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Meningite bacteriana

• Está entre o grupo de


infecções do sistema nervoso
de extrema importância para a
medicina;
- Meningite bacteriana aguda;
- Meningite viral;
- Encefalite;
- Abscesso cerebral.

• Assim como as outras


doenças do grupo, pode
apresentar pródromo
inespecífico com febre e
cefaleia, não sendo
considerados fatores de
gravidade até que surjam:
- Alterações de consciência;
- Sinais neurológicos focais;
- Crises convulsivas.

• Primeira coisa a se fazer →


identificar o local que a
infecção acomete:
- Meningite → espaço
subaracnóideo;
- Encefalite → lesão direta do
tecido encefálico por infecção
bacteriana ou viral;
- Abscesso → infecções focais
que envolvem o tecido
encefálico.

Definição
• Infecção purulenta aguda da aracnóide, pia-máter e
líquido cefalorraquidiano, se estendendo em direção ao
espaço subaracnóideo do cérebro e medula espinhal.
• Associada à reação inflamatória no SNC, resultando
em:
- Diminuição do nível de consciência;
- Crises convulsivas;
- Aumento da pressão intracraniana (PIC);
- Acidente vascular encefalico (AVE).

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Epidemiologia • Apesar da variedade de agentes, os
quadros clínicos são semelhantes.
• RN até 3 meses → S. agalactiae,
• É a forma mais comum de infecção Listeria monocytogenes e bactérias Gram-
supurativa do SNC; negativas entéricas.
• Microrganismos causadores mais - Aquisição pode ocorrer no momento
frequentes: do parto devido à colonização da
- Streptooccus pneumoniae → 50% mucosa vaginal.
- Neisseria meningitidis → 25%
- Estreptococos do grupo B • 3 meses aos 18 anos → Neisseria
(agalactie)→ 15% meningitidis (meningococo),
- Listeria monocytogenes → 10%. Streptococcus pneumoniae (pneumococo)
e Haemophilus influenza tipo b (Hib).
• H. influenzae → afeta principalmente
crianças; • 18 aos 50 anos → pneumococo,
• S. pneumoniae → afeta adultos, meningococo, e Hib (na ordem).
especialmente após os 50 anos e com
condições de comorbidade. • > 50 anos → pneumococo, Listeria e
bacilos Gram-negativos entéricos (na
• Fatores predisponentes → ordem).
- Otite média aguda (com ou sem
mastoidite); Streptococcus pneumoniae
- Pneumonia (15% dos pacientes com
meningite pneumocócica);
- Sinusite pneumocócica;

Mais suscetíveis

• Crianças (1 mês a 5 anos) → 90% dos


casos.
• Idosos > 60 anos.

• Brasil →
- Incidência: 1,4 caso/100 mil
habitantes/ano
- Letalidade: 22%
• Causa mais comum de meningite em
• Período de incubação →2-10 dias (em adultos com menos de 20 anos;
média 3-4). - Responsável por quase 50% dos
casos notificados por ano.
Etiologia
• Casos clínicos de maior gravidade.
• Etiologia depende da idade, estado imune
e epidemiologia. - Deixando mais sequelas.
- Letalidade → 15 a 30%.

• Alguns dos fatores que elevam o risco na


meningite pneumocócica:
- Pneumonia pneumocócica
(25%);
- Rinossinusite ou otite média
pneumocócica aguda ou crônica;
- Alcoolismo;
- Diabetes;
- Esplenectomia;
2
- Hipogamaglobulinemia; • Em alguns pacientes, o quadro pode ser
- Deficiencia de complemento; fulminante, evoluindo com morte após
- Traumatismo craniano com fratura horas do início dos sintomas.
da base do crânio; • OBS.: pode causar a doença
- Rinorreia do líquido cerebro meningocócica com menigococcemia.
espinhal.
Haemophilus influenzae tipo b
Neisseria Meningitidis
• Letalidade → 5-15%
• Diplococos gram-negativos capsulados; • Costuma deixar sequelas:
- Surdez neurossensorial

Bacilos gram-negativos
entéricos

• Causam meningite em indivíduos com


doenças crônicas como:
- Diabetes;
- Cirrose;
- Alcoolismo;
- Infecções crônicas do trato urinário.

Streptococcus agalactie
• Raramente deixa sequelas após a
cura.
• Letalidade → 5-15% • Antes descrito como predominantes em
RNs;
• Atualmente existem evidências de
• Incidência diminuiu com a vacinação → de
infecção em pacientes > 50 anos,
11-18 anos;
principalmente com doença adjacente.
- Entretanto, a vacina não possui o
sorogrupo B → responsável por
33% dos casos de doença Listeria monocytogenes
meningocócica.
‣ Polissacarídeo B → fracamente
imunogênico, não pode induzir
resposta protetora com produção
de anticorpos. Imunidade deve ser
desenvolvida naturalmente.

