanática. E as crenças religiosas se
interpenetraram, produzindo dois sincretismos: o católico espanhol e a cosmovisão mexica.
A esse respeito Jacques Lafaye escreveu que:
[…]o primero marcado por su coexistencia de siglos con el Islam, religión de cruzada y de fin de
mundo; el segundo también religión militante de pueblo elegido...ambos nascen en el mundo
prehispánico y son reelaborados en el siglo XVI por espíritus en los que el naciente pensamiento
moderno se mezcla con la tradición medieva […]2.
Tanto no Novo Mundo como na Europa as religiões incluíam crenças exógenas, devido às
questões pluriculturais que cercavam aquelas sociedades. A cosmovisão mexica
compreendia cultos e ritos dos povos indígenas submetidos à Tenochtitlán e ao deus
Huitzilopochtli , assim como, na Península Ibérica, fortes traços do Islamismo e Judaísmo
alteraram a ortodoxia cristã.
O inevitável confronto entre esses dois povos produziu novos padrões religiosos,
alterando as crenças e o sagrado. Vencidos pela violência dos estrangeiros e
abandonados pelos povos submetidos à Montezuma , os astecas não conseguiram escapar
da sanha dominadora dos espanhóis.
1
abriu mão do requisito de “pureza” 4. Indígenas e espanhóis, sociedades com culturas
diferentes,eram [...] hombres de diversas estirpes, que profesan diversas religiones y hablan
en diversos idiomas. Han tornado la extraña resolución de ser razonables.Han resuelto
olvidar sus diferencias y acentuar sus afinidades […]. 5
Apesar dessa complexidade, para reconstruir seus espaços sagrados esses dois povos em
confronto procuraram conviver com certa "racionalidade"e precisaram construir uma
identidade comum para ultrapassar as diferenças, encontrando na religião essa afinidade.
Os mitos de Quetzalcóatl/ São Tomás ( considerado um mistério religioso) e
Tonantzin/Guadalupe converteram-se em símbolos e gritos de guerra até os dias atuais, não
como especulação teológica, porém como imagens coletivas. 6
Octávio Paz atribuiu aos franciscanos a responsabilidade por aquela catástrofe cultural. Eles
se […]negaron a todo compromiso con las religiones y creencias prehispánicas. Ninguno de
los ritos y ceremonias que describe Sahagún, fue visto como un “ signo” que pudiese servir
de puente entre la religión antigua y la cristiana[…]7
A interpretação de Paz sobre o sincretismo revelou um México exótico e místico. Para ele,
a Nova Espanha foi uma sociedade estranha e com um destino não menos estranho:
[…]fue una sociedad que negó con pasión sus antecedentes y antecesores - el mundo
indígena y el español - y que, al mismo tiempo, entretejió con ellos relaciones ambiguas; a
su vez, fue una sociedad negada por el México moderno.México no sería lo que es
sin Nueva España, pero México no es Nueva España. Y más: México es su negación.
La sociedad novohispana fue un mundo que nació, creció y que, en el momento de
alcanzar la madurez, se extinguió[…].9
No século XVI , foram grandes os esforços dos franciscanos e outras ordens Religiosas no
sentido de enraizar o catolicismo por meio de uma especulação sincrética, bem como tornar
4
Barros, J.F- op.cit. p.167).
5
- Paz, Octavio – El Laberinto de la Soledad. México 1959 p.22-23
6
-Idem, op. cit, p.23
7
- Lafaye, J. – op. cit.p.14
8
- Toribio B. Lemos, Maria Teresa. - Corpo Calado. RJ.2000.
9
-Paz, op. cit., - p.23
2
o vice-reino de Nova Espanha a Outra Espanha e de México-Tenochtitlán, centro do
Império asteca, a Roma da América Setentrional.
