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Estatuto da Criança e
do Adolescente
Carga Horária: 50 hs
O bom aluno de cursos à distância:
• Nunca se esquece que o objetivo central é aprender o conteúdo, e não apenas terminar o curso. Qualquer um
termina, só os determinados aprendem!
• Lê cada trecho do conteúdo com atenção redobrada, não se deixando dominar pela pressa.
• Sabe que as atividades propostas são fundamentais para o entendimento do conteúdo e não realizá-las é deixar
de aproveitar todo o potencial daquele momento de aprendizagem.
• Explora profundamente as ilustrações explicativas disponíveis, pois sabe que elas têm uma função bem mais
importante que embelezar o texto, são fundamentais para exemplificar e melhorar o entendimento sobre o
conteúdo.
• Realiza todos os jogos didáticos disponíveis durante o curso e entende que eles são momentos de reforço do
aprendizado e de descanso do processo de leitura e estudo. Você aprende enquanto descansa e se diverte!
• Executa todas as atividades extras sugeridas pelo monitor, pois sabe que quanto mais aprofundar seus
conhecimentos mais se diferencia dos demais alunos dos cursos. Todos têm acesso aos mesmos cursos, mas o
aproveitamento que cada aluno faz do seu momento de aprendizagem diferencia os “alunos certificados” dos
“alunos capacitados”.
• Busca complementar sua formação fora do ambiente virtual onde faz o curso, buscando novas informações e
leituras extras, e quando necessário procurando executar atividades práticas que não são possíveis de serem feitas
durante as aulas. (Ex.: uso de softwares aprendidos.)
• Entende que a aprendizagem não se faz apenas no momento em que está realizando o curso, mas sim durante
todo o dia-a-dia. Ficar atento às coisas que estão à sua volta permite encontrar elementos para reforçar aquilo que
foi aprendido.
• Critica o que está aprendendo, verificando sempre a aplicação do conteúdo no dia-a-dia. O aprendizado só tem
sentido quando pode efetivamente ser colocado em prática.
Aproveite o seu
aprendizado!
A CONSTITUIÇÃO DE 1988 E A INFÂNCIA E A JUVENTUDE.
A DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL.
A CONVENÇÃO DA ONU SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA.
O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n° 8069/90) está em vigor desde julho
de 1990 e revolucionou o tratamento legal dispensado a pessoas com menos de 18 anos. Trouxe
inúmeras inovações em relação à prevenção e proteção contra a violação dos direitos
fundamentais das crianças e dos adolescentes1, que não mais são tratados como meros objetos
da intervenção do Estado (tal qual ocorria no revogado Código de Menores), mas sim como
SUJEITOS DE DIREITOS.
1
tecnicamente, o termo "menor" não mais é empregado para designar pessoas com idade inferior a 18 (dezoito) anos,
tendo sido abolido pelo ECA por conter uma carga negativa e pejorativa, que obviamente não se coaduna com as
doutrinas da PROTEÇÃO INTEGRAL e da PRIORIDADE ABSOLUTA sobre as quais se assenta a novel legislação.
Doutrinariamente, no entanto, persistem as figuras do "menor impúbere" e do "menor púbere" a que se refere o Código
Civil (art.5°, inciso I e art.6º, inciso I), sendo certo que se enquadram no conceito de "menores púberes" mesmo
pessoas que não mais podem ser consideradas adolescentes (por terem idade superior a 18 e inferior a 21 anos);
3
Forma de elaboração do Estatuto:
Diversamente do que ocorre com a maioria das leis brasileiras, o ECA não foi
elaborado apenas por um grupo selecionado de juristas. É o resultado da reflexão e participação
de vários segmentos da sociedade, como movimentos populares, profissionais da área da saúde,
da educação da assistência social, profissionais de entidades de atendimento. Levou-se em
consideração a nossa realidade social. Prevê a contínua articulação de vários segmentos da
sociedade civil e debates com setores governamentais, nascendo o Forum DCA - Forum
permanente de Direitos da Criança e do Adolescente.
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É claro que jamais existiram os estabelecimentos "disciplinares industriais" e as
"casas de correção", sendo os jovens infratores lançados nas prisões comuns de adultos em
absoluta promiscuidade.
Não reconhecia o "menor" como sujeito de direitos, mas sim mero OBJETO DA
INTERVENÇÃO DO ESTADO, considerando que toda e qualquer intervenção estatal em relação
2
esta disposição contida no Código de Menores, que de maneira evidentemente inadequada permitia a retirada da
criança ou adolescente da companhia de seus pais e encaminhamento a abrigos apenas em razão da pobreza, inspirou
a regra contida no art.23 e par. único do ECA, segundo os quais "a falta ou carência de recursos materiais não
constitui motivo suficiente para perda ou suspensão do pátrio poder" e que "não existindo outro motivo que por
si só autorize a decretação da medida, a criança ou o adolescente será mantido em sua família de origem, a qual
deverá obrigatoriamente ser incluída em programas oficiais de auxílio" (verbis).
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aos "menores" era do interesse destes, pelo que o "Juiz de Menores" tinha poderes amplos e
quase que ditatoriais nesta área, o que pode ser exemplificado através da possibilidade da
expedição, por parte desta autoridade, de portarias regulamentadoras e disciplinadoras genéricas
e despidas de qualquer fundamentação3, que funcionavam como verdadeiras "leis" destinadas em
muitos casos a restringir direitos de crianças e adolescentes.
Como o ECA substituiu o "Código de Menores", que como vimos era um lei
extremamente autoritária que não afirmava direitos e, embora em muitos aspectos não
recepcionados pela CF/88, ainda perdurou por 02 (dois) anos após sua promulgação, o legislador
se viu na obrigação de dizer o óbvio, reproduzindo muitas vezes o texto constitucional e em outras
melhor explicitando os direitos e garantias nele contidas, de modo a deixar claro que elas
TAMBÉM se aplicam a crianças e adolescentes, que se têm um tratamento difenciado, este se dá
de forma compensatória, única forma de assegurar a plena efetivação do princípio constitucional
que estabelece a IGUALDADE entre todos os cidadãos.
3
o que como veremos nas aulas seguintes não mais se faz possível pela sistemática adotada pelo ECA;
4
através da Resolução nº 05/99, publicada no Diário da Justiça de 18 de outubro de 1999 (págs.01 e 02), o Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná, por intermédio de seu Órgão Especial, houve por bem ALTERAR a redação de alguns
dispositivos de seu Regimento Interno, dentre os quais seus arts.85 e 88, bem como REVOGAR seu art.94, inciso
XXII, fazendo com que a COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR, EM GRAU DE RECURSO, A MATÉRIA
CONCERNENTE AO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, que antes era do Conselho da Magistratura,
passasse a ser DAS CÂMARAS CRIMINAIS ISOLADAS e, nas demais hipóteses previstas no Regimento Interno, do
GRUPO DE CÂMARAS CRIMINAIS.
6
ABRANGÊNCIA do ECA (art.2º e par. único do ECA):
Evidente que não. A rigor o ECA não confere a crianças e adolescentes direitos
outros além daqueles assegurados a todos os cidadãos pela CF e legislação ordinária já
existente, embora existam disposições específicas destinadas a protegê-los contra a ameaça ou
violação de direitos fundamentais e naturais.
O que é importante deixar claro é que o ECA não confere qualquer espécie de
"imunidade" a crianças e adolescentes, de modo a permitir que estes descumpram normas e
violem direitos de outras pessoas, sem que recebam a devida resposta estatal. A regra elementar
de direito natural que reza "o direito de cada um vai até onde começa o direito do outro" vale
também para crianças e adolescentes, que dependendo o caso e grau de violação estão sujeitos
à intervenção do Conselho Tutelar, polícia e autoridade judiciária, que aos adolescentes autores
de atos infracionais8 pode impor medidas sócio-educativas privativas de liberdade.
5
não se limita, portanto, a crianças e adolescentes que se encontram em situação de risco pessoal ou social na forma
do disposto em seu art.98, aos quais apenas prevê a especial intervenção do Conselho Tutelar e/ou Juizado da Infância
e Juverntude e a aplicação de medidas de proteção (art.101, também do ECA) para tentar reverter o quadro;
6
embora a matéria venha a ser melhor analisada oportunamente, vale aqui registrar que, salvo na mencionada
hipótese, a adoção de pessoa maior de 18 (dezoito) anos ainda é possível, porém será regulada pelo Código Civil
(arts.368 a 378), e não pelo ECA;
7
apesar de o dispositivo citado falar apenas na medida de internação, dada possibilidade de qualquer medida sócio-
educativa anteriormente aplicada nela ser convertida, caso descumprida de forma reiterada e injustificada (com a
incidência do disposto nos arts.122, inciso III e 122, §1º do mesmo Diploma Legal), firmou-se posicionamento - hoje
pacífico no Estado do Paraná, que mesmo em se tratando de infrações que não podem ser consideradas de natureza
grave (e assim não comportam desde logo a aplicação da medida privativa de liberdade extrema, dada redação do
art.122, incisos I e II, também do ECA), o atingimento da imputabilidade penal no curso do procedimento (ainda que
antes da fase judicial) não é causa de sua extinção;
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definidos pelo art.103 do ECA como condutas descritas como crime ou contravenção pela Lei Penal;
7
Como dito acima, o que o ECA faz é REAFIRMAR direitos, de modo a deixar
explícito que crianças e adolescentes deles TAMBÉM SÃO TITULARES, pois, consoante
ventilado, a lei anterior assim não o reconhecia. Mas não fica só aí, pois ao encampar as citadas
doutrinas da PROTEÇÃO INTEGRAL e da PRIORIDADE ABSOLUTA, o ECA estabelece ser
DEVER DE TODOS (família, sociedade e Estado) e portanto DE CADA UM DE NÓS, "prevenir a
ocorrência de ameaça ou violação de direitos da criança e do adolescente" (verbis),
consoante expressamente determina seu art.70.
Em seu art.4º, par. único, o ECA procura explicitar o que compreende a "garantia
de prioridade" preconizada pelo caput do mesmo dispositivo (que por sua vez, como vimos,
praticamente reproduz o art.227, caput da CF), a saber:
8
audiências e nos julgamentos, de modo que entre a deflagração das ações e procedimentos e a
sentença decorra o menor espaço de tempo possível, evitando-se os malefícios da morosidade
da Justiça que atingem de forma particularmente cruel crianças e adolescentes.
