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A Sociedade
contra a Dengue
Brasília – DF
2002
2002. Ministério da Saúde.
É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte.
Série B. Textos Básicos de Saúde
Tiragem: 2.500 exemplares
Fernando Henrique Cardoso
Presidente da República
Barjas Negri
Ministro de Estado da Saúde
Mauro Ricardo Machado Costa
Presidente da Fundação Nacional de Saúde
Elaboração, distribuição e informações:
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Gabinete do Ministro
Assessoria de Imprensa
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ISBN 85-334-0594-4
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Sumário
5 - Anexos ..................................................................... 21
O Poder da Prevenção 1
A combinação do crescimento desordenado dos centros
urbanos com a expansão da indústria de materiais não
biodegradáveis e o aquecimento global produz uma certeza
preocupante: é impossível, a curto prazo, erradicar o mosquito
Aedes aegypti, transmissor da dengue. Por outro lado, é possível
evitar o nascimento de novos Aedes aegypti e, conseqüentemente,
o avanço da doença. Basta que se eliminem os criadouros onde
as fêmeas do mosquito colocam ovos para reprodução: pratinhos
de vasos de plantas, pneus, garrafas destampadas e outros
recipientes com água parada.
A dengue está relacionada ao saneamento doméstico. No
Brasil, cerca de 90% dos focos do mosquito encontram-se nas
residências. Os principais sintomas da doença são febre alta e
súbita, dores na cabeça e no corpo. Segundo a Organização
Mundial da Saúde (OMS), a dengue acomete anualmente 80
milhões de pessoas em 100 países de todos os continentes, exceto
a Europa. Ainda segundo a OMS, por ano, cerca de 550 mil
doentes necessitam de hospitalização, e 20 mil morrem em
conseqüência da dengue.
A reprodução do Aedes aegypti ocorre da seguinte
maneira: os ovos colocados pela fêmea na parede do
recipiente transformam-se em larvas quando em contato com
a água. Se os ovos forem postos por fêmeas infectadas, podem
carregar o vírus e gerar mosquitos capazes de continuar
infectando a população.
A reprodução se completa, em média, sete dias após a
postura, dependendo de uma série de fatores, como a temperatura
e a quantidade de matéria orgânica disponível na água. O tempo
5
de vida do mosquito é de pouco mais de um mês. Portanto, a
melhor arma contra a dengue é a mobilização de toda a sociedade
para barrar a reprodução do vetor. Ou seja, enquanto se evita o
nascimento de novos Aedes aegypti, outros vão morrendo após
30 dias de vida.
Já quando o ovo não entra em contato com a água,
ele permanece no recipiente mesmo quando este é
transportado para outro lugar, como no caso dos pneus. Por
força de suas características, o transmissor da dengue espalhou-
se por uma área onde vivem cerca de 3,5 bilhões de pessoas
em todo o mundo, embora ele se locomova num raio não
superior a 100 metros e tenha vida curta. Nas Américas, está
presente desde os Estados Unidos até o Uruguai, com exceção
apenas do Canadá e do Chile, por razões climáticas e de
altitude. Originário das margens do Rio Nilo, o mosquito da
dengue recebeu um nome científico cuja tradução não poderia
ser mais apropriada: Indesejável do Egito.
É um inseto urbano, cuja fêmea se alimenta
essencialmente de sangue humano. É escuro, com faixas
brancas. No torso, tem um desenho em forma de lira
(instrumento musical). Nos insetos mais velhos, o desenho some
e aparecem dois tufos de escamas branco-prateadas. É fácil
identificar suas larvas: sob o foco de um feixe de luz (uma
lanterna, por exemplo), dá para vê-las se locomovendo
rapidamente, em busca de abrigo no fundo do recipiente.
Ninguém pega dengue por contato físico, secreções,
alimentos ou qualquer outra forma de transmissão que não
seja a picada do Aedes aegypti. Já foram identificados quatro
sorotipos distintos do vírus: 1, 2, 3 e 4. Todos produzem
infecção e se manifestam, inicialmente, de forma semelhante.
Além de febre e dores no corpo, são comuns as sensações
de cansaço, falta de apetite e, por vezes, náuseas e vômitos.
