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SCANNERS: VIDEODROME: A SÍNDROME

31 | CINEMA EM CARNE VIVA


SUA MENTE DO VÍDEO (VIDEODROME, 1983)
PODE DESTRUIR Canadá. 87 min
Direção: David Cronenberg
(SCANNERS, 1981) Roteiro: David Cronenberg
Canadá. 103 min Empresa Produtora: Canadian Film Development Corporation (CFDC)
Direção: David Cronenberg Elenco: James Woods, Deborah Harry, Sonja Smits
Roteiro: David Cronenberg
Empresa Produtora: Canadian Film
Development Corporation (CFDC) Este filme apresenta uma narrativa complexa e densa, uma trama delirante onde “as visões
Elenco: Jennifer O’Neill, Stephen Lack, se tornam carne, carne incontrolável”, segundo a descrição de um dos protagonistas da história.
Patrick McGoohan
Neste cultuado longa-metragem de David Cronenberg ecoa a tradição do pensamento de outro
canadense ilustre, Marshall McLuhan, tanto no que diz respeito aos “meios de comunicação
como extensões do homem” quanto em suas profecias sobre a constituição de uma “aldeia
Um dos filmes mais famosos de David Cronenberg, global” graças à proliferação das redes de telecomunicações. O personagem Max Renn comanda
Scanners descortina para o espectador o universo dos um canal de televisão a cabo especializado em violência e pornografia, mas está insatisfeito com
interesses tecnocientíficos emanados pelas corporações a programação e procura algo mais excitante para saciar os anseios de seus ávidos espectadores.
empresariais de vigilância e comunicação. O personagem Até que um de seus funcionários lhe apresenta um misterioso programa, intitulado precisamente
de Cameron Vale tem poderes telepáticos, mas esse dom Videodrome, que é uma espécie de snuff-movie com cenas brutalmente reais que misturam
vira um pesadelo porque ele não consegue manter sob crimes, torturas e erotismo. Cada vez mais fascinado por esse submundo projetado nas telas
controle sua capacidade de “escanear” os pensamentos de vídeo, o protagonista mergulha no universo alucinógeno de Videodrome e na conturbada
alheios. As mentes dos outros invadem a sua sem trama dos bastidores desse novo tipo de espetáculo, repleto de cenas abjetas como os tumores
descanso, atormentando sua vida e transformando-o provocados pela realidade virtual, as relações sadomasoquistas e as conspirações empresariais.
num ambulante que não se adapta às exigências da vida Um ambiente no qual também não faltam os personagens mais estranhos, tais como o eletrônico
social. Um belo dia, porém, ele é capturado pelo Dr. Brian O’Blivion, que proclama a ascensão da “nova carne” e pronuncia uma das frases mais
Paul Ruth, que lhe promete uma cura capaz de livrá-lo célebres do filme: “a tela da TV é a retina da mente, portanto a televisão é parte da estrutura
de seus pesares graças à reorganização de seus circuitos física do cérebro”.
“neuro-telepáticos”, por meio de uma droga chamada
Ephemerol. Em troca, o personagem deverá se tornar
um espião: terá que usar suas capacidades paranormais
como uma arma a serviço da ConSec, uma organização
especializada em segurança internacional que está
sendo ameaçada por um perigosíssimo grupo de
telepatas. Os ataques são liderados pelo sinistro Darryl
Revok, um scanner psicopata que é capaz de explodir
as cabeças invadidas com seus poderes telecinéticos.
Nesse peculiar enredo de saberes e poderes extremos,
Cronenberg coloca em cena corpos bioquimicamente
manipuláveis, capazes de se transformar nos nodos de
uma rede de informações, onde a telepatia pode operar
como metáfora de uma sociedade de corpos cada vez
mais “ligados” e entregues aos imperativos de conexão
e da telepresença.
30 | DAVID CRONENBERG

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