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Barroco

A ceia em Emaús (1600-1601), de Caravaggio, retrata o momento


em que Jesus se apresenta a seus discípulos, após a Ressurreição

Contexto histórico 
Durante o Renascimento o homem adquiriu autoconfiança, se tornou senhor da terra, mares, ciência e arte;
libertou-se aos poucos da fé medieval.
Essa libertação foi acompanhada principalmente pela Reforma Protestante que atingiu diretamente à igreja.
O Barroco corresponde à segunda etapa da Era Clássica, iniciou-se no fim do século XVI, teve seu ápice no século
XVII, e se prolongou até o início do século XVIII. O movimento surgiu como uma forma de reagir às tendências
humanistas, tentando reencontrar a tradição cristã.
Vivia-se a revolução comercial, a política econômica era o mercantilismo. A burguesia detinha o poder
econômico. O Estado absolutista se consolidava, esse sistema era voltado para atender às necessidades da
burguesia.
O século XVII foi marcado pelos reflexos das crises religiosas, essas ocorreram no século anterior, dentre as quais
se destacam a Reforma Protestante e a Contra Reforma.

Reforma Católica
Em meio a diversas reformas que aconteciam no continente europeu, a reforma católica começa a ganhar força
entre os anos de 1545 e 1563. Naquele período ocorria o Concílio de trento, que tinha o objetivo de afirmar de
forma mais enfática a disciplina eclesiástica e a unidade da fé católica.
De acordo com o historiador Martin Dreher, no livro "Crise e Renovação da Igreja no Período da Reforma"
(editora Sinodal): "Se antes do Concílio de Trento a autoridade, e inclusive, a continuidade do papado pareciam
estar em jogo, ao final do concílio a autoridade papal estava confirmada. Esse dado se espelha principalmente no
fato de que o concílio solicitou ao papa a confirmação de suas decisões e sua execução. O papado recuperava a
função de autoridade das consciências”.
Entre as decisões do concílio estavam a reorganização do Tribunal do Santo Ofício, criação da Companhia de
Jesus . Além disso, foi aumentado o incentivo à catequização dos nativos do Novo Mundo, adoção da Vulgata
como forma oficial de tradução bíblica e reafirmação de valores como o celibato pontifício e a autoridade do
papa. De acordo com alguns historiadores, essas decisões foram uma reação ao luteranismo.
Entre outras reafirmações encontradas na Reforma Católica, está a preservação da representação de santos por
meio de imagens que eram cultuadas. O Barroco se torna um grande aliado da Igreja neste aspecto, ajudando a
ampliar o sentimento dos católicos por meio de obras de arte. Nessa época  são criados os seminários no intuito
de investir na educação intelectual dos bispos que, antes da contrarreforma, levavam uma vida sem regras e de
muitos excessos.
Entre as organizações que mais se destacaram na efervescência católica do século XVI, destaca-se a Companhia
de Jesus. Com sua fundação no ano de 1534, foi responsável por grande trabalho educacional e missionário em
escala mundial, principalmente no Novo Mundo. A companhia foi criada por Íñigo López de Loyola junto a alunos
da Universidade de Paris.
Os integrantes da Companhia de Jesus
ficaram conhecidos como jesuítas,
que eram missionários extremamente
empenhados, com ampla formação
intelectual e posições severas perante
aos assuntos religiosos. Por meio
deles, a fé da Igreja Católica foi
disseminada na África, Ásia e América,
continentes em que realizavam a
catequese dos índios e ajudavam a
manter acesa a fé dos colonizadores.
São Domingos e
A Contrarreforma foi um movimento de reação da Igreja Católica ao surgimento de novas doutrinas cristãs na
Europa, em um processo conhecido como Reforma Protestante. Após perder o poder religioso, econômico e
político nos reinos alemães e na Inglaterra, além da diminuição da influência nos Países Baixos, França, Áustria,
Boêmia e Hungria, a Igreja Católica reagiu, e de forma repressiva.
Uma das primeiras medidas foi a criação da Companhia de Jesus. Ordem religiosa dos jesuítas, a Companhia de
Jesus foi fundada pelo militar Inácio de Loyola e era organizada de forma semelhante a um exército. A estrutura
hierárquica era rigidamente respeitada, tendo em seu cimo o superior da ordem e o papa.
A principal função da ordem era buscar o fortalecimento da Igreja através de ações disciplinares e moralizantes.
Os jesuítas foram a partir daí um dos principais divulgadores da doutrina católica, em razão principalmente do
papel de educadores por eles desempenhado.
Entre 1545 e 1563 foi realizado o Concílio de Trento, na Itália. Esse encontro das principais autoridades católicas
(e também alguns teólogos protestantes) tinha por objetivo redefinir o posicionamento da Igreja em relação à sua
