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Durante os vinte anos de atuação na área de Direito Autoral, nos mais diversos
segmentos, observamos que o desinteresse sobre a matéria é inversamente proporcional a
sua importância.
Efetivo objeto de estudo em outros países, no Brasil notamos que quando o assunto
é a Propriedade Intelectual certamente estaremos discutindo marcas e patentes, relegando-
se para segundo plano o Direito Autoral.
Esse quadro, no entanto, começa a mudar, e o melhor exemplo é visto nesta obra,
proposta por entidade representativa de um setor econômico, no caso o audiovisual, que se
preocupa em principiar uma abordagem efetiva do Direito Autoral.
Coube-nos contribuir com a elaboração dessa obra através de uma visão geral do
Direito Autoral, de forma tal a permitir aos leitores uma compreensão inicial do tema.
Por obra audiovisual, entende-se “a que resulta da fixação de imagens com ou sem
som, que tenha por finalidade de criar, por meio de sua reprodução, a impressão de
movimento, independentemente dos processos de sua captação, do suporte usado inicial ou
posteriormente para fixá-lo, bom como dos meios utilizados para sua veiculação” (art. 5º,
VIII, da lei 9.610/98).
A lei 5.988/73, anterior a atual LDA (Lei do Direito Autoral), oferecia, de forma
clara, tal distinção, definindo, inclusive, as figuras dos produtores cinematográficos e
videofonográficos.
A Origem:
Perduram até hoje as duas vertentes de origem dos direitos autorais, o copyright e o
droit d´auter.
O droit d´auter, linha seguida pelo Brasil, na qual se fundamenta a Convenção de
Berna, dirige-se à proteção do autor, conferindo-lhe exclusividade na utilização de sua
obra.
No Brasil, surge, em 1973, a lei 5.988, que regula os direitos autorais e conexos,
substituída, em 1998, pela lei 9.610, atualmente em vigor.
É importante notar que antes da lei 5.988/73 haviam normas relativas aos direitos
autorais, inclusive no Código Civil Brasileiro.
Os Tratados Internacionais.
Ainda segundo Carlos Alberto Bittar, tais características levam o Direito de Autor a
condição de Direito autônomo.
O Direito Autoral visa proteger o autor, os titulares dos direitos autorais (investidos
nesta condição quando sucessores hereditários), os titulares dos direitos patrimoniais de
autor (que obtiveram tais direitos por meio de negócio jurídico, como a cessão) e, enfim, a
obra, sendo os primeiros (autor e titulares) os sujeitos e a última (a obra) o objeto da tutela
legal.
O titular originário dos direitos autorais é aquele que cria e materializa a obra,
independentemente de “sua idade, estado ou condição mentais, inclusive, pois, os
incapazes, de todos os níveis” (Carlos Alberto Bittar, Direito de Autor, 4ª. Edição, Forense
Universitária, pág. 33)
Neste sentido se manifesta a lei 9.610/98, em seu art. 11, que determina:
Ora, se apenas ao ser humano é dada a capacidade de criação intelectual, nada mais
lógico que a ele, e apenas a ele, se invista a titularidade originária dos direitos autorais.
Não obstante, existe a figura do titular derivado, que adquire, total ou parcialmente,
a título universal ou singular, os direitos autorais.
Uma das formas de aquisição total dos direitos autorais ocorre quando da sucessão
hereditária. Nestes casos, transferem-se aos herdeiros os direitos patrimoniais e morais do
autor.
Nos demais casos, a transmissão de direitos autorais, para pessoas físicas e/ou
jurídicas, ocorre por meio de negócio jurídico, como a cessão. Nesses, são transferidos ao
cessionário apenas os direitos patrimoniais de autor, eis que os denominados direitos
morais são inalienáveis e irrenunciáveis, conforme estabelece o art. 27, da lei 9.610, de
1998.
Existe, contudo, a possibilidade de uma pessoa jurídica ser a titular originária dos
direitos patrimoniais de autor, sendo, no caso do audiovisual, a obra coletiva o melhor
exemplo.
VIII- obra:
Ainda em relação ao audiovisual, é importante observar que, por força do art. 16, da
lei 9.610/98, são co-autores da obra audiovisual o “autor do assunto ou argumento literário,
musical ou lítero-musical e o diretor”.
A obra
Obras, por definição, são “as criações do espírito, expressas por qualquer meio ou
fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no
futuro”, como se observa no art. 7º da lei 9.610/98.
O registro da obra, mesmo sendo de caráter facultativo, deve ser feito com vistas a
dirimir dúvidas futuras relativas, por exemplo, a autoria. Não é raro o fato de duas ou mais
pessoas, residentes em locais diferentes e sem qualquer contato, direto ou indireto,
conceberem obras similares ou até mesmo idênticas em sua estrutura central.
