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QUESTÕES
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1ª QUESTÃO: Qual o conceito de segurança jurídica em matéria
tributária?
RESPOSTAS
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significações que se aproximem da pauta valorativa explicitada nos
vários princípios que preordenam o sobreprincípio da segurança
jurídica.
Sua existência em um ordenamento está atrelada ao desejo
depositado na ordem jurídica de que esta seja íntegra, consistente e
duradoura, de modo que a manutenção do sistema depende, em boa
medida, da atenção que tenham os intérpretes para com esse valor ao
longo de cada processo de positivação.
Tais observações mostram-se por demais apropriada ao
quadro das prescrições sobre a matéria tributária, não apenas pelo
caráter vinculado que deve presidir a atuação tanto da administração
pública, como dos contribuintes e autoridades julgadoras, mas
também pela intensa mutação normativa que experimenta esse
subdomínio do direito em nossos dias.
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contradições de comportamento, práticas reiteradas e outros.
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FÁTIMA FERNANDES RODRIGUES DE SOUZA
KIYOSHI HARADA
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JOSÉ EDUARDO SOARES DE MELO
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norma editada.
Prevalece o sobreprincípio, armazenado pela função
topológica da segurança jurídica feita na esfera tributária, para que o
legislador ordinário, ou aquele encarregado da regulamentação, não
desborde de sua função ou crie embaraços à efetiva finalidade
traduzida em relação ao contribuinte.
A percepção sinaliza temática cujos princípios serão, todos
eles, inspirados naquele sobreprincípio fundamental para se buscar,
dentro do âmbito constitucional, a única solução que rege os demais
princípios em vigor no campo da tributação.
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O da anterioridade, que inclusive já foi reconhecido como
cláusula pétrea pelo Supremo Tribunal Federal na ADI 939, diz
respeito não apenas a vigência da lei, mas a da sua eficácia.
O da noventena, incluído pela Emenda Constitucional n.
42, de 19 de dezembro de 2003, visa evitar aquela “técnica” de
instituir-se ou aumentar-se um tributo no dia 31 de dezembro de
determinado ano, para que seja exigível no dia 1º de janeiro do ano
seguinte.
Inclui-se ainda as imunidades previstas no art. 150, VI da
Constituição Federal.
Esse conjunto de princípios e garantias se constituem num
arcabouço constitucional que dá consistência ao princípio da
segurança jurídica em direito tributário. São direitos e garantias
individuais, consagrados no Texto Magno como cláusulas pétreas, a
teor do art. 60 § 4º, IV.
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Ressalte-se que o novo CPC ao prestigiar os valores
constitucionais ressalta o respeito a segurança jurídica e à duração
razoável do processo como pilares do novo ordenamento. O Ministro
Luiz Fux destaca: Outrossim, o novo CPC é um ordenamento lavrado à
luz da novel axiologia constitucional que prevê como direito
fundamental a “segurança jurídica” que se subdivide em segurança
judicial e segurança legal.
VITTORIO CASSONE
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jurídicas, (b) que as normas jurídicas sejam prévias aos fatos por elas
regulados, (c) que esta existência prévia seja conhecida dos
destinatários das normas e (d) que esta existência seja regular, no
sentido de que a norma tenha pretensão de definitividade. Mais.
Podemos dizer que a segurança não se compactua com o excesso
normativo, com contínuas modificações legislativas e exige, ainda, leis
claras e compreensíveis pelo homem médio.
Todavia, temos notado que as reflexões sobre a segurança
jurídica, como um todo, voltam-se, basicamente, para as leis e os atos
administrativos. Legislador e Administrador Público seriam os grandes
destinatários deste valor. De nossa parte, entendemos que,
atualmente, a segurança jurídica é um valor que, também, deve ser
perseguido pelo Poder Judiciário.
No estágio em que se encontra a teoria jurídica, com o
reconhecimento, dentro do paradigma do pós-positivismo, (a) de que os
princípios são normas que fazem a ponte entre os valores e as regras,
(b) de que os princípios obedecem à lógica da ponderação dos valores,
(c) de que o direito é uma construção de sentido e (d) de que a
linguagem jurídica possui uma “textura aberta”, é importante verificar
a ampliação da liberdade e da subjetividade do intérprete e do
julgador, o que pode acarretar, sem dúvida, em um déficit de
previsibilidade e certeza.
Sob esta perspectiva, no direito tributário brasileiro,
constatamos que não só o Legislador e o Administrador, mas o próprio
Poder Judiciário vem atuando em descompasso com o ideal de
segurança jurídica. Fácil de constatar que muitas são as situações
levadas ao Judiciário (a) que não encontram uma solução rápida, (b)
que são objeto de incontáveis divergências, (c) que não são claras e
acessíveis ao homem médio e, ainda e principalmente, (d) que não são
estáveis. A jurisprudência, antes de pacificar conflitos, atualmente
abre caminho para que outras disputas judiciais surjam e, assim, para
uma incerteza a respeito de como o contribuinte deve pautar suas
condutas. Veja-se o caso da prescrição e da decadência. Trata-se um
tema de fundamental importância para a incidência de diversas
normas tributárias. Mas, até hoje, alcançados cinquenta anos de
vigência do CTN e quase trinta anos da promulgação da Constituição,
não há uma orientação segura sobre diversos tópicos em tal matéria.
Assim, pode o contribuinte iniciar uma disputa com o Fisco sob o
paradigma de uma jurisprudência e, ao término dela, a orientação ser
outra, completamente distinta.
Assim, não só a segurança jurídica, mas, também, a
segurança jurisdicional é um valor que deve ser buscado pela nossa
sociedade, como forma de, especificamente no direito tributário,
termos uma tributação mais segura e justa.
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GUSTAVO MIGUEZ DE MELLO
YOSHIAKI ICHIHARA
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constitucionais em matéria tributária, respeitando os princípios e
garantias fundamentais, as limitações constitucionais ao poder de
tributar, os princípios da legalidade formal e material, da estrita
legalidade, da isonomia, da irretroatividade, da capacidade
contributiva, da discriminação das competências, da anterioridade, da
anterioridade mitigada de 90 dias, da anualidade, entre outros.
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RICARDO MARIZ DE OLIVEIRA, BRUNO FAJERSZTAJN, FABIANA
CARSONE ALVES F. DA SILVA E RAMON TOMAZELA SANTOS
PAULO CALIENDO
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inconsistência. O princípio da segurança não entra em contradição
com a proteção da igualdade. Ambos possuem suporte normativo
recíproco. Igualmente ele não entra em choque com o princípio da
solidariedade ou da justiça material. A segurança pode ser entendida
igualmente como segurança material (“art. 3º - III - erradicar a pobreza
e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais”). Isso
não impede que se atribuam distinções sobre o alcance, a força e
eficácia de cada um dos princípios.
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dos poderes públicos constituídos. O expresso reconhecimento
constitucional da “segurança” como um “valor supremo” (cf. Preâmbulo
da CF/88) e, portanto, definidor dos fins do Estado de Direito
inaugurado a partir da Constituição, por sí só já a qualifica como um
“princípio jurídico fundamental” (“Rechtsgrundsätze”) que, na sua
“função positiva” deve informar materialmente os atos dos poderes
públicos e, na sua “função negativa”, constitui um importante critério
valorativo para a interpretação, integração, conhecimento e aplicação do
direito positivo. Da mesma forma o expresso reconhecimento
constitucional da “segurança” como um “direito fundamental”, implica
na sua imediata correlação com cada um dos outros direitos e
garantias fundamentais decorrentes do regime e dos princípios
constitucionais adotados, e não excludentes (art. 5º, §§ 1º e 2º da
CF/88) - dentre os quais se contam, dentre outros, os direitos e
garantias à liberdade, à igualdade e à propriedade (art. 5º caput e inc.
XXII da CF/88), à legalidade da tributação e da Administração (arts.
5º, inc. II, 37 e 150, inc. I da CF/88), à hierarquia e publicidade
normativas (arts. 59, 37 e 146 da CF/88), à “irretroatividade das leis”
tributárias (arts. 150, inc. II, alínea “a” da CF/88), penais (art. 5º, inc.
XXXIX e XL da CF/88), ou quaisquer outras discriminatórias,
interventivas ou restritivas de direitos, liberdades e garantias do
cidadão (art. 5º inc. XLI da CF/88), à “intangibilidade” e proteção do
direito adquirido, do ato jurídico perfeito e da coisa julgada (art. 5º
XXXVI da CF/88), ao devido processo legal ou da proibição de excesso
e seus corolários da razoabilidade e proporcionalidade (art. 5º, inc. LIV
da CF/88), etc. –, cuja violação supõe à do próprio direito à segurança,
em face de sua intima relação de interdependência, o que possibilita a
violação concomitante dos referidos direitos e garantias.
Portanto o “âmbito ou núcleo de proteção” da segurança
jurídica tutelada pela Constituição a todos os ramos do Direito,
inclusive o Tributário, não se limita à mera concessão de direitos
isolados e desconexos, mas abrange um plexo de direitos interligados e
convergentes, destinados à promoção dos “valores supremos”
(liberdade, segurança, igualdade e justiça) do Estado Democrático de
Direito e à proteção pessoal e patrimonial do indivíduo contra a
arbitrariedade dos plenipotenciários poderes Estatais, de modo a
possibilitar, não só a certeza, estabilidade e previsibilidade do Direito
aplicável (conteúdo e efeitos) e a legítima confiança do cidadão no
Direito vigente e na coerência de sua aplicação pelos poderes públicos,
mas, sobretudo, o efetivo controle da legitimidade, tanto do próprio
ordenamento jurídico editado a partir da Constituição e das leis nela
fundadas (princípios da supremacia da constituição e da legalidade),
como da atuação dos órgãos estatais, estes últimos expressamente
investidos pelo povo, na função de preservar (e sob nenhum pretexto
alterar) os princípios e direitos fundamentais, no exercício regular das
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funções de positivação, execução e interpretação do ordenamento
jurídico a partir da Constituição.
DOUGLAS YAMASHITA
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(tanto no aspecto positivo como indicativo dos campos materiais
passíveis de serem tributados, quanto em seu aspecto negativo como
indicativo do campo material das imunidades), bem como de regras
específicas (v. g., as indicativas dos tipos de tributos, da imposição de
reserva de lei complementar para a regulamentação de determinadas
matérias ou para imposição de determinados tributos, etc.) que
delimitam o campo passível de tributação. Além disso, a segurança
jurídica é, também, a confiabilidade na própria estabilidade sistêmica
das normas de imposição – consubstanciada tanto na confiança
(“esperança”) de que os enunciados normativos não serão alterados
constantemente, como na baixa mutabilidade da interpretação
conferida aos enunciados normativos, pelos agentes administrativos, e
nas decisões administrativo-judiciais – bem como a certeza quanto aos
espectros de significação da materialidade dos fatos jurídicos que
compõe as zonas de competência tributária dos entes políticos. Mas,
sobretudo, a certeza, confiança e previsibilidade de que somente serão
passíveis de tributação, nas formas e limites previstos constitucional e
infra-constitucionalmente possíveis, os fatos econômico-jurídicos que
estiverem contidos no campo sintático das realidades econômicas
indicadas nas competências tributárias.
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cumprimento e respeito a todos os princípios e direitos garantidos pela
Constituição Federal
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Direito estabelecido (positividade, segurança de orientação,
irretroatividade e estabilidade relativa), princípios relativos ao Direito
aplicado (prévia calculabilidade das decisões estatais, respeito à coisa
julgada e estabilidade/uniformidade jurisprudencial).
Por fim, do ponto de vista subjetivo, também é consagrada
a chamada proteção da confiança legítima, sobretudo em matéria de
incentivos fiscais concedidos irregularmente, em face de diversos
critérios, como o grau “de permanência, de individualidade, de
onerosidade, de eficácia no tempo, de realização das finalidades, de
aparência de legitimidade, de dependência dos destinatários e de
indução comportamental” implicados pelos incentivos. A depender do
resultado do teste decorrente da aplicação desses critérios, deverão ser
protegidos os contribuintes, “evitando o engano e a surpresa de quem,
legitimamente, confiou na validade dos atos normativos”.
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Com efeito, os cidadãos devem ser capazes de compreender
as normas jurídicas que lhes são aplicáveis, para que possam nortear
sua conduta em conformidade com o Direito. O Direito também deve
ser confiável, é dizer, o indivíduo deve poder crer que os direitos
garantidos quanto a fatos ocorridos no passado não serão suprimidos
por normas futuras. Por fim, o cidadão deve ser capaz de planejar o
seu futuro, não podendo ter suas legítimas expectativas frustradas por
mudanças súbitas na legislação aplicada pelo Estado.
A segurança jurídica aplica-se a todos os ramos do Direito e
tem especial aplicação no Direito Tributário brasileiro, tendo em vista
a disciplina extremamente detalhada trazida pela Constituição Federal
nessa matéria.
Ao lado da Constituição, o Código Tributário Nacional
também buscou resguardar a segurança jurídica, fixando o perfil das
espécies tributárias e reiterando os princípios da legalidade,
irretroatividade e anterioridade tributárias.
Mas não é só. O Código também previu mecanismos para a
garantia da segurança no que diz respeito à atuação da Administração
Tributária.
Por fim, a segurança jurídica, aliada aos princípios da
irretroatividade, da confiança e da boa-fé, também deve ser aplicada às
decisões do Judiciário, resguardando o contribuinte que acreditou no
entendimento por ele firmado.
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regras claras, de que decorra a necessária estabilidade das relações
jurídicas constituídas e o respeito às justas expectativas de direito
delas decorrentes. Não pode ser comprometida ou contrariada a
capacidade do contribuinte de boa-fé conhecer seus direitos e deveres,
ou seja, de saber de antemão as consequências dos atos jurídicos que
praticar.
Trata-se, ainda, de balizador indispensável do processo
interpretativo, de modo a sempre se escolher, dentre duas ou mais
interpretações possíveis, aquela mais condizente com os princípios de
boa-fé, moralidade, transparência, lealdade, confiabilidade, não
surpresa, devido processo legal, razoabilidade e proporcionalidade,
afastando o arbítrio e prestigiando a legítima confiança. O contribuinte
tem o direito de confiar na Administração e, principalmente, de não ser
prejudicado e não ter seu patrimônio injusta ou abusivamente atingido
por ter assim procedido.