doutrina religiosa, bem como encontrar meios de frear o avanço do protestantismo pela Europa.
Dentre as medidas tomadas no Concílio de Trento houve um recuo em relação às críticas dos protestantes: foi
proibida a venda de indulgências e também foi decidido pela criação de seminários. Esta última instituição seria
responsável pela formação eclesiástica do clero, buscando evitar, dessa forma, a venda de cargos na Igreja.
Por outro lado, o que ocorreu foi a afirmação dos dogmas religiosos católicos. O princípio da salvação pela fé e
boas obras foi mantido, mesmo após as críticas de Martinho Lutero. O culto à Virgem Maria e aos santos foi
reafirmado, bem como a existência do purgatório. A crença católica manteria as duas origens: a Bíblia e as
tradições transmitidas pela Igreja Católica.
A constituição de um catecismo para doutrinar as crianças estava também entre as medidas adotadas. A
infalibilidade do papa, ou seja, a noção de que o papa era infalível em questões religiosas e morais, foi reforçada,
assim como o dogma da transubstanciação, através do qual se acreditava que o pão e o vinho transformavam-se
em corpo e sangue de Cristo.
O Tribunal do Santo Ofício, a Inquisição, foi reativado para poder perseguir os praticantes das doutrinas cristãs
protestantes. Milhares de pessoas foram torturadas e muitas mortas. Grandes expoentes da ciência mundial,
como Galileu Galilei, foram julgados como heréticos em decorrência de suas pesquisas, como a de a Terra girar
em torno do Sol. Galileu foi obrigado a renegar suas próprias ideias para fugir da morte na fogueira.
Uma lista de livros proibidos foi criada, em uma época em que a imprensa criada por Gutemberg havia facilitado a
difusão da cultura escrita. O Index Librorum Prohibitorum indicava os livros que eram proibidos aos católicos, tais
como O Elogio da Loucura, de Erasmo de Roterdã; o Decameron, de Boccaccio; obras de Maquiavel, Newton,
Copérnico, bem como livros luteranos e calvinistas. O Index era constantemente atualizado e foi extinto apenas
quatro séculos depois, em 1966.
Com a Contrarreforma, a Igreja Católica conseguiu conter o avanço do protestantismo em alguns países,
principalmente na Itália, Espanha e Portugal. O fato de esses dois últimos países empreenderem as Grandes
Navegações e colonizarem a América fez com que a maior parte do novo continente fosse cristianizada, dando
novo fôlego ao catolicismo. Os jesuítas foram os principais sujeitos dessa cristianização, que contou com a luta
contra a cultura indígena, a exploração do trabalho deles e também com a morte de milhares de habitantes do
Novo Mundo.
Reforma Protestante
No século 16, na Europa central, foi iniciado um movimento de renovação da Igreja cristã denominado Reforma
Protestante. Já no final da Idade Média vários fatores contribuíram para que isso ocorresse: a formação dos
Estados Nacionais ou as modernas nações europeias, com toda a descentralização política e com príncipes
limitando a autoridade do Imperador e com forte tensão entre o Estado e a Igreja.
O poder do papado entrou em declínio, ocorreram confrontos com reis, divisões entre os próprios clérigos e a
necessidade de reforma. Houve um Grande Cisma e até mesmo 3 papas rivais em lugares diferentes, de 1378 a
1417. O movimento Conciliar buscou solução para a crise numa tentativa fracassada de democratizar a Igreja e
governa-la por meio de concílios. Os movimentos dissidentes na França acarretaram forte oposição e a  Inquisição
fora oficializada em 1233.
Nos séculos 14 e 15 alguns movimentos esporádicos de protestos surgiram contra os ensinos e práticas da Igreja
medieval e alguns líderes foram chamados de pré-reformadores: João Wycliff(1325-1384), João Huss (~1372-
1415) e Jerônimo Savonarola (1452-1498), por combaterem irregularidades e imoralidades do clero, condenar
superstições, peregrinações, veneração de santos, celibato e as pretensões papais. Também outros movimentos
romperam com a Igreja, os movimentos devocionais como o misticismo, a Devoção Moderna dos Irmãos da Vida
Comum. Também nasceu o interesse em estudar as obras da Antiguidade pelos Renascentistas e isso levou alguns
“humanistas bíblicos” ao estudo da Bíblia nas línguas originais.
Muita convulsão política, social e religiosa havia no final da idade
média, revoltas dos camponeses, guerras, epidemias, o declínio
do feudalismo e da liderança dos Papas e da Igreja. A população
se ressentia dos abusos da Igreja e da sua falta de propósitos e
corrupção.
Muita violência, baixa expectativa de vida, contrastes e
desigualdades sociais e econômicas às vésperas da Reforma,
havia até mesmo certa revolta com a chamada “matemática da
salvação” ou religiosidade contábil que tratava pecados como
débitos e as boas obras como créditos e a venda de
“indulgências” para perdão das penas temporais do pecado.

