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Portuguesa
Faculdade de Direito, Escola de Lisboa
Semestre de Inverno
Direito da
Cultura
“O Direito à Cultura e a sua
protecção internacional”
Introdução pág. 3
Conclusão pág. 27
Bibliografia pág. 28
Anexos pág. 29
Introdução
Longe parecem estar os tempos da clássica distinção entre Direitos
Humanos e Direitos Fundamentais, onde a distinção entre o poder
2
estadual e o poder das escassas instâncias internacionais era claro e
inultrapassável.
É isso que se pretende analisar com este trabalho. Irei proceder a tal
análise primeiramente no campo da Organização das Nações Unidas,
depois no campo do Conselho da Europa (o qual irei analisar com mais
detalhe) e, por fim, no campo da União Europeia.
3
O Direito à Cultura
4
É essencial começar por definir em que se consubstancia o direito à
cultura. Será que se insere no conjunto dos direitos fundamentais? Se sim,
a que geração pertence?
1
VASCO PEREIRA DA SILVA, “A Cultura a que tenho direito – Direitos Fundamentais e
Cultura”, Almedina, Coimbra, 2007, página 27.
5
• a segunda geração de direitos humanos corresponde aos
direitos sociais (como por ex. o direito ao trabalho, à
segurança social, à saúde e à educação) e está ligada ao
surgimento do Estado Social. A Primeira Guerra Mundial, a
Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial fizeram com
que o Estado tivesse de alterar a sua forma de actuação, os
privados não conseguiam, sozinhos, sair do caos que envolvia
e absorvia a Europa. O Estado torna-se protector e defensor
social, assim como organizador da economia. Transforma-se
no chamado “Estado de Administração”, pois assume a pesada
responsabilidade de promoção do bem-estar social, de
garantia de serviços públicos e de protecção da população.
Dentro, ainda, do âmbito desta segunda geração ocorre,
igualmente, a “transformação dos direitos políticos (nascidos
na geração anterior), que agora se generalizam a todos os
cidadãos, mediante a consagração do sufrágio universal”2;
2
VASCO PEREIRA DA SILVA, “A Cultura a que tenho direito – Direitos Fundamentais e
Cultura”, Almedina, Coimbra, 2007, página 31.
3
VASCO PEREIRA DA SILVA, “A Cultura a que tenho direito – Direitos Fundamentais e
Cultura”, Almedina, Coimbra, 2007, página 31.
6
Como o Professor Vasco Pereira da Silva afirma, apesar desta
diversidade de gerações de direitos, devemos realçar a “renovada
unidade” da categoria dos direitos fundamentais, patente na sua
identidade axiológica (uma vez que, todos eles constituem a resposta ao
problema da protecção da dignidade da pessoa humana) e na sua
identidade estrutural (pois todos eles se podem caracterizar, do ponto de
vista jurídico, por apresentarem simultaneamente uma vertente negativa –
que obriga as entidades públicas a absterem-se de agressões susceptíveis
de causarem lesões nas posições subjectivas de vantagens
constitucionalmente protegidas – e uma vertente positiva – que obriga a
prestações dos poderes públicos, ou à cooperação entre estes e os
privados para a sua realização, assim como comportam igualmente uma
dimensão subjectiva e objectiva).
4
VASCO PEREIRA DA SILVA, “A Cultura a que tenho direito – Direitos Fundamentais e
Cultura”, Almedina, Coimbra, 2007, página 36.
5
VASCO PEREIRA DA SILVA, “A Cultura a que tenho direito – Direitos Fundamentais e
Cultura”, Almedina, Coimbra, 2007, página 37.
7
enquanto forma institucionalizada de cooperação entre entidades públicas
e privadas de natureza procedimental”6.
Sobre este sub-tema irão apenas ser ditas algumas palavras, só para
podermos ter uma pequena noção sobre o espaço que este direito ocupa
na nossa Constituição.
6
VASCO PEREIRA DA SILVA, “A Cultura a que tenho direito – Direitos Fundamentais e
Cultura”, Almedina, Coimbra, 2007, página 37.
8
direitos económicos, sociais e culturais (artigo 73º, nº 1 e 3, artigo 78º). E
vai desdobrar-se em diversas normas, que vão da garantia imediata de
protecção dos particulares ao estabelecimento de deveres, tarefas e
princípios a cargo dos poderes públicos, passando ainda pelo
estabelecimento de deveres dos particulares.”7
9
A Humanidade sentiu que era necessário proteger-se de si mesma,
proteger aquilo que de mais importante tem: a sua própria dignidade, os
seus próprios direitos e, tal teria de ser feito por uma instância que se
encontrasse acima dos Estados e que velasse pela paz, pela segurança e
pela protecção da dignidade da pessoa humana.