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Trata-se, a nosso ver, de analisar a segurança jurídica em
conjunto com os demais princípios do ordenamento jurídico, a fim de
que a argumentação se estruture de modo a abarcar mais do que os
argumentos reducionistas costumeiramente empregados. Defendemos,
por exemplo, que o argumento econômico seja reinserido no direito
tributário. Serve, por certo, de arcabouço para análise da segurança
jurídica. Da mesma forma que decorrem a legalidade, a irretroatividade
e a anterioridade como melhor interpretação da segurança jurídica em
matéria tributária.
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MARCELO BORGHI
RICARDO CASTAGNA
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pode opor-se a isso com base no art. 3º da LINDB? E no caso de
consulta formal: quais os critérios devem ser observados para
caracterizar a dúvida da legislação (sob pena da sua ineficácia, de
acordo com o artigo 52, VI do Decreto nº 70.235/1972)?
RESPOSTAS
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PAULO DE BARROS CARVALHO
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com clareza, transparência, simplificação, publicidade e inteligibilidade.
E integra ainda a acessibilidade formal o cumprimento da boa técnica
legislativa na atuação das fontes do direito. Não que isso esgote o seu
conteúdo, mas trata-se de parcela relevante para redução da
complexidade que visa a garantir “a qualidade da legislação tributária”.
Com isso, evita-se que fontes normativas produzam textos com
enunciados vagos ou ambíguos, o que se poderia converter em uma
forma de negar direitos ou de causar embaraço às leis editadas (ne
aliquid per obscuritatem in captione contineat).
Para ficar no Sistema Constitucional Tributário, o direito de
acessibilidade formal das leis tributárias foi proclamado ao menos em
duas disposições, como se vê no art. 150, § 5º, o qual prescreve que “a
lei determinará medidas para que os consumidores sejam esclarecidos
acerca dos impostos que incidam sobre mercadorias e serviços”; e no
art. 150, § 6º, pelo qual qualquer subsídio ou isenção, redução de base
de cálculo, concessão de crédito presumido, anistia ou remissão só
poderá ser concedido mediante lei específica que regule exclusivamente
as matérias. À evidência, o interesse em prestigiar a transparência e a
publicidade constitui o principal conteúdo desses preceitos normativos
constitucionais, em favor da acessibilidade de realização.
Tão relevante é a dignidade da acessibilidade por
inteligibilidade das leis que esta matéria encontra-se positivada na
nossa “lei sobre leis”. A LC 95, de 1998, estatui, no art. 11, essa
exigência de clareza e precisão na redação dos textos de normas e, por
conseguinte, reparte os requisitos de clareza daqueles de exigência de
precisão (inteligibilidade). Para a obtenção de clareza, entre outros,
determina que a lei deve usar as palavras e as expressões em seu
sentido comum, salvo quando a norma versar sobre assunto técnico,
hipótese em que se empregará a nomenclatura própria da área em que
se esteja legislando; e, para a obtenção de precisão, exige que a
linguagem, técnica ou comum, seja articulada de modo a ensejar
perfeita compreensão do objetivo da lei e a permitir que seu texto
evidencie com clareza o conteúdo e o alcance que o legislador pretende
dar à norma. É induvidoso que, em matéria tributária, essas exigências
potencializam-se e são de grande relevância, tanto para a clareza
quanto para a inteligibilidade da legislação tributária em geral.
Toda essa discussão, aparentemente técnica, tem forte
repercussão em todo o procedimento de interpretação ou aplicação do
direito positivo. Poderíamos dizer que isso equivaleria a uma espécie de
princípio do “bom legislador”, como aquele que deve respeitar as
exigências de certeza, de coerência, de precisão e de clareza dos textos
legais.
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HUGO DE BRITO MACHADO
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clareza na elaboração de preceitos legais, e imputar ao particular o
ônus de conhecer lei obscura e mal elaborada, impassível de ser
adequadamente compreendida. Daí a preocupação com a formulação
das leis externada pela Lei complementar 95/1998, que dispõe sobre a
elaboração, a redação, a alteração e a consolidação das leis, e, em
especial pelo seu art. 11, que determina que as “disposições
normativas serão redigidas com clareza, precisão e ordem lógica (...)”.
No campo tributário, como visto, prevalece a tipicidade ou
especificidade conceitual, em prestígio à segurança jurídica, a
reclamar o mínimo grau de indeterminação possível na descrição legal
dos fatos sujeitos à tributação, embora mesmo a literalidade da lei
possa, em alguma medida, comportar certo grau de elasticidade
interpretativa.
No âmbito dos processos de consulta regidos pelo Decreto
70.235/1972, também se revela a preocupação com que os fatos
objetos da consulta sejam fatos determinados e não genéricos ou
hipotéticos, como se dessume do seu art. 46, o qual dispõe que o
“sujeito passivo poderá formular consulta sobre dispositivos da
legislação tributária aplicáveis a fato determinado.” O art. 52 do mesmo
decreto estabelece taxativamente as hipóteses em que a consulta
formulada não produzirá efeitos.
O que se extrai dos dispositivos supra, de relevância à
indagação acerca dos critérios que caracterizam dúvida da legislação é,
sinteticamente, a existência de algum grau de indeterminação presente
nos dispositivos normativos, cuja interpretação possa comportar
divergências justificadas ainda não solucionadas ou não submetidas
ao crivo da administração em procedimento fiscal, mas sempre em
relação a fatos determinados que constituam obrigação do consulente.
A consulta é um instrumento disponível ao contribuinte para dirimir
dúvidas interpretativas, destinada, se não a conferir maior segurança
jurídica, pelo menos a esclarecer a interpretação do fisco acerca do
objeto da consulta.
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disposição legal, assegurando ao contribuinte a eficácia da consulta.
KIYOSHI HARADA
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interpretação legal, descabendo ao Poder Judiciário criar, ignorar ou
mudar os significados de elementos previstos pelo legislador. Veja-se
que o monopólio da criação de obrigações ainda é da lei, cuja produção
é exercida por mandatários do povo. Uma decorrência dessa ressalva,
entendemos, está diretamente ligada ao princípio da estrita legalidade,
que determina a necessidade de a lei em sentido estrito veicular todos
os elementos necessários para a incidência tributária. O princípio da
estrita legalidade guarda íntima relação, portanto, com o conteúdo do
texto legal, que deverá veicular elementos mínimos para que a
obrigação tributária seja possível. Em caso contrário, haverá vício de
conteúdo na norma jurídica, o que poderá resultar na impossibilidade
de incidência da norma jurídica.
Estaríamos, neste caso, diante de um defeito do texto legal,
que não se assemelha ao já apontado vício de linguagem.
Especificamente em questões de direito tributário, caberá somente ao
legislador prever os elementos essenciais para a incidência tributária,
não sendo possível a nenhum intérprete, nem mesmo ao Poder
Judiciário, criar tais elementos por qualquer meio ou técnica de
interpretação. Diante disto, entendemos que o princípio da estrita
legalidade se vincula à previsão, pela lei, dos elementos essenciais da
obrigação tributária, enquanto o art. 11 da Lei Complementar nº
95/1998 estabelece, apenas, técnicas para que vícios de linguagem
sejam evitados.
A segunda decorrência da afirmação que fizemos acima
sobre o texto legal defeituoso está ligada a forma de interpretação,
inclusive aquela praticada pelo Poder Judiciário. Pelo que já dissemos,
é possível compreender que a interpretação jurídica é um processo, no
qual o resultado deverá ser a norma jurídica. Para que o processo, por
sua vez, seja isento, reputamos adequado que a postura do intérprete
seja científica, ou seja, descomprometida da existência de um
resultado pré-determinado (sem, portanto, que haja uma predisposição
para o seu resultado). O processo de interpretação deve ser científico,
portanto, com o máximo de isenção e imparcialidade daquele que o
conduz. Essa afirmativa, em grande parte, significa a impossibilidade
de fisco e contribuinte deixarem de cumprir obrigações legais sob a
alegação de desconhecimento da legislação tributária. A mesma
afirmação também pode ser uma das chaves para a melhora do
irracional sistema legislativo tributário brasileiro, que tem como uma
de suas características a alta taxa de judicialização de demandas, em
decorrência da desonesta relação entre fisco e contribuinte, na qual
um tenta arrecadar a qualquer custo (inclusive ultrapassando
previsões legais e jurisprudência de Tribunais Superiores) e outro
tenta não pagar a qualquer custo (inclusive sonegando).
O intérprete fiscal não deve iniciar a interpretação legal
com a certeza de que a incidência tributária deverá ocorrer, da mesma
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maneira que ao contribuinte não caberá adotar a posição oposta. A
nenhum dos sujeitos atingidos por efeitos legais caberá, portanto,
afastar a aplicação legal sob alegação do seu desconhecimento e/ou
valendo-se de interpretação que lhe beneficie, mas não científica. A
eventual dúvida com relação ao conteúdo legal deverá ser decidida pelo
Poder Judiciário, que reconhecerá e declarará a norma jurídica
vigente.
A falta de honestidade dos sujeitos da relação jurídica
tributária provoca profunda incerteza no sistema jurídico brasileiro,
em que a norma jurídica decorrente da lei é conhecida somente anos
após a ocorrência do fato gerador, com a solução de conflitos pelo
Poder Judiciário, o que não tem sido a melhor alternativa para a
aplicação do direito. A desconfiança recíproca entre contribuinte e
Estado é uma das causas da insegurança jurídica na qual vivemos.
Toda essa reflexão, fundada na norma jurídica como o
produto do processo de interpretação, nos faz reconhecer na consulta
um valioso instrumento para apaziguar a relação entre fisco e
contribuinte. Não é o que ocorre na realidade, entretanto. Dispositivos
como o art. 52, VI, do Decreto nº 70.235/1972, são válvulas para os
sujeitos da relação tributária (neste caso, o fisco) se furtem do seu
dever de isenção no processo de interpretação. Essa exaltação da
literalidade da lei está ligada às escolas filosóficas do positivismo
jurídico de acordo as quais sequer caberia ao juiz interpretar o direito.
Essa é a mesma posição que colocou o Tribunal de Nuremberg em
difícil situação para condenar oficiais do regime nazista que agiram no
estrito cumprimento do dever legal.
O pós-positivismo carrega consigo o pressuposto de que
toda disposição legal deve ser interpretada para a sua aplicação,
visando a melhor concretização do sistema de direito positivo como um
todo. Nem se diga, ainda com relação à literalidade, que o simples fato
do direito ser formado por palavras, que podem ser ambíguas,
polissêmicas ou atécnicas, impõe a necessidade de interpretação e
possibilidade de dúvidas. Queremos dizer, com isso, que a aparente
clareza do texto legal não o protege de dúvidas.
Diante disto, a literal disposição de lei prevista pelo art. 52,
VI, do Decreto nº 70.235/1972, não pode ser óbice para a análise a
solução de consulta que demonstre, com fundamentos, a dúvida sobre
a aplicação da lei tributária. Sem prejuízo da vinculação do agente
fiscal à disposição legal, como apresentado nos exemplos acima, há
inúmeras situações em que a aplicação de literal disposição legal
poderá ser afastada em favor da aplicação de norma jurídica elaborada
a partir de outras regras inseridas no sistema de direito positivo.
Queremos dizer, por outro lado, que as inúmeras leis e
outros diplomas normativos que vinculam o agente fiscal podem
conflitar entre si, de modo que a aplicação da literal disposição de lei
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poderá ser afastada. É nesse contexto que entendemos que o principal
requisito para o processo de consulta é a demonstração, pelo
contribuinte, das normas jurídica que podem ser aplicadas ao caso,
apontando-se a vinculação da administração tributária a cada uma
delas.
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No que concerne ao mencionado art. 11 da Lei
Complementar de nº 95, originariamente datada de 26 de fevereiro de
1998, evidente que essa combinação de fatores se coaduna com a
própria regra da estrita legalidade tributária.
Não paira dúvida alguma que a clareza exige concisão,
expressões transparentes, uniformes, linguagem técnica, termos
adequados e apropriados, daí porque, com a modificação
implementada pela Lei Complementar 107, de 26 de abril de 2001,
orientou-se na diretriz própria do princípio da legalidade estrita, no
campo tributário.
As consequências decorrentes da obscuridade ou
indeterminação não podem pressupor presunção contrária à tese do
contribuinte, imposição de sanções e penalidades, até porque lhe é
dada digressão sob a forma de consulta ou ainda debate judicial, por
intermédio de ação anulatória, declaratória, comprovando o depósito
do valor, para descaracterizar a sua mora e, ao mesmo tempo, se
vencida a sua tese, permitir a convolação de depósito em pagamento.
Não se trata de desconhecimento da norma, mas sim, do
seu real alcance e eficácia, desse modo, pois, em tese, o fisco não
poderá afastar o comportamento presumidamente de boa-fé do
contribuinte amparado no art. 3º da LINDB.
No trato da consulta, a teor do art. 52, VI, do Decreto
70.235/72, ela deverá observar regras específicas atinentes ao campo
da dúvida, para que produza eficácia e também o necessário efeito,
diante da situação exposta pelo consulente.
Deverão ser observados os arts. 46 e 47 do mencionado
diploma normativo, não pender intimação do contribuinte ou
procedimento fiscal, existir decisão anterior, houver ato normativo,
previsão de disposição literal de lei, se estiver sob a égide do ato
tributário na esfera do ilícito penal.
Em termos gerais, na vertente da indagação, em sumariada
hipótese, o princípio da estrita legalidade ronda todo o campo das
prerrogativas constitucionais, vincula-se ao ditame da lei
complementar, cujo texto obscuro ou indeterminado não levará, de
plano, a penalização do contribuinte, e a resistência do fisco deverá ser
fundamentada, cuja consulta formal levada a efeito tentará
demonstrar o descompasso entre a regra, o ato normativo, suposta
violação, além do preceito constitucional em tela.
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As normas de imposição de tributos são normas que não
podem trazer obscuridade, sob pena do contribuinte ficar à mercê de
interpretações arbitrárias do Fisco; todavia, não é isso que,
infelizmente, acontece, levando o contribuinte a, muitas vezes, passar
por uma verdadeira “via crucis”, tamanho é o cipoal da legislação
tributária.