Martinho Lutero. Pintura de Lucas Cranach the Elder (~1529).

Quando o dominicano Tetzel foi vender indulgências em Wittemberg, Martinho Lutero (1483-1546), se


pronunciou contrário. Lutero, natural de Eisleben, ingressou no mosteiro de Erfurt e tornou-se professor na
Universidade de Wittemberg. Diante das indulgências, ele afixou na porta da Igreja da cidade, em 31 de outubro
de 1517, 95 Teses ou convites para o debate na comunidade acadêmica, desafiando a autoridade da Igreja. Por
isso, foi acusado de heresia e chamado a Roma, em 1518, mas recusou-se a ir e manteve suas posições. Em 1519,
participou de debate e afirmou que o “infalível” Papa podia errar.
Em 1520, recebeu uma “Bula papal” para retratar-se ou seria excomungado. E Lutero, estudantes e professores
de Wittemberg queimaram a Bula em praça pública. Também escreveu livros e tornou-se popular e notório em
toda a Europa. Em 1521, na Dieta de Worms, Lutero reafirmou suas ideias e precisou se refugiar no castelo de
Wartburg sob proteção de um príncipe-eleitor. Ali Lutero traduziu a Bíblia para o alemão e a “reforma luterana”
se espalhou rapidamente, com o apoio de vários principados alemães, por todo o sacro Império.
Mas, houve forte oposição católica às novidades luteranas. Em 1526, houve certa tolerância. Mas, como em 1529
acabou essa política conciliadora, os líderes luteranos fizeram um “protesto” formal de apoio a Lutero e isso deu
origem ao nome histórico “protestantes”. O auxiliar de Lutero, Filipe Melanchton (1497-1560) apresentou ao
Imperador a “Confissão de Augsburgo”, defendendo a doutrina luterana (21 artigos) e indicando 7 erros da Igreja
Romana.
Ocorreram guerras político-religiosas entre católicos e protestantes, de 1546 a 1555, findando com o tratado de
“Paz de Augsburgo”, reconhecendo a legalidade do luteranismo como religião oficial de um território cujo
príncipe a adotasse como tal. O protestantismo se espalhou pela Suécia, Dinamarca, Noruega e Islândia. Foram
defendidos princípios básicos que caracterizaram as convicções e práticas protestantes: os cinco “Solas”: Sola
Scriptura (somente as Escrituras), solus Christo (salvação somente em Cristo), sola gratia (salvação somente pela
graça divina), sola fides (salvação somente pela fé), soli Deo gloria (glória dada somente a Deus), além do
sacerdócio universal dos cristãos.

