Você está na página 1de 2

O anseio da escrita.

Escrevo. Não muito. Na verdade, um pouco mais do que a maioria das pessoas. A
profissão é a exigente. Por ser advogado, estou sempre com os dedos nas teclas. Mas minha
escrita é técnica. Neste exato momento estou me segurando, às vezes com não tanta força de
vontade como o adequando, para não digitar frases prontas da minha cabeça, cabíveis apenas
em peças (as pessoas conhecem por petições) processuais chatas e sem beleza. Não me
entenda mal, minha profissão não é entediante ou feia. Gosto bastante. Mas entre a
“obrigação” e o anseio, este fala mais alto.
Como disse alhures (outro termo do juridiquês), até o presente momento, tenho certeza
que já coloquei mais palavras no papel do que a média das pessoas. Mas o que eu queria
mesmo, e isso com todas as minhas forças, era escrever. Escrever de verdade. Contos, prosa,
histórias infantis. Sim, histórias de animais falantes, um coelho de colete vinho, cachecol
verde musgo que fuma seu belo cachimbo enquanto observa os anéis de fumaça do tabaco
dançando ao vento.
Minha leitura de O Senhor do Anéis, O Hobbit e Alice no País das Maravilhas podem
ter me influenciado na descrição do tal coelho. De fato o foram. Mas o que eu posso fazer?
Tolkien me encanta. E olha que eu nem mencionei outros inkling’s. Tive um atino. Pensei,
analisei e conclui que qualquer coisa que eu pensasse em escrever, alguém já o teria feito, de
maneira brilhante e muito melhor do que seria capaz de fazê-lo. Além disso, o que quer que
eu apresentasse em minhas palavras, sinceramente, seria apenas uma cópia fajuta de algo que
eu já havia lido em algum outro lugar. Lembra o coelho legal parecido com um hobbit?
Contudo... apesar do desejo, tenho receio de escrever. Talvez o anseio não seja tão grande
assim como penso. Ou até pode ser. Mas o receio tem vencido a batalha contra o anseio.
Desisto, logo não passo aperto. Shame!
Mas como as coisas no ser humano, vez ou outra são não fáceis de se explicar, a cada
livro lido, o desejo, como brasa persistente, reacendia. Procurei meios, respostas.
Certa vez, li em um artigo do professor Rodrigo Gurgel, que se você deseja ser um
escritor, a primeira coisa que se deve fazer é escrever. Bingo! A chave foi entregue. Basta
isso! Comecemos. Frustação. O que escrever? A porta ainda estava trancada.
Desisti. A verdade é que não irei escrever mais nada além de preâmbulos dirigidos à
Excelências. Me contento com a leitura. O anseio não era tão forte como pensei. Talvez essa
nem seja a palavra correta. O que escrever?
De repente e inconscientemente (talvez não), um amigo que gosta muito de digitar
palavras, que formam frases e assim parágrafos e textos surpreendentes (ele é um literato),
relatou algo em sua rede social preferida - a qual não consegue largar - que me despertou.
Disse ele em outras palavras muito melhores do que estas, é claro, que o maior palco para a
inspiração da escrita é a nossa vida, o nosso meio, as pessoas e experiências que possuímos.
Boom! É isso! Ver, observar, viver, viver e viver. Por fim, escrever. Ele abriu a porta com a
chave que o mestre Gurgel havia me dado.
Criei coragem. Coloquei o anseio à prova. Escrevi.

Você também pode gostar