Para Carlos Sigüenza y Góngora ( 1645) 10 a exaltação do passado indígena morto coexista
com o ódio e o temor diante do índio vivo. De acordo com seus relatos, por ocasião da
limpeza de um dos canais de Tenochtitlán, encontrou-se um grande número de de pequenos
objetos de superstição, que qualificou como magia negra asteca. Estavam todos perfurados
com facas e lanças, o que para ele comprovava o ódio dos índios aos espanhóis, embora a
maioria já se encontrasse cristianizada. O autor, rígido em seus princípios religiosos não
admitia a existência de magia indígena. Tratou as práticas culturais mágicas dos indígenas
como a bruxaria na Espanha. Os mexicas eram as feiticeiras de Vizcaya e os sacerdotes
astecas que substituíram os “sábios “ (grandes sacerdotes) como “nigromantes”.
[...]fue una raíz de la mística nacional criolla, que debía tomar rasgos de la virgen de
Guadalupe antes de laicizarse en la divisa de un pueblo que se creyó a sua vez el “ pueblo
elegido". Como México no hay dos [...] .11
3
eles, apenas o cristianismo consistia numa religião sagrada, pois os índios possuíam apenas
ídolos e crenças diabólicas.
Mesmo sendo considerada uma visão cristã, a Virgem de Guadalupe foi tratada pelos
mexicas como Tonantzin/Guadalupe, uma associação com a sua deusa. O cristianismo
introduzido nas comunidades indígenas tornou-se a religião oficial e aliado à mestiçagem
transfigurou as crenças nativas, dando origem ao que se define como sincretismo religioso.
Apesar dos processos da Inquisição contra os índios "idólatras", da derrubada dos templos,
da queima dos ídolos e construção de igrejas cristãs nesses locais sagrados, também a
perda do visual, do concreto, os mexicas guardaram na memória sua cultura religiosa. A
absorção do cristianismo e seus ritos foram associados às suas manifestações religiosas para
que o “corpo calado “ resistisse, não permitindo que os espanhóis se apercebessem dele.
Outro fator que concorreu para a continuidade das crenças nativas foi o extermínio da casta
sacerdotal. Esse fato permitiu que "bruxos e feiticeiros", na versão espanhola, assumissem
aquele papel e continuassem desenvolvendo as crenças tradicionais.
Essa questão foi possível pela conversão rápida dos nativos e pelo número reduzido de
sacerdotes espanhóis, que não tinham condições de controlar a ortodoxia dos índios. A
repressão não impediu a continuidade das antigas crenças, nem os ritos tradicionais de
subsistir e fundir-se à religião cristã, possibilitando esse caráter sincrético.
4
Assim como os indígenas conservaram no seu cotidiano a antiga religião, na medida que
ela garantia sua subsistência, foram também induzidos a aderir aos símbolos da religião do
conquistador. Não somente os mexicas assimilaram as práticas cristãs, como também os
cristãos foram influenciados pela religião mexica, sobretudo em relação aos seus costumes.
Lafaye assinalou que foram vários os casos em que sacerdotes cristãos se envolveram com
índias casadas, em torturas e assassinatos de nativos.13
O México do século XVI conviveu com essas formas de pensar o sagrado. Barros inferiu
que o sincretismo do ponto de vista da ideologia da pureza e da arenga aculturativa, não
trouxe consigo senão contaminação e vergonha, surgiu também sob a espécie de
mestiçagem que constitui uma ameaça para a eugenia e hegemonia dos branco. Em ambos
os casos, trata-se de acentuar a fronteira e coibir transigências.
Bibliografia
Barros, Jose Flavio Pessoa- A galinha d’Angola, Rio de Janeiro, Pallas , 1993
Lafaye,J- Quetzalcóatl y Guadalupe. México, Fondo e Cultura Económica, 1991
Ortega y Gasset, Jose – História como sistema. Madrid, 1962
Paz, Octavio- El Laberinto de la Soledad. México 1959
Toribio B. Lemos, Maria Teresa – O Corpo Calado. RJ Sete Letras, 2000
13
-Lafaye, p.33