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Análise Psicológica (2005), 2 (XXIII): 111-127

Desenvolvimento psicossocial e ansiedades


nos jovens

MARIA DA GRAÇA SILVA (*)


MARIA EMÍLIA COSTA (**)

INTRODUÇÃO ral e histórico). Nesta perspectiva o desenvolvi-


mento é orientado por um princípio epigenético,
Apesar da evolução que se tem verificado no uma espécie de planeamento básico que determi-
estudo da ansiedade, muito permanece ainda des- na a emergência das diferentes tarefas psicosso-
conhecido. A maior parte da investigação empí- ciais no momento oportuno e de forma integrada.
rica realizada neste domínio tem-se focado em Em cada estádio do desenvolvimento psicosso-
factores que actuam de forma isolada (Vasey & cial o indivíduo depara-se com uma crise bipolar
Dadds, 2001) e centram-se geralmente em faixas cuja resolução pode ocorrer de modo equilibrado
etárias específicas (Baptista, 2000). Poucos são os e de forma dinâmica entre dois pólos (Ex.: con-
que tem em conta o impacto do desenvolvimen- fiança básica vs. desconfiança), ou ser uma reso-
to na génese e manutenção da ansiedade. lução com dominância do sentido negativo ou po-
Uma teoria que poderá contribuir para a com- sitivo com implicações para o ajustamento psi-
preensão da estruturação da ansiedade ao longo cossocial do indivíduo. Assim, cada estádio é con-
da vida é a teoria do desenvolvimento psicosso- siderado um potencial ponto de viragem, o qual
cial de Erik Erikson. Este modelo enfatiza o de- determina um desenvolvimento saudável por
senvolvimento humano desde o nascimento até oposição a um desenvolvimento patológico. De
ao fim da vida considerando a interacção do in- salientar que a resolução de um estádio é inde-
divíduo com o seu meio (afectivo, social, cultu- pendente da resolução do anterior, mas a quali-
dade da resolução de um estádio actual depende
dos anteriores.
A juventude (objecto do nosso estudo) é uma
fase de procura de si próprio e de um sentido pa-
(*) Mestre em Psicologia na Área de Consulta Psico- ra a vida. É neste período que o jovem se vai con-
lógica de Jovens e Adultos; Técnica Superior da Facul-
dade de Psicologia e de Ciências da Educação da Univer- frontar com tarefas fundamentais ao seu desen-
sidade do Porto. volvimento, nomeadamente a construção da sua
(**) Professora Associada com Agregação da Facul- identidade, a procura de autonomia face aos pais,
dade de Psicologia e de Ciências da Educação da Uni- a procura de novas relações significativas (ami-
versidade do Porto. Coordenadora do Instituto de Con-
gos, namorados). Esta fase de grandes mudanças
sulta Psicológica, Formação e Desenvolvimento da Fa-
culdade de Psicologia de de Ciências da Educação da vai exigir ao jovem uma síntese e integração das
Universidade do Porto. tarefas psicossociais anteriores. Assim, o jovem

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que não resolveu as crises dos estádios anteriores Hipótese 2. Espera-se que o género masculino
de modo construtivo vai ser mais susceptível a ter apresente níveis mais elevados de pensamentos
medos, dúvidas, vergonha e inseguranças que po- obsessivos e comportamento compulsivos com-
derão estar na base da estruturação de sintomas parativamente ao género feminino.
de ansiedade. Este período etário podendo ser de Os estudos de prevalência das obsessões e com-
reorganização e reestruturação é, por isso, vul- pulsões relativos ao género indicam variações con-
nerável ao surgir de sintomas ansiosos que po- forme a faixa etária analisada. Atendendo a que
derão ser passageiros ou, pelo contrário, estrutu- na infância e adolescência existe uma predomi-
rarem-se tomando a forma de síndrome de ansie- nância no género masculino (Burke, Burke & Re-
dade. gier, 1990; Marks, 1987; Riggs & Foa, 1993; Stur-
Assim, este trabalho tem como objectivo prin- gis, 1993; Weiss & Last, 2001) e que a idade de
cipal analisar a eventual influência das diferentes início desta perturbação se situa na juventude (Mi-
tarefas psicossociais no desenvolvimento de an- nichiello, Baer, Jenike & Holland, 1990; Pato,
siedade em jovens. Partindo dos estádios de de- 1992; Steketee, 1993) esperamos que os rapazes
senvolvimento psicossocial da teoria de Erikson, evidenciem mais características deste tipo.
avaliar-se-á de que forma a resolução das dife- Hipótese 3. A existência de diferenças de gé-
rentes tarefas psicossociais se relaciona com os nero relativamente aos estádios do desenvolvi-
medos simples, a fobia social, a agorafobia e os mento psicossocial assume neste estudo um ca-
pensamentos ou impulsos obsessivos e os com- rácter exploratório.
portamentos compulsivos de verificação e conta- Hipótese 4. Espera-se encontrar uma relação
minação. Perceber esta relação constitui uma con- negativa entre o equilíbrio de cada uma das tare-
tribuição importante para a intervenção, na me- fas desenvolvimentais, os medos e as caracterís-
dida em que estas tarefas podem ser actualizadas ticas obsessivo-compulsivas (pensamentos e im-
e trabalhadas sem necessidade de uma terapia re- pulsos obsessivos e, comportamentos de lavagem
gressiva facilitando a optimização de novos de- e de verificação).
senvolvimentos. De acordo com a literatura revista, o sentimen-
to de confiança básica é fundamental para uma
visão positiva de si próprio e dos outros. Os indi-
HIPÓTESES víduos com confiança sentem-se seguros, dese-
jados e capazes de amar e ser amados pelos ou-
Este estudo pretende ter um carácter explora- tros e são menos propensos a desenvolver psico-
tório quanto à influência do desenvolvimento psi- patologia (Manassis, 2001; Warren, Huston, Ege-
cossocial na ansiedade. A partir da revisão da li- land & Sroufe, 1997). Por outro lado, os indiví-
teratura e da experiência da intervenção em con- duos com perturbações de ansiedade parecem não
sulta psicológica formulamos as seguintes hipóte- ter desenvolvido um sentimento de confiança bá-
ses: sica uma vez que percepcionam ter sido rejeita-
Hipótese 1. De acordo com a literatura é de es- dos pelos pais na infância e adolescência (Cana-
perar que o género feminino apresente mais me- varro, 1999; Silva & Costa, 2000).
dos que o género masculino. Assim, verifica-se O sentimento de autonomia tem sido conside-
uma maior prevalência no género feminino das rado fundamental para a adaptação psicológica
fobias simples (Bamber, 1979; Fonseca, 1993; Marks, (Geuzaine & Debry, 2000; Kenny, 1992, 1994;
1987; Ollendick, 1985; Weiss & Last, 2001) e na Lapsley, Rice & Fitzgerald, 1990). Por outro la-
agorafobia (Capps & Ochs, 1995; Emmelkamp, do, a literatura também refere que os indivíduos
Bouman & Scholing, 1992; Öst, 1987; Turgeon, ansiosos são os que apresentam maior dependên-
Marchand & Dupuis, 1998); na fobia social a pre- cia e maior restrição à autonomia e inibição de con-
valência varia em função do tipo de população tactos sociais (Barlow, 1988; Bowlby, 1973; Buss,
estudada (normal ou clínica). Verificando-se tam- 1980; Guidano & Liotti, 1983; Guidano, 1991; Gou-
bém que nas populações normais os medos so- veia, 2000). O sentido de vergonha, pólo mais ne-
ciais aparecem com maior prevalência no género gativo deste estádio, aparece associado a maior
feminino (Cunha, 1996; Salvador, 1997; Essau, Con- desadaptação psicológica (Buss, 1980; Tangney,
radt & Petermann, 1999). Wagner & Grazow, 1992; Reynolds & Salkovs-