Para tanto, notadamente nas comarcas que não contam com varas
especializadas, devem os cartórios judiciais ser, nesse sentido, orientados e continuamente
fiscalizados, pois como todas as ações que tramitam na Justiça da Infância e Juventude SÃO
ISENTAS DE CUSTAS E EMOLUMENTOS (art.141, §2º do ECA), há uma nítida tendência de
colocá-las em segundo plano na juntada de peças, cumprimento de diligências por oficiais de
justiça, abertura de vista etc., negando-lhes assim o tratamento PRIORITÁRIO que merecem.
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"os recursos terão preferência de julgamento e dispensarão revisor" (art.198, inciso III - verbis).
9
LIVRO I – PARTE GERAL
I. DIREITOS FUNDAMENTAIS
1 - DIREITO À VIDA E SAÚDE:
PRINCÍPIO - A criança e o adolescente, como não poderia deixar de ser, têm direito a
proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas (que como vimos
devem ser formuladas em caráter PREFERENCIAL por parte do Poder Público - art.4º, par.
único, alínea "c" do ECA) que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso,
condições dignas de existência - art.7º do ECA;
A propósito, importante observar que a CLT prevê, em seu art.389, inciso IV, §1º, que
os estabelecimentos em que trabalharem pelo menos 30 (trinta) mulheres com mais de 16
(dezesseis) anos de idade, deverão ter local apropriado onde seja permitido às empregadas
guardar sob vigilância os seus filhos no período de amamentação, ou seja, DEVEM MANTER
CRECHES na própria sede da empresa ou mesmo em outro local, sendo facultada a realização
de convênios com creches já existentes.
A CLT ainda estabelece o direito da mãe, até que seu filho complete 06 (seis) meses
de idade, a 02 (dois) descansos especiais durante a jornada de trabalho, de meia hora cada um -
art.396, caput, para fins de amamentação do bebê. O período de 06 (seis) meses acima referido
poderá ser DILATADO, quando restar demonstrada a necessidade da medida, a bem da saúde da
criança - art.396, par. único da CLT.
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HIPOTIREODISMO CONGÊNITO - doenças de regra hereditárias causadas por problemas
de metabolismo que podem resultar em deficiência mental), bem como PRESTAR
ORIENTAÇÃO AOS PAIS acerca dos cuidados que deverão ter com o filho cujos exames
tiveram resultado positivo - art.10, inciso III do ECA, sendo que a NÃO REALIZAÇÃO dos
exames importa na prática de CRIME também previsto no art.229 do ECA;
• FORNECER DECLARAÇÃO DE NASCIMENTO, onde constarão as intercorrências do
parto e do desenvolvimento do neonato e será utilizada inclusive para fins de registro civil,
independentemente do pagamento de taxas ou do débito hospitalar - art.10, inciso IV do
ECA, sendo que a RECUSA no seu fornecimento importa na prática de CRIME previsto no
art.228 do ECA;
• MANTER ALOJAMENTO CONJUNTO, de modo que o neonato possa permanecer em
companhia da mãe enquanto não receber alta - art.10, inciso V do ECA.
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O DIREITO À LIBERDADE compreende, dentre outros, o direito de ir e vir e estar nos
logradouros públicos e espaços comunitários, RESSALVADAS AS RESTRIÇÕES LEGAIS -
art.16, inciso I do ECA.
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sendo ASSEGURADA A CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA, em ambiente LIVRE DA
PRESENÇA DE PESSOAS DEPENDENTES DE SUBSTÂNCIAS ENTORPECENTES.
Para que haja plena executoriedade de tal direito fundamental, o ECA, atendendo à
realidade de pobreza no País, estabelece em seu art.23 que "a falta ou carência de recursos
materiais não constitui motivo suficiente para perda ou a suspensão do pátrio poder",
sendo certo que, em não havendo outro motivo, "a criança ou adolescente será mantido em
sua família de origem, a qual deverá obrigatoriamente ser incluída em programas oficiais de
auxílio" (art.23, par. único do ECA). A regra aqui transcrita, diga-se de passagem, também é o
corolário do art.226, §8º da Constituição Federal.
Logo, não mais há que se fazer distinção entre "filho natural" e "filho adotivo", "filho
legítimo", "ilegítimo", "adulterino" etc. TODOS SÃO FILHOS, E APENAS COMO TAL DEVERÃO
SER TRATADOS, não tendo sido recepcionadas pela Constituição Federal de 1988 as
designações discriminatórias contidas na Lei Civil.
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O reconhecimento pode preceder o nascimento ou suceder o falecimento do filho, SE
DEIXAR DESCENDENTES, tendo sido esta última regra estabelecida para impedir que o pai
omisso em assumir tal condição quando seu filho era vivo, efetue o reconhecimento após seu
óbito com o único propósito de auferir vantagem econômica em decorrência de herança por ele
deixada, o que atentaria contra a moralidade do ato.
No mesmo diapasão, existe o entendimento segundo o qual, caso não tenha sido
realizado o exame de D.N.A., por exemplo, que estabelece a certeza científica da paternidade em
até 99,99%, a sentença que reconhece ou deixa de reconhecer a paternidade NÃO
TRANSITARIA EM JULGADO em sentido MATERIAL, mas apenas em sentido formal, sendo
então possível a RENOVAÇÃO DO PEDIDO, para fins de realização da prova técnica, sem ofensa
à coisa julgada. Em contrapartida, tem-se sustentado que não mais vigoram os prazos
decadenciais estabelecidos pela lei civil para o ingresso com a ação negatória de paternidade,
pelo que em havendo justificativa idônea, poderia ser essa ação proposta a qualquer tempo para
fins de realização do exame DNA.
Pela norma estatutária, o pátrio poder (designação que a reforma do Código Civil
pretende abolir) é exercido EM IGUALDADE DE CONDIÇÕES por ambos os genitores, sendo
assegurado a qualquer deles o direito de, em caso de discordância, recorrer à autoridade
judiciária competente para a solução da divergência.
DEVERES INERENTES AO PÁTRIO PODER: São previstos pelo art.22 do ECA, bem
como pelo art.384 do Código Civil, tendo por base o disposto no art.229 da CF.
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São eles:
a) Deveres de GUARDA, SUSTENTO e EDUCAÇÃO (devendo esta ser entendida não apenas a
educação escolar, mas sim em toda amplitude do preconizado pelo art.205 da CF -
"...visando ao pleno desenvolvimento da PESSOA, seu preparo para o exercício da
CIDADANIA..."), compreendendo os deveres de "assistência" e "criação" previstos pelo
art.229 da CF;
Caso comprovada a GRAVE VIOLAÇÃO, por parte dos pais, dos deveres inerentes ao
pátrio poder, e demonstrado de forma cabal e inequívoca a ABSOLUTA INVIABILIDADE do
retorno da criança ou adolescente a sua família natural, deverá ser deflagrado PROCEDIMENTO
CONTRADITÓRIO com vista à SUSPENSÃO ou DESTITUIÇÃO DO PÁTRIO PODER - art.24 do
ECA, procedimento este previsto expressamente pelos arts.155 a 163 do ECA, com o
subsequente encaminhamento do jovem para FAMÍLIA SUBSTITUTA ou ABRIGO (via aplicação
das medidas de proteção previstas no art.101, incisos VII e VIII do ECA).
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Importante observar que pátrio poder NÃO COMPORTA RENÚNCIA por parte dos
pais, sendo que o procedimento deflagrado para sua suspensão ou destituição, por ser uma
"AÇÃO DE ESTADO" que versa sobre um DIREITO INDISPONÍVEL, reclama a aplicação do
disposto no art.320, inciso II do CPC, razão pela qual, ainda que não contestado o feito,
OBRIGATORIAMENTE DEVE SER ELE INSTRUÍDO, bem como devidamente COMPROVADA a
presença da alegada causa de suspensão ou destituição, sendo INAPLICÁVEIS os EFEITOS DA
REVELIA, previstos no art.319 do CPC.
4 - DA FAMÍLIA SUBSTITUTA:
Para tanto, o ECA estabelece alguns PRINCÍPIOS GERAIS, que se aplicam às três
modalidades acima referidas:
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embora a presença ou não da situação de risco envolvendo a criança ou o adolescente seja de suma importância
para fins de definição da COMPETÊNCIA RATIONE MATERIAE, nos casos de tutela e guarda, como melhor veremos
adiante.
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pois o como melhor veremos adiante, o abrigamento é também MEDIDA DE PROTEÇÃO (art.101, inciso VII do
ECA) e o Conselho Tutelar pode aplicá-la, embora APENAS quando verificada a falta, desconhecimento ou
inacessibilidade, ainda que momentânea, dos pais ou responsável pela criança ou adolescente (art.136, incisos I e II
do ECA).
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EXCEPCIONAL), somente podendo ocorrer quando não existirem casais nacionais interessados.
O dispositivo em questão também estabelece que a colocação de criança ou adolescente em
família substituta estrangeira SOMENTE PODERÁ OCORRER NA MODALIDADE ADOÇÃO, que
por sua vez, deverá seguir, além do procedimento previsto no ECA, os princípios e regras
estabelecidas pela chamada CONVENÇÃO DE HAIA (Convenção Relativa à Proteção das
Crianças e Cooperação em Matéria de Adoção Internacional), datada de 1993, assinada e
ratificada no Brasil, tendo sido promulgada pelo Decreto Legislativo nº 3.087, de 21 de junho de
1999.
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mantendo-se íntegro até então (ressalvada, é claro, a eventual perda de alguns de seus atributos,
caso deferida a guarda provisória a terceiros).
Espécies de guarda:
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no caso de adoção, conforme previsto no art.46 do ECA, a ser adiante analisado (item 4.3).
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c) Representativa: defere-se ao guardião o DIREITO DE REPRESENTAÇÃO para a prática de
determinados atos em nome do guardado na hipótese de falta dos pais. Tal disposição é
importante porque o direito de representação do guardado, a rigor, PERMANECE NA
PESSOA DE SEUS PAIS, pois como vimos, a guarda coexiste com o pátrio poder. - art.33,
§2º, in fine do ECA.
Fora das hipóteses acima, não pode haver o deferimento da guarda, razão pela qual
NÃO SE ADMITE A CONCESSÃO da chamada GUARDA "PARA FINS PREVIDENCIÁRIOS", ou
seja, apenas para que o guardado possa figurar, junto à previdência social e/ou planos de
saúde/seguridade privados, como dependente do guardião, pedido bastante comum efetuado por
avós em relação a seus netos, quando os pais estão desempregados ou não possuem planos de
saúde privados.
