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Ancestrais

Quando os celtas chegaram no oeste (das ilhas britânicas), eles encontraram


monumentos de povos pré-históricos espalhados por toda a região. De
impressionantes círculos de pedras e fortalezas, até sólidos túmulos
decorados com gravações misteriosas, essas relíquias de uma era ancestral
impressionaram profundamente os recém-chegados. Quando era viável, eles
tentavam usar essas estruturas, transformando- as em fazendas ou
fortificações militares. Em outros casos, quando a função original dos
monumentos era menos óbvia, eles os reverenciavam, costurando-os nos tecidos
de sua própria cultura.
O que os celtas pensavam de seus predecessores? Não podemos ter certeza.
Entretanto, está claro que eles os respeitavam o suficiente para deixar a
maioria de seus monumentos intactos. Temos certeza disso pelo fato deles não
terem demolido as grandes pedras eretas ou as tumbas megalíticas para as
usarem como material de construção. Ao invés disso, eles deram a esses
monumentos um lugar em suas lendas, portanto, os absorveram em suas próprias
visões do
passado.

Deuses

Os celtas respeitavam a sacralidade desses diversos locais de ritos que


gerações anteriores deixaram para trás, e continuaram a considerá-los como
lugares sagrados, descrevendo- os como sendo os palácios ou templos de suas
próprias divindades.

Divindades ancestrais

O panteão irlandês é único no que concerne à natureza de suas divindades:


elas estão enlaçadas diretamente à paisagem. De acordo com a lenda, essas
divindades surgiram de uma raça de seres divinos, conhecidos como Tuatha Dé
Danaan. O significado literal dessa palavra é "povo da deusa Danu",
referindo-se à deusa matriarca venerada pelos celtas da Europa continental.
Seu nome foi preservado no famoso Rio Danúbio.
No "Livro das Invasões", os Tuatha Dé Danaan eram definidos como uma raça de
deuses que invadiram a Irlanda, e tiraram o poder dos Firbolg. A origem
divina deles foi enfatizada pelo fato de que eles foram transportados para a
Irlanda numa nuvem escura de tempestade, em vez de numa frota de navios. Os
Danaans, então, governaram o país por 297 anos antes de, por sua vez, serem
retirados do poder pelos milesianos, os ancestrais humanos dos celtas.

Habitantes do mundo de baixo

Depois da derrota, os Tuatha Dé Danaan não foram expulsos da Irlanda. Em vez


disso, eles foram encaminhados para o mundo de baixo, onde se tornaram
habitantes do Outro Mundo (ou mundo feérico). Esse reino sobrenatural era,
em diversos modos, um universo paralelo, onde a vida diária continuava da
mesma forma que antes, mas sem as ameaças de doenças, velhice ou morte. No
Outro Mundo, os deuses viviam nos "sidhe", ou colinas feéricas (as famosas
colinas ocas). Abaixo da terra, esses "sidhe" eram suntuosos palácios, onde
os Danaan banqueteavam, bebiam e viviam uma vida sem esforço. Acima do solo,
esses palácios eram visíveis aos humanos na forma de montanhas ou colinas.
Em alguns casos, eles eram também associados aos montes de pedras, ou montes
sepulcrais, que haviam sido construídos nos tempos pré-históricos.

A paisagem e os deuses

Desta forma, a paisagem celta se tornou impregnada com a memória de deuses


ancestrais. O exemplo mais celebrado é Newgrange, que era visto como a casa
de Dagda e também, posteriormente, de seu filho Oenghus, o deus da juventude
e do amor. O mesmo padrão era repetido em outros megalíticos. A Colina de
Allen, no Condado de Kildare, por exemplo, era tradicionalmente vista como o
palácio ancestral de Nuada do Braço de Prata, que passou depois para Finn
MacCool.
A realidade das práticas religiosas celtas é quase tão misteriosa quanto o
reino feérico de seus deuses, pois, devido aos modos quase secretos dos
druidas, praticamente nenhum detalhe de seus ritos sobreviveu. Mesmo assim,
fica claro que os druidas tinham um importante papel na sociedade celta.
Além de supervisionar uma variedade de ritos, eles atuavam também como
juízes, conselheiros de reis e guardiões do conhecimento da tribo. Esse
conhecimento era considerado tão sagrado que não era permitido que fosse
escrito, em vez disso, era transmitido oralmente, de uma geração de druidas
para a outra.

(trechos do livro "Sacred Celtic Places", de Ian Zaczek, editora Collins &
Brown - tradução Andréa Éire)

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