Você está na página 1de 43

A Glória do Trabalho Missionário

A Glória do Trabalho Missionário - Efésios 4

Autor: Pr. Jarbas Ferreira da Silva

A palavra glória é extremamente rica.  Ela contém a noção de majestade, imponência,


valor e beleza.  Paulo, certamente, experimentou inúmeras vezes a presença maravilhosa
do Senhor Jesus, e sabia muito bem, que tê-lo ao nosso lado, é o bem mais precioso, que
alguém pode usufruir.  A companhia do Espírito Santo (v.30) é não só a garantia da
nossa herança futura nos novos céus e nova terra, mas de imediato, nesta vida, a nossa
segurança e força para nos conformar à imagem de Cristo.  Um cristão deve ser
conhecido por imitar a Cristo e amá-lo acima de tudo.

Para alguns a obra missionária revela o seu valor na grandeza de seus missionários, dos
resultados, sejam eles, conversões em massa, a implantação de novas igrejas, e a
tradução das Escrituras em línguas vernáculas.  Entretanto, tais critérios podem ser
enganosos.  Eu mesmo pude observar o resultado a posteriore de cruzadas
evangelísticas, seguidas de números estrondosos, e glórias humanas, as quais por fim
revelaram, que seus frutos não só foram efêmeros como desapontadores.  Há várias
razões e meios, que podem influenciar as massas sofridas a levantarem as mãos em sinal
de aceitação do Evangelho, mas o transplante de coração necessário requer mais que
uma decisão emocional ou levada pelos constrangimentos das circunstâncias.

O discipulado é o tema missionário de Paulo neste capítulo.  O Evangelho é sim, o


poder Deus para a salvação de todo aquele que nele crê, mas, isto significa salvação da
tirania do pecado.  Mudança de mente e coração revela o efeito profundo desta
salvação.  Transformação de mente e valores, revelados numa nova filosofia de vida.
( v.17-24 ).  Os dons, diz, o apóstolo, dão a igreja a força necessária, para propiciar o
ensino e a formação de Cristo no caráter e fé dos decididos.  Por isso, o Cristão é aquele
que deixa: a mentira, o ódio, o roubo, a maldade, e passa a ser amoroso, perdoador,
ajudador e puro diante de Deus e dos homens. (v.25-32).  Desta forma, o serviço
missionário tanto nas suas estratégias, como em seus motivos e alvos, só trará glória a
Cristo, se conduzir pessoas a nascerem de novo, e a imitarem aquele que as salvou.  Não
pode a árvore má dar bons frutos, sendo assim, todo aquele que se diz ser de Cristo,
precisa andar como Ele andou.  Missões então só trará glória a Deus, se insistir em
promulgar e estimular, plena fidelidade a amor ao Mestre maravilhoso.

Verdadeiramente, um missionário deve levar consigo não só uma mensagem, mas antes
de tudo, um testemunho; não ter somente um bom preparo acadêmico, mas ter, antes de
qualquer coisa, um caráter em formação e debaixo do senhorio de Cristo, andando cheio
do seu Espírito.  Ele não será perfeito, mas nunca cederá, as derrotas espirituais
momentâneas.  Em humildade, ele falará do seu Salvador e encorajará ao povo ao qual
ele se consagrou, a preservar no amor e serviço santo, do seu Senhor.  A glória de
qualquer projeto missionário, não poderá ser medida por nós, pois, só Deus, tem esta
prerrogativa, mas, a glorificação do Pai e do Filho, na direção do Espírito Santo, deverá
ser sempre nosso alvo, e neste capítulo, ela somente, poderá acontecer se pecadores, se
tornarem discípulos de Cristo; não meros ouvintes da Palavra, mas com certeza
praticantes da mesma.
Cristo sendo amado e se tornando visível, no caráter das pessoas, é um sinal
inconfundível que, no Senhor o trabalho missionário não é em vão.

A Deus toda a glória.

A Teologia da Anti-Missão

Por Paulo Feniman - 25/9/2009

Ao olhar para igreja atual parece que há algo de errado, que de alguma forma ela
conseguiu mudar seu propósito e sua natureza, conseguiu desviar-se do que a princípio
foi estabelecido pelo próprio Jesus.

A igreja Brasileira nos últimos anos foi invadida por aquilo que denominamos de
teologias da anti-missão. Uma dessas teologias é a teologia da prosperidade que levou a
igreja evangélica brasileira a uma mudança de paradigma. As igrejas, bem como seus
ministérios, suas pregações e suas ações deixaram de servir para serem servidas. Neste
processo nossa igreja busca somente satisfazer seus próprios interesses.

Nos últimos anos a igreja deixou de ser agente missionário para se tornar uma
instituição mercadológica onde o evangelho é vendido sem escrúpulos, e onde o melhor
vendedor é aquele que possui uma mega-igreja ou uma igreja de destaque na sociedade,
não por aquilo que faz mais pela aparência que tem. Tenho uma séria preocupação com
o modo com que à igreja brasileira absorve modelos pré-prontos, tornando-os mais
importantes os princípios teológicos da missão. Quando olhamos atentamente para a
igreja brasileira percebemos que ela sofre de uma síndrome que a distancia a cada
instante da sua natureza missionária. Nossas igrejas não conseguem desenvolver uma
ação prática que possa transformar nossa comunidade.

A respeito da realidade da igreja brasileira, Ariovaldo Ramos a descreve desta forma:

A face mais visível da igreja brasileira e, aparentemente, a que mais cresce, em vez de
denunciar a injustiça social e propor e viver uma economia solidária, passou a pregar
uma teologia que sustentava a desigualdade, ao afirmar que a riqueza deveria ser o
alvo do crente, e que o caminho é a fé atestada pelo nível de contribuição e pela
capacidade de arbitrar, por, decreto, sobre o que Deus deve fazer. (...)
Em vez de viver , sinalizar e anunciar o reino, passou a caçar os principados e
potestades nas regiões celestiais, ora localizando e derrubando os seus potes-ídolos,
ora ungindo de alguma forma criativa a cidade, inaugurando o que James Houston
chamou de evangelização cósmica. (...)
Outro houve que assumiu a igreja como uma empresa, sonhando também com
impérios, e passou a importar modelos de gerenciamento que a organizasse,
desenvolvesse excelência ministerial e produzisse crescimento, usando muitas vezes o
princípio do apartheid as ovelhas foram transformadas em mão-de-obra e os
pastores, em gerentes de programa. (Ramos, 2005, p. 201-203)

Diante deste quadro tão preocupante que se encontra a igreja brasileira, para que
possamos retomar os princípios neo-testamentários a cerca da missão é necessário
redescobrir na igreja de que forma a missão cristã pode exercer mudanças em nossa
geração, buscar a luz de uma pesquisa teológica e bíblica quais são os princípios e
valores inerentes à função da igreja cristã em nossa sociedade.

David Bosh ao falar sobre esta natureza da igreja diz:

Na eclesiologia emergente, a igreja é vista como essencialmente missionária. O


modelo bíblico que está por trás dessa convicção e que tem sua expressão clássica em
AG2 ("A igreja peregrina é missionária por sua natureza"), é aquele que
encontramos 1 Pedro 2.9. Aqui a igreja não é a remetente, mas a remetida. Sua
missão (o fato de "ser enviada") não é secundária em relação à sua existência; a
igreja existe ao ser enviada e  edificar-se visando à sua missão (Barth 1956:725 -
estou me baseando aqui no original alemão, e não na tradução inglesa). A
eclesiologia, portanto, não constitui uma atividade periférica de uma igreja
firmemente estabelecida, [está] queimando fulgurantemente (...) A Atividade
missionária não é tanto uma ação da igreja, mas é simplesmente a igreja em ação
(Bosh, 2002, p. 447)

Através de um estudo aprimorado sobre a identidade da igreja e sua ação missionária


quero propor um novo pensamento a cerca de nossa caminhada e uma ação mais efetiva
que possa trazer mudanças palpáveis em nossa sociedade, principalmente entre aqueles
que necessitam de uma transformação integral, mostrar apontamentos de como podemos
reverter essa realidade.

É preciso retomar nossas idéias, parar com tudo e entrar num processo de reavaliação de
nossos conceitos e paradigmas. Deixar de lado nossa ansiedade em "evangelizar" o
mundo e começar a pensar em missão como um processo de transformação integral na
vida daqueles que são atingidos por ela.

Nosso primeiro passo deve consistir em buscar de forma bíblica e teológica os conceitos
da missão deixada a nós por Cristo, identificar quais são as verdades bíblicas a respeito
deste tema e quais são os modismos que devemos abandonar, pois nossos modismos nos
levam a servir muito mais a nós mesmos do que aos que ainda não conhecem o
evangelho.

Sem uma visão clara a cerca da missão, corremos o risco de nos tornarmos uma simples
instituição mercadológica preocupada só com o numero de almas ou com as metas
numéricas que devemos alcançar.
A igreja deve deixar seus programas gerenciais e voltar-se a vida das pessoas, trazendo
um evangelho integral que atenda as necessidades. Precisamos tornar nossas igrejas
úteis aos necessitados, nossos cultos acessíveis a todos sem exceção, assim poderemos
vivenciar e demonstrar o amor de Deus pelos povos. Um dos grandes passos para a
igreja atual é romper com o evangelho apenas falado e começar a viver um evangelho
prático que caminha em direção às pessoas.

Usando Cristo como exemplo, poderemos encontrar os parâmetros necessários para o


cumprimento desta missão. Olhar para Cristo nos levará a abandonar nosso orgulho e
hipocrisia que gera um muro que nos separa da missão autêntica.

Quando deixarmos de lado nosso próprio eu, daremos espaço para que o Espírito Santo
aja através de nós.
A missão começa quando nós experimentamos uma intimidade autêntica com Deus que
nos leva a compreender seu amor, sua graça e sua bondade. Mesmo que isso não seja
uma atitude fácil, e não é, precisamos caminhar para um processo de busca neo-
testamentária, seguindo o exemplo dos cristãos do primeiro século.
De forma prática a busca para responder ao chamado da missão, deve ser um só:

Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que embora sendo Deus, não
considerou o ser igual a Deus era algo que devia apegar-se; mas se esvaziou a si
mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens.
E sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a
morte, e morte de cruz!
(NVI, p. 941)

Modismo e Missões

Todos nós sabemos que a Igreja foi estabelecida para espalhar a glória de Deus por toda
a Terra. Nada mais, nada menos que isso. Exatamente por isso temos hoje, em solo
brasileiro, a semente do Evangelho de Cristo, que foi plantada aqui, especialmente a
partir de meados do século 19. O processo mais natural seria que esta Igreja Evangélica
Brasileira, plantada por missionários forâneos, se tornasse, a partir de então, um agente
promotor da glória do Senhor.
Mas não foi exatamente isso o que aconteceu. Esse Evangelho chegou até nós, igrejas
foram plantadas, vidas foram transformadas, mas a visão da missão da Igreja ficou bem
aquém daquilo que deveria ter acontecido.
Ou seja, o Evangelho avançou muito, mas priorizando sempre as próprias denominações
e estruturas eclesiásticas, e também as suas posturas apologéticas.
Algo aparentemente inusitado veio a acontecer na década de 80, com um despertamento
missionário entre muitas igrejas do nosso Brasil.
Proliferaram as conferências missionárias e muitos jovens e casais foram chamados e
enviados para muitos lugares deste mundo. Nosso país passou a ser visto como "celeiro
de missionários" e não mais como "campo missionário".
Tendo liderado por 10 anos uma agência missionária transcultural, pude ver com meus
próprios olhos o que Deus fez em nosso meio. Passamos de pouco mais de 800
missionários transculturais na década de 80 para mais de 2000 nos anos 90!

Quem poderia imaginar algo assim?

Mas o tempo passou... Hoje estamos, já, no século 21 e muita coisa aconteceu de lá para
cá, especialmente no que ser refere ao compromisso missionário de nossas igrejas.
Existem vários fatores que têm se tornado em obstáculos para o avanço do labor
missionário. Mas, a meu ver, um dos fatores que tem capitaneado esta lista têm sido os
modismos que vem e vão, mas estão sempre presentes em nosso meio.
Somos um povo evangélico que já deu provas suficientes que busca e persegue os
modismos. A história da nossa geração tem o estigma do descartável, portanto, da
mesma forma que algum tempo atrás estávamos imersos em algum tipo de liturgia ou
hinologia em nossas igrejas, hoje iremos notar que muita coisa mudou.
E como não poderia deixar de acontecer, esses modismos vieram comprometer,
especialmente nestes últimos anos, o avanço missionário brasileiro iniciado 20 anos
atrás.

Mas, o que são esses "modismos"?

São movimentos cíclicos que surgem no meio da Igreja e que, na verdade, são modelos
que nascem muitas vezes fora do nosso contexto nacional, mas são vistos como um
grande recurso para o crescimento e sucesso de nossas igrejas.
Certamente muitos deles tem sua validade. No entanto, a pergunta que deveria ser feita
é a seguinte: "Estes movimentos ou modismos tem ajudado o avanço da obra
missionária (mono e tranculturalmente) ou apenas tem levado nossas comunidades a
'crescerem dentro delas mesmas'?.
Quantas de nossas igrejas hoje têm uma estrutura formada para servir a missão?
Nossa adoração têm nos levado a estar não somente diante do trono, mas também diante
do perdido e do oprimido? Nossas mensagens têm sido direcionadas a alimentar nosso
rebanho e também a desafiá-lo a servir "fora das portas"? Nossas reuniões
administrativas têm servido para simplesmente gerenciar os negócios da igreja ou para
servir melhor aqueles que não fazem parte de nossa comunidade? Os recursos que tem
entrado têm sido usados prioritariamente para manutenção da estrutura funcional da
igreja ou canalizados para sustentar missionários e obreiros para plantação de novas
igrejas? Se estas perguntas nos levarem a conclusão de que estamos servindo muito
mais a nós mesmos do que aqueles que não conhecem o Evangelho do Reino, então
certamente estamos imersos em algum tipo de modismo, que tirou nosso foco da missão
da Igreja.
Nesse caso, o melhor de tudo é parar para refletir, orar e voltar ao caminho que Jesus
nos propôs: servir aos que não fazem ainda parte do Seu Reino.

Contextualização - Uma abordagem na obra Missionária

Introdução

Segundo Donald Sênior e Stuhlmueller no livro Fundamentos Bíblicos da Missão, a


contextualização no seu nível mais profundo não implica numa visão de uniformidade,
que requer que todas as culturas expressem o evangelho de uma única forma, o que seria
impossível.
O cristianismo não é uma religião etnocêntrica. Os gentios não precisam se tornar
judeus, os chineses não precisam se tornar italianos ou poloneses. A universalidade do
Evangelho significa que a fé pode assumir expressões diferenciadas.

Base Bíblica
A missão mundial jamais começa do nada mas dentro de uma cultura pré-existente.
Portanto, o ato missionário prescinde uma disposição de identificação com a cultura do
povo com o qual se vai trabalhar.

O interesse de Deus por Missões


Missões se baseia na disposição de Deus em ocupar-se com a situação complicada da
vida humana não somente enquanto formado de acordo com a sua cultura e valores, mas
também enquanto um povo deformado pelo pecado.
A contextualização tem a sua base no processo pelo qual o próprio Deus se utiliza como
fonte do estilo de vida de um povo, para se revelar à ele.
Is 55: 6-11 indica que a vontade e propósito de Deus pré-existem desde a eternidade,
portanto Ele antes mesmo de ser Criador era Salvador.
Outro aspecto que indica o processo de contextualização no exemplo do próprio Deus
na sua relação para com a humanidade é que Ele sempre se revelou dentro de formas
humanas já existentes.

Jesus o exemplo
Jesus se tornou o nosso modelo de contextualização pois a Bíblia afirma que o verbo se
fez carne (Jo 1.14), e nessa condição, ele experimentou dor, fome, tudo que fazia parte
da carne, ou seja da condição do ser humano que ele se tornou.
De fato, Ele nunca deixou de ser o verbo eterno, mas optou pela identificação com o ser
humano.
Este é o principio da identificação sem perda da identidade, é o principio que serve para
o nosso trabalho missionário transcultural.