Podem aparecer manchas vermelhas na pele (isso costuma
induzir a erros de diagnóstico, pela semelhança com o
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sarampo ou a rubéola) e coceiras no corpo. Às vezes, ocorre algum
tipo de sangramento, em geral no nariz ou nas gengivas. O
diagnóstico inicial de dengue é clínico (história + exame físico da
pessoa). A comprovação é feita por exame laboratorial, que
apresenta resultados seguros depois do quinto dia da doença.
Não existe medicação específica para o tratamento da
dengue. O doente deve permanecer sob observação médica,
manter repouso e ingerir muito líquido. Em alguns casos é
recomendada a hidratação por soro.
O Aedes aegypti foi considerado erradicado no Brasil em
duas ocasiões, nas décadas de 50 e de 70. Mas esse resultado
não foi obtido em outros países do continente americano, como
os Estados Unidos e a Venezuela, mantendo o Brasil sob permanente
risco de reinfestação. Nos anos de 1986 e 1987, ocorreu um
grande surto de dengue no Brasil, o primeiro a cruzar as divisas
estaduais, atingindo principalmente as populações de Alagoas,
do Ceará e do Rio de Janeiro.
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Ações Governamentais 2
Ao longo dos anos, o Ministério da Saúde não poupou
esforços na busca por uma solução eficaz contra a dengue.
Em 1996, por exemplo, diante da complexidade do problema,
decidiu rever a estratégia de combate, até então centralizada
na Funasa. Os métodos utilizados resumiam-se ao combate
químico, com baixíssima ou mesmo nenhuma participação
da comunidade, embora esta seja fundamental na eliminação
dos focos do mosquito. Não havia também a devida integração
intersetorial e era pequena a utilização do instrumental
epidemiológico, revelando uma incapacidade para conter um
vetor com altíssima adaptabilidade ao novo ambiente criado
pela urbanização acelerada e pelos novos hábitos da
população.
No mesmo ano, o Ministério da Saúde lançou o
Programa de Erradicação do Aedes aegypti (PEAa). Ao invés
do modelo de gestão centralizada e verticalizada, passou a
vigorar a descentralização das ações na área de controle de
endemias, com os repasses de recursos federais diretamente
a estados e municípios. A implantação do PEAa resultou em
um fortalecimento das ações de combate ao vetor, com
significativo aumento dos recursos utilizados para essas
atividades.
No entanto, as ações de prevenção continuaram
centradas quase que exclusivamente nas atividades de campo
com o uso de inseticidas contra o mosquito transmissor da
dengue. E no Brasil, a exemplo de outros países que adotaram
a mesma estratégia, a impossibilidade de erradicação do
mosquito e a necessidade de mobilização social na prevenção
ficaram ainda mais evidentes.
9
Em 2001, diante da tendência de aumento da incidência
e introdução de um novo sorotipo (DEN 3), que prenunciava
um elevado risco de epidemias de dengue e de aumento nos
casos de Febre Hemorrágica da Dengue (FHD), o Ministério
da Saúde, em parceria com a Organização Pan-Americana
da Saúde (Opas), realizou um seminário internacional para
avaliar as ações desenvolvidas e discutir a adoção de ações
mais eficazes contra a doença.
Em agosto de 2001, o Ministério da Saúde lançou o
Plano de Intensificação das Ações de Controle da Dengue
(PIACD), que, além de aumentar o volume de recursos federais
e manter a descentralização, incorporou elementos como a
mobilização social e a participação comunitária, indispensáveis
para responder de forma adequada a um vetor altamente
domiciliado.
Nos últimos anos, o Ministério da Saúde aumentou
significativamente os repasses de verbas para o combate à
dengue. De 1996 até 2001, os recursos federais destinados a
estados e municípios totalizaram cerca de R$ 2,5 bilhões. Em
1996, foram R$ 188,6 milhões; em 1997, R$ 431 milhões;
em 1998, R$ 396,5 milhões; em 1999, R$ 448,5 milhões; em
2000, R$ 456,2 milhões; em 2001, R$ 605,7 milhões. Para
2002, os recursos são de R$ 1 bilhão, quase o dobro do ano
passado.
