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eS eee ee comer) s € fornece um emt) cs profundo conhecimento e experiéneia Roe Mehta Mee eat RS ela aoa rote itl cia telat Mat da educagas. Ana Maria de Oliveira Gaivao é professora da Faculda- Eves Molntne MU ee cage ie ane oke a ais (UFMG) e mestre e doutora em Educacéo por essa sree ery eira Lopes ‘ ‘3-5 upton lure ia Ia E ie “A André, Latsa ¢ Tornds, crescendo em sabedoria e graga. Aas arigns Ménica Yumi Jinzenji, Luciano Mendes Faria Filbo, Cores Leite Prado, Adlene Arantes; ‘Fabiana Silva e Marta Catariho, que fizeram uma “eitana atenta; os erros e as licunas so sb nossos Territorio:plural_ A pesquisa em histéria da educa¢gao ‘Ana Maria de Oliveira Galvao Doiitora emi Educagao péla Universidade. Federal de Minas Gerais eee, , Bliane Mares ‘Teixeira Lopes” Professora.emérita da Universidade, acetal ide Minas Gerale (UEMG) ea ceditora dtiea “OOG6OSH 20.08 89O0. 0 recho'de disloge entre Prpino « Alcube, publicads na pdgine 5, foi cxnilde do site Dupree honopoccombiderer! ean bt fl ‘CiP-BRASIL. CATALOGAGAO NA FONTE. _SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS. RJ. tas, 7 a ae in Sis Tin HE oltre ae Mae a sn sina Gla Lied Sq Pauls Ase, 2010, cop:379.00 “ou. s70s8 10 ISBN 978'85 08 134144 (Césigo da obra CL 737191 ‘impression Impreseo ¢ acabamenge: Corprine Grificae Editors Leda, “Teds o¢ditetas reservados pela Editora Aces = qualquer lugar. = O que é a escrita? * =O guarda dla histéria. _ =O que é’ palavea? = pedo dedtnsdne So cksae "= Quem geraa-palavra?. ~Allingua. :— Oqueéa lingua? + Orchicoie do ar. =O queéo ar? —O guarda da vida, =O que é'a vidar, «=A alegria dos ditosos,alligéo dos miseries, espera da morte: = O que 6a morte} = Um fato inevitavel, ima incerta peregrinasio; légtimas dos vivos; . “dos ta tiltinia década, além de lhe actescentar tin capitulo; ‘Trata-se'de uma pritica historiogréfica, com referéncias te6ricas va~ Hiadas (podendo incluic pressupostos tanto da histéria social quanto | da histéria cularal), que se baseia na “redusio da escala da observa-) io, cm uma andlise microscépica e em um estudo intensivo do ma- } © terial documental” (Levi, 1992, p.136). Essa opgo esta, fundamen- | tada.na hipétese de que a observagio microscépica pode revelar 20 pesqitisador fatores previamente no observades. Como afirma Jac- yues Reyel (1998), nao é a mesma dependendo | da escala de observacio. Vejamos, por exemplo, um fenémeno como realidade soci 34 [de andlise émn que’ présenga da hist6ria social se faz'sentir de manei- a formagao da sociedade industrial ou 0 crescimento do Estado, Fa- ‘amos uma anilise no mais em termos globais, como de hébito, mas | tendo em mente a trajetéria individual ou fsmiliar de pessoas que vi- /venciaram.esses.fendmenos,.Esse:método com certeza trard-uth' lei ura completamente diferente da realidade esttidada. Do ponto de Vista te6ric; 0 uc une os trabalhos com base nesia essalperspectiva ium modelo de ago ¢ de conflito do homem no mundo; wm homem que-reconhece a prépria liberdade relativa, construfda no interior de > sistemnas normativos prescritives e opressives: Explica Gidvainni Levit "Toda ago social é-vista como o résultado.de uma constante nego-. /) ciagio, manipulagio, escolhas ¢ decis6es do individwo, diarite de uma / |\reilidade siormativa que; embora difusa {.J, oferece miuitas, possibi- lidades de iimerpretagoes e liberdades pessoais” (1992; p. 133). ombNa histéria da educasio,-essis tendéncias historiograficas tambért “Pfovocaram mudangas na selecio dos objetos de pe ena forma, de abordé-los. A cultura €-0 cotidiano escolares, a organizacao ¢ 0 fancionamento interno das éscolas, a constniigao do conhecimento; 0 curriculo ¢ as disciplinas; os agentes educaciohals (professores'e pro- fessoras, mas tambéin alunos e.alnnas), a impreisa pedagégica, os li- vros didaticos, a infancia, a educagao rural, aeducagio anarquista etc. tém sido estudados e valorizados. Os, pesquisadores deslocam. sei in ideias € politicas éducacionais para as praticas, os usos ¢ as apropriagoes dos diferentes objetos. Os grandes modelos de explica- G80 hjstérica tém perdido forga nos tiltimos anos eritre os historiado- | res. da cducagao. Comio veremios no préximo capitulo, mesmo os tc~ \ ionais tém sido estudados sob 0 impacto dessas tendéncias icas recentes, inovar ha escolha de objetos;.a histéria da eclucagio tem incorporado categorias teorizadas em outras Areas das ciéncias huma- nas ¢ hoje consideradas imprescindiveis para compreender o passado dos fenémenos educativos: E 0 caso de conceitos.como género, ctnia © geragao — ao lado d j4 consagrado pelos estudos mar= xistas € histéria da educagSo, assim como o cam- ~ po da educagéo de modo geral, sabe que nfo € possivel compreender 35 ~ |, mem‘e'da mullicr, da crianga do aduileo; do'n« ‘Ana Maria de Ollvelra Galvao e Ellane Marta Teixeira Lopes a.educagio sem langar mao dessas categorias, que contribuem para | agucar o olhar sobre diferentes realidades. Por muito tempo, nao se problematizou a educagio dos negros ¢ dos indigenas, ou as especifi- ‘Gidades da eduicaao fernininia nos diferentes momentos do pasado. Hoje, essas questes sio fandamentais pari entender 6 que foi eo que’ Ea educagao brasileira, Mesmo assim, mitites inisiscém em nao erixer- gar que séo profundamente diferentes a’ histdrias da‘editeagio do ho- do bratco} do in! i digena € dé jiideix:.. Enxergat o'outio continua esforgo, principalmente para og qpie' 140 Geupam‘e lugat dos que poui- co puderam fala ou escrever ao longo da hist : “Téin,se tornado mais frequentes, tanibém, os estudos localizados, que lidam com. realidades inais circunscritas.¢ perfodos curtos. Essa tenidahicia tem possibilitado aprofundar Géiios éinas’€ éaitiquecer a ‘coinpreensio do passido de determinados feiémenos educativos 4 ahtes, erami einxergados aperias de maneira panoramica. No Brasil é comum, por exemplo, que os pesdisidorés procirem cbmpr 65 moviientos educacionais na iealidade especifica de seus respecti- vos estados. Afinala somente apéz.1930 foram -institufdas'no- pals le- _gislag6es centralizando o ensino., Antes disso, cada uma das provincias anes ‘seus proprios ordcnamentos legais no que se tefere & instrugio. Em um pase tio grande dinienisio territorial, cram quase desconhe~ _didlas as miltiplas realidades,cducacionais existentes. Esses novos tra- ‘balhos tém provocado uma revisio daquilo que antes se tinha como verdade paia todo 0 pais ¢ que, muitas vezes, s6 servia para compre- ender a realidade de Sao Paulo ou do anti ito Federal. Alguns estudos realizados em locais que hoje so mais fortes econdmica ¢ po- liticamente generalizavam sas conclusdes para a realidade do pais to- do, desconsiderando as especificidades de cada lugar. “Outro problema comum, € que nos tiltimos anos tem mudado, ¢ ‘0 das pesquiisas que consideravam estados ou cidades importantes na atwalidade como igualmente importantes no passado. Generalizava-se para o pals o que era especifico de uma parte dele. Hoje, gragas aos estudos localizados ¢ em profundidade, sabe-se que o movimento da 36 ~ gado's campo da * pesquisa bédica, que fornega inforniagé “Terrt6rio plural Escola Nova, por exemplo, assumiu contornos muito diferentes em estades como Minas Gerais, Pernambuco ¢’Rio Grande do Nox Sabe-se tarnbém que Maranhio, Pard ¢ Pernambuco tiveram,. illo XEX, uin papel fandainental na edi¢i6 de livros e, ances disso; na | Kirculacio e apropriacio ‘de objetos de'leitura que vinham da Europa ~ iferentemente de hoje; quando of centio’ dé pisdticad'e circula- ‘$l sio outros: Se; por um lado, as novaé tendéncias isioriogrficas tém fe rid ded utago, "por ourro elas vewzeti dexafios paizos.que néle aruain, ina medida érn-qiie se trata de tint cainipo bas- fante recente e ainda frégil: E'o risco que se ocorre em qualquer dtea do Zonhecimento cuja tradigdo de pesquisas ¢ recénte‘e marcada por- vicios: agora que nos afastamos de alguns quadros conceituais qué chgessivam nosso olhar, GOrsemos o isco ile realizar pesquisas pouco élevaintes € pouco rigorosas. As investigagées mais recentes no cam- porda histéria-da'ediicagic;; bemi‘como na propria histdrki: caractei zam¢se pela extrema especializagdo: Ha estudos refinados e.consis” tentes do porito de vista tebrico-metodoléigico; mas pouco titeis para compreender realidades.sociais mais implas: ‘Esses estudos' localiza dos téin’a Vantagem do apiofundamento, mias trazém também um isco: o objeto se tora tad recortado'€ especifico qui se nada. Isso'acontece pordiue, io explica quia jtas'veres, eles io conitam com una Hiodo oui do objeto em questao. Assi “vazié”, que nao se bastiam numa cultura histérica, num conheci- ‘mento cumulativo, construido a partir de estudos anteriores qué sus- tentém a abordagem daquele objeto. E, ento,-o que poderia signifi- - car aprofiindamento rediinda em superficialidade. De certa forma, as pesquisas mais recentes abandonam a ideti de tum contexto tinico, que poss basear as explicagées sobre qualquet objeto. © que se coloca com mais freqiténcia é que a base da hi E estabelecer relagies e associagées; sempre que possivel: O-pesquisa- dor, entio, deve saber uscir as informagies que aparecem (e aparecem porque cle faz. as perguntas) nas diversas fontes com as quais trabalha. 37 Ana Mana ge Unverra Galvao @ Enane maria lerxera Lopes: ‘Quanto mais ele for capaz de associar essas informagées com estudos jd realizados sobre o tema, as teorias estudadas e outros documentos que no faziam parte do seu corpus original, mais, condig6es ele tem. de legitimiag, coi rigor, o.conhecimento que construiue aproximar-se | da verdade~ sempre incompleta. Entio, para compreender a educa | ou eel ea Yee, mages eG lanai Geli j&'se sabe sobre fatos politicos ¢ econémicos que marcaram iuma épo- ca. No entanto, essas informagées sé ganham sentido se forem neces~ Sérias 4 Compteensao do objeto ein questo, € ndo/apenas porque é preciso coittextualizar o fenémeno educativo. O préprio objeto éstu- dado vai mostrar que sé pode ser compreendido quando posto cm. relagio com outros objetos, aspectose fendmenos da época. - 10. grande “desafio para compreender % da educagio ileitadiz'respeito ads perfodos investigados:-Os piimicités'traba- Ihos abérdavam, panofamicamente 4 eduicagao em todos. os momen" , tealizando aya sintesés. Jé 0 periodo se reuinido em foruns especificos.de discussie ¢ publicado coletéc reas sobre o periodo. Bate interessetalvez se = juin pelo desafio de 1 Alguns facores los hoje sobre igfveis para amadores e pesquisadores de cira viagem. Segundo, o proprio fenémeno educativo nesse pe- ido € menos visivel, na medida em que o Brasil colo ial se caracterizou pela quasc auséncia d iativas oficiais ¢ for- em educagio. Por fim, talver. por ser um periodo mais remoto, faste os historiadores da educagio preocupados em fornecer sub- sidios para compreender o presete. O fato é que ainda conhecemos 38 « que’ periodizarao'nio € uin sim Terrtério plural ) Pouco sobré a realidad educacional brasileira dos séculos XVI, XVII | € XVIII. Pouco também sabemos, do’porito de vista da eduicacio, 0 _ que essé encontzo com o outré, que ocorre no momento da chegada as noyas térras ¢ nia colonizagio do Brasik, provocoli.nd portugiies, no. halandés, no francés também no indio,:fio african feito escravo, 16 judeu; no frabe.... Se nos reporratitios.ao perfado-antérior & chega’~ da dos portugueses a0:Brasil,.o mistério é ainda maior: a arqueslogia .é-unia cighicia poucd intinia dos istoriadores, sobretuido dos histo- adores da éduicagéo. Ficam a3 pergiintas.,. 