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kis, 1991), associado a um sentimento de não ter METODOLOGIA
valor (“eu não presto”).
O sentido de iniciativa está relacionado com a
capacidade de desenvolver projectos, planear e Constituição da amostra
executar, o que se tornam requisitos muito impor- A amostra é constituída por 511 alunos univer-
tantes para adaptação na nossa sociedade em par- sitários, sendo 363 raparigas (71%) e 148 rapa-
ticular no contexto académico cada vez mais exi- zes (29%), com idades compreendidas entre os
gente e competitivo. A culpa, pólo mais negati- 17 e os 25 anos (média = 20.89, DP = 1.88), de
vo, está relacionado com o fracasso (“eu errei”) diferentes cursos de estabelecimentos de ensino
pelo que mais facilmente pode desencadear an- superior da Universidade do Porto. A construção
siedade (Niler & Beck, 1989; Tangney et al., 1992). da amostra foi realizada de forma aleatória con-
forme a disponibilidade dos professores.
O sentido de indústria está relacionado com sen-
timentos de competência, capacidade e motiva-
Instrumentos
ção para colaborar como outros. A inferioridade
está relacionada com medo do fracasso (“eu não Este estudo utilizou os seguintes instrumentos
sou capaz”), não assertividade e medo do confron- de auto-relato:
to com os outros (Costa, s/d), o que provavel- - Questionário demográfico. Construído para
mente poderá levar ao evitamento das situações o estudo para recolha de informação acerca
de desempenho e relacionamento ou ao confron- de algumas características dos estudantes.
to com essas situações acompanhado de grande - Erikson Psychosocial Stage Inventory (EPSI;
ansiedade. Rosenthal, Gurmey & Moore, 1981). Este
De acordo com a investigação a aquisição do inventário foi construído para avaliar os pri-
sentido de identidade, na medida que é uma ressín- meiros seis estádios da teoria psicossocial
de Erikson. Trata-se de um questionário de
tese das tarefas anteriores, está associada a uma
auto-resposta com 72 itens, organizados em
auto-estima elevada e a adaptação psicológica (aca-
seis sub-escalas baseadas nos seis primeiros
démica, relacional, emocional). Uma identidade estádios de Erikson. Cada sub-escala tem 12
difusa aparece mais relacionada com a desadap- itens, metade corresponde ao sucesso e ou-
tação psicológica (Archer, 1989; Sprinthall & Col- tra metade ao insucesso na resolução da “cri-
lins, 1994) e com maiores níveis de ansiedade (Cos- se” que ocorre em cada estádio. Os sujeitos
ta, 1991). respondem a cada item numa escala de Li-
É consensual que a intimidade com os pares e kert de 1 (quase nunca é verdade) até 5 (qua-
amorosa tem um papel importante no desenvol- se sempre é verdade). Os valores mais eleva-
dos correspondem a uma resolução equili-
vimento emocional e social dos indivíduos. Com
brada da crise, os valores mais baixos corres-
base na investigação são os indivíduos que con- pondem a uma resolução desequilibrada.
seguem estabelecer relações íntimas os que apre- Para a análise das qualidades psicométricas
sentam maior adaptação psicológica (Bagwell, Sch- deste instrumento optou-se por uma análise
midt, Newcomb & Bukowski, 2001; Bukowski, factorial confirmatória por nos parecer mais
Hoza & Boivin, 1993; La Greca, 2001). adequada ao tipo de teoria subjacente ao ins-
Neste sentido, e atendendo ao princípio epige- trumento, uma vez que teoricamente a reso-
nético da teoria de Erikson, espera-se que o está- lução das crises é interdependente. Segun-
do Erikson a resolução das crises precoces
dio da confiança básica, como alicerce do desen-
afectam a resolução das crises tardias e os te-
volvimento psicológico tenha um papel estrutu- mas das oito etapas (confiança, autonomia,
rante na organização de estruturas ansiosas, ain- etc.) existem de algum modo ao longo da vi-
da que cada tarefa de desenvolvimento posterior da. Desta análise confirmatória obtiveram-
assuma a sua especificidade. -se valores de ajustamento adequados, bons

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QUADRO 1
Análise confirmatória do EPSI – valores dos índices de ajustamento por sub-escala e valores
consistência interna

Sub-escala Índices de ajustamento Alpha de Cronbach

GFI AGFI CFI

Confiança vs. desconfiança 0.946 0.915 0.853 0.73


Autonomia vs. vergonha 0.954 0.928 0.937 0.84
Iniciativa vs. culpa 0.879 0.795 0.782 0.71
Indústria vs. inferioridade 0.920 0.880 0.825 0.80
Identidade vs. confusão da identidade 0.932 0.902 0.911 0.84
Intimidade vs. isolamento 0.966 0.932 0.911 0.70

Nota: O valor de referência máximo dos índices de ajustamento é 1, ou seja, quanto mais os índices de ajustamento se aproximam
deste valor de referência, mais o modelo em estudo se aproxima do modelo teórico.

