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Capı́tulo 1 - Séries.
1.1 Introdução...............................................................................................3
1.2 Elementos e motivações (séries de Taylor)...................................................5
1.3 Critérios da Comparação...........................................................................14
1.4 Testes da Raiz e da Razão.........................................................................18
1.5 Critério da Integral....................................................................................27
1.6 Critério de Raabe......................................................................................31
1.7 Série Binomial Real....................................................................................36
1.8 Série Telescópica, Critérios de Dirichlet e Abel.............................................39
1.9 Critério (Leibniz) para Série Alternada........................................................41
1.10 Fórmulas para o lim inf e para o lim sup.....................................................45
1.11 Representação Decimal..............................................................................46
3.1 Introdução..................................................................................................61
3.2 Somas não ordenadas X Séries......................................................................62
3.3 Associatividade............................................................................................69
3.4 Soma de uma sequência dupla. Produto de séries...........................................73
3.5 A exponencial complexa e as funções trigonométricas.....................................78
3.6 Teoremas de Mertens e Abel para o produto de séries.......................................84
3.7 Soma de Cesaro............................................................................................87
4.1 Associatividade.............................................................................................89
4.2 A equivalência das noções de somabilidade.....................................................94
Bibliografia..........................................................................................................97
Capı́tulo 1
SERIES
1.1 - Introdução
r=
1
2
e, é claro, tal soma é 1. Isto é,
+ + + ⋯ = 1.
1 1 1
2 4 8
Porém, para Zenão um somatório infinito não poderia ter soma finita.
3
Somatórios infinitos enumeráveis são a base do cálculo integral e surgem
também com a fórmula de Taylor
Este material também não contém um estudo das importantes Séries de Fou-
rier (séries de funções trigonométricas).
1
G. F. B. Riemann (1826-1866) criou a geometria depois utilizada na fı́sica relativı́stica.
4
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
1.2 - Elementos
s n = a0 + ⋯ + an
Se a série ∑+∞
n=0 an converge, escrevemos
+∞
∑ an < ∞.
n=0
+∞ +∞
∑ an = ∑ bn , onde bn = 0, se n < p, e bn = an se n ≥ p.
n=p n=0
m=p+1
5
e é claro que existe lim sn se e somente se existe
m=n
lim
n→+∞
∑ am .
m=p+1
Uma série complexa ∑+∞ n=0 zn converge se e somente se suas partes real e imaginária,
+∞ +∞ +∞
∑ zn = ∑ Re(zn ) + i ∑ Im(zn ).
n=0 n=0 n=0
+∞ +∞ +∞ +∞ +∞
∑ (zn + wn ) = ∑ zn + ∑ wn e ∑ (λzn ) = λ ∑ zn .
n=0 n=0 n=0 n=0 n=0
6
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
lim sn = a.
n→+∞
Recordemos. Uma sequência (an ) é de Cauchy se dado ǫ > 0 existe n0 tal que
Proposição (Critério de Cauchy para séries). Seja ∑+∞ n=0 an uma série em
C. Tal série converge se e somente se para todo ǫ > 0 existe n0 ∈ N tal que temos
n=0 an converge ♣
sequência (sn ) é de Cauchy, (sn ) converge e a série ∑+∞
Definições. A série ∑+∞
n=0 an , em C, é
7
Exemplo 1. Temos que
+∞
∑ sin ( ) diverge pois lim sin ( ) ≠ 0.
nπ nπ
n=0 2 n→+∞ 2
satisfaz
+∞
∑ zn = , se ∣ z∣ < 1 , e diverge se ∣ z∣ ≥ 1.
1
n=0 1−z
Prova.
+∞
1 − z n+1
∑ z n = n→+∞
lim (1 + z + z 2 + ⋯ + z n ) = lim = , se ∣z∣ < 1.
1
n=0
n→+∞ 1−z 1−z
1 r
r2 r3 r4
1
1 r r2 r3 r4 1−r
8
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
lim Rn (x) = 0.
n→+∞
2
B. Taylor (1715). Tal série já era conhecida pelo escocês J. Gregory (1638-1675) e, na Índia,
antes de 1550.
3
O escocês C. Maclaurin (1698-1746), em 1742. Alguns matemáticos a anteciparam e Gre-
gory já as conhecia para tan x, sec x, arcsec x e arctan x, vide Exemplo sobre a função arco
tangente. Clio, a musa da história, é com frequência caprichosa ao batizar teoremas.
9
Exemplos 3 (As séries de Taylor-Maclaurin para as funções exponencial
real, seno real e cosseno real). Seguem as séries de Maclaurin das funções
reais ex , sen x e cos x.
(a) Pela que já estudamos sobre a função exponencial real segue
+∞
ex = ∑ , para todo x ∈ R.
xn
n=0 n!
(b) Pela fórmula de Taylor com resto de Lagrange para a função sen x na origem
temos, fixado x ∈ R,
sen x = sen(0) +sen′ (0)x +sen′′ (0) +⋯+ sen(k) (0) + sen(k+1) (x)
x2 xk xk+1
(k + 1)!
,
2! k!
para algum x entre 0 e x. É claro que senn(2n) (x) = (−1)n sen x e também
sen(2n+1) (x) = (−1)n cos x e assim, sen(2n) (0) = 0 e sen(2n+1) (0) = (−1)n .
Ainda mais, é óbvio que
∣ x∣k+1
∣ sen(k+1) (x) ∣≤
xk+1
(k + 1)! (k + 1)!
10
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
diverge4 . Verifique.
Prova.
s2n −1 = 1 + ( + ) + ( + + + )
1 1 1 1 1 1
2p 3p 4p 5p 6p 7p
+⋯ + [ + +⋯+ n ]
1 1 1
(2n−1 )p (2n−1 + 1)p (2 − 1)p
< 1+ + + ⋯ +
2 4 2n−1
2p 4p (2n−1 )p
= ∑( ) <
n−1 m
1 1
p−1 , para todo n.
1 − ( 12 )
2 p−1
m=0
é uma série de termos positivos, a sua sequência (sn ) das somas parciais é
limitada e portanto a série converge. Desta forma, se p ≤ 1 temos
≥
m m
∑ ∑
1 1
p
n=1 n n=1 n
4
N. Oresme (1323?-1382), parisiense e bispo católico, provou este resultado em 1350, um
grande feito à época.
11
Exemplo 6 (Série para logaritmo e a série harmônica alternada). Mostre-
mos a convergência da série para a função ln x, chamada série de Mercator(1668)5 ,
e a convergência condicional da série harmônica alternada, dadas por
=1− + − + + ⋯ + (−1)n + ⋯.
1 1 1 1 1
n+1
ln 2
2 3 4 5
Prova.
0 t x 1
Figura 1.2: A disposição 0 ≤ t ≤ x ≤ 1.
Donde concluı́mos
(−t)n+1
∣∫ dt∣ ≤ ∫ tn+1 dt = ≤
xn+2 1
ÐÐÐ→ 0.
x x n→+∞
0 1+t 0 n+2 n+2
−1 x t 0
Figura 1.3: A disposição −1 < x ≤ t ≤ 0.
encontramos
0 < 1 + x ≤ 1 + t ≤ 1, 1≤ ≤
1 1
1+t 1+x
e então
RRR x R
RRR (−t)n+1 RRRR 1 ∣ x∣n+2
0
5
O danês N. Mercator (1620-1687), que desenhou as fontes de Versailles. Pietro Mengoli
(1625-1686), também danês e um dos principais precursores do estudo de séries infinitas, obteve
o mesmo resultado e chamou de logaritmo natural os valores determinados por tal série.
12
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
arctan x = x − + − + ⋯ + (−1)n + ⋯, ∣ x∣ ≤ 1 ,
x3 x5 x7 x2n+1
3 5 7 2n + 1
= 1 − + − + + ⋯ + (−1)n+1 + ⋯.
π 1 1 1 1 1
2n + 1
(Leibniz)
4 3 5 7 9
Prova.
encontramos
3 5 7 2n + 1 0 1 + t2
≥
1 1
2n − 1 2n
e, utilizando o Exemplo acima temos
+∞
1 +∞ 1
= ∑ = +∞.
1
∑
n=1 2n 2 n=1 n
6
Gregory foi o introdutor do termo convergência e deduziu a série de Leibniz antes que este.
13
1.3 - Critérios da Comparação
Dado z ∈ C, temos
Prova.
0 ≤ an +∣an ∣ ≤ 2∣an ∣ e então, como a série ∑+∞n=0 2∣an ∣ converge, pelo critério da
também converge ♣
C. Se existem c > 0 e n0 ∈ N tais que ∣an ∣ ≤ c ∣bn ∣, para todo n > n0 , e ∑+∞
n=0 ∣bn ∣ < ∞
então temos
+∞
∑ ∣an ∣ < ∞.
n=0
14
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
Exemplo 8. A série
+∞
1 1
∑ sin
n=1 n n
é convergente.