7 iodizagao deve ter‘setis tnarco’ na Logica 6 préprio objeto, Tomar emprestados os marcos politicos ou eco- ‘némicos de uma suposta hist6ria gefal’nein seimpre funciona para ex- plicar 08 fenémenos educativos Dependéndo do objeto que sé est Pesquisando, 0 inicio da Repablica ou a passagem do modelo agroex- portaddr para o urbano-ind ‘vestigacao.:Além. disio, os podem nao Ser marcos riadotes da educagae veri’ fecorte temporal, como por mui-, [:to:xémpo se acteditou. Afinal,’a definicio de um periods para-éstudo faz. parte da configuragao do préprio objeto. Por exetaplo: € impossi-~ yelestudar 0 processo de feminizacio do magistério clegendo os anos 70 do século XX como recorte, pois esse-fendmeno ocorreu pelo me- ‘nos cem anos antes. E preciso que o perfodo éscol tivo daquilo que se esti estudando — e-essé daido:nem sempre vira do ‘campo da educagéo, Nem scinpre o pesquisador sabe de antemao qual periodo € mais interessante para estudar um fendmeno especifico. Er muitos casos, 0 perfodo escolhido auxilia a'definir 0 préprio objeto. Os estudos ja realizados sobre o tema podem ai S40 que, prudentemente, o pesquisador clege como provi balho didrio com as font sera sua periodizagio. Esta, = Arenovagio nos | tia da educagio no S8OOSSOosed ‘Ana Maria de Oliveira Galvao @ Eliane Marta Teixeira Lopos manuuais ¢ livros didéticos usad sores. A maior parte dessas es, principalmente aquelas que dizem respeito & chamada histéria geral da educagio, foram escritas ‘hd quatenta, cinquenta anos. Blas indo's¢ basciaiy no trabalho-de pa uisa em arquivos ¢ focalizatn, sobrerido; a histbria dos sistemas de ensino cdo idedrio pedagégico, a reboqiie de iitia histéria mais géral: “Trazém /quase'sem excegbes, capttulos dedicados'd educasi6 na Anti- ‘guidade (Grécia e Roma), Idade Média, Renascimento, Idade Moder- na’e Idade Contemporinea. Sao obras quie, embora digam abordar ‘educagio mundial; restringem’s¢ a alguns patses da Europa, excluin= do 0 que nao parece homogéneo..Basciam-se num tempo linear, que possui.um inicio (inventado) ¢ cainintia progressivamente para um futuro. (projetado) que ieferendla suas premissas. Recenterienté, tm, sido publicadas alguinas obras fais thovadoras, ina’'ajiida Sho ais as tradugbés para 0. portugués. “1g Wa histOria ‘da: edueagae: ho-Brasil, também ‘constarimos pouicas \ inovag6es. Muitos manuais nfo passam de compilagées apressadas de’ ‘ouiias obras e ttazémi poucos resuileados' de pésquisa.. Como no caso 1208 de histéria getal; a produgio inais tradicional tem como fio nduror dos capitiilos as transformagbes ocorridas ios sistemas de [‘ensito e as obras dos grandes educadores. Cai-se, novamente, numa histéria filosdfica, As obras mais recentes, produizidas entre as décadas de 70 € 80, trazem_a marca dé marxismo estruturalista. Elas fornecém’ importantes explicagées acerca’ da educagao er cada perfodo da histé- tia brasileira, relacionanilo-a coin os contextos sucessivos de uma st- posta histéria geral Contudo, pouco dizem sobre outros aspectos que auxiliam a compreender a educagao no passado, como-a cultura ¢ 0 iano da escola, o lugar das mulheres, dos negros € dos indios ete. Assim, pode-se constatar que a produgio cientifica na 4rea nado tem se refletido na produgio de livros didéticos. Varios fatores dam a explicar esse descompasso. Primeiro, as pesquisas em histéria | da eduicagao tém priorizado temas pontuais, localizados, passiveis de | aprofandamento. Estudos panorimicos, mais apropriados 20s ma nuais, tém sido escassos. Em segundo lugar, o ensino da histéria da 40 nos cursos de formagio de profes- ~"eos'e publicagdes da rea! Com isso; pouico se conhece das experién-. Teritério plural educacao, principalmente nos cursos de formagio de professores, tal- ‘vez por ser 0 campo menos “nobre” de atividade dos historiadores da: educacio, néo tém-sido.devidamente discutido em féruns acadéini-») Gias dos professores em sala de ailla: E:provavel tambéin que; em miultas instituigées, haja uma dissociagao entre os qué pesquisarn ¢ os ‘que dio aula na graduagao ém Pedagogia. Isso sem falar has insticul~ Bes onde nda se fe pesquisa e nas de ensino médio, ondé'6 debate 7 acadeinies Gis nto chega, Além disso, torna-se um verdadeiro dilema para os novos historia. ddores da educacéo sclecionar, dentre’0s siuitos éstudos produzidos, aquilo que pode ser importante pard'o professor que est4 se formando € que nao gerd um historiador da educagao. Esse diléma diz. respeito Fiadorés acreditam, que, embota a hisiéria parra das quiest6es postas pelo presente e até-auxjlie em sua compreensio, ela nfo rem 0 papel dé apontat solugses para os problemas contemporineos, tampouc de projerar o furaro. Como afirmoi: Licien Febvre (1977), a tinic: ligao que a hist6ria.oferece € 4 de ino oferecer ligéo nenhiuma. Com fer; entio, dentro do espirito de normatividade que caracteriza 10s cursos dé formacao de professorés? Poderfarrios questionar os pro- {gramas de ensitio de histéria da educagao: ao assumit a rarefa de en- sinar aos alunos coino foi a educagio “dos gregos aos nossos di “de 1500 3 atualidade”, cles inviabilizam a produgio de manuais que fornesam explicagées mais complexas sobre'as ages edhicativas nos diversos periodos, incorporando as informagées das pesqitisas mais recentes. Finalmente, é pfeciso considerar que as editoras p: as sinteses em detrimento das obias com resultados de pesquisas ~ di a préferencia por compilagies de segunda mio. Uma alternativa tem sido produzir coletineas com resultados de 4-— investigacées e usé-las nos cursos de formagio de professores. Essas at Ana Maria de Oliveira Gaivao e Eliane Marta Teixeira Lopes publicagGes, no entanto, tm como principal limite o fato de serem de reflexes solivirias, fragmentadas, de cada um dos autores de Por isso, raramente essas obras trazem reflexées — tematicas, conéeituais. ou sobre:0 periodo abordado™'acerca daquilo “ que tine 05 dliversos textos nelas reunidos. Publi * ranjo‘iia Europa quanto no Brasil, tchdein a pr ‘yas: obraé de apenas tim. ‘assiin, elas sio boas alternativas para o trabalho em’sala de aula. feu \ eagio dom outras’& « contribitin para’ que as criangas ¢ 0s jovens, Historias da educagao: news, objetos ‘Acualmente, pode-se falar dé forma mais’ i apropriads em histbrias da echucasao. pois as investigagbes quie vem sendo realizadis no cam- objetos tradi isciplis is da historia da édu- uray as mullheies etc. tambéin se rorhassem dla disciplina: Historia do.ensino:: Um dos dominios mais tradicionais da histéria da elivoai éa histéria do ensino. Esse campo de éstudos tambéin tem incérporado, cde maneira significativa, as reflexes realizadas dentro-das tendéncias historiogréficas coriterhporineas: Com isso,'4 3¥ea acaba por ampliar suas fontés, langando novos olhares para os mesimos objetos ¢, em al- guns casos, para as mesmas fontes, De moda geral, considera-se limitado 0 ponto de vista que traga uma telagio-direta entre a escola e os aspectos écondmicos ¢ politicos da época. Influericiados pelo pensamenio de tfadi¢ao marxista, so- bretude, nos anos'70 e 80, muitos pesquisadores realizavam uma his- t6ria da escola de cunho eminentemente politico ¢ institucional, limite, é como se estudar 0 contexto de cada sociedade nos dispensas- se de investigar as priticas escolares em si: aéreditaiva-se qué, 20.0" nhecer 0 contexto, automaticamente se conheceria a escola. Esse pro- cedimento trazia como press 43 ‘Ana Maria de Olveira Galvao ¢ Ellane Marta Teixeira Lopes e escolar, que simplesmente cumpriria o papel de reforgar as desigual- : dades sociais. Essas andlises, muitas vezes, vinham marcadas por um Ono. catéter ideolbgico,e militante. & ‘Nhistéria'do.ensino ride fais s¢.resttinge'a historia das institiii- ‘ses, escglares, do pensathento pedagégico ¢ ‘dos movimentos educa- ies cotidianas,, por exemplo.-Os historiadores da cada vez, “shale peicebem que para entender‘ ‘0s processos de ensino nas diferen- “tee épocas, nao basta investigar como-a Siganizagao da escola se trans: o do tempo. Por isso, no é suficiente esrudat leis, re- -gulameintos, progtamas, Gu 9.que pensav. punham_ cedlucadores ilustres. Tampouico basta escrever uma histSria tlos pro- os — oi seja, mina hisidria de. que dveria Re dé: preciso, cin J deensine, os maverals didaticos cilizados, ax rlagbes profesor alu. \{no,ealune-alurio, os conyedides « sinador, os stemas de avaliagio ¢_ : ‘de punigio... Redentémiente’ esse Fendimcinos thi sido analisidos 3 lad do gone ceito'de cultura escolar (Julia; 2001): Muiras dessas pesquisas mos- tram qi a pritica escolar € aquilo que merios softe mudangas na historta da edhicagio. Apesar das teformas propostas; dos pensamei- tos inovadores ¢ das feigeé especificas que assume em cada sociedade | ¢€0cs, a pritica escolar materializ alguns papéis que hd muicotém I sido previstos para sua ago e que ainda hoje persistem com forca em seu funcionamento diirio. ‘Pesquisas recentes também consideram, questbes Como a insergo das meninas e mulheres rios sistemas de ensi (como aluas € pro- fessoras), a coeducacio, a educagio rural, a educagéo dos indigenas ¢ dos quilombolas, e a formagao de professores. Outta preocupaca0 co- mum é de ver de que forma se deu a progressiva afirmiagso da esco- Ja no interior das diferentes sociedades como espago p) & transmissio do conhecimento. Todas essas abordagen & das pelos avangos e pelos novos 4 eS ~ciologia e pela antropologia. 1tos propostos pela so- 4a Gioinais. Recenzemenite, tem crescido o intetesse plas priticas escola-”* 220 éstindo das disci Torrit6rio plural Os historiadores da ecuucagio tém investigado a progressiva trans- formagio da escola em espago nuclear de transmissio do saber tas diferentes sociedades, ou nas distintas regides de um pafs..Nesse con- exto, cabe investigar como foi implementada a réde formal de esco” isc de que manecira essa rede se ampliou e se diversificou; bem como verificar-o ciescimento da taxa de escolarizacio..Além disso, convém pesqtisar as Consequénicias desse procésso: a necéssidade de forniit e rofissionalizar os professores, elaborat livros e matetiais didatiéos, constiuir espagos especificos para a acdo escolar etc. Nessas investiga ‘estatisticas, fonte fundamental para mais que frequentavam a escola ea ‘etnia etc. Afinal, quem tina acesso 4 escola e quém a'frequentava numa certa ‘época e sociédade? No aso, brasileiro, essa ‘questo € de~ licada: para entender a oferta de instiugio escolatizada anterior a0. sécilo XX, €nevéssirio fazer um laborioso ésforgs de pesquisa sobre a realidade'de cada pr ag e dos sabéres-escolares tem sido funda~ commpreender o papel dos contéxtos cultufais na defi- niigio daquilo que deve ser ensinado na escola e, em contrapartid o-papel da escola a6 produzir e reelaborar o conhecimento, pri imeneal p: “ palmente pelos processos de didatizagio. Esses estudos so comu- mente realizados por pesquisadores especializados na teoria do cur- riéulo ou por professores que, instigados por questées da prética escolar contemporaned, se in fessam ém conhecer 0 passado dos saberes com. que lidam no cotidiano. A histéria das-disciplinas dos saberes escolares, a0 abordar os contetidos do ensino, os pro- gramas, as provas, os manuais ¢ os exercicios escolares, contribui para conhecer melhor 0 que ocorria dentro da escola, relativizando as abordagens macrossociolégicas. Por sua vez, 0§ estudos sobre 45 ‘Ana Maria de Oliveira Galvdo e Eliane Marta Tella Lopes. Histéria dos intelectuais e do Pensamento pedagégico ster tid ead inuelectuals« ds pensuriensd pod ‘g6gico € também realizada com base em hovas abordagens ¢ novas fontes. Os pesquisadores contemporineos tendem a nia mais homo-.. sgeneizar as correntes de pensamento, Eles deixatam de ientat recons- truir uma trajet6ria linear e evolutiva das granides tendéneias pedagé- gicas qu teriam marcado a histéria da educagio.:Interéssain-se, por cexeinplo, pela’ disputas travailas eritre'os ‘diversoé representantes de ‘um movimento para fazer as ideias de-alguns derem mais legitirnadas que as de outros. Investigam percutsos de formagio e'a influéncia das ideias'de autores estrangeiros na configuiatio ¢ veiculacdo de de- termitiada pensamento pedagégico no Brasil. Ptcocupam-se rainbém em destacar as especificidades de-cada movimento nos diversos esta- 3s © estudam as ideias de intélecruais pouco, evidenciadas raf sradicional, coimo imulhetes, protestante esegiok. nogées de “intelectual” e “intelectual da-educagao’ cém sido probl¢matizadas. Sabeinos quéko século XIX, por exemplo, nao havia uma distingi6 nitida entre os campos do conhecimento; / homens puiblicos opinavain’ sobre assuntos diversos ~ incliindo.a = eduicagao. Nesse sentido, ganham relevo h ‘em nao apepiS as ideias pedagdpicas desses si _protessos de formas |__gens foimativas, o papel da imprensa e de outros veiculos, as estraté- gias de legitimasao etc. Com base em tiovas abordagens historiogrificas, a b dos |, intélectuais'e do pensamento pedagégico usa fontes pouco explori- ‘das até recentemente. Além dos livros desses pensadores, sio objeto ‘de estudo as correspondéncias, os artigos publicados na imprensa, os discursos, as autobiografias e as bibliotecas pessoais. Nesse iltimo ca- isiam-se 0s livros do acervo e, quando possivel, as marcas de Jeivura deixadas. Mesmo nos trabalhos que tomam as obras dos inte- lectuais como principal fonte de pesquisa, muitos pesquisadores no 46 “ tada'com’o “Territorio plural im 2'analisar os contetidos exprestos e tentam comprechder \seus processos de producéo e circulagao. Histéria. da. alfabetizagao, do livro e da leitura’ | © Hoje, a historia da educagao esta estreitamente relacionada a tum | rico Campo-de pesquisas no interiot da hist6ria ciltiral: a historia da Alfabetizagio, do Jivro ¢ da leitura. Jé no final dos.anos 60, alguimas Sram tcalizadas'ta Europa com’ objetivo de identificaé'a listribuicéo rérritorial da alfabetizacso em alguns pafses."Mas'como ‘saber quiem cra alfabétizade numa época etn que no existiam estatfs- tiéas? Esses estuidos macrogeépicos tomavam como principal fonte is, “assinanatas existentes eth testamenitos, atos de batismo'e régisiros de matriménio. A aptidao do individuo para assina ef, ehtd6, confron- “Tais estudos revelaram também que, em virios casos, 0 doftiinio da leicura no era acompinhado.de um dominio da escrica: muieas pessoas sabiam let, embota nfo soubessem éscrever, ¢ vice-versa. Ou- tra condusa portante foi que'a genetalizacao da leitura parece ter _ sido anterior & da escrita ~ Aos.poucos, studos desse tipo foram cedendo cspaco para pes quisas qualitativas, preocupadas em reconstituir os processos de aqui- siglo eas priticas de leitura ¢ escrita. Em geral, essés trabalhos refe- rem-se a éspagos mais itados giupos relativamente pequens. je ser a fonte privilegiads, cedendo lugar a auto- judicidtios e, mais recenteniente, depoimentos orais. 