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Histórico e Evolução Da Psicologia Da Saúde - Sebastiani
Histórico e Evolução Da Psicologia Da Saúde - Sebastiani
(Figura 1 Criada por Rodrigues, Rojas, 1996 – acrescidos dados do Brasil pelo autor)
Ainda quando algumas mudanças têm lugar, se faz necessário um novo enfoque, uma
reestruturação de estratégias na forma de promover saúde. Precisa-se de um pensamento novo,
que tenha por base o pensamento biopsicossocial, e que estimule realmente a comunhão das
ciências médicas e sociais na luta pela saúde.
Aproximações tradicionais (Psicologia Clínica, Psicologia Médica, Medicina
Psicossomática) estão sendo agora acompanhadas por enfoques psicológicos mais recentes,
como os da Psicologia Social Comunitária e alguns interdisciplinares, como o da Medicina
Comportamental, da Neuropsicologia, da Psicologia Pré e peri-natal e da Psico-oncologia e a
Psicologia Ambiental. Como conseqüência, têm-se diversificando as funções, atividades e
programas nos quais participam os psicólogos.
No próprio desenvolvimento da psicologia como disciplina, novos modelos e paradigmas
substituem velhos esquemas que, não obstante, não serem inúteis - resultam já insuficientes.
Durante os últimos anos os psicólogos, com independência de sua orientação teórica
particular, têm sabido fazer-se repercutir a idéia de que a saúde, como um dos valores mais
importantes do ser humano, tem um impacto nas pessoas, e têm-se dedicado a estudar e
intervir por sobre este impacto. Esta também tem sido uma realidade da Psicologia da Saúde
no Brasil.
A insistência em empregar o termo “Psicologia da Saúde” não é um capricho. Para
compreender seu significado há de se partir do processo saúde-enfermidade, da análise dos
fatores que o condicionam, de como influem nesse processo a sociedade num sentido geral,
como salientamos no início desse capítulo. É também necessário precisar como se vincula a
Psicologia e as experiências práticas acumuladas em diferentes instituições de um dado
sistema de saúde.
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“O amplo espectro de situações problemáticas em saúde naquelas em que o psicólogo deve
enfrentar para responder as demandas existentes, o obrigam a fazer uso dos recursos
teórico-metodológicos disponíveis, assim como implementar intervenções que nem sempre
são possíveis de se conjugar com um enquadre teórico da Psicologia. Isto tem gerado
dificuldades no estabelecimento da correspondência entre ambos níveis de abordagem,
criando uma falsa ruptura, quase mítica, entre os psicólogos práticos que têm que resolver
problemas concretos em instituições de saúde, com certo, e muitas vezes hipercriticado,
ecletismo, e os que trabalham em instituições acadêmicas."
(ALAPSA – 1997)
Visto desta forma a Psicologia da Saúde tem sido considerada como um campo de trabalho
da Psicologia que nasce para dar resposta a uma demanda sócio-sanitária. Os Psicólogos da
Saúde, procedentes em sua maioria (no Brasil) da Psicologia Clínica, da Medicina
Psicossomática e da Psicologia Social Comunitária estão adaptando seus enquadres e técnicas
a um novo campo de aplicação, que integra os aportes provenientes de suas fontes.
Ainda neste enfoque aplicativo, a Psicologia da Saúde tem sua especificidade, não é simples
justaposição de posições clínico-biológicas, educativo-pedagógicas e sócio-culturais. Absorve,
em uma síntese integradora, o melhor de suas fontes e pontos de partida. A
“multidisciplinariedade” da Psicologia da Saúde se refere, antes de tudo, a sua projeção e luta
no marco institucional, mas não nega seu sentido psicológico e à Psicologia como fonte.