O art. 3º da Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro, é uma falácia principalmente em se tratando de direito
tributário. Esse artigo diz: “Ninguém se escusa de cumprir a lei,
alegando que não a conhece”.
É praticamente impossível conhecer todas as leis
tributárias em nosso país, o que contribui para a insegurança jurídica
do contribuinte. O Fisco tem o dever de esclarecer, de orientar.
As leis devem ser claras, precisas, fáceis de se entender. O
art. 11 da Lei Complementar n. 95, de 26 de fevereiro de 1998 dispõe
sobre a elaboração, a redação, a alteração e a consolidação das leis,
conforme determina o parágrafo único do art. 59 da Constituição
Federal; portanto, regulamenta uma garantia constitucional.
O art. 52 do Decreto n. 70.235, de 6 de março de 1972, que
dispõe sobre o processo administrativo fiscal e dá outras providências,
no capítulo II trata do processo de consulta (art. 46), isso porque não
são poucas as leis tributárias obscuras, contraditórias, complexas, que
deixam o contribuinte sem entender corretamente no que consiste sua
obrigação tributária.
A obrigação tributária deve ser de fácil entendimento,
inclusive para os leigos, que são, em sua grande maioria, os
contribuintes. Porém, como isso não acontece, ou seja, como a
legislação tributária é um cipoal de normas, existe o procedimento de
consulta (art. 46).
O art. 52 da referida lei, em seu inciso VI diz que não
produzirá efeito a consulta formada quando o fato estiver definido ou
declarado em disposição literal de lei.
Contudo, o fato de estar definido e declarado em lei não
quer dizer que não haverá dúvida.
É de se lembrar, por exemplo, que a natureza jurídica do
tributo é determinada pelo seu fato gerador (art. 4º do Código
Tributário Nacional), sendo irrelevantes para qualificá-la “a
denominação e demais características formais adotadas pela lei”.
Portanto, não é porque o fato está definido ou declarado em disposição
literal da lei, que está imune de dúvida, pois a lei pode definir um
tributo a partir de um determinado fato que não se identifica com o
fato gerador daquele.
A interpretação da lei envolve, além da interpretação
gramatical, que é apenas o primeiro passo, também as seguintes:
35
sistemática, lógica, teleológica, histórica, alográfica e principalmente
aquela que concretiza os direitos fundamentais.
Por fim, a obscuridade ou indeterminação da legislação
tributária deve ser interpretada a favor do contribuinte, pois o Estado
não poderá tirar proveito de sua falta de eficiência legislativa.
36
impropriedade com que algumas matérias são veiculadas pela lei, de
modo a justificar dúvidas sobre sua aplicabilidade a determinada
situação jurídica ou fática.
VITTORIO CASSONE
Resumindo:
(a) Sim. A clareza e determinação da lei tributária é uma
exigência do princípio da estrita legalidade tributária, pois é vedado à
União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios exigir ou
aumentar tributos sem lei que o estabeleça (art. 150, I).
(b) O art. 11 da LC 95/2001, embora cuide apenas da
técnica de redação das leis, pode, caso for utilizado termo com
substancial força, influir no princípio da legalidade, no sentido de que,
mal redigida a lei, poderá ser considerada insuficiente ou inválida.
(c) e (d) A obscuridade ou indeterminação da legislação
tributária podem, conforme o caso, considerar inválida a norma
tributaria.
Sim, o fisco pode opor-se a essa invalidade com base no
art. 3º da LINDB, mas isso deve ser examinado caso a caso.
(e) Os critérios que devem ser observados para caracterizar
a dúvida da legislação estão contidos nos artigos 52 do Decreto
70.235, de 1972 - embora os incisos V, VI e VII dependem do exame de
cada caso.
37
Diante desse quadro, caracterizado que a lei não observa o
princípio da legalidade, utilizando-se de termos ambíguos, imprecisos
ou obscuros, que podem levar o contribuinte a não ter segurança
sobre qual comportamento deve adotar, transferindo essa
determinação, por vias indiretas e oblíquas, à atuação
regulamentadora do Poder Executivo, não se pode admitir que o Fisco
proteja-se no art. 3º da LINDB.
Recordo, como exemplo, o intenso debate que exsurgiu por
ocasião da interpretação do alcance do benefício trazido pela Lei nº
9.249/95 (art. 15), em torno da noção de “serviços hospitalares”, que
ensejou inúmeras ações judiciais sobre a questão.
Denota-se que o próprio legislador percebeu que seu
produto (a lei) pode gerar sérias dúvidas a respeito de seu conteúdo, ao
prever o instituto da Consulta. O contribuinte pode-se utilizar desse
instituto sempre que não se enquadra nas hipóteses do art. 52 do
Decreto 70.235/72. Em uma delas, inciso VI, tem-se que a Consulta
não produzirá efeito “quando o fato estiver definido ou declarado em
disposição literal de lei”. Isto é, para a Consulta não produzir seus
efeitos legais é necessário que o fato esteja previsto literalmente na lei.
Ainda que, também, seja difícil considerar o que seja “disposição literal
de lei”, tem-se que a Consulta só será ineficaz quando o fato sobre o
qual repousa estiver regulado de forma indubitável pela lei, de modo a
não se ter qualquer margem de dúvida sobre sua interpretação. Caso
contrário, perceba-se, o Fisco não poderá valer-se do art. 3º da LINB.
38
interesse de ambos, do contribuinte e Fisco, a análise da questão em
resposta à consulta formal. Do ponto de vista do Fisco, há interesse
em obter uma atitude colaborativa do contribuinte e de saber que tipo
de atividade e mesmo de dúvida sobre o pensamento do Fisco existem
nas relações dos contribuintes entre si e dos contribuintes e o Poder
Público.
Num regime jurídico informado pelos princípios da
razoabilidade e da proporcionalidade, os referidos dispositivos não
devem ser aplicados. O critério a ser adotado é o que valida consultas
em matéria complexa e não nos casos de resposta óbvia. Na verdade, o
art. 52 e o seu inciso VI do Decreto 70.235/72 devem ser interpretados
teleologicamente.
YOSHIAKI ICHIHARA
39
cálculo, alíquota etc. Fica prejudicada a questão da aplicação ou não
do art. 11 da LC 95/2.001, devendo ser esclarecido que a falta de
clareza não se confunde com o implemento da estrita legalidade. A
obscuridade ou indeterminação da legislação tributária, se
descumprido o princípio da estrita legalidade, tal norma tributária se
enquadra entre as normas inválidas e não há que se falar em
existência de fato típico tributário. Os critérios para a formulação
válida da consulta estão previstos expressamente no Decreto nº
70.235/72, obedecidas as formas, a competência e que não se
enquadrem nas hipóteses vedadas no art. 52.
40
entendimento e obediência a essas normas, pois a ninguém é dado
alegar ignorância da lei. Infelizmente temos testemunhado, por todos
esses Brasis, e em todas as atuações das esferas legislativas e
executivas o desatendimento das normas da lei complementar,
gerando mesmo a inesgotável pletora de pedidos às cortes de justiça.
PAULO CALIENDO
41
A exigência de previsibilidade está consagrada no princípio
de vedação de surpresa do contribuinte. Este princípio estabelece que o
encargo de pagar tributos não pode ser agravado por exigências
inesperadas. O contribuinte tem o direito de se programar para
cumprir as obrigações legais. O princípio da anterioridade é uma
decorrência imediata da exigência de não surpresa.
A Lei de Introdução ao Código Civil, em seu art. 6o.
determina que: “A lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitando o
ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.” O parágrafo
1º desse mesmo artigo dispõe que: “reputa-se ato jurídico perfeito o já
consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou”.
O direito à estabilidade das relações jurídicas impede
também a edição de normas retroativas. Fere o direito dos
contribuintes exigir uma conduta diversa daquela era anteriormente
obrigatória ou permitida ao contribuinte. Se o contribuinte não se
encontrava obrigado a realizar determinada conduta não é lícito que o
Estado modifique posteriormente, criando obrigações retroativas.
A LC 95/98 apresenta algumas exigências para configurar
a certeza dos dispositivos legais. Estes deverão ser redigidos com
clareza, precisão e ordem lógica, conforme art. 11. A clareza é obtida
mediante o uso de determinadas técnicas legislativas.
Por óbvio que a certeza jurídica não se esgota em técnicas
legislativas de redação normativa. Trata-se de uma listagem
meramente exemplificativa que não substitui os fundamentos da boa
linguagem ou da lógica jurídica. A certeza jurídica exige ainda que as
normas sejam coerentes e consistentes. A coerência exige que os
dispositivos normativos sejam lidos com suporte recíproco. Estes
possuem uma relação de interdependência, não devendo serem lidos
isoladamente. A consistência exige que as normas não sejam
contraditórias. As soluções devem buscar ao máximo a manutenção
normativa. O que não afasta a aplicações dos critérios de solução de
conflitos normativos, tais como o critério hierárquico, cronológico e de
especialidade.
No caso de obscuridade ou indeterminação da legislação
tributária a interpretação tributária deve ao máximo evitar a restrição
aos direitos fundamentais do contribuinte. Essa conclusão decorre do
sistema constitucional de proteção contra arbitrariedades. A premissa
constitucional é de que os direitos fundamentais possuem
aplicabilidade direta e imediata, salvo nos casos previstos em lei, que
não ofendam o texto constitucional. Em suma se estabelece em nosso
sistema uma máxima de interpretação contra sacrifício não estejam
expressamente autorizados em lei de direitos fundamentais dos
contribuintes (in dubio contra sacrificium).
42
O fisco não pode utilizar art. 3º da LINDB para ampliar os
deveres do contribuinte em face de obscuridade ou indeterminação da
legislação tributária.
Assim pelo contrário, se existe um princípio implícito
aplicável, em decorrência do regime e princípios do nosso sistema
constitucional, este determina que os meios utilizados devem ser os
menos gravosos ao cidadão-contribuinte. Haverá uma aplicação
multidimensional dos princípios, onde cada um deles desempenhará,
de modo distinto, a função de critério de controle.
As consultas podem ou não dar origem à uma pretensão
resistida do contribuinte, seu conteúdo expressa inicialmente um
questionamento quanto ao adequado comportamento fiscal.
Determina o artigo 52, VI do Decreto n. 70.235/1972 a
ineficácia da consulta quando o fato estiver definido ou declarado em
disposição literal de lei. Nesse sentido, a Consulta será ineficaz se:
tratar de fato genérico ou não aponte o dispositivo legal questionado;
sobre fato pendente de decisão administrativa ou judicial; estiver sob
procedimento fiscal; versar sobre constitucionalidade ou legalidade de
ato normativo; estiver definido literalmente em dispositivo de lei; sobre
procedimentos de parcelamento de débitos ou caracterizar uma forma
de assessoria jurídico-contábil.
A consulta deve descrever com clareza e precisão o
dispositivo em questão, bem como de modo completo e determinado a
hipótese questionada.
Havendo divergência de conclusões entre Soluções de
Consulta relativas à mesma matéria caberá recurso especial, sem
efeito suspensivo, para a Cosit. Reconhecida a divergência será edita
Solução de Divergência de caráter geral, uniformizando o
entendimento. No caso da existência de Solução de Consulta Cosit ou
Solução de Divergência, as consultas com mesmo objeto serão
solucionadas por meio de Solução de Consulta Vinculada.
43
estrita legalidade, evitando-se obscuridade ou indeterminação da
legislação.
As consequências da obscuridade ou indeterminação da
legislação tributária para o contribuinte, resulta na insegurança
jurídica no cumprimento da lei, podendo utilizar-se do Instituto da
Consulta, perante a Repartição Fiscal ou procurar o Poder Judiciário
exercitando o seu direito de jurisdição na forma assegurada pelo art.
5º, inciso XXXV da CF.
O art. 3º do LINDB não tem relação com as hipóteses de
clareza e determinação da lei tributária ou com leis obscuras ou
indeterminadas. Declara, simplesmente, a proibição do
descumprimento da lei por desconhecimento de sua existência, não diz
respeito ao conteúdo da norma, e a sua clareza como exigem os
princípios da legalidade e da tipicidade para surgimento da
obrigação tributária.
No caso de utilização pelo contribuinte, de consulta formal
os critérios que devem ser observados estão regulados pelo Decreto nº
70.235/72 (arts. 46 a 52), sendo que não terão eficácia as consultas
formuladas em desacordo com os arts. 46 e 47 e nas hipóteses
arroladas pelo art. 52, dentre os quais, a hipótese do inciso VI -
“quando o fato estiver definido em disposição literal de lei”.
À evidência que na hipótese do inciso VI do art. 52, a
consulta não produzirá efeitos, pois “se o fato estiver definido em
disposição literal de lei”, a obrigação tributária surge com a hipótese
estabelecida de forma clara na lei. A Consulta é formulada pelo
contribuinte em caso de dúvida, não quando pode ser extraída da
própria lei a sua interpretação, razão pela qual não tem utilidade o
inciso IV do art. 52 antes mencionado.
44
mas possibilitam o efetivo controle da constitucionalidade da própria lei
tributária, como expressão suprema e qualitativamente mais exigente
do princípio da legalidade em sentido amplo.
No intento de conferir certeza, estabilidade, previsibilidade
e coerência nas respectivas funções de positivação do ordenamento
jurídico e, cumprindo seu mister constitucional de estabelecer normas
sobre a “elaboração, redação, alteração e consolidação das leis” (art.
59, § único da CF/88), a Lei Complementar nº 95 de 26/02/98, não
somente exige precisão quanto ao “objeto da lei e o respectivo âmbito
de aplicação” que “possibilite o conhecimento técnico ou científico da
área respectiva” (art. 7º) e quanto à publicação e datas de vigência e
vacância das leis (art. 8º), mas impõe rígidos critérios de clareza,
precisão e ordem na legislação (art. 11) de modo a assegurar
“uniformidade”, “unidade” e coerência na “nomenclatura própria da área
em que se esteja legislando” e “clareza” quanto ao “conteúdo e o
alcance que o legislador pretende dar à norma”, evitando “duplo
sentido”.
