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Prova América
Prova América
Centro de Humanidades
A obra de Dias Gomes é dividida por fases. Em um primeiro momento de sua carreira,
o autor marcou seus textos de um espírito cômico, momento no qual, a arte nacional, em
especial o teatro e o cinema, eram fortemente influenciados pelas produções europeias e
norte-americanas. Entre o final da década de 50 e início da década de 60, período que está
situada a escrita de o O pagador de Promessas (1959), a produção de Dias Gomes foi
marcada pelo espírito do que se convencionou chamar de realismo crítico. Durante esta
segunda fase, Gomes autorizou a adaptação de sua mais famosa peça para o cinema.
Além da “via crucis”, Zé do Burro prometeu à Santa que dividiria suas terras com os
camponeses pobres de sua localidade caso o burro Nicolau se curasse. A notícia da divisão se
espalhou pela imprensa soteropolitana, distorcendo-se e colocando o pobre homem como
defensor e praticante da reforma agrária. Diante destas passagens, pode-se identificar a clara
alusão às questões agrárias no país, em especial no Nordeste, que vira surgir naquele contexto
as lutas pela terra, à exemplo das Ligas Camponesas. Outro aspecto explicitamente criticado
no filme é a imprensa. Todo o lado obscuro da manipulação e da espetacularização são
realçados.
A dicotomia campo/cidade, como bem frisou Pinheiro, uma realidade problematizada
por Dias Gomes. A cidade se sobrepondo ao campo, este último visto como um espaço
atrasado e atrasado, enquanto a cidade é o símbolo do moderno e do progresso. Os sujeitos
que compõem estes espaços também são representados na obra, enquanto o citadino é visto
como “civilizado”, consciente, bem vestido e inteligente, o camponês é aquele representa o
atraso, a bestialidade, a alienação, o fanatismo, a inocência.
Diante do exposto, podemos inferir que, vida e obra em Dias Gomes se confundem. A
sua vida de militância encontrou na arte uma importante aliada contra as injustiças sociais e a
desigualdade. A dramaturgia engajada de Gomes foi alvo do autoritarismo e censura dos
militares. Muitas de suas obras foram barradas pelo governo ditatorial por serem
consideradas subversivas e pornográficas. Mas nem mesmo a dureza do regime foi capaz de
silenciar os protestos do autor.