Prova.
segue
∣ sin ∣ ≤ 2 , para todo n ∈ N.
1 1 1
n n n
Pelo Exemplo 5 segue
+∞
∑ 2 < ∞.
1
n=1 n
Exemplo 9. Temos,
+∞
= +∞.
1
∑
n=2 ln n
Prova.
Como
+∞
en = ∑ ≥ n, para todo n ∈ N,
np
p=0 p !
ln n ≤ n e ≥ , para todo n ∈ N.
1 1
ln n n
Mas, pelo Exemplo 4 a série harmônica diverge. Isto é,
+∞
= +∞
1
∑
n=1 n
15
O critério que segue guarda semelhanças com o critério da comparação (para
séries quaisquer) que acabamos de mostrar. Entretanto, é útil enunciá-lo à parte.
∣an ∣
= L ∈ [0, +∞].
∣bn ∣
lim
n→+∞
(a) Se L = 0 e ∑+∞
n=0 ∣bn ∣ converge, então ∑n=0 ∣an ∣ converge.
+∞
(c) Se L = +∞ e ∑+∞
n=0 ∣bn ∣ diverge, então ∑n=0 ∣an ∣ diverge.
+∞
Prova.
(a) Se L = 0, então existe n0 ∈ N tal que temos ∣an ∣ ≤ ∣bn ∣ para todo n ≥ n0 .
Logo,
∞ ∞
∑ ∣an ∣ ≤ ∑ ∣bn ∣ < +∞.
n=n0 n=n0
(c) Existe n0 ∈ N tal que para todo n ≥ n0 temos ∣an ∣ ≥ ∣bn ∣. Logo,
+∞ +∞
∑ ∣an ∣ ≥ ∑ ∣bn ∣ = +∞ ♣
n=0 n=0
16
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
Prova.
Como a série
+∞
1
∑ 4
n=1 n
√
Exemplo 11. A sequência ( n n) satisfaz
√
lim n
n = 1.
n→+∞
Prova. Exercı́cio ♣
Prova.
17
1.4 - Testes da Raiz e da Razão
Já vimos que toda sequência real tem uma subsequência monótona. Assim,
admitindo −∞ e +∞ como valores para limites, toda sequência tem uma sub-
sequência convergente na reta estendida [−∞, +∞] = R ∪ {−∞, +∞}.
◇ O lim sup xn e o lim inf xn são ambos valores de aderência de (xn ). Assim,
lim sup xn é o maior valor de aderência de xn e, por outro lado, lim inf xn
é o menor valor de aderência de xn .
◇ Suponhamos lim sup xn real. Então, dado ǫ > 0 existe N tal que temos
[Caso contrário, existe um valor de aderência de (xn ) que supera lim sup xn .]
18
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
A apresentação dos Testes da Raiz e da Razão inclui duas gerais, que utili-
zam os conceitos lim sup e lim inf. Com frequência, mas não sempre, poderemos
substituir tais limites pelo usual. Abaixo, enfatizamos tais fatos e relacionamos
estes três referidos limites com os dois mencionados testes (gerais e não gerais).
Teorema (Teste da Raiz, geral). Sejam ∑+∞ n=0 an uma série complexa e
√
lim sup n ∣an ∣ = R ∈ [0, +∞].
0 R λ 1
(b) Pela definição de lim sup existe uma subsequência (ank ) satisfazendo
√
nk
∣ank ∣ > 1, para todo k.
lim √ = lim √ = 1♣
1 1
e n
n→+∞ n
n n→+∞ n2
√
Teste da Raiz (simplificado). Suponha lim n ∣an ∣ = R ∈ [0, +∞]. Se R < 1,
n=0 ∣an ∣ converge. Se R > 1, então ∑n=0 an diverge. Se R ∉ {0, 1, ∞},
então ∑+∞ +∞
19
n=0 an em C, com an′ s ≠ 0, sejam
Teorema (Teste da Razão, geral)7 . Dada ∑+∞
∣an+1 ∣ ∣an+1 ∣
r = lim inf e R = lim sup
∣an ∣ ∣an ∣
.
Prova.
0 R λ 1
Figura 1.6: A disposição R < λ < 1
Pelas propriedades de lim sup, existe n0 tal que para n > n0 temos
∣an+1 ∣
< λ.
∣an ∣
Então, para n > n0 obtemos a desigualdade
∣an ∣ ∣an−1 ∣ ∣an0 +1 ∣
∣an ∣ = ⋯ ∣an0 ∣ ≤ λn−n0 ∣an0 ∣,
∣an−1 ∣ ∣an−2 ∣ ∣an0 ∣
donde segue
+∞
∑ ∣an ∣ < +∞.
n=n0
0 1 r
Figura 1.7: A disposição 1 < r
Donde segue ∣an+1 ∣ ≥ ∣an ∣ ≥ ∣an0 ∣ > 0.
7
Também dito Critério de d’Alembert. Este teste já era conhecido antes de d’Alembert.
20
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
Prova.
◇ Basta provar
√
xn ≤ lim sup
xn+1
lim sup n
xn
pois assim, para a sequência
( )
1
xn n∈N
teremos
lim sup √ ≤ lim sup
1 xn
.
n
xn xn+1
Logo, das identidades
lim sup √ = √ =
1 1 xn 1
e lim sup xn+1
n
xn lim inf xn
n
xn+1 lim inf xn
( ) ,
xn+1
xn N
sabemos que existe p ∈ N tal que
n > p implica ≤ c.
xn+1
xn
Logo, para n > p segue
≤ c, ≤ c , ...., ≤ c.
xp+1 xp+2 xn
xp xp+1 xn−1
21
Multiplicando estas desigualdades membro a membro obtemos
≤ cn−p = p .
xn cn
xp c
Pondo
k=
xp
cp
vemos que k independe de n e, xn ≤ k cn , para todo n > p. Assim, vale a
√ √ √
desigualdade n xn ≤ k c para todo n > p. Portanto, como lim k = 1,
n n
concluı́mos que
√ √ √
xn ≤ lim sup( k c) = lim kc = c ♣
n n
lim sup n
∣an+1 ∣ √
= L ∈ [0, +∞] implica lim n ∣an ∣ = L.
∣an ∣
lim
Se n é par, encontramos
√ √
= a, xn = (ab) 2 e n xn = ab.
xn+1 n
xn
Se n é ı́mpar, encontramos
√ √
√ 1 √
= b, xn = (ab) 2 a e xn = (ab) 2 2n a = ab 2n√ .
xn+1 n−1
n
1
− n
n
a
xn ab
Por fim temos,
√ √
= min(a, b) , lim sup = max(a, b) , lim n xn = ab ♣
xn+1 xn+1
lim inf
xn xn
Pelo Exemplo 13 (vide também o Exemplo 14) vemos que pode existir o limite
da raiz e sem que exista o da razão. O Teste da Razão é em geral mais “fácil”.
Porém, o Teste da Raiz é mais eficiente.
22
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
Exemplos 14. As séries abaixo convergem pelo teste da raiz enquanto o teste
da razão é inconclusivo para ambas.
+ + 2 + 2 + 3 + 3 + ... .
1 1 1 1 1 1
2 3 2 3 2 3
Vale o que segue (cheque).
√
√
lim inf n an = lim = √
2n 1 1
,
3n 3
√
√
lim sup n an = lim =√ ,
2n+1 1 1
2 n+1
2
= lim ( ) = 0 e
an+1 2 n
lim inf
an 3
= lim ( ) = +∞.
an+1 3 n
lim sup
an 2
(b) Consideremos a série
+1+ + + + + + + ⋯.
1 1 1 1 1 1 1
2 8 4 32 16 128 64
Vale o que segue.
= ,
an+1 1
lim inf
an 8
= 2,
an+1
lim sup
an
√
an = se n é ı́mpar,
n
1
√
2
√
√
an = =
n
n 2 4
n
se n é par e
2n−1 2
√
lim n an = ♣
1
2
23
Exemplo 15. Vale o que segue.
+∞ √
lim √ = e, = +∞, n! = +∞ e lim √ = 0.
n nn 1
∑
n
lim
n=0 n!
n n
n! n!
Prova.
(n + 1)n+1 n! n+1 n
= ( ) = (1 +
1 n
) = e.
(n + 1)! nn
lim lim lim
n n
Prova.
n=0
24
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
ex , sin x e cos x,
De fato, as outras duas séries são, em valor absoluto, majoradas por esta.
Aplicando o Teste da Razão encontramos
∣z∣
lim ∣ ∣ = lim = 0, para todo z ∈ C∗ ♣
z n+1 n!