Portanto, nos estritos limites materiais de sua incidência, a
atribuição constitucional de determinada matéria à reserva qualificada
de Lei Complementar, não somente torna imprescindível a legislação
integrativa da vontade do constituinte (“interpositio legislatoris”), para
que a competência legislativa dos entes federados possa operar, em
plenitude, todas as suas consequências e virtualidades eficaciais, nem
somente consubstancia instrumento de limitação normativa de
compulsória observância da ação tributante do Estado, como se destina
a conferir proteção efetiva e a dispensar tutela plena aos sujeitos
passivos do ordenamento jurídico.
As consequências da obscuridade ou indeterminação da
legislação tributária são a impossibilidade do conhecimento e
compreensão dos próprios termos da sujeição tributária (conteúdo e
efeitos) pelos interessados, como a impossibilidade de exercício do
efetivo controle da constitucionalidade da própria lei tributária, como
expressão suprema e qualitativamente mais exigente do princípio da
legalidade em sentido amplo.
Derivando diretamente da Constituição e da lei, as relações
intersubjetivas de Direito Tributário, seja no seu aspecto substantivo,
seja no seu aspecto adjetivo, qualificam-se como relações de direito e
não de poder, donde decorre que ambas as partes da relação jurídico
tributária estão igualmente submetidas à lei e à jurisdição e, portanto,
“ninguém se escusa de cumprir a lei alegando que não a conhece” (art.
3º da LINDB)
Os pressupostos legais ao exercício ao direito de consulta
se resumem a que esta seja formulada por escrito por uma das pessoas
interessadas expressamente mencionadas, que sejam mencionados os
45
dispositivos da legislação tributária, e que os dispositivos sejam
aplicáveis a fato determinado, completa e exatamente descrito.
A restrição legal (art. 52 do Decreto nº 70.325/72) segue a
lógica de que “quando o fato” consultado “estiver definido ou declarado
em disposição literal de lei”, não haveria necessidade de interpretação
porque “in claris cessat interpretativo” e consequentemente “ninguém
se escusa de cumprir a lei alegando que não a conhece” (art. 3º da
LINDB), o que obviamente exclui a aplicação do referido dispositivo
(art. 52 do Decreto nº 70.325/72) quando o fato objeto da consulta
estiver descrito na a lei tributária, em linguagem imprecisa, ambígua,
contraditória, ou que seja razoavelmente suscetível de duas ou mais
interpretações. Mas mesmo na hipótese em que o fato consultado
esteja clara, literal e inequivocamente descrito na lei tributária
interpretanda, com significado único e definido em linguagem livre de
ambiguidade, para cuja verificação se exige o necessário e prévio labor
interpretativo, a aplicação da restrição legal à eficácia da consulta
estaria sujeita a controle jurisdicional seja na instância administrativa,
seja na via judicial.
DOUGLAS YAMASHITA
46
ELIDIE PALMA BIFANO e MARCELLO PALMA BIFANO
47
consubstanciação do princípio da estrita legalidade tributária; por
outro lado, a determinação material dos elementos componentes da
hipótese de incidência tributária é uma exigência para a
consubstanciação dos princípios da estrita legalidade em matéria
tributária, da tipicidade e da segurança jurídica. Em face disso, a
determinação deve vir a ser buscada, no processo de enunciação
jurídica, pela adoção, sobretudo, das alíneas “a” e “d” do inciso II do
art. 11 da Lei Complementar n. 95/1998. Enquanto a obscuridade
tributária implica em divergências interpretativas, a falta de
determinação material dos elementos da hipótese de incidência
tributária implicará impossibilidade de se constituir relação
obrigacional tributária contra o contribuinte. O art. 3º do Decreto-lei n.
4.657/1942 somente pode ser opostos pela Fazenda Pública nos casos
de obscuridade, ambiguidades, contradições aparentes, falta de clareza
ou vagueza quanto às significações dos enunciados jurídicos ou dos
signos que compõem esses.
Por fim, para que haja caracterização da dúvida na
formulação de Consulta (nos termos do decreto n. 70.235/1972), o
Consulente deverá demonstrar que o fato jurídico em questão não se
encontra tutelado pelos enunciados normativos vigentes, i. e., o
Consulente deverá questionar/demonstrar que um dado fato jurídico
encontra-se fora do campo material das significações possíveis ou do
significado de determinado enunciado normativo ou que, em face do
aparente conflito de significações possíveis de dois ou mais enunciados
jurídicos, possa estar submetido a enunciados jurídicos
aparentemente conflitantes. Caberá, portanto, ao Consulente
identificar/determinar o fato jurídico concreto, os enunciados jurídicos
possíveis ou não de lhe serem aplicados e a possível não aplicação
destes ou o conflito entre estes – no caso, identificando qual seria o
possível produto interpretativo.
48
critérios para caracterizar a dúvida da legislação, sob pena da sua
ineficácia, não devem ser muito rigorosos, pois observa-se que todas as
disposições normativas, ainda que aparentemente claras e precisas,
carecem de interpretação.
49
SCHUBERT DE FARIAS MACHADO
50
art. 3º da LINDB, prevê a possibilidade de a autoridade competente
valer-se da analogia, dos princípios gerais do Direito e do Direito
Público e da equidade para solucionar antinomias, o §1º desse
dispositivo é expresso ao vedar o emprego de analogia para a exigência
de tributo não previsto em lei.
Quando às consultas, duas observações mostram-se
relevantes, a nosso ver:
(a) o afastamento da possibilidade de formulação de
consulta quando o fato “estiver definido ou declarado em expressa
disposição de lei” não nos parece compatível com o instituto à luz do
princípio da segurança jurídica. Isso porque o que releva para
caracterizar a dúvida fundamentada e razoável é a disposição legal à
luz de um determinado caso concreto, de modo que a existência de
“literal disposição de lei” é justamente o que poderá suscitar a dúvida
do contribuinte na aplicação daquele comando prescritivo;
(b) não só o contribuinte se vincula ao teor das soluções de
consulta veiculadas, mas também a própria administração pública,
cuja atuação deve ser previsível e coerente. Aliás, enquanto apenas o
contribuinte daquela específica relação jurídica encontra-se submetido
à vinculação de seu teor, eventuais incoerências em relação aos
posicionamentos expressamente consignados pela administração em
soluções de consulta, que venham a causar danos a outros
contribuintes nela baseados, poderão gerar o reconhecimento do dever
de indenização, à luz de princípios como o da isonomia tributária, da
vedação a comportamentos contraditórios, da segurança jurídica e da
certeza do direito, interpretados de maneira integrativa.
51
THÚLIO JOSÉ MICHILINI MUNIZ DE CARVALHO
52
determinar o fato eleito na hipótese de incidência ou o vínculo
relacional prescrito.
Diante das múltiplas possibilidades interpretativas, tem
cabimento a formulação de Consulta, para que a autoridade
administrativa indique a interpretação que considera aplicável. Para
tanto, o contribuinte há de indicar não apenas o texto normativo que
suscita sua incerteza, mas, também, o fato em relação ao qual
questiona sua aplicabilidade, sem que exista disposição legal ou
decisão específica sobre a dúvida formulada.
53
Por outro lado, a mera circunstância de um texto normativo
admitir mais de um sentido é ínsita à linguagem e não é capaz de
invalidá-lo. Contudo, é necessário proteger o contribuinte que adota
um dos sentidos possíveis da lei e, principalmente, aquele que segue a
orientação esposada pelo próprio Fisco.
Aqui também não incide o art. 3º da LINDB, pois não se
trata de alegar o desconhecimento da lei. Cuida-se, em realidade, de
sustentar que o mesmo texto normativo pode adquirir diferentes
significados, não estando o contribuinte obrigado a “adivinhar” aquele
que será adotado pela Fiscalização, especialmente considerando-se a
atual complexidade da legislação tributária.
De fato, o art. 52, VI, determina que o contribuinte analise
a legislação aplicável e demonstre que há, efetivamente, dois ou mais
sentidos possíveis para o texto normativo em tela, os quais podem
resultar em procedimentos diversos de recolhimento do tributo ou
cumprimento das obrigações acessórias.
Feita tal demonstração, estará configurada a dúvida,
estando o Fisco obrigado a declarar qual interpretação entende correta
na hipótese em análise.
54
que estabelece que a vigência da lei somente se dá após 45 dias de
“oficialmente publicada”. Por qual razão a obrigatoriedade da
publicação? Justamente por se considerar que a publicação permite
que o cidadão possa conhecer à norma sob a qual estará adstrito.
Portanto, considero que a consulta formulada pelo
contribuinte, salvo na hipótese comprovada de má-fé do contribuinte e
prejuízo ao Erário, deve ser admitida com todos os seus efeitos,
constituindo um direito do cidadão face à Administração Pública.
55
No que respeita à última indagação, tem o contribuinte o
direito constitucional e legalmente assegurado ao exame de consulta
formal que apresente ao Fisco objetivando esclarecer dúvida acerca do
entendimento oficial quanto à legislação aplicável a determinado fato
concreto. Somente em casos excepcionais pode ser a consulta
declarada ineficaz, o que não se verifica quando há (i) fato concreto
suficientemente relatado para que se possa identificar a legislação
aplicável (sendo inequívoco que a manifestação da Administração
estará sempre limitada aos fatos e documentos tal como narrados e
apresentados pelo contribuinte); (ii) dúvida razoável objetivamente
demonstrada acerca da legislação aplicável a tal fato concreto
(especificação de qual seja a dúvida efetiva e dos motivos que a
originaram); e (iii) boa-fé (efetiva necessidade de conhecimento do
entendimento oficial e ausência de má-fé, abuso e deslealdade).
Satisfeitos tais critérios ou requisitos, deve ser a consulta
necessariamente conhecida e respondida, em observância ao direito de
petição aos Poderes Públicos e aos princípios de boa-fé, lealdade,
moralidade e segurança jurídica.
Tem o contribuinte o direito de organizar seus negócios
com segurança, tranquilidade e previsibilidade, obtendo da
Administração Pública os esclarecimentos necessários para que possa
cumprir a contento suas obrigações e resguardar-se de eventuais
interpretações distintas por parte da fiscalização, bem como exercer
satisfatoriamente sua ampla defesa contra exigência cuja
fundamentação não lhe pareça legítima.
56
contudo, essa “complementação” pela via regulamentar não é válida,
assunto objeto da questão 4.
No caso de consulta formal, o art. 52, VI, do Decreto
70.235/72 somente se aplica nas hipóteses em que, da leitura do texto
legal, não houver espaço para dúvida razoável a respeito do seu
sentido e alcance, não se justificando o questionamento suscitado pelo
consulente, o que deve ser devidamente demonstrado pela autoridade
encarregada de respondê-la.
57
criatividade do aplicador. E sempre, ainda que aceito algum grau de
indeterminação, devem deixar legalmente explícitos na norma os
padrões ou balizas mínimos (obstado o “efeito cheque em branco”) que
deverão ser imperativamente observados, em relação a todos os
caracteres essenciais da incidência tributária.
Ainda assim, não se deve considerar que apenas os níveis
mais elevados de determinação é que darão cumprimento à reserva
legal tributária.
O art. 11 da LC 95/2000 orienta melhor construção
legislativa mas, dada a própria natureza da atividade do legislador, não
é capaz de invalidar norma que traga algum grau de indeterminação.
A maior indeterminação da norma certamente exige do
aplicador maior ônus argumentativo para validação e realização do
juízo de adequação com outras normas do sistema constitucional-
tributário.
As Consultas tributárias formais são instrumentos
relevantes na promoção da segurança jurídica, no que orientam a
atuação do contribuinte. A indeterminação normativa torna a Consulta
ainda mais cabível e necessária, cabendo às Administrações Fiscais
maior responsabilidade por sua resposta adequada e íntegra.
58
No caso de obscuridade ou a indeterminação da legislação
tributária se verá grande potencial de instabilidade nas relações entre
entes tributantes e contribuintes. Evidentemente que se clareza e
determinação são exigências do princípio da estrita legalidade, a falta
dessas qualidades implicará prejuízo.
A conclusão é de que o fisco não pode se opor aos preceitos
do art. 11 da Lei Complementar 95/98 com fundamento no art. 3º da
LINDB, seja por não haver antinomia que justifique o afastamento de
uma em detrimento da outra, seja pelo princípio da vinculação da
administração pública à legalidade, que lhe imputa dever de observar
as disposições das leis válidas que se destinam à sua atividade, seja
pela imperiosa necessidade de cumprir com a estrita legalidade
tributária e, com isso, estar em conformidade com os ditames de nosso
Estado de Direito.
Evidentemente que a consulta, como meio administrativo
de esclarecer dúvidas, deve ser vista pelo consultado com a percepção
de quem indagada, a fim de conseguir entender se a dúvida merece ser
acolhida, contudo, não podendo utilizar-se do expediente previsto no
inciso VI do artigo 52 do Decreto 70.235/72 apenas para evitar a
demanda, esquivando-se da resposta com a mera posição de que há
legislação suficiente quando a consulta demonstrar o inverso e estiver
atendendo aos critérios objetivos determinados pela lei regente.
MARCELO BORGHI
59
(pela inexistência de precisão de seus atos), e ao princípio da finalidade
(dada a insatisfação do interesse público pelo ato praticado).
60
limitado quando for possível extrair do texto literal (expresso, claro) a
resposta que se busca.
RICARDO CASTAGNA
61
acessória?
RESPOSTAS
62
De modo algum. Uma obrigação acessória, ou como julgo
ser mais apropriado denominar, dever instrumental, constitui ela
mesma um fazer que o Estado impõe a uma pessoa. Este agir,
conforme a prescrição do art. 5º, II, da Constituição, somente pode ter
como fundamento a lei, sendo inconstitucional dever instrumental
que, sem previsão em lei, seja estipulado em ato infralegal. Igual
reprovação deve ter a estipulação infralegal de multa - uma obrigação
de pagar - sem a correspondente previsão em lei.
