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A VIDA VALE MAIS

QUE OS LUCROS!
Educação é direito, não é mercadoria
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Depois de quatro meses de escolas e universidades fechadas para atividades presenciais, temos
realidades distintas se desenhando, apesar de continuarmos em um cenário de pandemia e o Brasil
ser o país que mais tem contribuído para que ela não acabe. As atividades educacionais passaram a
ser desenvolvidas, prioritariamente, de forma digital, mediadas por diferentes ferramentas
tecnológicas. Sem critérios bem definidos e regulamentados, como o modelo tradicional de EaD
(Ensino à Distância), o que tem acontecido, em especial na educação básica, é um improviso de
ensino, que tem precarizado o trabalho docente e afastado uma grande parte do corpo discente das
escolas e das universidades.

No que se refere ao trabalho docente, não houve qualquer preocupação, seja na rede privada ou
pública, com o suporte a ser fornecido pelas instituições. Todo o aparato passou a ser de custo e
responsabilidade de cada docente, fazendo uso pessoal e doméstico dos seus equipamentos. A carga
horária diária de trabalho, para atendimento e replanejamento de metodologias para as disciplinas,
passou a ser maior. Some-se a isso o acúmulo de tarefas profissionais e domésticas, em especial para
as professoras que também são mães, uma vez que nossa sociedade patriarcal lança sobre as
mulheres a carga do serviço doméstico e de cuidados com crianças e pessoas idosas.

A realidade estudantil, em especial das escolas e universidades públicas, tem sido de enfrentar a crise
de saúde pública associada com a crise financeira. A maioria das/dos estudantes não possui as
condições domésticas adequadas para o estudo, nem tampouco o acesso às ferramentas tecnológicas
(computadores, tablets e internet). Vale dizer também que a maior parte das redes municipais de
ensino não garantiu até agora a assistência alimentar, existente quando das atividades presenciais.

Inserida no contexto de dúvidas e insegurança alimentado pelo cenário imprevisível da pandemia, a


educação privada parece sofrer impactos em outra dimensão, a de ordem econômica. As
respostas precisam ser quase que imediatas, mas não buscando satisfazer prioritariamente as
necessidades dos familiares e estudantes, mas sim o mercado e a busca incessante pela manutenção
dos lucros das empresas privadas de educação.. Grandes conglomerados educacionais que já
desenvolviam métodos de ensino remoto, híbrido e modelos de EAD - inclusive para o ensino médio -
se oportunizaram do momento para realizarem um teste minucioso em larga escala de suas iniciativas,
que não só barateiam significativamente o valor de trabalho do/a profissional como precarizam ainda
mais um sistema que trata o ensino como mercadoria das mais lucrativas. A carga de trabalho para
professores/as e corpo gestor extrapola qualquer tempo de planejamento formal: a vida íntima é
atravessada por telas, cobranças, prazos inesperados e rendimento no ensino, para além das dezenas
de plataformas tecnológicas que precisam ser assimiladas e operacionalizadas sem o devido preparo
e acompanhamento. As avaliações permanecem como imposição numa realidade de mortes, de
instabilidade financeira e de paralisia diante desse "eterno-presente".
A VIDA VALE MAIS
QUE OS LUCROS!
Educação é direito, não é mercadoria
O ensino híbrido é, sem dúvidas, uma alternativa possível do capital para crises como a que vivemos.
Contudo, somos radicalmente contra esse "novo normal" desenhado sutilmente pela burguesia
que controla a educação privada no país e que já encontra amparo legal de implementação
nacional, tanto na rede privada como pública de ensino. O grande capital está de olhos
arregalados e dentes afiados para abocanhar o novo filão que é colocado de bandeja pelo
governo federal. Inclusive, no Ceará, a rede estadual de ensino fez convênio com a Google e com
uma grande rede de ensino privado. Oficialmente, esse sistema parece não ter custos para os cofres
estaduais. Mas quem debate privacidade e segurança dos dados? E a relação de dependência com as
plataformas? O que dizer dos conteúdos apresentados e compartilhados?

Sem uma política educacional democrática e inclusiva, o Ministério da Educação segue destruindo
toda a estrutura, desde o corte de bolsas universitárias de pesquisas ao desmonte dos programas
para educação básica, como merenda escolar, livro didático e transporte escolar.

A outra ponta do tal ensino híbrido é a atividade presencial durante a pandemia. A constituição de
protocolos e planos de retomada das atividades presenciais está em desenvolvimento nas instituições
públicas e privadas. Entretanto, as escolas necessitam de melhor orientação técnica para a
elaboração de tais planos. Não há nas escolas a expertise sobre epidemiologia, sanitarismo e/ou
infectologia.

Os planos de retomada de parte do ensino de forma presencial estão relacionados com a flexibilização
das medidas de distanciamento social iniciada em diversos estado do país. Aqui no Ceará, a
flexibilização começou em 1º de junho e segue nas suas etapas de implementação, com forte pressão
do empresariado para a reabertura de escolas e universidades. O setorial de educação do PSOL
Ceará se posiciona veemente contra qualquer abertura que não seja precedida de estudo e
planejamento para garantir todas as condições de segurança sanitária que protejam as/os
professoras/os, funcionárias/os, estudantes e seus familiares. Recebemos com muita
indignação, no dia 16 de julho de 2020, a rejeição do PL 157/20 - que aponta diretrizes para o
retorno às aulas presenciais - apresentado pelo nosso parlamentar Renato Roseno à
Assembleia Legislativa do Ceará. O argumento da negação ao projeto é um problema histórico: a
resistência dos governantes em aumentar o investimento na educação pública.

As escolas, em especial as públicas, necessitam de ampliação de orçamento para garantir a


manutenção de higienização e desinfecção contínua de espaços e dos equipamentos, reformas
estruturais, testagens para as/os trabalhadoras/os e estudantes e aumento no número de pessoal,
para as diversas funções, tais como limpeza, alimentação, técnico-administrativo e docente.

Sem as condições sanitárias, estruturais e pedagógicas muito bem estabelecidas, através de


processo democrático de escuta de toda a comunidade escolar e universitária, não é possível o
retorno presencial durante a pandemia. É preciso assegurar uma educação de qualidade, antes,
durante e depois dessa atual crise de saúde pública.

/EDUCACAOPSOLCE @EDUCACAOPSOLCE

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