É deferida nos termos do Código Civil a pessoas de até 21 anos (sendo assim, como
vimos, uma das hipóteses excepcionais de aplicação do ECA a pessoas maiores de 18 anos,
como previsto no art.2º, par. único do citado Diploma Legal) - art.36 do ECA.
Espécies de tutela:
a) Testamentária: nomeação efetuada pelos pais ou avós por testamento ou outro documento
autêntico - art.407 do CC;
c) Dativa: quando recai sobre pessoas outras não nomeadas nem arroladas no art.409 do CC.
Instituto através do qual se estabelece o vínculo de filiação por decisão judicial (por
sentença). A adoção prevista no ECA somente se aplica a crianças e adolescentes, podendo no
entanto ser aplicada a pessoas maiores de 18 anos desde que já estejam sob guarda (ainda que
de fato) ou tutela do(s) adotante(s) - art.40 do ECA (sendo assim mais uma das hipóteses de
expressa aplicabilidade do ECA para pessoas maiores de 18 anos).
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Para os maiores de 18 anos que não estejam sob guarda ou tutela, permanece a
adoção prevista no Código Civil (arts.368 a 378).
O adotado passa a ter os mesmos direitos e deveres (inclusive para fins de sucessão)
dos filhos biológicos do adotante, sendo mesmo vedada qualquer designação discriminatória
quanto à filiação. Uma vez deferida a adoção (que nos termos do disposto no art.47, §6º do ECA
somente produzirá efeitos APÓS O TRÂNSITO EM JULGADO da sentença respectiva, salvo no
caso de adoção póstuma, adiante analisada), há o rompimento de todo e qualquer vínculo com os
pais e parentes biológicos do adotado, permanecendo apenas os impedimentos matrimoniais -
art.41, caput do ECA.
Possui um caráter IRREVOGÁVEL (art.48 do ECA), sendo que a morte dos adotantes
não restabelece o pátrio poder dos pais biológicos (art.49 do ECA). Nada impede porém que os
pais adotivos tenham decretada a perda do pátrio poder que exercem sobre seus filhos, tal qual
ocorre com os pais biológicos, aos quais como vimos se equiparam em direitos e deveres.
Dados seus efeitos, o art.45, §2º exige que para o deferimento da adoção de
adolescente é necessário seu CONSENTIMENTO EXPRESSO (não bastando assim sua mera
oitiva, prevista no art.28, §2º do ECA, que em muitos casos é efetuada pelo Conselho Tutelar,
Comissariado de Vigilância, também chamados de Agentes de Proteção da Infância e Juventude,
equipe interprofissional a serviço do Juízo ou mesmo outras pessoas, sem maiores formalidades).
O adotante deve ser, pelo menos, 16 (DEZESSEIS) ANOS MAIS VELHO que o
adotado - art.42, §3º do ECA, sendo que algumas decisões tem mitigado a aplicação de tal norma
(em especial em se tratando de adoção conjunta por cônjuges ou concubinos), desde que
devidamente comprovado que o deferimento da medida apresenta "reais vantagens para o
adotando", tal qual previsto no art.43 do ECA.
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O art.46 do ECA prevê que a adoção será precedida de ESTÁGIO DE
CONVIVÊNCIA, que no caso de ADOÇÃO NACIONAL é fixado pelo Juiz, dadas as peculiaridades
do caso (art.46, caput do ECA), podendo mesmo ser DISPENSADO em sendo a IDADE do
adotando INFERIOR A 01 (UM) ANO ou, independentemente da idade, já estiver sob a GUARDA
DE FATO do adotante - art.46, §1º do ECA.
Como os prazos mínimos acima referidos são LEGAIS, não pode o Juiz reduzí-los
ainda mais, assim como não é admissível a chamada "dispensa do prazo de recurso" para
abreviar o tempo de permanência do adotante estrangeiro no Brasil.
Vale observar que, TAMANHA foi a preocupação do legislador em não permitir que
crianças fossem levadas para fora do País em havendo quaisquer dúvidas quanto à regularidade
da adoção, que no art.198, inciso VI do ECA estabeleceu a OBRIGATORIEDADE de que
apelações interpostas contra sentenças concessivas de adoção por estrangeiros fossem
recebidas EM SEUS EFEITOS DEVOLUTIVO E SUSPENSIVO (quando por REGRA, para os
demais casos, o dispositivo prevê o recebimento da apelação APENAS em seu efeito
DEVOLUTIVO).
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5 - DIREITO À EDUCAÇÃO, À PROFISSIONALIZAÇÃO E À PROTEÇÃO NO TRABALHO:
Regula-se pela CF (arts.205 a 214), ECA (arts.53 a 59) e Lei nº 9.394/96 - Lei de
Diretrizes e Bases da Educação (LDB).
O art.53 do ECA estabelece ainda alguns direitos básicos de estudantes com menos
de 18 anos de idade, que de forma implícita ou expressa já se encontram devidamente
contemplados na CF a TODA PESSOA.
I. Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola (sendo certo que tais
direitos já se encontram previstos no art.206, inciso I da CF, norma que serve de
fundamento à proibição da aplicação da expulsão ou transferência compulsória como
sanção disciplinar, bem como à proibição de que criança ou adolescente cujos pais são
inadimplentes quanto ao pagamento das mensalidades escolares sejam impedidos de
freqüentar as aulas - hoje também contemplado pela MP nº 1733-61);
II. Direito de ser respeitado por seus educadores;
III. Direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares
superiores;
IV. Direito de organização e participação em entidades estudantis (sendo certo que a
liberdade de reunião e associação para fins pacíficos é garantia constitucional - art.5º,
incisos XVI e XVII da CF);
V. Acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência.
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Caso se omitam, pais ou responsável estarão sujeitos a SANÇÕES
ADMINISTRATIVAS (art.249 do ECA, sem embargo da possibilidade de aplicação de outras
medidas previstas no art.129 do mesmo Diploma Legal) E PENAIS, pois pode restar caracterizado
o CRIME DE ABANDONO INTELECTUAL previsto no art.246 do Código Penal).
A propósito, vale transcrever o art.6º, caput e §1º da Lei nº 9.870, de 23/11/99 (que
substituiu a Medida Provisória Nº 1733, que foi reeditada mais de sessenta vezes), cuja redação é
a seguinte:
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Dada necessidade de compatibilização entre o trabalho do adolescente e sua
freqüência à escola, a conjugação das disposições contidas no art.54, inciso VI do ECA e art.4º,
incisos VI e VII da LDB deixa claro que é obrigatória a oferta de ENSINO FUNDAMENTAL
NOTURNO para o adolescente inserido no mercado de trabalho.
O trabalho infantil é PROIBIDO. Nenhuma pessoa com idade inferior a doze anos
pode trabalhar. Com a Emenda Constitucional nº 20, de dezembro de 1998, somente é possível
o trabalho de adolescentes a partir dos 14 (quatorze) anos, NA CONDIÇÃO DE APRENDIZ,
sendo que o trabalho regular (fora dos casos de aprendizagem), somente é possível A PARTIR
DOS 16 (DEZESSEIS) ANOS13. Houve, assim, ALTERAÇÃO ao disposto no art.60 do ECA.
Tanto a CF, em seu art.228, caput, quanto o ECA, em seu art.4º, caput e 69, deixam
claro que o adolescente tem DIREITO À PROFISSIONALIZAÇÃO, e não ao trabalho. Caso haja o
trabalho, regular ou na condição de aprendiz, são assegurados ao adolescente TODOS OS
DIREITOS PREVIDENCIÁRIOS E TRABALHISTAS previstos na legislação especial (arts.61 e 65
do ECA e art.227, §3º, inciso II da CF), sendo certo que a CF também proíbe discriminação para
o salário por motivo de idade (art.7º, inciso XXX).
a) NOTURNO, que pela legislação trabalhista é definido como aquele que vai das 22:00 horas de
um dia até as 05:00 horas do dia seguinte para o trabalhador urbano, das 20:00 horas de um
dia às 04:00 horas do dia seguinte para o trabalhador rural que exerce atividade com pecuária
e das 21:00 horas de um dia às 05:00 horas do dia seguinte para o trabalhador rural que
labuta na agricultura;
b) INSALUBRE, que vem a ser aquele prestado em condições que expõe o trabalhador a
agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância do organismo fixados em razão da
natureza e intensidade do agente e do tempo de exposição a seus efeitos (art.189 da CLT e
NR 15);
c) PERIGOSO, que implica em contato com energia elétrica de alta tensão, inflamáveis ou
explosivos em condições de risco acentuado (arts.193 e 405, inciso I da CLT, NR 16, Lei nº
7.369/85 e Dec. nº 93.412/86);
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a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria (CNTI), em data de 05/11/99 ingressou junto ao STF com
ação direta de inconstitucionalidade contra o art.1º da Emenda Constitucional nº 20, na parte em que ampliou a idade
mínima do trabalho do adolescente, tendo como fundamentos invocado que, face a realidade do País, não é correto
privar adolescentes do direito de trabalhar e assim prover sua própria alimentação, bem como a Convenção de nº 138
da OIT, que permite o trabalho a partir dos 14 (quatorze) anos. A entidade ainda pondera que o Estado não pode
erradicar a pobreza com normas que conduzam à condição de miséria adolescentes que necessitam trabalhar. A
referida ação foi recebida pelo STF.
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d) PENOSO, que é aquele que exige maior esforço físico ou que se realiza em condições
excessivamente desagradáveis. A CLT proíbe que pessoas com menos de 18 anos de idade
executem serviços que demandem EMPREGO DE FORÇA MUSCULAR SUPERIOR A 20
QUILOS PARA O TRABALHO CONTÍNUO E A 25 QUILOS PARA O TRABALHO
OCASIONAL (arts.405, §5º c/c 390 da CLT);
e) Realizado em locais prejudiciais à formação e desenvolvimento físico, psíquico, moral e/ou
social (art.67, inciso III do ECA);
f) Realizado em tempo e lugar que não permita sua freqüência à escola (art.67, inciso III do
ECA).
Vale também lembrar que "Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua
autoridade, guarda ou vigilância (...) sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado...",
pode em tese caracterizar o CRIME de MAUS-TRATOS, previsto no art.136 do CP.