• Infecção inicia com → colonização


nasofaríngea (adesão pelas fímbrias),
que pode determinar:
- Quadro assintomático;
- Doença meningocócica invasiva.

• Após a colonização, a doença invasiva


propriamente dita dependerá de:
- Fatores de virulência da bactéria;
- Sistema imunológico do hospedeiro; • Causa importante na meningite em:
‣ Capacidade de produzir anticorpos - RN (<1 mês);
antimeningocócios; - Grávidas → possuem distúrbio em
‣ Capacidade de lisar meningococos sua imunidade celular entre 26ª e
pelas vias clássicas e alternativa do 30ª semana.
complemento. - > 60 anos;

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- Imunocomprometidos de todas as Fisiopatologia
idades.

• Infecção adquirida a partir do consumo de • Bactérias colonizam a nasofaringe →


alimentos infectados. adesão às células epiteliais por meio das
fímbrias.
- Dependendo da virulência do agente
Staphylococcus aereus e e da resposta imune do
epidermidis hospedeiro, podem atingir a
corrente sanguínea.
• Causas importantes em procedimentos ‣ O quadro subsequente depende
neurocirúrgicos invasivos. mais da imunidade do hospedeiro
• São raros os casos. do que da bactéria em si.
• S. aureus → também pode ocasionar
meningite pós punção lombar. • Atingem a corrente sanguínea através
de 2 mecanismos:
Mycobacterium tuberculosis - Vacúolos formados pela membrana
das células;
- Passam entre as junções celulares
apicais das células epiteliais
colunares.

• Causa tuberculose;
• Meningite pode surgir como uma
complicação da tuberculose primária →
costuma ocorrer 6 meses após a primo-
infecção.

• Não é transmissível ;
• Caso não tratada, possui evolução da
doença em 3 estágios (diferentes dos • Na corrente sanguínea, devido à presença
outros quadros de meningite bacteriana): da cápsula polissacarídica, evitam:
1. Estágio I: dura 1-2 semanas; - Fagocitose por neutrófilos;
- Sintomas inespecíficos → febre, - Atividade bactericida por partículas
mialgia, sonolência, irritabilidade, do complemento.
cefaleia, anorexia, vômitos, etc.
• A partir do sangue, atingem o plexo
2. Estágio II: coróide intraventricular → infectando
- Surgimento de evidências de dano células endoteliais do plexo e atingindo o
cerebral → paresias, plegias, líquido cerebroespinhal.
estrabismo, ptose palpebral,
irritação meníngea, etc. • O líquido cerebroespinhal (LCS)
naturalmente possui poucos leucócitos,
3. Estágio III: proteínas do complemento e
imunoglobulinas → baixa resposta
- Déficit neuronal focal, rigidez de
imune → facilidade de multiplicação
nuca, rebaixamento do nível de
bacteriana.
consciência.

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- A escassez de proteínas do • Com as proteínas plasmáticas, o
complemento e Igs impede exsudato inflamatório é intensificado.
opsonização das bactérias pelos • Esse exsudato subaracnóideo obstrui o
neutrófilos. fluxo de LCR através do sistema
- Além disso, por ser líquido, o LCS ventricular.
não proporciona um meio favorável - Diminuindo a capacidade reabsorvia
à fagocitose. das granulações aracnóides dos
seios durais, ocasionando:
‣ Hidrocefalia obstrutiva e
Indução da resposta inflamatória comunicante;
‣ Edema intersticial (2)
• Lise das bactérias → liberação de concomitante.
componentes da parede celular →
resposta inflamatória + formação de • Além disso, pode provocar o
exsudato purulento no espaço estreitamento de grandes artérias na
subaracnóideo. base do encéfalo devido à extensão do
- Lipopolissacarídeo (LPS) → gram- exsudato.
negativas;
- Ácido teicoico e peptidoglicanos → • Desgranulação de neutrófilos → liberação
Gram-positivas. de metabólitos tóxicos → contribui para
o edema citotóxico (3) → lesão e morte
• Componentes liberados → indução da celular.
produção de citocinas pela micróglia, - Esse edema é ocasionado pela
astrócitos, monócitos, células endoteliais isquemia do SNC.
e leucócitos.
- IL-1beta; • A infiltração de células na parede arterial
- TNF-alfa. é acompanhada de espessamento da
camada íntima (vasculite).
• Essas citocinas estimulam outras células - Pode favorecer a disseminação do
imunes a produzir uma variedade de processo infeccioso para o encéfalo
citocinas pró-inflamatórias. → aparecimento de abscessos
cerebrais.

