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Nem Neruda imaginaria o hidronegócio dos Rios Voadores da Amazônia

- Semana da Água de 15 a 22 de Março –

Quando privatizam até as nuvens...


Sol, água e vento já são campo para capitalistas sugarem desmedidos lucros. Agora um delírio real:
os rios voadores da Amazônia, o H20 perfeito, já vendido em garrafas que chegam a custar mais de
300 reais
Por Roberto Malvezzi (Gogó)

Tempos atrás, quando andei no Chile, numa das casas de Neruda, comprei uma de suas antologias
poéticas. Lendo aqueles poemas, de repente fiquei surpreso: já na década de 40 do século passado
ele pedia que o ar permanecesse livre. Tentei reencontrar a passagem na antologia e não consegui.
Hoje o Nordeste é tomado por torres eólicas e empresas privadas ganham fortuna com a
privatização do vento. O mesmo acontece com o sol, quando setores desse governo e empresas
privadas querem restringir a geração de energia solar como se o sol fosse sua propriedade privada.
Mas, o inimaginável, o avesso do avesso do avesso, acaba de acontecer. Uma empresa - Ô Amazon
Air Water -, decidiu engarrafar água dos rios voadores da Amazônia para vender como uma das
águas potáveis mais caras do mundo, cerca de R$ 323,00 a garrafa. Foram buscar o H2O em estado
perfeito, após a evaporação dos oceanos e a transpiração das árvores, antes que caia no chão, para
evitar contaminação e criar um fabuloso nicho de mercado de água engarrafada, com o selo de
qualidade amazônica. É o hidronegócio das nuvens. Nem Neruda, em toda sua vastidão e
profundidade poética, conseguiria imaginar essa possibilidade.
Nós, aqui no Nordeste, desenvolvemos a captação da água de chuva em cisternas, mas depois dela
cair sobre os telhados das casas. Também tem finalidade de saciar a sede dos que precisam de água,
ou como água de produção, não como produto mercantil. Portanto, uma dimensão socioambiental e
não como produto de mercado. Funciona.
A água de chuva, muito ao contrário do que muitos imaginam, se vier de uma atmosfera limpa, é a
água mais descontaminada do mundo. Alguém percebeu isso e foi criar esse nicho de mercado na
Amazônia, onde a atmosfera ainda é limpa, se não acabar toda contaminada por queimadas.
Pessoalmente, tiro o chapéu para a ganância capitalista. Sabem ver mercado onde nem um delirante
poeta imaginaria, nem mesmo Pablo Neruda.
Viva a terra, o ar, o sol e as águas livres!
OBS: No Brasil celebramos a Semana Mundial da Água de 15 a 22 de Março. O dia mundial da
água, firmado pela ONU, é 22 de Março.

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