Em ocorrendo tal hipótese, por certo haverá uma disputa judicial. Como a
anterioridade da criação será vital no processo (jurídico) para determinação da autoria, o
registro da obra, nos locais estabelecidos no art. 19, da Lei 9.610/98 (que remete ao art. 17
da Lei 5.988/73) terá valor inestimável na decisão final em favor de uma das partes da
disputa.
No que tange a duração da proteção aos direitos autorais, a legislação brasileira adota as
seguintes regras:
Ao final do prazo de proteção, a obra passa para o domínio público, podendo ser utilizada
por quem quer que seja, sem necessidade de prévia autorização de terceiros.
A capacidade de utilizar, fruir e dispor da obra são relacionadas aos direitos patrimoniais de
autor, cujas disposições legais encontram-se no Capítulo III, do Título III, arts. 29 a 45, da
lei 9.610/98.
Apesar da clareza das disposições, por vezes verifica-se que sua aplicação prática
não é tão simples.
Como exemplo, citamos o inciso VIII, do supracitado art. 46, que estabelece:
Visto o texto legal, de pronto surge uma questão – o que é um pequeno trecho, para
os fins previstos no artigo em análise?
Ora, um pequeno trecho de uma ópera ou de uma sinfonia difere substancialmente
do pequeno trecho de um spot de rádio, um jingle ou uma música popular. Enquanto a
ópera e a sinfonia podem ser obras de mais de uma hora de duração, um spot de rádio e um
jingle não duram mais do que de um a três minutos, podendo ter até mesmo trinta
segundos, enquanto uma música popular possui em média de três a seis minutos.
Assim, como definir o que seja um pequeno trecho? Há algum parâmetro de tempo,
de estrofes, de compassos, de frames ou de tamanho?
Vê-se, portanto, que, em relação ao dispositivo legal ora tratado, é tênue a linha
divisória entre a legalidade e a ilegalidade, sendo, via de conseqüência, fundamental,
necessário e imprescindível a realização de análise de sua aplicabilidade caso a caso, sob
pena de ocorrência de violação a direito autoral.
A Transferência de Direitos
Por certo que a confusão existente entre licenciamento e cessão se origina da cessão
singular e da cessão universal, visto que, a princípio, são negócios jurídicos similares (sob
alguns aspectos, mas somente sob a óptica dos não versados na matéria legal ora em tela).
Neste ponto, faz-se necessário tecer algumas considerações acerca de alguns dos
mais importantes artigos da lei 9.610/98, que interferem de forma direta e profunda nas
transações relacionadas aos direitos de autor, quais sejam:
A partir deste momento cabe verificar aspectos relativos aos direitos morais e patrimoniais
de autor na cessão de direitos.
No que diz respeito aos direitos morais de autor, necessário verificar o disposto no art. 27,
da LDA.
Sabemos que o diretor é co-autor da obra audiovisual (art. 16, lei 9.610/98),
cabendo a ele o exercício dos direitos morais (art. 25, lei 9.610/98).
Por exemplo, o home vídeo é uma modalidade de utilização que poderá dispor do
VHS, do disc-laser e/ou do DVD como suportes materiais para fixação da obra audiovisual
que, por fim, permitem levar a obra ao público.
A cessão de obra futura é outro ponto que, em alguns momentos, gera dúvidas.
Tendo em vista que o artigo em tela não limita, em termos temporais, a cessão de
obra existente, assim como não impede a cessão de obra futura, há de se entender que sua
correta interpretação é no sentido de limitar em cinco anos a cessão de diretos patrimoniais
de autor relativos às obras ainda a serem criadas.
Observa-se, portanto, que a cessão em tela se refere às obras que serão criadas
durante o período de cinco anos, a contar de data estabelecida entre as partes contratantes.
No limite, no que diz respeito a tais obras (futuras), a cessão pactuada (em relação as obras
criadas no período de cinco anos) poderá ser válida por todo o prazo de proteção aos
Direitos Autorais.
Os Direitos Conexos
O art. 89, da lei 9.610/98 determina os sujeitos da tutela legal relativa a direitos
conexos, quais sejam, os artistas intérpretes ou executantes, os produtores fonográficos e as
empresas de radiodifusão.
As questões que surgem a partir do reconhecimento dos direitos conexos são muitas.
Por exemplo, na medida em que a lei é taxativa, e não exemplificativa, é possível equiparar
as programadoras de tv por assinatura às empresas de radiodifusão, estas últimas entendidas
como radiodifusão de sons e imagens, para fins de reconhecimento de direitos conexos às
primeiras? E mais, os dubladores, equiparam-se aos artistas, no que tange aos direitos
conexos?
