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Será que começou a terceira onda na história da ocupação do solo da Região Metropolitana
de Belém (RMB)?
É possível que sim. Se as invasões à áreas de estuários dos igarapés que deságuam ao
longo da costa de Belém se confirmarem como tendência, estará se iniciando essa nova e
predatória onda.
No final dos anos 50, quando as terras altas da primeira légua patrimonial foram totalmente
habitadas e a cidade foi barrada pelo “cinturão de áreas institucionais” (terras pertencentes
ao Exército, Marinha, Aeronáutica, Embrapa, Cosanpa), iniciou-se então a ocupação das
baixadas. Nas décadas seguintes, a densidade populacional dessas áreas aumentou
progressivamente, até atingir índices só observados com verticalização.
No final dos anos 80 início dos 90, esse adensamento pode ter chegado ao limite de sua
capacidade física de ocupação.
Esse processo de ocupação das baixadas ocorreu lento, “a conta gotas”, “artesanalmente”,
talvez, mais determinado pelo crescimento vegetativo da população urbana, do que pelo
incremento de fluxos migratórios.
Foi o ultimo grande fenômeno urbano de Belém em seu antigo papel de “Metrópole da
Amazônia”, antes portanto, da pressão migratória decorrente da implantação dos grandes
projetos na região, que resultaram em um rearranjo econômico e espacial das suas
atividades.
A Segunda Onda
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Estudos do economista do IPEA Robson Ribeiro Gonçalves publicado .... a partir dos dados
da PNAD (Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar) de acordo com a metodologia proposta
pela Fundação João Pinheiro de Belo Horizonte, mostram que, contrariando a tendência de
agravamento do déficit absoluto das demais regiões metropolitanas brasileiras, na RMB,
durante o período que vai de 1988 a 1995, observou-se uma redução da ordem de 30%.
DÉFICIT HABITACIONAL -
BELÉM/FORTALEZA/SALVADOR
120.000
100.000
80.000
Belém
DÉFICIT
60.000 Fortaleza
40.000 Salvador
20.000
0
81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 92 93 95
ANO
O déficit que em 1988 foi estimado em 62.339 unidades habitacionais, reduziu-se para
43.676 unidades em 1995. Como não houve neste período, no âmbito local, nenhum fator
que se contrapusesse à tendência nacional de agravamento da crise sócio-econômica e, se
estiverem corretos os números do IBGE, só podemos atribuir tamanha redução, às grandes
invasões ocorridas.
3
70.000
60.000
50.000
DÉFICIT
40.000
Belém
30.000
20.000
10.000
0
81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 92 93 95
ANO
Diferente da onda anterior, “artesanal”, podemos dizer que agora o fenômeno adquire uma
“escala industrial”, já não é individual, mas coletivo, organizado.
A ocupação residencial dessas áreas pode ser mero anteparo dos interesses de
comerciantes informais (ilegais) de madeira e material cerâmico. É caracteristicamente
predatório, pois destroi os estuários dos igarapés, além de privatista; pretende ocupar as
últimas janelas naturais para o rio. Uma outra Estrada Nova surgirá se nenhuma atitude for
tomada.
Lamentável, que tal ocupação parece ocorrer com o incentivo de autoridades ou com a
omissão de outras.
Se ainda existe alguém acreditando que na permissividade existe uma réstia sequer de
revolucionarismo ou de justiça social, grande equívoco. São justamente sobre os mais
pobres de toda a cidade, aqueles que só dependem do poder público para ter acesso à terra
urbanizada, que recaem os maiores custos da urbanização dessas áreas. Um lote
urbanizado com toda a infra-estrutura, em terreno seco, custa cerca de R$ 3.000,00, ao
passo que em áreas alagadas não sai por menos de R$ 8.000,00, quase três vezes mais.
Continuar errando é absurdo. Se hoje pagamos um alto custo para sanear e urbanizar a
bacia do Una - com os recursos lá utilizados seria possível construir uma cidade -
reconhecemos, foi a fatalidade de condicionantes históricos que determinaram esse tipo de
ocupação, no entanto, agora quando temos a consciência dos erros do passado, mas que
absurdo, é inadmissível, é criminoso.