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ADAPTAÇÃO DE MATERIAL PARA ALUNOS SURDOS

Rita de Cássia C. Dos Santos 1


Neide Maria dos Santos 2
Erica Emanuelle P. S. Alcântara 3
Bruno Lutianny Fagundes Monção4

RESUMO: O presente trabalho busca abordar estratégias e metodologias de ensino que atendam às
especificidades do aluno surdo, de forma a incluí-lo em sala de aula, tendo como principal instrumento de
ensino a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). O desenvolvimento da pesquisa em questão apresenta
grande importância para a área educacional, possibilitando uma análise clara da real situação das escolas,
dos professores e da formação desses profissionais dificultando a aprendizagem do aluno surdo. Os estudos
revelam que há pouquíssimos resultados; acredita-se que muito se tem discutido acerca de questões como
a educação inclusiva, e materiais e/ ou recursos adaptados, entretanto, quando relacionados à temática
surdez, tais registros se tornam bastante escassos.

Palavras-chave: Adaptação dos conteúdos; Língua brasileira de sinais; Inclusão escolar.

INTRODUÇÃO
Nas escolas regulares inclusivas é “normal” encontrar alunos surdos com
dificuldades em estabelecer relações com seus professores que, em sua maioria não
conhecem a Língua de Sinais. Embora alguns tentem se comunicar com gestos ou por
escrito, os problemas de comunicação são comuns.
Com a promulgação da Lei nº 10.246, de 24 de abril de 2002, a Língua Brasileira
de Sinais (LIBRAS) passa a ser reconhecida, proporcionando, entre outros aspectos,
mudanças no cenário pertinente ao aluno surdo. Tendo em vista essa regulamentação e
incentivos às práticas inclusivas em sala de aula, cria-se a necessidade de repensar as
abordagens e metodologias referentes ao ensino.
A política educacional vigente no país preconiza a inclusão de todas as crianças
na escola regular, sejam estas com deficiência ou não. De acordo com a Lei nº. 13.146
(BRASIL, 2015), a inclusão da Pessoa com Deficiência é “destinada a assegurar e a
promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades

1
Acadêmica do curso de Libras- UNIASSELVI.
2
Acadêmica do curso de Libras- UNIASSELVI.
3
Acadêmica do curso de Libras- UNIASSELVI.
4
Tutor eletrônico, curso Libras – UNIASSELVI.
fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania”. De
acordo com Freire (2008, p. 5):

A inclusão é um movimento educacional, mas também social e político


que vem defender o direito de todos os indivíduos participarem, de uma
forma consciente e responsável, na sociedade de que fazem parte, e de
serem aceitos e respeitados naquilo que os diferencia dos outros.

Neste caso se observa a necessidade de ampliar os serviços prestados à


comunidade escolar na melhoria de orientação teórico/prática aos profissionais
envolvidos com esses alunos, assim como a divulgação de recursos pedagógicos
adaptados em sala de aula e necessidade da ampliação da Libras no contexto escolar.
Quando se trata de alunos com surdez, a questão educacional se vislumbra de
forma complexa. Deve-se oferecer igualdade de oportunidades, atender às necessidades
individuais de cada aluno e ainda garantir acesso e permanência dentro do ambiente
escolar.
Não se deve pensar, apenas, em novas metodologias para o aluno surdo. É
necessário, também, que haja capacitação para os professores que estarão em contato com
esses alunos surdos para que, dessa forma, a proposta de um ensino bilíngue seja
efetivamente colocada em prática.
O atual cenário escolar não conta com muitos professores proficientes em
LIBRAS e que tenham conhecimento acerca das especificidades da cultura surda, por
completo, assim como as práticas de inclusão do aluno surdo no contexto de uma sala de
aula regular.
Neste trabalho buscou-se, em primeiro lugar, compreender como funciona a
relação entre professores e alunos em um ambiente escolar inclusivo, para trazer, em
seguida, algumas reflexões sobre a adaptação de materiais para os alunos surdos.
Diante dessa problemática, este trabalho visa ainda discorrer sore a existência de
materiais pedagógicos adaptados existentes/ofertados atualmente para os alunos surdos,
bem como, a fim de promover acessibilidade ao conhecimento e auxiliar o processo de
ensino e aprendizagem desses alunos.