O Brasil é um país que tem milhares de psicólogos com diferentes orientações teóricas
desenvolvendo trabalhos na Saúde, sendo estimado no universo de 100.000 psicólogos
registrados no Conselho Federal de Psicologia que aproximadamente 20% atuam na área
específica da Psicologia da Saúde como é aqui representada. Os marcos de iniciação da
Psicologia da Saúde no Brasil iniciam-se na década de 50, anteriores por tanto à própria
regulamentação da profissão de psicólogo neste país, datada de 1961. Em recente
apresentação de estudos feita pelo Dr. Jorge Grau, atual presidente da ALAPSA, realizada no
V Congreso Iberoamericano de Psicologia de la Salud em Cartagena-Colômbia (abril de
2000), com surpresa e orgulho identificamos que, pelas pesquisas feitas pelo Dr. Grau, o
Brasil é o país que iniciou mais precocemente os trabalhos em Psicologia da Saúde em todo o
Mundo - 1952, tendo como pioneira a eterna mestra Dra. Mathilde Neder.
Experimentamos, a partir da década de 70, um intenso desenvolvimento nas áreas
acadêmicas de formação em graduação e pós-graduação, implementação de práticas,
publicações científicas e fomento a encontros científicos de caráter nacional e regional. Os
primeiros cursos incluídos na graduação com cátedras optativas ou em regime de extensão
universitária são implantados entre 1978 e 80, sendo estruturados os primeiros núcleos de
formação em Psicologia Hospitalar com estágio supervisionado nesse período.
Ainda neste sentido, no Brasil, desde os anos 80 diversos concursos públicos em instituições
municipais, estaduais e federais de saúde buscam para seus quadros, psicólogos com
capacitação específica em Psicologia da Saúde e suas subáreas para atividades em Hospitais,
Ambulatórios, Unidades Básicas de Saúde, Centros de Saúde e programas de Orientação,
Prevenção e Educação para a Saúde. A partir dessa década ocorrem a formação de Sociedades
Científicas como as de Psico-oncologia, Medicina Psicossomática, Cuidados Paliativos,
Psicologia Hospitalar, Neuropsicologia, Psicologia Pré e Peri Natal, Psicologia da Saúde
dentre outras, que se estruturam por iniciativa de psicólogos, ou têm em seus quadros,
profissionais da área da Psicologia da Saúde assumindo inclusive cargos diretivos naquelas
que tem cunho interdisciplinar. Há de se salientar ainda, que a área de saúde no Brasil é a que
mais tem absorvido psicólogos nos últimos 15 anos, inclusive como alternativa ao gradativo
esvaziamento dos espaços antes ocupados pelas atividades de consultório, pautadas num já
desgastado modelo clinicalista.
Isto não é casual e reflete a necessidade de incorporação da Psicologia nas tarefas da saúde
em toda a região frente à demanda social existente a este respeito.
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Nos últimos 20 anos, vemos sendo criados grupos de trabalho e sociedades nacionais em
vários países (Cuba, Venezuela, Colômbia, Brasil, México). Foram realizados inúmeros
eventos de âmbito internacional dedicados a temas da Psicologia da Saúde ou com uma
contribuição temática importante no que se refere à Saúde. Naturalmente, os temas são
diferentes nos diversos países. Uma revisão realizada sobre os eventos dedicados a Psicologia
da Saúde: O Congresso Internacional do México (1990) e a Conferência internacional
“Psicosalud-92” (Havana), podem ilustrar o espectro temático da Psicologia da Saúde, onde
vemos a imensa gama de trabalhos de diversos países da região (Fig 2).
(Figura 02)
Nota: Nas Figuras subsequentes (de 3 a 6) veremos que essa evolução continua até os dias de hoje.
A um resultado parecido também se chegou por meio de uma revisão que se fez dos
trabalhos apresentados nos Congressos de Montreal (1996) e “Psicosalud’96” (1996, Havana):
as enfermidades crônicas constituíram um dos campos onde mais se destacou a atuação dos
Psicólogos da Saúde. Naturalmente, o balanço dos trabalhos apresentados em eventos
internacionais constitui apenas um indicador do desenvolvimento da Psicologia da Saúde, já
que os conteúdos temáticos que se apresentam nestes eventos têm a ver com muitos fatores
relativamente independentes deste desenvolvimento.