Ainda sobre os deveres instrumentais, vale notar a
dicotomia de que tratei acima: podem eles ser de conformação de
regime ou de conformação fática. Descumpridos os primeiros, a
consequência deve ser a não-aplicação do regime especial e a
incidência da regra geral de apuração do tributo; já o descumprimento
dos deveres de conformação fática acarretam não podem acarretar, por
si só, a exigência do tributo. É indispensável que, em um e em outro
caso, o tributo que virá a ser exigido venha a ser apurado e constituído
segundo procedimento administrativo próprio que, examinando
material probatório colhido para este fim por meio de diligências
próprias, apontará o valor devido e estipulará as multas
correspondentes.
63
autoridades fiscais tenham os documentos necessários para a
fiscalização. Condenável, porém, a imposição de obrigações acessórias
com excessos não amparados em finalidades justificadas ou contrárias
ao princípio da proporcionalidade.
Não se pode conceber como “democrática” a conduta
frequente das administrações de atirar o contribuinte à própria sorte
nos excessos de interpretação e aplicação da complexa legislação fiscal
sem um adequado e eficiente sistema de atendimento ao contribuinte,
para solucionar suas dúvidas, aprimorar legislações secundárias,
evitar conflitos. Preferível, porém, o cômodo papel de rigoroso comando
e controle a posteriori, com pesadas multas, fiscalizações tão longas
quanto onerosas e as mais severas consequências, sem qualquer
respeito ao exame da conduta dos contribuintes, onde a boa-fé, a
ignorância justificada, a confiança legítima de nada valem. Há fiscais
notáveis, que a tudo tentam ser atenciosos, mas a legislação não lhes
permite muito.
Portanto, as obrigações acessórias são marcadas pelo
princípio da finalidade, por conseguinte, devem ser necessárias para a
fiscalização do cumprimento da obrigação principal. Atendido ao
requisito da necessidade, seu emprego é perfeitamente constitucional,
como prescreve o art. 113, § 2º, do CTN, ao dispor que estas têm a
função de instituir prestações positivas ou negativas, no interesse da
arrecadação ou da fiscalização dos tributos.
Deveras, as obrigações acessórias não podem servir como
meio de afetação à livre iniciativa (art. 1º, IV), embaraços à circulação
de mercadorias e pessoas no território nacional (art. 150, V), ou
onerarem a exportação de bens, mercadorias e serviços (art. 153, § 3º,
III; art. 155, § 2º, XII, ‘e’ e art. 156, § 3º, II da CF), sem que se
apresentem hipóteses justificadas de “fiscalização” ou de
“arrecadação”, e, no caso da emissão de notas fiscais, com a
verificação de mudança de titularidade subjetiva ou do regime jurídico
da mercadoria. É o que se extrai do art. 113, § 2º, do CTN, que ao
tratar das denominadas “obrigações acessórias”, declara a função de
instituir prestações positivas ou negativas, “no interesse da
arrecadação ou da fiscalização dos tributos”. Afora os citados
pressupostos contemplados no art. 113, § 2º, do CTN, frustra-se o
cabimento de exigibilidade de qualquer obrigação dessa natureza.
64
Os limites para a criação de obrigação tributária acessória
são definidos pela ideia do que é necessário para viabilizar o
cumprimento da obrigação principal, e o controle desse cumprimento.
A multa, todavia, como penalidade que é, resulta sempre de lei que a
estabeleça.
Pode criar obrigação acessória quem pode expedir
regulamento para fiel execução das leis que institui obrigação principal
a ela correspondente. Sem prejuízo, é claro, da competência do próprio
legislador que pode instituir obrigação principal e pode também,
obviamente, instituir obrigações acessórias.
65
dependem de lei estrita. O princípio da legalidade estrita não resta
desatendido, sempre que a lei ordinária, ao delegar à autoridade
administrativa a fixação de multa pelo descumprimento de obrigação
acessória, estabeleça os parâmetros e critérios dentro dos quais essa
fixação deve ser exercida.
KIYOSHI HARADA
66
muitas vezes, equivalente à reclamação sobre a intensidade da carga
tributária nacional. Empresas, por exemplo, são obrigadas a manter
inúmeros colaboradores em seus quadros, com a estrita função de
promover tal cumprimento.
O segundo dos elementos que reputamos digno de destaque
é a inexistência de previsão no ordenamento brasileiro de
regulamentos autônomos, ou seja, não há constitucional outorga de
competência para autoridades Executivas produzirem atos
administrativos abstratos que criem novas obrigações, além daquelas
previstas em lei em sentido estrito.
O terceiro dos elementos se refere à restrição que o dever
de cumprimento de obrigações acessórias impõe à garantia
constitucional da liberdade. A imposição de uma obrigação acessória
significa o dever de fazer, de não fazer ou de tolerar determinado ato,
como clara restrição à liberdade de ação. Enquadrando-se na hipótese
legal, o cidadão ou a pessoa jurídica será obrigado ao cumprimento de
determinado dever.
A reflexão sobre tais pontos não nos deixa escolha, senão
responder que a criação de obrigações acessórias depende de lei em
sentido estrito. Dizemos mais: não cabe à lei somente veicular essa
obrigação de fazer, de não fazer ou de tolerar, mas também determinar
a correspondente penalidade para o seu descumprimento.
Assim, estamos convencidos de que o dever de
cumprimento de obrigações acessórias deverá ser veiculado por lei,
sendo que, com ainda mais clareza, deverá haver previsão legal para a
cominação de penalidades decorrentes do seu descumprimento.
Caberá à lei prever os elementos mínimos apara a
determinação de uma obrigação acessória, sendo que o dever do seu
cumprimento pode advir, até mesmo, da previsão de contida em uma
norma sancionatória.
O descumprimento da obrigação acessória deverá, diante
disso, permitir à administração tributária que imponha ao contribuinte
a correspondente sanção, fixada anteriormente em lei (em sentido
estrito). Não significará, no entanto, a constituição do crédito tributário
sem que haja demonstração do fato imponível.
Por fim, não vemos óbice para que a lei que crie um
benefício fiscal (não confundamos com imunidades) condicione o seu
gozo ao cumprimento de determinadas obrigações acessórias.
Evidentemente, como toda norma jurídica, adequados critérios de
discrímen deverão ser utilizados para a previsão do benefício e das
obrigações às quais ele se condiciona, a fim de evitar inconstitucional
desigualdade entre contribuintes ou abuso por parte da administração
tributária.
67
JOSÉ EDUARDO SOARES DE MELO
68
Independentemente de tudo isso, a obrigação tributária
acessória, geralmente, conflita com o primado da estrita legalidade, daí
porque, no contexto tributário constitucional, tudo deve estar baseado
na lei, pela lei e dentro da lei, fora dela não se encontra solução
alguma.
69
ANA MARIA GOFFI FLAQUER SCARTEZZINI
VITTORIO CASSONE
Resumindo:
(a) Não. Em face do princípio da legalidade, a criação de
obrigação acessória depende de lei estrita.
(b) Os limites para a criação de uma obrigação acessória e
para imposição da multa respectiva estão na lei que institui o tributo,
nos termos dos princípios constitucionais pertinentes, entre os quais
da razoabilidade, proporcionalidade e vedação de tributo com efeito de
confisco.
(c) O não cumprimento de obrigação acessória, por si só,
não justifica a cobrança de um tributo (obrigação principal), pois o
CTN diz como a Administração tributária deve proceder em tais casos.
Entretanto, poderá até servir como condição para o gozo de
um benefício fiscal, mas isto deve ser examinado caso a caso, em vista
da maior ou menor gravidade das infrações, e tudo dependendo da
70
legislação tributária que, obviamente, deve manter conformidade
constitucional.
(d) Em face do princípio da legalidade, é a lei que tem o
poder de estabelecer as obrigações acessórias e fixar as
correspondentes multas, cabendo ao Poder Executivo tratar dos
respectivos modelos, no interesse da arrecadação e da fiscalização.
71
não prescinde de lei. Podem os atos administrativos normativos
explicitar a obrigação legal.
Os limites para a criação de uma obrigação acessória e
para a imposição da multa respectiva são: estarem elas previstas em
leis que respeitem as normas da Lei Maior, especialmente as que
estabelecem a isonomia tributária, o respeito à capacidade econômica,
o devido processo legal nas vertentes da razoabilidade e da
proporcionalidade.
O não cumprimento de obrigação acessória não aumenta a
capacidade econômica do contribuinte, nem torna equitativo o
aumento de encargos tributários; logo, o não cumprimento não
justifica a cobrança de um tributo, nem serve como condição para a
fruição de um benefício fiscal.
O Parlamento tem o poder de criar obrigação acessória e, o
presidente da república no exercício de seu poder, editar medidas
provisórias, as quais se sujeitam ao Parlamento.
72
obrigação acessória. Por outro lado, o descumprimento de obrigação
acessória jamais poderá implicar o recolhimento de tributo não
previsto em lei, conquanto possa ser condição para a fruição de
benefícios fiscal.
YOSHIAKI ICHIHARA
73
não justifica a cobrança de tributo ou a perda de benefício fiscal, eis
que tais ilicitudes não configuram a ocorrência do fato gerador de
obrigação tributária ou hipótese de concessão de incentivos. Cabe à lei
definir quem pode criar a obrigação acessória, mas o legislador
também não é totalmente livre para tanto, sendo indispensável que a
autoridade eleita tenha necessidade de controle da tributação, sob
pena de excesso.
PAULO CALIENDO
74
negativa, que somente poderá ser imposta mediante previsão de lei.
Por ter natureza tributária, só se torna legítima a obrigação que
resultar expressamente de lei.
Pode, entretanto, ocorrer situações em que a própria lei
estabelece a necessidade de regulamentos, mediante decretos, para
aclarar e melhor interpretar a lei (art. 84, IV, CF), mas estão restritas e
devem observar os limites estabelecidos na lei (art. 99, CTN).
Referidas normas não têm natureza jurídica autônoma. Elas se
integram a outras normas em que o objeto definido encontra-se
mencionado. O que essas normas não podem fazer é alargar as
hipóteses de incidência previstas em lei para efeitos de tributação para
alcançar situações não previstas expressamente em lei.
A multa tributária (art. 113, § 3º, CTN) converte-se em
obrigação principal, em caso de descumprimento, e como tal submete-
se ao princípio da reserva legal, com obediência aos princípios da
razoabilidade e da proporcionalidade.
75
instituídas por lei “no interesse da arrecadação ou da fiscalização dos
tributos” (arts. 113, §§ 2º e 3º e 115 do CTN) com a finalidade
exclusiva de tutelar o cumprimento da obrigação principal. Nesse
sentido entende-se que “a despeito do reconhecimento da
independência da nominada obrigação tributária acessória, essa
obrigação só pode ser exigida pelo Fisco para instrumentalizar ou
viabilizar a cobrança de um tributo, ou seja, deve existir um mínimo de
correlação entre as duas espécies de obrigações que justifique a
exigibilidade da obrigação acessória”, cuja inobservância, converte-se
em obrigação principal relativamente à penalidade pecuniária (art. 113
§ 3º do CTN). A instituição de obrigações acessórias está condicionada,
não só pela competência constitucional para instituir determinado
tributo, mas por uma finalidade específica (“no interesse da
arrecadação ou da fiscalização” do tributo excogitado), donde decorre
que a sua instituição na ausência de competência tributária do ente
tributante ou sobre pessoas que não sejam sujeitos passivos
(contribuintes ou responsáveis), por não terem nexo de sujeição com a
“arrecadação ou da fiscalização” do tributo excogitado, obviamente se
revela opressiva e destituída do necessário coeficiente de razoabilidade.
Da mesma forma, sob invocação dos princípios da razoabilidade e
desproporcionalidade, a Jurisprudência tem mitigado a aplicação de
multas impostas por descumprimento de obrigações acessórias, seja na
hipótese em que não ocorre falta de recolhimento ou prejuízo fiscal 1,
seja na hipótese da pretensão fiscal de aplicação cumulativa sanções
pecuniárias para cada mês de apuração.
Sim. O não cumprimento de obrigação acessória justifica a
cobrança de um tributo desde que a lei insencional condicione o
beneficio fiscal ao cumprimento da obrigação acessória.
DOUGLAS YAMASHITA
76
tributo (p.ex. erro ou falta de anotação especial em nota fiscal), jamais
justificará a cobrança ou arbitramento do tributo fiscalizado ou a glosa
de benefício fiscal, mas apenas a imposição multas adequadas à suave
gravidade da infração. Por força dos princípios da legalidade e da
proporcionalidade, são competentes para criar obrigações acessórias
tão somente os respectivos Poderes Legislativos Federal, Estaduais e
Municipais para criar o correspondente tributo arrecadado ou
fiscalizado, até porque esta função criadora de obrigações acessórias,
que é indelegável tais não se confunde com a função arrecadatória
delegável.
77
acessórias pode ser condição para o gozo de benefício fiscal ou para
obter ou manter o parcelamento dos débitos tributários.
78
prestadas, com consequente imputação de elevadas multas, além de
acarretar um elevado custo para manutenção e adimplência destas
inúmeras obrigações.
Por fim, vale destacar que é inadmissível que o não
cumprimento de uma obrigação acessória justifique a cobrança de
obrigação principal ou condicione o gozo de um benefício fiscal.
79
caso, a sanção prevista pelo descumprimento de dever instrumental
será não o pagamento de valor em pecúnia, mas a impossibilidade de
gozo de programa de desoneração fiscal instituído em lei.
80
da benesse e ficará sujeita ao possível teste de adequação
(razoabilidade/proporcionalidade) por parte do Poder Judiciário.
Por fim, convém ressaltar que, em regra, a competência
para a instituição de deveres instrumentais pertence ao ente tributante
que detém a competência para a instituição do tributo a que tais
deveres estejam relacionados. Tal prerrogativa deverá ser exercida pelo
Poder Legislativo do ente tributante, que poderá autorizar o Executivo,
dentro de certos limites claramente estabelecidos, a especificar as
situações em que o cumprimento de obrigações acessórias será devido,
bem como as penalidades cabíveis em caso de descumprimento, em
linha com o que se disse acima.
81
O descumprimento da obrigação acessória deve implicar
somente o pagamento da multa de valor fixo, determinada pela lei e
proporcional ao bem jurídico tutelado. Neste caso deve haver extremo
cuidado no cumprimento do princípio da proporcionalidade.