João Calvino. Data e autor desconhecidos

O grande reformador do século 16 foi João Calvino (1509-1564), francês que se refugiou em Genebra,
estudou teologia e humanidades, Direito. Esteve em Genebra por duas vezes, de 1536 a 1538, e de 1541 até ao
final de sua vida. A cidade se tornou o grande centro do protestantismo e preparou líderes para toda a Europa,
além de abrigar muitos refugiados das guerras religiosas. O calvinismo foi o mais completo sistema teológico
protestante e originou as Igrejas Reformadas (Europa continental) e presbiterianas (Ilhas britânicas).
A Reforma Protestante ocorreu na Inglaterra com a atuação de refugiados que voltaram de Genebra.
Contribuíram também, o anticlericalismo dos ingleses, os ensinos luteranos desde 1520, a tradução da Bíblia para
o inglês. Mas, principalmente o rei Henrique VIII (1491-1547), com seus muitos casamentos e desentendimentos
com o catolicismo, até que seu sucessor Eduardo VI (1547-1553) e seus tutores implantaram a Reforma no país e
cessaram as perseguições. Sintetizaram as doutrinas luteranas e calvinistas, além dos traços da liturgia católica e,
no reinado de Elisabeth I, a Inglaterra tornou-se oficialmente protestante, criando a Igreja Anglicana.
Na Escócia, o protestantismo foi introduzido por John Knox, discípulo de Calvino, e criou o conceito político-
religioso de “presbiterianismo”, com igrejas governadas por oficiais eleitos pela comunidade, os presbíteros, livres
da tutela do Estado.
De fato, esses protestantes não queriam inovar, mas restaurar antigas verdades bíblicas que a Igreja havia
esquecido ou trocado por suas tradições humanas. Valorizaram as Escrituras, a salvação pela graça divina e pela
fé somente, sem as obras
Contrarreforma
Após o surgimento do protestantismo, em 1517, houve a reação chamada de Contrarreforma, um esforço
teológico, político e militar da Igreja Romana para se reorganizar e também confrontar o protestantismo que se
espalharia pela Europa toda. Houve guerras e muitos conflitos entre católicos e protestantes, por décadas, até
com a Guerra dos Tinta Anos, envolvendo metade da Europa, e só terminando com a Paz de Vestfalia, em 1648
que encerrou o período da Reforma e demarcou os territórios e fronteiras políticas e religiosas das duas vertentes
do cristianismo.
No século 16, quando ocorreu essa Contrarreforma ou também chamada de a Reforma Católica, o catolicismo fez
um esforço ingente para responder às críticas dos protestantes e demais grupos opositores. Na Espanha, houve
movimentos místicos como o da teóloga e primeira doutora da Igreja, Teresa de Ávila, e de João da Cruz, com sua
espiritualidade mística. Com Inácio de Loiola (1491-1556), deu-se a criação da Companhia de Jesus – os jesuítas
que objetivava expandir e fortalecer o catolicismo e suplantar o protestantismo. Deste modo, as ordens
franciscana, dominicana e jesuíta foram muito importantes para a reação católica e realizaram grandes obras
missionárias neste período, no Oriente e nas Américas.
A Contrarreforma ficou marcada pela realização do Concílio de Trento, entre 1545 e 1563, com algumas séries de
sessões, e que foi muito eficaz para a Reforma Católica. Seus efeitos foram violentos e determinantes para a
rejeição explícita ao protestantismo, a oficialização do Tomismo ( de São Tomás de Aquino) e da Vulgata (versão
latina da Bíblia), a condenação de livros apócrifos ou deuterocanônicos, a divulgação de uma lista de livros
proibidos – o Index Librorum Prohitorum (de 1559) e a Inquisição.
Assim, a Contrarreforma foi a resposta da igreja católica nos séculos 16 e 17, quando o catolicismo tomou
medidas para sua reorganização, para reavivar a fé e a disciplina religiosa. Suas ferramentas mais eficazes foram o
