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MaPa | Cartas para uma mãe

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MaPa | Cartas para uma mãe

“Sou aquela que abriu mão do trabalho, aquela que trabalha, aquela que deixa o fim de semana
com a avó. Aquela que não desgruda um só segundo querendo que todos nós fôssemos uma
coisa só. Sou a mesma que deixou comer no sofá mas que tantas vezes exigiu que só levant-
assem da mesa após todos terminarem a refeição. Eu sou aquela que chora, aquela que sorri.
Aquela que dorme pensando que está fazendo tudo errado, mas olha para o lado e vê que está
no caminho certo.
Eu sou aquela, eu sou ela. Eu sou todas elas. Eu sou a mãe real e a ideal. Eu sou a mãe que eu
sou e a que eu gostaria de ser.

Carta de uma mãe, para todas as mães.


Com carinho,
Mel Naves

Fotos por: Carolina Alves

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MaPa | Cartas para uma mãe

~ ~
As melhores maes nao tem filhos
Mãe é mãe. Em qualquer país, em qualquer cul-
tura. Independente do parto, se amamentou ou
não. Se deu bico ou não. Se faz cama compartil-
hada ou não. Não é nada disso que faz ser uma
mãe (ou não).

Mãe é mãe quando faz o melhor que pode. Não


comparado alguém, mas ao melhor do que ela
consegue ser.

Antes de ser mãe, somos todas mães perfeitas.


As melhores mães não têm filhos! As reais vivem
um dia de cada vez. Eu tinha todas as fórmulas
certas para fazer uma criança dormir a noite in-
teira em um mês. Eu condenava quem acostu-
mava a dormir mamando e ninar até dormir era
um absurdo! Eu achava besteira chorar quando
um bebê toma vacina porque afinal de contas, é
o melhor para ele.

Eu achava que as mães eram muito fracas


quando tinham filhos que faziam birras em um
supermercado. Eu tinha horror a criança man-
hosa e achava que faltava era pulso daquela
mãe. ‘Criança não tem que querer!’ Não me or-
gulho de já ter dito e acredito nisso.

Eu não entendia porque minhas amigas com


filhos pequenos não aceitavam meus convites
para passear. Eu não entendia porque aquela
amiga tão vaidosa estava sem fazer as unhas
e toda descabelada. ‘Cadê a vaidade?’Não sa-
bia o efeito no humor depois de várias noites,
meses, (anos?) sem dormir.

Eu não sabia o quão irritante é um palpite de


uma mãe perfeita. Principalmente quando ela
ainda não tem filhos. Por isso, peço desculpas
publicamente a todas as mulheres que tiveram
filhos antes de mim. E se você, que está lendo
esse texto se acha uma mãe perfeita, e ainda
não tem filhos, um dia talvez você entenda o
porquê.

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MaPa | Cartas para uma mãe

Eu sei
Eu sei que você dorme todas as noites pensan-
do que poderia ter sido uma melhor mãe. Sei
que você chora por aquele grito que foi dado,
e por palavras ditas, em momentos de descon-
trole. Eu sei querida mãe, que você se culpa
pela falta e não importa o que você faça, você
sempre acha que deveria ter feito um pouco
mais.

Sei que você acorda muitas vezes durante a


noite para conferir a respiração daquele cora-
ção que bate fora do seu peito. Sei, que não há
nada que você não faria para ver um sorriso na-
quele rosto, e, principalmente, faria tudo para
impedir uma lágrima de cair.

Eu sei que você lamenta não poder impedir


joelhos ralados e corações partidos. Sei que
gostaria de abolir todos os insetos do planeta e
gostaria muito de fazer desse mundo um mun-
do melhor para seu filho viver.

Eu sei que muitas vezes, o seu filho te perdoa,


mas você não.

O que talvez você não saiba, é que seu olhar


é de puro amor e, que não existe carinho mais
esperado que o seu. Suas mãos são como plu-
mas quando acariciam um bebê que dorme e
são como uma fortaleza ao segurar um filho
doente.

Você pode não saber, mas para o seu filho não


existe lugar melhor do que o seu colo. Você
não precisa ser perfeita para ser a melhor mãe
para o seu bebê.

