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Portuguesa
Faculdade de Direito, Escola de Lisboa
Semestre de Inverno
Direito da
Cultura
“O Direito à Cultura e a sua
protecção internacional”
Índice
Introdução
pág. 3
O Direito à Cultura
pág. 5
Conselho da Europa
pág. 15
União Europeia
pág. 24
Conclusão
pág. 27
Bibliografia
pág. 28
Anexos
pág. 29
2
Introdução
Longe parecem estar os tempos da clássica distinção entre Direitos
Humanos e Direitos Fundamentais, onde a distinção entre o poder
estadual e o poder das escassas instâncias internacionais era claro e
inultrapassável.
3
imediata concretização prática; 2º) consagração de certos direitos em
tratados aplicáveis, directa ou indirectamente, nas ordens jurídicas
internas; 3º) possibilidade de invocação dos direitos consagrados, em
fontes internacionais, pelos seus titulares perante os tribunais dos
respectivos Estados; 4º) possibilidade de invocação, desses mesmos
direitos, perante instâncias internacionais; 5º) criminalização internacional
das violações mais graves aos direitos da pessoa humana; 6º)
possibilidade de invocação desses mesmos direitos perante verdadeiros
tribunais internacionais, capazes de julgar os próprios Estados.
É isso que se pretende analisar com este trabalho. Irei proceder a tal
análise primeiramente no campo da Organização das Nações Unidas,
depois no campo do Conselho da Europa (o qual irei analisar com mais
detalhe) e, por fim, no campo da União Europeia.
4
O Direito à Cultura
É essencial começar por definir em que se consubstancia o direito à
cultura. Será que se insere no conjunto dos direitos fundamentais? Se sim,
a que geração pertence?
1
VASCO PEREIRA DA SILVA, “A Cultura a que tenho direito – Direitos Fundamentais e
Cultura”, Almedina, Coimbra, 2007, página 27.
5
Seguindo a linha de pensamento do Prof. Vasco Pereira da Silva,
podemos distinguir três gerações de direitos, as quais se interligam com
determinados modelos de Estado e de Constituição:
6
na geração anterior), que agora se generalizam a todos os
cidadãos, mediante a consagração do sufrágio universal”2;
2
VASCO PEREIRA DA SILVA, “A Cultura a que tenho direito – Direitos Fundamentais e
Cultura”, Almedina, Coimbra, 2007, página 31.
3
VASCO PEREIRA DA SILVA, “A Cultura a que tenho direito – Direitos Fundamentais e
Cultura”, Almedina, Coimbra, 2007, página 31.
7
2.O direito à cultura e as diversas gerações de direitos
4
VASCO PEREIRA DA SILVA, “A Cultura a que tenho direito – Direitos Fundamentais e
Cultura”, Almedina, Coimbra, 2007, página 36.
5
VASCO PEREIRA DA SILVA, “A Cultura a que tenho direito – Direitos Fundamentais e
Cultura”, Almedina, Coimbra, 2007, página 37.
6
VASCO PEREIRA DA SILVA, “A Cultura a que tenho direito – Direitos Fundamentais e
Cultura”, Almedina, Coimbra, 2007, página 37.
8
O direito à cultura é um direito fundamental e, como tal, constitui,
também ele, uma resposta ao problema da protecção da dignidade da
pessoa humana. Da sua estrutura faz parte tanto a vertente positiva (da
qual advém uma obrigação, para os poderes públicos, de efectuarem as
prestações necessárias à realização efectiva deste direito), como a
vertente negativa (dele advém, para as autoridades públicas a obrigação
de se absterem de agressões susceptíveis de causarem lesões neste
direito subjectivo público), próprias dos direitos fundamentais.
Sobre este sub-tema irão apenas ser ditas algumas palavras, só para
podermos ter uma pequena noção sobre o espaço que este direito ocupa
na nossa Constituição.
7
VASCO PEREIRA DA SILVA, “A Cultura a que tenho direito – Direitos
Fundamentais e Cultura”, Almedina, Coimbra, 2007, páginas 68 e 69.
9
A ONU teve como sua antecessora a Sociedade das Nações (SDN)
que, quando foi criada, pretendia ser um instrumento de esperança.
Esperança de povos e de antigos combatentes que desejavam, com
sinceridade, que a Grande Guerra tivesse sido a última. Infelizmente tal
não veio a acontecer, tanto por incapacidade da SDN como da nova ordem
internacional que se revelou ameaçada desde a própria Conferência de
Paz.