Concílio de Trento, a Inquisição ou Santo Ofício, o Index dos livros proibidos, para a reconquista de territórios que
o catolicismo havia perdido para os protestantes.
Reformas religiosas: Causas e contexto histórico
O século 16 teve como uma de suas manifestações mais profundas o processo de reformas religiosas, responsável
por quebrar o monopólio exercido pela Igreja Católica na Europa e pelo advento de uma série de novas religiões
que, embora cristãs, fugiam aos dogmas e ao poder imposto por Roma, as chamadas religiões protestantes.
Mais do que apenas um movimento religioso, as reformas protestantes inseriram-se no contexto mais amplo que
marcou a Europa a partir da Baixa Idade Média ,expressando a superação da estrutura feudal tanto em termos da
fé como também em seus aspectos sociais e políticos.
Da mesma forma, não se pode considerar as reformas religiosas como um processo que se iniciou no século 16.
Ao contrário, elas representaram o transbordamento de uma crise que já vinha se manifestando na Europa desde
o início da Baixa Idade Média, fruto da inadequação da Igreja à nova realidade, marcada pelo declínio do mundo
feudal, pelo crescimento do comércio e da vida urbana, pela centralização do poder político nas mãos dos reis e
pelo advento de uma nova camada social, a burguesia
Também não se pode deixar de lado a influência do Renascimento Cultural, no sentido de romper com o
monopólio cultural exercido pela Igreja Católica na Idade Média. O Renascimento teve o efeito de possibilitar a
aceitação de conceitos e de visões de mundo diferentes daqueles impostos pela Igreja Católica, ao quebrar o
quase monopólio intelectual que a Igreja exercia na Idade Média.
Num certo aspecto, as Reformas Protestantes são filhas do Renascimento, e representaram, como este, uma
adequação de valores e de concepções espirituais às transformações pelas quais a Europa passava - nos campos
econômico, social e cultural.
Humanismo e desvirtuamento da Igreja
As contestações ao poder e aos dogmas da Igreja não eram um fenômeno desconhecido na Europa do século 16.
O próprio crescimento do pensamento humanista, absorvido pela Igreja através das universidades, e uma nova
visão teológica, representada pelo tomismo, podem ser vistos como uma abertura da Igreja ao racionalismo e a
uma visão de mundo mais humanística, se comparada ao forte teocentrismo que prevalecera até ali. As
universidades foram canais por onde pôde penetrar a influência do pensamento racional, ao mesmo tempo em
que o tomismo fundia a fé com elementos do racionalismo greco-romano.
Ao mesmo tempo, há que se levar em conta o desvirtuamento da Igreja e sua incapacidade de dar resposta aos
anseios espirituais dos fiéis. Essa questão tem origem no papel que a Igreja passou a ocupar a partir da Idade
Média. O fato de ser ela a principal possuidora de terras na Europa, bem como a instituição mais poderosa
politicamente, colocava-a ao lado da nobreza como uma instituição beneficiária da estrutura feudal e, também,
responsável por sua manutenção.
Na verdade, o vínculo orgânico entre a Igreja e a nobreza criava, necessariamente, distorções. A tendência é que
as nomeações para cargos na alta hierarquia da Igreja (o termo correto para essas nomeações é investidura)
obedecessem a critérios que passavam muito longe da vocação ou formação religiosa do postulante. Essas
investiduras eram feitas levando-se em consideração o grau de riqueza, de poder e as benesses que a aliança com
esta ou aquela família pudesse trazer para a Igreja.
A prática das chamadas investiduras leigas acabou acarretando graves problemas para a Igreja medieval. Em
primeiro lugar, os problemas políticos, decorrentes da constante disputa com os poderes temporais para a
ocupação de cargos e terras.