• Componentes da bactéria e citocinas →


induzem produção de: • Além disso, a perda da autorregulação
vascular causada pelas citocinas
- Aminoácidos excitatórios;
contribui para que em quadros de
- EROs e nitrogênio; hipotensão (sobretudo da
‣ Todas essas substâncias podem meningocócica) → leve ao hipofluxo
levar à morte de células cerebral → alterações isquêmicas.
cerebrais → especialmente no giro
dentado do hipocampo.
• Vasculite + estreitamento de artérias
devido à extensão do exsudato →
Consequência da liberação de citocinas - Isquemia (sobretudo menigocócica);
- Infarto;
• Aumentam a expressão de selectinas - Obstrução de ramos da artéria
nas células endoteliais dos capilares cerebral media por trombose;
cerebrais e leucócitos → adesão aos
- Trombose dos principais seios
capilares e migração para o LCR.
venosos cerebrais;
- Aumenta a permeabilidade dos - Tromboflebite das veias corticais
vasos sanguíneos → aparecimento
cerebrais.
de edema vasogênico (1) →
extravasamento de proteínas
plasmáticas para o LCR → • Edema intersticial + vasogênico +
exsudato. tóxico → elevação da pressão
intracraniana e coma.

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Manifestações clínicas
• Sinal de Kernig: com o paciente em
decúbito dorsal.
• Pode se apresentar como: - (1 Tenta-se elevar o tronco,
- Doença aguda fulminante que evolui fletindo-o sobre a bacia.
rapidamente em algumas horas; ‣ Ocorre flexão da perna sobre a
- Doença subaguda que piora de coxa, e a coxa sobre a bacia.
forma progressiva ao longo de - (2) Flete-se a coxa sobre o quadril,
vários dias. e o joelho sobre a coxa.
‣ Quando o examinador tenta
• TRÍADE CLÁSSICA (pode não estar estender a perna, o paciente refere
presente): dor.
- Febre;
- Cefaleia;
- Rigidez de nuca.

• Apresentação clássica:
1. Síndrome toxêmica;
2. Síndrome de irritação meníngea;
- Pode estar ausente em até 50 % dos
casos, principalmente em crianças
pequenas e lactentes.

3. Síndrome de hipertensão craniana.


- A presença de 2 delas ao mesmo
tempo é altamente sugestiva de
meningite.
• Sinal de Brudzinski:
SÍNDROME TOXÊMICA - Ao se tentar fletir a cabeça, flexão
involuntária da perna sobre a coxa,
• Febre alta; e da coxa sobre a bacia
• Mal-estar geral;
• Prostração;
• Agitação psicomotora;
• Sinal de Faget: dissociação pulso-
temperatura (“muita febre para pouca
taquicardia”) → relativamente comum.

• Presença de petéquias ou púrpuras →


indício importante para diagnóstico de
infecção meningocócica.
- Presente em 40-50% das
meningites meningocócicas.

SÍNDROME DE IRRITAÇÃO MENÍNGEA

• Rigidez de nuca: • Sinal de desconforto lombar:


- Com o paciente em decúbito dorsal, - Paciente de decúbito dorsal flexiona
tenta-se fletir o pescoço. um joelho.
- Há dificuldade na manobra devido à - O examinador coloca sua mão na
contração reflexa da musculatura região plantar ipsilateral, exercendo
cervical posterior. resistência, e pede que o paciente
empurre com força.

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- Sinal positivo → paciente refere • Convulsões e confusão;
sensação de choque elétrico na • Aspecto toxêmico;
região lombar. • Alteração da consciência;
• Bradicardia;
• Crianças até 9 meses → podem não • Hipertensão (indicando aumento da
apresentar os sinais clássicos de irritação pressão intracraniana);
meningea.
• Poucos pacientes apresentam sinal de
Kernig ou Brudzinski.
SÍNDROME DA HIPERTENSÃO
CRANIANA