Estados e municípios também devem participar
financeiramente do combate à dengue, contribuindo com o
equivalente a 10% do que recebem da União. O mais
importante é que cabe a eles gerir adequadamente esses
recursos de acordo com suas necessidades e características
específicas. Todos os estados e municípios brasileiros receberam
e continuam recebendo igual tratamento do Ministério da
Saúde: os mesmos recursos financeiros (calculados
proporcionalmente, considerando o número de habitantes e a
extensão territorial), os mesmos equipamentos e o mesmo
suporte de capacitação de profissionais.
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A Ocorrência de Dengue no Brasil 3
Em 2002, o Brasil registrou 672.371 notificações, com
2.090 óbitos por Febre Hemorrágica de Dengue (FHD). O
Estado do Rio de Janeiro concentrou a maioria absoluta e
relativa dos casos: 34% das notificações; 79,6% dos casos de
dengue hemorrágica e 65% dos óbitos (dados preliminares
até 5/10/2002). Enquanto isso, nos estados da Região Norte,
onde as iniciativas do governo federal foram acompanhadas
de uma ação efetiva das autoridades estaduais e municipais,
além da adesão da sociedade, as notificações caíram de
13.636 em janeiro de 2001 para 1.808 em janeiro de 2002.
No Amazonas, por exemplo, o número de casos passou
a cair mês a mês. Foram 7.233 notificações em janeiro de
2001, passando a apenas 59 em janeiro de 2002. O mesmo
ocorreu em Rondônia: de 713 notificações em janeiro de 2001
para 73 em janeiro de 2002. No Acre, a dengue seguiu a
mesma trajetória descendente: de 1.539 casos em janeiro de
2001 para 74 em janeiro de 2002. Se excluídos os casos
registrados no Estado do Rio de Janeiro, o número de
ocorrências teve um decréscimo em torno de 7% em janeiro
deste ano em relação a igual período do ano passado no
País.
No Rio de Janeiro, perdura até hoje uma polêmica em
torno da não renovação dos contratos, em 1999, dos cerca
de 5 mil mata-mosquitos que trabalhavam para a Funasa, no
estado, em ações de combate a endemias. O afastamento se
deu porque os contratos eram temporários, precisavam de
Medidas Provisórias para renovação e, pior de tudo, o trabalho
dos agentes não apresentava eficácia.
11
Tanto que, em 1998, quando os mata-mosquitos ainda
atuavam, foram notificados 32.113 casos de dengue no estado.
Em 1999, com a entrada do Rio de Janeiro no modelo
descentralizado, em que estados e municípios recebem recursos
do Ministério da Saúde para contratar seus agentes, o número
de casos foi de 7.374, uma redução de 77,04% em relação a
1998. Em 2000, foram 3.605 notificações, uma queda de
51,11% em comparação a 1999. É importante destacar que
o volume de recursos federais repassados ao estado para a
contratação de seus agentes é superior ao que se gastava
com os mata-mosquitos.
3.1) A Força-Tarefa
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3.2) O Dia D Contra a Dengue
13
eliminaram os focos do Aedes. A quantidade de veículos utilizados
naquele dia chegou a 1.089.
A Funasa estima que 14,6 milhões de pessoas se envolveram
nas ações do Dia D e que cerca de 4,2 milhões de domicílios
foram vistoriados pelas famílias que participaram da mobilização,
fazendo a limpeza ou eliminação dos possíveis focos do mosquito
transmissor da dengue. O Ministério da Saúde investiu R$ 2 milhões
na realização da campanha educativa do Dia D no estado. Após
o sucesso no Rio, o ministério realizou outros dias D contra a
dengue nos estados de São Paulo, Pernambuco, Goiás, Mato
Grosso do Sul e Alagoas.
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Plano Nacional de Controle da Dengue 4
Para intensificar ainda mais as ações de combate à
dengue, sobretudo a mobilização da sociedade, o Ministério
da Saúde lançou, em 24 de julho deste ano, o Programa
Nacional de Controle da Dengue (PNCD), em conjunto com
as secretarias estaduais e municipais de saúde. O principal
objetivo é fazer a prevenção desde já para reduzir, ao máximo,
o número de casos de dengue no País. O programa tem
recursos de mais de R$ 1 bilhão, dos quais R$ 903 milhões
são do orçamento do Ministério da Saúde, e as contrapartidas
estaduais e municipais totalizam R$ 131,1 milhões.