Barreiras
Alguns se recusam a se identificar com o povo com o qual querem servir. Preferem
continuar sendo eles mesmos evitando toda e qualquer semelhança com os costumes do
povo, permanecendo agarrados a sua herança cultural, impondo a sua própria cultura,
desprezando a cultura receptora e consequentemente praticando um imperalialismo
cultural extremamente negativo para a obra missionária.

O processo de aculturação possui três etapas segundo Donald Senior e Stuhlmueller: a


violência, a indigenização e o desafio.
A fase de violência é a fase inicial quando o missionário chega com novas idéias que
transformam as antigas, criam certos choques, e que desencadeiam algum gênero de
mudança violenta. É a fase caracterizada pelo estabelecimento de cabeça-de-ponte.
A Segunda fase, que os autores chamam de indigenização é quando a nova idéia lança
suas raízes e se re-exprime as suas crenças e práticas religiosas em conformidade com
as crenças e práticas locais. Essa é uma fase longa e complicada, que bem direcionada
pode caminhar para uma contextualização sadia, mas se for mal encaminhada pode
descambar para o sincretismo.
A terceira fase é o que os autores chamaram de desafio, pois implica no desafio
profético que transforma tanto a cultura como também a religião.
Segundo a missióloga Norte Americana Barbara Burns, no seu artigo ¨Teologia
contextualizada - a integração da exegese bíblica e estudos missiológicos¨, um dos
principais desafios no cumprimento da tarefa missionária é a contextualização da Bíblia.
Ela argumentou que há muita polêmica no meio evangélico sobre como fazer isso, quais
os limites, e até qual é a base para conseguir comunicar os propósitos de Deus em outras
culturas.

Os Essenciais da Missão
O pacto de Lausanne oficializado em 1974 por líderes de 150 países sintetizou a missão
da Igreja dizendo que o propósito de Deus é oferecer o Evangelho todo, por meio de
toda a Igreja, a toda criatura, em todo o mundo.

Deixa, assim, bem claro que a missão de Deus é o mundo. O método de Deus é a Igreja.
O tempo de Deus é hoje.

Paulo escreve a carta aos Romanos estando em Corinto possivelmente no ano 57. Ele
estava de partida para Jerusalém levando a oferta para os crentes pobres e aproveita a
saída de Febe, uma senhora de Cencréia nos derredores de Corinto que viajava para
Roma, para escrever uma carta a esta nova e respeitada igreja.

Havia na igreja de Roma judeus e gentios, sendo os gentios predominantes. Uma igreja
com a fé em Cristo alicerçada e liderança reconhecida. Paulo estava no fim de sua
terceira viagem missionária e planeja seu próximo passo. Ele escreve para a igreja antes
mesmo de visitá-la. Uma comunidade de crentes no centro do Império em uma cidade
com cerca de 1 milhão de pessoas.

Ele era um missionário bem como um teólogo. Como teólogo ele expõe para a Igreja em
Roma os fundamentos da fé cristã e fortalece a igreja. Como missionário ele diz que
pretende visitá-los de passagem para a Espanha, onde pretendia testemunhar de Cristo.
Como teólogo ele diz que a glória de Deus é a finalidade maior da existência da Igreja.
Como missionário ele enfatiza que a prioridade diária da igreja é anunciar a Cristo onde
ainda não fora anunciado.

Agostinho, Lutero e John Wesley vieram ao Senhor Jesus através dos textos desta carta
aos Romanos. Lutero afirma que jamais um texto mudou tanto a vida de homens e
mulheres como esta carta. João Crisóstomo pedia que lhe fosse lida esta carta uma vez
por semana. Calvino dizia que esta carta era uma introdução à Bíblia. Melancton a
transcreveu, duas vezes, à mão, para conhecê-la melhor.

Introdução – Chamado para ser apóstolo

Leiamos todo o capítulo 1 desta carta de Paulo aos Romanos.

No capítulo 1, verso 1, Paulo se apresenta e o faz a partir de suas convicções mais


profundas.

Ele aqui é “Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o
evangelho de Deus”.

Ele afirma ser “servo” – doulos – escravo comprado pelo sangue do Cordeiro, liberto
das cadeias do pecado e da morte e, apesar de livre, cativo pelo Senhor que o libertou.

Ele afirma ser chamado para ser “apóstolo” demonstrando que alguns servos podem ser
chamados ao apostolado, porém não há apóstolos que não sejam primeiramente servos.

Ele é “chamado” por Deus. Em Efésios 4 ele entende que o Senhor Jesus chama, dentre
todos na Igreja, “alguns” para serem apóstolos, profetas, pastores, evangelistas e
mestres.
Quem nós somos, nosso chamado em Cristo, é mais determinante para nosso ministério
do que para onde iremos. Não há na Palavra um chamado geográfico (para a China,
Índia...), ou mesmo étnico  (para os Indígenas, Africanos...). O chamado bíblico é
funcional, quem somos em Cristo Jesus, e não para onde iremos.

Na exposição de Paulo alguns foram chamados para serem  apóstolos, ou “a pedrinha


lançada bem longe”, na expressão de John Knox. São aqueles que vão aonde a igreja
ainda não chegou. Há os  profetas, que falam da parte de Deus e comunicam Sua
verdade. Há os chamados para serem pastores, que amam e cuidam do rebanho de
Cristo. Estes são aqueles que amam estar com o povo de Deus e se realizam
ministerialmente cuidando deste povo. Há os evangelistas, que são aqui os
“modeladores” do evangelho, ou seja, os discipuladores. São os irmãos que fazem um
trabalho nos bastidores, de discipulado, extremamente relevante para o Reino, o
crescimento e amadurecimento da Igreja. Por fim os mestres, que ensinam a Palavra de
forma clara e transformadora. São aqueles que lêem a Palavra e a expõe, e o fazem de
forma tão clara que marca vidas e corações.

Na dinâmica do chamado há certamente uma direção geográfica. Se alguém possui


convicção de que Deus o quer na Índia isto significa que há uma direção geográfica de
Deus, não um chamado ministerial. Mas notem: a direção geográfica muda, e mudou
diversas vezes na vida de Paulo. O chamado, porém, permanece.

Paulo foi chamado para os gentios, como por vezes expressa. Era uma força de
expressão para seu perfil missionário pois, com exceção dos judeus, todo o mundo era
gentílico. Assim ele expressa em Romanos 15:20 a prioridade geográfica do ministério
da Igreja:  “onde Cristo ainda não foi anunciado”. Na época, prioritariamente entre os
gentios.  Hoje, porém, pode ser perto e pode ser longe. Uma pessoa, de qualquer língua,
raça, povo ou nação, que ainda não tenha ouvido as maravilhas do Evangelho, é a
prioridade de Deus para a obra missionária.

Vivemos dias difíceis em que as convicções bíblicas mais profundas são questionadas
dentro e fora da Igreja. É necessário alicerçarmos nossas convicções bíblicas missionais.

1. A mensagem missional: o evangelho é o poder de Deus

Leiamos juntos o verso 16:  “Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder
de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego”.

Temos freqüentemente uma má compreensão bíblica sobre o evangelho. No meio


missionário ouvimos que o “evangelho está se expandindo”, que o “evangelho está
crescendo”, que o “evangelho está sofrendo oposição” pois compreendemos evangelho
como Igreja, ou como movimento missionário. Paulo sempre alterna suas ênfase
evangelizadora, ora dizendo que prega o evangelho, ora dizendo que prega a Cristo.

Não estamos com isto afirmando que Jesus é o conteúdo do Evangelho, mas que Jesus é
o próprio Evangelho. A expressão grega euaggelion – Boas Novas – refere-se ao
cumprimento da Promessa – epaggelia. Jesus é, portanto, tanto a epaggelia quanto o
euaggelion – tanto a promessa quanto seu cumprimento. É uma expressão validadora
que a Promessa profetizada em todo o Novo Testamento está entre nós.
A Promessa chegou, e está entre nós. Ela se chama Jesus.

Jesus, portanto, é o Evangelho. Usando cores fortes no verso 16 Paulo afirma que “não
me envergonho do evangelho”, ao que ele quer dizer: “eu não me envergonho de Jesus”.
Quando ele afirma que o evangelho “é o poder de Deus” ela deseja comunicar que
“Jesus é o poder de Deus”. Quando ele categoricamente destaca que o evangelho é
poderoso para “salvar a todo aquele que crê” refere-se a Cristo: Jesus é poderoso para
salvar a todo aquele que crê.

Assim, se nos envergonharmos do evangelho, estamos nos envergonhando de Jesus. Se


deixarmos de pregar o evangelho, deixamos de pregar a Jesus. Se não cremos no
evangelho, não cremos em Jesus. Se passamos a questionar o evangelho, seus efeitos
perante as culturas indígenas, africanas e asiáticas, sua relevância, nós não estamos
questionando uma doutrina, um movimento ou a Igreja. Nós estamos questionando a
Jesus.

O que Paulo expressa neste primeiro capítulo é que, apesar do pecado, do diabo, da
carne e do mundo, não estamos perdidos no universo: há um plano de redenção. Ele se
chama Jesus. O poder de Deus se convergiu em Jesus. Ele nos amou com amor infinito.
Ele está entre nós.

E ele diz de forma claríssima: “Não me envergonho”. A expressão aqui usada para
vergonha apontava para uma posição de desconforto, quando alguém é destacado e
criticado por muitos, ridicularizado.

Entendamos o contexto. O mundo da época era imperialista humanista e triunfalista.


Interessante como as filosofias sociais não mudaram tanto em 2.000 anos.  O evangelho,
porém, contendia com todas estas idéias e, assim, colocava Paulo em situação altamente
desconfortável ao apresentar Jesus como a verdade de Deus para salvação de todo
homem.

 Em um mundo imperialista Roma era o centro do universo e César o único capaz de
organizar a sociedade de forma justa. Qualquer outra solução social que não passasse
por Roma seria vista  politicamente como uma afronta. Paulo, ao falar  do evangelho de
Deus como único capaz de solucionar os conflitos humanos seria combatido
politicamente, colocando-o em clara situação de desconforto. A pregação do evangelho,
assim, afrontava os pilares sociais e políticos.

Em um mundo humanista, sob influência grega, o homem habitava o centro do universo


e qualquer ideologia ou filosofia só faria sentido se glorificasse o próprio homem. Ao
falar sobre o evangelho de Deus, e não o evangelho do homem, Paulo certamente seria
visto como um simplista cheio de religiosidade, alguém com uma mente menor. A
pregação do evangelho, desta forma, afrontava também a filosofia da época.

Em um mundo triunfalista o universo era definido entre os conquistadores e os


conquistados. Vencer batalhas e conquistar novas terras era o equivalente ao progresso.
Ao falar sobre o evangelho de Deus como o único elemento capaz de vencer,
glorificando o próprio Deus e não os homens, Paulo é visto como um derrotado. Desta
forma a pregação do evangelho afrontava também a maneira do homem enxergar a vida.
Portanto, há 2.000 anos, falar do evangelho de Deus – falar de Jesus - poderia causar
problemas políticos, gerar desprezo intelectual ao pregador e dar-lhe uma identidade de
derrotado. Nada tão diferente de nossos dias.

Perante isto o Apóstolo Paulo brada: “eu não me envergonho....”. O evangelho é o poder
de Deus. O evangelho é Jesus.

Gostaria de destacar algumas implicações desta nossa convicção missional, de que o


evangelho é o poder de Deus.

Em primeiro lugar o evangelho jamais será derrotado pois o evangelho é Cristo. Sofrerá
oposição, seus pregadores serão perseguidos. Será caluniado, mas jamais derrotado.

Em segundo lugar o evangelho não é o plano da Igreja para a salvação do mundo mas o
plano de Deus para a salvação da Igreja. O que valida a Igreja é o evangelho, não o
contrário. Se a Igreja deixa de seguir o evangelho, de seguir a Cristo, se a Igreja passa a
absorver o imperialismo, humanismo, triunfalismo, e esquecer-se de Jesus, deixa de ser
Igreja. A Igreja só é igreja se for evangélica – se seguir o evangelho.

Em terceiro lugar o evangelho não deve ser apenas compreendido e vivido. Ele se
manifestou entre nós para ser pregado pelo povo de Deus. Paulo usa esta expressão
diversas e diversas vezes. Aos Romanos ele diz que se esforça para pregar o evangelho
(Rm 15.20). Aos Coríntios ele diz que não foi chamado para batizar mas para pregar o
evangelho (1 Co 1.17). Diz também que pregar o evangelho é sua obrigação (1 Co
9.16).

Não importa mais o que façamos em nossas iniciativas missionárias, é preciso pregar o
evangelho. A pregação abundante do evangelho, portanto, não é aqui apenas o
cumprimento de uma ordem ou uma estratégia missionária mas o reconhecimento do
poder de Deus. Uma igreja, uma pessoa, uma missão que não proclama Jesus está,
paradoxalmente, menosprezando a expressão do poder de Deus na terra e a própria
essência do evangelho, que é Jesus.

Paulo está dizendo, por outro lado, que é possível haver motivos humanos para um
sentimento de vergonha, ou seja, constrangimento, ao pregar o evangelho. H averá
humilhação, desprezo e perseguição. Mas “não me envergonho” porque é o evangelho é
Jesus.

2. A necessidade missional: a humanidade – impiedosa e perversa – é indesculpável

No verso 18 Paulo nos apresenta a um Deus irado contra a atitude humana dizendo: “A
ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a
verdade pela injustiça”.

No verso 20 ele afirma que Deus se manifestou desde a criação. Deus se manifestou e
continuamos impiedosos e perversos. Somos, assim, indesculpáveis.

Notem que a “ira de Deus” não se manifesta contra o homem mas contra a impiedade e
perversão do homem.
A “impiedade” refere-se a termos rompido com os valores de Deus. A “perversidade”
refere-se a termos rompido com os valores dos homens. Expõe, portanto, um homem
corrompido também criador de sua própria verdade.

Nem tudo o que é cultural é puro. O relativismo ético tem tentado moldar a presente
geração convencendo-a de que toda prática humana é justificável desde que seja aceita
por um grupo, ou seja, pelo próprio homem. A Palavra nos afirma o contrário: as
práticas que fomentam o sofrimento do próximo e o distanciamento de Deus nos
condenam – somos indesculpáveis.

Nos versículos 19 e 20, Deus se manifesta através da criação e há aqui um elemento


universal: um Deus soberano, criador, controlador do universo e detentor da autoridade
sobre a criação. Os homens, citados no verso 18, tornam-se indesculpáveis por ser Deus
revelado na criação “desde o princípio do mundo”, sendo revelado tanto o “seu eterno
poder”, quanto “a sua própria divindade”. Portanto, perante um homem caído, existente
em sua própria injustiça, impiedoso e perverso, Paulo não destaca soluções humanas,
eclesiásticas ou mesmo sociais. Ele nos apresenta Deus. Na teologia paulina a solução
para o homem não é o homem, mas é Deus e Sua revelação.

Paulo está aqui, com forte tônica teológica, descrevendo a necessidade humana.
Precisamos de Deus.

Em nosso estado natural após a queda – impiedade e perversidade – estamos perdidos.


Podemos convencer alguém de que ele é pecador mas apenas o Espírito Santo poderá
convencê-lo de que está perdido. O homem natural não se enxerga perdido, mesmo se
enxergando pecador, o que o pretere de buscar a salvação em Cristo. Somente quando o
Espírito Santo intervém ele é convencido de sua premente necessidade de Cristo.

O mundo hoje, após 2.000 anos em que esta Palavra foi revelada, continua impiedoso,
perverso, perdido e necessitado de Deus.