8
Preâmbulo da “Carta das Nações Unidas”, São Francisco, 26 de Junho de 1945.
10
ficou aquém das expectativas no que concerne à concertação da paz
mundial.
12
Este reconhece que, em conformidade com a DUDH, “o ideal do ser
humano livre, usufruindo das liberdades civis e políticas e liberto do medo
e da miséria, não pode ser realizado a menos que sejam criadas condições
que permitam a cada um gozar dos seus direitos civis e políticos, bem
como dos seus direitos económicos, sociais e culturais” 10. Pretende, assim,
ser um instrumento mais efectivo do que a DUDH, na protecção dos
direitos inalienáveis do Homem, que derivam da sua própria dignidade,
enquanto ser humano que é. É um documento vinculativo para os Estados
que o ratificaram.
10
Preâmbulo do “Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos”, 1996.
11
VASCO PEREIRA DA SILVA, “A Cultura a que tenho direito – Direitos Fundamentais e
Cultura”, Almedina, Coimbra, 2007, páginas 44 e 45.
13
cultura, não poderia fundamentar tal defesa somente neste documento,
uma vez que este o consagra de forma bastante implícita.
12
VASCO PEREIRA DA SILVA “A Cultura a que tenho direito – Direitos Fundamentais e
Cultura”, Almedina, Coimbra, 2007, páginas 45.
14
gerações. Hoje o entendimento tende a ser diferente. Todos estes direitos
têm a mesma estrutura (são compostos por uma combinação de uma
vertente negativa – que corresponde a uma esfera protegida de agressões
estaduais – e de uma vertente positiva – que obriga à intervenção dos
poderes públicos, de modo a permitir a realização plena e efectiva de tais
posições de vantagem) e o mesmo fundamento (a sua ligação à dignidade
da pessoa humana).
Penso que quem esteve por detrás da redacção destes dois Pactos
Internacionais era de tal forma vanguardista que percebeu tal conexão
entre todos estes direitos, basta lermos o preâmbulo dos dois documentos
para nos apercebermos disso mesmo. Mas a verdade é que esse não era o
entendimento geral e, por isso, existem grandes diferenças entre estes
dois diplomas.
Conselho da Europa
15
O Conselho da Europa é uma organização internacional que foi
fundada a 5 de Maio de 1949, com o Tratado de Londres. É a mais antiga
instituição europeia em funcionamento. Os seus propósitos são a defesa
dos direitos humanos, o desenvolvimento democrático e a promoção da
estabilidade político-social na Europa.
16
A Convenção representa um ponto de ruptura no Direito
Internacional Clássico, uma vez que ultrapassou o estatuto de mera
proclamação de direitos, pois prevê a possibilidade de controlo
jurisdicional, mediante a intervenção de um tribunal internacional, com a
possibilidade deste mecanismo ser accionado pelos próprios particulares.
13
ARMANDO ROCHA, “O Contencioso dos Direitos do Homem no Espaço Europeu – O
Modelo da Convenção Europeia dos Direitos do Homem”, Lisboa, 2009, página 19.
14
L.B. SOHN e TH. BUERGENTHAL, “International protection of human rights”, 1973,
página 1149.
17
• o direito a um processo equitativo (artigo 6º da CEDH);
15
ARMANDO ROCHA, “O Contencioso dos Direitos do Homem no Espaço Europeu – O
Modelo da Convenção Europeia dos Direitos do Homem”, Lisboa, 2009, página 21.
18
3.Tribunal Europeu dos Direitos do Homem (TEDH)
16
Cfr. ARMANDO ROCHA, “O Contencioso dos Direitos do Homem no Espaço Europeu – O
Modelo da Convenção Europeia dos Direitos do Homem”, p.43, em articulação com o
artigo 21º da CEDH.
19
documento com auctoritas (expressão de JO M. PASQUALUCCI), mas sem
força vinculativa.
4.Liberdade de expressão
20
A CEDH consagra, no seu artigo 10º, este direito e existem vários
acórdãos, do TEDH, que o concretizam e desenvolvem, explicando-nos
quais as faculdades que este direito envolve e quais os limites a que está
sujeito.
17
Acórdão Jorge Vivente Silva C. Portugal, Tribunal Europeu dos Direitos do Homem,
2000.