5.2.1 - APRENDIZAGEM:
Segundo o ECA, aprendizagem é a FORMAÇÃO TÉCNICO-PROFISSIONAL, assim
entendida aquela realizada em cursos oferecidos pelo SENAC, SENAI ou SENAR (ou ainda em
entidades ou empresas conveniadas), de acordo com o Decreto nº 31.546/52, onde poderá o
adolescente ser matriculado a partir dos 14 (quatorze) anos.
25
5.2.2 - TRABALHO EDUCATIVO:
É previsto no art.68 do ECA, sendo definido como "a atividade laboral em que as
exigências pedagógicas relativas ao desenvolvimento pessoal e social do educando
prevalecem sobre o aspecto produtivo" (art.68, §1º do ECA).
O trabalho educativo AINDA NÃO EXISTE na prática, por não ter sido devidamente
regulamentado.
Posto isto, interessante observar que com alguma freqüência são protocolados, junto
ao Juízo da Infância e Juventude, PEDIDOS DE AUTORIZAÇÃO JUDICIAL PARA O TRABALHO
DE ADOLESCENTES, havendo casos em que empresas que tinham em seus quadros,
regularmente contratados com registro em CTPS, adolescentes com idades entre 14 (quatorze) e
16 (dezesseis) anos, passado a exigir tal autorização para não rescindir os contratos à luz do
disposto na Emenda Constitucional nº 20/98.
26
5.2.3 - MITOS EM RELAÇÃO AO TRABALHO. FALSAS JUSTIFICATIVAS PARA O
TRABALHO INFANTIL (Valéria T. Meiroz Grilo):
1. o Brasil e um país pobre e todos devem trabalhar para enriquecê-lo e melhorar as próprias
condições de vida.
(O Brasil é um pais rico, com a população extremamente pobre e o trabalho realizado por
todos não melhora as condições de vida de todos).
2. 0 trabalho e a solução para a retirada de crianças e adolescentes que se encontram nas ruas e
que estão excluídos do sistema educacional
(O trabalho não é solução para proteger e resguardar os direitos de crianças e
adolescentes que estão nas ruas e excluídos do sistema educacional).
6. A criança que trabalha é mais esperta, aprende a lutar pela sobrevivência e tem mais condições
de vencer profissionalmente
(A criança que trabalha cedo prejudica o seu desenvolvimento. Fulmina etapa da vida
necessária para o desenvolvimento de potencialidades, através de tarefas simples, como
brincar, jogar, criar. Somente através da escola e que há preparação adequada para vencer
profissionalmente).
Desde que dentro da faixa etária recomendada, crianças acima de 10 (dez) anos
de idade (inclusive) e adolescentes terão, a princípio, LIVRE ACESSO às diversões e
espetáculos públicos, independentemente de estarem ou não acompanhados de seus pais ou
responsável.
27
Os proprietários, diretores, gerentes e funcionários de empresas que explorem a
venda ou aluguel de FITAS de programação EM VÍDEO, deverão cuidar para que as mesmas
contenham indicação quanto a sua faixa etária, NÃO PODENDO VENDÊ-LAS OU LOCÁ-LAS
a crianças e adolescentes em desacordo com tal classificação (arts.77 e par. único do ECA),
sob pena da prática da infração administrativa prevista no art.256 do ECA, com previsão de
multa entre 03 e 20 salários-de-referência e, no caso de reincidência, a critério da autoridade
judiciária, o fechamento do estabelecimento por até 15 dias.
Importante observar que, caso não haja a expedição de portaria, a entrada nos
locais relacionados no art.149, inciso I será LIVRE, pois como vimos, a criança e o
adolescente têm o direito de "ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços
comunitários, ressalvadas as restrições legais" (art.16, inciso I do ECA).
14
inserem-se aqui lotéricas e estabelecimentos que contenham máquinas de "vídeo-bingo" ou similares;
28
As portarias e alvarás deverão ainda ser expedidos obedecendo as regras
estabelecidas pelo art.149, §§1º e 2º do ECA, pelo que OBRIGATORIAMENTE terão de ser
FUNDAMENTADAS, CASO A CASO (em respeito até mesmo ao disposto no art.93, inciso IX
da CF) e deverão de levar em conta:
a) os princípios do ECA;
b) as peculiaridades locais;
c) a existência de instalações adequadas;
d) o tipo de freqüência habitual no local;
e) a adequação do ambiente a eventual participação ou freqüência de crianças e
adolescentes e
f) a natureza do espetáculo.
OBS: Tendo em vista que o art.81 do ECA faz distinção entre "bebidas alcoólicas" e "produtos
cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica", entende-se (embora não de
forma pacífica) que apenas que a venda, fornecimento etc. destes últimos é que caracterizaria o
crime previsto no art.243 do ECA, caracterizando a venda de bebidas alcoólicas a pessoas com
menos de 18 anos apenas a contravenção penal prevista no art.63, inciso I do Dec. Lei nº
3688/41 (LCP).
c) FOGOS DE ESTAMPIDO E ARTIFÍCIO, exceto os que por seu reduzido potencial não
possam causar dano físico no caso de utilização indevida (art.81, inciso IV do ECA), sob
pena da caracterização do CRIME previsto no art.244 do ECA;
29
d) REVISTAS E PUBLICAÇÕES a que alude o art.78 do ECA (art.81, inciso V do ECA);
30
LIVRO II - PARTE ESPECIAL
Antes do ECA, a política na área era proposta de forma autoritária, "de cima para
baixo", através de programas e diretrizes formulados a nível nacional (via Fundação Nacional do
Bem Estar do Menor - FUNABEM).
I. Políticas sociais básicas (saúde, educação, saneamento básico etc.) - devem ser
proporcionadas pelo Poder Público, com PREFERÊNCIA na FORMULAÇÃO e
EXECUÇÃO para a área da infância e juventude (art.4º, par. único, alínea "c" do
ECA);
31
O ECA ainda estabelece DIRETRIZES a serem observadas por essa mesma política
de atendimento (art.88):
"TODO PODER EMANA DO POVO, que o exerce por meio de representantes eleitos
OU DIRETAMENTE, nos termos desta Constituição" (art.1º, par. único da CF);
São criados por lei, sendo que suas origens remontam aos conselhos populares e
comunitários, que eram órgãos consultivos e informativos da situação de cada localidade em
determinadas áreas criados na década de 1980 com o processo de redemocratização do País.
32
apenas o ACOLHIMENTO de tal deliberação, e com a PRIORIDADE ABSOLUTA preconizada
pelo ECA e CF.
ATRIBUIÇÕES (ou "competências", na classificação feita por Felício Pontes Jr.) dos
CONSELHOS DE DIREITOS:
33
implantados e/ou mantidos no período, devendo cada qual conter a previsão de seu CUSTO
(com a indicação do quanto deverá o município arcar - haja vista a possibilidade de seu co-
financiamento pela própria entidade e/ou pela União/Estado, mediante convênio).
d. GERIR O FUNDO para a infância e adolescência (art.88, inciso IV do ECA e art.71 da Lei nº
4.320/64) - O Fundo Especial para a Infância e Adolescência, também conhecido por "FIA",
existe nos três níveis (Nacional, Estadual e Municipal), sendo criado por lei (normalmente na
mesma lei que cria os Conselhos de Direitos e Tutelar, em capítulo ou seção própria), em
obediência à Lei Federal nº 4.320/64, que estabelece normas de gestão financeira de recursos
públicos, das quais não pode se dissociar.
O FIA pode ter várias FONTES DE RECEITA, que devem ser também definidas em
lei, sendo comuns as doações (vide art.260 do ECA, que no entanto já sofreu várias alterações
ao longo dos anos, sendo hoje possível deduções subsidiadas para doações de até 1% do IR
devido para pessoas jurídicas e 6% para pessoas físicas), transferências intra e
intergovernamentais (também chamadas de "dotações orçamentárias"), recursos provenientes
de multas administrativas aplicadas com base nos arts.194 a 197 e 245 a 258 do ECA (valendo
observar o disposto no art.214, caput e §2º do ECA).
O controle da aplicação dos recursos do FIA, além de ser efetuado pelo Poder
Legislativo quando da análise da Lei Orçamentária, também fica a cargo do Tribunal de Contas
respectivo.
34
e. Elaborar proposta de ALTERAÇÃO DA LEGISLAÇÃO EM VIGOR para atendimento dos
direitos da infância e juventude - Uma vez detectadas falhas na sistemática de atendimento à
criança e ao adolescente que demandam alteração legislativa para serem superadas, pode o
Conselho de Direitos PROPOR tal alteração, que no entanto ficará sujeita aos trâmites e ao
seu acatamento pelo Poder Legislativo, que é SOBERANO para deliberar em sentido contrário
(face o princípio constitucional da autonomia e independência entre os Poderes).
35
DETRAN), onde funcionam todos os órgãos encarregados de atender o adolescente em conflito
com a lei, lá existindo inclusive um setor destinado à INTERNAÇÃO PROVISÓRIA do
adolescente, enquanto aguarda julgamento, internação esta que se estenderá pelo prazo
MÁXIMO E IMPRORROGÁVEL de 45 (quarenta e cinco) dias (vide arts.108 e 183 do ECA).
Facilita assim, um maior contato entre todos os envolvidos no processo de apuração do fato, de
suas circunstâncias e da descoberta da medida sócio-educativa mais adequada ao caso (que
deve ser aplicada não apenas com base na gravidade do ato praticado). Além de Curitiba, existe
no Paraná outro Centro Integrado apenas em Foz do Iguaçu, embora vários outros municípios
contem com entidades destinadas à internação provisória de adolescente (são os chamados
Serviços de Atendimento Social - SAS).
1 - ENTIDADES DE ATENDIMENTO:
36
a) programas de orientação e apoio familiar, que são os mencionados nos arts.101, incisos II e
IV (acompanhamento, orientação e apoio temporários e programa de auxílio à família, à
criança e ao adolescente), 129, incisos I e II (programa oficial de auxilio à família e programa
de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos);
b) apoio sócio-educativo em meio aberto;
c) colocação familiar (colocação em família substituta nas três modalidades - guarda, tutela e
adoção - sempre em regime de COLABORAÇÃO com a autoridade judiciária - vide art.30 do
ECA);
d) abrigo (caso impossível o retorno à família de origem, ainda que momentaneamente, nem a
colocação em família substituta);
e) liberdade assistida;
f) semiliberdade;
g) internação.