(n + 1) !z n n→+∞ n + 1
Prova.
25
A seguir, apresentamos uma versão mais fraca do “teorema comparando os
limites da razão e da raiz, para sequências”. Esta versão não utiliza os conceitos
de “lim sup” ou “lim inf”.
Prova.
Dado ǫ > 0, seja 0 < δ < ǫ e n0 tal que para cada n ≥ n0 temos
∣an+1 ∣
L−δ < < L + δ.
∣an ∣
Logo,
∣an ∣ ∣an−1 ∣ ∣an +1 ∣
(L − δ)n−n0 ∣an0 ∣ ≤ ∣an ∣ = ..... 0 ∣an0 ∣ ≤ (L + δ)n−n0 ∣an0 ∣
∣an−1 ∣ ∣an−2 ∣ ∣an0 ∣
e, ainda para n > n0 ,
(L − δ)n ∣an ∣ (L + δ)n
≤ ≤
(L − δ)n0 ∣an0 ∣ (L + δ)n0
.
Como
L−ǫ L+ǫ √
<1< e lim n α = 1,
L−δ L+δ n→∞
26
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
uma série e f ∶ [p, +∞) → [0, +∞), contı́nua e decrescente, com an = f (n) se n ≥ p.
Então,
+∞
f (x) dx converge se e só se a série ∑ an converge.
+∞
a integral ∫
p n=0
y
y = f (x)
área ap+1
área ap+2
111
000
000
111
000
111 área an
000
111
000
111
000
111
000
111
000
111
000
111 111
000
000
111
000
111 000
111
000
111
000
111
000
111
000
111 000
111
000
111
p p + 1 p + 2 .... n x
Uma função como no critério acima sempre existe mas, em geral, não é útil.
Basta definir f em [n, n+1] tendo por gráfico o segmento unindo os pontos (n, an )
e (n + 1, an+1 ).
27
Exemplo 19. Pelo critério da integral a série harmônica generalizada
+∞
, com p ∈ R,
1
∑
np
converge se e somente se p > 1.
Prova.
⎪
lim
⎪ M →+∞ 1−p 1 p−1
= ⎨
+∞ dx M →+∞
∫1 ⎪
x p
⎪
⎪
⎪
⎪
⎪ lim ln ∣1 = lim ln M, p = 1 ♣
M
⎩ M →+∞ M →+∞
28
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
xα (α > 1)
ln x
1
1 x
Prova.
f (x) = , onde x ≥ 3,
1
xα (ln x)β
x = ey , = ey e
dx
dy
+∞ e(1−α)y
= =
+∞ 1 +∞ ey
∫3 xα (ln x)β
dx ∫ln 3 eαy y β dy ∫ln 3 yβ
dy.
29
◇ O sub-caso α < 1. Dado N ∈ N, com N > β, existe uma constante cN > 0 tal
que temos
e(1−α)y ≥ cN y N , para todo y ≥ 0.
Então segue
e(1−α)y
dy = +∞
+∞
∫ln 3 yβ
e pelo Critério da Integral concluı́mos que a série diverge.
◇ O sub-caso α = 1. Temos
Abaixo está hachurada a região dos parâmetros α, β > 0 tais que a série no
exemplo imediatamente acima converge.
β 111111111111111
000000000000000
000000000000000
111111111111111
000000000000000
111111111111111
000000000000000
111111111111111
000000000000000
111111111111111 α >1eβ ≥0
000000000000000
111111111111111
α=1eβ >1
ou
000000000000000
111111111111111
000000000000000
111111111111111
000000000000000
111111111111111
1 000000000000000
111111111111111
000000000000000
111111111111111
000000000000000
111111111111111
000000000000000
111111111111111
000000000000000
111111111111111
000000000000000
111111111111111
000000000000000
111111111111111
1 α
Figura 1.11: {(α, β) ∶ ∑ < ∞}.
∞
1
nα (ln n)β
n=2
, onde β > 0.
1
∑ β
n≥2 n(ln n)
30
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
∣ ∣ ≤ ∣ ∣ , para todo k ≥ p.
ak+1 bk+1
ak bk
Vale o que segue.
+∞ +∞
Se ∑ ∣bk ∣ converge, então ∑ ∣ak ∣ converge.
n=0 n=0
Prova.
∣ ∣ ≤ ∣ ∣.
ak+1 ak
bk+1 bk
Logo, para k ≥ p temos que
31
Proposição (Critério de Raabe). Seja ∑ an uma série complexa, com ∣an ∣ ≠ 0
+∞
n=0
para cada n, satisfazendo
n=0
n=0 n=0
Prova.
(a) Seja α tal que 1 < α < L. Então, existe N ∈ N para o qual temos
∣ ∣<1− .
ak+1 α
ak k
Para continuarmos façamos uma observação.
Observação. Para α > 1, x ≥ −1 e f (x) = (1+x)α temos f ′′ ≥ 0, f ′ (0) = α,
a concavidade do gráfico de f voltada para cima e a reta tangente ao gráfico
de f no ponto (0, 1) dada pela equação y = 1 + α x. Logo, (1 + x)α ≥ 1 + α x.
Assim, utilizando tal desigualdade para o ponto
x=−
1
k
obtemos
1
∣ ∣ < 1− ≤ (1 − ) =
1 α
= , onde bk =
ak+1 α kα bk+1 1
(k − 1)α
1 .
ak k k (k−1)α
bk
Como temos
+∞
< ∞ (pois α > 1),
1
∑ α
n=0 k
32
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
k (1 − ∣ ∣) ≤ 1.
ak+1
ak
Assim,
1 k−1 1
∣ ∣≥1− = = = , onde bk+1 = .
ak+1 k bk+1 1
1
ak k k k−1
bk k
Como a série harmônica diverge, pelo Critério de Comparações de Razões
segue que
+∞
∑ ak diverge.
k=0
diverge pois
dx = ln (ln x)∣2 = +∞.
+∞
1 +∞
∫2x ln x
Simplificando a expressão na condição no teste de Raabe para tal série
obtemos
(k + 1) ln(k + 1) − k ln k
k (1 − )= [ ].
k ln k k
(k + 1) ln(k + 1) k+1 ln(k + 1)
Como
ÐÐÐÐ→ 1,
k k→+∞
k+1
estudamos a fração entre colchetes na expressão acima,
(k + 1) ln(k + 1) − k ln k ln(k + 1)k+1 − ln k k
=
ln(k + 1) ln(k + 1)
ln(k + 1) (1 + k1 )
k
=
ln(k + 1)
.
33
Mudando para variável contı́nua encontramos a indeterminação
∞
∞
.
ln(x + 1) (1 + x1 )
x
ln(x + 1)
lim
x→+∞
⎧
⎪ ⎡ ⎤⎫
⎪ 1 x ⎢⎢ x2 ⎥⎪
⎥⎪
1
x (−1)
= lim ⎨ (1 +
1 x
) + (x + (1 + ) (1 + ) + ⎬
x
(x+1)(1+ x1 ) 1
⎪ x ⎢⎢ 1 + x1 ⎥⎥⎪
1) ln
⎪
⎩ ⎣ ⎦⎪
⎭
1
x→+∞
x+1
x x
= lim {1 + (x + 1) [ln (1 + ) − ]}
1 1
x→+∞ x x+1
= lim (x + 1) ln (1 + )
1
x→+∞ x
é convergente pois
= dy < ∞.
+∞ 1 +∞ 1
∫2 x(ln x)2
dx ∫log 2 y 2
É trivial que
=1 e = 1.
k ln x
k+1 ln(x + 1)
lim lim
x→+∞
34
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
Donde segue
ln(k + 1) + ln k
= 2.
ln(k + 1)
lim
k→+∞
Concluindo, temos
ln(k + 1) − ln k ln ( k+1 )
= lim k k
ln(k + 1) k→+∞ ln(k + 1)
lim k
k→+∞
ln (1 + k1 )
k
= lim =0
k→+∞ ln(k + 1)
e lim I(k) = 1♣
35
1.7 - A Série Binomial Real
α(α − 1)⋯(α − m + 1)
( )= , onde m ∈ N, com ( ) = 1.
α α
m m! 0
Seja f (x) = (1 + x)α , onde x ∈ (−1, 1]. Vale o que segue.
+∞
(a) (1 + x)α = ∑ ( )xn , se x ∈ (−1, 1).
α
n=0 0
No ponto x = 1, temos
+∞
(b) 2α = ∑ ( ), se α > 0.
α
n=0 0
Prova.
f (n) (0)
( )=
α
.
n n!