Não se justifica a cobrança da multa tendo por base de
cálculo o tributo, este previsto como obrigação principal. O não
pagamento do tributo é base de cálculo da sanção imposta pelo
descumprimento da obrigação de dar.
A norma matriz da obrigação acessória é diversa da Norma
Matriz de Incidência Tributária.
As obrigações acessórias servem como condição para o gozo
de um benefício fiscal. Há de se ter grande cuidado ao criá-las sob
pena de, havendo excesso, poder destruir a obtenção do benefício.
Têm poder para criar a obrigação acessória os entes
federativos tributantes: a União, os Estados, o D.F. e o Município, os
mesmos que recebem a competência legislativa para criar os tributos
cometidos a eles pela Constituição.
82
ANIS KFOURI JR.
83
obrigação principal (ou que seja competente para tanto). Tratando-se
de obrigação acessória cuja inobservância não implique imposição de
penalidade pecuniária, poderá ser instituída e regulada
exclusivamente por ato infralegal editado pela autoridade vinculada à
arrecadação ou fiscalização do respectivo tributo, sendo vedada a
atribuição, ao contribuinte, de deveres que a lei tenha atribuído à
própria fiscalização.
A obrigação acessória deve guardar relação razoável com a
fiscalização e/ou arrecadação da respectiva obrigação principal (ainda
que não seja esta devida) e a penalidade deve observar critérios
mínimos de razoabilidade e proporcionalidade em relação à gravidade
da infração cometida, não podendo, ainda, assumir natureza
confiscatória.
O não cumprimento de obrigação acessória, por si só, não
justifica a cobrança de obrigação principal distinta daquela atinente à
respectiva sanção pecuniária legalmente prevista. A obrigação
principal somente poderá ser exigida se constatada a efetiva ocorrência
de seu fato gerador e atendidos os requisitos legais e constitucionais
que a legitimem.
O gozo de um benefício fiscal pode ser condicionado ao
cumprimento de obrigação acessória tão somente quando seu
descumprimento não seja sanável e implique prejuízo relevante às
atividades fiscalizadora e arrecadadora a ponto de justificar a perda do
benefício, conforme critérios de razoabilidade e proporcionalidade
(adequação entre meios e fins e proibição do excesso) e desde que
observados os princípios de boa-fé, moralidade, segurança jurídica e
estrita legalidade.
84
O não cumprimento de uma obrigação acessória, por si só,
não justifica cobrança de tributo, ou o cancelamento de um benefício
fiscal. O que pode ocorrer, na verdade, é de a concessão do incentivo, e
a cobrança do tributo, dependerem do esclarecimento de certos fatos,
cujo ônus da prova caiba ao contribuinte (servindo a tanto a obrigação
acessória), à míngua do qual o tributo poderá ser cobrado, ou o
benefício cancelado. Mas se, mesmo descumprida a específica
obrigação acessória, por outros meios se demonstrarem os referidos
fatos, o tributo não poderá ser cobrado, tampouco o benefício
cancelado.
85
O mesmo não se dá em relação a suas sanções: estão
sujeitas à reserva legal tributária e podem apenas ser estabelecidas
pela Lei, vedada sua delegação.
De outro lado, salvo mediante expressa consignação na Lei
(estabelecendo essa ligação de causa e efeito, como através de uma
presunção), não pode a obrigação acessória ter por consequência de
seu descumprimento sua transmutação em obrigação tributária
principal. Tampouco pode servir, sem que a Lei principal assim ordene
– embora tal ordem possa ser colocada em caracteres genéricos (como
a exigência de “idoneidade documental”) – como razão para a rejeição
de benefício fiscal.
86
entanto, poderá ser realizado pelo Poder Executivo, por meio de
decreto (observado o que expressamente dispôs o art. 99 do CTN), ou
mesmo pelas autoridades administrativas, por meio de atos
normativos como, por exemplo, instruções normativas, portarias, etc.,
sem, evidentemente, invadir o campo da reserva legal.
MARCELO BORGHI
87
relacionadas aos objetivos que se pretende alcançar com o incentivo.
Pode se adotar como condição, portanto, o cumprimento de obrigação
acessória, desde que razoável à luz das características gerais do
benefício em questão.
RICARDO CASTAGNA
88
Como visto acima, somente o Poder Legislativo competente,
integrante do ente federativo tributante, possui atribuição
constitucional para criar deveres instrumentais, em razão do princípio
da legalidade e do sobreprincípio da segurança jurídica. Deve a lei em
sentido estrito, criadora da ‘obrigação acessória’, conformar seus
elementos mínimos – inclusive penalidades -, relegando ao poder
regulamentar apenas questões atinentes à operacionalização e
execução dos deveres, sem qualquer possibilidade de alteração de suas
regras elementares.
RESPOSTAS
89
da Carta e, assim, deturpando os limites dentro dos quais se poderia
exercer a competência constitucionalmente outorgada. A consequência
prevista pelo sistema para tais situações é a decisão pela
inconstitucionalidade e, consequentemente, a invalidade das normas
infralegais que instituíram ou modificaram o tributo. Conclusão esta
que não sofre alterações quando se tratar de disposição que favoreça o
contribuinte. Deve-se ressaltar que a segurança jurídica, ela mesma,
também faz inquirir aqui sobre a necessidade de modulação dos efeitos
dessa declaração de inconstitucionalidade, como prescreve o art. 27 da
Lei nº 9.868/99, de modo que alguns direitos do Fisco e do
contribuinte podem ser resguardados mesmo nesses casos.
Para que seja considerada válida, a inciativa infralegal deve
limitar-se a especificar o que já foi tratado com maior generalidade na
lei, descendo a pormenores técnicos que permitam executar o comando
legal. Essas normas administrativas desempenham relevante papel
para a uniformização dos procedimentos desempenhados no seio da
Administração, pois lhe permitem consolidar interpretações que, não
raro, envolvem vários diplomas normativos distintos e intensa
sucessão legislativa. O que não se pode admitir, reitero, é que a
pretexto de uniformizar a interpretação legislativa, venha a autoridade
competente inovar o desenho da regra-matriz de incidência tributária
ou, ainda, instituir obrigação que não tenha amparo em legislação
prévia.
90
ainda suficiente para fazer surgir, do lado do contribuinte, uma
relação jurídica tributária.
Dando concretude ao princípio constitucional da legalidade,
do art. 150, I da CF, tem-se o disposto no art. 97 do CTN, devidamente
recepcionado pela CF/88, a desvelar a exclusividade de tratamento
mediante lei, em sentido formal e material, a todo o conteúdo da
materialidade das leis instituidoras de tributos ou dos regimes de
isenções.
Reconhece-se a existência de dois tipos de regulamentos: os
regulamentos executivos e os regulamentos autônomos. Se os primeiros,
nos termos do art. 84, IV, da CF/88, veiculam normas com o intuito de
garantir “a fiel execução da lei”, pela Administração Pública, não
podendo se afastar dos limites desta; os últimos, contrariamente,
revelar-se-iam aptos a “inovar” na ordem jurídica. No Brasil, somente
se admite os regulamentos executivos. Daí o CTN, quanto aos
Decretos, no art. 99, assim dispor: “o conteúdo e o alcance dos decretos
restringem-se aos das leis em função das quais sejam expedidos,
determinados com observância das regras de interpretação
estabelecidas nesta Lei”.
Quando a Constituição atribui competência normativa ao
Poder Executivo, destaca sua função regulamentar executiva, no art.
84, IV, da CF, e nos limites da legalidade, sob pena de serem sustados
pelo Congresso Nacional (art. 49, V da CF), quando exorbitem tal poder
regulamentar.
A confiança legítima na atuação dos órgãos do Estado,
porém, tem sua fonte baseada não bem na manifestação de vontade,
mas na própria condição de previsibilidade da ação daqueles órgãos.
Protege-se, assim, a confiança do administrado perante a
Administração quando o comportamento do primeiro está de acordo
com parâmetros da boa-fé objetiva, mas com aplicação do princípio de
proteção das expectativas de confiança legítima.
O recurso à boa-fé “subjetiva”, por decorrer da vontade
individual, de certo traria sensíveis instabilidades à funcionalidade do
sistema jurídico, mas a boa-fé “objetiva”, que se manifesta nos atos
materiais ou de informações prestadas, baseada na confiança e na
lealdade objetivamente controladas, é indissociável da estabilidade
desejada do sistema. Não se pode conceber que, em um Estado
democrático, o agir em boa-fé objetivamente manifesto, ou segundo
expectativas de confiabilidade na própria ação administrativa, não
tenha qualquer efeito à luz da legislação tributária.
Em matéria tributária, por exemplo, a confiança legítima
pode evidenciar-se pela prática de interpretação ou aplicação da lei
pelo mesmo ou por vários contribuintes e que gera a expectativa de
confiança em um agir legítimo e conforme a legalidade; pela coerência
entre a forma de interpretação e transparência de informações; bem
91
assim, pela cooperação e diligência do contribuinte nos atos requeridos
sem qualquer omissão ou resistência.
A segurança jurídica do direito ao funcionamento eficiente
dos serviços da Administração Tributária, baseados na normalidade,
continuidade, transparência, acessibilidade aos serviços e canais de
comunicação, simplificação, melhoria, rapidez e qualidade do
atendimento e atividades desempenhadas, inaugura um novo capítulo
da confiança legítima.
92
pela autoridade lançadora de tributo, resguardando as situações
jurídicas anteriores à introdução da nova interpretação da lei aplicável
ao caso individual e concreto.
KIYOSHI HARADA
93
regra-matriz de incidência tributária (fato tributável e as suas
coordenadas de tempo e espaço, os sujeitos e a prestação, com a sua
forma de quantificação). Exceções à regra são previstas pela própria
Constituição Federal, que deixa claro em quais casos será possível a
delegação de competência, pela lei, ao Poder Executivo.
Por outro lado, somos sensíveis à necessidade de o direito
tributário acompanhar o aumento da complexidade das relações
jurídicas, com o propósito de promover a isonômica tributação, o que
depende da existência de um maior número de alíquotas e bases de
cálculos para tributos que obedeçam ao princípio da capacidade
contributiva e da adequada medida do proveito de uma atividade
estatal para tributos direta ou indiretamente vinculados à atuação do
estado (especialmente para contribuições). Todavia, a transferência de
competência ao Executivo deve ser vista de maneira extremamente
restritiva, a fim de não entregar à competência regulamentar
atribuições que não lhes são próprias.
Entendemos, diante disso, que, de acordo com o princípio
da legalidade, é impossível a pretendida delegação ao Poder Executivo
para decisão sobre elementos essenciais da obrigação tributária.
Em nosso ponto de vista, o conteúdo do princípio da
legalidade também deverá ser aplicado com rigidez em casos em que o
contribuinte tenha se beneficiado com a delegação legal. O princípio da
legalidade vincula o contribuinte ao cumprimento da lei, mas também
vincula a administração pública, que deve obedecê-la sem a opção de
dispor da coisa pública, no caso, a arrecadação tributária. A plena
vinculação ao cumprimento da lei significa a impossibilidade de o
Executivo optar por cumprir, ou não, determinada obrigação legal.
Importante reconhecer, ainda, que a redação do art. 150, I,
da CF, deve significar a vedação à redução de tributo sem que lei o
determine, já que, em termos gerais, o princípio da legalidade vincula
os agentes do Poder Executivo. O nosso posicionamento pode ser
ilustrado por disposições do próprio CTN que prevê, expressamente,
que isenções (art. 176), anistias (art. 180) e remissões (art. 172)
dependem de previsão legal. Logo, não cabe ao chefe do Executivo,
dispor sobre a renúncia à arrecadação tributária, salvo em casos de
previsões constitucionais, cabendo o estrito cumprimento dos limites
legais.
94
(autorizações, estipulação de prazos), sendo vedada tratar dos
elementos essenciais da obrigação tributária (sujeitos ativo e passivo,
fatos geradores, base de cálculo e alíquota, aspectos temporal e
espacial).
A alteração normativa benéfica ao contribuinte pelo
Executivo, ainda que sem amparo em lei, pode ser considerado como
direito do contribuinte, que não pode ficar sujeito a imposições fiscais,
por atuar em plena conformidade com o Executivo.
95
JORGE DE OLIVEIRA VARGAS
96
Trata-se da chamada competência tributária ativa que
corresponde à aptidão de arrecadar e fiscalizar tributos, que pode
abranger a parafiscalidade. A respeito da parafiscalidade muito se
discutiu até a promulgação da Constituição de 1988 que reconheceu
expressamente sua natureza tributária, apesar de ser manifesta a
distinção entre as diversas contribuições sociais.
A transferência dessa competência tributária ativa é
possível, mediante lei; não se excepciona, nem que a alteração seja
benéfica ao contribuinte, pois ninguém é obrigado a fazer ou deixar de
fazer senão em virtude de lei.
VITTORIO CASSONE
97
Não se trata de dispositivo para proteção do Fisco. Ao
contrário, entendo que estamos diante de um instrumento de proteção
da sociedade e do próprio contribuinte contra a criação, às escuras ou
ilegítimas, de benefícios fiscais. Afinal, quando um contribuinte recebe
um benefício fiscal, a carga tributária passa a ser suportada pelos
demais, de modo que é uma exigência da moralidade tributária que se
tenha na lei um instrumento de controle social das deliberações a
respeito de quem poderá (e em que medida) ser beneficiário de uma
redução da carga tributária.
YOSHIAKI ICHIHARA
98
de impostos previstos expressamente, a alteração das alíquotas, mas
respeitados os limites legais. Os limites da eventual delegação estão
adstritos apenas ao cumprimento das obrigações acessórias, sem criar
ou extirpar direitos, apenas para tornar exequível a aplicação da lei
tributária ao caso concreto. Mesmo no caso da alteração benéfica,
apesar de não estar sujeita a multas ou penalidades, o contribuinte
que age nos termos da alteração benéfica em norma subalterna, não
tem direito adquirido e tal situação, ao revogar, não fere o princípio da
segurança jurídica.
99
RICARDO MARIZ DE OLIVEIRA, BRUNO FAJERSZTAJN, FABIANA
CARSONE ALVES F. DA SILVA E RAMON TOMAZELA SANTOS
PAULO CALIENDO
100
Fato gerador do imposto de importação: a entrada do produto
estrangeiro no território nacional (CTN, art. 19) (...)”.