Pode ser que você não saiba, mas os seus bei-


jos saram feridas; do corpo e da alma. E saiba,
que cada vez que uma mãe beija um filho, o
mundo fica um pouco melhor.

Talvez ninguém tenha dito a você, mas o seu


amor muda o mundo. É esse amor incompará-
vel que transforma e melhora pessoas. Nós só
podemos ensinar o amor amando. E isso, você
sabe fazer com maestria.

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MaPa | Cartas para uma mãe

Existem aqueles dias


Tem aquele dia que é fácil ser mãe. Você acor-
da bem. Nenhuma birra, nenhuma reclamação.
Isso não é o comum.

Esses são os dias raros, e você precisa apren-


der a lidar com os outros dias. Os dias raros,
acontecem poucas vezes no mês. Não dá para
ser feliz apenas nesses dias.

Existem aqueles dias.

Dias que você não dorme e precisa levantar e ir


trabalhar. Dias que você não dormiu e chora es-
condido pensando que já chegou no seu limite.

Aqueles dias que você não sabe o que fazer


ou falar. Dias que você sabe que o silêncio teria Se você faz o seu melhor, você é a melhor mãe
sido uma melhor resposta do que as palavras que poderia ser. Você é você e sua história.
indelicadas que você disse. Quando no fim do Você é a mãe que suas circunstâncias per-
dia você acha que disse mais nãos do que eram mitem que você seja. Você é a sua mãe, seu
necessários ou quando achar que faltaram al- pai, seus irmãos ou a falta deles. Você acorda
guns por cansaço. Aqueles dias que você se todos os dias querendo ser uma mãe melhor e
sentiu menos mãe por dar uma papinha indus- se deita contabilizando todos os erros que você
trializada ou por ter esquecido do bendito ban- julga imperdoáveis.
ho de sol.
Você é o seu pior carrasco. É você que aponta
Quando tudo está agitado do lado de fora, o os erros que ninguém vê. É você que se culpa
que resta é acalmar o lado de dentro. muito mais do que todos os outros.

Quando a impaciência começa a falar mais alto, Você é quem mais critica o quanto amamen-
fale para si mesma que você pode controlar tou, a forma como seu filho nasceu e questiona
suas emoções. Leia esse texto quando achar se ele é mesmo bem cuidado.
que todas as mães parecem ser melhores do
que você. Lembra de ter compaixão por si mesma? Lem-
bra do sorriso e das crianças felizes e amadas
que você está criando, isso vale mais do que
muitas caras feias antes de tomar banho. Lem-
bra de todos “eu te amo mamãe” que são ditos
em palavras, gestos ou olhares.

Nenhuma função é mais especial e difícil do


que a sua. Sua função maior como mae é amar!

Você parece boa mãe... e é mesmo!

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MaPa | Cartas para uma mãe

Quem e´ voce?
^

Quem é você que não reconheço quando olho


no espelho? Você não tem o corpo que tinha
antes de engravidar, também não tem o corpo
reluzente da gravidez.

Seu corpo já não brilha, suas curvas se foram.


A barriga que até poucos meses era ostenta-
da com orgulho, se foi. Mas não totalmente,
só uma parte dela. Mas se fosse só do lado de
fora.... Quem é você que não reconheço quan-
do olho para dentro?

Vejo você se organizando e reorganizando o


tempo todo. Vejo você buscando... vejo seu
sorriso sincero que supera as olheiras marca-
das. Vejo seu coração vulnerável. Vejo lágrimas
que saem facilmente que, às vezes, nem você
sabe identificar o motivo; mas às vezes você
sabe sim.... Não é?

Vejo seu cansaço impregnado, vejo paz, vejo


tumulto, vejo amor, vejo dor, vejo tudo. Existe
agora um universo dentro de você.
Percebo que os barulhos que não te incomo-
davam agora são altos demais, mas o silêncio
absoluto também não te agrada.

Eu sei.... As mudanças no corpo são mais fáceis


de manejar. E as da alma, as do ser? Paciên-
cia. Tenha paciência mulher, menina, filha, mãe,
esposa, profissional. Dê tempo para todas suas
personagens se fundirem em uma só.

