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Deus Trindade– 2019/1º

Aluno: Gonzalo Eduardo Castro González


Professor: Luiz Carlos Sureki
Data de entrega: 31-05-2019

Comentário ao Prefácio da Santíssima Trindade

A nossa grande dificuldade radica na nossa dificuldade em articular fé e razão nas novas
coordenadas que nos dá a sociedade atual. No fundo, nos tempos atuais temos uma particular
dificuldade para orar e celebrar a nossa fé através da liturgia. Quem ora ‘em verdade e em espírito’
consegue articular fé e razão de um modo criativo e de colaboração mútua. Desde os inícios do
cristianismo, os cristãos se relacionaram com Deus de um modo trinitário: dirigiam suas orações ao
Pai, manifestado por Jesus Cristo, animados no Espírito Santo.

Tanto o racionalismo como o fideísmo são atitudes que dificultam uma vida de oração
profunda e sincera. E nos tempos atuais, ambas as atitudes se manifestam em dinâmicas bem
definidas: o racionalismo como hegemonia da razão instrumental, e o fideísmo está subsumido na
secularização. Muitas vezes queremos compreender a Trindade com uma razão instrumental, tão
acostumados à eficiência e ao utilitarismo no sistema de pensamento atual. No entanto, esse
razonamento tende a parcelar o conhecimento, enfatizando a compreensão trinitária das pessoas, e
enfraquecendo o aspecto relacional da Trindade. Sob este olhar, cada pessoa da Trindade tem a sua
função e utilidade na economia da salvação, mas desde uma perspectiva que não consegue sintetizar
as relações entre cada uma das pessoas. E, no canto contrário, nos encontramos hoje com uma
experiência de fé relegada à vida pessoal, resposta ao discurso hegemônico da secularização. E uma
fé encapsulada tende a parcelar agora a complexidade da vida humana, levando ao crente a
suspender o juízo diante daquilo que não consegue abranger, numa tentativa de respeitar os
múltiplos olhares do mundo atual. Isto conduz a uma falsa compreensão tanto da unidade ao interior
da Trindade como das relações intratrinitárias. A unidade entre as pessoas da Trindade é mútua
dependência e relação em pericorese, e não uma uniformidade ou transcendência inalcançável. Do
mesmo modo, as relações intratrinitárias estão abertas a toda a criação, e não só ao crente individual
ou à comunidade de fé.

Ao longo deste curso estudamos a importância indiscutível da liturgia na doutrina trinitária,


confirmando que o cristão antes de entender a Trindade a reza. Na oração da coleta da Festa da
Santíssima Trindade se reconhece que o cristão tem um modo trinitário de invocar a Deus: articula
Pai – Filho – Espírito Santo de um modo espontâneo. Ao revisar o prefácio desta festa, vemos como
a razão instrumental se rende diante da igual atribuição da glória às três pessoas, pois isso não
produz nenhum resultado utilitário. E o secularismo não tem a coragem de proclamar a Deus como
‘eterno e verdadeiro’, nem de adorá-lo em ‘cada uma das três pessoas’, na sua diversidade
unificada.

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