Porém, em vista dos objetivos deste trabalho, voltado para o setor audiovisual
(videofonográfico e cinematográfico), e considerando que o tema direitos conexos, por si
só, já demandaria um trabalho exclusivamente dedicado ao assunto, nos fixaremos nas
questões relativas aos artistas, regidos pela lei 6.533, de 24 de maio de 1978, que
regulamenta as profissões de artista e técnico em espetáculo de diversões, e sua incidência
no audiovisual.
O 2º, da lei 6.533/78, define o artista como “o profissional que cria, interpreta ou
executa obra de caráter cultural de qualquer natureza, para efeito de exibição ou divulgação
pública, através de meios de comunicação de massa ou em locais onde se realizam
espetáculos de diversão pública”
Ora, ao considerarmos que o produtor audiovisual pode, por conta de uma forte e
bem construída base contratual, ser o titular de direitos patrimoniais de autor relativos as
obras audiovisual e cinematográfica, cuja justificativa se fundamenta na necessidade de
construção de uma indústria autossustentável, alicerçada na capacidade do produtor em
gerar receitas através da plena exploração econômica da obra audiovisual, faz-se necessário
observar, com cuidado e atenção, as questões legais impostas por força da participação do
artista em tais obras. Ao observarmos, inclusive, que as normas de direito autoral se
aplicam aos direitos conexos, mais cristalina fica a necessidade de atenção e cuidado.
Art. 68. Sem prévia e expressa autorização do autor ou titular, não poderão
ser utilizadas obras teatrais, composições musicais ou lítero-musicais e
fonogramas, em representações e execuções públicas.
Pois bem, (i) se as normas relativas aos direitos de autor aplicam-se aos direitos dos
artistas; (ii) se os negócios jurídicos relativos a direitos autorais devem ser interpretados
restritivamente; (iii) se depende de prévia e expressa autorização do autor a utilização da
obra por quaisquer modalidades; (iv) se o artista tem o direito exclusivo de autorizar ou
proibir as utilizações de suas participações em obras audiovisuais; (v) se é vedada a cessão
ou promessa de cessão de direitos autorais e conexos dos artistas; (vi) se tais direitos são
devidos aos artistas a cada exibição da obra; e (vii) se a normas da lei 6533/78 são
aplicáveis às pessoas físicas ou jurídicas que tiverem artistas a seu serviço, para realização
de programas, produções ou mensagens publicitárias; é correto afirmar que (i) é
imprescindível ao produtor cinematográfico firmar com os artistas contratos que prevejam a
plena utilização da obra e (ii) que tais contratos devem prever todas as modalidades de
utilização da obra e da interpretação artística e, inclusive, suas respectivas remunerações.
Portanto, vemos que as imposições legais das leis mencionadas resultam num forte
vínculo entre o artista e a obra, vínculo este que, se não regulado através de instrumentos
contratuais perfeitamente elaborados, poderá prejudicar irremediavelmente a exploração
econômica da obra audiovisual, por conta de óbices a sua circulação plena no mercado, o
que será determinante no processo de construção de uma indústria audiovisual
autossustentável.
Mas como o Direito não é uma ciência exata, a tese acima pode ser contestada com
base no art. 81, da LDA, que trata da utilização de obra audiovisual. Estabelece o artigo em
questão que:
Outro ponto que pode gerar controvérsias surge graças a infeliz redação dada ao art.
92, da LDA, agora no que diz respeito a cessão de direito autorais e conexos dos artistas
intérpretes.
Art. 92. Aos intérpretes cabem os direitos morais de integridade e
paternidade de suas interpretações, inclusive depois da cessão dos
direitos patrimoniais, sem prejuízo da redução, compactação, edição ou
dublagem da obra de que tenham participado, sob a responsabilidade do
produtor, que não poderá desfigurar a interpretação do artista.
A mera leitura do art. 92, dissociada de estudo mais aprofundado da matéria, enseja
a equivocada conclusão que os direitos autorais e conexos (de ordem patrimonial) dos
artistas intérpretes podem ser objeto de cessão a terceiros.
Merece atenção, inclusive, o § 2º, do art. 90, da LDA, que estipula que “a proteção
aos artistas intérpretes ou executantes estende-se à reprodução da voz e imagem, quando
associadas às suas atuações”.
Obviamente, para tanto, são elaboradas peças publicitárias nas quais as imagens
e/ou vozes dos artistas são reproduzidas com a finalidade específica de promover o produto
(obra) audiovisual.
A execução musical, por ser outra forma de utilização, como mencionado acima,
estará sujeita a interferência do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição - ECAD,
responsável pelos direitos relativos a execução pública. Neste caso, a responsabilidade é tão
somente daquele que exibe a obra musical, como, por exemplo, as emissoras de televisão
aberta, os operadores de televisão por assinatura, as empresas proprietárias de salas de
exibição e demais usuários da obra audiovisual responsáveis por sua exibição em locais
públicos e/ou de freqüência coletiva.