Desista de querer ser aquela que foi, você retor-


nará uma outra. Mais forte, mais linda. Exalando
toda uma beleza que nem todos conseguirão
ver. Mas esqueça os outros! É você quem pre-
cisa aprender a se conhecer e a reconhecer
sua nova versão.

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MaPa | Cartas para uma mãe

^
Aprenda a ser felizcom um bebe no colo
Durante algum tempo, você estará, quase
sempre, em pé, com um bebê no colo. Quando
seus braços doerem seu coração cheio ameni-
zará dores físicas.

Aprenda a tomar banho com um carrinho no


banheiro. Aprenda que shoppings e pracinhas
são bons lugares para empurrar um carrinho.

Bebês costumam ficar maravilhados em shop-


pings e na hora do cochilo você pode pedir um
cappuccino e ver a vida passar. Na pracinha,
você conhecerá outras mães e seu mundo não
ficará tão solitário. Conversar com um adulto
faz falta durante o dia! Entenda que palpites indesejados sempre ex-
istem, não importa quantos filhos você tenha.
Aprenda a gostar de sapatilhas. Aprenda andar Mas entenda também que isso não deve aca-
com carteira e celular. Aprenda a ser prática. bar com o seu dia e tirar o seu sorriso do rosto.
Aprenda a assistir filme em pé, ou enquanto Aprenda a fazer cara de paisagem.
amamenta naquela tarde fria.
Aprenda a ser feliz com poucas horas de sono.
Aprenda o que significa Cinematerna e descu- Essa é a sua situação por um tempo indefinido
bra que existem programas específicos para e nem você, nem seu marido e nem seu bebê
quem tem crianças pequenas. Aprenda a jantar merecem um mau humor diário. Leia piadas na
em um restaurante com um bebê conforto na internet se preciso for!
mesa. Aprenda a fazer a manicure empurrando
o carrinho com o pé. Aprenda a ler no celular Quando acordar, escove os dentes, penteie o
os livros que vocêgostaria mesmo era de tê-los cabelo, tire o pijama e passe um batom. Acred-
no papel. ite, isso fará maravilhas no seu dia!

Aprenda a escutar suas músicas preferidas Aprenda a ser feliz com um bebê no colo. En-
e dançar para o bebê. Quando a casa parece tenda que você precisa adaptar sua vida para
grande, dançar espanta os males, e diverte continuar a fazer as coisas que gosta, e, muitas
muito aquela pessoinha que não tira os olhos vezes precisará encontrar outras coisas para
de você. Acredite, ele não se importa em dar gostar. Mas você não precisa esperar o bebê
um tempo na galinha cheia de pintinhas. crescer para ser feliz. Aprenda, reaprenda.

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MaPa | Cartas para uma mãe

Eu sou aquela
Eu sou aquela. Aquela mãe que você viu rec- Eu... eu sou aquela que superestimula. “Por que
lamar das noites sem dormir na fila do pão. Eu essa pressa para ver a criança crescer? ” Al-
sou a mesma. A mesma que você viu toda or- guém disse. Mas péra! “Essa criança não está
gulhosa caminhando pelo shopping, sabe-se demorando demais para andar? ” Alguém disse
lá como segurando três crianças, com apenas também: Como é que isso pode ser? Como
duas mãos. posso ser a que superestimula e é relapsa ao
mesmo tempo? Depende dos olhos de quem
Eu sou aquela mãe que se sente culpada quan- vê.
do sai cedo e chega tarde do trabalho. Aquela
mãe que faz as unhas no sábado, porque pre- Eu sou aquela que esqueceu o horário do remé-
cisa daquele momento só dela. A mesma que dio, fingiu que esqueceu a hora de escovar os
faz piquenique depois da aula. dentes. Mas que engraçado, sou a mesma que
conta historinhas, faz relaxamento e fica obser-
Eu fui aquela que você escutou perdendo a vando, sem pressa, uma criança dormir.
razão, também sou a mesma que estuda psi-
cologia infantil todos os dias antes de deitar. Eu Sou aquela que abriu mão do trabalho, aquela
sou aquela que você apontou o dedo devido que trabalha, aquela que deixa o fim de sema-
à nossa alimentação. “Muito sódio! ” Será que na com a avó. Aquela que não desgruda um só
essa é mesmo a questão? segundo, querendo que todos nós fôssemos
uma coisa só.