1o¢0 de alfabetizacao tem sido considerada do ponto de a IO8O090 e @ & @ 8 Oat ‘Ana Maiia de Olveira Galvao e Eliane Maria Teieira Lopes uusos da leitura e da escrita que efetivamente séo feitos por in- ressa, nesses trabalhos, a compreensio his- .conio elisse sécial, oeupaca6; higar de habitagio (urbano ou rural), género e etnia. Esses estidos tém contri- bufdo para mostrar como so complexas as relages ~ nem sempre diretas e iecinitas ~ entie os niveis de escolarizasio e a capacidadé de ler escrever. Assim, cabe pergimtar: qual é o papel da escol na transmissio das Comperénclas de leitira € escrita? Como ea tains: missio se deu ao longo dos. séculos? Como as pessoas.sem acesso & escola ou com escolarizagio restrita participavain de contextos cultu: ‘rais jd marcados pela preseriga da escrita? Fontes variadas, como in- ventirios, Correspondéncias ¢ mianuais escolares, podem ajuidar a res- ponder a essai a Outras questo, do livro-é, cronologicariiente, antes quanto a: primeira descréve quantitativamente 68 objetos: mais.li- dos'€ 0s leitores-de uma determinada época, a histéria da ‘situra’ a hist6ria da leitura, En~ fe ‘expressio de Robert Darnton (1990), os dos nessa linha ura. Para isso, 08 iomeéntos ‘do téin enfocado,os és possivel 0 ato de'le materiais de leieuia, pA produgio dos niateriais ¢ um dos donifnios mais estudados. A compreensio do lugar ocupado pelo escrito nas diferentes sociedades tem se enriquecido’com as pesquisas sobre o papel dos editorcs, revi- ‘ipégrafds, ilustradotes ¢ tradutore3 na preparacio ipresso. Discutein-se também as legislagdes de direito auroral, os 8 de edigio € 0 mecenato. A6 contrario dos estudos tradicio- nais, a8 pesquisas mais recentes investigam nao apenas objetos de lei- tura consagrados pela tradi¢ao ertidita, mas outros tipos de @critos: literatura popular (almanaques ¢ folhetos de corded); bi drinhos, romances policiais, folhetins, revistas, literatura pornogrdfi- 10 que torna rodusio, a circtlagio ¢ a apropriagio dos 48 3s ¢ fungoes daescrita-e das relages- Tenttério plural ca, materiais religiosos (biblias, livros de prece ¢ santinhos), boletins, jornais, panfletos, novelas seriadas, livros infantis ex e-.No campo da educagio, cresce 0 inteiésse dos historiadores pela | $30 do escrito, come livrarias, bi , informais c de cspagos pouco’conven: rodugao de livros_escolares é patadidaticos, de colecées.dirigidas a~ professores, de imprensa pedagdgica etc. No caso-brasileiro, ha estu- dos que.descrevem a Fangio desses impiessos, a9 lado de outios ma: Sil; sabe-sé que 6 manuscrito,désempérihou papel essen. do de matieira profurida o desenvolviméiite da eile escrita: im disponi zados para és porcnciais Igirores ein diferentes sociedades ¢ & (Os principais agentes que amuari nesse momento, do circuit autores, os editorés eos livréiros, que étiaa'e poem eth’ pi tégias de divulgasio do escrito» Adquiren importincia ésttidos que ‘eximinatn 9 papel de instituigdes es; icnté destinadas a circula- iocecas escolares e gabi: ana destaque o estudo de mei netes de leitura. Do mesmo modo, empréstimos pessoais, afixagio de ol das pesquisas sobre a interdi¢io ou a restrigao da P¥essos, por meio de censores. Tais estudos analisado como cussio nos diferen: Escola Nova. No caso bi tenso debate, provocado pel »» observa-se nos ank cducadores escol 49 ‘Ana Maria de Oliveira Galvao e Eliane Marta Teixeira Lopes em artigos ¢ livros, em torno dos usos escolares e outras apropriagbes do livro e da leitura. As'concepsées pedagégicas desses autores resul- taram em diversas ages: reformulacso de programas de ensino,eria- ‘o'e renovagio de'bibliotecas escolares;' constriagao dé amibientes. préprios para a leitura; formulagio de regras'notinarivas para'a boa icavao.das posturaseoxporas corres para pesquisa € captar as manciras singulares de ler; em outros, afinalidade | écomprecnder os modos de ler de grupos especificos-de lexores (m= | Iheres; intelecn iangas, rabalhadorés etc:). Outra abordagem. ‘comum € reco hist6tia da formagao de léitores, em geral in= \ telectuais oti personalidades como politicos, médicos, advegidos € | professoies, Esse tipo-de investigacao costuma ser realizado’ pelo es- nido de bibliotéeas paiticillares, do lévantamento das leituras que os sujeitos faziain ¢ das anotagées que deixavaim nos livros: Tais métodos pOehi citi evidencia a teajersria’pessoal & profissional dos leitores, “cidando aipectos importantes de sua formacio.. Os éatdlogos de bi- bliotecas puiblicas também tém ajudado a reconstruir 6 piiblico leitor de certos géneros licerdrios em determinadas épocas. Alguns histo- tiadores da educagio examinant a participagio de homens ¢ mulheres no mundo da escrita © 6s modos implicitos ou explicitos de formacao dos Iéitores. Essas abordagens consideram nao apenas formas institu- || cionalizadas de éscolarizag4o, mas processos alternativos, come a ins- || trugéo familiar ¢ as autodidaxias. | 2 Os modos de ler si também considerados objeto de investigacio: | 10 de forma silenciosa ou em voz alta, solitariamente ou em grupo. nsiva Ou extensivamente condi | a apropriacao dos materiais de {a oralidade, como € 0 oatodeler na, em grande parte, lades marcadas pe- fOFes, COMO OS eres, as res, onde eram e s40 co- 50 Territério plural | Tao importante quanto estudar os leitores ¢ os’ modos de ler, ara reconstruir as apropriagGes da leiturd, & investigar os diversos usos da leinura nia difeterites s6ciedsides eépocis: Emi que contexts € Com que firtigbes (religiosa, infortnativa, politica, formativa, admi- | nistrativa, juridica, profissional, de liver) 2 leivuéa'e a escrita, eran ‘cia mftico-religiosa; as institiiigoés ¢ priticas educativas ¢.0 exercicio do poder politics tornam diversos.ou semelhantes as-usos da Ieitura eda ¢scrita? : ‘Uma das manciras que o pesijuisador tem’ de'se aproxi leitor ¢ da leinura nas sogiedades paséadas & investigar’os objetos de tura emi sua materialidade: 0 texto de um lado, '¢.0 impresso dé ou- Fésa distingao entre texto & impresso (Chartier, 1990), feita pelos totiadores da Jeitura, bastiasé no pressuposte de qué um textomut-” , | da quando mudam és suportes que lhe dio materialidade. Um tex to nda € 0 mesmo quando circula em substratos materiais diferentes, Capa. contracapa, disposigao do texto:na pagina, :Presénga ou ausén- cia-de certos caractéres'grificos etc:'sio’ elementos importantes de andlise. No siiesmio'sentido, pésquisas que.investigam as diferentes edigdes de uma mesma obra — observando as permanéncias e traris- formagoes — também ajudam a reconstituir o puiblico leitox ¢ os mo- dos de ler. Outra possibilidade € investigar as representag6es sobré leitores e leigtiTas mais frequentes nos digcursos produzidos em cada época ¢ séciedade. Nesse aspecto, tém sido utilizadas fontes como do-” cuimentos legais, textos literérios, pinturas e Fotografias. jp Nii esforgo de sintese, niuitos eseudos de histéria da leiura cei shfocado'a produsao,s circalagdo © aapropriagio dos materiais para eluzidar alguns momentos decisivos da histéria do mundo éciden- tal, que provocaram verdadeiras revolugées nas formas de ler. Desta- ‘cam-se, nesse sentido, a invengio da imprensa, a passagem da leitura ‘extensiva para a inténsiva, a expansio da escolarizacao, a organizacio dos sistemas de ensino para as priticas de leitura e, mais recenitemen- te, a5 repercussées provocadas pelos meios eletrOnicos nas formas de ler e na rélagio das pessoas com 0 escrito. Mesmo com todo esse em- ‘ 81 ‘Ana Maria de Olveira Galvdo e Eliane Marta Teixeira Lopes peo, os leitores, as maneiras de ler’e os processos de apropri Ieitura permanecem em grande medida desconhecides, fugidios, im- jponidétiveis. Mas poderiamos nos perguntar: nao € isso que frequen | feménte ocorre quando fazemos hiséria? Histeria das criangas e dos jovens Construir as histérias da educasio de outros tempos e dociedades & quase sempre, falar sobre criangas e jovens. A hisibria da infancia e em obras literdirias, em arquivos de hospitais, iio discutso’ médico ¢ até em baixos-rclevos ¢ ésculturas que ornamentavam monumentos funérérios: Objetss do cotidiano e'vestigios da asao'de méninds e meiiinas ~ brinquedos, roupas, corres; gos'e brincadeiras ~ tanibém cém ai {6s historiadorés @ com- preender como cra a vida das criancas em outtras épocas. Comfio ocor- re ém outios campos da pesquisa histdrica, os estudos-de histéria da infaricia também recorrem 20 cruzainento de diferentes fontes, na:me- lida’ em que cada tima era‘uma interpretagio particular para 0'mes- mo fendmeno: lencias e registros sobse jo- “Mas outro ponto de vista precisa ser Eonsiderado: a austricia- de _sragos deixados pelas criangas deve ser tribucada A representagao que cada sociedade far'delas. Na medida em’ que as considera:sujeitos € quEé-unia sociedad levard em. conta e’préservard stud producio, seus“) documentos: As agendas 6s dirios, aé redagées sa fontes que dever’s\, ser situadas @-corejadas 4 outraés enteetanto; nao se pode dizer que‘os objetos ou 0s sujeitos da pesquisa esto: mudos. O que acontece mui- tis vezes nio é quie a crianga soja um objeto de pesquisa mudo~ a sociedade que a’cerca'é-que € Surda. Os histotiadores dade desse objeto: jam com outro problema inerente'a espetifici- ia de crianga'tem rmidado 20 longo do tempo. iplésmente uma fase bioldgica, mas uma consteu- sao hist6rica e culuiral ~ 8, portanto, Assim, 0 olhar que cémos hoje sobre a infiricia é diverso daquele que os gregos ou a sociedade colonial brasileira tinham. Um dos anacronismos que de- vemos evitar é julgar 0 modo como era pensada ivica e ju C lar uma supos 4 priori; desse modo, o historiador s6 reencontrat © seu préprio tempo coloca como verdade. 85 ‘Ana Maria de Oliveira Galvdo e Eliane Marta Tebxsira Lopes Uma das maneiras de estudar as fronteiras existentes entre a infin- cia, a juventude ea vida adulta€ econstituir os rtos de passagem das \fais a primeira comunhio, 0.casamento; 0 servigo “Mésing siti, as dificildades éontinuam: quanto mais on « ginquo for o petiodo € qu mais distante espacial e culturalmente’ for a sociedade. que se pesquisa, mais os vestigios parccem fuigidios. Falemos, entdo, de um dom{nio airida mais recente: a histéria dos jovens: Diversas pesquisas sobre a juventude forana feitas nas décadas de 70 €'80; inas dreas de antropologia, psicologia, sociologia € deino- grafia. Porém, s6 mais recentemente o tema tem sido abordado ‘numa perspéctiva histérico-cultural. Poderfamos cogitar que basta estenider 4 amplitude das numerosas pesquisas sobre a infancia & fase posterior da vida: a juiventude. No.cntanto, a histéria dos jovens tem sina es- pecificidade, pole wiad uinia’s¥ii€ de dificuldades qiie nao coincide coni'aquelas enfrentadas-pelos historiadores da infincia. ‘© maioi problema esti no proprio fiundamento é na piépria iazto de ser do objetor afinal, © que'é juventude? Nao existe uina resposta inicapara a.questio. Tal como-a infincia ¢-as outras fases da vida, a juventude néoé uin coriceito puramente biolégice: trata-se de uina construigio, histérica, social ¢ calkural ~ e, portanto, variével. O que os historiadores.dos jovens tém afirmado ¢ que essa fase da vida se: define muito mais por seu cariter de transigao do que por iuma supos- ta estabilidade e fixidez. Ser jovem é, sobretude, estar situado entre duas margens (também instéveis, condicionadas pela sociedade e pela época): de um lado; a crianga dependente; de outro, 0 adulto auténo- mo. Em geral; esses limites si6 marcados por ritos de-safda‘e de entra- da, por valores sitnbélicos que definem quais papéis sociais os jovens cesses papdis no versus auronomia) sao definiidos pelos mesmos critérios (dependé da vida: eles variam em relagao a sexualidade, a vida civica, 4 atividade econdmica ede acordo com .a'classe social, 0 géncro.