36
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
Notemos que
⎧
⎪ = α(α−1)⋯(α−N (1 + t)α−N −1 = α(α−1 )(1 + t)α−N −1 ,
⎪
f (N +1) (t) )
⎪
⎪
⎪
⎪
N! N! N
(1.7.1) ⎨
⎪
⎪
⎪
⎪ (x) = )
N ∫ (1 + t)
α−N −1 (x − t)N dt.
x
⎪
⎪
α−1
⎩
R N α(
0
x−t N
∣(1 + t)α−1 ( ) ∣.
1+t
No caso 0 ≤ t ≤ x ≤ 1, temos
x−t
0≤ ≤ ≤ x.
x
1+t 1+t
No caso −1 < x ≤ t ≤ 0, temos −x = ∣x∣ e (vide figura)
−1 x t t∣x∣ 0
Figura 1.12: A disposição −1 < x ≤ t ≤ ∣x∣t ≤ 0.
t − x t∣x∣ + ∣x∣
0≤ ≤ = ∣x∣.
1+t 1+t
Resumindo, obtemos
x−t N
∣(1 + t)α−1 ( ) ∣ ≤ C∣x∣N , para todo t entre 0 e x.
1+t
Donde segue
α−1
∣RN (x)∣ ≤ C ∣α ( )∣ ∣x∣N +1 .
N
37
Mostremos, com o teste da razão, a convergência da série
+∞
α−1 n
∑( )x , se ∣x∣ < 1.
n=0 n
De fato, basta observar que
RRR (α−1)xn+1 RRR
RRR n+1 R (α − 1)(α − 2)⋯(α − 1 − n − 1 + 1)n!
RRR α−1 n RRRRR = ∣ (n + 1)!(α − 1)(α − 2)⋯(α − 1 − n + 1) x∣
RR ( n )x RR
α − n − 1 n→+∞
=∣ x∣ ÐÐÐ→ ∣x∣, se ∣x∣ < 1.
n+1
Portanto, a série converge e seu termo geral tende a 0. Logo,
lim RN (x) = 0.
(b) O caso x = 1 e α > 0. Por (1.7.1), para todo N grande o suficiente segue
α−1 α ∣(α−1 )∣
∣RN (1)∣ ≤ α ∣( )∣ ∫ (1 − t) dt =
1
N N
N +1
.
N 0
O coeficiente binomial é limitado. De fato, denotando (a simbologia é usual)
[∣α∣] o menor número natural que é maior ou igual a α, encontramos
α−1 (α − 1)(α − 2)(α − 3) . . . (α − 1 − N + 1)
∣( )∣ = ∣ ∣
N 1.2.3 . . . N
= ∣(1 − α) (1 − ) (1 − ) ⋯ (1 − ) (1 − ) ⋯ (1 − )∣
α α α α α
2 3 [∣α∣] [∣α∣] + 1 N
≤ ∣(1 − α) (1 − ) ⋯ (1 − )∣ .
α α
2 [∣α∣]
Logo,
RN (1) ÐÐÐ→ 0 ♣
N →+∞
38
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
Prova.
lim sn = b0 − lim bn ♣
n→+∞
Prova.
lim sN = lim ∑ ( − )
N
1 1
N →+∞ N →+∞ n=1 n n+1
= lim (1 − ) = 1♣
1
N →+∞ N +1
39
Proposição (Critério de Dirichlet). Em R, consideremos ∑+∞ n=0 an uma série
(não necessariamente convergente) com sequência das somas parciais (sn ) limi-
tada e (bn ) uma sequência decrescente tal que lim bn = 0. Então,
+∞
∑ an bn é convergente.
n=0
Prova.
a1 b1 + a2 b2 + ⋯ + an bn = ∑ si−1 (bi−1 − bi ) + sn bn .
n
i=2
Prova.
40
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
+∞
∣ ∑ (−1)n+1 an − sm ∣ ≤ am+1 , onde sm = a1 − a2 + ⋯ + (−1)m+1 am .
n=1
Prova.
−a2
−a4
−a6
s2 s4 s6 s5 s3 s1 = a1
+a5 +a3
41
Observemos que
⎧
⎪
⎪
⎪ 0 ≤ s2n ≤ s2n+1 ≤ s1 = a1 ,
⎪
⎪
⎨
⎪
⎪
⎪
⎪
⎪
⎩ 0 ≤ s2n+1 − s2n = a2n+1 .
Logo, (s2n ) e (s2n+1 ) são monótonas, limitadas e convergentes e tem mesmo
limite α. Portanto, a série em consideração é convergente.
Seja m par ou não, α está entre sm e sm+1 e ∣α − sm ∣ ≤ ∣sm − sm+1 ∣ = am+1 ♣
Prova.
Claramente
sen n1α
> > =1
1
sen 0, se α 0, lim 1
nα n→+∞
nα
e pelo Critério do Limite,
+∞ +∞
∑ sen α < ∞ ⇐⇒ ∑ α < ∞.
1 1
n=1 n n=1 n
(sen ) ↘ 0, se α > 0.
1
nα
Pelo Critério de Leibniz a série dada converge se 0 < α ≤ 1 ♣
42
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
diverge e lim an = 0.
Prova.
1+ + + ⋯
1 1
3 5
diverge (vide observação ao Exemplo anterior) ♣
Prova.
Seja
α(α − 1)(α − 2)⋯(α − n + 1)
an = .
n!
Pelo Exemplo 23 temos
+∞
∑ ∣an ∣ = +∞.
n=1
43
Porém, sendo
n−α
∣ ∣= < 1, pois − α < 1,
an+1
an n+1
temos que a sequência (∣an ∣) é decrescente e existe
lim ∣an ∣ = L.
n→+∞
Mostremos que L = 0.
Fixando n ∈ N e escrevendo β = 1 + α, da dupla desigualdade −1 < α < 0
segue a dupla desigualdade 0 < β < 1 e, para p ∈ N arbitrário,
n − α n + 1 − (1 + α)
∣ ∣= = =1−
an+1 β
n+1 n+1 n+1
,
an
∣ ∣=∣ ⋯ ∣ = (1 − ) (1 − ) ⋯ (1 − ),
an+p an+p an+p−1 an+1 β β β
an an+p−1 an+p−2 an n+p n+p−1 n+1
β p β p+n β −n
(∗) ∣ ∣ ≤ (1 − ) ≤ (1 − ) (1 − ) .
an+p
an n+p n+p n+p
Como
lim (1 − ) = ea ,
a x
x→+∞ x
tomando em (*) o limite para p → +∞ obtemos
é convergente ♣
44
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
Prova.
Sejam an = inf Xn e bn = sup Xn , onde n ∈ N. Sejam a = lim an e b = lim bn .
Mostremos que todo valor de aderência de (xn ) pertence a [a, b]. Considere-
mos x = lim xnk , com (xnk ) uma subsequência convergente de (xn ). Temos
ank ≤ xnk ≤ bnk , para todo k ∈ N. É claro que ank → a e bnk → b. Segue
a = lim an = lim ank ≤ x = lim xnk ≤ lim bnk = lim bn = b. Logo, x ∈ [a, b].
Só nos falta então mostrar que a e b são valores de aderência.
Iniciemos com a sequência crescente (an ) = (inf Xn ). Dado ǫ = 1, como
an ↗ a segue que existe m ∈ N tal que a − 1 < am = inf Xm ≤ a. Por
definição de ı́nfimo, existe n = n1 ≥ m tal que inf Xm ≤ xn1 < a + 1. Segue
xn1 ∈ (a − 1, a + 1). Dado ǫ = 1/2, existe m > n1 tal que a − 1/2 < inf Xm ≤ a.
Armentando como antes obtemos n2 > n1 tal que xn2 ∈ (a − 1/2, a + 1/2).
Por iteração, construı́mos ank → a. Logo, a é valor de aderência.
Trocando (xn ) por (−xn ), −b é valor de aderência de (−xn ) e b de (xn )♣
8
Gauss, com tais notações, definiu corretamente os limites inferior e superior de uma
sequência e provou o Teorema acima, em um fragmento de 1800 só publicado no inı́cio do
século XX.
45
1.11 - Representação Decimal
Em 1790, na França, com a nova ordem , foi criada uma comissão para a re-
forma dos pesos e medidas e em 1799 o sistema métrico como hoje o conhecemos
e o sistema decimal foram adotados. Haviam proponentes do sistema duode-
cimal. A. M. Legendre (1752-1833) não foi apontado por não ser claramente
pró-revolucionário (mediu o comprimento de um meridiano facilitando a adoção
do metro e talvez para provocar os duodecimalistas tenha aventado o sistema de
base onze). Lagrange, a princı́pio , também não foi apontado, por ser estrangeiro.
x = a0 + + 2 + ⋯ + n,
a1 a2 an
10 1 10 10
com a0 um natural arbitrário e a1 , a2 , . . . , an naturais tais que 0 ≤ ai ≤ 9, é usual-
mente indicado em sua representação decimal finita
x = a0 , a1 a2 ... an
= n , com a, n ∈ N,
1 a
3 10
então 3a = 10n o que é impossı́vel pois 3 não divide 10.