40 milhões de africanos falam mais de 1.200 línguas que ainda nada conhecem do
evangelho de Cristo. Na América Latina 1 terço das línguas nada tem da Palavra de
Deus. Há ainda bem mais de 100 etnias indígenas, no Brasil, sem presença missionária,
e mais de 180 sem uma igreja local entre eles. A Europa vive hoje uma fase pós cristã
onde pregar o evangelho é tarefa das mais árduas. Alguns dizem que verdadeiros
missionários pregam o evangelho nos lugares menos desenvolvidos, mais pobres e
isolados do planeta. Ledo engano. Na África e na Amazônia pessoas sentam-se ao seu
redor para lhe ouvir, mas não na Europa. Ali o evangelho é ridicularizado como também
o evangelizador.

 O Islamismo, nos últimos 5 anos cresceu 500% no mundo. O Budismo 100%. O


Hinduísmo 70%. O Cristianismo 45%.  O Islamismo não é apenas a religião que mais
cresce no mundo hoje mas é também a religião predominante em 43 países. 20% da
população mundial é Islâmica. Os Islâmicos esperam se tornar a religião mais ativa na
Suécia, França e Inglaterra dentro de 20 anos.

Há mais de 17.000 comunidades ribeirinhas e indígenas sem nada do evangelho no


Norte do nosso país.  O sul continua sendo um desafio imensurável. Poucas igrejas,
pouco avanço, grande necessidade. O nordeste, apesar do abençoado avanço
missionário nos últimos 15 anos, ainda possui bolsões onde Jesus é totalmente
desconhecido e jamais foi apresentado ao povo local.

Cresce no mundo toda sorte de “perversão dos homens que detém a verdade pela
injustiça” (verso 18).  Paulo enumera alguns atos de perversão. No verso 20 ele nos fala
da perversão filosófica em que os homens, mesmo perante a manifestação de Um que
tudo criou, procuram alicerçar suas vidas com base em seus próprios pensamentos
corruptíveis. No verso 23 fala-nos da perversão religiosa em que mudaram a glória de
Deus, incorruptível, em imagem de homem corruptível bem como de aves, quadrúpedes
e repteis. Fala-nos da idolatria. No verso 26 em diante nos fala a respeito da perversão
ética  onde ele menciona que o homem deixa o contato natural com a mulher e se
relaciona homem com homem, cometendo torpeza.  No verso 28 a Palavra nos diz que,
por terem desprezado o conhecimento de Deus, o Senhor os entrega a uma “disposição
mental reprovável”. Ou seja, a natureza humana é pecaminosa, e assim o homem se põe
a cometer “atos inconvenientes, cheios de injustiça, malícia, avareza e maldade;
possuídos de inveja, homicídio, contenda, dolo e malignidade; sendo difamadores,
caluniadores, aborrecidos de Deus, insolentes, soberbos, presunçosos, inventores de
males, desobedientes aos pais, insensatos, pérfidos, sem afeição natural e misericórdia”
(Rm 1.29, 30 e 31).

O homem, portanto, não é condenado por não conhecer a história bíblica. Ele é
condenado por não glorificar a Deus. Os homens não são condenados por não ouvirem a
Palavra. São condenados cada um por seu pecado.

Há alguns elementos bíblicos neste precioso texto que nos ajudam a pensar em alguns
princípios em relação ao evangelho.

Em primeiro lugar há uma verdade universal e supra cultural: Deus é soberano e dono
de toda glória. Esta verdade fundamenta a proclamação do evangelho.

Em segundo lugar o pecado intencional (perversidade e impiedade) nos separa de Deus.


Não há como apresentar Deus que busca se relacionar com o homem sem expor o
pecado humano e seu estado de total carência de salvação.

Em terceiro lugar somos seres culturalmente idólatras. É comum ao homem caído gerar
uma idéia de deus que satisfaça aos seus anseios sem confrontá-lo com o pecado. Esta
atitude é encontrada em toda a história humana e não colabora para o encontro do
homem com a verdade de Deus.

Em quarto lugar a mensagem pregada por Paulo é contextualizada, expondo Deus de


forma compreensível.  Não é inculturada, pregando um deus aceitável ou desejável, mas
sim um Deus verdadeiro. Se amenizarmos a mensagem do pecado contribuiremos para a
incompreensão do evangelho, o sincretismo religioso e o esfriamento do movimento
missionário.

3. A manifestação missional: Deus nos convida a crer - o justo viverá por fé

Uma das expressões mais bombásticas em toda a Escritura se encontra no verso 19:
“porque Deus lhes manifestou”.
Somos salvos pela manifestação de Deus. As nações  - todo aquele que crê – serão
salvas pela manifestação de Deus. Não pela capacidade da Igreja, por suas estratégias
bem torneadas, por suas mentes brilhantes, por sua habilidade lingüística ou teológica –
mas pela manifestação de Deus.

Deus  não é manifestado, Ele aqui se manifesta. Ele é o iniciador da nossa salvação. Seu
amor é a segurança de que somos salvos.

C.S. Lewis nos diz que a imutabilidade do caráter de Deus – Pai amoroso – é a
segurança de nossa salvação.  A fé não é a fé na Igreja, ou a fé na própria fé, mas sim a
fé em Deus, naquEle que se manifesta.

No capítulo 1, verso 17, Paulo nos diz que “a justiça de Deus se revela no evangelho, de
fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé”.

Em meio ao caos do pecado, diz Paulo, o justo viverá. Viverá por fé.

Ele aqui reproduz a mensagem de Habacuque (Habacuque 2:4) que faz esta afirmação
600 anos antes de Cristo .  Para entendermos esta verdade  precisamos pensar no profeta
Habacuque.

No primeiro capítulo do livro de Habacuque o profeta denuncia o sofrimento do povo


de Deus. Diz que, perante o ataque dos Caldeus, o povo sofre violência, destruição,
prisão e humilhação. E pergunta: "Até quando, Senhor, clamarei eu, e tu não me
escutarás? Gritar-te-ei: Violência! E não salvarás? Por que me mostras a iniqüidade e
me fazes ver a opressão?" (1:2-3). O profeta pede que Deus mude as circunstâncias, que
anule o sofrimento.Deus responde à Habacuque, mas não é a resposta que ele deseja
ouvir. O Senhor diz que haverá ainda mais destruição, morte e sofrimento. Habacuque
se desespera e diz que se porá na torre de vigia. Habacuque não sabe o que fazer.

Pede paz e o Senhor lhe anuncia coisas ainda mais terríveis. Pede que o sofrimento
cesse e o Senhor lhe apresenta sofrimento ainda maior. Habacuque, porém, confia no
caráter do Senhor e diz: eu esperarei.Ali Habacuque reflete e percebe que Deus possui
motivos para castigar o seu povo. Identifica, assim a idolatria, a autoconfiança e a
iniqüidade. Habacuque ainda aguarda na torre de vigia e espera a misericórdia do
Senhor.

Ao fim ele percebe que “Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o
produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas sejam
arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja gado,  todavia eu me alegro no Senhor,
exulto no Deus da minha salvação. O Senhor Deus é minha fortaleza” ( Hc 3: 17-19).O
profeta percebe que Deus não perdeu Seu poder mesmo perante o caos. Deus não deixa
de ser Deus quando se cala. E Deus permite o caos para nos ensinar a crer. O profeta
percebe que Deus o convida a crer, e este é o assunto central neste diálogo entre
Habacuque e Deus. Habacuque pede que o Senhor mude as circunstâncias mas Deus lhe
convida a crer que Ele é Deus mesmo no meio da tempestade.

No capítulo 3.17 Habacuque exclama, aquilo que iria levar Paulo após 600 anos a
fundamentar a carta aos Romanos, e aquilo que levaria Lutero, após 2.100 anos, a
iniciar a Reforma: “O justo viverá por fé”.
Deus não convida os povos a ver, mas sim a crer. Deus nos convida a ter fé. E a fé vem
pelo ouvir, e o ouvir da Palavra do Senhor.

Não há nada mais poderoso em nossas ações missionárias do que proclamarmos a


Palavra do Senhor. Ela gera fé. Ela transforma o coração mais duro, a nação mais forte,
o homem mais ímpio. Ela transformou a minha e a sua vida. Fará isto ainda com
milhões. A missão da Igreja não é apenas clamar por paz, ou pedir que o Senhor mude
as circunstâncias. A missão da Igreja é proclamar a Palavra que gera fé, converte o
coração, transforma as nações.

Conclusão

Partilhamos nestas linhas algumas  convicções missionais. A mensagem missional (o


evangelho  - Jesus - é o poder de Deus); A necessidade missional (o homem, impiedoso
e perverso, está perdido); A manifestação missional (Deus convida o mundo a crer: o
justo viverá por fé).

O pastor Hernandes Dias Lopes diz que a obra missionária é imperativa, intransferível e
inadiável.  Ele tem razão. Diz também que a Igreja é a única que não ouve e obedece a
voz de Deus.

Deus ordenou, e sua Palavra sempre foi obedecida. Ele disse ‘haja luz’ e houve luz.
Falou ao mar e ele se abriu. Sua palavra foi obedecida por demônios que foram
expulsos, enfermos que foram sarados, muralhas que caíram. Ele falou à tempestade e
ela se acalmou.

Ele também ordenou a igreja: vá por todo o mundo anunciar Jesus a todas as nações. 
Após 2.000 anos de Cristianismo Jesus ainda permanece desconhecido por boa parte do
planeta, mais de 3.500 línguas faladas por 2 bilhões de pessoas não o conhecem. Será a
Igreja, perante todos, a única a desobedecer ao comando do Senhor ?

O Núcleo Central da Missão de Jesus

Por Ricardo Matioli - 21/12/2009

Cristo sendo Deus se fez homem, sendo rico, veio pobre, tendo força, mostrou-se fraco,
não usou de sua força para destruir; ao invés de governar com seu poder, revelou-se
pelo serviço. Por esta razão sua encarnação é o núcleo central de sua missão. Não se
pode fazer missão sem este conteúdo da missão.

A encarnação ou a inserção de Cristo foi o primeiro ato para o desenvolvimento de sua


missão. Se quisermos seguir o caminho que Jesus percorreu, não temos outra opção
senão entendermos a encarnação como um núcleo central da missão. Este é o método
utilizado por Jesus para se aproximar dos homens. E estamos vivenciando isto aqui na
África. Não tem como anunciar o evangelho sem se inserir dentro da cultura, ou no
meio do povo principalmente quando se esta em um contexto urbano.

Nesta caminhada proposta por Jesus, à encarnação ou inserção significa andar com o
povo, entrar nos becos, ruas e esquinas, comer com o povo, acolher, abraçar, chamar
para si os possessos e libertá-los, não rejeitá-los e nem julgá-los, seja eles mulçumanos,
budistas, hinduístas ou animistas. Estas características da missão de Jesus têm muito a
nos ensinar hoje. Aqui os becos da cidade e as esquinas estão cheios de mendigos, de
desempregados, de doentes e muitos abandonados. Gente que não da ouvidos para
aqueles que apenas passam pelo seu caminho.

A humanidade de Jesus era tão comum, tão normal, tão semelhante à nossa, que seus
familiares se escandalizavam ao ver as obras que Ele realizava, como se achassem que
Jesus estivesse fora de seu juízo (Mc 6:1-5). Por outro lado, Jesus que se admirou com a
falta de fé deles. Jesus deixou muitos exemplos que nos leva ao caminho da humildade.
Missão se faz de forma simples, com soluções simples, aqui nas cidades da África o
povo não quer grandes projetos, grandes industria, eles querem o necessário para viver
uma vida digna, mas para conhecer suas reais necessidades é preciso estar com eles seja
nas esquinas, nos becos das cidades, nos campos ou nas tribos. Temos que estar com
eles.

Jesus além de incluir todas as pessoas, incluiu todas as circunstâncias. Jesus dava
importância para todos os problemas. Jesus estava presente em todos os momentos,
independentemente de sua gravidade. Eu e minha família estamos aprendendo a
escolher este caminho em nossa missão todos os dias.

Esta é a estrada que Jesus nos propõe: encarnarmos no meio do povo de uma forma
completa, este é o desafio para a missão da Igreja. Me lembro do Pr Júlio Zabatiero que
escreveu que para a Igreja seguir o exemplo de Jesus, a encarnação missionária deve ter
duas características básicas que são: “(A) o discernimento do Espírito (Cl 1,9-11), a fim
de podermos distinguir entre o pecado e a justiça, o certo e o errado, o bem e o mal, a
verdade e o erro em nossa cultura e sociedade; e (B) a compaixão (Mc 6.34), para
podermos anunciar o Evangelho da salvação às pessoas que estão escravizados pelos
poderes do pecado e da morte, e que caminham cegas, como ovelhas perdidas, sem
pastor.”. A compaixão está presente em toda missão de Jesus. Precisamos entender que
para o cumprimento da missão são indispensáveis dois requisitos: discernimento e
compaixão.

Mas se, de fato, queremos seguir o caminho que Jesus percorreu e fazer de Sua missão a
nossa missão, não seria o caso de dar um chega-pra-lá em nossos próprios caminhos e
encarnamos o núcleo central da missão de Jesus com fé? Também não seria o caso de
dar um chega-pra-lá em nossa soberba e encarnamos o núcleo central da missão de
Jesus com compaixão?

Por que ir para tão longe se aqui perto há tanta necessidade?

Por Jairo de Oliveira - 14/1/2010

Eis aí uma pergunta que, pelo menos uma vez, todo missionário transcultural já deve ter
tido que responder.

Visitando diversas igrejas no Brasil e compartilhando a respeito do nosso ministério de


proclamação da Palavra de Deus aos povos africanos, Vânia e eu temos ouvido esta
pergunta com certa frequência.

Por alguma razão, pessoas se sentem desconfortáveis com a ideia de que um indivíduo
abrace desafios num contexto distante, enquanto há a manifestação de desafios, em
certo sentido, semelhantes em seu ambiente originário.

Normalmente, diante da apresentação desta pergunta, temos procurado responder tendo


em mente as seguintes razões:

 Porque é bíblico

A atitude de alguém que sai da terra natal para levar o evangelho a outras nações é,
antes de tudo, sustentada, inspirada e ordenada pelas Escrituras.

O fato é que a Bíblia é essencialmente um livro missionário e como tal requer que o
povo do caminho concentre seus esforços no anúncio da glória de Deus também entre
aqueles que estão distantes.

Abraão foi o pioneiro a ter que deixar sua casa para se tornar bênção para as famílias da
terra (Gn. 12.1-3), cumprindo assim os projetos missionários divinos. Depois dele,
muitos outros personagens bíblicos seguiram seu rastro, tanto no Antigo como no Novo
Testamento.

Sair da própria terra para levar o evangelho aos que estão distantes não se trata de uma
proposta humana. Não é modismo, heroísmo ou tentativa de expansão religiosa. O
trabalho missionário transcultural é vontade e propósito de Deus! A tarefa missionária
da Igreja, antes de qualquer outra coisa, é bíblica.

Porque o Mestre mandou

 O missionário vai aos lugares mais distantes do planeta a fim de anunciar o evangelho
em obediência a Jesus. Não se trata prioritariamente de responder a desafios maiores ou
menores dos encontrados em nossa pátria, mas de se submeter à ordem expressa de
Jesus para anúncio do evangelho entre todas as nações.

Essa não é a única base do nosso envolvimento com missões (já que o assunto é bíblico
e reafirmado em cada livro das Escrituras), mas é preciso reconhecer que o Mestre não
sugeriu ou solicitou, Ele nos mandou fazer discípulos de todas as nações: “Portanto ide,
ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo;
ensinando-as a guardar todas as coisas que vos tenho mandado; e eis que Eu estou
convosco todos os dias, até à consumação dos séculos” (Mt. 28.19-20).

Aquele que nos mandou ir tem toda autoridade no céu e na Terra. Sendo assim,
devemos nos submeter à sua autoridade obedecendo à sua convocação a fim de
alcançarmos também os que estão distantes.