DESENVOLVIMENTO

1. Breve histórico da educação para surdos no Brasil


A Língua Brasileira de Sinais – Libras, é reconhecida oficialmente como meio legal
de comunicação e expressão das comunidades de pessoas surdas (BRASIL, 2002). É
considerada também como língua de aquisição natural, pois é feita através do gestual.
Segundo Damásio (2007) “estudar a educação escolar das pessoas com surdez nos
reporta não só as questões referentes aos seus limites e possibilidades, como também aos
preconceitos existentes nas atitudes da sociedade para com eles”.
A história da educação de surdos inicia a partir da Europa e dos Estados Unidos, pois
foram as primeiras sociedades a utilizarem a língua de sinais e a fundarem as escolas para
surdos.
Ante a isto, temos a priori o nascimento e disseminação do bilinguismo. “O
bilinguismo na surdez surgiu na década de 1980. Segundo SANTANA (2007) a
fundamentação dessa abordagem é o acesso da criança, o mais precocemente possível, à
língua de sinais e a linguagem oral”, neste sentido, a intervenção adequada dentro da sala
de aula pode proporcionar a aprendizagem do aluno com deficiência auditiva, desde que
contemple recursos e estratégias.
Deste modo, a partir do conceito de bilinguismo para surdos, compreende-se que
todo sujeito surdo tem o direito de aprender a língua portuguesa como segunda língua, na
modalidade escrita, e se tornar bilíngue de fato; esse é um direito assegurado pelo Decreto
nº. 5.626 (BRASIL, 2005).
No Brasil, a história da educação de surdos iniciou-se com a criação do Instituto de
Surdos-Mudos, hoje atual Instituto Nacional de Educação de surdos - INES, fundado em
26 de setembro de 1857, pelo professor surdo francês E. Huet, que veio ao Brasil a convite
do Imperador D. Pedro II para trabalhar na educação de surdos. No início, os surdos eram
educados por linguagem escrita articulada e falada, datilologia e sinais.
Sabe-se que é através da LIBRAS que o surdo alcança total desenvolvimento mental,
social e individual. Paulo Freire (1988) chamou de “Leitura de Mundo” que segundo ele
antecede a leitura de palavras.

A Língua brasileira de sinais é um sistema linguístico legitimo e natural,


utilizado pela comunidade surda brasileira, de modalidade gestual-visual
e com estrutura gramatical independente da língua portuguesa falada no
Brasil. A LIBRAS, língua brasileira de sinais, possibilita o
desenvolvimento linguístico, social e intelectual daquele que a utiliza
enquanto instrumento comunicativo. Favorecendo seu acesso ao
conhecimento cultural- cientifico, bem como a integração social ao qual
pertence (ABREU, 2006, p 9).

Incluir um aluno surdo sem que o mesmo tenha acesso a língua de sinais dificulta
a comunicação, prejudicando o processo de ensino aprendizagem. O responsável pelos
processos de ensino e aprendizagem é o professor, e para atender às demandas e
necessidades específicas dos alunos surdos, é necessário que tenha formação condizente,
desenvolva metodologia adequada, e compreenda que os processos de aprendizado do
aluno surdo diferem dos alunos ouvintes.