Os decretos ao alterarem as alíquotas possuem a eficácia
de atos do Executivo com força de lei material, mesmo que submetidos
os limites e condições das leis ordinárias. Esta exceção se justifica pela
necessidade do dinamismo governamental na regulação de setores
econômicos dinâmicos, tais como a política industrial, financeira ou de
comércio exterior.
As alterações benéficas ao contribuinte são autorizadas em
relação às obrigações acessórias, que não exigem norma legal
autorizadora. Igualmente se admite a alteração benéfica dos
regulamentos das normas legais que instituem sanções.
A alteração benéfica de leis que instituam obrigações
tributárias somente será admitida se estiver em consonância com os
princípios constitucionais da isonomia, capacidade contributiva, da
generalidade e da universalidade.
Toda anistia, remissão, subsídio, crédito presumido,
concessão de isenção em caráter não geral, alteração de alíquota ou
modificação de base de cálculo que implique redução discriminada de
tributos ou contribuições e outros benefícios que correspondam a
tratamento diferenciado deve estar prevista na Lei Orçamentária, sob
pena de configurar renúncia de receita.
101
FERNANDO L. LOBO D’EÇA
102
Entretanto, mesmo quando desconforme com a lei, a
regulamentação administrativa, quando benéfica ao contribuinte e for
por este observada de boa fé, por consubstanciar interpretação
administrativa, “exclui a imposição de penalidades e a cobrança de
juros de mora e a atualização monetária da base de cálculo do tributo”
(§ único do art. 100 do CTN).
DOUGLAS YAMASHITA
103
ANDRÉ L. COSTA CORRÊA
104
Por fim, no que diz respeito aos limites para a lei delegar a
regulamentação da cobrança do tributo, importante destacar alguns
aspectos da norma regulamentadora: a) deve respeitar os limites
estabelecidos na Constituição Federal e os direitos fundamentais dos
contribuintes; b) deve respeitar a lei estrita; c) não pode extrapolar os
conceitos gerais do tributo já definidos em legislação competente; d)
não pode majorar ou criar novos tributos e e) deve estar atrelada as
funções de arrecadação e fiscalização.
105
obrigações tributárias e acessórias sejam previstos em normas
infralegais editadas pela pessoa política responsável pela fiscalização e
cobrança do tributo.
Desta sorte, a instituição do tributo e das respectivas
obrigações acessórias haverá de ser prevista por lei editada pela
pessoa política dotada de competência legislativa para tanto, que
poderá, então, delegar a sua aplicação e regulamentação a pessoa
política diversa, mas sempre nos estritos limites da legalidade.
106
É certo, em todo caso, que muitas vezes há necessidade de
o regulamento especificar as disposições legais em matéria de
cobrança de tributo. Sucede que “esta especificação tem que se conter
no interior do conteúdo significativo das palavras enunciadoras do teor
do direito [conferido à Administração, no caso] e nas condições as
serem preenchidas [para o seu exercício]”. Ainda, dizer que a lei pode
atribuir ao Executivo margem para especificações difere, e muito, de
afirmar que ela pode “transferir ao Executivo o poder de ditar, por si”, o
modo pelo qual o tributo será cobrado, o que constituiria delegação
vedada pelo ordenamento.
107
No caso de alteração não feita por lei, mesmo que benéfica
ao contribuinte, não deve ser aceita. O tributo é criado no interesse do
bem público, e a relação jurídica tributária deve ser criada obedecendo
os princípios constitucionais respeitando ambos: o Estado e o
contribuinte
108
poderão ensejar prejuízos ao contribuinte, podendo, a depender do
caso em concreto, ser sopesadas em consonância com todo o sistema
tributário, de forma a permitir o equilíbrio da relação jurídico-
tributário, objetivo maior a ser perseguido.
109
devem ser todos previstos em lei, conforme explicitado no art. 97 do
CTN.
Caso a alteração seja benéfica ao contribuinte e não tenha
sido determinada por lei, o Fisco pode corrigi-la, mas da correção é
vedada a cobrança retroativa de valores, seja por força do art. 146 do
CTN, seja por conta de não se poder locupletar da própria torpeza.
110
Prosseguindo, em relação aos limites para a lei delegar a
regulamentação da cobrança do tributo, importa esclarecer que o
termo “cobrança” tem como conotação aqui empregada o sentido de
exigir, de imputar obrigação, não se aplicando para o fim de especificar
a ação executiva em caso de inadimplemento. A cobrança tem seu
sentido jurídico conectado com o poder-dever acerca da relação
jurídica tributária, não sendo relevante, por ora, a conotação
financeira que também emana do termo em comento.
Da mesma forma que se entende pela impossibilidade de
regulamentação de cobrança de tributo sem que sejam obedecidos os
ditames constitucionais acima referidos, também não se admite como
válida a concessão de benefícios fiscais em favor do contribuinte sem
lei que o preveja.
MARCELO BORGHI
111
RICARDO CASTAGNA
RESPOSTAS
112
A resposta, pois, é que se, por unanimidade do CONFAZ,
decidirem que haja remissão dos débitos fiscais de incentivos
considerados inconstitucionais pelo STF, através de edição de leis
estaduais autorizadas por tal tipo de convênio, a segurança jurídica
estará preservada.
113
Quero insistir na ideia de que a revogação, considerada a
proteção dada pelo ordenamento jurídico brasileiro aos atos jurídicos
perfeitos, não deve produzir efeitos retroativos. Assim, ainda que se
revogue o decreto concessivo do benefício fiscal, não poderá o Estado
exigir o recolhimento de eventuais diferenças decorrentes da aplicação
retroativa do regime ordinário de apuração e pagamento do imposto.
Para que se possa medir as consequências da decisão do
Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de
constitucionalidade ou da adoção de Súmula Vinculante a respeito da
inconstitucionalidade de benefício fiscal de ICMS concedido sem
autorização do CONFAZ, faz-se imprescindível conhecer os efeitos
dados a elas. Isso porque, cabendo àquela Corte a decisão de modular
esses efeitos (art. 27 da Lei nº 9.868/99), pode ela atribuir eficácia ex
tunc - retroagindo os efeitos da nulidade e, nesse caso, sendo devido o
tributo retroativamente - ou ex nunc - hipótese em que o termo final de
vigência da lei é fixado em momento diverso do de sua edição,
preservando-se seus efeitos pretéritos, e, por conseguinte, inexistindo
a obrigação de recolher qualquer quantia referente a esse período.
Quero acrescentar, porém, a respeito das sanções que se
pretendam impor ao contribuinte, que este, ao valer-se das disposições
do benefício fiscal que lhe foi concedido, apenas cumpriu as
disposições legais às quais estava submetido. Não praticou, portanto,
ilícito algum, tendo apenas cumprido aquilo que a legislação vigente e
presumivelmente válida determinava. Sendo assim, falta a
caracterização do ilícito que deve ser o pressuposto da incidência de
toda e qualquer sanção. Descabe, por isso mesmo, a aplicação de
multas ou outros expedientes punitivos em razão do descumprimento
de obrigações tributárias. Por essa razão, considero que, caso a lei
estadual seja declarada inconstitucional mediante decisão com eficácia
ex tunc, é perfeitamente possível a adoção de medidas para minimizar
os danos causados ao contribuinte, mediante a edição, pelo Estado ou
Distrito Federal, de lei que veicule remissão e anistia, desde que,
tenham estes benefícios fiscais sido previamente autorizados pelo
CONFAZ e seguido os trâmites legislativos necessários à sua
instituição em cada estado.
114
prazos determinados, os contribuintes é que tinham direito à
indenização em face da retirada daquelas isenções.
A rigor, enorme insegurança jurídica existiria se admitido
efeito retroativo de decisões que declaram a inconstitucionalidade da
lei em controle concentrado, porque o cidadão cumpridor da lei poderia
ser surpreendido com deveres que nos termos da lei não existiam.
115
cipoal legislativo que envolve matérias tributárias em nosso país, a
produzir enorme insegurança jurídica e contradições entre órgãos do
Estado.
KIYOSHI HARADA
116
unilateralmente concedidos por diferentes unidades federativas. Esse
projeto representa uma reação do Legislativo contra as decisões da
Corte Suprema que está elaborando o projeto de Súmula Vinculante de
nº 69, cujo enunciado versa sobre a inconstitucionalidade dos
incentivos fiscais outorgados sem a intermediação do CONFAZ. É
bastante preocupante esse tipo de reação legislativa que está se
tornando cada vez mais frequente em matéria tributária, desde o
advento da Emenda Passos Portos em 1983 (EC nº 23/83) que
sepultou nada menos que três teses do Supremo Tribunal Federal.
No meu entender esse tipo de reação do Congresso
Nacional atenta contra o princípio de separação dos Poderes embora,
no caso, tratar-se de uma medida para sanar um grave problema de
natureza financeira de que não são responsáveis os contribuintes a
serem anistiados. Culpa maior cabe aos Estados que concederam os
benefícios fiscais unilateralmente e em menor grau, ao STF que
pronunciou a inconstitucionalidade decorrido uma década, deixando
de apreciar a medida cautelar no bojo das ADIs impetradas, apesar da
flagrante inconstitucionalidade dos incentivos fiscais sem a
intermediação do CONFAZ, visível prima facie.
Esclarece-se que o PLC nº 26/2015 foi sobrestado porque
encontra-se em adiantada fase legislativa o PLC do Senado Federal de
nº 130/2014 que pelo seu art. 1º convalida diretamente os atos
normativos de concessão de benefícios e incentivos fiscais ou
financeiros vinculados ao ICMS editados até o 1º de maio de 2014,
sem observância do disposto no art. 155, § 2º, XII, g da CF. Em
consequência, o art. 2º promove a remissão e anistia dos créditos
tributários do ICMS gerados por conta dos benefícios e incentivos
fiscais ou financeiros outorgados sem observância da disposição
constitucional pertinente. O caminho mais adequado seria a aprovação
da Súmula Vinculante nº 69, mas com efeito prospectivo ressalvando
aqueles benefícios e incentivos fiscais ou financeiros concedidos até a
data do julgamento das ADIs. O Senado Federal ao invés de solicitar ao
STF o sobrestamento da Súmula Vinculante nº 69 em elaboração
deveria arquivar o seu PLC nº 130/2014 de caráter concreto.
117
tributária para a atração do capital privado. Estados como São Paulo
não querem se ver obrigados a reduzir alíquotas do ICMS para
competirem com o custo tributário de outros Estados que o façam.
Dada a situação, ainda que sem a obtenção da autorização
do CONFAZ, Estados da federação criam benefícios fiscais que,
sabidamente, serão declarados inconstitucionais. Como, diante disto,
encarar a aplicação da segurança jurídica? Sob a ótica do Estado que é
“prejudicado” com a criação do benefício sem a unânime aprovação do
CONFAZ ou sob a ótica do contribuinte que cumpriu uma disposição
legal vigente, posteriormente declarada inconstitucional?
Apresentamos, a seguir, a nossa reflexão.
O princípio da segurança jurídica deve garantir a certeza
sobre o passado e um mínimo de previsibilidade sobre o futuro, de
maneira que, em direito tributário, seja possível reconhecer a não
tributação por fatos anteriores à vigência da norma de incidência
tributária e a certeza sobre os tributos que incidem sobre fatos
correntes.
Partindo do dado colocado na questão, segundo o qual a
remissão teria como fonte a aprovação unânime no CONFAZ, parece-
nos que o princípio da segurança jurídica seria atendido. Primeiro,
pelo fato de a produção legislativa de remissão atender aos requisitos
constitucionais e infraconstitucionais para a sua validade, ou seja, ser
prevista em lei do ente competente, previamente autorizada por
consenso no CONFAZ. Segundo, pelo fato de entendermos que o direito
tributário é instrumento precipuamente concebido para proteger a
pessoa do contribuinte, que, após ter cumprido obrigações previstas
em lei, pode ser demandado por tributo cuja norma jurídica é
concebida após decisão judicial, em momento muito posterior à
ocorrência do fato imponível.
A produção legislativa prévia e sabidamente
inconstitucional, certamente, não pode ser premiada com a ineficácia
dos efeitos da declaração da sua inconstitucionalidade, o que também
constitui afronta ao princípio da segurança jurídica. Também os
Estados precisam ter entre si a certeza sobre a correta conduta uns
dos outros, o que é notoriamente inexistente no Brasil.
A obrigação de arrecadação do tributo não recolhido com
base em regra inconstitucional, aparentemente, servia de instrumento
para forçar o cumprimento da vigente Lei Complementar nº 24/1975,
o que privilegia a segurança jurídica, se pensada sob a ótica da relação
entre os entes federados. A situação, entretanto, pode colocar o
contribuinte na berlinda, invertendo a lógica da sua relação com as
disposições legais, já que, ao invés de confiar na lei, o contribuinte
deverá desconfiar da lei.
A reflexão sobre os efeitos da obrigação de consenso no
CONFAZ para a concessão de benefícios fiscais e sobre as suas
118
implicações concretas demandam, sem dúvida, estudo específico de
profundidade, o que, reputamos, não cabe para o momento. Isso
passa, inclusive, sobre o questionamento da constitucionalidade da
manutenção da validade da Lei Complementar nº 24/1975 à luz do
princípio federativo.
De todo modo, voltando à questão proposta, pelos
fundamentos acima expostos, parece-nos que a segurança jurídica,
sob o prisma da proteção ao contribuinte, estaria atendida no caso de
remissão concedida a partir de consenso no CONFAZ, ainda que
incidente sobre débitos decorrentes de declarações de
inconstitucionalidade de benefícios fiscais.
119
É fundamental registrar que o comportamento do
contribuinte submetido a guerra fiscal, além do aspecto tributário, não
poderá repetir cometimento de ilícito penal tributário.
Não haveria o dolo específico, e a culpa consciente, os quais
somente poderão existir no âmbito do fato gerador da obrigação, da
notificação, do novo lançamento ou de procedimento administrativo
fiscal.
A declaração de inconstitucionalidade, a cargo do STF, tem
por escopo retroagir seus efeitos, de toda forma, tantos os Estados,
como o Distrito Federal ficariam impedidos de qualquer anomalia,
inclusive podendo ter enquadramento, em tese, no cometimento de
crime de responsabilidade fiscal.