Sou a mesma que deixou comer no sofá, mas


que tantas vezes, exigiu que só levantassem da
mesa após todos terminarem a refeição.

Eu sou aquela que chora, aquela que dá gar-


galhadas. Aquela que dorme pensando que
está fazendo tudo errado, mas olha para o lado
e vê que está no caminho certo. Eu sou aquela,
eu sou ela. Eu sou todas elas. Eu sou um pouco
de você.

Mas veja só, que engraçado! Sou a mesma


que se esforça para fazer lanches divertidos e
nutritivos, aquela que faz papinhas com muita
salsinha e cebolinha,
porque leu que tem muito ferro, e aproveita
também para colocar sempre uma boa dose
de afeto no macarrão.

Eu sou aquela que você acha que fica muito


tempo no celular. Sou a mesma que larga tudo
para brincar de comidinha. Mas essa, ninguém
vê, não é?

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MaPa | Cartas para uma mãe

Sinta!
Se eu pudesse dar um só conselho para uma
mãe de primeira viagem seria: Sinta! Sinta as
dores e as delícias dessa nova vida.

Sinta o útero vazio, o corpo sobrando es-


paço. Sinta o coração preenchendo, deixe-se
preencher. Sinta o silêncio da madrugada, sinta
o barulho do choro de um recém-nascido. Sin-
ta a água do chuveiro caindo nesse corpo que
você ainda não reconhece. Sinta a
emoção de olhar nos olhos de um bebê e ver
uma parte sua lá dentro. Sinta a completude de
uma alma que, apesar de ter um corpo cansa-
do, emana vida.

Sinta os novos cheiros, o leite, o suor, as colônias


de bebê. Chegue perto do seu bebê, feche os
olhos e sinta… Todas as vezes que puder, sinta
o cheiro da cabecinha suada ou do bafinho de
leite. Você vai lembrar desse cheiro por toda
a sua vida.

Sinta o desespero de não saber o que faz-


er, sinta a mudança de filha para mãe. Sinta
as mudanças, sinta o amor, a dor, a vida. Sin-
ta o momento sem querer apressar o tempo:
acredite, ele já passa rápido demais. Sinta a
responsabilidade, sinta o peso e a bênção da
palavra mãe. Permita-se sentir, não passe por
nenhum dia com os olhos fechados. Sinta.

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MaPa | Cartas para uma mãe

~
Ter um filho e´ diferente de ser mae
Depois de um tempo você entende que ter um
filho, é diferente de ser mãe. Simples e com-
plicado assim. Muitas mulheres têm filhos, mas
nem todas são mães. Ser mãe exige uma en-
trega que nem todas querem (ou conseguem)
alcançar. É preciso esquecer um pouco de
si, misturar um pouco com a criança e dessa
condição nascer um novo ser.

Ser mãe é ter aquele peso nas costas te lem-


brando o tempo todo que você é responsável
por outra vida. Não dá para ser mãe e não ter
sempre uma preocupação no cantinho do ol-
har. É por isso que conseguimos identificar
sempre a maternidade no olhar de uma mãe.

Dizem: ela tem cara de mãe. E ter um filho? Ter


um filho não. Uma mulher pode ter um filho e
continuar a mesma que sempre foi. Mas ser
mãe te transforma, muda seu domingo, muda
suas falas, muda suas prioridades e suas von-
tades. Ter um filho não muda ninguém, ser mãe
muda todo o seu ser. Ter um filho pode aconte-
cer sem planejar, mas ser mãe é sempre uma
escolha. Uma decisão.

Você decide ser mãe. Não precisa ser uma de-


cisão declarada para que os outros escutem,
mas lá dentro do seu coração quando você de-
cide de verdade, existe uma voz que grita em
silêncio: eu sou mãe.

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MaPa | Cartas para uma mãe

^ ~
Tres coracoes fora do corpo
~
Tenho três corações que batem fora do meu
corpo. Tenho seis pulmões que respiram o ar
que eu preciso para sobreviver. Tenho seis ol-
hos que mostram o que eu quero e o que eu
não quero ver. Vejo com mais clareza minha
força, mas também minhas fraquezas e minhas
aflições.