Por uma questão de exemplo

Quando olhamos para trás encontramos em toda a história bíblica e eclesiástica o


exemplo de homens que cumpriram com obediência o chamado missionário divino. De
fato, o evangelho chegou até nós porque esses valentes do passado compreenderam que
a Igreja é a agência missionária de Deus para o mundo.
É saudável lembrarmos com frequência que foi por meio do desprendimento e da
obediência dos missionários estrangeiros que o evangelho chegou ao nosso país. Eles
saíram de suas terras deixando para trás desafios presentes em seu próprio contexto.
Antes de desembarcarem no Brasil é possível que também tenham ouvido de seus
compatriotas: “Por que ir tão longe se aqui por perto há tanta necessidade?” Não
obstante, saíram com coragem e vieram nos trazer o evangelho.

Hoje, tendo sido alcançados com o evangelho, parece que o mínimo que podemos fazer
é reproduzir o exemplo, assumindo esse mesmo tipo de iniciativa em relação aos demais
povos.

Para impedir o avanço das trevas em outras partes do mundo

Os povos sem o testemunho do evangelho estão perdidos espiritualmente e vivendo na


escuridão. Em contrapartida, as falsas religiões continuam avançando e em muitos casos
gerando oposição e perseguição ao evangelho.

Há contextos onde a obra da cruz de Cristo ainda não é conhecida e uma das
consequências é que de maneira explícita Satanás é tido como rei e permanece
recebendo adoração que não lhe é devida.

É importante dizer que quando nos omitimos em pregar a Palavra de Deus, estamos
fazendo com que gerações inteiras permaneçam na escuridão. Desta forma, não
podemos permanecer indiferentes enquanto temos todas as condições para interferir
nestes cenários e fazer com que as trevas sejam dissipadas.

Por uma questão de coerência

Recentemente me sentei com o meu pastor em seu gabinete e ao considerarmos a


presença da igreja em nosso bairro, identificamos mais de vinte igrejas locais em uma
única rua. Esse fato faz parte da realidade de outras ruas da cidade do Rio de Janeiro e
também de muitas outras cidades do nosso país. A questão que vem à mente diante
deste quadro é: “Se o acesso ao evangelho é tão abundante em nossas cidades, por que
não compartilhá-lo com aqueles que ainda não o receberam?”

Se o evangelho é de fato boas-novas e há muitos que sequer tiveram acesso a ele,


acredito que não podemos omitir aos outros tudo o que Cristo fez por nós. Se o fizermos
seremos os mais insensíveis e os mais incoerentes de todos os homens, mesmo que não
houvesse uma ordem tão explícita para pregarmos o evangelho ao mundo.

Será que é justo que alguns recebam do evangelho em abundância enquanto outros não
têm sequer uma oportunidade? Foi em resposta a esse cenário que o apóstolo Paulo
escreveu: “Deste modo esforçando-me por anunciar o evangelho, não onde Cristo
houvera sido nomeado, para não edificar sobre fundamento alheio” (Rm. 15.20).

Por uma questão de estratégia

Por mais incrível que pareça, existem povos que nunca ouviram o evangelho e precisam
ser focalizados pela Igreja de Jesus Cristo a fim de serem evangelizados. Eles
representam nações inteiras intocadas pelo trabalho de evangelização da Igreja e
ignorantes da revelação especial de Deus. Eles somam milhões de pessoas que vivem
em ignorância espiritual, mergulhados na idolatria e arraigados nas falsas religiões. São
vítimas da fome, da pobreza, das doenças, das guerras e da impossibilidade de
conhecerem a graça divina, revelada em Cristo Jesus.

Os povos não alcançados são aqueles que não possuem uma comunidade nativa de
crentes em Cristo com números ou recursos adequados para evangelizar seu próprio
grupo sem a ajuda de missionários transculturais. Eles representam uns 2,3 bilhões de
pessoas com muito poucas possibilidades de ouvir e crer no evangelho de Cristo.

Considerando a tarefa inacabada do anúncio do evangelho entre todas as nações, o


desafio que mais se destaca para a Igreja em nossa geração é exatamente anunciar o
evangelho aos que ainda não ouviram.

Porque é um privilégio

            Aquele que deixar o seu lar para seguir para terras distantes a fim de proclamar o
evangelho é um mensageiro da paz e pode estar se tornando um pioneiro no trabalho de
levar as boas novas de Cristo aos que ainda não ouviram.

Tenho enorme alegria em dizer que o maior investimento que fiz na minha vida foi
dedicar a minha juventude no anúncio do evangelho (já se vão treze anos!). Pois a obra
missionária é um grande privilégio para quem pode experimentá-la e investimento
garantido para a eternidade, certa é recompensa.

Entendemos por meio da teologia bíblica que esse ministério não foi dado aos anjos,
mas aos discípulos de Jesus. Portanto, trata-se de um grande privilégio que o Senhor
tem reservado para nós.

“Como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam o evangelho de paz; dos
que trazem alegres novas de boas coisas" (Rm. 10.15).

            Por todas estas razões, vale a pena alcançar aqueles que estão longe de nós!

Publicado na Revista Povos, número 10, dezembro de 2009.

Para fazer Missões é preciso aprender a amar

Por Jocum - 14/3/2011

Evangelizar significa anunciar as boas novas, as boas notícias. Mas quais são as boas
notícias?

Imagine a seguinte situação:

Você perde o emprego, o dinheiro que você tava contando não entra e você tem um
monte de contas, financiamentos e empréstimo para pagar. Três meses passam e os
juros vão se acumulando, você é ameaçado de perder o carro, de ser despejado e o
telefone não para de tocar com cobranças. Qual seria a solução?
Poderíamos analisar várias situações, mas todas elas teriam em comuns sentimentos
ruins (dor, sofrimento, insegurança, consciência pesada,…) e o desejo de se livrar de
todos eles.

A única coisa que poderia trazer liberdade e restaurar a paz seria uma boa notícia. Mais
qual?

Para quem já feriu sabe o valor que têm alguém dizer: Eu te perdôo!

Para quem já passou necessidade sabe o quanto uma ajuda inesperada pode trazer alívio
e bem estar.

Somos chamados a anunciar as Boas Notícias: Amor, Perdão, Alegria, Provisão,


Salvação…

Ide por todo mundo e pregai “as boas notícias” a toda criatura. (Marcos 16:15)

A melhor notícia que você pode transmitir para alguém é: Eu te amo! Como Deus me
amou primeiro, hoje eu posso te amar e quando você conhecer o amor de Deus você vai
ser capaz de amar a outros.

Pessoas estão precisando urgentemente conhecer o amor de Deus, e quando nós


demonstramos este amor, não só de falar, mas perdoando, ajudando, provendo,
animando, fortalecendo,..nos tornamos verdadeiramente agentes deste amor.

Amor… nisto se resume as Boas Notícias…como você pode anunciá-la hoje?

Cultivando uma Cultura Missionária numa Igreja Pequena

Pastor, você já pensou consigo mesmo: “Minha igreja é tão pequena, não podemos fazer
muita coisa por missões, principalmente por missões no estrangeiro”?

Caso sua resposta seja positiva, tenho uma novidade para você. As igrejas pequenas não
estão isentas do trabalho missionário, nem deveriam desejar estar.

Minha igreja, Grace Baptist (Batista da Graça), não possui todos os recursos que
geralmente estão associados às igrejas que investem em missões com intensidade. Mas,
pela graça de Deus, eis a maneira pela qual nos tornamos cada vez mais comprometidos
com o avanço da causa de Cristo ao redor do mundo:

1) Pregação Expositiva

É lógico que as Escrituras estão repletas de instruções para os crentes, bem como para
as igrejas, acerca do plano de Deus e de nossa responsabilidade de espalhar as boas-
novas da salvação em Cristo até os confins da terra. À medida que nossa igreja
enxergou essa responsabilidade, repetidas vezes, por meio do estudo expositivo das
Escrituras, partimos do consentimento teórico para um compromisso prático e zeloso.

2) Oração Intencional
Depois, nossa igreja começou a orar de forma fervorosa “ao Senhor da seara”, para que
mandasse “trabalhadores para a sua seara” (Lc 10.2). Começamos a orar dessa maneira
nas orações feitas pelos pastores durante nossos encontros de adoração, em nossas
reuniões regulares de oração e nas reuniões de pequenos grupos. Deus respondeu
àquelas orações, chamando alguns de nossos membros mais fiéis e talentosos para
dedicarem-se& a alguns dos povos menos alcançados do mundo.

3) Estudos voltados para missões

Dois livros foram muito úteis na peregrinação de nossa igreja rumo ao envolvimento
prático em missões. O primeiro foi o livro de Patrick Johnstones, Operação Mundial
(este livro foi chamado anteriormente de Batalha Mundial: guia para intercessão pelas
nações). Durante mais de uma década, incorporamos em nossos avisos semanais e
reuniões de pastores, informações estatísticas e espirituais, extraídas desse livro, a
respeito das nações. Isso sensibilizou os membros de nossa igreja em relação aos povos
e lugares, que de outra forma, teríamos ignorado.

E também, uma das melhores coisas que fizemos foi utilizar o livro de John Piper, Let
the Nations be Glad (Alegrem-se os Povos – Cultura Cristã) nos estudos para adultos,
em nossa escola dominical. A visão da glória de Deus sendo magnificada pela alegria
dos povos ainda não alcançados cativou muitos de nossos membros. Ele continua sendo
o livro favorito da igreja.

4) Relações Pessoais

Finalmente, nossos esforços missionários começaram praticamente por meio de


encontros providenciais e relações pessoais. Um missionário batista do sul, que havia
acabado de voltar de um período de quatro de anos no Afeganistão, visitou nossa igreja
e trouxe-nos notícias de primeira mão, as quais causaram um impacto duradouro em
nossa igreja: prisioneiros que morreram de fome porque seus companheiros não tinham
recursos para alimentá-los; crentes que se converteram do Islã e eram mortos ou
simplesmente desapareciam; e assim por diante.

Esse relacionamento pessoal nos levou a adotar um grupo de pessoas de um povo não
alcançado, na Ásia central, o qual aquele missionário desejava atingir. Começamos a
aprender sobre eles, a orar por eles e a empregar recursos para ajudar a alcançá-los com
o evangelho. Finalmente, Deus nos levou a enviar um de nossos diáconos e sua família
para se unir ao trabalho de tempo integral daqueles que já estavam trabalhando naquele
país.

Uma vez que alguns de nossos próprios membros estavam vivendo em meio ao nosso
grupo de pessoas não alcançadas, nosso interesse pela obra do evangelho naquela parte
do mundo aumentou consideravelmente. Nossas orações tornaram-se mais pessoais e
fervorosas. Nossas ofertas passaram a ser mais significativas e sacrificiais E nosso
regozijo ficou ainda mais profundo e agradável quando, pela graça de Deus,& uma
igreja finalmente foi estabelecida entre os novos convertidos daquele grupo de pessoas.

Ao longo dos anos, enviamos quatro missionários (três famílias e um adulto solteiro)
para viver em lugares desagradáveis, a fim de tornar Cristo conhecido. Adotamos um
outro grupo de muçulmanos não alcançados, na Ásia central, e temos nos alegrado com
o nascimento de uma nova igreja.

Uma Cultura Missionária

Por meio da pregação expositiva, da oração e de estudos especiais, Deus tem cultivado
uma “cultura missionária” em nossa igreja. Além daquilo que já mencionei, temos
várias atividades específicas para promover essa cultura:

 Agendamos visitas com missionários confiáveis regularmente, para que nos


falem acerca de seu trabalho. Tentamos encorajá-los e damos-lhes ofertas,
principalmente bons livros.

 Procuramos conhecer missionários (às vezes, perguntando sobre eles a crentes


com discernimento), anunciamos suas necessidades e oramos sistematicamente
por eles.

 Cedemos espaço, em nossas dependências, para mapas e murais de atividades


missionárias.

 Lembramos das datas especiais e do aniversário dos missionários, e lhes


enviamos mensagens atenciosas e ofertas.

 Recrutamos membros da igreja para se corresponderem com os missionários.


 

 Encorajamos os membros da igreja a ler bons livros missionários, incluindo


biografias.

 Treinamos e enviamos membros da igreja em viagens de curto prazo, para


auxiliar os obreiros que estão no estrangeiro com projetos especiais ou
simplesmente para servi-los e encorajá-los. Deus tem usado as viagens curtas
para confirmar o seu chamado na vida de cada um dos missionários que temos
enviado.

 Trabalhamos para aumentar a quantidade de dinheiro que a igreja destina para


missões.

Nenhuma dessas coisas parece ser muito importante por si só. Mas, de modo coletivo,
elas podem encorajar a igreja a desenvolver uma perspectiva global acerca do avanço do
evangelho. E não somente isso, elas são o tipo de coisa que toda igreja pode fazer,
independentemente de seu tamanho ou recursos. Uma igreja com esse tipo de atmosfera
pode tornar-se um solo fértil para cultivar a próxima geração de missionários
internacionais.

Traduzido por: Waléria Coicev

Traduzido do original em inglês: Cultivating a Culture of Missions in a Small Church&


Fonte: Editora Fiel

A Missão da Igreja

Por John Newton - 6/6/2013

A missão da igreja não é reformar o mundo, nem erradicar as suas práticas más. Nosso
único propósito é pregar o evangelho de Cristo. Se homens e mulheres chegarem a amar
o Salvador, não há dúvida de que a conduta exterior deles será transformada. As
seguintes palavras foram ditas por John Newton em uma conferência de pastores, em
janeiro de 1778. Ele estava falando sobre como a igreja pode realizar transformações
morais no mundo. Seus comentários se mostram tão apropriados hoje como o foram na
sua época.

“O evangelho de Cristo, o glorioso evangelho do Deus bendito, é o único instrumento


eficaz para transformar a humanidade. O homem que possui e sabe como utilizar esta
grande e maravilhosa ferramenta, se posso fazer esta comparação, conseguirá facilmente
aquilo que, de outro modo, seria impossível. O evangelho remove as dificuldades
intransponíveis à capacidade humana: faz o cego ver e o surdo ouvir; amolece o coração
de pedra; ressuscita aquele que estava morto em ofensas e pecados para um vida de
retidão.

Nenhuma outra força, exceto a do evangelho, é suficiente para remover os imensos


fardos de culpa de uma consciência despertada; para aquietar o ardor de paixões
incontroláveis; para levantar uma alma mundana atolada no lamaçal da sensualidade e
da avareza, para uma vida divina e espiritual, uma vida de comunhão com Deus.

Nenhum sistema, exceto o evangelho, é capaz de transmitir motivos, encorajamentos e


perspectivas suficientes para resistir e frustrar todas as armadilhas e tentações com as
quais o espírito deste mundo, com suas carrancas ou com seus sorrisos, se esforça para
intimidar e afastar-nos do caminho do dever. Mas o evangelho, entendido corretamente
e recebido com alegria, trará vigor ao desanimado e coragem ao temeroso. Tornará
generoso o mesquinho, moldará a lamúria em bondade, amansará a fúria de nosso
íntimo. Em resumo, o evangelho dilata o coração egoísta, enchendo-o com um espírito
de amor para com Deus, de obediência alegre e irrestrita para com a vontade dEle, bem
como de benevolência para com os homens.”
 
FONTE: www.editorafiel.com.br

A simplicidade do evangelho e a sofisticação da Igreja

Por Ricardo Barbosa de Sousa - 22/5/2013

O evangelho de Jesus Cristo é simples. Simples na forma e simples no conteúdo. A vida


e o ministério de Jesus acontecem num cenário simples. Ele anunciou as boas novas do
reino de Deus, demonstrou a presença do reino através de palavras, exemplos e ações.
Convidou pessoas para estarem e aprenderem com ele. Sofreu as incompreensões do
sistema religioso e político do seu tempo. Morreu e ressuscitou. Após a ressurreição,
encontrou-se com seus discípulos e comunicou-lhes que recebera toda autoridade no céu
e na terra, e que, como Rei e Senhor, enviou seus discípulos para anunciarem as boas
novas, levando homens e mulheres a guardarem tudo o que ele ensinou, integrando-os
numa comunidade trinitária por meio do batismo, e prometeu estar com eles todos os
dias, até o fim.
 
