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FEDERALISMO E PARADIPLOMACIA: A ATUAÇÃO INTERNACIONAL DOS ESTADOS-

MEMBROS NO CENÁRIO DA PANDEMIA DE COVID-19

Importância do tema
• Federalismo: tema recorrente no debate público brasileiro.
◦ Em praticamente todos os governos desde a redemocratização, houve movimentos contra e
a favor de maior descentralização política do Estado Brasileiro (com predominância pela
maior centralização, especialmente, mas não só, no âmbito fiscal)
◦ Também na área política: PEC do Pacto Federativo que propõe a exclusão de municípios
com menos de 5 mil habitantes que não comprovem sua viabilidade financeira, o que tem
gerado tensões;
• Peculiaridades na relação do governo federal com os governos subnacionais
◦ Pela primeira vez desde a redemocratização, ou talvez até antes, o governo federal tem
adotado posturas que colidem frontalmente com os interesses dos Estados-membros e
Municípios.
▪ Extinção do Fundo Amazônia, que fez com que os Estados-membros envolvidos fossem
diretamente ao exterior para buscar recursos para proteção ambiental;
▪ Conflito com o prefeito de Salvador em relação à conferência Climate Week, em 2019,
cancelada pelo governo federal e depois retomada pelo Município;
▪ Problemas diplomáticos com a China, tendo resposta imediata pelos governadores por
meio do governador da Bahia, Rui Costa, que falou representando o Consórcio
Nordeste;
▪ Finalmente, as disputas em relação à COVID.
• Discussão sobre a autonomia dos Estados e sua capacidade de agir frente a pandemia, inclusive
no STF
◦ Essa discussão envolve uma discussão maior, que se referente tanto à autonomia concedida
aos Estados pela Constituição quanto a sua capacidade de agir, enquanto ente subnacional,
diretamente na esfera internacional para garantir a consecução dos objetivos que foram
estipulados pela Constituição

1. Federalismo brasileiro
• Conceitos e classificações de federalismo
◦ Conceito de federalismo e condições para sua existência
▪ A palavra federação vem de foederatio, foedus (latim): “liga, tratado, aliança”,
relacionado a fides, “fé, confiança”.
◦ Estado Unitário/Estado descentralizado/Estado Federal
◦ Estado Federal centrípeto e Estado Federal centrífugo
◦ Diferença entre Estado Federal e Federalismo
◦ Federalismo dual (clássico) e o federalismo cooperativo
◦ Repartição de competências (horizontal, típica do fed. dual, ou vertical, típica do fed.
cooperativo)
• Federalismo no Brasil
◦ Implantação (1889)
◦ Oscilações entre 1891 e 1967
▪ Federalismo dual → Semente do federalismo cooperativo, mas com exacerbada
centralização → Oficialização do federalismo cooperativo → Golpe: federalismo de
integração
◦ Renascimento em 1988
▪ Ainda centralizador, mas muito avançado se comparado ao modelo anterior, inclusive
com a inclusão dos Municípios no Pacto Federativo
• A autonomia dos entes federativos a partir da CF/88
◦ Opções que o constituinte brasileiro tomou (federalismo cooperativo, repartição de
competências híbrida, centralização das competências na União com competências residuais
deixadas para os Estados)
▪ “um sistema que combina competências exclusivas, privativas e principiológicas com
competências comuns e concorrentes, buscando reconstruir o sistema federativo
segundo critérios de equilíbrio ditados pela experiência histórica”.
◦ A complexidade da divisão de competências entre União, Estados e Municípios faz com que
os entes subnacionais busquem, por conta própria, na esfera internacional, recursos
financeiros, tecnológicos, enfim, para a consecução dos objetivos estipulados pela CF, uma
vez que nem sempre é possível obter esses recursos por meio dos mecanismos previstos
pelo Pacto Federativo.
▪ Globalização + regionalização
• Pressão por maior descentralização do poder
• Pressiona os governos locais por demandas que não podem ser respondidas dentro
da estrutura nacional
• Necessidade de os entes locais se articularem com em cadeias de produção
internacional
▪ Mercocidades

