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M. BUTTERFLY (1993)
novas configurações físicas e abrindo seus corpos para explorações sexuais inéditas. Se, por um
lado, o filme coloca em cena as típicas acelerações das máquinas nas pistas, por outro lado, a trama
também inclui uma série de desacelerações que suspendem o fluxo do enredo e “congestionam”
USA, 101 min
Direção: David Cronenberg os corpos das personagens que trafegam nas mais diversas posições sexuais. Assim se vê reforçada
Roteiro: David Henry Hwang a célebre atmosfera “patológica” ou doentia deste insólito filme. Os personagens que se cruzam
Empresa Produtora: Geffen Pictures nas perigosas vias de Crash procuram um estranho prazer, conformado tanto pelas dores como
Elenco: Jeremy Irons, John Lone, Barbara Sukowa pelas delícias que os automóveis infringem na carne humana ao colidirem e se esmagarem.
M. Butterfly é uma adaptação da peça de teatro do mesmo nome, que fez muito sucesso na
Broadway e, por sua vez, retoma a história real vivida por um diplomata francês na Pequim dos
anos sessenta. René Gallimard é o protagonista, encarnado com muita sensibilidade pelo ator
Jeremy Irons, que se apaixona pela diva chinesa Song Ling após assisti-la cantando uma ária
da ópera Madame Butterfly, de Giacomo Puccini. Mergulhado nesse exótico relacionamento
amoroso ao longo de vários anos, o enigmático funcionário europeu se deixa envolver pelos
mistérios de sua musa oriental, que sempre se recusa a ficar completamente nua em sua presença.
Revigorado pelas delícias do intenso relacionamento com sua bela gueixa, porém, o personagem
abandona paulatinamente seu caráter introvertido para se transformar num homem cada vez
mais confiante e ativo. No trabalho, inclusive, chega até a alcançar a nomeação de vice-cônsul
da França na China. Contudo, essa charmosa história ainda se deparará com muitas surpresas,
que incluem acusações de espionagem e, após duas décadas de vívida paixão, a descoberta das
intrincadas essências da cantora. A atmosfera ambígua e obscura é um ingrediente fundamental
deste belo filme, no qual o corpo, a sexualidade e a política permeiam fortemente sua temática
principal: a capacidade que as identidades têm de se transformarem em nome do desejo –
mesmo que as conseqüências sejam fatais.
36 | DAVID CRONENBERG