Merece atenção o estado atual dos projetos de pós-graduação de Psicologia da Saúde nos
países latinoamericanos. A estrutura curricular tem adquirido, geralmente, a forma de
Especialização e pós-graduação (lato e strito-sensu) de temas específicos: Mestrados, que
centram seu objetivo na atualização com fins de pesquisa e desenvolvimento científico;
Especializações dirigidas ao desenvolvimento de habilidades para o trabalho em saúde e
Doutorados, com exigentes requisitos de desenvolvimento científico.
Realmente na América Latina, existem desde os anos 80 várias modalidades de cursos de
formação em pós-graduação.
A construção do campo da Psicologia Hospitalar/Saúde no Brasil confunde-se e coincide,
em muitos aspectos, com a história da estruturação da profissão de Psicólogo neste país, e da
estruturação da Psicologia da Saúde nas Américas.
Se considerarmos que os primeiros movimentos mais consistentes, no sentido de se
oficializar a Psicologia como profissão em nosso país datam do início dos anos 50, não
obstante a termos inúmeros profissionais já atuando na área desde a década de 20,
observaremos que nessa mesma época tivemos instalado oficialmente em nosso país os
primeiros serviços estruturados de Psicologia Hospitalar, mais especificamente de 1952 a
1954 na Ortpedia e em 1957 na unidade de Reabilitação, ambas no Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da Universidade de S.Paulo.
No início dos anos 60 a Psicologia é reconhecida oficialmente como profissão no Brasil, e
observamos igualmente a expansão de várias iniciativas de psicólogos no sentido de
desenvolverem seus trabalhos vinculados a hospitais gerais, na mesma década, em Cuba é
fundada a primeira Sociedade de Psicologia da Saúde do mundo. Tanto no Brasil como em
outros países da América Latina, iniciam-se atividades voltadas a atenção à saúde da
população com a participação de psicólogos, já expandindo seu campo de atuação para alem
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das clássicas delimitações do modelo clinicalista e da atividade estritamente dedicada a então
chamada “Saúde Mental”.
A década de 70 é marcada pelo grande avanço dos trabalhos na área da Psicologia no
Brasil e pela enorme proliferação de cursos universitários para formação de Psicólogos. Em
consonância a essa evolução observamos ser ampliado significativamente a presença de
psicólogos em Hospitais Gerais e o surgimento, em vários países das Américas, de núcleos de
formação em Psicologia da Saúde. Em 1974 é postulada por Stone a cadeira de “Health
Psychology” na Universidade da Califórnia, ao mesmo tempo em que, movimentos ligados
à Medicina Psicossomática no Brasil, Argentina e Uruguay e a Behavior Medicine
principalmente nos E.U.A ,Canadá e México começam a receber a participação intensa de
psicólogos, na sua maioria vindos de atividades ligadas a hospitais e outras instituições de
saúde não vinculadas tradicionalmente à saúde mental e a psiquiatria. Estes profissionais
procuravam referências técnico-científicas para aplicação em seus trabalhos, buscando
ampliar seu campo de leitura e aprimorar seus instrumentais para fazer frente às demandas
bastante distintas do modelo que sua formação lhes forneceu. Começa-se a notar um
crescimento bastante consistente da presença e ações de psicólogos no campo da Saúde, e
algumas peculiaridades regionais impõe importantes influências sobre a atividade deste
profissional.