¢ a etnia. A juventude igo é a mesma para homens ¢ mulhe- res, para negros, ncos ¢ indios, para individuos pertencentés as camadas populares, as classes médias ¢ as elites econdmicas de cada ~ 56 a Tonttsrio plural sociedade. Por isso, nao se pode falar numa historia da juventude (no singular), ras em hist6ria de juventudes, de jovens. Vale lembrar tam- bérh que essa fase da vida, assim como as outras, é uma.condigzo Provis6ria: of sujetos atravessamn a javentude’de manera telativa: meniefugaa. “Para dar respostiis as otblemsii tid, gankam importancia nos:éstudos tenias como ritos de-passagemi, Saeramenitos-€ conyer- “ s@es;assbciag6cs.c movimentés de jovens, viagens dé formacao; fes- ‘tas (de cardter religioso, qu profano) e processos de educagio'e esco- larizagao. A delinquéncia, a violéncia, a revolta ¢ as mudangas sociais ¢ politicas, em géral associadas a éésa fase da vida, também tém sido esquisadas, Historia das mulheres’ ” Nos anos 60 € 70 tomo forma, nie Biasil, © que én outtos paises jéera.chamado de movimento feminista. Esse movimento tinha por objetivo fundamental a conquista’da igialdade de ‘imenis c: mulheres, eifi toils Os aspéctos da vida (trabalho, fainilia, religido, educigao etc.). For uma luta qué se fez de muitas formas. As mulheres foram para'as.ruas'e provtestaram: contra as tradiciénais — e; muitas vezes, dissimuladas ~ formas.de opressao. Elag entraram em campos profissionais até eatio reservados aos homens, como a eh genhiaria,'a medicina ¢ o direito. Fizerain literatura, publicaram seus didrios intimos, tornaram-se produtoras ¢ diretoras de teatro ¢ ci ‘ma. Aquilo que havia um século era proibido As mulheres por k dircito 20 préprio corpo ¢ 0 préprio desting — fi o ao ailean- ce de todas, Esse movimento social repercutiu nas pesduisas académicas, so- bretudo no campo das cigncias sociais e humanas. A histéria nao fi- 1. Este trecho contou com a colaboragao de Maria Madalena Assungio, mestre © doutora em Educayio professora da Pontificia Universidade Catdlica de Minas Gerais, autora de Magisttio primario ecotidiano escolar (Autores Assaciados, 1996). 87 ‘Ana Maria de Oliveira Galvao ¢ Eliane Marta Teixoira Lopes cou a parte: o sexismo, imperante na historiografia de até meados do século XX, foi aos poucos sendo substinuido pela exigencia de fazer histéria levarido-em conta homens e.mulheres.-A histéria da educagio.- accitow €ésa constatagao € esse desafio;No entanto; sita tatefa foi (e €) _mais complicada. Nao bastaria integrar a hist6ria como um campo de saber sextado: eral precisa que educadore’, socidlogos, filésofes, psi- cOlogos ¢ professores da Aréa dé.educagio se dessem conta de qué co mundo € habirado ¢ partilhado por hoinens e mulheres, que nem sempre xecebem o.mesmo tratamento. a oe Sabeios hoje que a educagio, tal como,a histéria, é baseada io gfnero. Sempre houve (¢ hé) uma educacSo, para meninds¢ outra para rhentinas. E preciso que se diga isso’ em alts ¢ bom somi. Afinal, ‘quando se falava'ém educagio ow histéria da educagio, era sempre de meninos que se falava, jf que o masculino-éra tornado ‘universal. Pa- laya-sé em homens e todos devetiamos entender que as mulheres-af. cestayamn’compréendidas: Se a educagao faz parte de raundo dis i i (€ 8 tim avanco perceber ‘odie é feminino ¢ o-que é masculino, ‘No final dos anos 80, uma nova catege antropologia, instaurands uma ouera exigénci as éigncias sociais. A histéria ea educagao ndo poderiam ignori-la. (O género é uma categoria relacional que permite cstabelecer cons * eeug6és contrastantes tetido em vista a cultura, Na drea.da educacigs rsas obras recentes tomam 0 géricro como uuma categoria de-and- lise definidora dos papéis sexuais-a seremi dleseimpenhados por hoinens ce milheres na socie Da décida de 80 para ct, surgiram grupos de trabalho, progtama’ de pés-graduiagio, dissertagées ¢ teses qe-contemplam esse tema: Por tum lado, hé as pesquisas qué incluein a categoria género como fun- damental para a interpretagio; por outro, as investigagbes dedicadas A mulher ¢ As relagSes que cla estabelece no espaco das fibricas, das empresas, das fainilias e das escolas. Mas como a histéria da educacgio poderia abordar tais questées? Tomemos como exempl a associa- ‘sao qué'se Faz hoje entre a imagem da mulher ea ocupacio de profes- 58 vermone piurat sora. Tal associagao nos leva a esquecer que essa foi uma conquista ~ lenta e dificil — das mulheres no campo profissional: Outra refe- ~- Féncia para abordar historicamente as quiestes de género no-magis- -quando.o professor é mulher; € professora. Assim encontramos: __Curiosamenite, professor'ndo € aquele comi quein adolescentes se iniciam na vida semial, Mas’deixieimos eis questio de lado::: Na historia; ‘og homens sto: de Socrates, Plato, Atisté:ales, Quintiliano, Santo Agostinho = todos les mesties. Ainda nio cram. proféssores, que vieram depois, quan do foi preciso que uma douttina fosse proclamada, confessada, apre- , ensitiada em vor alii. Mas'inuitas vezes esquecemés que as heres sempre ensinarain a vida e a morte. Elas ensinain a andar a falar (a lingtia nao é mat pranteiam.os mortos da fa vestir, a comer. Encomendam e z e da cidade. Tudo isso as mulheres faziam antes que a’escola fosse um espaco ocupado quase integral- mente por.ck ga, a mulher se tornou juridicamerite livre e, por isso, em algum momento (século V1) sua situagio pareceu ser melhor. Entretanto, do ponto de vi iga, parte da residéncia que era reservada As mulhé ‘nome dado pelos biGlogos 20 érgio feminino das flores. 59 29 « tuigao'escolar con: ‘Ana Maria de Oliveira Galvio e Eliane Marta Teixeira Lopes: aig ou ama de leite, liberta ou escrava, o objeto de seus ensinamentos nao passou para a histéria. A mulher foi descrita apenas como prepa- radora do “homenzinhs” que deveria ter boas maneiras, civilidade pueril¢ correta, disciplina moral; tiido isso por meio de brinquedos e-~ ~ brincadeiras. Em Roma, a situacio da fnulhier como éiisinalite nao miudou mui- fo: Nao hd noticias de mulhéres que-lecionavam nas escolas-primd- rias;e imnito menos nas de ifvel-mais elevado. © Litterator, 0 prinius ‘imagister é 0 magister ludi literdrii eram cargos exercidos por homens, ~ agiter ¢ 0 magisie G05 por aqueles que ensinavam aé letras. A diferenga em religéo a Grécia fica ‘por. conta da educasio. familiar: em Roma, é a mulber-miac — ¢ nao, nidis, eScrava.ou a mulher Tiberta para esse fim — que se ‘ocupa da primeira éducagao, ‘da formiagio de boas manciras, do réspeito 4 pa tria e-ads ancestrais, Esses tiagos pertnanecem nas civilizagoes latinas; ‘mas com as mio tuines e culturas Na Idade Mi ‘o-declinio © © quase desaparccimento da insti- rama situagdo da mulher éiti lac a esses aspectos. A Igreja a0 contrale sobre'6 passadoe.o presente; ‘sobre as-escolas € 08 centros de produgio de conhecimento ¢ cultura. No entanto, o ressurgimento das.cidades como centros ativos de pro~, dugic econdmica recria a-escola. No éculo XII; a8 éidades se torna- ram. também centros de’inteinsa produgio cultural. A’cidade tem, entd6, 0 mercado ea escola. E a escola liga-s¢ ao mereado para formar um novo tipo de conhecimentoy um novo tipo de pensamento. Pes- quisas sobre 0 século XIV mostram que havia professoras ensinando nas.escolas de algumas cidades. ‘No entan ther ocup urante muito tempo foi s6 nos cohventos que a mu imamente © lugar daquela que ensina. Nesses lo- cais, 0 ensino se dava ~ ¢ possivelmente ainda se dé — de diferentes maneiras. Em alguns conventos, limitava-se a uma socialiagio para a propria ordem (ou congrega la em sociedade, para as 60 ‘Temitécio plural meninas bein nascidas; preparagio para o trabalho, para as rfis ¢ abandonadas. A partir do século XVI, quando 0 Concilio de Trento “estabeleceu novas regras dé condura ¢ de funcionamento pata 4 ins. ~Sltuigéds zeligiosas, enedo ein’ profunda decadéncia,’ os-Conventos se Feorganizaram e passaram a preparar também aquelas que se dedica- riam‘a’ensinat. Sio.os primériios das escolas normais, de-formacaa’ de professoras. E inesse miomento histétice que a éducagié se missio-¢ incorpoia todos. os atributos advindos do campo réligioso: -contrarreformista; salvacio; abnegagio; sactificio, humildade, fervor etc. Homens’c mulheres sto catequistas, professores'e professors, sobretudo de doutrina. ‘Seri preciso esperar até 9 século XIX — quando dcoivei’ yma fe minizasio do catolicismo = para ver ese ensino-cada vex tints regula- sizado. Poi-a ver dos-manuais,-elaborados pélas congtegag6es; mins: mitirem’as virtudes € as qualidades daquelis que vac ensinar: Eéses “manias educam ¢ prepatam inovas professora, fazenido-as & imagem ¢ semelbianga das qiie as ediicam—'as religiosas. ‘Acenonme importaticia' deisas congrégagoes para a éducagao bra- sileiga ainda no foi suficicntemente estudada: Quando a Igreja de- sidiu irradiar a doutiina catdlica pelo mindo;.as congregagées de ctisino ¢ seus colégios religiosos chegaram a0 Brasil: Vieram princi- - palmeite da Franga, da Espanha e da Iedlia, de meados do século XIX até a década de-30 do séculp XX. Traziam consigo os principios da f€ ceristd, a doutrina da Igréja e'os referidos manuais. Dedicavam-se a0 ‘ensino primério e & formagao de professoras. No havia muita dife- rerica entre os ptincipios desias congregagées, embora variassc 0 tipo + de clientela, Por isso, pode-se dizer que hé um tos religioso fundante ~ 1a formagio das primeiras professoras no Brasil foram exercer o oficio em escolas'puiblicas. + Esse etos teligioso se associon a aspectos da formagio da mulher ‘num pais escravagista, recém-satdo da situagio colonial. Uma vez as- soéiados, esses dois polos de formagao criaram, em diferentes regiées € situagbes; tipos distintos de professoras ¢ de préticas pedagégicas. “Todas diferentes, mas ainda assim semelhantes. O exerci “mo entre as que da profis- 6 sao ganhou também suas particularidades: ser professora é diferente de'ser professor. Mas nem s6.de professoras ¢’professores ensinando em escolas vivern a educagfo e a.sociedade. Ao longo dos tempos, as diferentes culturas vém educando — e doinando ~ as mulheres. Na maior parte dos-casés, 2 setvalidade foi o objeto preferido dessa domacie: tituig6es religiogas, ‘médicas, juridicas ¢ educativas produziram dis- eursos ¢ exérectam priticas que tinhain come principal fiialidade do- ‘mesticar a sexualidade feminina. A mulher cra considerada herdeira ‘de petados da carte & da cobica; monstio portador de suores tithides; lita sek. capi de louctiras e attocidadés quando nao regulado (io sén- tido biolégico e social). Por isso, ela deveria ser vigiada de pertos sua ‘sexualidade, seus anseios e-seus désejos deveriain ser convertidos a Jaina 96 ‘méta: a maternidade. A matcrnidadc, destino biolégi¢o do ser- mulher, passa‘a ser'dominio das culuras que di quais deve ser exercida, pelas préprias-rnulheres, ‘home's ¢ pelaé instituigoes. .. No’entanto, o-excésso de proibigdes, a niormativés a¢abaram por ger consideridos desviantes;-pe ao longo da histéria, senipre iam se adequar, € ser domadas. Com sua proclamada fragilidade, a mulher era capaz de ameagar a sociedade. ‘Nos processos das visitas do Santo Oficio ao Bi gistros sobre mulheres que amavam out ‘sodomia; que pretendiam curar com conh¢ linhagemi de ci as regras sob as também pelos id ¢ 08 discursos lab as épocas, comportamentgs heréticos. As Ides, dos model nao faltam re- wulheres ¢ praticavam a herdados de de jovens ‘que fugiram para se no se lembra de Romeu ¢ Julieta? Ou que foram 62 a para ordens religiosas, ou, ainda pior, encarceradas em prisées, asilos manicomiais ou conventos. No Brasil, muitas padeceram esses.c outros horrores, privados.ou.- puiblicos;.mas.mi uma mulher ocupar um’cargo no mundo politico, intelectual, social; financeiro, nossa divida & ceamente com aquelas que nos antcoede- fessando elas mesmas proféssoras; militantes de’ cansas poltticas miullicres nos mostiaram outros models.» leia de que-a edicaeao somenite pode ser compre~ endida em olstros tempos eéspagos quarido, pensada camibém como , lugar de constituigao de: homens © mulbises, ke a a 63 i 5 Fontes para:uma:histéria ea t : da educagao ee @ S pa Falainos de ensino, de livro.e de leitura, de criangas ¢ jovens, de ad mulheres... Tantis histérias contadas ¢ tantas ainda a con 8 . Com ja dissemos,’a histéria da educacé6.é uma daé maneiras 6° > : bye =de"abordar‘o presente tornando-o éstraho; para: que possamos, a. ‘compreendé-lo. Mas, ctita6, Sitio Sabet 6: que AcdnteEsi? Caine ~ a : ¥ teF acesso'ao qe s¢ passou? Como reconistifuir & reconstenir peda- at gos de histérias? 