QUADRO 2
Análise factorial do FSS (variância explicada para cada um dos 10 factores)

Factor % variância explicada Alpha de Cronbach

Factor 1 – rejeição social 24.40 0.89


Factor 2 – animais 8.40 0.84
Factor 3 – sangue ferimentos 5.50 0.80
Factor 4 – violência 4.86 0.77
Factor 5 – viagens 4.68 0.69
Factor 6 – mau humor 3.90 0.79
Factor 7 – alturas 3.42 0.93
Factor 8 – pessoas 3.23 0.92
Factor 9 – mau tempo 3.22 0.63
Factor 10 – exposição social 2.96 0.63

índices de saturação, assim como valores 1979). É um questionário de auto-avaliação


de consistência interna razoáveis como se da ansiedade fóbica constituído por três par-
pode observar no Quadro 1. tes: a primeira parte é relativa à avaliação
- Fear Survey Scale (FSS; Wolpe & Lazarus, da fobia mais importante do sujeito, a se-
1966). Esta escala é composta por 75 itens gunda parte é constituída por 3 subescalas:
que teoricamente correspondem aos estímu- agorafobia, fobia social e fobia a sangue e
los fóbicos mais temidos. Os sujeitos respon- ferimentos, a terceira parte contém ques-
dem numa escala de Likert de 1 correspon- tões para avaliar o grau de ansiedade e de-
dente a não ter medo nenhum até ao valor 5 pressão (Emmelkamp et al., 1992). Os su-
indicador de ter bastante medo. Na análise jeitos avaliam o quanto evitam um determi-
factorial exploratória realizada neste estudo nado item fóbico (correspondente ao estímu-
emergiram 10 factores que explicam 64,46% lo que teme) ou grau de ansiedade numa es-
da variância total (Quadro 2). cala de Likert de 0-8.
O alpha de Cronbach varia de .63 a .93. Da análise factorial exploratória efectuada
- Fear Questionnaire (FQ; Marks & Mathews, na nossa amostra resultaram 3 factores: o

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factor 1 (agorafobia) explica 26.40% do to- lação elevada (r = .711) entre o factor 1 (san-
tal de variância, o segundo factor (fobia a gue/ferimentos) do FQ e o factor 3 do FSS
sangue) explica 12.91% e o terceiro factor (sangue/ferimentos) que avaliam o mesmo
(fobia social) explica 9%. O alpha de Cron- medo. Assim optou-se por analisar o factor
bach varia de .65 a .74. 1 do FQ para a avaliação do medo a san-
Resultando uma estrutura factorial semelhan- gue e a ferimentos uma vez que na corre-
te à original e a outros estudos (Baptista, lação anterior também optamos pelo factor
1989). deste questionário.
- Padua Inventory (PI; Sanavio, 1988). Este
instrumento de auto-relato consiste num in- Diferenças de género
ventário de 60 itens que descrevem os com-
portamentos obsessivos e compulsivos mais Para analisar a relação entre estas variáveis
comuns. Cada item é avaliado numa escala optou-se pelo método de análise de variância nos
de Likert de 0-4, em que o zero indica que vários tipos de medos e obsessões-compulsões (co-
não existe qualquer perturbação e 4 indica mo variáveis dependentes). Verifica-se que exis-
um grau elevado de perturbação. Da análise te um efeito principal do género em relação às
factorial exploratória realizada emergiram variáveis dependentes em estudo F(14,494) = 12.239,
4 factores: factor 1 Pensamentos obsessivos que p < 0,001.
explica 27.51% do total de variância, factor
2 (Impulsos obsessivos) que explica 7.83% Diferenças de género e medos
do total de variância, factor 3 (compulsões
de verificação) com 5.67% e o factor 4 (com- Da análise dos resultados podemos constatar
pulsões de limpeza) que explica 4.32% do que para o género feminino as médias são mais ele-
total de variância. O alpha de Cronbach va- vadas em todos os medos comparativamente ao
ria de .83 a .93. género masculino. No entanto, só existem diferen-
ças significativas para alguns medos, nomeada-
mente: agorafobia [F(1,509) = 9.44, p = .002] me-
RESULTADOS do a animais; [F(1,509) = 69.80, p = .000]; medo
de violência [F(1,509) = 46.16, p = .000], medo
de viajar [F(1,509) = 11.78, p = .001], e medo de
mau tempo [F(1,509) = 25.44, p = .000].
Correlação entre os instrumentos de avalia-
ção dos medos
Diferenças de género e características obsessi-
Em geral verifica-se a existência de correla- vo-compulsivas
ções entre os factores de ambos os questionários
o que parece compreensível uma vez que ambos Os resultados indicam que existem diferenças
avaliam medos. No entanto, o valor dessas corre- estatisticamente significativas nos pensamentos
lações é baixo na maior parte dos factores pare- obsessivos e comportamentos compulsivos em fun-
cendo indicar que avaliam medos diferentes. Sa- ção do género [F(4.506) = 4.104, p< 0.001]. Uma
lientam-se duas excepções, nomeadamente: análise das médias permite-nos constatar que o gé-
nero masculino é o que apresenta valores mais ele-
(1) correlações moderadas (r = .422 e r = .484) vados em todos os factores. No entanto, existem
entre o factor 3 (fobia social) do FQ e o factor diferenças significativas do género apenas no sub-
1 (medo de rejeição social) e o factor 10 (me- -tipo das compulsões de verificação [F (1,509) =12,09,
do de exposição social) do FSS que pare- p = .001] e nas de lavagem [F(1,509) = 5,579,
cem avaliar o mesmo tipo de medo. Sendo p = 0.19].
assim, e para simplificar a nossa análise,
utilizaremos apenas o factor fobia social do Diferenças de género e as tarefas do desenvol-
FQ que parece avaliar quer a rejeição quer vimento psicossocial
a exposição social.
(2) do mesmo modo assistiu-se a uma corre- Para analisar a relação entre estas variáveis optou-

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-se pelo método de análise de variância nas vá- constituído pelos indivíduos com “confiança mé-
rias tarefas de desenvolvimento psicossocial (co- dia” (média +/- .25 Dp) e um terceiro grupo de
mo variáveis dependentes). Assim, os resultados indivíduos com “confiança alta” (> percentil 80).
indicam um efeito principal do género em rela- O mesmo procedimento foi realizado para os ou-
ção às variáveis dependentes em estudo (tarefas tros estádios. Apresentamos de seguida os resul-
do desenvolvimento psicossocial), [F(6,504) = 4,361, tados considerando a análise de variância dos gru-
p < 0,001]. No entanto, o efeito do género nas di- pos e teste “post hoc” de Scheffé em cada está-
ferentes tarefas psicossociais só se mostra signi- dio de desenvolvimento psicossocial relativamen-
ficativo para a tarefa da confiança básica vs. des- te aos medos e características obsessivo-compul-
confiança básica [F(1,509) = 6,09, p = .014] e pa- sivas.
ra a indústria vs. Inferioridade [F (1,509) = 4,30,
p = .039], em que se verifica que o género femi- Confiança vs. desconfiança
nino apresenta uma média mais baixa de confi-
ança básica comparativamente ao género mascu- Para o primeiro estádio da teoria psicossocial de
lino e uma média mais elevada na indústria vs. Erikson constata-se que existem diferenças esta-
inferioridade. tisticamente significativas relativamente às variá-
veis dependentes em estudo [F (28.710) = 6,270,
Desenvolvimento psicossocial, medos e carac- p < 0,001].
terísticas obsessivo-compulsivas É o grupo de indivíduos com “confiança baixa”
o que apresenta médias mais elevadas em todos
Para a análise desta relação foram inicialmen- os medos e características obsessivo-compulsi-
te realizadas análises de variância para cada está- vas comparativamente ao grupo de indivíduos com
dio do desenvolvimento psicossocial nos vários ti- “confiança alta”. Verifica-se ainda, que estes in-
pos de medos e nos pensamentos obsessivos e com- divíduos (“confiança baixa”) apresentam médias
portamentos compulsivos e, posteriormente, para mais elevadas comparativamente aos indivíduos
aprofundar os resultados foram realizadas análi- com “confiança média” na fobia social a compul-
ses discriminantes. Seguidamente fazemos uma apre- sões de verificação, como se pode observar no Qua-
sentação detalhada desses resultados. dro 3. As diferenças são estatisticamente signifi-
cativas para todas as variáveis dependentes ana-
Análises de variância lisadas.