Cabe ressaltar aqui que, no Brasil, desde a década de 40 as Políticas de Saúde caminham,
tanto no que tange a investimentos quanto a ações de saúde, para um modelo centrado na
Instituição Hospitalar. As atividades e programas de saúde passam a ser desenvolvidas a partir
dos Hospitais, defendendo-se um modelo que prioriza as ações de saúde via atenção
secundária (modelo clínico/assistencialista) e temos, por conseqüência, uma cisão das outras
ações ligadas à saúde coletiva, que marginalizam, até os dias de hoje, os investimentos e
trabalhos em Saúde Pública e a valorização do enfoque Epidemiológico (modelo sanitarista).
Ao mesmo tempo os cursos de formação profissional em Ciências da Saúde optam por um
enfoque curativo, e as mudanças e crises sucessivas nos sistemas governamentais de
assistência à saúde e previdência dão ênfase, e até mesmo incentivam, investimentos da
iniciativa privada ao modelo Hospitalar. Saímos de uma vocação sanitarista, preconizada pelas
inúmeras epidemias que assolaram nosso país até a década de 30 e abarcamos um modelo em
grande parte importado dos Estados Unidos da América, onde o Hospital passa a ser o
símbolo máximo de atendimento em saúde. Muito provavelmente esses motivos levaram, no
Brasil, a ser cunhado o nome “Psicologia Hospitalar”, sem precedentes em outros países do
mundo, quando nos referimos às atividades do Psicólogo no campo da Saúde latu-sensu, pois
se a saúde dentro do modelo vigente no Brasil emanava da instituição hospitalar, nada mais
óbvio do que o Psicólogo da Saúde brasileiro iniciar, a partir dela, suas atividades e ações em
saúde.
A necessidade de novos referenciais e instrumentais para uma atividade tão diferente e
diversa daquela que aprendíamos em nossa graduação, começa a exigir a busca de novos
paradigmas. Foi pela imposição destas necessidades que as iniciativas, na sua maioria
empíricas, de se criar modelos e metodologias de trabalho se impôs aos Psicólogos da Saúde,
não só do Brasil, mas de toda a América Latina.
Na década de 80 passamos a vivenciar um momento de extrema produtividade no campo
da Psicologia da Saúde. Tanto no Brasil quanto em outros países das Américas um número
cada vez maior de psicólogos recém formados procura a área de Psicologia da Saúde para
desenvolver seus trabalhos.
Em 1982 a Sociedade Interamericana de Psicologia cria o “Task Force on Health
Psychology and Behavior Medicine”, agregando Psicólogos da Saúde das tres Américas
dentro de uma proposta científica de difusão e desenvolvimento do conhecimento e produção
científica na área. Em 1985 o grupo passa a adotar apenas o nome de “Task Force on Health
Psychology”, e continua ativo até os dias de hoje.
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No Brasil em 1983 acontece o I Encontro Nacional de Psicólogos da Área
Hospitalar, organizado pelos psicólogos que trabalhavam vinculados ao Inst. Central do
Hospital das Clínicas de S.Paulo e ao Instituto do Coração, ambos da Universidade de
S.Paulo. Nós que participamos desse primeiro encontro o consideramos, antes de tudo, como
um grande momento catártico para os profissionais que ali estavam. Tínhamos muito mais
angústias a dividir do que trabalhos a discutir. Deste encontro nascem vários núcleos de
intercâmbio, alguns cursos de extensão que eram dados na época se aprimoram, o Conselho
Regional de Psicologia 06- CRP (que agrega o maior número de psicólogos filiados no país)
cria, vinculado a Comissão de Saúde, uma subcomissão para discutir as questões afetas ao
campo da Psicologia Hospitalar, suas peculiaridades, convergências e divergências em ralação
a outras práticas já tradicionais em psicologia. Algumas faculdades já apresentam em sua
grade curricular cadeiras optativas de Psicologia Hospitalar e/ou da Saúde, em S. Paulo
destacam-se as Fac. Objetivo (atual Universidade Paulista), a Universidade Católica-SP a
Universidade de S. Paulo e a Fac. de Filosofia Ciências e Letras de Itatiba. Dos trabalhos da
subcomissão de Psicologia Hospitalar do CRP-06 derivam tres propostas de ação:
b) Estimular e difundir os trabalhos de pesquisa e ensino nessa área, de forma a capacitar melhor o
psicólogo para o exercício desta atividade. Sendo que num primeiro momento a preocupação era
a de poder-se criar um canal de sensibilização/informação dedicado aos psicólogos e
acadêmicos sobre as perspectivas da área.