22
Esta Convenção não consagra directa nem explicitamente o direito à
cultura. Verifica-se, apenas, o seu “reconhecimento implícito (no quadro
das liberdades de espírito), designadamente, nos artigos 9º (liberdade de
pensamento, de consciência e de religião) e 10º (liberdade de expressão).
A que acresce a protecção do Protocolo Adicional nº1 (20 de Março de
1952), que estabelece no artigo 2º (o direito à instrução), que a ninguém
pode ser negado o direito à instrução, sendo esta uma tarefa estadual a
desempenhar no respeito pelas convicções religiosas e filosóficas dos
pais.”18
18
VASCO PEREIRA DA SILVA, “A Cultura a que tenho direito – Direitos Fundamentais e
Cultura”, Almedina, Coimbra, 2007, páginas 49 e 50.
23
geração igualmente brilhante, também os acusaríamos de crime de
liberdade de imprensa? Também os acusaríamos de abusarem da sua
liberdade de expressão ou protegeríamos os seus escritos, os seus
quadros, as suas obras? Todas as suas criações consubstanciam obras de
arte de valor incalculável, são bens culturais que deviam ser protegidos
através do direito à cultura.
19
“Basta pum basta. Uma geração que consente deixar-se representar por um Dantas é
uma geração que nunca o foi. É um coio d’indigentes, d’indignos e de cegos! É uma
resma de charlatães e de vendidos, e só pode parir abaixo de zero! Abaixo a geração!
Morra o Dantas, morra! Pim! Uma geração com um Dantas a cavalo é um burro
impotente! (…) – ALMADA NEGREIROS, “Manifesto Anti-Dantas e por Extenso”.
24
A Convenção Europeia da Cultura é um tratado internacional
celebrado, também ele, sob a égide do Conselho da Europa, em 1954. O
seu objectivo é proteger a chamada cultura europeia, tentando, para isso,
desenvolver uma política de acção comum de modo a encorajar e
salvaguardar o desenvolvimento desta mesma cultura. Os seus resultados
não são muito visíveis, contém normas demasiado programáticas,
deixando o alcance dos objectivos que determina muitíssimo na
dependência da vontade dos Estados.
União Europeia
1.Origem
25
Após a Segunda Guerra Mundial, inicia-se o movimento de
construção europeia. A Guerra arrasou todos os Estados da Europa, a
cooperação e a união imponham-se mais fortemente: a “ideia de Europa”
surge como a única via para os países europeus se reconstruírem e terem
relações pacíficas entre si. Ou a Europa se unia ou não seria capaz de se
reerguer.
26
A Comunidade viu os seus membros aumentarem, assim como a sua
influência sobre estes.
A União Europeia entendeu que tal não bastava e quis, através desta
Carta, conferir maior visibilidade aos direitos fundamentais, protegidos por
cada Estado e, reforçar a sua protecção, “à luz da evolução da sociedade,
do progresso social e da evolução científica e tecnológica”20.
20
Preâmbulo da Carta dos Direitos Fundamentais da EU.
28
protege o “direito dos indivíduos integrados em determinados grupos
sociais, agregados populacionais ou comunidades políticas, dotados de
identidade cultural própria” (livro do prof Vasco), não existe nenhum
artigo que proteja os direitos das minorias étnicas, a Carta simplesmente
diz, no seu artigo 22º, que a “União respeita a diversidade cultural,
religiosa e linguística”.
Conclusão
O direito à cultura é um direito fundamental, um direito individual e
colectivo, cabendo ao indivíduo, à sociedade, ao Estado e à Comunidade
Internacional defende-lo e promove-lo.
Mas tal não aconteceu e quem perde somos nós, cidadãos, que não
vemos os nossos direitos protegidos tão eficazmente como deveriam ser.
29
Bibliografia
30
Anexos
Anexo 1
31
Paris, 19.XII.1954
32
The governments signatory hereto, being members of the Council of Europe,
Considering that the aim of the Council of Europe is to achieve a greater unity
between its members for the purpose, among others, of safeguarding and
realising the ideals and principles which are their common heritage;
Considering that the achievement of this aim would be furthered by a greater
understanding of one another among the peoples of Europe;
Considering that for these purposes it is desirable not only to conclude bilateral
cultural conventions between members of the Council but also to pursue a
policy of common action designed to safeguard and encourage the development
of European culture;
Having resolved to conclude a general European Cultural Convention designed
to foster among the nationals of all members, and of such other European States
as may accede thereto, the study of the languages, history and civilisation of the
others and of the civilisation which is common to them all,
Have agreed as follows:
Article 1
Each Contracting Party shall take appropriate measures to safeguard and to
encourage the development of its national contribution to the common cultural
heritage of Europe.