10
Segundo a “Carta das Nações Unidas” a ONU foi criada com os
propósitos fundamentais de:
10
Preâmbulo do “Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos”, 1996.
13
políticas, dotados de identidade cultural própria, ao estabelecer que nos
Estados em que existem minorias étnicas, religiosas ou linguísticas, as
pessoas pertencentes a essas minorias não devem ser privadas do direito
de ter, em comum com os outros membros do seu grupo, a sua própria
vida cultural, de professar e de praticar a sua própria religião ou de
empregar a sua própria língua (artigo 27º do PIDCP). Pode considerar-se
que existe ainda um reconhecimento implícito do direito à cultura,
resultante da consagração das liberdades de espírito, nomeadamente da
liberdade de opinião (artigo 19º, nº1 do PIDCP) e da liberdade de
expressão, que compreende a liberdade de procurar, receber e expandir
informações e ideias de toda a espécie (…) sob forma oral ou escrita,
impressa ou artística, ou por outro qualquer meio à sua escolha (artigo
19º, nº2 do PIDCP) ”11.
11
VASCO PEREIRA DA SILVA, “A Cultura a que tenho direito – Direitos Fundamentais e
Cultura”, Almedina, Coimbra, 2007, páginas 44 e 45.
14
Assim, o artigo 15º [do PIDESC], impõe o respeito pela liberdade
indispensável à investigação científica e às actividades criadoras (nº3);
obriga à tomada de medidas para assegurar a manutenção, o
desenvolvimento e a difusão da ciência e da cultura (nº2), assim como à
adopção de mecanismos de cooperação no domínio da ciência e da
cultura (nº4); reconhece a todos o direito de participar na vida cultural
(nº1, alínea a); garante o direito de beneficiar da protecção dos interesses
morais e materiais que decorrem de toda a produção científica, literária
ou artística de que cada um é autor (nº1, alínea c)”12.
Penso que quem esteve por detrás da redacção destes dois Pactos
Internacionais era de tal forma vanguardista que percebeu tal conexão
entre todos estes direitos, basta lermos o preâmbulo dos dois documentos
para nos apercebermos disso mesmo. Mas a verdade é que esse não era o
entendimento geral e, por isso, existem grandes diferenças entre estes
dois diplomas.
12
VASCO PEREIRA DA SILVA “A Cultura a que tenho direito – Direitos Fundamentais e
Cultura”, Almedina, Coimbra, 2007, páginas 45.
15
Ambos são vinculativos para os Estados que os ratificaram, mas
apesar de o Pacto Internacional sobre os Direitos Económicos, Sociais e
Culturais ter representado um grande avanço na protecção explícita do
direito à cultura essa protecção não é de todo suficiente. As medidas a
que este Pacto obriga os Estados a tomar ficam na disponibilidade dos
Estados, os passos que os Estados são obrigados a realizar ficam na
medida das suas possibilidades. As normas deste diploma são demasiado
programáticas, baseiam-se demasiado nos passos que os Estados podem
e querem dar, ao contrário do que acontece com as normas constantes do
Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, que são directamente
exequíveis.
Conselho da Europa
O Conselho da Europa é uma organização internacional que foi
fundada a 5 de Maio de 1949, com o Tratado de Londres. É a mais antiga
instituição europeia em funcionamento. Os seus propósitos são a defesa
dos direitos humanos, o desenvolvimento democrático e a promoção da
estabilidade político-social na Europa.
13
ARMANDO ROCHA, “O Contencioso dos Direitos do Homem no Espaço Europeu – O
Modelo da Convenção Europeia dos Direitos do Homem”, Lisboa, 2009, página 19.
17
substantivos, mas sim de colocar sob protecção internacional alguns
direitos comuns ou básicos, presumivelmente já reconhecidos pela lei
interna dos Estados parte” .
14
14
L.B. SOHN e TH. BUERGENTHAL, “International protection of human rights”, 1973,
página 1149.
18
A Convenção consagra igualmente o princípio da legalidade (artigo 7º).
Esta é composta por seis Protocolos (Protocolo nº1, 20.03.1952; Protocolo
nº4, 16.09.1963; Protocolo nº6, 28.09.1983; Protocolo nº7, 22.11.1984;
Protocolo nº13, 03.05.2002; Protocolo nº14, 13.05.2004), através dos
quais se procedeu a um trabalho de aditamento. Estes Protocolos
consagram direitos como, o direito à instrução (artigo 2º, do Protocolo
nº1), a eleições livres (artigo 3º, do Protocolo nº1), a proibição da prisão
por dívidas (artigo 1º, do Protocolo nº4), a proibição da pena de morte
(artigo 1º, do Protocolo nº6), o direito a um duplo grau de jurisdição em
matéria penal (artigo 2º, do Protocolo nº7), entre outros.