0,7
Enf.Crónicas 65%
0,6
0,5 S. Mat. Inf. Reprod. 12%
0,4
Infec. Contag. Nutric.
0,3 5%
Salud Bucal 5%
0,2
0,1 Salud Mental 10%
(Figura 3)
SIDA
40
Prevención
35
Stress
30
Salud Mat. Infantil
25
Familia
20
Téc. De
15 Intervención
Sexualidad
10
Cáncer
5
Gerontopsicologí
a
0
Otros
1
( Figura 4 )
13
Trabajos Presentados nel VII ENPAH - Brasília – Brasil -1997
( Nº de Trabajos tablados – 190 )
Cáncer
50
Equipo
45
Formacón
40
Familia
35
D. Crónicas
30
Dolor
25
Salud Mat.
20 Infantil
Muerte
15
Stress
10
Téc. De
5 Intervención
SIDA
0
1 Otros
(Figura 5)
45
Tec. Intervención
40
Cáncer
35 Equipos
30 D. Crónicas
25 Salud mat. Infantil
20 SIDA
15 Formacón
UTI
10
Familia
5
Muerte
0
Otros
1
( Figura 6 )
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No entanto, embora tenhamos dados bastante positivos, seria por demasiado ingênuo
pensar, que nosso espaço profissional está conquistado e consolidado. Caminhamos lado a
lado em nosso fazer e pensar com as mazelas e incongruências da realidade de saúde de
nossas sociedades. A expressão de nossa presença e participação nas questões afetas à saúde é
diretamente proporcional à miríade de problemas que parcelas cada vez maiores de nossa
população sofrem. Nosso tempo e presença junto a estas demandas são ainda historicamente
muito pequeno se comparados à envergadura dos problemas que enfrentamos, e ao tempo e
esforços que coletivamente temos que encetar para podermos considerar que a saúde da
população brasileira e latinoamericana está minimamente bem assistida.
O aspecto quantitativo é aqui tão somente um indicador dos problemas de ordem
qualitativa que operam nas projeções de Pós-graduação no Brasil. A formação, ensino e
treinamento do Psicólogo da Saúde não são alheias à história e desenvolvimento deste campo
no País. À medida que a Psicologia da Saúde foi encontrando sua própria identidade, seu
ensino foi desprendendo-se com a mesma lógica que sustenta a profissão. Tradicionalmente
têm sido as ferramentas da Psicologia Clínica que tem dominado as orientações dos programas
de Pós-graduação. A diversidade de orientações epistemológicas, teóricas, metodológicas ou
de intervenção, que diversificam o campo de ação na prática, caracterizou a escassa formação
profissional pós-graduada dos Psicólogos da Saúde, muitos dos quais foram à Europa e
América do Norte buscar um currículo mais conciliatório e complementar, ou menos criticado
em função de sua formação teórica de graduação. No entanto essas formações carregam forte
influência dos modelos do Primeiro Mundo, dificultando muitas vezes a aplicação de métodos
e técnicas à nossa realidade.
A ambigüidade derivada dessa dispersão teórica, metodológica e instrumental nos
planos de formação profissional influenciou para que as instituições formadoras de recursos
adotem algumas áreas, sem aprofundar-se em todas, o que permite, na prática, uma
especialização fracionada, parcial, e não uma formação integral no campo multiaxial da
Psicologia da Saúde.