Article 2
Each Contracting Party shall, insofar as may be possible,
a encourage the study by its own nationals of the languages, history and
civilisation of the other Contracting Parties and grant facilities to those
Parties to promote such studies in its territory, and
b endeavour to promote the study of its language or languages, history and
civilisation in the territory of the other Contracting Parties and grant
facilities to the nationals of those Parties to pursue such studies in its
territory.
Article 3
The Contracting Parties shall consult with one another within the framework of
the Council of Europe with a view to concerted action in promoting cultural
activities of European interest.
Article 4
Each Contracting Party shall, insofar as may be possible, facilitate the movement
and exchange of persons as well as of objects of cultural value so that Articles 2
and 3 may be implemented.
Article 5
Each Contracting Party shall regard the objects of European cultural value
placed under its control as integral parts of the common cultural heritage of
Europe, shall take appropriate measures to safeguard them and shall ensure
reasonable access thereto.
Article 6
1 Proposals for the application of the provisions of the present Convention and
questions relating to the interpretation thereof shall be considered at meetings
of the Committee of Cultural Experts of the Council of Europe.
2 Any State not a member of the Council of Europe which has acceded to the
present Convention in accordance with the provisions of paragraph 4 of
Article 9 may appoint a representative or representatives to participate in the
meetings provided for in the preceding paragraph.
3 The conclusions reached at the meetings provided for in paragraph 1 of this
article shall be submitted in the form of recommendations to the Committee of
Ministers of the Council of Europe, unless they are decisions which are within
the competence of the Committee of Cultural Experts as relating to matters of
an administrative nature which do not entail additional expenditure.
5 Each Contracting Party shall notify the Secretary General of the Council of
Europe in due course of any action which may be taken by it for the application
of the provisions of the present Convention consequent on the decisions of the
Committee of Ministers or of the Committee of Cultural Experts.
6 In the event of certain proposals for the application of the present Convention
being found to interest only a limited number of the Contracting Parties, such
proposals may be further considered in accordance with the provisions of
Article 7, provided that their implementation entails no expenditure by the
Council of Europe.
Article 7
If, in order to further the aims of the present Convention, two or more
Contracting Parties desire to arrange meetings at the seat of the Council of
Europe other than those specified in paragraph 1 of Article 6, the Secretary G
eneral of the Council shall afford them such administrative assistance as they
may require.
Article 8
Nothing in the present Convention shall be deemed to affect
a the provisions of any existing bilateral cultural convention to which any of
the Contracting Parties may be signatory or to render less desirable the
conclusion of any further such convention by any of the Contracting Par
ties, or
b the obligation of any person to comply with the laws and regulations in
force in the territory of any Contracting Party concerning the entry,
residence and departure of foreigners.
Article 9
1 The present Convention shall be open to the signature of the members of the
Council of Europe. It shall be ratified, and the instruments of ratification shall
be deposited with the Secretary General of the Council of Europe.
2 As soon as three signatory governments have deposited their instruments of
ratification, the present Convention shall enter into force as between those
governments.
5 The Secretary General of the Council of Europe shall notify all members of the
Council and any acceding States of the deposit of all instruments of ratification
and accession.
Article 10
Any Contracting Party may specify the territories to which the provisions of the
present Convention shall apply by addressing to the Secretary General of the
Council of Europe a declaration which shall be communicated by the latter to
all the other Contracting Parties.
Article 11
1 Any Contracting Party may denounce the present Convention at any time after
it has been in force for a period of five years by means of a notification in
writing addressed to the Secretary General of the Council of Europe, who shall
inform the other Contracting Parties.
2 Such denunciation shall take effect for the Contracting Party concerned
six months after the date on which it is received by the Secretary General of the
Council of Europe.
In witness whereof the undersigned, duly authorised thereto by their respective
governments, have signed the present Convention.
Done at Paris this 19th day of December 1954, in the English and French lan
guages, both texts being equally authoritative, in a single copy which shall remain
deposited in the archives of the Council of Europe. The Secretary General shall transmit
certified copies to each of the signatory and acceding governments.
Anexo 2
http://www.iidh.ed.cr/comunidades/libertadexpresion/docs/le_eu
ropeo/lopes%20gomes%20da%20silva%20v.%20portugal.htm;