Foram realizadas Manovas (com o sexo como Autonomia vs. vergonha


covariante) para cada estádio de desenvolvimen-
to psicossocial nos vários tipos de medos e obses- A sub-escala da autonomia vs. vergonha tam-
sões-compulsões (como variáveis dependentes). bém apresenta diferenças de médias estatistica-
Para isso, foram criados três grupos em cada es- mente significativas entre os grupos [F(28.606)
tádio de desenvolvimento psicossocial que corres- = 5.571, p < 0,001]. Os sujeitos do grupo da “auto-
pondem a diferentes níveis de revolução da tare- nomia baixa” apresentam valores de média mais
fa de cada estádio. Uma vez que a nossa amostra elevados comparativamente aos indivíduos do gru-
apresenta uma distribuição em cada estádio que po da “autonomia alta” nos medos e nas caracte-
se aproxima de um curva normal (o enviesamen- rísticas obsessivo-compulsivas (Quadro 3).
to aproxima-se do valor zero), criou-se em cada As diferenças de médias são estatisticamente
estádio um grupo formado pelos indivíduos que significativas para os medos relativamente à ago-
se situam na média +/- .25 do desvio padrão; um rafobia [F(2,315) = 6.72, p = .001], fobia social [F(2,315)
grupo constituído pelos indivíduos abaixo do = 26.32, p = .000], e medo de viajar [F(2,315) =
percentil 20 e outro grupo formado pelos sujeitos 19.62, p = .000]. Quanto às características obses-
que se situam acima do percentil 80. Assim, por sivo-compulsivas constata-se uma diferença signi-
exemplo, relativamente ao primeiro estádio con- ficativa nos pensamentos obsessivos [F(2,315) =
fiança vs. desconfiança temos um grupo consti- 49.28, p = .000], nos impulsos obsessivos [F(2,315)
tuído pelos indivíduos que designamos com “con- = 7.50, p = .001] e nas compulsões de verifica-
fiança baixa” (< percentil 20); um grupo médio ção [F(2,315) = 15.52, p = .000].

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Iniciativa vs. culpa divíduos da “identidade alta”. Os indivíduos do
grupo da “identidade média” apresentam médias
Neste estádio também se encontram diferen- mais elevadas na agorafobia, medo de sangue e
ças significativas entre os grupos relativamente medo de animais comparativamente ao indivíduos
aos medos e às características obsessivo-compul- do grupo “identidade alta” (vd. Quadro 3).
sivas [F(28.726) = 3.600, p < 0,001]. São os su- Verifica-se que as diferenças são estatistica-
jeitos do grupo “iniciativa baixa” que apresen- mente significativas para a agorafobia [F(2,318)
tam médias mais elevadas em todas as variáveis = 11.13, p = .000], fobia social [F(2,318) = 20.64,
dependentes comparativamente aos indivíduos do p = .000], medo de sangue [F(2,318) = 4.68, p =
grupo da “iniciativa alta” e comparativamente aos .010], medo de viajar [F(2,318) = 13.58, p = .000],
indivíduos da “iniciativa média” nas compulsões pensamentos obsessivos [F(2,318) = 47.18, p =
de verificação (vd. Quadro 3). No entanto essas di-
.000], impulsos obsessivos [F(2,318) = 9.32, p =
ferenças só se apresentam estatisticamente signi-
.000], e comportamentos de verificação [F(2,318) =
ficativas para a agorafobia [F(2,375) = 5.15, p =
12.26, p = .000].
.006], fobia social [F(2,375) = 27.27, p = .000],
para o medo de viajar [F(2,375) = 6.12, p = .002]
e de alturas [F(2,375) = 3.55, p = .03], pensamen- Intimidade vs. isolamento
tos obsessivos [F(2,375) = 16.33, p = .000] e com-
A sub-escala da intimidade vs. isolamento tam-
pulsões de verificação [F(2,375) = 11.72, p = .000].
bém apresenta diferenças de médias estatistica-
mente significativas entre os grupos [F(28.604)
Indústria vs. inferioridade = 2.592, p < 0,001]. Os resultados mostram que
os sujeitos do grupo da “intimidade baixa” apre-
A sub-escala da indúsria vs. inferioridade tam-
bém apresenta diferenças de médias estatistica- sentam valores de média mais elevados nas va-
mente significativas entre os grupos, [F(28.630) riáveis dependentes comparativamente aos indi-
= 3.791, p < 0,001]. Os sujeitos do grupo da “in- víduos do grupo da “intimidade alta” (vd. Qua-
dústria baixa” apresentam valores de média mais dro 3). As diferenças entre os grupos mostram-se
elevados nos medos e as características obsessi- estatisticamente significativas para a agorafobia
vo-compulsivas comparativamente ao grupo dos [F(2,314) = 9.45, p = .000], fobia social [F(2,314)
indivíduos com “indústria alta” e comparativamen- = 20.20, p = .000], medo de viajar [F(2,314) =
te ao grupo dos indivíduos com “indústria mé- 4.57, p = .001], pensamentos obsessivos [F(2,314) =
dia” no medo de mau humor (vd. Quadro 3). As di- 6.76, p = .007], e impulsos obsessivos [F(2,314)
ferenças são estatisticamente significativas para = 5.05, p = .005], comportamentos compulsivos
a fobia social [F(2,327) = 15.37, p = .000], medo de verificação [F(2,314) = 5.37], e de lavagem
de viajar [F(2,327) = 6.86, p = .001], medo de mau [F(2,314) = 6.13, p = .002].
humor [F(2,327) = 6.31, p =.002] pensamentos De seguida, apresentamos um quadro síntese
obsessivos [F(2,327) = 29.35, p = .000], impul- que pretende evidenciar os resultados significati-
sos obsessivos [F(2,327) = 7.59, p = .001], e com- vos obtidos nas análises de variância efectuados
portamentos compulsivos de verificação [F(2,327) = em cada estádio do desenvolvimento psicossocial
12.21, p = .000]. e facilitar a discussão posterior dos mesmos (Qua-
dro 3).
Identidade vs. confusão da identidade
Análises discriminantes
A sub-escala da identidade vs. confusão da iden-
tidade também apresenta diferenças de médias es- Os resultados deste estudo permitem até ao mo-
tatisticamente significativas [F(28.612) = 4.593, mento, concluir que os grupos em cada tarefa do
p < 0,001] entre os grupos. Verifica-se que os su- desenvolvimento psicossocial diferem significa-
jeitos do grupo da “identidade baixa” apresentam tivamente em relação aos medos, pensamentos obses-
valores de média mais elevados na agorafobia, sivos e comportamentos compulsivos. Em geral,
fobia social, medo de viajar e nas características verifica-se que os grupos que apresentam níveis
obsessivo-compulsivas comparativamente aos in- mais baixos de construção em cada tarefa psicos-