3 . O passaddo nunca sera plenamenie conhécido ¢'compreendide: No’ limite, podemos apenas enterider seus fragmenitos, suas incertezas. Por. * mail pac pS pesquisador tente se aptoximar de uina verdade sobre. paisado, apostando 6 rigor thetodoldgico; permanecem fluidos ¢ fu2 P gidios os pedagos da historia que se quer reconstruir. E, se aceitarhos 0 be fato'de que o passado ¢ imponderdvel, como ter acesso a ele? os : Certainente isso’ se dpor meio dos éragos que foram deixados, dos véstigios nao apagailos. Esses elementos nos dizem algo sobre, 4 vida de homens & mulheres das sociedades passadas. Discutimos éssas qUestSes nos capftulos antériores. Aquis falaremos com mais detalhe . sobre a matéria-prima basica do historiador, do que ele encontra dis- . pontvel e utiliza para fazer histéria: as fortes. A fonte € a necessiria ¢ indispensivel maéria-prima do hi dor, para que ele possa recon: 0 passado. Mas o que ¢ “font Nas Ifnguas com as quais lidamos mais comumente (portugués, inglés, frances, espanhole italiano), a palavra-fonte aparece basica® mente de duas maneiras. Em inglés e francés, source (a mesma grafia nas duas Iinguas, mas com prontincias dist e ) 8 em portugues 65 italiano, fonte; em espanhol, fuente. Vamos perisar na origem dessas palavras, para saber se nelas existe alguma pista que nos permita des- ‘cobrir seu significado — esse ¢ 0 valor da etimologia. Source origina-se . do tadical. reg que otiginou também palavras como dirigere, erigere © surgere. Surgere significa levantar-sc, surgir, élevar-se, aparecer, sair. Fonte ¢ firenté vm de fons-tis, qué tei tima origeiii religiosa? era’ o. termo usado pela igreja para falar da agua do batisino ou do lugar oinde se batiza — fonte ou nascente, isto &; égua que surge, a origem: (Cisit isso chegaiios ao mesmo poiite? tanto soxree como fonte ¢ fier. #e coitém uma dimensio de origem ¢ também de surgiinento, que s¢ relaciona a-umd ideia de espontancidade. ‘As palavras'sé6, na maioria, das vezes, reveladoras. Aqui, 0 que. élas nés mostram é tim eiigano: as fontes da operagio historiogréfica ‘AYO tein uM eardter espontaneo; pois o material Com que 6 histotia dor trabalha, ¢ que'ém algum momento ele passou.a charhar de-fori- 46, ¢std ao mesmo tempo disponfvel ¢ indisponfvel. As fontes estio af, disponfveis; abundantes ou parcas, eloquentes ou silenciosas; ve" mos; pelos wabalhos fea também indisponiveis: 4p: que alguém:vi atrds: éum historiador sé faz isso se tiver um problema ou, no minimo, urn te. ma de pesquisa, De saida, o que determina quiais sero as fontes ¢ exatamente isso: 6 problema em questo. E, entao, comesa um at duo'trabalho.., a 7 A escolha das fontes © problema ¢ 0 tema que 0 pesquisador se coloca norteiam, cm grande piedida, a escolha das fontes. Trata-se de identificas, no con-+ junto dos materiais produzidos numa época, por um grupo social e/ ©u por tima pessoa, aqueles que poderao dar sentido & pergunta pro- posta inicialmente. Os materiais que forem trabalhados — isto é, re- ‘cortados ¢ reagrupados — podetao servir de-base a operagio historio~ grifica em si, ou seja, a interpretagéo ¢ a escrita. Mas que materiais sdo esses? Servira qualquer coisa e tudo? 66 que ‘elas ‘exister.” Mas clas esto” * realidade inapréensivd, sermon piura Cortamente, é necessario fazer uma selecéo. Mas nao sejamos in~ sgenuos pensando que apenas 0 historiador € responsdvel por esse pro- : cedimento. A selesio ja foi feitx por diverso’ agentes: aqueles que produziram o materials os que o conservaram ou deixaram rastros de destritiga Gntencionial ou.no); aqueles que o organizaram em acer- ‘Wos:.€ 0 préprio tempo: Nesse'sentido,;a histéria seré: ‘sempre tum. “co-. nligcimento mutiladg”: sé conta aquilo que foi possivel'saber'a res: ‘peice do que ¥e quer saber. O passado, nunca é demais repetir; € uma ‘Até os primeiros 30/anos do sécuile XX; exatamiente pelo tipo de histéria que se fazia, Consideravam-ge fontes (materiais para escréver a histéria) apenas-os documentos escritos — tidos, como. cotifiiveis. Se o:objetivo era fazer ica; adminis- ativa, ‘diplomatica, cram escolhido’s os documentos que podémos ‘chamar de “oficiais”, ein geral escritos. Mas houve reagées, ¢ tudo aquilo que o. homem produz = seus goitos; seus costumes; stias ina neiras de ser = & cado‘o que significa a stia presenca Passou a ser con-_ ~Siderado matéria, fonee, para se pesquisar ¢ escrever a histéria (Feb- wre; 1977). Ja Le Golf (1994) afirtna quie, no limite, todo documento. é men: tira, na medida’cm que s6 tomamos.conhecimenito daquilo que o passado quis quic fosse memorivel. Pata dar um éxemplo disso, pode ‘mos imaginar um historiador que, dagui a com anos, quisesse recons- ‘truir um aspecto da hist6ria politica do Brasil no inicio do século XI. Ble se basearia, para isso, em trés jornais: 0 Didrio Oficial da Unio, uum jornal de grande apelo popular e um outro considerado sério. Encontraria ele nessas trés fontes a mestira versio para uma histéria? Poderia confiar integralimente rfos dados veiculados em publicagoes tao diferentes? Algumas fontes Na histéria da educacao, predominavam até pouco anos atras dois tipos de pesquisa: de um lado, investigagBes sobre as transformacées 67 € 6 CG S eS S e o ‘Ana Mafia de Oliveira Galvio e Eliane Marta Teixeira Lopes ‘ocortidas a0'longo do tempo na organizagio escolar; de outro, estu- dos sobre o pensamento pedagégico. Em fungao da natureza dessas pesquisas, recorreu-se durante um longo perfodo. aperias as fontes off- Giais éscritas! legislacao & ato’ do’ poder executive, disckiss6es-parla snentares, atas, relatotios escritos por auitoridadés (presidentes de pro- viricia, inspetores escolares étc.), regulamentos, programas de ensino ‘e estatfsticas. Também tinham muita importéncia as obras dos edica- ddores ou pensadores snais eminenites de cada época. Elis constitufam, nesses trabalhos, a matéria-prima do historiador: ~ ‘Coma ampliagéo dos temas abordados pela histéria da educa 60, 05 pesquisadores foram, aos poucos, fontes. Tal comio ocorreix em outros dominios da histéri tiadores da edixcacdo. incorporaram.a ideia de qtie'a histéria se faz com base em qualquer trago ot Vestigio déixido pelis sociedades paisadas. Afinal, em muitos casos as fontes oficiais s40, insuficientes para cbifipreetider aspectos fandamentais: E se nao impossi- vel, conhecér 9 cotidiano da escola de outras épocas somente pela lagislagao of pelos xelatérios das. autoridades:do ‘ensino, Podemas, novamente, evocar nosso historiador jmagindtio. Se ele quisesse pesquisar a educacio Aé Brasil no finial do século XX1, poderia to- mar como éxpiessio’ da pritica pedagégica apenas o que dizem os de ensino? E como 6 historiador analisatia 0'ato yra, est realizando siesté momento?.Para dar conta de questées como essas,.os historiadores vémn usasido muitas ‘outtras Fontes. A “revolugao documental” (Le Goff,'1994) atingiu ¢ marcou profundamente o’campo da histéria.da educagio. No entanto, um balango realizado. com base nos artigos publicados na Revista Brasi- leira de Historia da Educagdo cm seus primeiros anos de existéncia (Galvio ¢ outros, 2008) mostrou que a documentagao oficial ainda era a fonte predominante. Bla f ida em cerca de 31% dos ca- 0s como a matéria-prima da pesquisa, ¢ &in outros 26% como fon- izado nos artigos analisados era formado por obras de intelectuais e educado- 6s histo- te complementar. O segundo conjunto de fontes mai 68 enéificando “uso das Torritério plural es. Em aproximadamente um quinto dos trabalhos, esse € 0 tipo de fone predominant cem cereade299% ele fotusado como documes- tagio:complementat. - Una iis super cial podé laine leva i ie SpsodeSS recente da drea de hist6ria da éduicagio é, ainda, bastante conservado- Fano uso das fontes. Estarfamos repetiiido os mesinas procedimientos das primeitas gerages de historiadores da educagto? Diss conn 1 $8es.nos levam a acreditat que o:cendtio é diferente. Priinciro, ha uma anipliacio de fontes no ititerior desses dois gran des conjuntos: Tanto a documentagio oficial quanté’as obras 'de-in- telectuais usadas como fontes 540 mais diversificadis do’ que ances. Quanto aos documentos oficiais, antes prédominava como fonte a legislaco educacional: coristiruicées do'Innpério e da Repiblica, emien- das constitucionais, leis, atos do governo; decretos; pareceres ¢ porta- tias que normatizam as reformas, regulamentos, regimentos; estacutos | £ programas de ensino. Nas pesquisas fecentes, alégn dos documentos _suptacitados, € usado Sutfo, vasto espectrd' de’ Fontes: rclatérios pro- dinidos por diferentes instincias relacionadas 3 instrugao (dos minis- 08 do Inipério, de presidentes de proviricia, da governo, de diretores € inspetores gerais da instrusao pl le inspetores € delegados de las de presidentes'de provincia ¢ mensagens de presidences de estado as asseimbleias legislativas; atas das sessbes das assémbleias legislativas e'de conselhos de instrugio piblica; requcrimentos, ofi- cios ¢ outras correspondéncias oficiais, produzidas por diferentes auto” Fidades, como inspetores, delegados literdrios, dirctores ¢ professorcs: documentos de sclecao dos candidatos & docéncia na instrucio pii- blica (provas, atestados de batismo, casameinto € bons antecedentes, cartas de autoridades); estatisticas (mapas. de populagao e listas de matriculas de alunos que frequentavam as aulas pablicas ou, para os perfodos mais recentes, censos populacionais ¢ anusrios estatisticos) J4 no conjunto das obras de intelectuais.¢ pensadores, esto incluf- “dos nao s6 08 livros, maé também discurios,. manifestos. de viagem, correspondéncias trocadas entre 0s sujeitos cles pertencentes. 69 ‘Ana Maria de Oliveira Galvdo @ Ellane Marta Teixeira Lopes Segundo, mesmo quando se utilizam fontes tradicionais, ha um movimento de “ida aos arquivos” e,,com cle, a exploragao de uma documentagio menos conhecida c convencional- Isso pode sinalizar ° © uma renovagio da pesqiiisa histbrica. “Alem isso, os rea does istido. na necessidade de pro- blématizar as-fontes: Evita-se fetichiz4-lis; ou ‘seja, acreditar que elas possani falar toda a verdade. E preciso discutir, por exemplo, 0 que presidiu'a publicagao de um ato oficials deve-se ter conscitncia de ‘qué, 20 lado da intencio da‘lei, existeri as-priticds cotidianas da cs- cola. As pessoas que produzem os documentos sabem, de uma ou ‘outra maneira, que cles sero lidos, quer para seem obedecidos, quer para screm'divulgados, discutidos, aprovados ou contestados. O tra ‘balho a ser realizado’ pelo historiador, com base na éscolha feita; exige _que ele “persiga” o sujeito da producio, as injungées da producao, 2 interveng6es (isto & as modificagGes softidas), 0 destino €9s-destina~ tarios desse material. : ‘As antigas ¢ havas fontes. que vém sendo inébrporadss por Algu- mas pésquisas tém sido uatisformadas em objeto de pesquisa (volta reshos a uulo). A inprensa pe- 50 caderio: do ‘aluno,’ a. mobiliésio € 0 uniforme; por exemplo, nao server’ apenas para que nos aproxime- mos de um aspecto ‘da realidade que estamos investigando. Eles pré- ptios:— suas condicées de produgio (e'dé cifcuilacao),” seus ‘us0s, as. transformagées que sofreram ao longo do tempo adquirem interes- se, pois também dizem algo de um pasado educacional, 3 Ganham importincia trabalhos cuja finalidade central ¢ organizar -repertérios analiticos, fazer tutir éssa questéo no préximo «aj dagégica, 0 livro -escol (wwecrl.edufbeazil) 70 Torttério plural dade de pesquisadores. Embora esses trabalhos:nao abarquem o uni- ‘verso das fontes pass{veis de serem utilizadas (na medida em que mui- tasdelas esto fora dos locais tradicionalmenté ctiados pata guatdé-las,..” ‘Comb ds aiquivos pisblicos), so importantes porque chamam a aten- sfo para a expressiva quantidade e potencialidade de documentés dis- Pontveis, além de facilitar o trabalho dos futuros pesquisadores. Falemos, agora com mais detalhes, de algumas das “névas” fonteé que vém seido utilizadas em trabalhos reécntes de histéria da educa- ‘sa0. Por raz6es diversas, deixaremos muitas outras de fora. Nao fala: remos, por exemplo, da importincia ide usar arquivos dé polf suas.agbes.cfveis e ¢ ), inventdrios e restartientos, estatisticas, forites arqueolégicas, letras de cancbes populares ou do repertério erudito, ou miesmo discursos de pedagogos e de médicos sobre a edu- cacao: Aléta-do mais; totalidade das fontes € inapreenstvel: 0 pesqui- sador nunca saberd se achou todas as fontes; oit se todas se perderam. ~ [Espacos 6 objetos escoldres (Os objetos utilizades na escola tein se totnado iama Fonte finda mental nos éstudos de histéria da educagio. Carteiris, utensilids, ca- demetas de professores, cicrcicios, provas, boletifs escolares; livros. dcocorréncia, cadernos ¢ trabialhios dealunos, wnifortiies, quadios-ne- B05, bibliotecas escolares; livros dirigiffos ao-estudante ou ao profes~ s0t... Esses objetos podem fornecer 20 pesquisador indicios de como «cram os tinétodos de ensino, a disciplina, 0 curriculo,,os sabercs esto: lares; a formagao de professores etc. : lidade do pesquisador é convocada, tanto quanto seu ri- ico, para analisar o que ele tem em maos.-Ele tentara do deixat nenhuma pergunta de fora, mesmo quand se trata de um objeto banal — um tinteiro, por exemplo. De que época é? Como foi conservado? Pertence ou pertenceu a alguma instituigdo (escola, 6r- 80 adininistrativo etc.)? Terg peitencido a algunia pessoa em par- ticular? Se sim, por que.¢ fonte? De que material ¢ feito (cristal da Boémia, vidio fosco etc.)