• Cefaleia holocraniana intensa; Diagnóstico


• Náuseas;
• Vômitos; • Deve ser confirmado por uma punção
• Fotofobia; lombar diagnóstica (raquicentese);
• Confusao mental;
• Crises convulsivas → pode ocorrer como • Na presença de rebaixamento do nível de
apresentação inicial ou durante a consciência, com déficits focais novos e/
evolução da doença (30-40%); ou papiledema → muitos autores indicam
exame de neuroimagem antes da punção.
• Crises focais → advindo de isquemia
arterial ou infarto focal, trombose venosa - Caso essa conduta seja escolhida,
cortical com hemorragia ou edema focal. deve-se administrar a 1ª dose do
antibiótico intravenosa antes do
transporte para radiologia, e após
coleta de hemoculturas.
• Queda do nível de consciência → 75% dos
casos.
• TC de crânio antes da punção:
- Pode variar de letargia a coma.
- Déficitis focais, convulsões;
- Lesões prévias no SNC;
• Crises epilépticas → hiponatremia, anoxia
cerebral.
- Rebaixamento do nível de
consciência;
- Sinais de HIC.
• Hipertensão intracraniana →
complicação esperada.
- 90% → pressão > 180 mmH2O Análise do LCR
- 20 % → pressão > 400 mmH2O
- SINAIS:
‣ Redução do nível de consciência;
‣ Papiledema;
‣ Pupilas dilatadas e pouco reativas;
‣ Paralisia do nervo craniano VI;
‣ Postura de descerebração;
‣ Reflexo de Cushing → bradicardia,
hipertensão arterial e respiração
irregular.

Streptococcus pneumoniae
Meningite pneumocócica

• Cefaleia intensa e generalizada de inço


gradual;
• Febre;
• Náuseas;
• Rigidez de nuca;
• Fotofobia;
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Streptococcus pneumoniae Glicocorticoides (GC)
Meningite pneumocócica
• Uso em todas as formas de meningite →
• Exame do LCR à procura de (se aplica reduzir a inflamação no SNC e chance de
aos demais agentes): óbito e sequelas neurológicas.
- Evidência de turvação (na inspeção
visual); • Existem evidências de maior efetividade
- Níveis elevados de proteínas, em infecções por:
contagem elevada de leucócitos e - Haemophilus → menor surdez
redução da concentração de glicose; neurossensorial;
- Identificação específica do agente - Pneumococo → menos óbitos.
(cultura, coloração de Gram, teste
de antígeno ou PCR).
• Uso deve ser iniciado 15-30 minutos
antes do início da antibioticoterapia;
- Hemocultura positiva para S. - O início > 6h após o início da
Pneumoniae + manifestações antibioticoterapia é inútil.
clínicas → prova confirmatória.
- No máximo, junto com a 1ª dose do
antibiótico.
Neuroimagem ‣ A morte do microorganismo por
efeito da medicação costuma
• Em algum momento da evolução, os agravar mais a inflamação no
métodos de neuroimagem devem ser espaço subaracnóideo.
solicitados
- Permitem evidenciar com áreas de • Dexametasona IV - 10 mg 6/6h por 4
edema e/ou isquemia. dias.

• Ressonância nuclear magnética > • OBS.: se a dexametasona for utilizada em


tomografia de crânio. meningite por pneumococo resistente à
penicilina → rifampicina deve ser
acescentada, uma vez que os GC
diminuem a penetração da vancomicina
Tratamento no SNC.

• APLICAÇÃO DA DOSE INICIAL DE Outras medidas


ANTIBIÓTICOS:
- Altera um pouco a sensibilidade de • Isolamento respiratório por 24h em
alguns métodos diagnósticos; meningite por meningococo ou hemófilo;
- Porém diminui muito a
morbiletalidade da doença.
• Hidratação com solução isomolar →
evitando a hiper-hidratação → agravando
• Suspeita de meningite bacteriana + edema cerebral e secreção inapropriada
impossibilidade de realização da punção do hormônio antidiurético (SIADH).
lombar →
- Início imediato de • Elevar a cabeceira da cama;
antibioticoterapia empírica.
• Manitol → promove diurese osmótica e
• O paciente deve ser encaminhado melhora do edema cerebral nos pacientes
imediatamente para um serviço para o com HIC.
diagnóstico e identificação do agente - Dose de ataque: 0,5 a 1 g/kg EV
etiológico.
- Manutenção: 0,25 g/kg a cada 4/4h.
• Após identificação, deve-se iniciar a
antioticoterapia específica de acordo com • Diazepam para crises convulsivas, e
o agente. hidantoína ou fenobarbital para o
controle.

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• Ventilação mecânica → presença de coma
ou arritmias respiratórias.

Evolução e controle

• Melhora da confusão mental → primeiras


6h;
• Febre → primeiras 6-12h;
• Sinais da síndrome de irritação meníngea
→ 3-5 dias.
• Raquicentese → acompanhar evolução.

Profilaxia

Resumo → Drive → Geral → Clínica Médica →


Profilaxia → Profilaxia Meningites

Fontes:
1.Harrison - Medicina Interna;

2.Goldman-Cecil - Medicina;

3.MEDCurso - Infecto - VOL. 3

4.SanarFlix - Meningite
Bacteriana.

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