Alguns dias depois, no meio da festa de Pentecostes, 120 discípulos estavam reunidos
em Jerusalém, e a promessa de Jesus se cumpriu. Todos foram cheios do Espírito Santo,
começaram a viver a nova realidade anunciada por Jesus, saíram alegremente, por todo
canto, pregando a boa notícia de que Deus visitou seu povo e trouxe salvação, justiça e
liberdade.
 
A história seguiu e os cristãos foram se multiplicando, organizando igrejas, criando
instituições, formas e ritos. Porém, as instituições cresceram e suas estruturas se
tornaram mais complexas e sofisticadas. Transformaram-se num fim em si mesma. A
simplicidade do evangelho foi substituída pela complexidade institucional.
 
C. S. Lewis, na carta 17 do livro “Cartas de um Diabo a seu Aprendiz”, aborda o tema
da glutonaria e afirma que uma das grandes realizações do maligno no último século foi
retirar da consciência dos homens qualquer preocupação sobre o assunto, e isso
aconteceu quando ele transformou a “gula do excesso na gula da delicadeza”. Para C. S.
Lewis, o problema da gula, muitas vezes, não está no excesso de comida, mas na
sofisticação, na exigência de detalhes em relação ao vinho, ao ponto do filé ou ao
cozimento da massa. Fica impossível atender a um paladar tão sofisticado. A
simplicidade do ato de comer dá lugar à sofisticação gastronômica. Pessoas assim,
segundo o autor inglês, demitem cozinheiras, destratam garçons, abandonam
restaurantes, cultivam relacionamentos falsos e terminam a vida numa solidão amarga.
 
Como igreja, corremos o mesmo risco. A simplicidade e pureza do evangelho já não
provocam prazer na maioria dos cristãos ocidentais. A sofisticação da igreja, sim. É o
vaso tornando-se mais valioso que o tesouro contido nele. Se a música não estiver no
volume perfeito, o ar condicionado no ponto exato, a pregação no tempo apropriado,
com conteúdo que agrade a todos os paladares e com o bom uso dos aparatos
tecnológicos, talvez eu não me agrade desta igreja.
 
Justificamos a sofisticação com expressões como “busca por excelência”, “relevância”,
“qualidade”. Parece justo. O problema é que a excelência ou a relevância do evangelho
está exatamente na sua simplicidade. É cada vez mais fácil encontrar cristãos que
acharam a “igreja certa” do que os que simplesmente encontraram o evangelho. A
sofisticação da igreja mantém o cristão num estado de espiritualidade falsa e superficial.
A maior deficiência do cristianismo não está na forma, mas no conteúdo.

A verdadeira experiência espiritual requer um coração aquecido e não sentidos


aguçados. Precisamos elevar nossos afetos por Cristo, seu reino, sua Palavra e seu povo,
e não os níveis de sofisticação e exigências institucionais. O vaso deve ser de barro,
sempre. O tesouro que ele  guarda, o evangelho simples de Jesus Cristo, é que tem
grande valor. A sofisticação produz queixas, impaciência, falta de caridade e egoísmo.
A simplicidade sempre nos conduz a compaixão, sinceridade, devoção e autodoação.

FONTE: http://www.ultimato.com.br

Santidade e Missões

Por Luís Fernando Basso - 17/4/2013

“...segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também em todo o vosso
procedimento”. (I Pe 1.14-15)

“...Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da
Sua glória”. É assim que Bíblia nos apresenta o Deus de Israel. Um Deus separado
(kadoshi) de toda a sua criação e absolutamente distinto de qualquer outro ser que
revogue para si a prerrogativa de “deus”.

Essa distinção se dá pela Sua santidade, atributo que revela pureza moral e um
caráter perfeito, sendo de fato, sinônimos do Deus de Israel (Ez 39.7).

Entretanto, esse atributo que o faz totalmente distinto, não lhe impede de
relacionar-se com a sua criação e desejar que ela, por meio de Sua graça, assim como
Ele é, seja santa. Em toda a Bíblia encontramos asseverações como esta: “Sede Santos”;
sendo esta, então, não uma opção de credo - posso ou não ser santo - mais uma ordem
expressa de Deus para nós.

Meditando sobre isso, o que santidade tem haver como missões?  

1 – Sem santidade na obra missionária somos incapazes de realizar algo


para Deus. (João 15.5).  Irmãos, o oposto de santidade é a carnalidade. Assim, quando
não agimos em santidade, estamos necessariamente dando lado à nossa carne. Essa
inversão de valores em nossas atitudes nos afasta de Deus (Is. 61.1) e, nos impede de
relacionarmo-nos com Ele. Essa separação nos impossibilita de ouvirmos a Sua voz,
conhecermos os desejos de Seu coração e obedecermos a Sua vontade. Podemos até
tentar fazer missões por nossa própria força e vontade, mas iremos falhar e nos frustrar,
pois Jesus nos disse que sem Ele nada podemos fazer.

2 – Sem santidade na obra missionária somos desqualificados para a obra


do Senhor.  (I sam. 15.23). A falta de santidade revela uma pessoa que não teme ao
Senhor. Um coração obstinado e endurecido que de fato, rejeita a Palavra de Deus.
Lembremos do caso de Saul. Foi rejeitado por não agir de acordo com a vontade de
Deus. Sua desobediência o desqualificou, provando que sem santidade não agradamos a
Deus. Muitos são rejeitados por Deus por não pagarem o preço da santidade. Fazem as
coisas com o “seu jeitinho”, da sua forma, e se tornam dispensáveis. Alguns missiólogos
acreditam e afirmam que um dos principais problemas que faz missionários voltarem do
campo é o caráter. Precisamos deixar Deus trabalhar em nossas vidas.3 – Sem
santidade na obra missionária somos desacreditados perante as pessoas. (Mt 7.29).
Sem santidade, nossa obra missionária torna-se inútil e sem nenhuma autoridade. Jesus
é nosso maior exemplo. As multidões diziam que ele falava como quem tem autoridade
e não como os fariseus, ou seja, Jesus vivia o que pregava. As pessoas precisam além de
crerem na Palavra de Deus, ver em nós a diferença que o Evangelho proporciona. Elas
poderão criar receio de crer se nossa vida não andar de acordo com o que ensinamos.
Esse é um problema sério em missões -  falarmos uma coisa e não fazermos. A Bíblia
nos diz que somos hipócritas se agimos assim. Precisamos de fato ser o bom perfume de
Cristo.

Finalizando, a falta de Santidade em missões gera: Uma visão de um


Evangelho descompromissado com a verdade, um missionário ativista sem uma
espiritualidade verdadeira, perda de tempo recursos e vidas.

Em Cristo.

Missões, um investimento de consequências eternas

Por Hernandes dias lopes - 24/8/2012

"Jesus, o Filho de Deus, deixou a glória que tinha com o Pai, no céu, e veio ao mundo,
encarnou-se e habitou entre nós."

Veio como nosso representante e substituto. Veio para morrer em nosso lugar. Seu
nascimento foi um milagre, sua vida foi um exemplo, sua morte foi um sacrifício
vicário, sua ressurreição uma vitória retumbante. Jesus concluiu sua obra redentora e
comissionou sua igreja a ir por todo o mundo, proclamando o evangelho a toda a
criatura. Por essa razão, a obra missionária merece nossos melhores investimentos.
Destacamos, aqui, dois investimentos que devemos fazer na obra missionária:

Em primeiro lugar, o investimento de recursos financeiros. A Bíblia diz que aquele


que ganha almas é sábio (Pv 11.30). Investir na obra missionária é fazer um
investimento para a eternidade; é fazer um investimento de consequências eternas. Nada
trouxemos para este mundo nem nada dele levaremos. Os recursos que Deus nos dá não
são apenas para o nosso deleite. Devemos empregar, também, esses recursos para
promover o reino de Deus, levando o evangelho até aos confins da terra. A contribuição
cristã não é um peso, mas um privilégio; não é um fardo, mas uma graça. Deus nos dá a
honra de sermos cooperadores com ele na implantação do seu reino. Não fazemos um
favor para Deus contribuindo com sua obra; é Deus quem nos dá o favor imerecido de
sermos seus parceiros. Estou convencido, portanto, de que a melhor dieta para uma
igreja é a dieta missionária. Quando Oswald Smith chegou à Igreja do Povo, em
Toronto, com vistas a assumir o pastorado daquela igreja, fez uma série de conferências
de uma semana. Nos três primeiros dias pregou sobre missões. A liderança da igreja
reuniu-se e disse ao pastor que a igreja estava com muitas dívidas e que aquele não era o
momento oportuno de falar sobre missões. Smith continuou nessa mesma toada e no
final da semana fez um grande levantamento de recursos para missões. O resultado é
que aquela igreja, por longas décadas, jamais enfrentou crise financeira. Até hoje, ela
investe mais de cinquenta por cento de seu orçamento em missões mundiais.
Em segundo lugar, investimento de vida. A obra de Deus não é feita apenas com
recursos financeiros, mas, sobretudo, com recursos humanos. Fazemos missões com as
mãos dos que contribuem, com os joelhos dos que oram e com os pés dos que saem para
levar as boas novas de salvação. Tanto os que ficam como os que vão são importantes
nesse processo de proclamar o evangelho de Cristo às nações. Os missionários que vão
aos campos e as igrejas enviadoras precisam estar aliançados. William Carey, o pai das
missões modernas, disse que aqueles que seguram as cordas são tão importantes como
aqueles que descem às profundezas para socorrer os aflitos. Os que guardam a bagagem
e os que lutam no campo aberto recebem os mesmos despojos. Devemos fazer missões
aqui, ali e além fronteiras concomitantemente. Devemos empregar o melhor dos nossos
recursos, o melhor do nosso tempo e da nossa vida para que povos conheçam a Cristo e
se alegrem em sua salvação. Alexandre Duff, missionário presbiteriano na Índia,
retornou à Escócia, seu país de origem, depois de longos anos de trabalho. Seu
propósito era desafiar os jovens presbiterianos a continuarem a obra missionária na
Índia. Esse velho missionário, numa grande assembleia de jovens, desafiou-os a se
levantarem para essa mais urgente tarefa. Nenhum jovem atendeu seu apelo. Sua tristeza
foi tamanha, que ele desmaiou no púlpito. Os médicos levaram-no para uma sala anexa
e massagearam-lhe o peito. Ao retornar à consciência, rogou-lhes que o levassem de
volta ao púlpito, para concluir seu apelo. Eles disseram: “O senhor não pode”. Ele foi
peremptório: “Eu preciso”. Dirigiu-se, então, aos moços nesses termos: “Jovens
presbiterianos, se a rainha da Escócia vos convidasse para ir a qualquer lugar do mundo
como embaixadores, iríeis com orgulho. O Rei dos reis vos convoca para ir à Índia e
não quereis ir. Pois, irei eu, já velho e cansado. Não poderei fazer muita coisa, mas pelo
menos morrerei às margens do Ganges e aquele povo saberá que alguém o amou e se
dispôs a levar-lhe o evangelho”. Nesse instante, dezenas de jovens se levantaram e se
colocaram nas mãos de Deus para a obra missionária!

Nova Classificação de países por perseguição 2010

Por Missão Portas Abertas - 30/6/2010

A presente Classificação de países por perseguição foi produzida com base em eventos
decorridos entre 1º de novembro de 2008 e 31 de outubro de 2009. Portanto, os meses
de novembro e dezembro de 2009 não foram considerados para esta edição.

A Classificação de países por perseguição é compilada a partir de um questionário de 50


perguntas que cobrem vários aspectos da liberdade religiosa. Às respostas são atribuídos
pontos, dependendo da resposta obtida. O total de pontos por país determina sua posição
na Classificação.

O critério de seleção é resultado de um questionário específico desenvolvido com


perguntas padronizadas sobre: a situação legal dos cristãos no país; a atitude do regime
político em relação à comunidade cristã; a liberdade da Igreja para organizar eventos; o
papel da Igreja na sociedade; o tratamento de cristãos considerados individualmente; e
outros fatores limitadores da vida de igrejas e cristãos.

O Cazaquistão saiu da Classificação não porque a situação melhorou, mas porque outros
países tiveram uma piora na questão da liberdade religiosa. Isso pode mudar se o
Cazaquistão implementar leis mais resistentes à religião no futuro.
OS DEZ MAIS

1. Coreia do Norte

Na primeira posição da nova Classificação está novamente a Coreia do Norte, o país em


que toda atividade religiosa é vista como uma rebelião aos princípios socialistas que
imperam. A situação dos cristãos é extremamente aguda neste momento, embora o
regime norte-coreano esteja deixando aos poucos a mão-de-ferro com a qual controlava
a sociedade.

Pela mobilização de cada recurso do poder, A Coreia do Norte tenta manipular a


sociedade a fim de exterminar atividades cristãs, e usa todos os meios de poder para
isso. Foram feitas pesquisas, e descobriu-se muitos cristãos secretos no país.foram
expostos durante pesquisas estritas da Coreia do Norte. Diz-se que os cristãos têm sido
usados como testes para armas biológicas e químicas.

Apesar dessa situação desumana, A Igreja está florescendo, e aumentam também as


chances de pregar o evangelho, especialmente para aqueles que vivem em cidades perto
da China.

2. Irã

Neste ano, o Irã ultrapassou a Arábia Saudita e está agora na segunda posição.

O número total de pontos registrados diminuiu devido à ausência de relatos de cristãos


assassinados. A onda de prisões que começou em 2008 continuou com a mesma força
ao longo de 2009, com cerca de 85 cristãos presos. Acredita-se que o governo usam as
detenções para tirar a atenção da população quanto aos problemas internos, como o
tumulto causado depois da reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, em junho.

A maior parte dos presos foi maltratada na prisão. Embora a maioria tenha sido
libertada, os processos continuam pendentes e os cristãos podem ser condenados a
qualquer momento.

Muitos dos que foram libertados estão sob observação e sofrem ameaças. As detenções
causaram o grande medo entre os cristãos.

Algumas igrejas foram fechadas em 2009, e o motivo primário foi o fato de ex-
muçulmanos frequentarem os cultos.

O islã é a religião oficial no Irã, e todas as leis devem ser compatíveis com a
interpretação oficial da sharia (lei islâmica). Embora os cristãos de origem armênia e
assíria sejam uma minoria religiosa reconhecida, eles relataram que alguns dos seus
foram detidos, vítimas de abuso físico e discriminados.

Essas igrejas têm permissão para fazer cultos em sua própria língua, mas são proibidas
de ministrar aos muçulmanos que falam o persa, idioma oficial do Irã. Segundo a sharia,
qualquer muçulmano que deixar o islamismo enfrenta a pena de morte.
Algumas igrejas têm a polícia secreta vigiando seus cultos. Aqueles que são ativos em
suas igrejas ou grupos domésticos estão sob pressão. São interrogados, presos e
agredidos.

Além da pressão das autoridades, os cristãos também enfrentam a pressão da sociedade.

3. Arábia Saudita

A Arábia Saudita foi da segunda posição para a terceira. Isso não significa que a
situação da liberdade religiosa no país tenha melhorado. O número menor de pontos foi
causado pela ausência de relatos de cristãos assassinados ou agredidos. Houve só um
caso de prisão: um pároco estrangeiro sentiu-se obrigado a abandonar o país depois de
receber ameaças de morte, algumas da própria mutaween, a polícia religiosa saudita.

Não há liberdade religiosa existe no reino saudita, onde só se permite que cidadãos
tenham uma religião: o islamismo. Não há garantias legais de liberdade religiosa. O
sistema legal é baseado na sharia (lei Islâmica). A apostasia (converter-se a outra
religião) é punível com morte se o acusado não se retratar.

Embora o governo reconheça o direito dos não-muçulmanos de cultuar em particular, o


culto público não-muçulmano é proibido.