O programa busca reduzir a menos de 1% a infestação
predial (em imóveis residenciais, comerciais e públicos) pelo
Aedes aegypti em todos os municípios brasileiros; reduzir em
50% o número de casos em 2003 em relação a 2002; e
reduzir a menos de 1% os óbitos por dengue hemorrágica.
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promovida em março no Estado do Rio de Janeiro, quando a
população fluminense participou ativamente da eliminação dos
criadouros do Aedes aegypti. O PNCD é uma constatação de
que acabou o tempo, pelo menos no tocante à dengue, em que a
sociedade ficava passiva esperando que as autoridades resolvessem
seus problemas.
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Trabalhadores (CGT), Força Sindical, Instituto Brasileiro de
Administração Municipal (Ibam), Associação Brasileira das
Emissoras de Rádio e TV (Abert), Comitê Olímpico Brasileiro (Cob),
Ministério da Defesa, Conselho do Programa Comunidade
Solidária, Fundação Palmares, Confederação Nacional das Donas
de Casa e Consumidores, Conselho Nacional dos Comandantes
Gerais da Polícia Militar e Bombeiro Militar (CNCG).
A coordenação do comitê é exercida pela Funasa, que
promoverá reuniões periódicas para avaliar a implementação
das ações do Dia D e outras iniciativas que deverão ser
realizadas durante os meses do verão para eliminar os
criadouros do mosquito e, dessa forma, combater a dengue.
Estados e municípios com população igual ou superior a 50
mil habitantes também vão criar seus comitês de mobilização
social para planejar e executar ações de combate à dengue.
4.3) Campanhas
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dependências de imóveis abandonados, fechados ou àqueles cujos
proprietários ofereçam resistência.
Para reforçar ainda mais o cerco à dengue, o Ministério da
Saúde estimulará ações de saneamento ambiental. Serão
adquiridas tampas e capas protetoras para caixas d´água de
maneira a garantir a armazenagem segura de água de
consumo, sem risco de estes depósitos transformarem-se em
criadouros do mosquito. Nas casas ou comunidades onde as
pessoas necessitem armazenar água em latões e tonéis, serão
repassadas orientações sobre como acondicioná-la sem riscos
à saúde.
4.4) Reciclagem
18
4.5) Capacitação
19
4.6) Recursos
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Figura 1. Série histórica da taxa de incidência de dengue, Brasil, 1986 – 2002
400
300
200
Fonte: SES/FUNASA.
Obs.: Dados de 2002 consolidados até o mês de julho.
5
21
Figura 2. Casos notificados de dengue por região geográfica, Brasil, 1986 – 2002
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N NE SE S CO N° de UF com transmissão
600 20
100 5
0
0
Ano 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02
Casos Notificados 46.309 11.407 1.570 5.367 39.322 104.398 1.658 7.388 56.584 137.308 183.762 249.239 528.388 205.665239.870 428.117 672.371
Fonte: SES/FUNASA
Obs.: Dados de 2002 consolidados até o mês de julho.
Figura 3. Número de casos notificados e óbitos de febre hemorrágica de
dengue, Brasil, 1990 – 2002
2.000
Casos notificados
1.600
1.200
800
400
0
Ano 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
Caso notificados 2,74 188 0 0 25 114 69 46 105 72 59 682 2.090
Óbitos 8 0 0 0 11 2 1 9 10 3 3 29 96
Fonte: SES/FUNASA
Obs: Dados de 2002 consolidados até o mês de julho.
Figura 4. Taxa de letalidade por febre hemorrágica de dengue, Brasil, 1990 – 2002
50
40
Taxa de letalidade
30
20
10
0
Ano
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
Letalidade % 2,92 0 0 0 44 1,75 1,45 19,57 9,52 4,17 5,08 4,25 4,59
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EDITORA MS
Coordenação-Geral de Documentação e Informação/SAA/SE
MINISTÉRIO DA SAÚDE
(Normalização, revisão, editoração, impressão e acabamento)
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Brasília – DF, novembro de 2002
OS 1143/2002