? n gs e GOOCH Se ‘Ana Maria de Oliveira Galvao e Eliane Marta Teixeira Lopes. + Todas as perguntas, quando respondidas, oferecerio dados em di- reco daquilo que se p&e como questo principal da pesquisa ~ por- “gli¢ umn tinteiro, certamente, nao é a questio principal de uma histé- tia da educagdo. Nesse inomento,.o trabalho do historiador € muito diferente 'do.de um antiquidrio: este toma cida objeto em sie pode deslimbrar-se com ele A vontaile, pois seu valor vird desse deslumbra- mento. Ad historiador, mestio’ que seja umn Colecionador de anttigui- dadés, 6 valor do objet viri sempre da relagao que se pode estabele- cet entre ele ¢ a problemitica central da pesquisa. “Muitos estudos iitilizam’ metodologias tia cultural: para analisas, por exemplo, os livras escolares. A bibliografja anialftica'¢ a sociologia dos textos tém sido poderosos ins- ‘trumientos nessas-pesquisas. AO analisar o ithpress6 (capa, concraca- a, pagina de rosto_eté:); 6 historiador encontra elementos para com- preender melhor @ leito# ¢ leitura, Os cartlogos de editoras, como corre nos tribalhos de histéria do livio ¢ da leituta, ciiculaya emi :cada época. Muitos aspectos da escola de consagiadas no campo © esta tegistradds menos em documentos prodhizidés especificamenite pata o ihundo educacional e mais em outros tragos ¢ vestigios, debxa- dos ntim Universo mais timplo de forites. (Os e5pacos planejados (ou iio) para a’ agao escolar também dizer muito sobre a escola ¢ a ediucago em outras épocas. Qué dizer da arquitcrura dos grupos escolares no momento de seti surgimento em varias cidades brasileiras? O que incorporavam do ideal republicano? ‘O que se pode com base na disposi¢ao do patio dos colégios Geligiosos ou nfo), sobre a vi iplinamento moral? O cordenamento dos espagos faz parte da da prépria inscivui escolar. Por isso é que a arquitetura vem Sendo, cada ver mai derada fonte para entender os processos educativos. Ela é, 20 lado de ‘outros dispositivos, uma maneira de forjar homens e mulheres, Pinturas, desenhos, esculturas, fotografias € cartées-postais tam- bém podem falar sobre 0 pasado , particuldrmente, sobre a edu- cago em outras épocas. Tradi .ente utilizada como ilustragao jografia vem sendo daquilo que os documentos es: 72 “Terrtério plural considerada um elemento importante, digno de ser incorporado, aos trabalhos de histéria da educagao. E comum também a discussio sobre as exigéncias impostas A sua utilizacao nas pesquisas, com des- eagiie pata’a especificidade das eondig6es de sua’ produicao.enr cada.” Epoca e'sociedade. ol lerarias, autobiografias, correspondénci didrios intimos, relatos de viagem, jornais e revi A escola, as relagies escolares, as brincadciras'¢ 0 mundo‘infantil sio objetos de pesquisa naé ciéncias humanas e sociais. Durdinte iin tos anos essa fealidade foi téazida por otros tipos de texto, 05 literé: ios: témances, novelas, peqiienos contos para ctiangas, ligidéa e iniorals podsia..: Emm historia'da editeagio, esse'tipd de fone ‘comitga a se? mais bein aproveitido e tein feito emergir dé desconhe- ido'o voridianio’ das escolas,as formas de socilizagao, 6 vestérios, as relagées.— tudo qite fitz parte da vida das pessoas. “A exploragio das fointés lcerdrias permite a-desegberta dé minds, completamente diférentes daqueles exibidos por outto tipo de.texto escrito. NO entanto, cise tipo de matetial deve ser submetido'a deter- minadas regras.que sao tanto da histéria quanto da prépria literatiara: ‘Ainda que condicionado socialmenté, ele été vinculado a uin dom{- nio que € Sobietindo estético. As frontéiraé entre ficgio e vérdaide sao’ considérailis cada vez mais, kénites no Ambito das'ciéncias humanas. Evidentémente, a obra lite- riria niio reflete a realidade: « fragao do eal que ela fevela é resultado de uma reintérpretagao € dé uma réelabéracao. No entanto, em al- guns casos a verdade trazida pela ficcid importa sais do que uma suposta realidade factual, embora esse tipo de verdade &s vezes escape A pesquisa histérica é a outros tipos de pesquisa. Os autores no sio somente testemunhas da éscola de sua infincia ou da idade adulta: eles si0 intérpretes sensiveis ¢ apaixonados dos processos familiares; escolares e sociais. As relagbes entre literatura ¢ hist6ria so caracteri- zadas pela tensio, e nao pelo reflexo ou pela correspondéncia direta. 73 -...08 para.reconstruir aspectos dos processos educati ana Maia Ge Unvelra Galvao & Cnane mana tereia Lopes * © mesmo podemos dizer das autobiografias ¢ das memérias. Em alguns casos elas constituem documentos singulares, importantissi- . So testemu: sihos raios Sobre 2 aquisicio da leinura e dé-escrita.ow sobre a forina’. ‘s40de leitotes, principalmenteem processos aiutodidatas, O relato ‘autobiografico mistura a literatura a histéria; ¢ temi sido considera- +, do.como qualquér outro tips de fics por coristittiy, césencialmett YP" geserita de #2 reconsirucao. -da educacio nos leva a uma questio importante: recorfet a certo tipo _de fonte exige que o pesquisador faga talar 08 préprios pontos de ie «_feréncia, pate evi i te, um frato da nartativa, de um trabalho com a linguagein. Tambéin O-uso da literatura e dé auobiografias nas'pesq sm histéria c 08. Ora, neiit semipis aquilo qué ofe- rece explicagdes pode ser encontradé em fontes para as quais nosso saber de hoje poderia ite apontar. Por exeniplo, nos, séculos. XVLe XVI, nfo serdo os higienistas a ditar ericérios de higigne e de limpeza: € preciso buséar taié, critétios em manuais de décoro ¢ éon* veniéneia, nas regras de bons.costiimes ¢:boas inancitas.’Tudo isso Porque hé,'20 longo’ da histéria, um deslocamento’ dos discutsos'so- bre os sabetes, de um local dé produgio a'outro. © historiadot deverd saber disso para nao procurar num lugar algo que s6 existe em outro, a fim de evitar csforgos intiteis e conchis6es equivocadas. ‘QMx0s tipos bastante produrivos de fonte escrita so as corres- pondencias particulares ¢ os didtios fntimos. Trata-se de matetiais que ertenceram a vida privada das pessoas ~ ¢ estas, se fossem consulta- das, provavelmenté nio dariam aut6rizagao para sua utilizacao co- to fonte. Em geral, esse tipo de objeto ~ dificil ¢ raro; sobretudo no Brasil — chega as mios do pesquisador de mancira acidental, ¢ é pre- ciso tomar bastante cuidado para classificé-lo, organizé-lo, categori- 2éclo, analisé-lo e interpreté-lo, Alguns desses dirios {ntimos nio passat de exercicios escolares e vio se prestar muito bem a quem es- teja intéreSado numa histéria das estratégias de ensitio, por exemplo. Além disso, nem tudo que se registra, mesmo que apenas para si, é verdade. Os didtios sao o lugar dos sGnhos, das fantasias, das grandes 74 pura emog6es ¢, em geral, sio/foram escritos por meninas ou mulheres. Nesses casos, ¢ preciso também levar em conta ai relagbes de géncro implicitas. ‘Fambéin séo materiais intéressantes as inartativas.dos viajantes qe” «stiveram, no Brasil, principalmerite do século XVI a0 XIX registran- ‘do os costumes dos habitantes de.um nove murido: Esse tipo de fon- tedinda € pouico éxplorado nis pesquisas brasileiras de histdtia da “ ,_ educagio. Tais relatos ofereéem descrig8és pelos olhos de alguém que se uipieende, se emociona ou se escandaliza com os costiinies, 68 ~ trajes,-os modos de dizer e de fazer, os espagos domésticos e puiblicos. E evidente qué nao sfio espelhos, nem da realidade vista/vi da verdade; sio apenas a repiesentacao de uma surpresa, de ‘$46 Ou de'prevonceitos, injuingbes e conveniéncias polfticas. Qs jomais ¢ as-revistas sdo utilizados hit mais tempo e gozam dé inaior prestigio na pesquisa historiogrifica, Os historiadores da edie ‘casio tém sé voltido, sobretudo, para'os'impressos que citculavamt entre 0 puiblico escolar. Pesquisas que abordam a insiprenisa'pedaggic ca (como fonte e/ou coms objeto) e 03 jortiais produzides por alunos, por, exemplo, iém se tornado cada vez miais'freqiiciites*Os:editoriais, as cartas a6'leitor, as cartas do Icitor ¢ as secbes de um periddico s40 elementos fundamemtais dé anslise para uma histéria da eduicagao, do livro € da leitura, dos professores & professoras.. A histéria oral ‘© que um historiador, cuja matéria €0 tempo passado, pode pre- tender ouvit?.O que, afinal, € mai Confidvel o que entra pelos alhos ‘Mesmp que ver portante ~ ver ou que entra pelos owvi ido uma primazia como gesto constituidor de fonte, ounir passou a ocupar um lugar bastante importante na his toriografia contemporanea, na chamada hist6ria oral. Esse recurso & usado principalmente quando 6 pesquisador, diante do problema pes- quisado, dispde de poucos testemunhos escritos. Essa forma de fazer histéria chama-se oral porque a fonte fala. Se ela fala, & porque o pes- 75 OOO ay ‘Ana Maria de Oliveira Galvio e Eliane Marta Teixeira Lopes quisador pediu que falasse sobre um assurieo. H4 uma direcionalidade em relago & fonte, uma pretensio de que ela fale 0 que se quer ouvir. ‘Mas é preciso reparar na sutileza da sucessig dos gestos. Na histé- PE pe Bes tia oral alguém fala.‘Quem escuri? Quvit ¢ escutar sao a mésitia coi- sa? Ouvir éseittir no. ouvide a iimpressio causada pelo som; escutar ¢ _Piestar ouvido atento. O diciondrio de sindnimos acrescenta: “Quem escuta, de si ouve', diz o ditado”, o que apénta claramente ein dirego asubjetividade do pesquisador” (Nascéntes,, 1981, p: 248). “A opetacas parece simples: 6 pesquisador idestifica’o problema, <écolhe a histéria oral como'metodologia; elabora um roteito, desco- bre um depoente, coloca débaizo do brago um manual de como fa- er cntrevistas, leva na mido‘um gravador em bom estado de fincio- ttamento, ¢ estd dada a partida. Acointece que pinguéri fala pata urn ~ giavador, porgiie a fala precsupse ita esciuta,’ Uma pesséa poders falar dai dificuldades que'temcom.o préptio compo, de se-reconhecer nele, da prdpric envelheciiento, das perdas sticessivas de poténcia auditiva, visual, «Atl, semial, olfativa ctc., se nv for'a alguém que te- ‘nha uma éscuta sénsivel? Uinia éscuta senstvel € aquelalem que o dita- do élevado a série: 0 pesquisador de si-ouve. Avempatia entie aquele que dé um depoimento e aquele que escu- ta deve ser Jevada em conta.no.tribalho. Desde que escolhiew 0 tema, dclimiitou’6 problema, identificou tragos do pasado no hoje;'esco- then 0, depoente, elaborau.o rotciro ¢ partiu parecampo, é scmipre © pesquisador que se coloca. Supée-se que cle tenha um interesse ge- nuino na fala do outro, pois é cla que permitiré elucidar o problema proposts. Mas € preciso gue 0 outro saiba disso, saiba que o interesse nao ¢std apenas em realizar o trabalho, mas ém desvelar um problema do qual faz. parte. Dessa maneira, é preciso que 0 préprio objeto seja partilhado com 0 depoente ~ na medida do possivel. Ao escutar esse outro, escuta-se a si: os questionamentos sobre o problema, os pré- Prios preconceitos, as anglistias ¢ as diividas que as declaragées vio provocando, as insegurangas de uma teoria sal assimilada...’Todas essas coisas fazem parte desse temido e desejado processo de produ- so do conhecimento. 76 “Terrt6rio plurat Abhistéria oral, muitas vezes considerada simples pelos pes dores, prope na verdade varios problemas. Primeiroy ha a impi _bilidade-e 0 ndo-controle da sitio, 0 que requer do pesquisadér ““disposicao’e hiabilidade para a excuta. Rrn'muitos eases, € nievesstitid ‘elativizat as tesposias dadas pelos enitrevistadgs. Sabe-se que a mie~ mibria'€seletiva, que of depoimeritot mitdam com 0 tempo que 03. ‘éntrevistados falam’o que iimaginam qué devem falar pata adjucle in Jeilocutor copectice, sobré9 qual cian cers expéctativas'c a6 qual atribisem deterniinadaé catacteristicas, Gite questing nirece ser pencala 6 retlhamento davor do Sijeito, iccessdiio 3 operagio historiogrifica. Decopor os depoimen- 16S, Categorizi-los ¢ separd-los 840 atividades inerentes ao proprio tra- balho de pesquisa: se‘esses provedimientos-nao forenr realizados, coi re-se 0 isco de’ transcréver os.depoiinentos intégralmente. Isso no atendle is xigencias da pes hisiéfica, na iniedida em que nio e lagbes, no se inditam resuleados pa: or Compreender o objeto. Entrétanto; Quando opt por fa- 2er i anilise do. depoimento, com base em catcgorias piefixadas, 6 Pésqhisador cotze:9 siseo: de dissolver os sujeitos'€ seus modos de Também merece destaque ocruzamento de fontés)Ao utilizar ou tros documentos, 6 historiador corre’ menos 0 risco de considerar as “entrevistas como “a voz" daqueles que nao podem falar. Além disso, a consulta a outras fontes ajuda a formular as quest6es das ent comipreender suas respostas. Em contrapartida, os depoime: podem ser toinados como mera iliistracéo para reafirmar aq jd se tem como uma verdade, construida com base em fontes consi- deradas mais confidveis. Nd caso das pesquisas em que os testermu- hos esctitos so raros ¢ esparsos, as entrevistas permitem vi rostos ¢ escutar a'voz de parcelas da populacio consideradas homogé- neas € que, embora expressem uma época e pertencimentos de géne- 10, etnia e origem, so compostas de individuos singulares. No entan- 7 Ana Maria de Oliveira Gaivao @ Ellane marta remem Lupes: to, vale a pena insi sria oral nao deve ser considerada o rio produto da pesq rica, Os depoimentos que 0 pes- set submetidos.ao mesmo tatamento que- quisador recolhe devem ser siubmetidos.a $ se d4 a ottras fontes documenuuls, Essa exigencia ¢ inierente a0 taba iho bistoriografico. O tratamento das fontes ‘A chamada “revolugao docamenital” ‘nao twouxe dnplicagoes So= para.a seleciio'das fontes, Mudou também, e talvez principal- ‘0 tratamento dado a élas. Prozura-se, cada vex mais (embora nem sempre se consiga), desmistificar 0’ documento: Ou seja, é neces- deslumbre diante dele.