2. A educação surda e a adaptação de materiais em sala de aula

Com objetivo de oferecer aos alunos o direito à escolarização e uma maior integração
na sociedade, a inclusão de surdos tem sido discutida em diversos momentos. A presença
do aluno surdo em sala exige que o professor reconheça a necessidade da elaboração de
novos métodos de ensino que sejam adequados à forma de aprendizagem do aluno.
Poker (2001) nos afirma que as trocas simbólicas entre os alunos surdos e os alunos
ouvintes favorecem o desenvolvimento do pensamento e do conhecimento através da
capacidade representativa que acontecem em ambientes heterogêneos de aprendizagem.
Para LACERDA et al. 2013,

[...] não basta apenas dominar a língua se não existir uma metodologia
adequada para apoiar o que se está explanando, o que incide na
necessidade de formação de futuros professores que saibam elaborar boas
aulas – visualmente claras e que facilitem a atuação do intérprete e a
compreensão do aluno surdo. Esse tipo de formação só tem a contribuir
com o aprendizado dos alunos, sejam eles surdos ou ouvintes; uma boa
apresentação de slides, por exemplo, é fundamental para alunos ouvintes,
e para os alunos surdos esse recurso pode se tornar essencial.

Nesse sentido, é importantíssimo estabelecer um currículo adaptado no contexto


educacional do aluno surdo, onde este também deve estar inserido em uma cultura com a
qual o aluno surdo se identifique, atendendo não só às individualidades de ensino como
também seu desenvolvimento num contexto cultural.
O material utilizado será o recurso pelo qual os conhecimentos do currículo serão
transmitidos, igualando-se, portanto, a definição de material adaptado.
Para Freitas (2007) os materiais didáticos “são todo e qualquer recurso utilizado
em um procedimento de ensino, visando à estimulação do aluno e à sua aproximação do
conteúdo”. Portanto, podemos dizer que o material é um dos principais meios de ensino
na educação. O mesmo autor no mesmo texto, ressalta ainda que no Brasil “as sucessivas
reformas educacionais incluem materiais didáticos inovadores, como exigências de novas
filosofias e/ou metodologias de ensino, que agregam aos conceitos didáticos e
pedagógicos a reformulação da prática docente”.
A escolha pelo uso do currículo adaptado, ou seja, de um currículo pensado e
elaborado a fim de atender às demandas do aluno com surdez, é necessária. Por sua vez,
ao elaborar um material adaptado, para aluno surdo, é necessário trazer esse material ao
contexto e cultura do aluno surdo, em que a Libras aparece como fator fundamental de
desenvolvimento e acessibilidade.
O atendimento na sala de recursos multifuncionais vem no auxílio do processo de
inclusão escolar. Para um melhor funcionamento deve ser elaborado em conjunto entre o
professor da sala regular, do professor da sala de recursos e do interprete.
A sala de recursos ajuda para que o aluno com surdez se socialize em salas
comuns, seja por meio da LIBRAS, tanto pela interação com outras alunos, o que
enriquece as propostas pedagógicas. Estes materiais, são iniciativas positivas, a fim de
incentivar novas produções e materiais cada vez mais adequados à alunos com surdez.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Fazer com que o processo de inclusão de qualquer pessoa aconteça não é uma
tarefa fácil, no primeiro momento pela adaptação do ambiente, que deve conter todos os
materiais de apoio e recursos que uma pessoa com deficiência precise.
O trabalho em questão nos mostrou que o bilinguismo é uma conquista da
comunidade surda que torna a sua escolarização autônoma, diferenciada e bilíngue; e o
reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais como língua materna, tornando-se de
suma importância na constituição da identidade cultural da comunidade surda.
Portanto, a elaboração de propostas de adaptação do programa curricular, como o
apresentado neste projeto, torna-se primordial na medida em que auxilia o professor em
sala de aula, pois este passa a ter ferramentas para trabalhar com o aluno surdo no contexto
escolar, possibilitando o aparecimento de novos métodos, e consequentemente de
materiais para que cada vez mais se amplie o conhecimento e facilite o estudo do aluno
surdo, em sala de aula, tanto na sala de recursos quanto na sala de ensino regular.
REFERÊNCIAIS
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