Para as entidades de ABRIGO, o ECA relaciona alguns PRINCÍPIOS que devem ser
observados (art.92), que constituem-se numa reprodução mais detalhada daqueles já
mencionados quando tratávamos do DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR (vide também art.100
do ECA).
O CMDCA efetua uma verdadeira fiscalização prévia por ocasião do registro das
entidades não governamentais. Além da fiscalização prévia, todas entidades (não governamentais
e governamentais) são fiscalizadas pelo Promotor de Justiça, Autoridade Judiciária (embora
alguns sustentem que, dada redação do art.2º do CPC, aplicado por força do art.152 do ECA, não
possa o Juiz fazer inspeção e baixar portaria instauradora de procedimento para apuração de
37
irregularidades na entidade, tal qual previsto no art.191, caput do ECA) e Conselho Tutelar,
conforme o art.95 do ECA.
Sempre que uma entidade não obedecer as regras dos arts.92 e 94 do ECA
(princípios das entidades de abrigo e de internação), abre-se a possibilidade do desencadeamento
de procedimento para apuração de irregularidades em entidades de atendimento (previsto nos
arts.191 a 193 do ECA), podendo ser aplicadas as medidas estatuídas no art.97 do ECA, sem
prejuízo da responsabilidade civil ou criminal de seus dirigentes ou prepostos.
SANÇÕES previstas para entidades GOVERNAMENTAIS: advertência, afastamento
provisório dos dirigentes, afastamento definitivo do dirigente, fechamento da unidade ou interdição
do programa.
Observação importante: a MULTA prevista no art.193, §4° do ECA, NÃO PODE SER
APLICADA. Foi um ERRO do legislador que não a suprimiu neste artigo, quando esta modalidade
de sanção foi suprimida pelo rol constante do art.97 do ECA. HÁ DIVERGÊNCIA de opinião,
sustentando alguns que a multa é aplicada PARA A PESSOA DO DIRIGENTE e não para a
entidade.
38
alegações finais, que também pode ocorrer por memoriais, no prazo de 05 (CINCO) DIAS,
decidindo o juiz no mesmo prazo.
Quando os autos são conclusos ao Juiz, abre-se duas opções: ou o Juiz prolata a
sentença ou determina prazo para a remoção das irregularidades verificadas. Findo o prazo,
se as irregularidades tiverem sido removidas, há EXTINÇÃO do processo e, se não, prolata-se
sentença aplicando medida prevista no art.97 do ECA.
39
III - DAS MEDIDAS DE PROTEÇÃO (arts.98 a 102 do ECA):
Conceito: são medidas aplicadas pela autoridade competente (Juiz, Promotor,
Conselheiro tutelar) a crianças e adolescentes que tiverem seus direitos fundamentais violados ou
ameaçados, ou seja, quando se encontrarem em SITUAÇÃO DE RISCO pessoal ou social na
forma do disposto no art.98 do ECA:
A aplicação das medidas protetivas deve obedecer a certos PRINCÍPIOS, alguns dos
quais se encontram insculpidos nos arts.99 e 100 do ECA:
40
QUAIS SÃO AS MEDIDAS PROTETIVAS?
8. COLOCAÇÃO EM FAMÍLIA SUBSTITUTA, nas três modalidades, sendo sua aplicação, como
dito anteriormente, medida de competência EXCLUSIVA da AUTORIDADE JUDICIÁRIA (em
razão do contido no art.136, inciso I do ECA, o CT somente pode aplicar a crianças e
41
adolescentes as medidas de proteção que vão do art.101, incisos I ao VII, valendo a respeito do
tema ainda observar o contido no art.30 do ECA);
Consoante dito acima, as medidas de proteção (salvo quando forem aplicadas a título
de medida sócio-educativa, tal qual o previsto no art.112, inciso VII do ECA), NÃO SÃO
COERCITIVAS à criança ou adolescente (embora possam sê-lo as medidas correlatas destinadas
a seus pais ou responsável, a exemplo das previstas no art.129, incisos V e VI do ECA), não
sendo assim necessária a deflagração de procedimento contraditório destinado à sua aplicação
(que como vimos pode mesmo se dar na simples via administrativa através do CT).
42
IV - DAS MEDIDAS APLICÁVEIS AOS PAIS OU RESPONSÁVEL (art.129 do ECA)
Consoante acima ventilado, uma vez detectada a presença de situação de risco na
forma do disposto no art.98 do ECA, a aplicação de medidas de proteção à criança e ao
adolescente muitas vezes por si só não basta, sendo necessário que também seja realizada uma
intervenção junto à sua FAMÍLIA, quer para que esta seja promovida socialmente, quer para que
seus integrantes recebam alguma espécie de tratamento do qual necessitem, quer para que
sejam compelidos a participar ativamente do processo de recuperação de seus filhos e a cumprir
os deveres inerentes ao pátrio poder que por alguma razão se omitiram em fazer, e mesmo para
receber sanções específicas previstas em lei.
Embora não haja previsão expressa nesse sentido, é admissível a aplicação, também
às medidas destinadas aos pais ou responsável, dos princípios genéricos das medidas de
proteção, relacionados nos arts.99 e 100 do ECA.
São elas:
43
4 - ENCAMINHAMENTO A CURSOS OU PROGRAMAS DE ORIENTAÇÃO - aplicada geralmente
em conjunto com as relacionadas nos itens "2" e "3" supra, pode abranger desde o convencimento
acerca da necessidade de que o destinatário da medida se submeta ao tratamento necessário até
o "ensino" da forma como devem ser tratados os filhos/pupilos, de modo que não haja omissões
nem abusos no exercício do pátrio poder ou dos deveres inerentes à tutela/guarda;
b. JUIZ DA INFÂNCIA E JUVENTUDE - único que pode aplicar as medidas previstas no art.129,
incisos VIII, IX e X do ECA.
44
finalidade e, caso não o faça, neles obrigatoriamente oficiará, sob pena de nulidade (arts.202 e
204 do ECA).
45
V - ATO INFRACIONAL e MEDIDAS SÓCIO-EDUCATIVAS (arts.103 a 105 e 112 a
125 do ECA):
Como o ato infracional não é crime e a MSE não é pena, incabível fazer qualquer
correlação entre a quantidade ou qualidade (se reclusão ou detenção) de pena in abstracto
46
prevista para o imputável que pratica o crime e a medida sócio-educativa destinada ao
adolescente que pratica a mesma conduta.
A aplicação das MSE não está sujeita aos parâmetros traçados pelo CP e doutrina
penalista para a "dosimetria da pena", sendo assim inadmissível falar em um "sistema trifásico de
dosimetria de MSE" ou mesmo a utilização, bastante comum, da análise das circunstâncias
judiciais do art.59 do CP.
A aplicação das MSE está sujeita a PRINCÍPIOS PRÓPRIOS, traçados pelo arts.112,
§1º e 113 c/c arts.99 e 100, todos do ECA.
47
VI - DOS DIREITOS INDIVIDUAIS (arts.106 a 109 do ECA)
São basicamente os mesmos direitos que a CF assegura a todo cidadão:
Art.106, par. único - Direito à identificação dos responsáveis por sua apreensão (que
se ilegal poderá resultar na prática de CRIME previsto no art.230 do ECA), bem como de ser
cientificado de seus direitos;
48
VII - DAS GARANTIAS PROCESSUAIS (arts.110 e 111 do ECA)
Art.110 - fala do DEVIDO PROCESSO LEGAL, já assegurado a todo cidadão pelo
art.5º, inciso LIV da CF;
49
VIII - ESPÉCIES DE MEDIDAS SÓCIO-EDUCATIVAS (art.112, incisos I a VII do
ECA):
Não se confunde com a indenização cível, sendo aplicável aos casos de atos
infracionais com reflexos patrimoniais (furto, roubo, apropriação indébita, dano), podendo ocorrer
em uma das três modalidades indicadas no ECA:
1. restituição da coisa;
2. ressarcimento do dano em dinheiro;
3. outra alternativa compensatória, como, por exemplo, a prestação de serviços, desde que haja
consentimento (dada proibição de trabalho forçado - art.112, §2° do ECA e art.5º, inciso
XLVII, alínea "c" da CF).
Não se trata de uma espécie de "liberdade vigiada" (tal qual previa o antigo Código
de Menores), período de prova ou espécie de sursis, que revelam meramente o controle de
conduta, mas sim importa em INTERVENÇÃO EFETIVA de uma "pessoa capacitada para
acompanhar o caso" (verbis), também chamado de ORIENTADOR que dê condições para o
adolescente de PROMOÇÃO SOCIAL e FORTALECIMENTO DE VÍNCULOS COM A FAMÍLIA E
A COMUNIDADE (tal qual previsto no art.100 do ECA).
50
OBRIGAÇÕES DO ORIENTADOR - que deverá delas desincumbir-se com APOIO e
SUPERVISÃO da autoridade competente (Conselho Tutelar ou Juiz da Infância e Juventude, que
se necessário aplicarão as medidas previstas nos arts.101 e 129 do ECA):
Período MÁXIMO de duração: SEIS MESES (devendo ser este fixado quando da
sentença ou do acordo de remissão, sendo assim uma exceção à regra da duração indeterminada
das medidas sócio-educativas em geral).
Dois tipos:
1. é aquele determinado desde o início pela autoridade judiciária, através do devido processo legal
(não existe a possibilidade da aplicação de medidas privativas de liberdade em sede de remissão
- art.127 do ECA).
2. caracteriza-se pela "progressão do regime": o adolescente inicialmente internado é beneficiado
com a mudança de regime, do internato para a semiliberdade.
51
A medida não comporta prazo determinado, com aplicação subsidiária de
disposições relativas à internação (notadamente quanto à reavaliação periódica, prazo máximo de
duração, desligamento apenas mediante autorização judicial, liberação compulsória aos 21 anos e
direitos relacionados no art.124 do ECA) - art.120 § 2° do ECA.
a) DA BREVIDADE - a internação deverá ter um tempo indeterminado para sua duração, que fica
condicionada ao êxito do trabalho psicossocial desenvolvido com o adolescente na unidade onde
cumpre a medida. A manutenção da internação deve ser reavaliada periodicamente, NO MÁXIMO
a cada seis meses (art.121, §2º do ECA), respeitado o período máximo de 3 (três) anos previsto
para sua duração (art.121, § 3° do ECA).