117
QUADRO 3
Análises de variância entre os estádios de desenvolvimento psicossocial e os medos e as
características obsessivo-compulsivas

Confiança Autonomia Iniciativa Indústria Identidade Intimidade


vs. vs. vs. vs. vs. vs.
Desconfiança Vergonha Culpa Inferioridade Confusão Isolamento
e dúvida da identidade

Medos
Agorafobia B > M /A B>A B>A B>A B>A
M>A
Fobia social B>A B>A B>A B>A B>A B>A
M>A M>A
Medo de sangue B>A M>A
Medo a animais B>A
Medo de violência B>A
Medo de viajar B>A B>A B>A B>A B>A B>A
Medo de alturas B>A B>A B>A
Medo de pessoas desagradáveis B>A
Medo de mau tempo B>A
Medo de mau humor B>A B>M

Características Obsessivo-
-compulsivas
Pensamentos obsessivos B>A B>A B>A B>A B>A B>A
Impulsos obsessivos B>A B>A B>A B>A B>A
Compulsões de verificação B > M/A B>A B > M/A B>A B>A B>A
Compulsões de lavagem/ B>A B>A
/limpeza

B = Baixa; M = Média; A = Alta

social apresentam médias mais elevadas nas va- Os grupos dos medos ao sangue/ferimentos e
riáveis relacionadas com a ansiedade. medos de alturas não produziram diferenças es-
No entanto, essas diferenças não nos permi- tatisticamente significativas relativamente às ta-
tem analisar o contributo especifico de cada tare- refas do desenvolvimento psicossocial pelo que
fa relativamente a um determinado tipo de ansie- não foram submetidos à análise discriminante. Pe-
dade. Assim, com o objectivo de aprofundar os lo contrário, nos restantes grupos (agorafobia, fo-
dados das análises de variância optou-se pela rea- bia social, medo de viajar, medo de mau humor,
lização da análise discriminante. impulsos, pensamentos obsessivos, impulsos,
Num primeiro momento constituíram-se qua- compulsões de verificação e compulsões de lava-
tro grupos em cada perturbação de ansiedade em gem) evidenciam-se diferenças estatisticamente
função da distribuição dos resultados obtidos pe- significativas pelo que foram conduzidas oito aná-
los sujeitos. Assim, os grupos foram, para cada lises discriminantes.
perturbação formados pelos sujeitos cujas médias Assim, a análise discriminante para os grupos
para cada factor se situavam no percentil menor da agorafobia, os testes F (18,507) multivariados
ou igual que 25 (grupo 1), entre 25 e 50 (grupo 2), para os grupos da agorafobia revelam que o va-
entre 50 e 75 (grupo 3) e maior que 75 (grupo 4). lor de λ de Wilks é de .883 p = .000. Os testes F
Posteriormente foram realizadas Manovas no sen- (3.507) univariados mostram níveis de signifi-
tido de saber se os grupos se diferenciavam signi- cância elevados (p < .021) para todas as variá-
ficativamente relativamente às tarefas do desen- veis dependentes.
volvimento psicossocial após as quais se condu- Das três funções discriminantes canónicas cor-
ziu a um conjunto de análises discriminantes. respondentes aos grupos da agorafobia em aná-

118
QUADRO 4
Funções discriminantes canónicas /agorafobia

Funções Valores % Variância % acumulada Corr can. Depois função λ de Wilks χ2 gl P


próprios

0 .883 63,00 18 .000


1 .114 87.5 87.5 .321 1 .984 8.25 10 .604
2 .009 7.1 94.6 .096 2 993 3.55 4 .470
3 .007 5.4 100.0 .084

QUADRO 5
Coeficientes estandardizados e coeficientes estruturais / agorafobia

Coeficientes Estandardizados Coeficientes Estruturais

Tarefas psicossociais Função 1 Função 1

Confiança / desconfiança .763 .876


Autonomia / vergonha -.477 .683
Iniciativa / culpa .491 .531
Indústria / inferioridade -.345 .517
Identidade / confusão .419 .346
Intimidade / isolamento .273 .542

Nota: As saturações superiores a .40 estão assinaladas a carregado

lise, podemos observar (Quadro 4) que apenas a buir os sujeitos do modo indicado na represen-
primeira é significativa explicando 87% da vari- tação gráfica dos centróides apresentada na Figu-
ância. ra 1. Assim, os grupos de sujeitos que se situam
Para interpretar as funções discriminantes aten- no pólo positivo da função são os que apresentam
deu-se aos coeficientes discriminantes estandar- médias menores no factor da agorafobia, enquan-
dizados para cada variável e às correlações entre to que os grupos de sujeitos que se situam no pó-
as funções e as variáveis (Quadro 5). lo negativo da função são os que apresentam mé-
Assim, a análise dos coeficientes discriminan- dias mais elevadas no mesmo factor. Ou seja, ve-
tes estandardizados permite constatar que, na pri- rifica-se que a uma maior confiança básica cor-
meira função, é a variável confiança vs. desconfian- responde médias mais baixas de agorafobia.
ça que emerge como a mais determinante. Se aten- O mesmo procedimento foi adoptado para os
dermos às correlações entre as variáveis e as fun- restantes grupos, no entanto para não complexi-
ções discriminantes canónicas, a primeira função ficar a apresentação dos resultados optou-se ape-
está fortemente correlacionada com a confiança nas por citar a função discriminante para os res-
tantes grupos.1
vs. desconfiança básica (.876), apresentando tam-
bém valores de correlação moderados e modera-
dos altos com todas as outras variáveis. Assim,
atendendo ao conjunto destes dados verifica-se
que é a confiança vs. desconfiança básica que mais
contribui para explicar a função. 1
Detalhes sobre os procedimentos das análises dis-
A observação das médias dos grupos da ago- criminantes para os restantes grupos podem ser dispo-
rafobia pela função discriminante permite distri- nibilizadas pelas autoras.