Vejo um mundo que não gosto de tudo que


vejo e por isso tento melhorá-lo do jeito que
posso.

Tenho seis ouvidos que nem sempre conse-


guirei selecionar o que ouvem.

Tenho três bocas que poderão falar aquilo que


não quero ouvir. Tenho seis pés que um dia pis-
arão onde os meus nunca chegaram.

Tenho seis mãos que tocarão o que eu nun-


ca toquei, que ainda irão segurar uma caneta,
para escrever o que eu não penso ou casar
com quem eu não aprove.

Essas mãos abrirão maçaneta para um mun-


do que talvez eu não queira estar. Mas tenho
um colo, um abraço e um eu te amo que será́
sempre sincero. Um.

Mas que tem dimensões infinitas. Não tenho


pretensão de que elas sejam minhas cópias
e nem que realizam sonhos que não realizei.
Um dia acreditei que não existia amor incondi-
cional, hoje garanto e sei que o meu é. Elas
serão aquilo que quiserem ser, e, meu amor
continuará sendo sempre uma certeza onde
quer que eu ou elas estejam.

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MaPa | Cartas para uma mãe

Voce^ viu?
É, você viu. Você me viu impaciente no mer-
cado e achou que tinha entendido tudo. Não,
você não entendeu nada. Você não sabe nada
sobre meus esforços para amenizar aquele es-
tressante dia.

Você viu minha filha comendo batatinha frita


com milk-shake no shopping e acha que en-
tendeu tudo. Não, você não entendeu nada.
Você não sabe que esse é um ‘deslize’ depois
de ter comido frutas e verduras a semana toda.
Você não conhece nossa preparação dos ali-
mentos, você não me vê estudando sobre ali-
mentos que aumentam a imunidade.

Você não conhece minhas lutas para alimen-


tar todos de uma forma saudável todos os
outros dias que você não viu. Você achou que
minha filha não estava falando direito. Falta
de estímulo! Você tinha certeza que era isso.
Não, você não entendeu nada. Você não sabe
quantos livros e atividades inventei para aquela
criança. Você não sabe quantos profissionais já Não, você não entendeu nada. Você não sabe
procurei. o que a amamentação significa para mim e
para essa criança. Você viu meu filho choran-
Você viu meu bebê de 2 anos mamando e do quando eu fui trabalhar. “Que dó dessa cri-
acha que entendeu tudo. Você agora tem cer- ança!” Foi o que você pensou. Você não con-
teza que é por isso que ele ainda não dorme a siderou pensar “Que dó dessa mãe?!” Então
noite toda. não, você não entendeu nada. Você não sabe
dos motivos que me levaram a trabalhar.
É, você viu. Você acha que viu. Você na ver-
dade só vê o que o seu olhar permite enxer-
gar. Você não vê nem metade.

Você não consegue ver a história inteira. En-


tão, não, você não viu. Como poderia? Você
não sabe o que veio antes e também não sabe
o que virá depois. Mas se sente totalmente no
direito de achar que entendeu tudo.

Não... você não entendeu nada. É preciso mui-


to mais do que “passar” por alguém para en-
tender alguma coisa.

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MaPa | Cartas para uma mãe

Fortaleza dentro de um abraco

~
Espero que o tempo só fortaleça nossa amiza-
de e que a fortaleza que existe dentro do nos-
so abraço nunca se perca. Lá na frente, que eu
continue sendo alguém com quem vocês que-
iram conversar. Eu quero poder falar de arte,
ciência, história... mas principalmente saber o
que passa em seus corações.

Quando entenderem que não sou perfeita e


que a imperfeição é o que une todos os nós
da vida, espero ser alguém que queiram ter ao
lado em uma fotografia... ou de uma poltrona
do cinema.

Eu sei, que vai chegar o dia, que vão parar de


dizer que querem morar comigo para sempre.
Nesse dia, quero continuar presente nas suas
lembranças e nas tantas viagens que estare-
mos juntas.