-Ao contrério'do “que toloca'a ista, a5 peiguntas que'd: Pesquisidér formiila a0 do= ciimento (impostas pelo presente ‘em que esti mergulhado) so 130! importantes quanto’ documenta em si. O ponto de partida no é a Pesquisa'de um documento, mas a formula de um questionaménto, Mesmio quando a ideia do tema vem dé'iima descoberta arquivistica, a produgao da'hiistbtia s6 comega quando.o historiador faz pergunitas. O-docuimento emi'si.ndo é histéria, nao faz Rane Seo ss per vuntas que.o pésquisador tem a fazer a0. matetial quie Ihe cofiferem Ecnrido: Enquante hous pergunta, 0 matetal ito Gearhsficien: temente explorado. Nesse sentido é que se diz que uma fonte nunca, estd esgotada e que a histéria € sempre reescrita. No trabalho com 0 material escrito, mais nao 85, 6 preciso levar em. conta tanto.os siléncios dos. documentos quanto a sua auséncia. Um “buraco” uma série de arquive, por exemplo, pode dizer algo sobre 0 documento que falta ou sobre a prépria organizacio desse arquivo, da época que 0 produizitt ¢ 0 guardou. Isso suscitaré novas perguntas € a proposicao de novos caminhos de investigacao. A falta de font um problema bem formulado esconde um mistério que € pi vendar~ tanto quanto 0 que’ pesquisador encontra, 0 que largamento de fontes ¢ ess ao pesquisador novas cxigéncias. E di 78 dade de fontes: além de conhecer 0 problema e ter dominio da histo- riografia, da metodologia e da teoria da histértia, o pesquisador deve também aprofundar-se nas teorias e metodologias préprias do tipo de © Fonte que recorre. (O trabalho com as fontes éxige, ames de tudo, paciéncia. Quantis vert Biéitnos horas, dias ou semanas pata encontiar um ou dois do- ‘ctumentos que interessam A pesqjuisa? B, quando'os encontramos; quan to tempo despendemos até alcanfar o’significado de.uinia palayray- | “uniia frases urna figura, um simbolo die insistentémente nos incomio- da, nos remete a um muindo-que desconhécemios'€ do’diial ainda'ftzo os apropriamos? A aisiedide parece set. ima das piinéipais inimigas ‘Un trabalho ¢ imais rido’e mais confiavel quianto'maior for'6 nik: meto ¢'a yatiedade de'fontés a’ que’ 6 pesquisador recorre ¢ quaiyco mais rigor'se empregue rio, confronio entre clas. A phuralidade de do- Gumentes oferece do historiador mais possibilidades de exployé-los, compreendé-los ¢ produzir conhecimiento sobre o tema da pésquisa” Cade forte, cada docimento, tém iim valér relativa, estabelecido com. base‘ein sna articulasio coni outrés. Isso depende do trabalho-a que cle € submerido ¢ das-relagdes (emi maior niimero poséivel) que 0 pes- quisador consegué eétabélecér cori informagSeé trazidas por outros estudos sobre 0 tema; a metodologia c'a teoria da histéria. Unie‘palavra, uma expresso, uma categoria, um estilo de escrita encontrados num documento sé adquitem sentido quando em relagio com seus contextos préprios de produgao ¢ circulagio. Caso contratio, corte-sc 0 risco de cometer anacronisinos. O pesquisador consegue discemir 0 contexto do documento pelas relagBes/associagées que es- tabelece entre © que o documento traz.¢ 0 que nao esti hele. O que ge exige, portanto, € um trabalho de compreensio e de interpretagao. © cruzamento de fontes pode também ajudar o pesquisador a con- trolara propria subjetividade. Essa ¢ uma operacio indispensdvel. Hé ‘uma expressic antiga que fala sobre o incansivel trabalho que é pre iso ter com a formulacio do problema, com as questdes propostas ¢ com a ida as fontes: “Da bigorna & forja, da forja & bigorna”, Deve- 79 VOWOG 8.0 0.8 6 € BOD 7e “agi; xteor ‘Ana Maria de Oliveira Galvao e Eliane Marta Teixeira Lopes mog examinar o problema 3 luz da literatura que the é pertinente; propor questées; buscar as fontes; rever a literatura diante dos dados ‘encontrados; checar as questées ¢ reformulé-las, se for o caso; voltar as forites até que s¢'esgotem 6 problema e’elas préprias. S40 procedi- mentos desse tipo que permitem dono texto e.relacion4-lo, seno a uma alutotia personalizada, a ura antoria dé época. As questées que se Faz a cada fonte' eo conjunto do, material, 4 relagio que se estabélece entre eisas foniese as Fespostas “obtidas s20 0s clemeritos que eriam a possibilidade de fazer historia. Lidar com as fontes exige cuidado, atencio; intuigio, criatividade, sehsibilidade ¢ rigor. Tudo isso requer estudos sobie o objeto, além do trabalho com a tcoiia ¢ com a mnetodologia da historia. = ‘Mas cruzamento com outras fontes nem sempre ¢ imediatamen- ‘te proveitoso, Muitas vezes, a utilidade dessa operagaoé planitar a’chi- vida sobre 6 significado daquilo que vimos: Isso nos ébriga’a langar mio de outra fonte, € outta, e outra::. Essa-cirinda de remissoes-de 6 se tefere’ads objetivos, 2 delimitacao dé objeto e As préprias possi ~. -bilidades que.o pesquisador tein em mos. ‘Mas Como cruzar as fonites de modo a evitar qué o.tratamento; a anilise'¢ « escrita do texto se torhem aperias ma descrigao das diver: sas fontes encontradas? Antes de tudo, € necessirio que 0 pésquisador “invenite” um-mé- todo para explorar cada documento , ao mesmo tempo, 0.co dos documentos. Ele precisa saber lidar com a grande dose de visibilidade que sempre acompanha 0 fazer histérico. Nao métodos infaliveis, ¢ cada historiador tem o seu; ha pessoas que pre- ferem a c6pia manual dos documentos, hé os que organizam fichas, 0s que separam © material por pastas, os que usam‘o.computador, os ntes de cores diversas, os qué elaboram qua~ 80 “Um_dos inserumentos mais importantes para essa tarcfa € estabe- lecer categorias. A. categorizacio cvita que os documentos sejam me- + famente descritos. Algumas dessas categorias sto. definidas-a priori ~ pelo pésquisidor: Sutras iniétgen’ do’ teaballia minucioso.e cotidiario de idas e vindas — com as fontes. Certamente; ampliar a nosao de documento ¢, porranto, do que é fonte perinite-nos encarar 0 “fazer hist6ria’” de outra mancira. Obrigi-nos a incluir o género,a raga/etnia, @ geragio ¢ a classe social como categorias a priori, porgiic jf estio (ow deveriami estar) Emi outros trabalhos das ciéncias sociais que, forgosa- mente, dario suporte ao trabalho do historiador- Mudaram tanto as. perguntas quanto as categoriis.e © tipo de rigor exigido, A légica da " sarrativa (que faz parte da escrita da histéria) passa a sce consteulda pela maneita come s¢ articulam essas Categorias. ‘Aléiii dé felacionar as ategorias, 9 historiador, como qualquer pes ‘quisador, também precisa opera: com conceitos: No entanto, quando 08 conceitas (ou, mais amplamenté,as teorias) so’ usados como fim (€ndo'como instrimento); vorre-se 6 risco de qi ‘pesquisa sirvam apenas para teferendar-a hipétese. 0 trabalho consiste somente em encontrai; nas féntes, ‘que justifiquem a afirmagio da qual 6 pesquisador partiu. Isso nao é, ‘proptiamente, o que se espera do histotiador: Depois de explorar e categorizar os’ docuntenitos (as vezés tudo corte ao mesmis teinpo), cabe ao historiador inteiPretar e explicar 0 passado, fazéndo 0 maior ntimero posstvel de associagGes e relagbes. A escrita da histéria materializa o trabalho realizado, é parte da pro- tia operagio historiogrsfica e consiste num dos momentos mais sig- nificativos da incerpretagao, Nio sé trata simplesmente de relatar os resultados di pesquisa: as opgies de como organizar o texto definem. conclusdcs'da ~ ¢ expressam a configuragio do préprio objeto. Um dos desafios dos riadores ¢ evitar que 9 leitor tenha a impressio de que a ria narrada é coerente.e isenta de contradig6es, Na verdade, 0 rdenido que lor apresenta como restiltado de si pesquisa € muito mais fruto da linguagem ¢ da narrativa do que da__ ‘rSpria pesquisa histérica. 81 : iando umia pesquisa em histéria da cdticagio, cer tamente um de scus primeiros gestos ser escrever um projeto com esse firm. Isso vale tanto para uma mondgrafia quanto para iuma dis- sertagio de mestrado. ou. uma tese de dowitsrado: Nao se trita de mera formiilidadé! €6 prinieixo moments ent que © Pesquisador sistematiza » que jf'sibe e-anuncia 6 que ainda quer - saber: Ambas as operagbes Fazéin’ parvé do trabalho de consirugao'do conheciinemto. No prdprio ato de escrever'o pirojeto, cle amadurece™ suas reflexdes, tornando mais claras/as proprias ideias eas ideias de. outros aurores. ‘Ao'mesmé tempo ~ coma o:préprio nome indica’ — esse documento projeta as agbes que setao tealizadas ao longo.da pes. Auisa. Por isso, serve de guia, um norteador daquilo que 0 pesquisa- dor preténde fazer, Embora sia estrutura variey’o-projeto de pesquisa —de qualquer rea do conhecimento « deve sempre trazer alguis elementos. 0 pes quisador déve dizer claramente: © 0 que pretende pesquisa; ©. por que pretende fazer éssa. pesquisa; com base em que tsaballios ¢ autores a pesquisa sent désenvolvida: ©) como prewenle desenvolver a pesquisa. O pesquisador, pode também éscrever gue respostas 48 perguntas Propostas ele imagina encontrar quando a pesquisa estiver conclufda, Eo'que se costuma fazer nos projetos-de doutorado, nos quais se cexige da pessoa a formulagao de uma hipétese ¢ uma contribuigio ori- ginal para a area do conhecimento. a3 Q © ‘Ana Matla de Oliveira Galvo e Eliane Marta Teixeira Lopes Cada um desses elementos deve se tornar uma parte do projeto. O nome dessas partes varia conforme o enquadramento teérico-metodo- do:trabalho; x instieuigao de vinculo € as exigtncias formais do ‘in. que a pesqilisa € realizada, A seguir, varios sugerir nomes pa ra essas partes, mas isso nao é 6 mais importante. © fundarnental é que, com o(froje®, voce cumpra as duas finalidades expostas acima: siste~ matizar 0 que ja sabe ¢ planejar o que it sh depois de terminar o projeto, voce encontre um carninhe:tinais ite ‘santé, rico ou pertinente para o seu objeto de pesquiisa. Mas & - te porque voct féz'o projeto que conseguit chega a esa altertiatival O problema-de pesquisa e a justificativa ‘Delinik’o que’ pesqiiiéar é:um trabalho arduo € angustiante. Trans: formar inquietagGes e desejos esparsos em problema de pesquisa exige vefapo, leitura, amadiurecimento, escrita e reescrita. Mas no S¢ assus- te! misités passaram’ por isso © conseguiram. (O problema de pesquisa nia € exatamciite um problema darealida- ‘de, Muitas vezes se faz essa confusto, principalmente:na area de cién~ cias husaanas. Imaginémos, por exemplo, que um pesquisador sc in- ‘comode com a seguinte questi0: os livros didaticos de matemdtica nos qiiaié cle estudou quando efa aluno de escola publica, nos anes 80, nao: auxiliaram aprender a ina. Esse problema da realidade pode ser um/ponto de partida para claborar ‘ pesquisa: qual era o lugar ocupado pelo livro.didético de matemdtica nas priticas pedagégicas dos atios 80? Qual era o perfil dos autores de livros didéticos da disciplina no perfodo? Como as princi legées da’ €poca expunham os assuntos ¢ propunham © mo 0s livros mais adotados relacionavam os uso: temética A matematica escolar propriamente te6ticas norteavam-a produgio desses livros? Hé muitos outros pro- Blemas de pesquisa passtveis..: Outra distingao necessdria é que exisie entre 0 tema e 0 problema de pesquisa. Quando alguém afirma que esté fazendo uma pesquisa s0- ‘ersos problemas de 24 +t descobrir. E possfvel que, __. €sobre “os processos de produgéo ¢ ‘Territério plural bre “a hist6ria do ensino de matemética no século XIX no Brasil”, esté anunciando uin tema de pesquisa. Porém, quando diz que a pesquisa irculacao dos livros didéticos de mutemstica no sécule XIX rio Bi ‘eouisegai foriiiilar tin pro blema. Nas ciéncias fisicas e biolégicas, a forniulagio lass ma é sempre uma relacdo entre dias varidveis — nas ciéncias humay uma relasio eritre dois elementos. No exemplo que demos antes, se- ria‘instficiente dizer que'a pesquiisa € sobre “6 processo de produgio € circulacao dos livros di i nal, nao se estabeleceu af uma ielicdo entre S€ 0 pésquisadorafitria, no entanto, que a investigagao é sobre “o papel do livro did: ‘materntica ho processo de institu f vagio.da escola priméria brasileira no século XIX”, ele télaciona dois elemeitos: 08 livros ‘¢ 0 processo.de institucionalizagao da escola. Supée, implicitamente; que h& uma relacao entre ésses dois fa- tores, que deverd ser verificadaa6 longo de tiabalhio: Coin iso, assii- mic 0 comipromisso de que stia pesquisa eéntribuird para