Os não-muçulmanos que realizam tais atividades correm risco de serem detidos,


açoitados, deportados e, às vezes, torturados. Ex-muçulmanos também correm risco de
serem mortos pelos próprios parentes, para limpar o nome da família.

4. Somalia

Durante o período coberto pela reportagem, a situação na Somália piorou. As forças


etíopes deixaram o país em janeiro de 2009, e Sheikh Sharif Sheikh Ahmad, da Aliança
pela Reliberação da Somália, foi feito presidente pelo parlamento do governo
provisório.

Em abril de 2009, o parlamento aprovou unanimemente a adoção da sharia (lei


islâmica), esperando assim obter o apoio da população, distanciando-a das milícias
islâmicas que lutam pelo controle da nação.

Os cristãos são monitorados pelo governo e pelas milícias. O grupo extremista al-
Shabaab está caçando os cristãos, e recebemos relatórios de menos 11 assassinatos.
Outros foram raptados, presos ou agredidos.

A Constituição provisória provê liberdade religiosa, mas na prática, esse direito é pouco
respeitado, porque a Constituição também estabelece o islamismo como a religião
nacional, e afirma que as leis não podem contradizer o islamismo.

A maioria dos cristãos vive no sul da Somália. Eles estão em pequeno número, são
severamente perseguidos e praticam sua fé em segredo, em condições extremamente
perigosas. Outros cristãos somalis vivem como refugiados em países vizinhos.

5. Maldivas
No arquipélago das Maldivas, o islamismo é a religião oficial e todos os cidadãos
devem ser muçulmanos. A perseguição aos cristãos nas Maldivas é sistemática: a
legislação proíbe a prática de qualquer religião exceto o islamismo; o governo
considera-se o protetor e defensor da religião; as igrejas são proibidas; a importação de
materiais cristãos é proibida; a discriminação de não-muçulmanos é total; o controle
social é enorme e os maldívios concordam com a suspensão de qualquer religião que
não seja o islamismo.

No país – um dos menos evangelizados do planeta – há apenas um punhado de cristãos


maldívios, que praticam a sua fé particularmente, temendo ser descoberto.

Não há registro de ex-muçulmanos mortos por apostasia nas Maldivas.

Não houve melhora na liberdade religiosa no país durante o período coberto pela
pesquisa. Houve dois relatórios sobre estrangeiros cristãos que foram deportados depois
se encontrou materiais cristãos em sua bagagem.

6. Afeganistão

Ser cristão no Afeganistão ainda é difícil, em particular porque a Constituição é baseada


em princípios Islâmicos. Além disso, o islamismo é a religião estatal e as leis não
podem contradizer essas crenças religiosas.

O amo de 2009 foi duro para a Igreja, uma vez que o islamismo aumentou sua
influência com a expansão do Talebã em muitas províncias. O Talebã ameaçou
imigrantes, agentes sociais cristãos e a igreja local.

A pressão da família e da sociedade é ainda imensa. Quem não esconde sua conversão
ao cristianismo é ameaçado até de morte pelos parentes. As ameaças têm o objetivo de
trazer angústia, medo e de forçá-los a renunciar a nova fé. Em alguns casos, os novos
recém-convertidos são hostilizados e há casos de sequestro. Além disso, eles enfrentam
discriminação na escola, no trabalho e nos serviços públicos. Consequentemente, muitos
preferem não expressar publicamente sua fé em Cristo, nem se sentem seguros para se
reunir com outros irmãos.

As informações que recolhemos não indicaram assassinatos religiosos. Apesar de toda a


dificuldade, a Igreja está crescendo no Afeganistão.

7. Iêmen

O Iêmen continua na sétima posição, mas o total de pontos aumentou. Em 9 de junho


passado, agentes de saúde cristãos estrangeiros foram raptados por homens armados.
Depois de alguns dias, os corpos de três deles foram encontrados, horrivelmente
mutilados. O destino dos outros seis ainda permanece desconhecido. Durante o período
coberto pela reportagem, houve um aumento na apreensão de materiais cristãos.

A Constituição iemenita garante liberdade religiosa, mas também declara que o


islamismo é a religião estatal e que a sharia é a fonte de toda a legislação. O governo
permite que imigrantes pratiquem sua fé, mas os cidadãos iemenitas não podem se
converter a qualquer religião. Ex-muçulmanos podem sofrer pena de morte se forem
descobertos.

Pregar a muçulmanos é proibido. Os que se convertem encontram a oposição das


autoridades e também de grupos extremistas, que ameaçam os “apóstatas" de morte, se
não se retratarem.

8. Mauritânia

A situação na Mauritânia deteriorou-se gravemente em 2009 devido ao assassinato de


um agente social cristão em junho de 2009; à prisão e de 35 cristãos mauritanos no
mesmo mês; e a detenção de um grupo de 150 cristãos subsaarianos em agosto, por
realizar seu próprio culto (essas reuniões só são permitidas a algumas igrejas católicas e
protestantes).

A autoria do assassinato foi reclamado pela al-Qaeda no Magreb, um grupo terrorista da


origem argelina ligado à al-Qaeda. A polícia, entretanto, foi responsável pela detenção e
tortura dos cristãos mauritanos e subsaarianos.

A Constituição do país o define como república islâmica e reconhece o islamismo como


a religião dos cidadãos e do Estado. O governo limita a liberdade de religião proibindo a
impressão e distribuição de materiais religiosos não-islâmicos e a evangelização de
muçulmanos.

9. Laos

A igreja é relativamente pequena, mas continua a crescer. Há cerca de 200 mil cristãos,
a maior parte pertence a minorias étnicas.

Não houve melhora na liberdade religiosa do país em 2009.

A perseguição no Laos inclui algumas restrições na legislação. A atitude do governo é


negativa e restritiva em relação aos cristãos – todos são estritamente vigiados por serem
considerados agentes dos EUA para trazer a democracia ao Laos. A Igreja não pode
funcionar livremente e suas atividades sociais são limitadas. Os cristãos são diminuídos
na família e na aldeia. A pessoa que renuncia o culto a espíritos sofre grande pressão
social.

Algumas vezes, os cristãos são detidos, e muitos experimentam abuso físico e


emocional para renunciar a nova fé. Em 2009, dois cristãos foram mortos; outros 21
foram detidos sem julgamento.

Cristãos têm sido fisicamente agredidos regularmente, e um pequeno número de igrejas


foi destruído ou danificado. Apesar do alto nível de perseguição no Laos, há muitas
atividades não-registradas e a Igreja parece crescer.

10. Uzbequistão

A liberdade religiosa no Uzbequistão deteriorou-se durante o ano passado. A atmosfera


ficou mais anti-protestante. Isso ficou evidente no aumento de invasões a cultos cristãos
e no confisco de livros. Muitos cristãos foram presos e multados, líderes foram
interrogados e sofreram abuso físico e mental em delegacias.

Parentes de cristãos usam o abuso físico para pressioná-los a se converter ao islamismo.

Outro sinal de mudança é o fato de as autoridades usarem os meios de comunicação


para difamar os cristãos. Foi exibido um documentário na televisão, originalmente
transmitido no maio de 2008, denominado “Nas garras da ignorância”. No filme, os
cristãos são retratados de modo negativo, identificados com seitas e descritos como
satanistas. Cristãos ativos na igreja foram acusados de drogar e dinheiro para atrair
pessoas ao cristianismo. O programa também afirmou que a “seita protestante” tenta
atrair crianças.

O documentário foi reprisado várias vezes, mais recentemente em setembro de 2009, e


já foi lançado em DVD. O impacto foi intimidador, resultando em sentimentos anti-
cristãos.

Apesar da perseguição, a Igreja no Uzbequistão continua a crescer. Muitos cristãos


procuram formas de pregar o evangelho. Eles enfrentam muitos obstáculos – por
exemplo, a pregação e o louvor na língua uzbeque são proibidos, e as comunidades não
podem obter o registro. Sem ele, as reuniões são ilegais.

 Missões - Resultado de Avivamento

Por Jairo de Oliveira - 25/9/2009

Que coragem! Enfrentar em sua geração (1792) um grupo de pastores que nem sequer
reconhecia a relevância da Grande Comissão não foi tarefa fácil. Contudo, William
Carey, considerado o Pai das Missões Modernas, não se intimidou e encarou a batalha.
Sua paixão pelo Cordeiro e sua ousadia em defesa da pregação do evangelho o
conduziram em tamanho confronto. Certamente não lhe faltaram argumentos, sua
resposta à questão não se limitou a uma carta ou a um sermão. Ele escreveu um livro(1)
de desafio missionário que não somente respondeu aos pastores, mas produziu grande
impacto em sua época, dando início ao que nós conhecemos hoje como movimento
moderno de missões.

Um dos aspectos que nos surpreende na experiência de Carey é que ele não começou
defendendo a causa da Grande Comissão diante da liderança de um governo, de uma
classe social ou de um grupo étnico, mas da liderança de uma igreja. Não parece
paradoxal alguém enfrentar um grupo de pastores a fim de convencê-los de que o
evangelho deve ser anunciado aos perdidos? Não é a Bíblia um livro missionário? Não é
a igreja uma agência do reino de Deus para o mundo?

De qualquer forma, a verdade é que um dos momentos mais marcantes do movimento


moderno de missões aconteceu a partir de um confronto com uma liderança eclesiástica.
Esse fato aponta para a evidência de que, em diversos momentos da história, convencer
a Igreja de sua responsabilidade missionária tem sido um desafio maior do que
convencer os povos de sua necessidade do evangelho. Na verdade, o problema é antigo.
Mesmo na experiência dos apóstolos, observamos que enquanto o centurião Cornélio
estava pronto para obedecer à visão celestial e receber o evangelho: "Agora pois
estamos todos aqui presentes diante de Deus, para ouvir tudo quanto te foi ordenado
pelo Senhor" (At. 10.33), a igreja primitiva ainda disputava se o evangelho deveria ou
não ser anunciado aos gentios: "Ora, ouviram os apóstolos e os irmãos que estavam na
Judéia que também os gentios haviam recebido a palavra de Deus. E quando Pedro
subiu a Jerusalém, disputavam com ele os que eram da circuncisão" (At 11.1,2).

O que é mais intrigante é que se a natureza da Igreja é uma natureza missionária, parece
não fazer sentido que se tenha que se conscientizar a Igreja de sua responsabilidade de
pregar o evangelho aos perdidos. Diante desse contra-ponto somos conduzidos a outras
interrogações: o que faz a igreja se demonstrar indiferente diante da ordem divina para
fazer discípulos de Cristo em todas as nações? O que será que impede a igreja de se
envolver na tarefa da evangelização mundial?

Certamente não é tarefa fácil tentar responder a todos esses questionamentos. Todavia,
há mais de cem anos, Andrew Murray, ao descrever a falta de envolvimento da igreja
com o trabalho missionário, parece sintetizar o problema apontando para uma única
resposta. No livro A Chave Para o Problema Missionário ele defende que a razão central
porque os cristãos não se envolvem com a causa missionária é a falta de avivamento. Na
concepção dele, se não há comprometimento com Deus, o resultado é falta de
comprometimento com missões: "O entusiasmo pelo reino de Deus está faltando. E isto
é porque há tão pouco entusiasmo pelo Rei". No prefácio do mesmo livro, o pastor
Edson Queiroz reforça a idéia apresentada por Murray e ao comentar sobre a vida
espiritual de uma igreja ele observa: "Se tem vida, tem missões!" Considerando ainda o
assunto, o pastor John Piper defende também que onde quer que a paixão por Deus seja
fraca o zelo por missões terá a mesma intensidade e vice e versa.

Desta maneira, o cerne do problema quanto à obediência da Igreja em relação à Grande


Comissão não é outro senão de ordem espiritual. Isso nos garante que a tarefa de
proclamação do evangelho aos povos não-alcançados somente se tornará uma realidade
na vida da igreja, se ela for alvo constante do avivamento divino. Afinal, se não houver
paixão pelo Cordeiro, como haverá paixão pela causa do evangelho?

Não restam dúvidas de que Deus é um Deus missionário, de que a Bíblia é um livro
missionário e de que a igreja é a agência do reino de Deus para as nações. Entretanto, ao
encarar os desafios missionários que Deus tem confiado à nossa geração precisamos
rogar ao Pai que Ele nos limpe com a Sua Palavra, que nos preencha com Seu Espírito,
que nos sustente com a Sua graça e que nos use entre as nações para a glória do Seu
nome.

"Aviva, ó Senhor, a tua obra no meio dos anos; fazei que ela seja conhecida no
meio dos anos" (Hb. 3.2).

Missões e Sofrimento
 

Zane Pratt

Zane Pratt é o decano da Escola de Missões e Evangelismo Billy Graham e professor


associado de missões cristãs. Pratt serviu como plantador de igreja e pastor nos EUA,
além de ter servido como capelão no Exército antes da nomeação para o serviço no
exterior em 1991. Ele viveu e trabalhou na Ásia Central até 2011, os últimos 10 anos em
que tinha responsabilidades de liderança regional. Zane já escreveu vários artigos sobre
teologia de missões.

Introdução

Somos de uma cultura de direitos. Os ocidentais, em geral, e os americanos, em


específico, são criados para acreditar que seus direitos são invioláveis e que a vida lhes
deve algo. Os nossos direitos perceptíveis vão muito além dos direitos básicos de
liberdade de religião, de expressão e de reunião. Afinal de contas, a Declaração de
Independência Americana diz que todos têm o direito inalienável de buscar a felicidade;
e isso é facilmente traduzido, na mente das pessoas, como direito à própria felicidade.
Na cultura ocidental, confronto, conveniência e segurança se tornaram a experiência de
vida normal para a vasta maioria das pessoas. Em tal ambiente, não é surpresa que estas
coisas tenham chegado a ser consideradas como direitos inegociáveis. Além disso,
numa cultura materialista adversa ao conceito de transcendência, valores como conforto,
conveniência e segurança parecem ser cruciais para a maioria das pessoas. Esses valores
sobrepujam tudo mais. Qualquer coisa que ameaça ou perturba a experiência destas
coisas é vista automaticamente como má.

Essa maneira de pensar penetrou na igreja cristã. Os evangélicos ocidentais cantam


sobre amar a Jesus mais do que sobre qualquer outro assunto ou outra coisa. Todavia, o
compromisso deles permanece frequentemente dentro do contexto de expectativas
determinadas culturalmente. Como ocidentais, eles consideram inconscientemente,
como muitos outros, segurança e conforto como seus valores mais importantes; por isso,
eles constroem seu entendimento da vida de discipulado dentro desses parâmetros. A
supremacia destes interesses parece tão autoevidente que nem mesmo ocorre a alguém
examiná-los. Os evangélicos ocidentais simplesmente não pensam na possibilidade de
que Deus exija deles algo que seja desconfortável ou inseguro, além do, talvez,
desconforto brando de compartilharem o evangelho com alguém que se ofende no
decorrer do processo.