2. A atuação externa dos Estados e Municípios


• Paradiplomacia e diplomacia federativa
◦ O que é paradiplomacia?
▪ O conceito nasce da ideia de “diplomacia paralela”, ou seja, é uma “diplomacia
informal”, mas que segue as diretrizes da diplomacia nacional; caminham juntas, em
paralelo.
▪ O termo “diplomacia federativa” foi cunhado por intelectuais do governo federal na
época do Presidente Fernando Henrique Cardoso para albergar a atuação externa dos
municípios.
• 1997: Assessoria de Relações Federativas (junto ao MRE)
• No governo Lula, a Secretaria de Assuntos Federativos (junto ao Gabinete da PR)
• A regulamentação legal da paradiplomacia no Brasil
◦ Não existe um marco jurídico próprio para as relações dos entes federativos brasileiros com
entes internacionais, sejam eles públicos ou privados, mas já houve tentativas
▪ PEC 475/2005 – PEC da Paradiplomacia
• Acréscimo de um § 2º, ao art. 23, da CF, para permitir expressamente que os
Estados, o DF e os Municípios pudessem celebrar acordos ou convênios com entes
subnacionais estrangeiros, mediante prévia autorização da União
• O projeto parou na CCJ – na época, o deputado Ney Lopes, relator da CCJ,
considerou o seguinte: “Nada há no texto constitucional que impeça Estados, DF e
Municípios de celebrar atos internacionais (com pessoas físicas ou jurídicas,
públicas ou privadas, contratos, acordos ou convênios etc)”. Entende que esta
autonomia decorre diretamente do art. 18 da CF, que é o que prevê o Pacto
Federativo.
▪ PLS 98/2006
• Dispunha que estariam habilitados para conduzir negociações internacionais “o
Presidente da República ou algum plenipotenciário seu acreditado com carta de
plenos poderes”.
• Também parou na CCJ do Senado, que considerou que “tal exigência não está de
acordo com a prática internacional, que prima pela descentralização e
simplificação de certos procedimentos”.
◦ Ausência de marco regulatório: benefício ou prejuízo?
▪ Na literatura que eu pesquisei de Relações Internacionais, eu percebi que a tendência é
considerar essa lacuna um ponto negativo, porque fragiliza a segurança dos atos que
foram realizados pelos representantes dos entes federativos.
• Exemplo que se dá é o da Constituição Argentina, que recebeu uma abrangente
reforma em 1994. Na ocasião, previu-se no art. 124 que “as províncias poderão
celebrar convênios internacional desde que não sejam incompatíveis com a polícia
exterior da Nação”
▪ Por outro lado, a construção de um marco jurídico pode repetir a tendência
centralizadora do Pacto Federativo brasileiro; a inexistência desse marco poderia
permitir maior margem de manobra aos entendes federativos, como sustentado pelo
Dep. Ney Lopes em seu parecer de 2005.
3. A postura dos entes federativos no combate à Covid-19
• A atuação “descooperativa” das entidades federativas
◦ O governo Jair Bolsonaro inaugurou uma o federalismo “descooperativo”, que ainda não
havia aparecido na história federal brasileira: em diversos momentos, o governo federal
tomou atitudes opostas às defendidas e requeridas por Estados e Municípios
▪ Fundo Amazônia – a postura do governo praticamente retirou o investimento
estrangeiro, demandando dos Estados postura ativa na busca pela retomada desses
investimentos
▪ Climate Week – o governo federal “cancelou” a conferência, mas o prefeito de Salvador,
ACM Neto, confirmou e realizou o evento
▪ Relações diplomáticas com a China fragilizadas – membros do governo e o filho do PR
fizeram comentários de cunho depreciativo à China e ao povo chinês, o que demandou
mais atividade dos governos locais, sobretudo do Consórcio Nordeste
• Adoção das medidas sanitárias pelos Estados e Municípios
◦ Quais são as principais medidas sanitárias recomendadas pela OMS
◦ União: Lei 13.979/2020, de iniciativa do Poder Executivo
▪ Curiosidade: no site da presidência a lei tem como alguns dos assuntos “vírus, origem,
China”
▪ Postura negacionista da União, que por meio do governo federal tentou minimizar o
impacto do novo coronavírus no Brasil, rejeitando todas as orientações técnicas de saúde
de autoridades brasileiras e estrangeiras, tanto de organismos internacionais quanto de
outros países, isolando o Brasil nesse combate
▪ O primeiro hospital de campanha inaugurado pelo governo federal só recebeu a primeira
paciente no dia 14/06/2020 (Águas Lindas/GO)
▪ Brasil ainda não testou 1% da população
▪ Bolsonaro chamou a atuação de governadores em desacordo com seus decretos e Mps
de “desobediência civil”e pediu que empresários “jogassem pesado” com o governador
João Dória, afirmando que “é guerra”
◦ Governos locais: adoção das recomendações internacionais
▪ Negociação direta com entidades estrangeiras para obtenção de equipamentos e testes,
sobretudo com a China
◦ Conflito entre unidades federativas (União e Estados) – solucionado pelo STF
▪ ADPF 672
▪ ADI 6341
▪ ADI 6347

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