15
ARMANDO ROCHA, “O Contencioso dos Direitos do Homem no Espaço Europeu – O
Modelo da Convenção Europeia dos Direitos do Homem”, Lisboa, 2009, página 21.
16
Cfr. ARMANDO ROCHA, “O Contencioso dos Direitos do Homem no Espaço Europeu – O
Modelo da Convenção Europeia dos Direitos do Homem”, p.43, em articulação com o
artigo 21º da CEDH.
19
possuam elevada aptidão técnica, especialmente por reunirem
as condições exigidas para o exercício de altas funções
judiciais ou por serem jurisconsultos de reconhecida
competência;
4.Liberdade de expressão
21
sociedade e, na altura, escreveu vários artigos sobre Silva Resende, uma
vez que este tinha sido apresentado como candidato do CDS à presidência
da Câmara Municipal de Lisboa.
18
VASCO PEREIRA DA SILVA, “A Cultura a que tenho direito – Direitos Fundamentais e
Cultura”, Almedina, Coimbra, 2007, páginas 49 e 50.
23
Mas será que os casos anteriormente expostos não estariam melhor
protegidos sob a égide do direito à cultura, caso este também estivesse
consagrado na Convenção?
24
Extenso19, de Almada Negreiros não teria sido mais ofensivo ainda que os
textos de Vicente Silva? Os grandes artistas nem sempre colhem o apoio
da crítica ou do público mas não é por isso que o seu brilhantismo
esmorece, é ofuscado ou não deve ser protegido.
União Europeia
1.Origem
26
A necessidade de uma acção comum viria a ser particularmente
posta em evidência pelo facto de os EUA a exigirem como pré-condição
para concretizarem o seu auxílio à reconstrução das economias europeias
(Plano Marshall + formação da OCDE).
A União Europeia entendeu que tal não bastava e quis, através desta
Carta, conferir maior visibilidade aos direitos fundamentais, protegidos por
cada Estado e, reforçar a sua protecção, “à luz da evolução da sociedade,
do progresso social e da evolução científica e tecnológica”20.
20
Preâmbulo da Carta dos Direitos Fundamentais da EU.
28
A Carta dos Direitos Fundamentais da EU consagra a dignidade do
ser humano (artigo 1º), o direito à vida (artigo 2º), o direito à integridade
do ser humano (artigo 3º), a proibição da tortura e dos tratos ou penas
desumanos ou degradantes (artigo 4º) e a proibição da escravidão e do
trabalho forçado (artigo 5º). Tem, inclusive vários Títulos, nos quais
consagra as “Liberdades”, no seu Título II (artigo 6º a artigo 19º), a
“Igualdade”, no Título III (artigo 20º a 26º), a “Solidariedade”, no Título IV
(artigo 27º a artigo 38º), a “Cidadania”, no Título V (artigo 39º a artigo
46º) e a “Justiça” (artigo 47º a 54º).
Conclusão
O direito à cultura é um direito fundamental, um direito individual e
colectivo, cabendo ao indivíduo, à sociedade, ao Estado e à Comunidade
Internacional defende-lo e promove-lo.
29
Infelizmente, este direito não está expressamente consagrado em
nenhum diploma internacional, sendo que tal situação deveria ser
alterada.
Mas tal não aconteceu e quem perde somos nós, cidadãos, que não
vemos os nossos direitos protegidos tão eficazmente como deveriam ser.
Bibliografia
30
• VASCO PEREIRA DA SILVA, “A Cultura a que tenho direito – Direitos
Fundamentais e Cultura”, Almedina, Coimbra, 2007.
31
Anexos
Anexo 1
Paris, 19.XII.1954
32
The governments signatory hereto, being members of the Council of Europe,
Considering that the aim of the Council of Europe is to achieve a greater unity
between its members for the purpose, among others, of safeguarding and
realising the ideals and principles which are their common heritage;
Considering that the achievement of this aim would be furthered by a greater
understanding of one another among the peoples of Europe;
Considering that for these purposes it is desirable not only to conclude bilateral
cultural conventions between members of the Council but also to pursue a
policy of common action designed to safeguard and encourage the development
of European culture;
Having resolved to conclude a general European Cultural Convention designed
to foster among the nationals of all members, and of such other European States
as may accede thereto, the study of the languages, history and civilisation of the
others and of the civilisation which is common to them all,
Have agreed as follows:
Article 1
Each Contracting Party shall take appropriate measures to safeguard and to
encourage the development of its national contribution to the common cultural
heritage of Europe.