Quando um evangelho centrado no homem é pregado, esta tendência se torna ainda


mais visível. Quando pessoas ouvem que o alvo da salvação é satisfazer suas
necessidades ou seus desejos por realização (ou mesmo dar-lhes uma "vida abundante"
mal definida como "sua melhor vida agora"), não faz sentido alguém pensar que seguir
a Jesus pode envolver sofrimento e perda. No entanto, mesmo em igrejas que mantêm
um teocentrismo bíblico, esta aversão inconsciente ainda se mantém real. O sofrimento
como uma parte normal da vida e um componente normal de seguir a Cristo não integra
a agenda mental da maioria dos cristãos ocidentais. Quando os crentes seguem um
caminho de obediência que envolve desconforto, eles são considerados heróis da fé
incomuns. Quando esse caminho de obediência os coloca em um risco físico sério, são
frequentemente tachados de fanáticos e considerados como potencialmente confusos.
Mesmo no avanço da Grande Comissão, muitas igrejas e cristãos do Ocidente valorizam
inconscientemente o dinheiro mais do que a obediência e supõem que Deus nunca
pediria aos seus que arrisquem sua vida por amor à sua obra. Sofrer é visto como
anormal, incomum e mau.
Nisto, assim como em muitas coisas, a experiência cultural do Ocidente está em
desarmonia com a maior parte do mundo no decorrer da maior parte da História. A
maior parte da raça humana não tem tido outra escolha, senão a de suportar sofrimento
como uma ocorrência comum da vida. Sem os grandes escudos protetores que o
Ocidente desfruta (tecnologia, medicina, sistemas de distribuição global de alimentos,
paz interna e o governo da lei), a maior parte da raça humana tem vivido com a ameaça
de doenças, fome, desastres naturais e violência humana, como uma condição normal.
Até no Ocidente, embora o sofrimento seja restringido e ocultado, ele não pode ser
eliminado verdadeiramente. Crimes ainda acontecem. Desastres naturais destroem
comunidades inteiras, e crises econômicas aniquilam anos de economias numa noite.
Podemos ter os melhores cuidados médicos do mundo, mas as pessoas ainda ficam
doentes, e todos, por fim, morrem - às vezes, de maneira lenta e dolorosa. A diferença é
que as pessoas do Ocidente se ofendem com o sofrimento, como se seus direitos fossem
de algum modo violados por sua mera existência. O resto do mundo sabe que sofrer é
apenas uma parte da vida.

É muito estranho que os cristãos ocidentais tenham essa visão reduzida do sofrimento.
O sofrimento é um dos grandes temas da Bíblia. O fato de que os cristãos ocidentais não
observam isso (ou supõem inconscientemente que o sofrimento não se aplica a eles) é
um exemplo clássico de suposições culturais que afetam a interpretação da Escritura.
Quer o observem, quer não, a Bíblia fala muito sobre sofrimento. Prestar atenção
especial a coisas que aparecem proeminentemente na Palavra de Deus é um princípio
correto de interpretação da Escritura. O evangelicalismo ocidental precisa
desesperadamente recapturar uma teologia bíblica do sofrimento. Sem ela, faremos de
nosso conforto e segurança um ídolo e marginalizaremos a nós mesmos no serviço da
Grande Comissão.

A Bíblia fala sobre o sofrimento em várias categorias. O sofrimento existe em todos os


lugares e sobrevém a todas as pessoas apenas porque este mundo é um mundo caído. Às
vezes, o sofrimento acontece como consequência de mau comportamento, embora a
Bíblia nos alerte contra o fazermos julgamento imediato nesses casos. O sofrimento é
prometido especialmente àqueles que seguem a Jesus em um mundo que está em
rebelião contra ele. E, de maneira mais intensa, o sofrimento está ligado à obra do
avanço do evangelho. Em vez de considerar o sofrimento como totalmente mau, a
Bíblia destaca benefícios e bênçãos que fluem do sofrimento. Por fim, a Bíblia dá
instrução clara sobre como os crentes devem reagir quando o sofrimento lhes sobrevêm
na sábia providência de Deus.

Sofrendo em um mundo caído

Vivemos num mundo bagunçado. A causa desta bagunça é a nossa rebelião contra
Deus. Quando ele criou o mundo, ele viu que tudo era bom, e tudo permaneceu bom até
que a raça humana parou de confiar em Deus e lhe desobedeceu. A queda de Adão e
Eva no pecado introduziu alguma forma de sofrimento em cada área da vida.
Imediatamente, o relacionamento conjugal deles foi corrompido, Adão procurou culpar
Eva por seu próprio pecado, e o filho mais velho deles assassinou seu irmão mais novo.
A primeira família foi também a primeira família disfuncional! Os poucos capítulos
seguintes de Gênesis mostram a espiral descendente e rápida da depravação humana,
chegando até ao ponto em que Gênesis 6.5 nos dá esta triste acusação: "Viu o Senhor
que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau
todo desígnio do seu coração". Como resultado da rebelião do homem, os
relacionamentos dos seres humanos estão confusos. E os resultados incluem tudo, desde
amizades destruídas e casamentos rompidos a assassinato e opressão. Toda pessoa que
vive neste mundo caído está sujeita ao sofrimento apenas por causa da propensão inata
das pessoas para ferirem umas às outras.

A queda afetou muito mais do que apenas os relacionamentos humanos. Ela corrompeu
toda a ordem criada. Em Gênesis 3, Deus disse a Eva que sua dor no parto aumentaria
grandemente e disse a Adão que sua sobrevivência dependeria de labor doloroso. Em
Romanos 8, Paulo explicou que toda a criação está "sujeita à vaidade", em "cativeiro da
corrupção" e, "a um só tempo, geme e suporta angústias até agora" (Rm 8.18-22). Como
resultado de nossa rebelião, este mundo se tornou um lugar de desastres naturais, e
nossa vida é caracterizada por doença e morte. Terremotos, furacões, tornados, secas,
inundações, fomes, deslizamentos de terra, câncer, doenças de coração e coisas
semelhantes, tudo resulta do fato de que este é um mundo caído. Essas coisas atingem
tanto o povo de Deus como aqueles que desafiam a Deus. Em sua Palavra, Deus nunca
promete que seu povo será isento de qualquer destas características dolorosas de um
mundo caído. Neste mundo bagunçado pelo pecado humano, coisas más acontecem a
todas as pessoas.

Devido à gravidade do pecado, é admirável que as coisas não sejam piores. Nas
operações da graça comum, Deus ainda provê bênçãos para os justos e, também, para os
injustos. E o Espírito de Deus restringe o mal, para que as coisas não sejam tão más
como poderiam ser. Em seu cuidado providencial, Deus protege, muitas vezes, o seu
povo de desastres que poderiam ter acontecido. Todo crente tem um testemunho de
maneiras pelas quais Deus o protegeu de dano potencial, e, muito provavelmente, no
céu descobriremos inúmeras outras ocasiões em que Deus nos protegeu, quando nem
mesmo percebemos. No entanto, ele nunca promete que sempre nos protegerá e não está
sob qualquer obrigação de fazer isso. O sofrimento acontece apenas porque este é um
mundo caído. Algumas pessoas experimentam menos sofrimento por causa do lugar em
que vivem, e parte desta diferença pode ser atribuível ao impacto da Palavra de Deus na
cultura, através do tempo. Todavia, cada pessoa está sujeita à possibilidade de desastres
naturais ou crimes. Cada pessoa pode ter câncer ou doença de coração; por fim, cada
pessoa morre. Estas formas de sofrimento vêm apenas porque o mundo é caído, e os
sofrimentos não discriminam entre crentes e não crentes.

Sofrimento por fazermos o mal

O sofrimento vem, às vezes, como resultado de fazermos o mal. Algumas coisas são
apenas as consequências naturais de desconsiderarmos as orientações dadas por Deus.
Alcoolismo, abuso de drogas e glutonaria causam seu próprio dano natural na raça
humana. Quando alguém comete um crime e é apanhado, sua punição subsequente vem
como uma consequência legal do procedimento errado. Também é verdade que em
certas passagens da Escritura (como as maldições pronunciadas em Deuteronômio 28),
sofrimento e desastre são ligados diretamente, por Deus, à desobediência aos seus
mandamentos. No entanto, a Escritura nos adverte contra estabelecermos muito
rapidamente uma conexão entre o pecado de uma pessoa e o seu sofrimento. O livro de
Jó, em específico, anula esta conexão. Os amigos de Jó estavam convencidos de que as
tribulações de Jó eram, de algum modo, resultado de algum pecado que ele cometera. Jó
protestou em sentido contrário, e, no final, Deus afirmou que Jó, e não os seus amigos,
falara corretamente sobre este assunto. Jesus rejeitou a noção de que um homem nascido
cego estava sendo punido por algum pecado dele mesmo ou de seus pais (Jo 9.1-3). E,
quando lhe perguntaram sobre dois grupos de pessoas que haviam morrido - um grupo,
por causa de opressão política, e outro, por causa da uma torre que caíra sobre eles -,
Jesus insistiu em que eles não eram pecadores piores do que os outros que haviam
escapado desses infortúnios. A coisa mais segura que podemos dizer é que fazer o mal
não tem frequentemente as suas próprias consequências naturais, e Deus pode usar o
sofrimento como uma chamada de despertamento para pessoas que estão seguindo o
caminho errado; mas devemos dizer que raramente é sábio supor que, se uma pessoa
está sofrendo, ela está sofrendo por causa de algum pecado específico que cometeu.

Sofrendo como cristão

Neste assunto, o pensamento da Escritura é diretamente contrário às expectativas


culturais do evangelicalismo ocidental irrefletido. O Novo Testamento tanto pressupõe
como afirma que o sofrimento é normal, é uma parte expectável do que significa seguir
a Cristo. Em face do que a Bíblia diz sobre a condição caída do mundo, isto não deve
ser uma surpresa para o crente. Em Jesus, Deus se tornou homem e viveu entre nós, e o
mundo reagiu assassinando-o. Em vez de buscar a Deus, a humanidade caída o odeia e
está tentando escapar dele. Se uma pessoa fala a pecadores rebeldes sobre o Deus
verdadeiro ou expõe a autojustiça deles como a fraude que ela é, tal pessoa incorre no
mesmo ódio que caiu sobre Jesus. Ele deixou clara a conexão: "Lembrai-vos da palavra
que eu vos disse: não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim,
também perseguirão a vós outros; se guardaram a minha palavra, também guardarão a
vossa" (Jo 15.20). Eles perseguiram a Jesus, logo, a conclusão deve ser óbvia. Em um
mundo corrompido pelo pecado, é realmente verdadeiro que nenhuma obra boa fique
sem punição. Paulo expressou isso quando disse: "Ora, todos quantos querem viver
piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos" (2 Tm 3.12). Sob a inspiração do
Espírito Santo, Paulo não disse "talvez sejam", ele disse: "Serão". Sofrer por amor a
Cristo é entendido como uma dádiva: "Porque vos foi concedida a graça de padecerdes
por Cristo e não somente de crerdes nele" (Fp 1.29). A palavra traduzida aqui por "foi
concedida" vem da família da  palavra charis, no grego, e poderia ser traduzida por "foi
presenteada". A Bíblia nos diz que os apóstolos se regozijaram por terem sido
considerados dignos de sofrer por causa do nome de Jesus (At 5.40-41). As igrejas em
Jerusalém (At 8.1), na Galácia (Gl 3.4), em Filipos (Fp 1.29), em Tessalônica (1 Ts
2.14) e na Ásia Menor (1 Pe 4.12), todas experimentaram sofrimento, tal como os
recipientes originais da Epístola aos Hebreus (Hb 10.32). Paulo atravessou sofrimento
horrível (2 Co 11.23-29), como também os outros apóstolos (At 5-8). Na Escritura
cristã, a chamada para seguir a Cristo é uma chamada para abandonar a tranquilidade, a
segurança e o conforto deste mundo, a fim de tomar a cruz. Isto não é uma descrição de
uma superfé extraordinária. É uma descrição bíblica da vida normal do cristão normal. 1

A comunhão no sofrimento de Cristo

No Novo Testamento, muitas das referências que falam sobre sofrimento dizem respeito
especialmente ao sofrimento de Jesus. Há um forte sentido em que estes sofrimentos são
exclusivos de Jesus. Somente ele poderia sofrer ou morrer pelos pecados do mundo.
Somente ele, Deus perfeito e homem perfeito, poderia sofrer em nosso lugar para pagar
a penalidade que merecíamos pagar. Nesse sentido, Jesus sofreu para que os crentes não
tivessem de passar por esse sofrimento. Porque ele suportou a ira de Deus contra a nossa
rebelião, aqueles que creem nele nunca terão de enfrentar essa ira. Nenhum crente
jamais sofreu para compensar qualquer de seus erros aos olhos de Deus. A morte
expiatória de Jesus é totalmente suficiente para pagar todos os pecados de todas as
pessoas que crerão nele, em todos os lugares, em todo o tempo. Nada pode ser
acrescentado a essa morte.

No entanto, a Escritura nos diz que aqueles que creem em Cristo estão agora, eles
mesmos, "em Cristo". Por meio da habitação do Espírito, os crentes possuem agora uma
união íntima com Jesus. Muitas bênçãos maravilhosas fluem para o povo de Deus por
meio desta união com o seu Salvador. Esta mesma união os une também com o contínuo
sofrimento dele no mundo, não como obra de expiação, e sim como a experiência de
oposição do mundo ao amor e à santidade dele. Parte do que significa estar "em Cristo"
é compartilhar da comunhão de seus sofrimentos. Paulo une o conhecer a Cristo e o
poder de sua ressurreição com o compartilhar de seus sofrimentos, como se estas duas
coisas fossem inseparáveis (Fp 3.10). Paulo disse aos cristãos de Corinto: "Porque,
assim como os sofrimentos de Cristo se manifestam em grande medida a nosso favor,
assim também a nossa consolação transborda por meio de Cristo" (2 Co 1.5). Pedro
ecoou este mesmo tema, ao dizer: "Alegrai-vos na medida em que sois coparticipantes
dos sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação de sua glória, vos alegreis
exultando" (1 Pe 4.13). Em Romanos 8.17, Paulo chegou ao ponto de dizer que os
crentes são "herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também
com ele seremos glorificados". Sofrer com Cristo é tão intimamente conectado com o
gozo final de sua glória, que as duas coisas não podem ser separadas. A menos que
Paulo tenha negado o que dissera em outra passagem, isto não pode significar que estes
sofrimentos são, de algum modo, salvadores. Mas isto parece demonstrar que sofrer
com Cristo é uma parte tão normal de estar em Cristo, que Paulo não podia conceber
uma coisa sem a outra.

Em Colossenses 1.24, Paulo disse: "Agora, me regozijo nos meus sofrimentos por vós; e
preencho o que resta das aflições de Cristo, na minha carne, a favor do seu corpo, que é
a igreja". É impressionante ouvirmos Paulo falar sobre algo que faltava nas aflições de
Cristo, até que compreendemos que a palavra que ele usou nesta passagem nunca é
usada a respeito do sofrimento expiatório de Jesus. Paulo não disse que estava
contribuindo para a obra salvadora de Cristo em morrer por nossos pecados. Antes, esta
aflição de Cristo é sua experiência, em união com seu corpo na terra, da aflição deles
como seu povo em um mundo hostil. Aparentemente, há uma plena medida dessa
aflição que será experimentada pelo povo de Deus antes do fim desta era; e Paulo viu
seu próprio sofrimento como algo que contribuía para essa medida. A intimidade da
união de Cristo com seu povo é tão profunda, que os sofrimentos deles são de Cristo, e
os sofrimentos de Cristo são deles.

Isto significa que cristãos confortáveis e prósperos do Ocidente devem sair por aí e
tentar provocar perseguição ou afligir intencionalmente a si mesmos com práticas
ascéticas? Não. O ascetismo é inútil como um instrumento de santificação (Cl 2.23), e
os crentes não são ordenados a buscarem perseguição. No entanto, a condição deles
deve alarmá-los. É perigosa e anormal. Eles precisam especialmente acautelar-se das
seduções da respeitabilidade e da prosperidade. Precisam acautelar-se da idolatria sutil
de fazerem de Jesus um meio para obterem seu próprio gozo desta vida. Precisam
acautelar-se do mundanismo de colocarem seu coração nas coisas deste mundo e
valorizarem possessões, saúde e segurança mais do que a glória de Cristo. Precisam
examinar a si mesmos com honestidade e verificar constantemente se o desejo de
manterem seu estilo de vida os seduziu a comprometer de alguma maneira a sua
obediência. Precisam cultivar a mentalidade de prontidão para perder qualquer coisa e
tudo, quase imediatamente, por causa do supremo valor de Cristo. Riqueza e segurança
são condições perigosas nas quais um discípulo de Jesus e aqueles que vivem nelas
precisam exercer cuidado especial. A condição normal de um seguidor de Cristo é
participar da comunhão dos sofrimentos dele, e os que não fazem isso precisam sempre
perguntar a si mesmos por que não o estão fazendo.