Após cumprido o prazo máximo de 3 (três) anos, deverá ser o adolescente liberado,
colocado em semiliberdade ou liberdade assistida (art.121, §§ 3° e 4° do ECA), podendo
permanecer em regime de semiliberdade por mais 03 (três) anos e, em liberdade assistida, pelo
tempo que se fizer necessário (sempre respeitado o limite dos 21 anos, previsto no art.2º, par.
único do ECA).
52
ECA (internação esta que é prevista para dar maior COERCIBILIDADE às medidas aplicadas em
meio aberto).
A lei não determina prazo mínimo de duração da medida, sendo que já foram
cassadas decisões que estabeleciam que a reavaliação da manutenção da internação ocorresse
"a cada seis meses", pois esta deve ficar a critério da equipe técnica que acompanha a execução
da medida (a menos, é claro, que o Juiz estabeleça um prazo reduzido para tanto, de um ou dois
meses, o que viria a beneficiar o adolescente). Dado PRINCÍPIO DA BREVIDADE da duração da
medida de internação, a cada reavaliação deverá ser proferida NOVA DECISÃO quanto à
manutenção da internação do adolescente. Contra decisões que optam pela manutenção da
internação quando os relatórios da equipe técnica são favoráveis à desinternação, tem se
admitido o agravo de instrumento (embora também cabível o habeas corpus, como por exemplo
no caso de a autoridade judiciária não fundamentar sua decisão ou fazê-lo apenas com base em
argumentos flagrantemente inadmissíveis, como o supostamente pequeno tempo de duração da
medida face a gravidade do ato praticado, a comparação do tempo de duração da medida com o
quantum de pena previsto in abstracto pela legislação penal ou a ser possivelmente aplicado em
concreto etc).
53
A medida de internação SOMENTE PODE SER APLICADA em estando presente
alguma das situações do art.122 do ECA, cujo e elenco é TAXATIVO e EXAUSTIVO, não
havendo possibilidade de aplicação da medida fora das hipóteses apresentadas.
São elas:
54
infratores, eram colocados na mesma instituição), obedecendo rigorosamente à SEPARAÇÃO por
critérios de IDADE, COMPLEIÇÃO FÍSICA e GRAVIDADE DA INFRAÇÃO, sendo obrigatória a
execução de atividades pedagógicas - na perspectiva de que a contenção, por si só, não basta,
haja vista que as medidas sócio-educativas privativas de liberdade, por não serem penas, não
possuem um fim em si mesmas, sendo apenas o MEIO para que o adolescente seja tratado e
recuperado (art.123 do ECA).
INTERNAÇÃO PROVISÓRIA (art.108 e par. único c/c arts.174 e 183, todos do ECA):
O Juiz ao receber a ação sócio-educativa pública, proposta pelo Ministério Público, se entender
necessário, proferirá DECISÃO FUNDAMENTADA baseada em INDÍCIOS SUFICIENTES DE
AUTORIA E MATERIALIDADE, demonstrando ser IMPERIOSA A IMPOSIÇÃO DA INTERNAÇÃO
PROVISÓRIA (art.108 do ECA).
A internação provisória será determinada pela autoridade judiciária quando (arts.108 e 174 do
ECA):
Não se confunde com a "prisão preventiva" prevista no CPP para os imputáveis nem permite a
utilização dos requisitos desta para justificar seu decreto, que deve ocorrer apenas com base nos
requisitos relacionados nos itens "a", "b" e "c" supra.
Também será possível a internação provisória, quando o adolescente foi apreendido em flagrante
de ato infracional. Para sua MANUTENÇÃO, no entanto, TAMBÉM DEVE SER A MEDIDA
JUDICIALMENTE DECRETADA, com a comprovação da presença das condições acima referidas,
pois a REGRA será a LIBERAÇÃO IMEDIATA (art.107, par. único do ECA). Em outras palavras,
a apreensão em flagrante do adolescente, por si só, não subsiste, sendo necessária decisão
judicial que mantenha sua contenção por NECESSIDADE IMPERIOSA.
De qualquer modo, essa medida, aplicada provisoriamente, não poderá ser cumprida em
repartição policial, à exceção da hipótese do art.185, §2º do ECA, segundo o qual a
PERMANÊNCIA MÁXIMA do adolescente em "seção isolada dos adultos" (a chamada "sala" ou
"cela especial") será de 05 (CINCO) dias, enquanto aguarda transferência para INSTITUIÇÃO
PRÓPRIA para o cumprimento da medida, devendo o procedimento ser concluído em
IMPRORROGÁVEIS 45 (QUARENTA E CINCO) dias (art.183 do ECA).
55
Em Curitiba, uma instituição própria para internação provisória de adolescentes acusados da
prática de atos infracionais funciona junto ao Centro Integrado de Atendimento ao Adolescente
Infrator (o chamado CIAADI), que existe em cumprimento ao disposto no art.88, inciso V do ECA
e visa a INTEGRAÇÃO OPERACIONAL dos diversos órgãos que atuam na área, com vista à
agilização do atendimento prestado.
Para isso previu que a remissão pudesse ser conferida por duas autoridades distintas em
ocasiões diversas.
a) art.126 caput do ECA: pode ser concedida pelo Promotor de Justiça, como forma de
EXCLUSÃO do processo;
b) art.126, par. único do ECA - pode ser concedida pela autoridade judiciária (que sempre será
o Juiz da Infância e Juventude, ex vi do disposto no art.148, inciso II do ECA), ouvido o MP,
após iniciado o procedimento (via representação), que importará em SUSPENSÃO ou
EXTINÇÃO do processo.
56
Em ambos os casos, a remissão será concedida atendendo às CIRCUNSTÂNCIAS
DO FATO, ao CONTEXTO SOCIAL, à PERSONALIDADE DO ADOLESCENTE e sua MAIOR OU
MENOR PARTICIPAÇÃO no ato infracional.
A remissão concedida pelo MP deverá ser homologada pelo juiz (art.181, §1° do
ECA).
Importante anotar que sobre a matéria o STJ editou uma SÚMULA, de nº 108,
segundo a qual "a aplicação de medidas sócio-educativas ao adolescente, pela prática de
ato infracional, é de competência exclusiva do Juiz" (verbis).
57
Felizmente, no PR, a exemplo do que ocorre em boa parte dos estados brasileiros,
a "aplicação" a que se refere a citada Súmula é interpretada como sendo sinônimo de
"IMPOSIÇÃO", e esta, de fato, somente cabe à autoridade judiciária AO FINAL DO
PROCEDIMENTO, após comprovadas autoria e materialidade do ato infracionais.
Como na remissão NÃO HÁ IMPOSIÇÃO, mas sim AJUSTE, que ainda está sujeito
ao crivo de sua legalidade pela autoridade judiciária, não existe óbice algum concessão pelo MP
de remissão CUMULADA com MSE, em que o titular da ação sócio-educativa, usando do princípio
da oportunidade que norteia o oferecimento da representação, CONDICIONA a não deflagração
do procedimento judicial ao imediato cumprimento, por parte do adolescente (devidamente
representado ou assistido por pai, mãe, responsável ou curador nomeado), de MSE não privativa
de liberdade, podendo o adolescente aceitar ou não os termos do acordo. Caso aceite, deverá ser
a remissão reduzida a termo e assinada por todos, e em caso negativo, restará ao MP conceder a
remissão como forma de perdão puro e simples ou oferecer a representação.
Dispõe o art.128 do ECA que a medida aplicada por força de remissão poderá ser
REVISTA JUDICIALMENTE a qualquer tempo, mediante PEDIDO EXPRESSO do adolescente,
de seu representante legal, ou MP. o que apenas enfatiza o CONTROLE JUDICIAL que permeia a
matéria, bem como serve como corolário ao disposto no art.99 c/c art.113 do ECA.
QUESTÕES CONTROVERTIDAS:
ASSISTENTE DE ACUSAÇÃO:
Como não possui natureza penal, nem é tecnicamente "condenatória", a decisão prolatada no
Juízo da Infância e da Juventude não constitui título executivo judicial, passível de ser executado
no cível. Este fator, somado às cautelas quanto ao sigilo que deve ser observado em relação aos
procedimentos para apuração de ato infracional praticado por adolescente (vide arts.143 e 144 do
ECA), faz imperar o entendimento segundo o qual NÃO É CABÍVEL a intervenção de assistente
de acusação nestes procedimentos.
PRESCRIÇÃO:
58
Os principais argumentos para esse posicionamento são:
1 - Natureza das medidas sócio educativas. Medidas que educam, para a convivência social,
propiciando-lhes realização pessoal - caráter pedagógico;
3 - Ausência no ECA de indicação de que se aplicam as normas da Parte Geral do Código Penal -
se fosse a intenção do legislador, haveria indicação expressa;
4 - Os prazos para a prescrição penal se baseiam nos prazos fixados legalmente para cada delito
ou contravenção ou o estabelecido na sentença para cumprimento. - O ECA não vincula o ato à
medida e nem prevê prazo determinado para sua duração, podendo ainda uma medida ser
substituída por outra (art.99 do ECA) e mesmo as inicialmente aplicadas em meio aberto
"regredirem" para internação (art.122, inciso III do ECA).
59
IX. O CONSELHO TUTELAR
Conselho previsto pelo ECA também com base no princípio constitucional da
DEMOCRACIA PARTICIPATIVA contido no art.1º, par. único da CF, sendo de CRIAÇÃO
OBRIGATÓRIA NOS MUNICÍPIOS, com funções diversas do CMDCA, já estudado. Ao contrário
do que ocorre com o CMDCA, o ECA trata do CT em várias disposições e todas as suas
atribuições estão indicadas nesta Lei Federal.
DEFINIÇÃO: órgão municipal (não existe a nível estadual e/ou Federal), vinculado
ADMINISTRATIVAMENTE ao Poder Executivo Municipal, PERMANENTE, AUTÔNOMO e NÃO
JURISDICIONAL, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança
e do adolescente (art.131 do ECA).
CARACTERÍSTICAS que dão suporte e legitimidade para atuação (que são indicadas no próprio
conceito):
QUANTIDADE DE CTs NOS MUNICÍPIOS: a lei municipal obrigatoriamente cria um, mas
poderão ser criados mais (em Curitiba e Porto Alegre, p.e., são oito).