Article 2
Each Contracting Party shall, insofar as may be possible,
a encourage the study by its own nationals of the languages, history and
civilisation of the other Contracting Parties and grant facilities to those
Parties to promote such studies in its territory, and
b endeavour to promote the study of its language or languages, history and
civilisation in the territory of the other Contracting Parties and grant
facilities to the nationals of those Parties to pursue such studies in its
territory.
Article 3
The Contracting Parties shall consult with one another within the framework of
the Council of Europe with a view to concerted action in promoting cultural
activities of European interest.
Article 4
Each Contracting Party shall, insofar as may be possible, facilitate the movement
and exchange of persons as well as of objects of cultural value so that Articles 2
and 3 may be implemented.
Article 5
Each Contracting Party shall regard the objects of European cultural value
placed under its control as integral parts of the common cultural heritage of
Europe, shall take appropriate measures to safeguard them and shall ensure
reasonable access thereto.
Article 6
1 Proposals for the application of the provisions of the present Convention and
questions relating to the interpretation thereof shall be considered at meetings
of the Committee of Cultural Experts of the Council of Europe.
2 Any State not a member of the Council of Europe which has acceded to the
present Convention in accordance with the provisions of paragraph 4 of
Article 9 may appoint a representative or representatives to participate in the
meetings provided for in the preceding paragraph.
3 The conclusions reached at the meetings provided for in paragraph 1 of this
article shall be submitted in the form of recommendations to the Committee of
Ministers of the Council of Europe, unless they are decisions which are within
the competence of the Committee of Cultural Experts as relating to matters of
an administrative nature which do not entail additional expenditure.
5 Each Contracting Party shall notify the Secretary General of the Council of
Europe in due course of any action which may be taken by it for the application
of the provisions of the present Convention consequent on the decisions of the
Committee of Ministers or of the Committee of Cultural Experts.
6 In the event of certain proposals for the application of the present Convention
being found to interest only a limited number of the Contracting Parties, such
proposals may be further considered in accordance with the provisions of
Article 7, provided that their implementation entails no expenditure by the
Council of Europe.
Article 7
If, in order to further the aims of the present Convention, two or more
Contracting Parties desire to arrange meetings at the seat of the Council of
Europe other than those specified in paragraph 1 of Article 6, the Secretary G
eneral of the Council shall afford them such administrative assistance as they
may require.
Article 8
Nothing in the present Convention shall be deemed to affect
a the provisions of any existing bilateral cultural convention to which any of
the Contracting Parties may be signatory or to render less desirable the
conclusion of any further such convention by any of the Contracting Par
ties, or
b the obligation of any person to comply with the laws and regulations in
force in the territory of any Contracting Party concerning the entry,
residence and departure of foreigners.
Article 9
1 The present Convention shall be open to the signature of the members of the
Council of Europe. It shall be ratified, and the instruments of ratification shall
be deposited with the Secretary General of the Council of Europe.
2 As soon as three signatory governments have deposited their instruments of
ratification, the present Convention shall enter into force as between those
governments.
5 The Secretary General of the Council of Europe shall notify all members of the
Council and any acceding States of the deposit of all instruments of ratification
and accession.
Article 10
Any Contracting Party may specify the territories to which the provisions of the
present Convention shall apply by addressing to the Secretary General of the
Council of Europe a declaration which shall be communicated by the latter to
all the other Contracting Parties.
Article 11
1 Any Contracting Party may denounce the present Convention at any time after
it has been in force for a period of five years by means of a notification in
writing addressed to the Secretary General of the Council of Europe, who shall
inform the other Contracting Parties.
2 Such denunciation shall take effect for the Contracting Party concerned
six months after the date on which it is received by the Secretary General of the
Council of Europe.
In witness whereof the undersigned, duly authorised thereto by their respective
governments, have signed the present Convention.
Done at Paris this 19th day of December 1954, in the English and French lan
guages, both texts being equally authoritative, in a single copy which shall remain
deposited in the archives of the Council of Europe. The Secretary General shall transmit
certified copies to each of the signatory and acceding governments.
Anexo 2
http://www.iidh.ed.cr/comunidades/libertadexpresion/docs/le_eu
ropeo/lopes%20gomes%20da%20silva%20v.%20portugal.htm;