Referidos benefícios fiscais dentro do estado de guerra
existente são transitórios e episódicos, daí a intenção de arrecadação,
reconhecida a inconstitucionalidade, perde o seu sentido, de tal forma
que não pode o CONFAZ simplesmente legitimar ou convalidar ato
eivado de inconstitucionalidade.
O prejuízo acarretado ao fisco, sem mensurar os valores,
por si só, repele a sistemática e a inócua tentativa da convalidação dos
efeitos da medida, aguardando-se o julgamento do recurso
extraordinário, matéria de repercussão geral reconhecida, sob o nº
851.421.
E se tratando de leis consideradas inconstitucionais na
concessão de benefícios fiscais, unilateralmente, sem aprovação prévia
dos demais Estados, aplicar-se-ia o art. 155, § 2º, XII, alínea g, da
Constituição Federal.
O Ministério Público do Distrito Federal encampou
entendimento no sentido de que o perdão da dívida tributária
representaria fraude praticada por meio de lei, consistente em
convalidar os benefícios declarados inconstitucionais.
Dessa forma, portanto, a suspensão, por meio de medida
cautelar, junto ao STF, da lei do Distrito Federal, perdoando dívida no
montante de 10 bilhões de reais, fruto da guerra fiscal.
Decretada a inconstitucionalidade pela corte - STF,
qualquer comportamento distante, destoante de refratar, pelos
Estados, ou pelo Distrito Federal, além de violar o próprio modelo
orçamentário, em tese, repercutiria na existência de crime de
responsabilidade fiscal, na medida em que se abriu mão de valor
exponencial de arrecadação, sem a necessária atenção aos princípios
maiores da constitucionalidade jurídico-tributária.
Conclui-se, pois, que a guerra fiscal já está sendo,
definitivamente, tratada pelo STF e a análise, em repercussão geral do
caso, transfere para aquela Corte a última palavra, daí porque a
relativização administrativa da segurança jurídica mediante remissão
perde o seu conceito, empalidece sua noção quando definitivamente
120
advier pronunciamento judicial reconhecendo a inconstitucionalidade
da norma.
Em resumo, a segurança jurídica, sobreprincípio maior,
estilizado no ordenamento constitucional tributário não é apenas uma
regra de poder-dever entre o fisco e o contribuinte, irradiando todos os
seus efeitos para a coletividade, beneficiária maior da arrecadação, na
prestação de serviços públicos condizentes com a febre insuperável e
excessiva da carga tributária brasileira.
121
da Lei 9.868, os efeitos da declaração de inconstitucionalidade
vinculam os demais órgãos do Poder Judiciário e à Administração
Pública Federal, Estadual e Municipal, mas não o Poder Legislativo; e,
a duas, se a finalidade da declaração de inconstitucionalidade dos
benefícios decorrentes da chamada “guerra fiscal” foi a ausência de
consenso do CONFAZ, não faz sentido declarar a inconstitucionalidade
de uma lei posterior baseada nesse consenso; a três, a fundamentação
da declaração de inconstitucionalidade não mais existente, não pode
servir de fundamento para nova declaração de inconstitucionalidade
sobre a mesma questão; e, a quatro, não é o caso de
constitucionalidade superveniente (o que é vedado), pois a lei não é
aquela que foi declarada inconstitucional, além do que a nova lei não
baseou-se em alguma emenda constitucional, mas sim no
cumprimento do que ali já estava disposto, ou seja, baseou-se no
consenso do CONFAZ.
122
Ainda que a motivação para justificar tal proceder seja a de
evitar a guerra fiscal, não se pode conceber um mal maior, ou seja, a
delegação de competência entre poderes, que compromete a segurança
jurídica e pode voltar-se mais a propósitos políticos e não ao interesse
público propriamente.
A única alternativa válida para se resolver tal problemática
seria a adoção, por meio da reforma tributária, a federalização do
ICMS, de modo a não ferir o pacto federativo e, em suma, a
Constituição Federal. Essa providência seria concretizada com a edição
de lei complementar, que definiria os elementos essenciais do tributo,
partilhando-se entre os Estados a fiscalização e a arrecadação.
VITTORIO CASSONE
123
judiciais, caso, por exemplo, alterando-se o governo de algum Estado,
o novo governante resolva questionar a lei que concedeu a remissão.
Sobre o assunto, e para finalizar esta análise, reproduzo
trecho de estudo já publicado:
“É preciso verificar, primeiro, se a concessão de benefício
fiscal não escamoteia uma forma ilícita de obtenção de recursos e
financiamentos para campanhas eleitorais. Recente reportagem retrata
um diagnóstico feito pelo Sindicato dos Auditores da Receita Estadual
de Minas Gerais (Sindifisco - MG), no qual se aponta que “Várias
empresas que recebem benefícios fiscais aparecem nas prestações de
contas de financiamento de campanhas eleitorais”. Neste caso, mesmo
que, por hipótese, os benefícios fossem válidos, sob o ponto de vista
tributário, não o seriam à luz da moralidade, devendo implicar
decisões sancionatórias mais drásticas (à luz da lei de improbidade
administrativa e da legislação eleitoral).
De outro lado, é necessário saber se há legitimidade
democrática no direcionamento da concessão de certos benefícios
fiscais. O problema, aqui, é constitucional de fundo moral.
Pelo princípio da capacidade contributiva, todos devem
pagar tributos. Portanto, a concessão de benefícios fiscais deve
respeitar tal princípio. A concessão de benefícios tributários a quem
possui capacidade contributiva pode gerar distorções sociais, pois pode
levar a uma desproporcional redistribuição do custo tributário entre os
contribuintes não beneficiados. A previsão constante do §6º do art.
150 da CF/88, neste contexto, deve ser tomada a sério, porque a
exigência de legalidade serve de proteção à transparência e à
moralidade pública. A sociedade tem o direito de debater, através de
seus representantes, quem terá o direito à concessão de benefícios,
bem como de saber quem foi escolhido. Não fosse assim, muitos
benefícios continuariam a ser concedidos de forma sub-reptícia, às
escuras, através de instrumentos normativos secundários.
Mais do que isto, a concessão de benefícios fiscais deve ser
objeto de ponderação através do critério da proporcionalidade: sua
necessidade, sua adequação ao fim que se pretende atingir e não
provocar um malefício que se sobreponha ao efeito benéfico almejado.
Assim, a concessão de benefícios fiscais deve ser seguida de
constante prestação de contas à sociedade por parte dos entes
federativos, demonstrando a sua eficácia e eficiência em relação aos
fins que se busca atingir.
Não é o que se costuma ver, entretanto.
Enfim, um último aspecto que merece ser discutido às
claras diz com as relações entabuladas entre governantes e os
contribuintes agraciados com os benefícios fiscais. Uma leitura ideal e
moral pressuporia um agir neutro do ente federativo em relação aos
contribuintes beneficiados. É dizer, a concessão de benefícios fiscais
124
deveria ser fruto de decisão política desenvolvida sem interferências e
influências daqueles, considerando-se apenas questões técnicas (não
somente jurídicas).
Mas, a prática tem demonstrado o contrário. Não significa
que a atuação de setores de contribuintes em defesa de seus
interesses, com o intuito de obter benefícios fiscais, seja ilegal ou
indevida. Por certo que não. Não significa, também, que seja possível
imaginar um agir governamental sem qualquer influência externa,
exigindo-se apenas que esta seja filtrada, debatida e considerada em
decisões de forma clara e legítima.
Mas, o fato dos contribuintes participarem, de alguma
forma, no processo de decisão e concessão dos benefícios fiscais pode
ter repercussão no modo como o Supremo Tribunal Federal irá decidir
a questão dos efeitos da decisão de inconstitucionalidade”.
YOSHIAKI ICHIHARA
125
assunção da posição filosófica de interpretação de que “quando estiver
em conflito a lei e a justiça, deve recair no sentido que implementa a
justiça”.
126
quando se verificar que (i) o contribuinte fez investimentos na região
cujo desfazimento pode prejudicá-lo e também prejudicar, ainda que
indiretamente, a sociedade, e que (ii) a eficácia da lei impugnada
ocorreu durante longo período, consolidando e criando aparência de
legitimidade ao comportamento praticado pelo contribuinte com base
na lei inconstitucional.
PAULO CALIENDO
127
Não. Como demonstrado, a declaração de inconstitucionalidade
de lei “reveste-se, ordinariamente, de eficácia “ex tunc” (...), retroagindo
ao momento em que editado o ato estatal reconhecido inconstitucional
pelo Supremo Tribunal Federal” e, considerando o efeito repristinatório
que lhe é inerente, importa em “restauração das normas estatais
anteriormente revogadas pelo diploma normativo objeto do juízo de
inconstitucionalidade”, alcançando inclusive, os atos pretéritos
praticados com base na norma inconstitucional, eis que “o
reconhecimento desse supremo vício jurídico, que inquina de total
nulidade os atos emanados do poder público, desampara as situações
constituídas sob sua égide e inibe - ante a sua inaptidão para produzir
efeitos jurídicos validos - a possibilidade de invocação de qualquer
direito”.
Entretanto eficácia “ex tunc” da declaração de
inconstitucionalidade, em nada prejudica os auto lançamentos e
pagamentos regularmente efetuados pelo contribuinte com base na lei
posteriormente declarada inconstitucional, seja porque o novo critério
jurídico decorrente da declaração de inconstitucionalidade não autoriza
a revisão daqueles auto lançamentos (arts. 145, 146 e 149 do CTN),
seja porque os pagamentos efetuados com base na lei então vigente,
por consubstanciarem atos jurídicos perfeitos, extinguiram as
respectivas obrigações tributárias (art. 156 incs. I e VII do CTN),
ressalvada apenas as hipóteses de erros de fato (art. 149 do CTN) ou
de repetição do indébito (arts. 165 a 168 do CTN), seja ainda porque o
efeito liberatório decorrente daqueles pagamentos, constitui um direito
patrimonial adquirido quanto ao tributo satisfeito, o que os coloca sob
a proteção da “intangibilidade” do direito adquirido e do ato jurídico
perfeito constitucionalmente assegurado (art. 5º XXXVI da CF/88).
DOUGLAS YAMASHITA
128
concederem, mediante lei, remissão de dívidas tributárias decorrentes
da outorga de benefícios fiscais suportados em leis declaradas
inconstitucionais, pelo STF e introduzidas à margem da Lei
Complementar nº 24.
129
quem a faz é o Estado e não pode ser imputado ao cidadão o ônus de
sua inconstitucionalidade.
A garantia constitucional conferida ao cidadão de que não
haverá tributo sem lei (válida) não pode ser invocada pelo Estado para
justificar a cobrança de tributo em face da invalidade de lei. Dessa
forma, uma vez concedido o incentivo fiscal, mesmo que
posteriormente a lei concessiva venha a ser declarada inconstitucional,
não poderá ser cobrado o tributo que o contribuinte deixou de pagar
em razão do referido benefício.
A feitura de lei estabelecendo remissão da dívida que
decorreria da declaração de inconstitucionalidade de incentivo fiscal,
portanto, é medida que resguarda a boa fé e confere segurança jurídica
às relações estabelecidas na vigência da lei concessiva do benefício.
130
clima de credibilidade estatal sem o qual a promoção do
desenvolvimento social e econômico tende a ficar prejudicada.
Ressalta-se, a propósito do tema, que atualmente não pode
haver dúvidas quanto à aplicabilidade da segurança jurídica (proteção
da confiança) em matéria de incentivos irregularmente concedidos, na
exata medida em que o princípio em questão figurou como razão
determinante para que, em julgado recente, o Plenário do Supremo
Tribunal Federal – STF atribuísse efeitos apenas prospectivos (eficácia
ex nunc) à decisão proferida nos autos da ADI 4481 no sentido da
inconstitucionalidade de incentivo de ICMS pelo Estado do Paraná
(ADI 4481, Rel. Min. Roberto Barroso, DJ 18/05/2015).
131
decorrência do gozo de benefícios fiscais implementados no âmbito da
guerra fiscal e considerados inconstitucionais pelo STF.
Por fim, cumpre ressaltar que esse tema aguarda
julgamento no RE nº 851.421 RG/DF, onde foi declarada a
repercussão geral da “controvérsia relativa à constitucionalidade da
prática mediante a qual os estados e o Distrito Federal, respaldados
em consenso alcançado no âmbito do Conselho Nacional de Política
Fazendária – CONFAZ, perdoam dívidas tributárias surgidas em
decorrência do gozo de benefícios fiscais assentados inconstitucionais
pelo Supremo, porque implementados em meio à chamada guerra
fiscal do ICMS”.
132
decorrentes de períodos anteriores à declaração de
inconstitucionalidade.
133
ordenamento. Portanto, neste caso, cabe valorizar o fundamento
constitucional com o entendimento de que a edição das mencionadas
leis remissivas de dividas tributárias atendem tanto ao principio da
boa-fé como a segurança jurídica, principalmente considerando a
preservação da confiança no Estado.
Ao serem considerados inconstitucionais tais benefícios, os
contribuintes restaram permeados pela insegurança, cujas
consequências não decorreram de atos ilícitos ou da atuação à
margem da legislação incidente, mas, ao contrário, por terem
respeitado o ordenamento à época vigente. Destarte, entende-se que
estas leis remissivas devolveram aos contribuintes a segurança
jurídica abalada em face da declaração de inconstitucionalidade dos
benefícios tomados, em que a modulação de efeitos não se fez presente
para restabelecer tal garantia.
Em contrapartida, do ponto de vista da sociedade, do ônus
compartilhado por cada um dos cidadãos para o custeio das despesas
públicas, a prática legiferante dos Estados não atende ao critério da
segurança jurídica, pois a criação de normas com vistas à
competitividade fiscal sem que se atente para os preceitos
constitucionais na concessão de benefícios implica em um cenário de
incerteza e instabilidade, como o qual não se pode concordar.
MARCELO BORGHI
134
assumido pelo poder público. Os prejuízos com o desrespeito, de outro
modo, deveriam ser indenizados.
RICARDO CASTAGNA
135