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não se fala em eleição para evitar a incidência do art.22, inciso I da CF, que estabelece a competência privativa da
União para legislar sobre legislação eleitoral (e ainda via lei complementar), haja vista que o processo de ESCOLHA
será regulado pela legislação municipal;
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PROCESSO DE FORMAÇÃO: Deve ser CRIADO POR LEI MUNICIPAL (isolada ou a mesma que
trata da política de atendimento da população infanto-juvenil), de iniciativa da chefia do Poder
Executivo, porque importa na criação de despesas para o município. A elaboração da lei
municipal deve ser acompanhada pela sociedade civil organizada para garantia de determinados
itens de modo que não se "elitize" o Conselho. Preferencialmente devem os conselheiros tutelares
ser eleitos pela própria comunidade de forma direta (com o voto direto, secreto e facultativo dos
eleitores do município), embora seja admissível que a eleição se dê por intermédio de um "colégio
eleitoral", desde que representativo de todos os segmentos da sociedade.
A lei municipal, além de repetir disposições da Lei 8.069/90, em relação a qual não
poderá divergir16, disporá sobre a quantidade de conselhos (dependendo da demanda e
peculiaridades locais), com a base territorial de abrangência de cada conselho (em caso de mais
de um), o horário, os dias e locais de funcionamento (art.134, ECA), eventual remuneração de
seus membros, processo de escolha, ampliação dos requisitos para inscrição da candidatura,
forma de registro (chapa ou individual), hipóteses de perda de mandato e procedimento, licenças
dos conselheiros, etc.
16
composição de cinco membros, escolha pela comunidade, mandato de três anos, permissão de uma recondução,
requisitos para candidatura, impedimentos para servir no mesmo conselho, exercício de função relevante com
asseguramento de presunção de idoneidade moral e prisão especial em caso de prática de crime, até julgamento
definitivo;)
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Para que o processo de escolha tenha validade deve ser fundamentado em quatro
itens básicos: (v. art.139 do ECA).
A escolha será pela comunidade e não com indicação pelo Prefeito ou pelo
CMDCA. Como dito, pode ser através de "colégio eleitoral" representativo ou por eleição direta.
Esta última forma é a mais democrática, e deve ocorrer de forma direta, universal, com voto
facultativo e secreto.
a) idoneidade moral;
b) idade superior a vinte e um anos;
c) residência no município.
Estes são os requisitos mínimos, podendo haver ampliação pela lei municipal (existe
uma corrente que sustenta a impossibilidade de ampliação dos requisitos previstos no ECA. Esta
é a posição que vem sendo adotada pelo TJRS. No Paraná, a questão ainda não foi levada ao
TJ). Não devem ser inseridos requisitos que restrinjam em demasia a participação da comunidade
ou incompatíveis com a finalidade do órgão (tais como a exigência de curso de computação,
habilitação para condução de veículo etc.).
Para excluir um dos impedidos, a orientação é que isto ocorra após o sufrágio,
ocupando o cargo aquele que obtiver maior número de votos, restando o outro na suplência, com
assunção à função condicionada à ausência do impedido. Existem leis municipais que indicam
como critério de exclusão (antes mesmo do sufrágio) a anterioridade na inscrição, o que
obviamente não é um critério justo nem adequado, pois pode inviabilizar a candidatura de pessoa
idônea que reuna plenas condições de bem desempenhar a função.
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ATRIBUIÇÕES DO CONSELHO TUTELAR (arts.95, 136, 191 e 194 do ECA):
art.136 - traz uma ampla gama de atribuições, sendo as mais importantes as que
dizem respeito:
f. REPRESENTAR AO MP para efeito das ações de perda ou suspensão do pátrio poder - como
o CT somente pode aplicar aos pais ou responsável as medidas previstas nos incisos I a VII
do art.129 do ECA, caso vislumbre a necessidade do decreto da suspensão ou perda do
pátrio poder deve nesse sentido provocar o MP (sendo que o CT deve procurar sempre e
antes de mais nada manter, o quanto possível, a criança/adolescente junto a sua família
natural, aplicando para tanto as medidas cabíveis);
- REQUISITAR (e não apenas solicitar) SERVIÇOS PÚBLICOS nas áreas da saúde, educação,
serviço social, previdência, trabalho e segurança (art.136, inciso III, alínea "a" do ECA) - sendo
certo que, por ser revestido da qualidade de AUTORIDADE PÚBLICA, com poderes
EQUIPARADOS ao do Juiz da Infância e Juventude, o descumprimento de suas determinações
caracteriza, em tese, CRIME DE DESOBEDIÊNCIA (art.330 do CP), sem embargo da prática de
INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA prevista no art.249 do próprio ECA (sendo certo que a aplicação
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das sanções previstas em ambos dispositivos não importa em bis in idem, pois ambas têm
natureza jurídica diversa).
c. Nos casos de ATO INFRACIONAL praticado por crianças, a competência é do local onde a
infração se consumou (art.147, §1º do ECA). O CT deste local é que analisa o caso e aplica
as medidas protetivas.
Como vimos acima, reza o art.134 do ECA que a lei municipal deverá dispor sobre o
horário de funcionamento do CT.
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Importante, no entanto, que não se faça confusão entre "HORÁRIO DE
FUNCIONAMENTO" e "SESSÃO PLENÁRIA DE DELIBERAÇÃO" quanto às medidas a serem
aplicadas e outros assuntos constantes da pauta, que na prática são coisas totalmente distintas.
Assim é que TODOS OS CASOS ATENDIDOS, aos quais seja necessária a aplicação
de uma ou mais das medidas previstas no art.101 e 129 do Estatuto da Criança e do Adolescente,
e mesmo as REPRESENTAÇÕES oferecidas por infração às normas de proteção à criança e ao
adolescente, REQUISIÇÕES na forma do previsto no art.136, inciso III, alínea "a" e outras
providências tomadas pelo órgão, DEVERÃO PASSAR PELA DELIBERAÇÃO E APROVAÇÃO
(ou ao menos o REFERENDO) DO COLEGIADO, sob pena de INVALIDADE dos atos praticados
isoladamente por apenas um ou mais conselheiros, sem respeito ao quorum mínimo de instalação
da sessão deliberativa.
a. O CT existe apenas a nível MUNICIPAL, enquanto o CDCA existe nos três níveis:
MUNICIPAL, ESTADUAL e FEDERAL;
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ATENDIMENTO, podendo apenas acompanhar casos atendidos pelo CT e outros
órgãos/autoridades para tomar conhecimento da demanda e, com base nela, elaborar a
política de atendimento;
d. O CT pode ou não ser "remunerado" (ou subsidiado), de acordo com o que dispuser a
legislação local, ao passo que os membros do CDCA NÃO PODEM SER REMUNERADOS;
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X. O ACESSO À JUSTIÇA. A JUSTIÇA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE.
A JUSTIÇA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE.
O JUIZ, O MINISTÉRIO PÚBLICO, O ADVOGADO E OS SERVIÇOS
AUXILIARES.
O ACESSO À JUSTIÇA:
Têm livre acesso, com reconhecimento de que são sujeitos de direitos, a todos os
órgãos que possam promover a defesa de seus interesses judicial ou extrajudicialmente. Todo
obstáculo ao acesso é considerado ilegal e abusivo.
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regra contida no §2º do dispositivo, que permitia, além da multa, se fosse a infração praticada por
órgão de imprensa ou emissora de rádio ou televisão, a apreensão do periódico, suspensão do
programa da emissora por dois dias ou a publicação do periódico por dois números foi
considerada INCONSTITUCIONAL pelo STF, não mais valendo, portanto.
Não pode também ser expedida certidão acerca de atos referentes a práticas
infracionais com os apontados autores, salvo mediante requerimento formulado à autoridade
judiciária competente (Juiz Infância e Juventude, da área de infratores), demonstrando o interesse
e justificada a finalidade (art.144 do ECA).
Com já dito, a lei estadual indicará, dentre os juizes, qual é o competente para
aplicação das normas do ECA.
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filhos não emancipados, e do tutor ou curador aos incapazes sob sua guarda" (verbis) e
art.36 do CC - "os incapazes têm por domicílio o de seus representantes" (verbis).
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Competência do Juiz da Infância e Juventude para disciplinar algumas matérias através de
PORTARIA ou ALVARÁ: art.149 do ECA:
Tem por objetivo facilitar a prestação jurisdicional, para que seja prolatada decisão
justa, com subsídios de estudos sociais e laudos. Estes laudos podem ser impugnados, e
obviamente a eles não está o Juiz adstrito, embora caso não acolha suas conclusões (para as
quais a equipe interprofissional tem liberdade de manifestação - vide art.151, in fine, do ECA),
tenha de se basear em novo laudo ou em elementos outros constantes dos autos que justifiquem
sua posição.
Registre-se que por ser a matéria discutida na Justiça da Infância e Juventude
muito mais afeta à área social que técnico-jurídica, a intervenção de uma equipe interprofissional
nos procedimentos é de extrema relevância, sendo em muitos casos imprescindível, a ponto de
sua ausência comprometer a própria validade do julgado. Apenas a título de exemplo, dado
PRINCÍPIO DA EXCEPCIONALIDADE que norteia a aplicação da medida sócio-educativa de
internação, fica extremamente difícil sustentar (juridicamente falando) a imposição desta sem a
presença de estudo social idôneo a apontar para sua NECESSIDADE no caso específico,
atestando a absoluta ineficácia das medidas que poderiam ser cumpridas em meio aberto para os
fins sócio-pedagógicos almejados (sem jamais perder de vista que a internação não é pena e não
tem um fim em si mesma, devendo ser encarada como o MEIO de que se dispõe para a
recuperação do adolescente).
Deixa de ser conhecido como órgão de acusação, com atuação principal na área
criminal, para atuar na área cível.
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Funciona tanto como parte agente, atuando em nome próprio na defesa de
interesse alheio e quanto como órgão interveniente, agindo como fiscal da lei, no interesse
público.
1. Conceder a remissão como exclusão do processo (arts.126 a 128 e 180, inciso II do ECA);
2. oferecer a representação para apuração de ato infracional e acompanhamento do
procedimento - o MP é o titular da pretensão sócio-educativa de forma exclusiva. A ação
sócio-educativa é sempre PÚBLICA INCONDICIONADA;
3. Promover e acompanhar ações de alimentos, suspensão ou destituição do pátrio poder
(art.201, inciso III do ECA);
4. Oficiar em todos os procedimentos da competência da Justiça da Infância e da Juventude, sob
pena de nulidade absoluta (vide arts.202 e 204 do ECA);
5. Instaurar procedimentos administrativos, podendo requisitar informações, perícias e
documentos de entidades públicas e privadas, expede notificações.