Concordamos com a visão da Junta diretiva da ALAPSA (97) ao afirmar que, os
programas podem apresentar objetivos semelhantes, mas com metodologias diferentes. Todo
programa de formação de Pós-graduação deveria derivar-se de uma série de necessidades e
problemas sociais passíveis de resolução através da prática profissional; entretanto, nem todos
os programas guardam uma vinculação com as necessidades e demandas sociais que deveriam
ser a razão da sua criação e existência. Parte significativa desse problema pode ser imputada a
uma ainda incipiente política de saúde das autoridades públicas, que se somam ao triste fato
de termos visto ao longo dos últimos 20 anos a Universidade afastar-se cada vez mais das
questões sociais, criando um modelo hermético fechado nos muros da própria academia.
A própria formação de graduação em Psicologia da Saúde é insuficiente; quantidades
crescentes de recém formados saem com uma deficiente formação profissional e escassa ou
nula bagagem prática dentro da realidade clínica e sanitária.
O fato de que em muitos países o modelo de atenção à saúde não contempla a inserção
de psicólogos, contribui para que apenas uma minoria de recém formados se incorpore a
sistemas hospitalares/ de saúde, e só uns poucos aos serviços de atenção primária à saúde, e,
com embargo, a maioria, desempregada, que aumenta ano a ano, tem duas opções: a prática
em consultório particular (cada vez mais difícil até por problemas sócio-econômicos e de
falência gradativa desses modelos tradicionais) ou a pós-graduação, que tenta ineficazmente,
suprir os déficits da graduação. Assim, os cursos de pós-graduação se ajustam e adaptam às
possibilidades acadêmicas de seus freqüentadores, desviando-se então, de seus objetivos reais.
Em resumo, muitos programas de pós-graduação padecem com dificuldades que
agudizam ainda mais os problemas no exercício profissional e da delimitação teórica da
Psicologia da Saúde. Infelizmente esse problema não é específico dessa especialidade da
Psicologia, mas pode ser expandido a todas as áreas de atuação dessa profissão, e o que talvez
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seja o mais grave, é igualmente aplicável a inúmeras outras profissões, particularmente na área
de saúde.
De qualquer forma, mesmo que em muitos lugares existam grandes diferenças enquanto
equidade de acesso aos sistemas de saúde, que escapam em grande parte a esfera da Psicologia
como profissão, e existirem grandes contingentes de psicólogos que constituem uma força
potencial ainda não empregada plenamente para melhorar os quadros de saúde de seus países,
não há dúvidas, que os psicólogos latinoamericanos têm problemas muito parecidos aos dos
seus colegas brasileiros. É visível o esforço para se participar cada vez mais ativa e
criativamente, na solução de problemas concretos de saúde, oferecendo um aporte próprio em
cada campo específico de trabalho, assim também na busca e elaboração de modelos, gerais e
particulares, para responder com maior eficiência às demandas de saúde em cada país e dar
maior solidez teórica ao cotidiano prático profissional.
Obviamente, o papel que terá a Psicologia da Saúde nos distintos países está associado às
próprias características econômicas, sociais, políticas, de desenvolvimento científico e do
modelo de saúde de cada nação em particular. Mas, à margem das deficiências, os psicólogos
latinoamericanos são protagonistas e interpretes de um processo universal de construção de
uma nova forma de pensamento em saúde.
"A cada ano mais de 11 milhões de crianças morrem antes de completar os 5 anos. 70%
destas mortes são causadas por 5 enfermidades comuns, passíveis de prevenção ou de fácil
tratamento como: pneumonia, diarréia, desnutrição, malária e sarampo."
( Division of Child Health and Development (CHD) - World Health Organization 1999 )
"A OMS vem preconizando um modelo de saúde onde a visão biopsicossocial (1979) do
indivíduo é salientada, mas há de se considerar que ainda continuam se utilizando indicadores
tradicionais de expectativa de vida, associados índices de mortalidade e morbidade”
Uma grande contribuição da Psicologia da Saúde, nestes termos, poderia vir a partir da
definição de conceitos como "Expectativa de Saúde", ou "Saúde Positiva" ou ainda, como está
sendo sobejamente discutido e apresentado em diversos segmentos da sociedade "Qualidade
de Vida".