119
FIGURA 1
Distribuição dos grupos da agorafobia pela função discriminante canónica (confiança vs.
desconfiança)

Nota: A “série 1” representa médias dos grupos (centroides).

Assim, verifica-se que relativamente aos gru- Tal como era esperado as raparigas apresen-
pos da fobia social é a iniciativa vs. culpa que é tam médias mais elevadas em todos os medos,
determinante na função discriminante. Nos gru- verificando-se diferenças de género estatistica-
pos do medo de viajar é a autonomia vs. ver- mente significativas para medos a animais, vio-
gonha e dúvida que melhor discrimina os grupos. lência, viajar e de mau tempo e agorafobia. Os re-
Nas análises discriminantes para os grupos do sultados estão de acordo com os dados de outros
medo de mau humor e para todos os grupos rela- estudos que revelam uma percentagem muito mais
tivos as características obsessivo-compulsivas é elevada destes medos para o género feminino
a variável confiança vs. desconfiança que melhor con- (Bamber, 1979; Capps & Ochs, 1995; Emmelkamp
tribui para explicar a função. et al., 1992; Marks, 1987; Ollendick, 1985; Weiss
Em suma, os resultados das análises discrimi- & Last, 2001). Estas diferenças de género tem si-
nantes efectuadas para os vários grupos de ansie- do explicadas por uma maior vulnerabilidade bio-
dade mostram que a função que melhor discrimi- lógica por parte das mulheres associada à evolu-
na a maior parte dos grupos é a que designamos ção da espécie e a estereótipos sociais e educa-
como confiança vs. desconfiança (agorafobia, me- cionais (Bowlby, 1973; Marks, 1987; Nolen-Hoek-
do de mau humor, pensamentos obsessivos, im- sema, 1998).
pulsos obsessivos, compulsões de verificação e Quanto aos medos sociais embora as mulheres
compulsões de lavagem). apresentem médias mais elevadas, esperava-se uma
Aparecem ainda duas outras funções relevan- diferença significativa relativamente aos rapazes,
tes: a função iniciativa vs. culpa para os grupos da o que não se verificou. Este resultado pode de-
fobia social e a função autonomia vs. vergonha ver-se ao facto de cada vez mais as raparigas te-
para os grupos relativos ao medo de viajar. rem que desempenhar papéis sociais idênticos aos
rapazes. Esta eventual mudança dos papéis tradi-
cionais está de acordo com investigações portu-
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS guesas recentes que tem verificado que as rapa-
rigas começam a ter uma educação mais iguali-
De modo geral os nossos resultados estão de acor- tária e liberal começando-se a mudar os papéis
do com as hipóteses formuladas e com as conclu- tradicionais dos pais mais inibidores e proibiti-
sões de outros estudos. vos para as filhas do que para os filhos (Barbosa,

120
2001; Matos, Barbosa, Almeida & Costa, 1999). mos que um factor essencial no desenvolvimento
Provavelmente, o confronto das raparigas com as da ansiedade é a insegurança ou falta de confi-
mesmas situações sociais que os rapazes pode con- ança em si e nos outros, talvez estes resultados
tribuir para a diminuição do medo face a essas si- possam explicar a razão pela qual as raparigas se
tuações. mostram mais medrosas. Por outro lado, não será
No que respeita à relação entre o género e os de esquecer o papel que a desejabilidade social
pensamentos e comportamentos obsessivo-com- pode assumir nestes resultados.
pulsivos, os rapazes apresentam médias mais ele- Relativamente à tarefa da indústria vs. inferio-
vadas quer nos pensamentos e impulsos obsessi- ridade, são as mulheres que obtém médias mais
vos quer nos comportamentos compulsivos, co- elevadas. Uma vez que o sentido da indústria se
mo se esperava. Estes resultados podem ser ex- relaciona com o trabalho e a concretização de ob-
plicados pelo facto da idade de início apontada pa- jectivos, estes resultados podem ser reveladores
ra o desenvolvimento deste tipo de ansiedade ser de um papel social mais activo nas mulheres, o
diferente em relação ao género. Em geral os es- que é compatível com a mudança de papéis so-
tudos referem uma idade de início mais precoce ciais que se tem vindo a operar na nossa socie-
para os rapazes entre os 6 e os 15 anos (Sturgis, dade (Barbosa, 2001; Matos et al., 1999).
1993; Weiss & Last, 2001) e para as raparigas Os resultados revelaram ainda que não exis-
entre os 20 e os 29 anos (DSM-IV, 1994). tem diferenças significativas do género relativa-
O facto das diferenças de média só serem signi- mente à identidade, o que está de acordo com a
ficativas para os comportamentos compulsivos investigação realizada (Archer, 1989; Costa, 1991;
pode dever-se ao facto dos pensamentos obses- Waterman, 1982).
sivos dos rapazes poderem ser suficientemente Por último, e relativamente à intimidade, não
intensos e provocarem ansiedade que os levem a se verificaram efeitos significativos do género,
executar os comportamentos compulsivos, o que não se confirmando, desta forma, os resultados obti-
está de acordo com alguns estudos que apontam dos noutros estudos (Fischer, 1981; Lapsley et
para uma precocidade e maior severidade dos sin- al., 1990; Shulman, Laursen, Kalman & Karpov-
tomas no género masculino (Flament, Whitaker, sky, 1997), provavelmente porque os indivíduos
Rapapport, Davies & Shaffer, 1988). Por outro da nossa amostra ainda estão a trabalhar esta ta-
lado, atendendo que a tipologia sintomática mais refa.
frequente é a presença de ambos os fenómenos Quanto à relação entre as tarefas do desenvol-
(obsessões e compulsões) podemos pensar que vimento psicossocial e os diferentes tipos de an-
os rapazes se aproximam mais desta tipologia apre- siedade, verifica-se que os sujeitos com níveis de
sentando características mais próximas do quadro confiança mais baixa são os que apresentam mé-
clínico desta perturbação. dias mais elevadas em todos os tipos de medos e
Os nossos resultados não confirmam uma pre- nos pensamentos obsessivos e comportamentos
ponderância de compulsões de lavagem nas ra- compulsivos. Estes resultados revelam a impor-
parigas como é referido pela maioria dos autores tância do sentimento de confiança em si próprio
(Marks, 1987; Rachman, 1998; Sturgis, 1993) o e nos outros como um factor protector relativa-
que vem de encontro à explicação anterior, ou mente à ansiedade (Warren et al., 1997). Ou seja,
seja, como os pensamentos obsessivos e compor- são os indivíduos mais confiantes que sentem maior
tamentos compulsivos surgem mais tardiamente segurança em si próprios e no mundo, os menos
no género feminino pode explicar o facto das com- ansiosos. Pelo contrário, os indivíduos com me-
pulsões de lavagem não aparecerem com maior nos confiança e, portanto com maiores níveis de
relevância nas raparigas da nossa amostra. desconfiança, têm pouca segurança em si pró-
A nossa hipótese acerca efeito do género rela- prios e no mundo e, por isso, têm medo de per-
tivamente às tarefas psicossociais era explorató- der o controlo dos seus sentimentos mostrando-
ria. Assim, verificaram-se diferenças significati- -se mais medrosos e preocupados.
vas na tarefa da confiança básica vs. desconfian- A confiança básica, construída nas relações pre-
ça básica em função do género, sendo os rapazes coces com a mãe é um sentimento essencial para
que apresentam médias mais elevadas na confi- o desenvolvimento saudável (Bowlby, 1973; Erik-
ança comparativamente às raparigas. Se atender- son, 1968, 1976, 1980). Várias investigações têm