Sofrimento e o avanço do evangelho

Promover o avanço do evangelho é um empreendimento perigoso. Aqueles que levam a


luz de Cristo às trevas de um mundo rebelde parecem experimentar um nível
intensificado de sofrimento. Isto foi certamente uma experiência de Paulo. Bem no
começo da vida cristã de Paulo, quando Ananias lhe foi enviado em Damasco para
restaurar-lhe a visão, Deus ligou uma descrição de sua chamada missionária com estas
palavras: "Eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu nome" (At 9.16). Paulo
entendeu esta ligação e a expressou a Timóteo no final de sua vida, ao descrever o
evangelho e dizer sobre ele: "Para o qual eu fui designado pregador, apóstolo e mestre e,
por isso, estou sofrendo estas coisas" (2 Tm 1.11-12). Para que ninguém pense que esta
conexão entre sofrimento e serviço do evangelho era exclusiva dos apóstolos, Paulo
aplicou-a também a Timóteo, dizendo: "Participa dos meus sofrimentos como bom
soldado de Cristo Jesus" (2 Tm 2.3). Na verdade, esta conexão era tão íntima, que Paulo
usou a expressão "participa comigo dos sofrimentos, a favor do evangelho", onde o
contexto indica claramente que ele falava sobre participar da obra do evangelho (2 Tm
1.6-9).

Este padrão tem permanecido até ao presente. Aqueles que têm levado o evangelho a
lugares onde ele nunca foi ouvido antes têm sido, sempre, alvos especiais de oposição e
sofrimento. David Garrison, em seu livro Church Planting Movements (Movimentos de
Plantação de Igreja), lista o sofrimento de missionários como uma das principais
características na maioria dos lugares em que Deus tem agido de maneiras
extraordinárias. 2 Isto não deve surpreender-nos. O mundo, o Diabo e a nossa própria
carne se opõem, todos, à obra de Deus. Aqueles que levam o evangelho a lugares em
que Cristo ainda não é conhecido têm de fazer isso com seus olhos abertos para o que
possa vir adiante. Além disso, a igreja no Ocidente tem de abraçar a verdade de que o
evangelho é digno de qualquer preço que Deus pede que paguemos e tem de abandonar
sua aversão instintiva ao desconforto e ao perigo. A Grande Comissão não será
cumprida sem sofrimento. 3 Se uma parte do corpo de Cristo demonstra que não está
disposta a pagar qualquer tipo de preço, Deus os deixará de lado e usará aqueles cujos
valores estão mais em harmonia com os valores dele.

Cosmovisão Bíblica e Sofrimento

Até aqui esta discussão têm sido um tanto sombria. Tudo isto significa que o
cristianismo bíblico é algum tipo de ascetismo melancólico? De modo nenhum! Como
disse C. S. Lewis, Deus é um hedonista no coração. 4 Há prazeres eternos à sua mão
direita (Sl 16.11). A vida cristã é uma questão de "alegria indizível e cheia de glória" (1
Pe 1.8). Mesmo quando fala sobre os sofrimentos de Jesus, a Bíblia nos diz que ele
suportou a cruz "em troca da alegria que lhe estava proposta" (Hb 12.2). O cristianismo
bíblico não valoriza o sofrimento por si mesmo. A atitude cristã para com o sofrimento
é uma questão de sistema de valores transformado. Por causa do verdadeiro tesouro, o
crente está disposto a renunciar as coisas menores, como possessões, conforto temporal
e segurança ou até a esta vida. A realidade não é o que você perde. A realidade é o
sobrepujante valor do que você ganha.

Paulo resumiu sua perspectiva em sua carta aos cristãos de Filipos. No contexto em que
Paulo falou sobre a possibilidade de ser executado por causa de sua fé, ele disse: "Para
mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro" (Fp 1.21). Seu maior tesouro nesta vida era
conhecer Cristo. O benefício ganho na morte era o estar com Cristo, o que Paulo
considerou melhor do que qualquer coisa que esta vida poderia oferecer (Fp 1.23). Em
qualquer circunstância, Cristo é tudo. Ele é o tesouro escondido no campo que é digno
de vendermos tudo para obtê-lo (Mt 13.44). Ele mesmo é a coisa mais preciosa que já
existiu nesta terra. É a verdadeira vida, a verdadeira alegria, a verdadeira paz, a
verdadeira satisfação. Em Cristo, o crente tem perdão do pecado, novo nascimento,
reconciliação com Deus, adoção na família de Deus, o dom do Espírito Santo,
transformação progressiva na imagem de Cristo e a garantia da vida eterna na alegria e
glória infinitas da presença de Deus.  Este é o verdadeiro tesouro, é um tesouro que não
pode ser perdido. Todas as coisas que o mundo valoriza - possessões, conforto, saúde e
a própria vida - são coisas que todos, por fim, perderão. Que pessoa racional se apega,
enquanto pode, a coisas que por fim perderá, às expensas de coisas de muito maior valor
que ela nunca perderá? Vista da perspectiva de Deus, a pessoa verdadeiramente sensata
é aquela que suporta quaisquer perdas temporais que acompanham o tesouro genuíno e
eterno. Quando os crentes assimilam o incrível valor de Cristo e de seu evangelho e o
valor comparativamente menor e passageiro das coisas boas desta vida, podem ver com
os mesmos olhos de Paulo, o qual, depois de tudo por que passou, escreveu: "A nossa
leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda
comparação, não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem;
porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas" (2 Co 4.17-18).

Evidentemente, o problema é que as coisas que podemos ver são imediatas e sedutoras,
enquanto as que não podemos ver só podem ser assimiladas pela fé. Aqueles que têm
muitas coisas boas que podem ver aqui têm frequentemente mais dificuldade para
assimilar o valor superior das coisas que não podem ver. A maioria das pessoas prefere
ter seu bolo e, também, comê-lo. Preferem gozar as coisas boas desta vida e as coisas
melhores da vida por vir. Contudo, em sua sabedoria, Deus sabe que não podemos
servir a dois senhores (Mt 6.24). Ele não chama seus filhos a renunciarem todas as
possessões e prazeres, assim como não nos ordena buscar o sofrimento por si mesmo.
Tudo que ele criou é bom, incluindo possessões e prazeres usados corretamente. Deus
chama os seus filhos a valorizarem aquilo que é infinita e eternamente valioso, acima
daquilo que é menos importante e temporal. Deus os chama a investir sua vida nas
coisas da vida por vir. Ele os chama a reconhecer que não pertencem a si mesmos, mas
vivem somente pela graça e para a glória dele. Quando essa perspectiva é atingida, a
chamada para suportar sofrimento por causa do evangelho deixa de ser notícias
sombrias e se torna uma parte razoável de nossa chamada jubilosa em Cristo.

Os cristãos que têm assimilado a mentalidade da cosmovisão bíblica aceitam o sofrer


por Cristo porque ele é intrinsecamente digno disso. Eles acharam em Cristo o maior
tesouro do mundo, e em comparação com ele todas as atrações e confortos do mundo
parecem esterco coberto de ouropel. Como Paulo, eles podem dizer com honestidade:
"Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento
de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero
como refugo, para ganhar a Cristo" (Fp 3.8). As coisas deste mundo não são dignas de
nosso sofrimento, mas Jesus é.

Benefícios do sofrimento

Vale a pena sofrer por Jesus porque ele é muito maior do que qualquer coisa que
percamos em segui-lo. Além disso, há certos benefícios que vêm ao crente por meio do
sofrimento. Um desses benefícios é que o sofrimento testa e demonstra se a fé é genuína
ou não. Em sua parábola dos quatro solos, Jesus falou sobre aqueles que fazem uma
aceitação superficial do evangelho, mas não aprofundam suas raízes. Quando a
perseguição ou as dificuldades vêm, eles voltam atrás rapidamente, mostrando que sua
fé nunca fora genuína (Mt 13.20-21). Por outro lado, falando aos crentes que haviam
suportado sofrimento, Pedro disse: "Nisso exultais, embora, no presente, por breve
tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações, para que, uma vez
confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo
apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo" (1 Pe
1.6-7).

Outro benefício do sofrimento é que ele é um aliado na luta contra o pecado. Em sua
primeira carta, Pedro também escreveu: "Ora, tendo Cristo sofrido na carne, armai-vos
também vós do mesmo pensamento; pois aquele que sofreu na carne deixou o pecado"
(1 Pe 4.1). O sofrimento não deve ser buscado, como o faziam os ascetas medievais, na
esperança de que a autopunição intencional possa purificar o pecado. Entretanto,
quando o sofrimento vem, ele é usado frequentemente por Deus para tornar Cristo mais
atraente e tornar o mundo menos atraente e, assim, ajudar-nos na luta por santidade.

O sofrimento ajuda a moldar o caráter do crente na imagem de Jesus. Em uma passagem


famosa, Paulo escreveu: "E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias
tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança,
experiência; e a experiência, esperança" (Rm 5.3-4). Assim como o treinamento
rigoroso molda o corpo de um atleta e o torna preparado para o esporte, assim também o
sofrimento molda o caráter de um cristão e o torna preparado para o serviço do reino.

Por último, o sofrimento provê uma oportunidade para o crente experimentar o poder de
Deus. Paulo mostrou ter compreendido isso, quando disse: "Pelo que sinto prazer nas
fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de
Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte" (2 Co 12.10). A força de Deus
é supremamente maior do que a nossa, porém experimentaremos mais provavelmente
essa força quando chegarmos ao fim de nossos próprios recursos e descansarmos
somente nele.

Reagindo ao sofrimento

Como um cristão deve reagir quando o sofrimento lhe sobrevém? Primeiramente, não
devemos ficar surpresos. "Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de
vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse
acontecendo" (1 Pe 4.12). A cultura ocidental pode instilar a expectativa de que a vida
deve ser fácil, mas a Bíblia indica claramente o contrário, especialmente para os
cristãos. Não devemos ser surpreendidos nem confundidos pelo sofrimento. Deus nos
instruiu que devemos esperá-lo.

Em segundo, devemos suportar pacientemente qualquer sofrimento que nos sobrevenha,


sem comprometermos nossa integridade em Cristo. O Novo Testamento ressoa este
tema repetidas vezes. Eis dois exemplos. Paulo disse a Timóteo: "Tu, porém, sê sóbrio
em todas as coisas, suporta as aflições, faze o trabalho de um evangelista, cumpre
cabalmente o teu ministério" (2 Tm 4.5). Pedro afirmou: "Porque isto é grato, que
alguém suporte tristezas, sofrendo injustamente, por motivo de sua consciência para
com Deus" (1 Pe 2.19). A nossa tentação carnal é fazer quaisquer comprometimentos
que forem necessários para banir nosso sofrimento. Deus nos chama a suportar com
paciência.

Em terceiro, devemos amar aqueles que nos perseguem e orar por seu bem-estar (Mt
5.43-47). Não devemos tomar vingança daqueles que erram contra nós (Rm 12.14, 17,
19-21). Tanto a nossa carne quanto o mundo ao nosso redor nos instigam a que
vindiquemos a nós mesmos, mas devemos reagir aos instrumentos humanos de nosso
sofrimento como Jesus reagiu, amando até as pessoas que o mataram.

Em quarto, devemos crer em Deus em meio ao nosso sofrimento e reagir por fazermos o
bem proativamente. "Os que sofrem segundo a vontade de Deus encomendem a sua
alma ao fiel Criador, na prática do bem" (1 Pe 4.19). A consequência de nosso
sofrimento está nas mãos de Deus, e podemos confiar nele quanto a essa consequência.
Deus pode nos libertar por levar-nos ao lar para ficarmos com ele, mas ele nunca nos
deixará, nem nos abandonará. Nada pode tirar-nos de suas mãos ou separar-nos de seu
amor. Nosso dever é pagar o mal com o bem. Devemos deixar as consequências com
Deus e ser proativos em fazer a obra de seu reino em face de qualquer coisa que nos
sobrevenha. Precisamos guardar-nos da tentação real de entrarmos no modo de
sobrevivência e, em vez disso, permanecermos ativos na propagação de sua glória.

Devemos usar nossas experiências de sofrimento para confortar os outros que sofrem.
Paulo abordou isto com alguma amplitude em 2 Coríntios 1. Em vez de tornar-nos
apáticos ou insensíveis, o sofrimento deve nos tornar compassivos para com os outros
em suas aflições.

Devemos fixar nossos olhos em Jesus (Hb 12.1-3). Esta talvez seja a reação mais
essencial de todas. Nossa carne sempre recuará do sofrimento. O mundo sempre nos
dirá que somos loucos por nos colocarmos no sofrimento, em primeiro lugar. Somente
por mantermos uma perspectiva bíblica sobre o supremo valor de Jesus, seremos
capazes de suportar com paciência o sofrimento, enquanto abençoamos nossos
perseguidores, confortamos outros que sofrem e continuamos ativamente na obra do
reino de Deus. Isto exige dedicação em oração e no estudo da Palavra de Deus. Também
exige encorajar e desafiar outros no corpo de Cristo, a menos que estejamos
involuntariamente separados dos outros crentes. Somente em Cristo o sofrimento pode
não somente ser suportado, mas também transformado em algo que glorifica a Deus e
nos faz bem.

Por fim, somos até ordenados a regozijar-nos. Pedro disse: "Alegrai-vos na medida em
que sois coparticipantes dos sofrimentos de Cristo" (1 Pe 4.13). Isto parece insensato
para o mundo, mas foi a reação espontânea dos apóstolos, que se regozijaram por
haverem sido considerados dignos de sofrer por causa de Cristo (At 5.41). Regozijo
como este só pode surgir pelo poder do Espírito Santo, em mentes que compreenderam
plenamente o valor supremo de Cristo, em vidas que têm seus olhos fixados
habitualmente em Cristo. Somente nele, faz sentido regozijar-nos em meio ao
sofrimento.

Conclusão

Um artigo como este é difícil de ser escrito. Se eu dei a impressão de que já fiz tudo que
recomendei aos outros neste artigo, esta é realmente uma impressão errada. Comparado
com meus irmãos e irmãs na igreja perseguida, eu não sofri ainda. Ainda acho
intimidante a perspectiva do sofrimento e da perseguição. No entanto, com base na
leitura da Palavra de Deus e com base em conversas com outros irmãos que suportaram
muito mais por causa do reino de Deus, aprendi uma coisa. Deus nos dá graça quando
ela é necessária. "Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a
fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna"
(Hb 4.16). Ele não a dá necessariamente antes do tempo. Deus não me dá graça agora
para que eu precise enfrentar algo que pode ou não acontecer-me no futuro. Todavia, no
momento de necessidade, ele é sempre fiel. Nessa confiança, precisamos repudiar os
temores de nossa carne e as mentiras do mundo e suportar o sofrimento como bons
soldados de Jesus Cristo.

Bibliografia

1 - Quanto a uma leitura adicional sobre o sofrimento à luz do reino de Deus, ver John
Piper e Justin Taylor, eds., Suffering and the Sovereignty of God (Wheaton: Crossway,
2006).
2 - David Garrison, Church Planting Movements (Midlothian, VA: WIGTake
Resources, 2004), 235-38.
3 - Quanto a uma leitura adicional sobre o sofrimento e o avanço do evangelho, ver
John Piper, Let the Nations Be Glad: The Supremacy of God in Missions, 3rd ed.
(Grand Rapids: Baker, 2010), 93-131; e J. Dudley Woodberry, ed., From Seed to Fruit
(Pasadena: William Carey, 2008), especialmente o capítulo 24.
4 - C. S. Lewis, Screwtape Letters (San Francisco: HarperCollins, 2001), 118.

O leitor tem permissão para divulgar e distribuir esse texto, desde que não altere seu
formato, conteúdo e / ou tradução e que informe os créditos tanto de autoria, como de
tradução e copyright. Em caso de dúvidas, faça contato com a Editora Fiel.

Você também pode gostar