Prova.
46
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
a0 ≤ x < a0 + 1.
47
A representação decimal infinita de x > 0 não é necessariamente a única re-
presentação. Uma outra surge ao escolhermos a0 o maior inteiro estritamente
menor que x e trocarmos a desigualdade imposta no enunciado do Teorema da
representação decimal pela condição
rn < x ≤ rn +
1
.
10n
Assim procedendo obtemos
1= + 2 + . . . , + n + . . . = 0, 999999 . . .
9 9 9
10 10 10
e também
= + 2 + 3 = 0, 125000 . . . e
1 1 2 5
8 10 10 10
= + 2 + 3 + 4 + 5 + ⋯ = 0, 124999 . . . .
1 1 2 4 9 9
8 10 10 10 10 10
Proposição. Os números
x= > 0, com m, n ∈ N,
m
10n
tem apenas duas representações decimais.
48
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
Prova.
x = a0 + + ⋯ + n + ⋯ = b0 + + ⋯ + n + ⋯ , com 0 ≤ ai , bi ≤ 9 e i ∈ N.
a1 an b1 bn
10 10 10 10
Seja p = min {i ∈ N ∶ ai ≠ bi }. Caso p ≥ 1, temos ai = bi se 0 ≤ i ≤ p − 1 e
+⋯+ n +⋯=
ap+1 an k bp+1 bn
p+1 p
+ p+1 + ⋯ + n + ⋯.
10 10 10 10 10
Na equação acima, o máximo no lado esquerdo ocorre se e só se ai = 9, para
todo i ≥ p + 1 e o máximo é
1
.
10p
O mı́nimo no lado direito ocorre se e só k = 1 (estamos supondo k ≥ 1) e
bi = 0, para todo i ≥ p + 1 e o mı́nimo é
1
.
10p
Assim, como vale a igualdade, temos bp = ap + 1 e, para todo i ≥ p + 1, temos
ai = 9 e b i = 0 e
49
Capı́tulo 2
SÉRIES, COMUTATIVIDADE E
ASSOCIATIVIDADE
O conceito de convergência de uma série já havia sido utilizado algumas vezes
por Euler (no século XVIII também foi utilizado, entre outros, o de que o termo
geral tende a zero) e muitos matemáticos haviam operado livremente com séries
divergentes e Euler tentara formalizar o estudo destas séries . Com Cauchy e sua
insistência em que as séries divergentes não possuem soma, e o sucesso de Cours
d’Analyse (1821), a definição atual se estabeleceu.
Em 1833, Cauchy notou que uma série de termos reais não todos positivos
poderia ter uma sub-série divergente e Dirichlet (1837) apresentou os rearranjos
da série harmônica alternada
log 2 = 1 − log 2 = 1 + − + + − + ⋯
1 1 1 3 1 1 1 1 1
+ − +⋯ e
2 3 4 2 3 2 5 7 4
e provou a comutatividade para séries absolutamente convergentes.
51
(Teorema do Rearranjo.) Uma série convergente (de termos reais) que não
é absolutamente convergente pode convergir a um arbitrário dado valor real C
após uma apropriada reordenação de seus termos.
Recordemos que
+∞ +∞
∑ an é absolutamente convergente se ∑ ∣an ∣ < ∞.
n=0 n=0
ordenação)
+∞
∑ aσ(k) , com σ ∶ N → N bijetora,
n=0
Prova.
Então,
ln 2 = 1 −
1 1 1 1 1 1 1
+ − + − + − ... e
2 3 4 5 6 7 8
=
ln 1 1 1 1 1
− + − + + ....
2 2 4 6 8 10
É trivial ver que vale a identidade
52
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
pois uma soma parcial de ordem 2n (par) da terceira e última série acima é
igual à soma parcial de ordem n da segunda série acima e, uma soma parcial
de ordem 2n+1 (ı́mpar) da terceira série acima é igual a sua respectiva soma
parcial de ordem 2n.
Somando a primeira série com a terceira série (ambas acima) obtemos
=1+ − + + − + +
3 ln 2 1 1 1 1 1 1 1 1
− + ... ,
2 3 2 5 7 4 9 11 6
que é um rearranjo da série inicial mas com valor diferente♣
Um exemplo como acima, em R, só poderia ocorrer com uma série alternada
pois, felizmente e como é esperado e mostramos abaixo, todos os rearranjos de
uma série de termos positivos tem um mesmo limite em [0, +∞]. Se este limite é
+∞ dizemos que a série diverge comutativamente a +∞.
Observação. Para uma série ∑+∞ n=0 pn de termos positivos (isto é, pn ≥ 0), con-
vergente ou não, e com sequência de somas parciais (sn ), é fácil ver que
+∞
lim sn = ∑ pn ∈ [0, +∞].
n→+∞
n=0
Prova.
j=1 k=1
segue
+∞ +∞
∑ pn ≤ ∑ pσ(k) .
n=0 k=0
Vice-versa, ∑k=0 pσ(k)
+∞
≤ ∑n=0 pn ♣
+∞
53
Definição. Consideremos uma série real (i.e., de termos reais)
+∞
∑ an .
n=0
⎪ 0 ≤ pn ≤ ∣an ∣ ⎪ an = p n − q n ⎪
2
(2.2.1) ⎨ ⎨ ⎨
⎪ ⎪ ⎪
, e
⎩ 0 ≤ qn ≤ ∣an ∣
⎪ ⎩ ∣an ∣ = pn + qn
⎪ ⎪
⎪
⎪
⎪
⎩ qn = 2 .
∣an ∣−an
(a) ∑ ∣ an ∣ = ∑ pn + ∑ qn .
+∞ +∞ +∞
+∞ +∞
(d) 1 Se ∑ an converge condicionalmente, existe rearranjo divergente de ∑ an .
n=0 n=0
1
A argumentação na prova deste item provém da famosa prova do Teorema de Riemann.
54
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
m→+∞ m→+∞
n=1 n=1 n=1 n=1 n=1 n=1
n=0 ∣an ∣ = +∞. Então, por (a), ao menos uma entre as séries
Por hipótese, ∑+∞
∑n=0 pn e ∑n=0 qn diverge. Logo, estas duas últimas séries divergem.
+∞ +∞
Por indução, o rearranjo obtido é tal que a sequência (tn ) de suas somas
parciais admite uma subsequência (tnk ) com tnk > 1, para todo k, e uma
outra de termos negativos. Logo, (tn ) diverge ♣
55
Corolário. Seja ∑+∞
n=0 an uma série real. As seguintes afirmações são equivalentes.
Prova.
(a) ⇒(b) Pelo teorema imediatamente acima, item (d), a série ∑+∞
n=0 an , conver-
∑n=0 zn
+∞
● A série converge comutativamente se e só se as séries reais
+∞ +∞
∑ Re(zn ) e ∑ Im(zn )
n=0 n=0
56
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
Nesta seção são feitos alguns comentários sobre a associatividade para séries.
Esta seção é bem simples e não é imprescı́ndivel para o entendimento do capı́tulo.
com sequência das somas parciais (sn ), a inserção de parenteses, ainda que infi-
nitos, gera uma série
+∞
∑ bn
n=0
cuja sequência das somas parciais (tn ) é, evidentemente, subsequência de (sn ).
Assim, a inserção de parenteses não altera a soma de uma série convergente.
1 − 1 + 1 − 1 + 1 − 1 + 1⋯.
(1 − 1) + (1 − 1) + (1 − 1) + ⋯.
relacionadas por
57
Exemplifiquemos com a série harmônica
+∞
1
∑
n=1 n
b1 = 1 + , b2 = + , b3 = +
1 1 1 1 1
2 3 4 5 6
e, de maneira geral, bk = 1/(2k − 1) + 1/(2k) para todo k ∈ N.
Prova.
58
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
Como ∑+∞
n=0 an converge, temos
p1 + ⋯ + pn1 > y.
59
Procedendo analogamente com Q, retirados os ı́ndices já coletados, pegamos
os primeiros ı́ndices {n3 + 1, . . . , n4 } satisfazendo
∑n=0 an tal que se (sn ) é a sequência de suas somas parciais temos, para i
+∞
ı́mpar,
sni+1 < x ≤ y < sni , sni − pni ≤ y e sni+1 + qni+1 ≥ x.