121
sugerido que uma relação ansiosa caracterizada dificuldades apresentadas pelos fóbicos sociais.
pela insegurança e falta de confiança em si pró- De facto os fóbicos sociais apresentam uma vi-
prio e nos outros está associada a uma menor au- são de si próprio como pouco capazes e compe-
to-estima, sentimentos de não ser amado e dese- tentes, por isso temem fazer coisas novas e agir
jado e a um menor envolvimento nas relações in- independentemente do julgamento dos outros. A
terpessoais. (Hazan & Shaver, 1987; Salvador, 1997; falta de iniciativa conduz a sentimentos de fra-
Sroufe, 1990). A falta de confiança parece estar casso e ansiedade por não se conseguir atingir me-
associada ao medo de ser abandonado e ao senti- tas (Niler & Beck, 1985; Tangney et al., 1992).
mento de estar desprotegido (Beck & Emery, 1985; A culpa está também associada a maior ambiva-
Costa, s/d; Joyce-Moniz, 1993). lência emocional o que é característico dos obses-
O sentimento de autonomia relaciona-se nega- sivos (Guidano, 1991; Guidano & Liotti, 1983).
tivamente com agorafobia, a fobia social, o me- Por outro lado, menor iniciativa está associada a
do de viajar e de alturas e fenómenos obsessivo- maior sentimento de culpa que parecer ser um bom
-compulsivos. Se atendermos que a autonomia se preditor dos pensamentos intrusivos (Niler & Beck,
relaciona com a liberdade de exploração e inde- 1989; Steketee, Grayson & Foa, 1987). A neces-
pendência, ou seja o contrário de restrição, isola- sidade de certeza e a dúvida permanentes impe-
mento e dependência podemos compreender que de-os de se aventurarem em novas tarefas e to-
os sujeitos menos autónomos apresentam maio- mar iniciativa uma vez que temem errar e falhar.
res médias na agorafobia e fobia social. A influência do sentido de indústria relativa-
Os indivíduos menos autónomos são também mente aos medos, pensamentos obsessivos e com-
os que apresentam mais pensamentos obsessivos portamentos compulsivos só se confirma parcial-
e comportamentos de compulsão. A uma menor mente, tendo-se verificado uma relação negativa
autonomia corresponde uma maior rigidez e in- entre o sentido da indústria e a fobia social. O in-
capacidade em tomar decisões o que provavelmen- divíduo que apresenta níveis baixos do sentido
te contribui para aumentar a incerteza e a dúvida de indústria não se sente preparado para a parti-
características dos indivíduos obsessivos (Mace- lha com os outros e procura o isolamento como
do & Pocinho, 2000). Por outro lado, a uma me- resposta aos seus sentimentos de inferioridade
nor autonomia está associada uma maior tendên- (Costa, s/d). O sentido de indústria implica um
cia para desenvolver sentimentos de vergonha. A sentimento de ser capaz, de competência e de
vergonha pode ser interiorizado como um senti- realizar tarefas sociais e de colaborar com ou-
mento de ser mau e consequentemente ser casti- tros. Os indivíduos com medos sociais apresen-
gado e de morrer. Este medo de morrer ou de cau- tam o sentimento oposto, ou seja, inferioridade,
sar dano a alguém, geralmente a pessoas signifi- baixa auto-estima e medos de ser criticado e ava-
cativas, está frequentemente associado a pensa- liado negativamente pelos outros. Do mesmo mo-
mentos e impulsos obsessivos, bem como ao de- do a relação do sentimento de indústria com o
senvolvimento de comportamentos compulsivos medo de estar mal humorado pode dever-se aos
no sentido do indivíduo se certificar que tudo es- indivíduos terem receio de serem rejeitados pe-
tá seguro e de que não causou qualquer dano a nin- los outros, uma vez que o humor normalmente
guém ou a si próprio. está associado a ser melhor aceite pelos outros e
Quando do balanço entre a iniciativa e culpa a uma maior facilidade estabelecer contactos so-
resulta uma predominância do sentimento de cul- ciais.
pa, o indivíduo desenvolve uma autocrítica acen- Podemos levantar como hipótese que a um me-
tuada e inflexível, tornado-se inibido e dependen- nor sentido de indústria (inferioridade) correspon-
te. A falta de iniciativa traduz-se por uma capa- de um maior medo de viajar talvez porque viajar
cidade de decidir por si próprio sem precisar do implique maiores contactos sociais e o afastamen-
estímulo de alguém significativo. Na realidade to de pessoas e lugares seguros. São, ainda os in-
os agorafóbicos revelam pouca iniciativa, a sua divíduos com níveis de indústria baixa (maior in-
vida é baseada no medo e na culpa (Frampton, ferioridade) os que apresentam mais preocu-
1990). Verifica-se que os indivíduos com um sen- pações obsessivas e comportamentos compulsi-
tido de iniciativa baixo apresentam mais medos vos de verificação, provavelmente o sentimento
sociais. Este resultados são consistentes com as de não ser capaz pode contribuir para maiores