6. impetrar habeas-corpus, mandado de segurança para defesa de interesses sociais e
individuais indisponíveis afetos à criança e ao adolescente.
7. Oferecer representação para apuração de irregularidades em entidades de atendimento.
8. Oferecer representação para apuração de infração administrativa.
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DA PROTEÇÃO JUDICIAL DOS INTERESSES INDIVIDUAIS, DIFUSOS E COLETIVOS
(arts.208 a 224 do ECA):
Legitimação:
Desistência pelo MP. Possibilidade defendida por Hugo Nigro Mazzili e Édis Milaré.
A sentença que homologa a desistência não faz coisa julgada e os outros co-legitimados poderão
ingressar com a ação.
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descumprimento (normalmente após escoado o prazo razoável estabelecido para o cumprimento
do ajuste). Basta a assinatura dos participantes e independe de homologação judicial.
Efetividade do processo: O ECA dispõe que para defesa dos direitos e interesses
por ele protegidos são admissível todas as espécies de ações pertinentes. Significa que, em
última análise, o sistema processual autorização sempre uma ação capaz de proteger de modo
efetivo e concreto todos os direitos materiais (art.212, caput).
Aplicação subsidiária do CPC: Para as ações previstas no Título VI, Capítulo VII
do ECA aplica-se as mesmas normas contidas no CPC (art.212, §1º do ECA). Esta regra se
amolda ao contido no art.152 do ECA, já mencionado anteriormente.
Interessante observar que, segundo o art.222 do ECA, para instruir a petição inicial,
qualquer interessado/legitimado poderá requerer às autoridades competentes as certidões e
informações que julgar necessárias, que deverão ser fornecidas no prazo de 15 (quinze) dias,
sendo que esta regra tem respaldo no art.5º, inciso XXXIV, alínea "b" da CF.
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XI - DOS PROCEDIMENTOS (arts.152 a 197 do ECA):
O ECA relaciona um total de 06 (seis) procedimentos específicos, aos quais prevê
regras próprias, sem prejuízo da APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA de normas gerais previstas na
legislação processual civil ou penal, quando necessário (disposição contida no art.152 do ECA, já
mencionado).
A petição inicial deverá observar o disposto no art.156 do ECA, sem descuidar dos
demais requisitos previstos no art.282 do CPC.
O requerido é citado para oferecer resposta em 10 (dez) dias, devendo DESDE LOGO
indicar as provas produzidas e oferecer rol de testemunhas e documentos (art.158, caput do
ECA), havendo determinação expressa para que SEJAM ESGOTADOS TODOS OS MEIOS com
vista à CITAÇÃO PESSOAL do requerido (art.158, par. único do ECA).
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prova em audiência), com a abertura de vista ao MP para manifestação em 05 (cinco) dias (salvo
se o Parquet for o autor da ação) e sentença em igual prazo.
Deverá ser observado o procedimento para remoção de tutor previsto nos arts.1.194 a
1.198 do CPC com a aplicação subsidiária ("no que couber") do contido no procedimento para
perda ou suspensão do pátrio poder.
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XI.4 - Procedimento para APURAÇÃO DE ATO INFRACIONAL atribuído a adolescente
(arts.171 a 190 do ECA):
Caso o ato infracional seja praticado mediante violência ou grave ameaça à pessoa,
deverá ser lavrado AUTO DE APREENSÃO, com a oitiva de testemunhas, do adolescente,
apreensão do produto e instrumentos da infração e requisição de exames ou perícias necessárias
à comprovação da materialidade do ato (art.173 do ECA). Se não for, basta a lavratura de boletim
de ocorrência circunstanciado (art.173, par. único do ECA).
17
não se aplica, portanto, a crianças acusadas da prática de ato infracional, que após recolhidas, como vimos devem
ser encaminhadas ao Conselho Tutelar;
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A princípio, não é necessária a presença de advogado no ato18, mas se o adolescente
tiver, a assistência será garantida. Vale o registro que se encontra em tramitação, no Congresso
Nacional, Projeto de Lei visando tornar obrigatória a presença de advogado já quando da oitiva
informal do adolescente, inclusive para acompanhar o ajuste da remissão cumulada com medida
sócio-educativa, a ser adiante analisada.
Após a oitiva informal, o MP poderá tomar uma das seguintes providências (art.180 do
ECA):
3. REMISSÃO: forma de exclusão do processo. Pode ser como forma de perdão puro e simples
ou com aplicação de MSE/MP.
18
a obrigatoriedade se dá apenas APÓS A AUDIÊNCIA DE APRESENTAÇÃO - art.186, §§2º e 3º c/c art.207 e §1º do
ECA.
19
a autoridade judiciária, portanto, nesse momento não pode homologar a remissão sem a inclusão da medida
eventualmente ajustada entre MP e adolescente/responsável, sendo-lhe vedado modificá-la de ofício (vide art.128 do
ECA).
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que embora independa de prova pré-constituída da autoria e materialidade do ato deverá ter a forma da denúncia
criminal, sem no entanto pedir a "condenação" do adolescente, mas sim a procedência da peça, com a aplicação de
UMA OU MAIS das medidas sócio-educativas relacionadas no art.112 do ECA;
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Comparecendo adolescente e pais, serão colhidas suas declarações, podendo ser
solicitada a ouvida de técnico (profissional qualificado). Neste momento, o Juiz, ouvido o MP,
pode conceder a remissão, como forma de extinção ou suspensão do processo (arts.186, §1° e
126, par. único, ambos do ECA).
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XI.6 - Procedimento para apuração de INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA às normas de proteção
à criança e ao adolescente (arts.194 a 197 do ECA):
a) O Ministério Público;
b) O Conselho Tutelar;
c) O "Agente de Proteção da Infância e Juventude" (antigo "Comissário de Menores"), ao qual o
art.194, caput do ECA se refere como sendo "servidor efetivo ou voluntário credenciado"
(verbis).
1 - A REPRESENTAÇÃO - que tem a forma de uma "denúncia" e deverá conter seus elementos
básicos: endereçamento, qualificação das partes, descrição dos fatos que em tese caracterizam a
infração, pedido de procedência da demanda e indicação/requerimento de provas. Será oferecida
pelo MP ou pelo CT (este diretamente, independentemente de advogado, devendo apenas haver
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a cautela de indicar que a decisão do oferecimento da representação foi resultante de deliberação
do colegiado, em sessão deliberativa própria).
O prazo para apresentação de defesa pelo requerido será de 10 (dez) dias (art.195,
caput do ECA), que serão contados da data da intimação (aqui também usada como sinônimo de
citação), a ser efetuada:
a. pelo autuante (agente de proteção da infância e juventude), no próprio auto, quando este for
lavrado na presença do requerido (ainda que o autuado se recuse a assinar o documento,
desde que tal recusa seja presenciada e devidamente atestada por duas testemunhas);
b. por oficial de justiça ou funcionário legalmente habilitado, que deverá entregar cópia do auto
(quando tiver sido este lavrado sem a presença do autuado) ou da representação ao
requerido, ou a seu representante legal, lavrando certidão;
c. por via postal, com a.r., quando o requerido ou seu representante legal não forem encontrados
na hipótese supra; ou
d. por edital, com prazo de 30 dias, se o requerido e seu representante estiverem em local
incerto e não sabido.
Não apresentada defesa no prazo legal, haverá o julgamento antecipado da lide, com
a abertura de vista ao MP para parecer em 05 (cinco) dias, com decisão em igual prazo (art.196
do ECA);
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XII - DOS RECURSOS (arts.198 e 199 do ECA)
Em TODOS os procedimentos afetos à Justiça da Infância e Juventude (ou seja,
naqueles relacionados nos arts.148 e 149 do ECA), será adotado o SISTEMA RECURSAL DO
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL e suas alterações posteriores, com algumas adaptações
relacionadas nos incisos I a VIII do art.198 do ECA.
Assim, mesmo nos procedimentos para apuração de ato infracional praticado por
adolescente, que se assemelham ao procedimento criminal (e em alguns casos utilizam regras do
CPP, até mesmo em razão da redação do art.152 do ECA), a sistemática recursal utilizada é a do
Código de Processo Civil.
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De acordo com a nova sistemática estabelecida, a COMPETÊNCIA PARA
PROCESSAR E JULGAR, EM GRAU DE RECURSO, A MATÉRIA CONCERNENTE AO
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, que antes era do Conselho da Magistratura,
passou a ser DAS CÂMARAS CRIMINAIS ISOLADAS e, nas demais hipóteses previstas no
Regimento Interno, do GRUPO DE CÂMARAS CRIMINAIS.
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XIII - DOS CRIMES PREVISTOS NO ECA (arts.225 a 244 do ECA):
O ECA previu um total de 16 (dezesseis) tipos penais específicos21, criminalizando
condutas que violam direitos de crianças e adolescentes com especial gravidade.
Aos CRIMES definidos no ECA se aplicam toas das normas da Parte Geral do Código
Penal e, quanto ao processo, as pertinentes ao Código de Processo Penal (art.226 do ECA).
Tendo em vista que no rol constante do art.148 do ECA não consta ser o Juiz da
Infância e Juventude competente para processar e julgar os CRIMES previstos no ECA, a
COMPETÊNCIA para tanto fica a cargo do JUIZ CRIMINAL, de acordo com a Lei de Organização
Judiciária própria.
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muitos deles já mencionados nas aulas anteriores, quando tratamos de matérias a eles relacionadas (vide).
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CRIME aqui previsto, importante registrar que existe DIVERGÊNCIA DOUTRINÁRIA em
especial dada redação do art.81, incisos II e III do ECA, que estabelece uma
DIFERENCIAÇÃO entre "bebidas alcoólicas" e "produtos cujos componentes possam
causar dependência física ou psíquica". Assim sendo, alguns sustentam que, como o
próprio ECA diferencia ambos, não é possível equipará-los para fins de incidência do crime do
art.243 quando do fornecimento de bebida alcoólica a criança ou adolescente. De qualquer
modo, a conduta caracteriza INFRAÇÃO PENAL, sendo na pior das hipóteses considerada
CONTRAVENÇÃO PENAL consoante previsão do art.63, inciso I do Dec. Lei nº 3.688/41.
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