Quando não mais quiserem me contar as mu-


siquinhas que aprenderam na escola, eu ainda
quero ouvir a mesma história ainda que repeti-
das vezes.

Daqui alguns anos, as historinhas antes de


dormir não serão mais esperadas, mas sei
que elas estarão guardadas em um lugar es-
pecial nos nossos corações. E mesmo que a
presença não seja uma constância, eu esta-
rei sempre em vocês e vocês sempre serão a
melhor parte de mim. E se alguém falar, que
não existe amor incondicional, poderão dizer
com toda certeza: o da minha mãe é.

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MaPa | Cartas para uma mãe

Sobre revisitar momentos

O que eu queria mesmo era poder revisitar


momentos. Queria ver olhinhos abrindo pela
primeira vez, ouvir o primeiro choro abrindo os
pulmões para a vida.

Ah... o primeiro mamãe de uma história, aquela


gargalhada que inunda a casa de vida. Devería-
mos ter o direito de atravessar o tempo para
viver novamente momentos que outrora faltará
leveza, mais graça e principalmente sabedoria.

Quando lembro do pós-parto, de todos os


meus pós-partos... sempre fica uma ponta de
pesar, algo que deveria ter importado menos
ou algo que deveria ter olhado mais. rir daquilo tudo também.
Sobrou panos e desinfetante, faltou cos-
Sempre parece faltar um olhar mais vibrante, quinha. E tanto mais sei que faltará. Tentaram
mais demorado, mais desarrumado talvez. E se me dizer, “você vai sentir saudade”. Eu sabia.
fosse só o pós-parto... Mas não. Não é. Não po- Eu sei. Mas continuo me esquecendo.
demos culpar o puerpério e deixar nele todas
as nossas mazelas. Você sabe que não. Não é? Hoje não me preocupo com as fraldas, pap-
inha ou algo que já vivi. Mas será mesmo que
Para que mesmo tantas lamentações, tantos tenho que perder a paciência com essa mania
dizeres de “só minha filha não dorme”, para que de pedir comida toda hora? Ou com essa
aquelas paredes no escuro? Faltou respirar enrolação na hora do banho. Não. Eu não ten-
mais junto, faltou aspirar o cheiro que só uma ho. Sobra espuma, falta calmaria.
criança exala na madrugada.
Deveríamos ter o direito de nos revisitar. Não
Precisava daquela ansiedade para aceitar a qualquer eu, nosso eu mais sábio e mais vivi-
papinha? Faltou achar graça daquilo. Sobrou do. Eu queria receber minha visita com todos
comida e receitas, mas faltou uma dose de hu- os filhos adultos, queria visitar a mãe de pri-
mor para aquilo que vivia. Sobre as fraldas? Eu meira viagem que um dia fui. Talvez levaría-
já sabia que ninguém chegaria a maioridade mos mais a sério essa certeza de que o tempo
de fraldas. passa rápido e que sim... vamos sentir falta de
tudo isso. Inclusive do leite derramado no sofá
Então porque aquele desespero, aquela frase ou de finalizar aquele desenho porque já era
rude devido a um xixi no tapete da sala? Faltou hora do jantar.

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MaPa | Cartas para uma mãe

´ ou fadas
Princesas, bruxas,plebeias
Eu quero que elas saibam que poderão ser
princesas; ou não. Poderão ser plebeias, brux-
as, fadas, sereias sem que tenham que abrir
mão do que verdadeiramente são. Um dia
quero que entendam que podemos vestir
várias personagens sem que isso nos carac-
terize como contraditórias. Mas se caracterizar,
o que é que tem?

Quero que saibam que não são menores nem


piores porque são mulheres. Também não es-
pero que pensem que são melhores. Quero
que saibam que são iguais e devem lutar pelos
mesmos direitos. Quero que sejam fortes para
um mercado competitivo de trabalho, mas
que tenham forças também para ficar em casa
se assim desejarem.