+∞
∑ bn = x.
n=0
60
Capı́tulo 3
Entretanto, veremos que para somas não ordenadas e para séries absolutamente
convergentes, efetivamente valem as associações (valem quaisquer associações)
+∞ +∞ +∞
∑ an = ∑ an + ∑ an e ∑ an = ∑ a2n + ∑ a2n+1 .
N 2N 2N+1 n=0 n=0 n=0
61
O caso de uma série complexa (ou de uma soma não ordenada complexa) é
facilmente redutı́vel ao caso real. Assim, tendo em vista que já provamos que as
séries absolutamente convergentes são comutativamente convergentes, ganhamos
muita liberdade ao lidarmos com séries absolutamente convergentes ao aplicarmos
a elas o conceito de associatividade para famı́lias somáveis (apropriado ao
estudo de somas não ordenadas), ao invés da restrita associatividade para séries.
No próximo capı́tulo (Capı́tulo 4) veremos como somar uma famı́lia não ne-
cessariamente enumerável (isto é, indexada em um conjunto não necessariamente
enumerável), de números reais ou complexos.
62
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
+∞
∑ pn = ρ , com ρ = sup { ∑ pn ∶ F ⊂ N e F f inito } ∈ [0, +∞].
n=0 n∈F
Prova.
é óbvio que
+∞
ρ = sup { ∑ pm ∶ F ⊂ N e F finito} ≤ ∑ pn = lim sm ≤ ρ♣
m→+∞
m∈F n=1
O teorema acima sugere o estudo de somas não ordenadas e para tal introdu-
zimos o conceito de famı́lia somável. Somas não ordenadas ocorrem naturalmente
em Teoria da Probabilidade e em Análise Funcional. O tratamento geral de uma
soma de elementos xi , com i ∈ I e I um conjunto de ı́ndices, supõe I um conjunto
de ı́ndices totalmente arbitrário (vide Beardon [11]). Neste capı́tulo, o conjunto
no qual uma soma é indexada é sempre um conjunto enumerável.
λ(xi )I = (λxi )I .
63
Toda sequência é, claramente, uma famı́lia. Neste capı́tulo, I e J indicam
conjuntos enumeráveis de ı́ndices . Se I = N×N = N2 , então a famı́lia x ∶ N×N → K
é chamada sequência dupla. No caso I = N × N × N = N3 , a famı́lia x ∶ N3 → K é
chamada sequência tripla.
Baseando-nos no teorema provado acima, temos as seguintes definições.
Definições. Dada uma famı́lia (p i )i∈I de termos em [0, +∞], indicamos
∑ pi = sup { ∑ pi ∶ F ⊂ I e F f inito } .
i∈F
∑ p i ou ∑ p i .
I i∈I
∑ pi = ∑ pσ(j) .
I J
Corolário. Seja (pn ) uma sequência de termos positivos. Então, (pn ) é uma
sequência somável se e só se a série ∑+∞
n=0 pn é convergente. Nestes casos temos
+∞
∑ pn = ∑ pn .
n=0
64
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
Comentários.
∑ xn
N
para a soma da sequência (xn ) indica que estamos usando N apenas como
conjunto, sem relevância das propriedades de sua ordem. Assim, para a
soma de uma sequência podemos substituir o conjunto de ı́ndices N por
qualquer outro conjunto enumerável (infinito).
● Visto que para uma série ∑+∞n=0 pn de termos reais e positivos, portanto
pois não há risco de dubiedade se a interpretarmos como uma série ou como
uma soma (não ordenada).
65
Definição. Seja J um conjunto de ı́ndices enumerável.
(pj )J e (qj )J
∑ xj = ∑ p j − ∑ q j .
∑ zj = ∑ Re(zj ) + i ∑ Im(zj ).
∑ ∣zj ∣ < ∞.
Comentários.
● Escrevemos
∑ ai < ∞
66
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
n=0
◇ Para finalizar, suponhamos que (a) ou (b) ou (c) vale. Sendo assim, pelas
definições dadas acima temos ∑ zj = ∑ Re(zj ) + i ∑ Im(zj ) e também temos
∑ Re(zj ) = ∑ pj − ∑ qj e ∑ Im(zj ) = ∑ Pj − ∑ Qj .
Então, aplicando os corolários acima obtemos
Donde segue,
67
Corolário. Seja (zi )I uma famı́lia somável e J um subconjunto de I. Então,
também a famı́lia (zi )i ∈ J é somável.
Prova.
Pelo lema acima, item (b), temos ∑i∈I ∣zi ∣ < ∞ e, pela inclusão J ⊂ I, a
desigualdade
∑ ∣zi ∣ ≤ ∑ ∣zi ∣ .
i∈J i∈I
(a) ∑(aj + bj ) = ∑ aj + ∑ bj .
(b) ∑ λaj = λ ∑ aj .
também converge. Portanto, pelo mesmo lema, a famı́lia (aj +bj )J é somável
e
+∞ +∞ +∞
∑(aj + bj ) = ∑ ( aσ(n) + bσ(n) ) = ∑ aσ(n) + ∑ bσ(n) = ∑ aj + ∑ bj .
J n=0 n=0 n=0 J J
68
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
3.3 - Associatividade
I = {1, 2, 3, 5, 7, . . .},
69
Teorema (Associatividade e Dissociatividade). Seja (pn ) uma sequência
de termos em [0, +∞]. Seja N = ⊍ J i uma partição qualquer de N. Então,
I
∑ pn = ∑ ∑ pn .
i ∈ I n ∈J i
Prova.
∑ pn ≤ ∑ pn + ⋯ + ∑ pn ≤ ∑ ∑ pn
n∈F Ji1 Jik i∈ I n ∈J i
∑ pn ≤ ∑ ∑ pn .
i∈ I n ∈J i
∑ pn + ⋯ + ∑ pn ≤ ∑ pn .
n∈Fi1 n∈Fik
∑ pn + ∑ pn + ⋯ + ∑ pn ≤ ∑ pn .
Ji1 Ji2 Jik
∑ ∑ pn ≤ ∑ pn ♣
i∈I n∈J i
70
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
Corolário (Lei Associativa Para Somas). Seja (an ) uma sequência somável.
Suponha
N = ⊍ J i uma partição arbitrária de N.
I
∑ an = ∑ ∑ an .
I n∈J i
Prova.
∑ an = ∑ p n − ∑ q n ,
∑ an = ∑ Re(an ) + i ∑ Im(an )
Corolário. Seja (an ) uma sequência somável. Suponha (Im ) uma sequência
crescente arbitrária de subconjuntos de N tal que
⋃ Im = N
(dita uma sequência exaustiva para N). Então, a famı́lia (an )n∈Im é somável, para
todo m ∈ N, e
lim ∑ an = ∑ an .
m→+∞
n∈Im
Prova.
71
(a) Suponhamos an ≥ 0, para todo n ∈ N. É fácil ver que temos
0 ≤ ∑ an ≤ ∑ an para todo m ∈ N,
n∈Im
que a sequência
( ∑ an ) é crescente
n∈Im m∈N
e que vale a desigualdade
lim ∑ an ≤ ∑ an .
m→+∞
n∈Im
∑ an ≤ ∑ an ≤ m→+∞
lim ∑ an .
n∈F n∈Im n∈Im
Donde segue
∑ an ≤ m→+∞
lim ∑ an .
n∈F n∈Im
∑ an ≤ m→+∞
lim ∑ an .
n∈Im
e do caso (a).
e do caso (b)♣
72
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
Seguem versões da lei associativa para uma sequência dupla (a(n,m) ) N×N . In-
dicamos anm = a(n,m) os termos de uma sequência dupla e sua soma por
∑ ∑ anm = ∑ anm .
i∈I (n,m)∈Ji
73
Prova. [Vide figuras 3.1, 3.2 e 3.3(a) a seguir.] A somabilidade de (anm ) é trivial.
Observação. Supondo
+∞ +∞
∑ an = a e ∑ bm = b,
n=0 m=0
é a série
+∞
(a0 b0 ) + (a0 b1 + a1 b0 ) + ⋯ = ∑ cp , com cp = ∑ an b m .
p=0 n+m =p
74
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
Corolário. Sejam
∞ ∞
∑ an = a e ∑ b m = b
(a) ∑ an bm = ab.
(b) O produto de Cauchy das séries apresentadas é também uma série absoluta-
mente convergente e tem por soma
+∞
∑ ( ∑ an bm ) = ab.
p=0 n+m=p
Prova.
É claro que
∑ ∣an bm ∣ = (∑ ∣an ∣) (∑ ∣bm ∣) < ∞.