Mais grave que isso, entretanto, foi o fato de gerar um clero inadequado às suas funções religiosas, incapaz de
dar resposta às necessidades espirituais dos fiéis. O desregramento do clero evidenciava-se numa atitude
conhecida usualmente como nicolaísmo, termo usado para designar o desregramento que passara a marcar o
comportamento do clero.
Mais que isso, a constante busca por um aumento da renda que sustentava o imenso luxo em que vivia o clero,
levou a Igreja a intensificar, durante a Idade Média, práticas como a venda de relíquias sagradas ou de cargos
eclesiásticos (práticas conhecidas como simonia) e a venda de indulgências (absolvição dos pecados cometidos).
Assim, cresciam manifestações intelectuais de críticas ao comportamento da Igreja. Nomes como Erasmo de
Roterdã ou Thomas Morus propunham uma reforma interna da Igreja, com um retorno à pureza original do
cristianismo. Por trás dessas propostas havia, por certo, uma crítica ao excessivo apego da Igreja aos bens
materiais e ao poder.
Nacionalismo, heresias e política
Tais críticas já haviam atingido níveis mais preocupantes para Roma desde o final do século 14. Na Inglaterra, John
Wycliff pregava o confisco dos bens da Igreja, o voto de pobreza por parte dos membros do clero e uma retomada
das Sagradas Escrituras como única fonte da fé.
No reino da Boêmia, então pertencente ao Sacro Império, John Huss, tendo por base as ideias de Wycliff, viu suas
pregações constituírem-se na base do sentimento nacionalista da região contra o domínio do Império e da Igreja
de Roma. A prisão, seguida da condenação e execução de Huss, não conseguiu apagar a chama nacionalista, o que
mostrava um lado intenso da crise vivida pela Igreja, qual seja, o seu domínio sendo alvo de reações nacionalistas.
Há outra forma de reação a esse desvirtuamento do papel da Igreja e ela fica evidente ao observarmos o
crescimento das heresias. O termo era empregado para designar todas as manifestações de pensamento religioso
discordante dos dogmas impostos pela Igreja Católica. Durante a Baixa Idade Média, e particularmente no século
13 (considerado o grande século das heresias), cresceram de modo significativo o número de seitas heréticas e o
número de adeptos a essas seitas.
Ao contrário de uma primeira impressão, as heresias constituem-se numa prova de fé e não de falta de fé.
Evidenciam a existência de uma população imbuída de uma profunda religiosidade não contemplada pelos
dogmas e pelo materialismo da Igreja. Esta, por sua vez, jamais foi capaz de compreender o real significado das
heresias. Ao contrário, a Igreja apenas viu nelas o que representavam em termos de ameaça ao seu poder
baseado na unidade da fé. Assim, a reação da Igreja Católica às heresias concentrou-se na repressão. Não foi
outra a função da criação do Tribunal do Santo Ofício ou Inquisição, justamente no século 13.
Há outros elementos decisivos nesse processo. A questão política passa a ganhar um peso significativo a partir do
início do processo de centralização do poder.
Naturalmente, os reis, ao buscarem se fortalecer politicamente, vão entrar em choque com o poder da Igreja. Em
muitos casos (e o exemplo da Inglaterra), romper com a Igreja Católica e criar uma nova Igreja sob seu comando
foi a forma encontrada pelos reis para se libertar do poder político do papado.
Além disso, num quadro de crescimento do comércio, os dogmas da Igreja, de condenação à usura e ao lucro
excessivo, representavam um forte obstáculo para a burguesia. Assim, também essa nova camada ascendente vai
ter interesse em romper com os entraves impostos pelo catolicismo e adotar uma nova religião, para a qual suas
práticas não se constituíssem em pecados e fossem consideradas como dignificantes do homem.