- Para o grupo etário acima de 65 anos de idade a OMS (1998) estima que em 2025
existirão oitocentos milhões de pessoas pertencendo a essa faixa. O Brasil, nessas projeções, é
cotado para ser o terceiro país do mundo em número de habitantes com mais de 65 anos (!),
17
sendo que os mais recentes números indicam que temos cerca de 14.000.000 de habitantes
com mais de 60 anos (IBGE 2000).
Essa mudança demográfica apresenta tremendos desafios para a Psicologia da Saúde. Nas
próximas décadas será necessário estabelecer programas efetivos e eficientes na prevenção e
retardo das enfermidades e invalidez, manter-se a saúde, independência e mobilidade destas
pessoas.
A evolução dos trabalhos de atenção à saúde, que repercute diretamente na redução das
enfermidades infecciosas e no aumento da expectativa de vida, traz a tona outra importante
questão:
Cada vez mais a morte será causada por doenças crônicas ou degenerativas
A figura 7 traz alguns dados indicativos destes problemas, que foram levantados em
recente pesquisa nacional realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, órgão
do Governo Federal responsável pelos levantamentos e estudos dos diferentes perfis do País.
Nessa pesquisa, levada a cabo durante todo o ano 2000 foram entrevistados 158.649.736
pessoas, correspondendo a 95,25% dos habitantes do Brasil.
18
INFORMACÍON 2000:
( Figura 7 )
19
No que se refere ao campo do Ensino:
A identidade do psicólogo sempre esteve muito ligada às relações mais intimistas com
ênfase por sobre o indivíduo, e somente a partir dele para o mundo, essa realidade ainda é
bastante marcante no Brasil, contribuindo para que os Psicólogos da Saúde brasileiros venham
mantendo-se distantes dos processos de decisões sobre os rumos das políticas de saúde
planteadas pelos governos. Nesse sentido temos um grande desafio no que se refere a uma
inserção mais efetiva e articulada junto aos órgãos responsáveis pelo estabelecimento destas
políticas, levando até eles a contribuição humanizante que a Psicologia da Saúde certamente
pode dar.
AGRADECIMENTOS
Gostaria de deixar registrados dois agradecimentos: em primeiro lugar à Junta Diretiva da
Asociación Latinoamericana de Psicologia de la Salud nas pessoas de seu presidente Dr. Jorge Grau
(Cuba) e de sua secretária Dra. Ligia Sanchez (Venezuela), pela autorização à utilização do texto que
embasou partes importantes do presente capítulo, e mais do que isso pelo incansável trabalho que eles,
à frente da ALAPSA, vêm prestando a Psicologia da Saúde na América Latina. Em segundo lugar
agradeço a Universidade de Sonora nas pessoas dos Doutores Julio Alfonso Piña López (Secretaria de
Salud del Estado de Sonora – México) e Jose AlgelVera Noriega (Centro de Investigación en
Alimentacón y Desarrollo – Sonora México), pela oportunidade de participar em tão importante
iniciativa.
R.W.S.
Pioneira; 1995.
1997.
1998.
BERCOVICH, A. – “Censo 2000 – O País da Virada do Milênio”, in Re. Época, ano III,
FORATINNI, O.P., “Ecologia, Epidemiologia e Sociedade”, São Paulo: Ed. Artes Médicas;
1992
Vol. 3, 1999.
MONTESINOS, L., “Desafios psara la psicologia de la Salud em el Ocaso del Siglo XX”,
ROMANO, B.W. (org), “A Prática da Psicologia nos Hospitais”, S. Paulo: Ed. Pioneira;
1994.
SEBASTIANI, R.W., “Perspectivas da Psicologia da Saúde para o Século XXI”, Goiânia: in