(a) Pela fórmula (c) para a soma de uma sequência dupla segue trivialmente
+∞ +∞
∑ an bm = ∑ ∑ an bm = ab.
n=0 m=0
e então aplicando o item (a), a fórmula (a) para a soma de uma sequência
dupla e o lema soma/série obtemos
+∞ +∞
ab = ∑ an bm = ∑ cp = ∑ cp , com cp = ∑ an bm e ∑ ∣cp ∣ < ∞♣
p∈N p=0 n+m=p p=0
75
= ×
= ∑
N×N
.
.
.
In
.
.
. I5
I7
I3 I4
I2 I2
I1 . . .
I1
I3 I6
In ⊂ In+1 e ⋃ In = N × N In ⋂ Im ≠ ∅ , n ≠ m , e ⋃ In = N × N
lim ∑ aij = ∑ anm ∑ ∑ aij = ∑ aij
n→+∞ In N×N N In N×N
(a) Sequência exaustiva para N×N. (b) Associatividade.
+∞ +∞
∑ ∑ anm
n=0 m=0
+∞ +∞
m=0
∑ a1m ..... ∑ anm
m=0
+∞
∑ ∑ an b m
+∞ +∞
∑ ∑ anm
m=0 n=0
p=0 n+m=p
+∞
∑ anm
n=0
.
.
.
+∞
∑ an1
∑ an b m ∑ an b m
n=0
N × N = ⋃n∈N N × {n}
n+m=1 n+m=p
O Produto de Cauchy
+∞ +∞
(a) ∑ ∑ anm = ∑ anm (b) N × N = ⋃ {(n, m) ∶ n + m = p}
m=0 n=0 N×N p∈N
76
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
p=0 n+m=p
∑ an bm z n+m = ∑ ∑ an bm z p = ∑ cp z p , com cp = ∑ an bm .
p∈N n+m=p p∈N n+m=p
Exemplo 30. Se ∣z∣ < 1, a soma da sequência dupla dada pela matriz
⎛ z z2 z 4 ..... ⎞
z3
⎜ ⎟
⎜ z 2 z 3 z 4 z 5 ..... ⎟
⎜ ⎟
⎜ ⎟
⎜ z 3 z 4 z 5 z 6 ..... ⎟
z
⎜ ⎟ (1 − z)2
é .
⎜ ⎟
⎜ ..... ..... ..... .... ..... ⎟
⎜ ⎟
⎝ ..... ..... ..... .... ..... ⎠
Prova. Inicialmente mostremos que a sequência dupla é somável.
A soma dos valores absolutos dos elementos na n-ésima linha, n = 1, 2, . . . é
+∞
∣z∣n
∑ ∣z∣n+p = ∑ ∣z∣n+p =
1 − ∣z∣
,
p∈N p=1
77
3.5 - A Exponencial Complexa e as Funções Trigonométricas
= ez , para todo z ∈ C.
ez+h − ez
lim
h→0 h
Prova.
+∞
1 n=p +∞
(z + w)p
= ∑ z n wp−n = ∑ = exp(z + w) .
p!
∑
p=0 p ! n=0 n! (p − n)! p=0 p!
78
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
(1 + ) ≤ 1 + 1 + + + ⋯ + , para todo n ∈ N.
1 n 1 1 1
n 2! 3! n!
Está provado e ≤ exp(1). Segundo, fixemos m tal que m ≤ n. Então segue
(1 + ) ≥
1 n
n
≥ 1+1+ (1 − )+ (1 − ) (1 − )+⋯+ (1 − ) ⋯ (1 − ).
1 1 1 1 2 1 1 m−1
2! n 3! n n m! n n
A seguir, impondo n → +∞ concluı́mos que
e = lim (1 + ) ≥ 1 + 1 + + ⋯ +
1 n
, para todo m ∈ N.
1 1
n 2! m!
Isto prova e ≥ exp(1).
zj
ez = lim ∑ = lim ( ∑ ) = lim ∑ = ez .
n n n
zj zj
j=0 j! j=0 j! j=0 j!
n→+∞ n→+∞ n→+∞
Ainda mais,
79
(g) É fácil ver que temos
1 +∞ hn 1 +∞ hn
= (∑ − 1) = = 1+ +
eh − 1 h h2
∑ + ⋯.
h h n=0 n! h n=1 n! 2! 3!
∣ h∣ ∣ h∣2
∣ − 1∣ ≤ ( + ⋯) ≤ ∣ h∣ [ + + ⋯] ≤ e∣ h∣.
eh − 1 1 1
+
h 2! 3! 2! 3!
Donde segue,
lim ( − 1) = 0.
eh − 1
h→0 h
= lim = ez lim = ez ♣
ez+h − ez ez eh − ez eh − 1
lim
h→0 h h→0 h h→0 h
Pela associatividade para somas não ordenadas, dado θ ∈ R temos (por favor,
cheque)
Ainda, as partes real e imaginária da série acima são as séries de Taylor na origem
das funções reais cos θ e senθ, respectivamente (vide Capı́tulo 1).
80
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
Prova.
⎨
⎪
⎪
⎪
⎪
⎪
⎪ sen x = − lim cos(x+h)−cos x
= cos′ x ♣
⎩ h→0 h
81
Teorema (Número de Landau). Existe o menor l > 0 tal que cos l = 0.
Prova.
cos 2 = (1 − + ) + [(− + ) + (− ) + ⋯] ,
22 24 26 28 210 212
(10)! (12)!
+
2! 4! 6! 8!
temos
= −1 + = −
22 24 2 1
1−
+
2! 4! 3 3
e com cada uma das parcelas entre colchetes satisfazendo
82
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
Prova.
(a) Temos, ∣eiθ ∣2 = eiθ eiθ = eiθ e−iθ = e0 = (cos θ + isen θ)(cos θ − isen θ) = 1.
Pelo item (b) temos 1 = ∣eiπ/2 ∣ = ∣sen(π/2)∣. Logo, sen(π/2) = ±1. É fácil
ver que cos θ é positiva em (0, π/2), implicando que sen θ é crescente em
(0, π/2), com ∣sen θ∣ ≤ ∣eiθ ∣ = 1 para todo θ ∈ R. Seguem então
sen(π/2) = +1 e eiπ/2 = i.
α= ∈ (0, ) .
θ π
4 2
Como cos 0 = 1 e cos(π/2) = 0 e a função cos x (com cos x = sen′ x) é
estritamente positiva no intervalo (0, π/2), temos que a função sen x é es-
tritamente crescente neste intervalo. É claro que sen0 = 0 e, pelo item (b),
sen(π/2) = 1. Logo, concluı́mos que sen x ∈ (0, 1) se x ∈ (0, π/2). Donde
então segue eiα ∉ {+1, −1, +i, −i}. Logo, eiθ = (eiα )4 ≠ 1.
z = iy ∈ 2πiZ.
83
√
(f) Seja ω = a + ib, com 1 = ∣ω∣ = a2 + b 2 .
Suponhamos a > 0 e b > 0 [logo, a, b ∈ (0, 1)]. Como a função cos x restrita a
[0, π/2] é contı́nua, estritamente decrescente e satisfaz cos 0 = 1 e cos π/2 = 0,
pelo teorema do valor intermediário segue que
Donde encontramos
sen2 θ = 1 − cos2 θ = 1 − a2 = b2 .
Assim, como a função sen x é positiva em [0, π/2] [vide a prova do item
(b)], segue que sen θ = b. Logo,
Suponhamos a < 0 e b > 0. Então, existe θ ∈ (0, π/2) tal que eiθ = b − ai.
Assim, α = θ + π/2 ∈ (π/2, π) e eiα = ei(θ+π/2) = eiθ eiπ/2 = (b − ai)i = a + bi = ω.
Suponhamos b < 0 e a ≠ 0. Pelos casos acima existe θ ∈ (0, π) tal que
eiθ = −a − bi. Assim,
(g) Dado w ∈ C ∖ {0}, temos ∣w∣ ≠ 0 e assim, como exp ∶ R → (0, +∞) é bijetora,
existe x ∈ R tal que ex = ∣w∣. Ainda mais, como
∣ ∣ = 1,
w
∣w∣
84
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
iR . iR R2 ∖ {(0, 0)}
.
.
exp
4πi
0000000000000000
1111111111111111
2πi
1111111111111111
0000000000000000
0000000000000000
1111111111111111
0 −2πi R R
−4πi
Prova. Pela definição das funções sen z e cos w e pela fórmula acima temos,
sen z cos w + sen w cos z =
85
3.6 - Teoremas de Mertens e Abel para o produto de séries
A série
(−1)n
+∞
∑√
n=1 n+1
não é absolutamente convergente pois temos
+∞
√ ≥ = +∞,
1 1 1
e ∑
n+1 n+1 n=1 n
Seja
(−1)n
an = √ , onde n ∈ N.
n+1
Dados m, n ∈ N, temos 0 ≤ (m − n)2 = m2 − 2mn + n2 e
√ √
2 m + 1 n + 1 ≤ m + 1 + n + 1 = m + n + 2.