Eu espero que quando chegar a hora de de-


cidirem seu caminho seja diferente do que é
agora, onde toda e qualquer escolha de uma
mulher é julgada. Quero que entendam que
lugar de mulher é onde ela quiser. Se quiser-
em pilotar um avião ótimo, mas se quiserem
pilotar um fogão é legal também.
Vou ensinar que não se deve depreciar uma
mulher porque ela quer ser jogadora de fute-
bol ou lutadora de boxe, nem tampouco bai-
larina ou dona de casa. Vou ensinar que não
se deve depreciar uma mulher em circun-
stância nenhuma. Vou ensinar que poderão
ter 12 filhos, mas se decidirem que não quer-
em nenhum está tudo bem. Se quiserem se
casar ótimo, se não quiserem bom também.
Não é um marido (ou a falta dele) que definirá
a felicidade de nenhuma delas; é o que es-
pero.

Quero que entendam que solteirona e soltei-


ra possuem o mesmo significado e o que
muda é o coração e a cultura de quem diz.
Elas poderão decidir seu estado civil sem que
haja pressão para isso e saberão que ter um
sobrenome a mais não pode mudar quem
são. Poderão morar conosco a vida toda ou
poderão sair de casa aos 20 anos sem que
seu passaporte para sair seja um casamento.
Espero que não sintam que precisam fugir de
casa E acima de tudo quero que sejam feliz-
es e que não tragam infelicidade a ninguém.
Que possam ter coragem para defender
quem são.
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MaPa | Cartas para uma mãe

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Eu nao tenho saudades da minha barriga
Eu não tenho saudades da minha barriga, nem Eu não tenho saudade da barriga, mas tenho
tampouco dos meus pés inchados. Mas tenho saudade da expectativa, dos momentos antes
saudade do caminho que ambos me levavam. e durante o ultrassom, dos calafrios, da visu-
Eu tinha um andar sereno, eu não tinha pressa. alização de um rostinho que nunca antes foi
Eu muitas vezes parei para observar o tempo só visto.
para permanecer ali.
Eu não tenho saudades da barriga, mas tenho
Eu não tenho saudade da minha barriga e do saudades de poder proteger, abrigar e abraçar
peso que elas causavam em minhas costas. inteiramente alguém com o meu corpo. Não,
Mas tenho saudade daquela força singular que eu não tenho saudade da barriga. Mas tenho
só uma barriga me dava. saudade dela se movendo enquanto alguém
fazia do meu corpo seu lar. Tenho saudades
Posso falar? Eu não tenho saudades da minha de ter minha barriga tão nobre quanto o meu
barriga e toda a avalanche hormonal que ela coração.
me trazia. Mas sinto vontade de me sentir tão
a flor da pele como só uma grávida pode sentir Eu...? Eu não tenho saudades da minha barriga.
sem ser julgada. Será? Hoje sou alguém que já teve três barri-
gas e hoje possui 4 corações.

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MaPa | Cartas para uma mãe

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Para voce e´ colo, para crianca e´ abraco

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Para você é colo, para criança é abraço. E não Precisamos lembrar que necessidade de colo
envolvemos uma criança com os braços quan- tem um tempo muito reduzido na vida de um
do estamos com ela no colo? Colo é fundamen- indivíduo. Já viu um adolescente solicitando
tal na construção do vínculo da criança com colo para dormir! “Ah, mas assim vai ficar mal
seu cuidador. Não há nada mais semelhante do acostumada!” Que bom seria que todas as
que o útero materno, do que o aconchego de crianças pudessem ficar acostumadas com o
um colo. É no colo materno que uma criança carinho e amor que temos a oferecer.
sente as batidas do coração e o cheiro já con-
hecidos por ela. Amor e falta de limites são coisas totalmente
distintas, e amor não “estraga” ninguém. O que
E algumas pessoas ainda questionam, “mas “estraga” é essa necessidade que a sociedade
meu bebê só se acalma no colo em movi- impõe de uma independência de afeto cada
mento”. Isso geralmente acontece com bebês vez mais precoce.
menores. Ora, mas não era sempre movimento
que o bebê permanecia no útero!? Ficar para- Ao contrário do que propagam por aí, a ciên-
do desorienta os bebês, mas aos poucos isso cia já mostrou que crianças que se sentem se-
vai se perdendo e a criança se adapta à nova guras e acolhidas possivelmente se tornarão
condição. adultos seguros e acolhedores.

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MaPa | Cartas para uma mãe

Obrigada
pela leitura!

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