compreen: der mielhor canto o livto did4ticd de itiatemdtica quanto 4 histéria da cx no Brasil, Esse'cipo de formiilacs6-nao € obrigatério na’ cign- clas Thumanas e particularmente nia histéria, éreas que buscam predo- sninantemente descrever ¢ compreendet a realidade. Contudo, pode ser um exercicio interessante para nao se perder 0 foco da pesquisa: E preciso ainda estabelecer-oite éessitia para aqueles que fazem pesquisa histérica: nao se deve con- fundir problema de pesquisa com fonte. Desde o movimento dos Annales, tem-se insistido, na necessidade de uma histéria-problema. © problema que nos faz optar por certas Fontes, € néo 0 contririo (as fontes definiirem 0 nosso problema). Afirmar que a pesquisa'é sdbre eo, particiilarmiente ne disso, setia necessério dizer que a pesquisa é, por exemlo, curas de professores no século XIX" e que, para r. rios € testamentos. Af, si izadlas serio invent’ ‘emos colocando as coisas nos devidos lugares. E verdade que, em alguns casos, podemos fazer uma pesquisa 85, Ana Maria de Oliveira Galvao ¢ tliane Marta lemerra Lopes: ‘em que o objeto seja também nossa principal fonte. Se tivéssemos co- no século XIX”, os inventd- fios'e iestamentos deixariam. de ser apenas fontes para se tornar tam~... Bit Objeto ~ pate’ do ‘iosso, piobleina de thivestigacao. Na pesquisa imaginada anterioimenté ~ “o processo de producio e circulagio dos livros didéticos dé matematica no sécilo XIX” —, os livros sio 0 aspec~ to central do probleiita de pesquisa. Ao.mesmo tempo, podém fazer parté do conjunto de forites (ac lado de outras, comé documentos de tipografias, relatérios de instructo publica; legislagao do casiiio eee). ‘Mas como’ chegamos 2 formular um problema? O primeiro passo, indispensével, é tomar conhecimento daguilo qué jé'se descobriu so- bre 4 questio que queremos investigar (nesse.momento, essa ques- 140 provavelmente ainda € uiii tema): Vam8 tomar novamente um ‘exemple dhs citncias naturais: ui pesjuisador da’ area Ua saitide qe busca eompreenider as formas de transiniscio do virus da aids de mae “para filho durante a gtavider. E inimaginavel pensar que ele 6 co- ihéga profundatnente as, descobertas ja realizadas sobre 0 virus as tao; ler o8 artigos cientifides jd publicados'sobre o keina, no Brasil ¢ no exterior, até pafa verificar se essa pesquisa: é necesséria ou se jd foi realizada por outro grupo de pesquisadores. Curioso ~e lamentivel ~ esse tipo de desconheéimento ser fre- “quente entre'niés, pesquisadores' das ciéncias humans. Muitts vezes, 16s nos propomos a fazer uma pesquisa sem nos ‘que jé foram realizadas sobre nosso tema/probleina. £ verdade que, sobretudo'nas pesqquisas em da educacio, raramente se en- contra um trabalho igual 20 nosso. Dificilmente alguém teré.a ideia de investigar 0 mesmo grupo esol jios confessionais no mesmo municfpio que nés escolhemos. Porém, sem diivida, encon- traremos pesquisas sébre‘ outros grupos escolares sobre outros mu- nicipios. las podem servir de base para nos apontar qual é 0 “estado 6 Coitkiecinicnto” Sobre idsso tema/problema. inculado 20 que j se produziu de similar, 0 pro- bblema de pesquisa também deve ter relago com questées teéricas mais 86 TTerritério plural amplas postas pelo campo. Retomemos a pesquisa hipotética sobre “o papel do livro didético de matemética no processo de institucionali- zasi0.da escola-priméria brasileira no século XIX”. Podemos imagi- ‘AF Guié 0 pesquisidor leu multas Obsas de autores que teorizam sobre © processo de escolarizacio dos sabeies ¢; com ais leiuuras, sentiuse __. “fisgado” pelas inquictagées do tema. Ele passa a acreditar que sua pesquisa, aléti-de-coniéribuir com, dados empiricos para‘a historia da * _ educaigio ((uais eram os livros di@Xeicos mais adotadas, quem eram setis autores, que saberés inarématicos etam selecioniados etc.) tam- bém conttibuird para’ debate tédrico cm torno do tema: Acredita, assim, que sua pesquisa vai se somar'a outras que, embora se debri- sem sobre casos diversos, tém as miegmas preacupagées de fundo: 2, ,ceino a escola transformou-se no principal éspago de tansinissio _ ds saberes para‘as navas geragbe ‘2 como se dé o procesio de escolarizacio dos saberes.nas diferentes sociedades; @" come 6 livro didéticd iorna-3eium instrumentd de selécao € de normatizagao dos saberes que-a'¢ Como wansforina.essés saberes, a'fim de tornd-los adequitdos 20 ensiné. Essas questées nao sa6 especificas da pes realizar, mas s0 comuns a varias outras pesq pelo préprio campo de conheciinento-em-que seu 0 Acesse processo damos o nomie de problematizagio.do objeto. Somente por nicio dele podemos definir se nossa pesquisa é ou nfo relevant Por isso, jé no primeito tépico do projeto, 0 pesquisador precisa as obras consultadas e explicitar que nio encontrou las © temafproblema investigado da mesma mane que éle:pretende pesquisador pode trabalhar com a expec nha alguma importincia para a sociedade. 87 Ana Maria de Oliveira Galvao e Ekane Marta Telxeira Lopes. ¢ tiem sempre explicita, as pésquisas hist6ricas podem contribuir para desnaturalizar o presente. Ao trazcr para'a discussie educacional atual ‘étranhar e, ao-mesmo tempo, de compreerider ~ com menos precoii-» ceitos e julgamentos — 6 outio.. “Todos os elementos discutidos até aqui sio necessirias para for- simular g probleina ¢ compreender sua relevancia. No t6pico Inirodii- to on Justificating 3 primeito do piojetd; o pesquisador deve escla- recer sei problema de pesquisa (0 qué) ca relevancia ~ cientifica 6, se posstvel, social ~ do trabalho que'propoe (o.porqué). Nesse t6pico, éle também pode escrever de onde veio scu interesse pelo problema: experiéncias pessdais, vivencias profissioniais, pesqui- ‘sas de que participou, incémodo diante de uest6es dla realidade tc. Essa explicitagao € necessaria porque possibilita a0 leitor conhe~ cer as condigbes de piodugao do auitor:e dé: mais ansparencia 46 processo de pesquisa. Sc, por exemplo, cle quer fazer uma pesquisa sobre-“os centros éspiritas como espaco'de formnacao dé leitores no inicio do, século XX”, pode informar, desde o inicio, queé kardecista: Ao contrério do qiie se poderi supéi, isso demonstra rigor: . Resquiigador preteridé compreeiider.o papel.do livro didtico. de ma- temitica no processo de institucionalizagio da escola priméria brasi- leira no sééulo XIX; que passos ele terd dé percorrer para alcangé-los? Podemos imaginar alguns: “identificar os livros de matcmdtica mais utilizados no ensino de primieiras letras no-perfodo”;“descrever 4 orgahizagéo das éscolas'primiarias no petfoda’’; “arialisar modo co- io.os conteiidos ram ofganizados € estruturados.nos principals li-. ‘yros” etc. Os objésivos espectfico’s podem ser vistos, ainda, como tums etapa intermedisria cinire 0 objetivo gerale.a metodologia. Nao devem, por- “ ganto; ser confundidos com estes. Vamos tomar como exemplo 6 pri- ‘meizo.objetiva especifico acima imaginado —“identificar os liyros de snatémética mais do”, Para que 6 pesquisador 0 atinja, ele precisa prever a urilizagio de determinadas fontes, como relatérios de inistrucao pul ‘potideéncias enviadas pelos professores de:primeiras letras aos direto- ree gerais de Instrugao Publica. Essaz fontes sto indicadas, a'seguir, ino t6pieo A metodologia. Alguris verbos fio so muito indicados para a forrmulagio de 0b- jetivos~“estudat”, pot exemplo. Afinal, estudar é um ato que deve ser realizado ao,longo de toda a pesquisa (quando nao ao longo da vida), mas nfo expréssa 0 que o pesquisador prétende ao corichut-la. “Con- ribuic” ¢ “propor” sio gestos louvaveis, mas muito mais consequén- cias da pesquisa ~ ¢ 0 que o pesquisador espera ~do que parte de seus objerivos. Podemos lembrar que, em ingles, objetivo é expresso pela palavra goa/, também utilizada no futebol, tal como a conhecerios (gol). Nao é preciso fazer gol para ganhar 0 jogo? izailos no ensino de primeiras letras no perio ica'e corres- Ametodologia Falar em metodologia (ou seja, © como) num projeto de pesquisa em histéria é recorrer a alguns autores para explicitar a concepgio de 92 ‘Terrt6rio plural documento defendida pelo pesquisador e que fontes elé pretende uti- lizar na pesquisa. Ao explicité-las, deve também dizer quais raze 0 levaram 2 optar pelo uso de alguns tipos de dodiiménte e nao-ourros. =~ Essa escolha sc.da, evidentemente, em virtide do problema de pes-~ quisa. Além diiso, 0, pesquisidor deve anunciar em que aceryos pre- tende pesquisar, o que é imuité importante, pois umia pesquisa his- S6rica 96 € viavel se-tiver fontés que tespondam as perguntas postas. ‘Nib se fiz’ pesquisa exn‘histéria sem fontes; ¢ nao se faz também com... fontes éxistentes mas inalcangive No éntaito, © pesqa ‘46: deve simplesmente listar as fontes que serdo.usadas; precisa especificidede de cada uma delas. Por exemplo: se pretende'usar a literatura como fonte, cle deve basc- ar-se‘em alguns autores ¢ fazer uma'discussio tedrica’ sobre o'estatuto, da obra literéri press no processo dé Yeconsirucio dai narfativas, a relagao cnitre "méria e histéria-e alguns outros.aspectos que os estudiosos da his- t6ria oral yém debarendo,nos siltimos anos. E recomendavel:que.o Pesquisador, se j& tiver condigoes; antincie de quais procedimentos tenciona langar mio para aitalisar as fontes: serda andlise de contedidé ow'a anilise do discurso? faré 0 cruzamento de fontes, proce- dimento indispensivel que tora a pesquisa, se nio verdadeira; pelo ends segura? Referéncias e bibliografia Por fin, o projeto deve revelar as referencias utilizadas em sua dla” boracdo. Chamamos de referéncias todas as obras (artigos, livros, si- tes ete:) que foram efetivamente citadas ao longo do texto. Elas de- vem ser indicadas de acordo com as normas da ABNT. O pesquisador pode também acrescentar um (pico denominado Bibliografia. Nele, 93 ‘Ana Maria de Oliveira Galo e Eliane Marta Teixeira Lopes listard os trabalhos que, embora jé tenha localizado e saiba que serio Uma palavra final titeis para a pesquisa, ainda ndo péde consultar e incorporar ao tex- to; Uma forma de chegar a iiso € dividir 6 graiidé tema em aisuntos;*-_ ‘cotiie Bizemios a0 Final deste livzo! ““Alliteratura.é uma das maneiras de expressar a Vida por meio’ da ~~ Hinguagem, em piosa ou verso; de fornia populay ou'crudita; agiadani- do 2 muitos ou a’poitcos. Minha evold, 6: poenia abaiyo, ralved se refira a escola’ frequentada:por eit autor,” Ascens6. Perreié (1895~ ~1965), nascido em Palmares, jta-Zonva da Mata‘de Perriambuco; re- ido de engeithos de agticar, onde pastou a infincia. Outios.escritores:* ja trataram.desse.cema:.no Brasil. em outros’ paises do mundo, na atualidade ou-ei séculos’anteriores, a escola vem’ senda tematizada pela literattta. Flzemos um exércicio de decifiar 0 pocriia ~ fit par que-el€ ficasse inais acessivel;pois jé o &, além de delicado ¢ bonito: - ” Apenas esbocimos este trabalho para que-voce se sintaeorividado ‘conferit sentido a ele; por meio de-associagoes e remissbes agile qe G6 esté no: texto — sinusigies, palavras, informiigées.;~ Assiin: vor poderd fazer uma das muitas leittitas possiveis do ponte, de, vista ‘da ~ histéria-c da histéria da educagio. O que fizemos para chegar a esse €nenhtim tipo de pesquisa. Trata-se ape- nas‘d¢ uma leitura. Se tivéssemés feitd uma pesquisa propriamente dita, certamente muitas ¢ mititas-outras associagdes tefiam sido feitas » depois, pudéssemos escrever tim novo"texito ¢ contar uma st6ria... Pesquisa, como ja dissemos, se faz com fontes ~ ¢ quantas ‘mais houver... melhor! A seguit, reproduzimos 0 pocma na integra, e depois os comenté- tos, trecho por trecho.” te 1. Agradecemos a Maria Songalves Ferreira, filha do poeta, a gentil auroriza- ‘540 para publicacio do cex doe) pa 95 : a 7K sua porta cu estava sempre hesitante Minha escola ‘Avescola que ii ffequencaya ra’ cheia de grates: cémo as prisbes: _Rermen Mestre, earrancudo come um dicionésios Coimplicado como as Matematicas; Inacessivel como Os Lusiadas de, Cambes! ‘A minha adorivel vida de crianiga: ‘Voos dé trapézio & Sombra da manguei Saltos de ingazeira pra dentro do tio... Jogos de castanhas... ~O'meu engenho de barro' de fazer-mel! Do ouito.kido, aquela tortura: “As atmas € 08 bares assinalados!” =~ Quamas:oragbes? — Qual é 0 maior rio da China? ~A2% 2AB = quanto? = Que é curvilinco, convexo? f Menino, venhia dar sua ligdo-de ret6rical = “Eu comiego, atenienses, invocando a protegio dos deuses‘do Olimpo para os destinos da. Grécia!” — Muito benil Isto é do grande Deméstenes! — Agora a de francés: : "Quand le'christianisme'avait apparu Sur Ja terre... — Basta. ni = Hoje temos sabati — O argumento é a bolo! = — Qual é a distancia da Terra ao Sol? a 96 — Nao sabe? Passe a mio & palmatérial! — Bem, amanhé quero isso de cor... iente; boca da:noite; fi Eu tisha. uma velha qué me contava historias... Lindas histérias do reino da Mae-

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