(−1)p am an = √ √ ≥
1 2
e
m+1 n+1 p+2
c p = ∑ am an
m+n=p
Notemos que o produto de Cauchy entre duas séries ∑+∞ n=0 an e ∑n=0 bn não é,
+∞
em geral, um produto. Porém, ele pode ser obtido por associação de algumas das
séries definidas como um produto das duas citadas séries.
86
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
∑n=0 bn = B, então o produto de Cauchy destas séries converge e tem soma AB.
+∞
Prova.
Sejam cn = ∑ ak bn−k e
n
k=o
An = ∑ ak , B n = ∑ bk , C n = ∑ ck , βn = Bn − B.
n n n
Então,
γn = a0 βn + a1 βn−1 + ⋯ + an β0 ,
Dado ǫ > 0 existe N ∈ N tal que ∣βn ∣ ≤ ǫ, para todo n ≥ N . Donde, para
n > N segue
e consequentemente
1
Franz C. J. Mertens (1840-1927), de ancestralidade germânica, nasceu em uma vila à época
na Prussia e hoje na Polônia e foi aluno de Weierstrass em Berlim.
87
Utilizando séries de potências, prova-se facilmente o resultado abaixo.
+∞ +∞ +∞
∑ c n = ( ∑ an ) ( ∑ b n ) .
n=0 n=0 n=0
Teorema. Sejam ∑+∞ n=0 an = a e ∑m=0 bm = b séries convergentes não nulas. Con-
+∞
Prova.
(⇒) Por hipótese temos ∑ ∣an bm ∣ < ∞ e então, para an0 ≠ 0 temos
p=1
Por fim, ocorrendo uma das hipóteses no enunciado temos que a sequência
dupla (an bm ) é somável. Assim, pelo lema soma/série segue
+∞
∑ an bm = ∑ cp = ab♣
p=0
88
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
Definição. Dada a série ∑+∞ n=0 zn , seja sn a sua n-ésima soma parcial e seja
τn = , onde n ∈ N.
s1 + ⋯ + sn
n
n=0 zn é Cesaro-somável [ou (C,1) somável] se (τn ) converge. Se lim τn = s
A série ∑+∞
então s é a soma de Cesaro [ou soma (C,1)] de ∑+∞
n=0 zn e escrevemos
+∞
∑ zn = s (C, 1).
n=0
n=0 zn = s ∈ C então
Teorema. Se ∑+∞
+∞
∑ zn = s (C, 1) [i.e., no sentido de Cesaro].
n=0
sn =
1 zn
− ,
1−z 1−z
n 1
(z + ⋯ + z n ) 1 z(1 − z n )
τn = = =
s1 + ⋯ + sn 1−z − 1−z 1
1 − z n (1 − z)2
− .
n n
Desta forma, com a desigualdade
z(1 − z n ) ∣1 − z n ∣
∣ ∣ = ≤
2
(1 − z) 2 ∣1 − z∣ 2 ∣1 − z∣ 2
concluı́mos que
lim τn =
1
♣
n→+∞ 1−z
89
Capı́tulo 4
4.1 - Associatividade
91
Também escrevemos
∑ pj para ∑ pj , ou mesmo ∑ pj
J j∈J
(a) ∑(pj + qj ) = ∑ pj + ∑ qj .
∑ pj = ∑ pσ(k) .
J K
Prova.
∑ pj e ∑ pσ(k) ♣
J K
Dada uma famı́lia (pj )J em [0, +∞], se ∑J pj é finito (um número real), dize-
mos que (pj )J é uma famı́lia somável e que sua soma é o número real (e positivo)
∑ pj .
J
Escrevemos
∑ pj < ∞,
J
⊍ Jk = ⊍ Jk .
k∈K K
92
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
∑ pj = ∑ ∑ pj .
J k∈K j∈Jk
∑ pj = ∑ pj + ⋯ + ∑ pj ≤ ∑ pj + ⋯ + ∑ pj ≤ ∑ ∑ pj
F F ∩Jk1 F ∩Jkl Jk 1 Jk l k∈ K j ∈J k
∑ pj ≤ ∑ ∑ pj .
J k∈ K j ∈J k
∑ pj + ⋯ + ∑ pj ≤ ∑ pj .
Fk1 Fkl J
∑ pj + ∑ pj + ⋯ + ∑ pj ≤ ∑ pj .
Jk 1 Fk2 Fkl J
∑ pj + ∑ pj + ⋯ + ∑ pj ≤ ∑ pj .
Jk 1 Jk 2 Jk l J
∑ ∑ pj ≤ ∑ pj ♣
k∈K j∈J k J
93
Seja x ∈ R. Suas partes positiva e negativa são, respectivamente,
⎧
⎪ ⎧
⎪
⎪ x, se x ≥ 0 ⎪ 0, se x ≥ 0
p=⎨ q=⎨
⎪ ⎪
e
⎪
⎩ 0, se x ≤ 0 ⎪
⎩ −x , se x ≤ 0.
Temos,
⎧
⎪ ⎧
⎪ ⎧
⎪
⎪ 0 ≤ p ≤ ∣x∣ ⎪ x=p−q ⎪ p=
∣x∣+x
⎨ ⎨ ⎨
⎪ ⎪ ⎪
2
, e
⎩ 0 ≤ q ≤ ∣x∣
⎪ ⎩ ∣x∣ = p + q
⎪ ⎩ q=
⎪
∣x∣−x
2 .
∑ xj = ∑ p j − ∑ q j .
∑ zj = ∑ Re(zj ) + i ∑ Im(zj ).
94
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
Prova.
Pelo teorema acima temos ∑J ∣zj ∣ < ∞. É fácil ver que ∑K ∣zk ∣ ≤ ∑J ∣zj ∣.
Utilizando novamente o teorema acima, concluı́mos que (zk )K é somável♣
(a) ∑(aj + bj ) = ∑ aj + ∑ bj .
(b) ∑ λaj = λ ∑ aj .
Prova. Exercı́cio.
Teorema (Propriedade Comutativa). Seja (zj )J uma famı́lia somável ar-
bitrária de números complexos e σ ∶ K → J uma bijeção. Então,
∑ zj = ∑ zσ(k) .
J k∈K
Prova. Exercı́cio.
95
Teorema (Lei Associativa para Somas Não Ordenadas). Seja (zj )J uma
famı́lia somável em C. Suponha J uma união de conjuntos Jk , com k em K, dois
a dois disjuntos. Então, a famı́lia (zj )j∈Jk é somável, para todo k em K, e
∑ zj = ∑ ∑ zj .
J k∈K J k
Prova.
(b) Existe α ∈ C tal que ∀ǫ > 0, existe um conjunto finito Fǫ ⊂ J tal que
∣ ∑ aj − α∣ < ǫ ,
j∈F
Prova.
(a) ⇒(b) Por hipótese, as famı́lias (Re(aj ))J e (Im(aj ))J são somáveis. Donde,
escrevendo α = Re(α) + iIm(α) e utilizando as desigualdades
96
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
Dado ǫ > 0 existe, por definição de sup, Fǫ finito contido em J tal que
P − ǫ < ∑ pj ≤ P.
Fǫ
P − ǫ < ∑ pj ≤ ∑ pj ≤ P
Fǫ F
e portanto
P − ǫ ≤ ∑ pj ≤ P
F
Q − ǫ ≤ ∑ qj ≤ Q.
G
P − ǫ ≤ ∑ pj ≤ P e Q − ǫ ≤ ∑ qj ≤ Q.
H H
Portanto
P − ǫ − Q ≤ ∑ pj − ∑ qj ≤ P − Q + ǫ,
H H
o que implica
−ǫ ≤ ∑(pj − qj ) − (P − Q) ≤ ǫ.
H
∣∑ aj − α∣ ≤ ǫ,
H
para todo conjunto H finito tal que Hǫ ⊂ H ⊂ J. Isto encerra este caso.
97
(b) ⇒(a) Analogamente ao caso “(a)⇒(b)”, podemos supor (aj ) e α em R.
Dado ǫ = 1 existe F finito (que fixamos) em J tal que
segue facilmente
∑ p j = ∑ aj = ∑ aj + ∑ aj
H H′ H ′ ∩F H ′ ∖F
≤ ∑ pj + ∑ aj − α + α − ∑ aj .
F F ∪(H ′ ∖F ) F
∑ pj ≤ 2 + ∑ pj < ∞.
J F
98
Oswaldo Rio Branco de Oliveira
BIBLIOGRAFIA
Departamento de Matemática
Universidade de São Paulo
oliveira@ime.usp.br
http://www.ime.usp.br/~oliveira
99