Características da nova estética: 


- Culto do contraste: o Barroco procurava aproximar os opostos como carne/espírito, pecado/perdão, céu/terra
etc.
- Conflito entre o “eu” e o “mundo”: o artista encontra-se dividido entre a fé e a razão.
- Feísmo: a miséria da condição humana é explorada.
– dualidade/antítese: opostos, como o bem e o mal, céu e inferno etc
– pessimismo: Por causa de todas essas dúvidas, os autores do período Barroco se tornaram pessimistas, e isso se
refletiu nos textos da época
– figuras de linguagem: metáfora, prosopopeia, hipérbole , entre outras.

Principais autores
Alguns escritores usavam os dois estilos, como Gregório de Matos. Ele é um dos principais autores do período
Barroco, com várias poesias e conhecido com o pseudônimo de “Boca do Inferno. Sua poesia é dividida em três
estilos:
– lírica-amorosa: sentimento amoroso mas carnal.
– lírico-religiosa: contestação dos valores da igreja.
– sátiras: críticas às classes sociais e ao clero.
Outro autor bastante popular mas em prosa, foi o Padre Antônio Vieira. Ele realizava um trabalho de
catequização dos indígenas e para isso, valia-se da literatura . Suas obras tinham um estilo conceptista. A
classificação está dada em:
– sermões: as ideias que ele debatia.
– cartas: cartas que trocava com outras pessoas
– profecias: questões relacionadas com o Brasil.

A linguagem

- Emprego constante de figuras de linguagem;


- Uso de uma linguagem requintada;
- Exploração de temas religiosos;
-Consciência de que a vida é passageira: ao mesmo tempo em que o homem ao pensar na efemeridade da vida
busca a salvação espiritual ele tem desejo de gozar dessa antes que acabe;
- Cultismo: exploração dos efeitos sensoriais.
- Jogo de ideias: formado por sutilezas do raciocínio e do pensamento lógico.

Na estética barroca, observam-se duas tendências: o cultismo e o conceptismo.

- O cultismo se refere à exploração de elementos sensoriais, baseadas em figuras de linguagem.


- O conceptismo se caracteriza pelo uso de conceitos, linguagem marcada pelo jogo de ideias e pelo raciocínio
lógico.
O cultismo predomina na poesia e o conceptismo na prosa.

Exemplo de poesia barroca:

A vós correndo vou, braços sagrados,


Nessa cruz sacrossanta descobertos
Que, para receber-me, estais abertos,
E, por não castigar-me, estais cravados.

A vós, divinos olhos, eclipsados


De tanto sangue e lágrimas abertos,
Pois, para perdoar-me, estais despertos,
E, por não condenar-me, estais fechados.
A vós, pregados pés, por não deixar-me,
A vós, sangue vertido, para ungir-me,
A vós, cabeça baixa, p'ra chamar-me

A vós, lado patente, quero unir-me,


A vós, cravos preciosos, quero atar-me,
Para ficar unido, atado e firme.
Gregório de Matos. Buscando a Cristo.

EXEMPLO DE SERMÃO:
Ecce exiit qui seminat, seminare. Diz Cristo que “saiu o pregador evangélico a semear” a palavra divina. Bem
parece este texto dos livros de Deus ão só faz menção do semear, mas também faz caso do sair:   Exiit, porque no
dia da messe hão-nos de medir a semeadura e hão-nos de contar os passos. (…) Entre os semeadores do
Evangelho há uns que saem a semear, há outros que semeiam sem sair. Os que saem a semear são os que vão
pregar à Índia, à China, ao Japão; os que semeiam sem sair, são os que se contentam com pregar na Pátria. Todos
terão sua razão, mas tudo tem sua conta. Aos que têm a seara em casa, pagar-lhes-ão a semeadura; aos que vão
buscar a seara tão longe, hão-lhes de medir a semeadura e hão-lhes de contar os passos. Ah Dia do Juízo! Ah
pregadores! Os de cá, achar-vos-eis com mais paço; os de lá, com mais passos: Exiit seminare. (…) Ora, suposto
que a conversão das almas por meio da pregação depende destes três concursos: de Deus, do pregador e do
ouvinte, por qual deles devemos entender a falta? Por parte do ouvinte, ou por parte do pregador, ou por parte de
Deus? (…)

Padre António Vieira. Sermão da Sexagésima.

Fontes:
https://www.literaturabrasileira.ufsc.br
https://educacao.uol.com.br
https://www.infoescola.com

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