122
dúvidas acerca de si próprio e maior inseguran- mental, o que associado a uma maior inseguran-
ça. ça justifica que os indivíduos do grupo da iden-
Também de acordo com a nossa hipótese ve- tidade baixa apresentam médias mais elevadas
rificou-se que um sentido difuso da identidade de comportamentos compulsivos de verificação.
está associado a mais medos (agorafobia, fobia A hipótese de que o sentimento de intimidade
social, medo de sangue, medo de viajar) e a mais estaria relacionado negativamente com os medos
pensamentos e impulsos obsessivos e a compor- e os pensamentos obsessivos e comportamentos
tamentos de verificação. Uma vez que a identi- compulsivos foi confirmada relativamente à ago-
dade se constrói da ressíntese das tarefas anterio- rafobia, fobia social, medo de viajar e todos os fe-
res seria esperado que os indivíduos que cons- nómenos obsessivo-compulsivos. A intimidade
truíram a sua identidade apresentassem maior con- implica confiança, compromisso, investimento e
fiança em si próprios, maior autonomia, maior ca- segurança na relação com outros. A falta de inti-
pacidade de iniciativa e investimento, o que ex- midade conduz ao oposto tornando a pessoa mais
plica de algum modo a relação negativa encon- desprotegida, insegura e isolada. Na realidade,
trada entre identidade e ansiedade. De salientar são sobretudo factores de ordem emocional, no-
que a tarefa de construção da identidade implica meadamente a perda ou separação de outros signi-
reviver as crises anteriores e ocorre num período ficativos (namorado, amigo) que precipitam a ago-
de grandes transformações (corporais, ideológi- rafobia porque deixam a pessoa vulnerável e com
cas, vocacionais, profissionais) tornando, desta maior necessidade de protecção e segurança (Joy-
forma, os indivíduos mais vulneráveis e sensíveis ce-Moniz, 1993; Mathews, Gelder & Johnston,
às críticas dos outros, o que pode implicar a exis- 1981). Por isso, podemos esperar que níveis mais
tência de medos da avaliação negativa e de explo- baixos de intimidade, isto é, incapacidade de es-
ração do mundo que emergem na forma da fobia tar só sem se sentir só podem estar associados ao
social e da agorafobia (Costa, s/d). De acordo com medo de separação de contextos de segurança an-
a literatura são os indivíduos com níveis mais bai- tecipando o isolamento.
xos de identidade os que apresentam maior difi- Também são os indivíduos que não desenvol-
culdade de adaptação a novos contextos e de es- vem a capacidade de intimidade que têm maior
tabelecer relações interpessoais (Archer, 1989; Ber- dificuldade de falarem de si aos outros, têm mais
zonsky & Kuk, 2000; Sprinthall & Collins, 1994). dificuldade em fazer amigos, tornam-se mais ini-
Verifica-se ainda, que a níveis mais baixos de bidos, desenvolvendo medos e ansiedade quando
construção da identidade corresponde maior me- se encontram em situações sociais.
do do tipo sangue-ferimentos. Este tipo de medo A níveis mais baixos de intimidade correspon-
pode estar relacionado com uma maior preocu- de, ainda, uma ambivalência afectiva o que pro-
pação com o corpo, medo do desconhecido e com vavelmente está na base das preocupações obses-
a morte. É na fase da adolescência e da constru- sivas e comportamentos compulsivos. As com-
ção da identidade que este medo se torna mais in- pulsões de lavagem e limpeza aparecem relacio-
tenso, muitas vezes associado a uma falta de au- nadas com a falta de intimidade, tal como com a
tonomia do indivíduo para explorar o seu meio falta de confiança. Sendo a confiança básica um
conduzindo-o a um evitamento fóbico (Joyce-Mo- alicerce fundamental para o estabelecimento de
niz, 1993). relações íntimas com os outros, a falta de confi-
Erikson (1968) refere que quando estão bloquea- ança que os indivíduos menos íntimos apresen-
das alternativas positivas na construção da iden- tam pode explicar a relação com os comporta-
tidade o indivíduo torna-se confuso no que res- mentos compulsivos de lavagem. Por outro lado,
peita a alternativas e escolhas. Assim, os indiví- também se verifica que indivíduos com rituais de
duos com níveis mais baixos de desenvolvimento lavagem tendem a desenvolver um evitamento
da sua identidade tem maior dificuldade em fa- generalizado o que poderá explicar o seu afasta-
zer opções o que conduz a maior dúvida, incer- mento dos outros, e, consequentemente o estabe-
teza e insegurança e, portanto, ao desenvolvi- lecimento de relações intimas.
mento de fenómenos obsessivos. Por outro lado, Os resultados das análises discriminantes sali-
são indivíduos com confusão da sua identidade entam a tarefa da confiança vs desconfiança bá-
os que apresentam maior rigidez comporta- sica como a função que melhor explica a maior

123
parte das ansiedades estudadas o que se torna com- Será fundamental o alargamento a outras po-
preensível na medida em que, segundo Erikson, pulações não estudantis para permitir analisar a
a resolução desta tarefa constitui o alicerce para influência de outros contextos socio-culturais, bem
todo o desenvolvimento posterior. Assim quando como o estudo comparativo com amostras clíni-
a sua resolução tende para a desconfiança, uma cas. Seria também interessante ter em conside-
estrutura de insegurança e medo tem o seu início ração outros factores como a influência dos pa-
e de acordo com os contextos relacionais e pro- res, da família, e ainda factores biológicos e cul-
ximais este sentido poderá ser alterado ou sedi- turais, na medida que são factores mencionados
mentado. na literatura como sendo um risco ou protecção
relativamente à ansiedade. E ainda o recurso a
metodologias de natureza longitudinal, no senti-
CONCLUSÃO do de avaliar a evolução e transformações ocor-
ridas ao longo do desenvolvimento.
Com o presente trabalho pretendeu-se analisar
a relação entre o desenvolvimento psicossocial e a
ansiedade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Verificamos que o género feminino é o que apre-
senta médias mais elevadas em todas as fobias, à American Psychiatric Association (1994). Manual de
excepção da fobia social cuja diferença não apa- diagnóstico e estatística das perturbações mentais
rece como estatisticamente significativa. Curio- (4.ª edição). Lisboa: Climepsi Editores.
Archer, S. (1989). Gender differences in identity deve-
samente são também as jovens que apresentam
lopment: issues of process, domain and timing. Jour-
médias mais baixas na confiança básica e médias nal of Adolescence, 12, 117-138.
mais elevadas na tarefa da indústria vs. inferiori- Bagwell, C. L., Schmidt, M. E., Newcomb, A. F., &
dade, o que parece ser significativo da implica- Bukowski, W. M. (2001). Friendship and peer re-
ção e importância da resolução das diferentes ta- jection as predictors of adult adjustment. New Di-
refas psicossociais para o desenvolvimento da an- rections for Child and Adolescent Development, 91,
siedade. O género masculino comparativamente 25-49.
Bamber, J. H. (1979). The fears of adolescents. New
ao feminino, apresenta médias mais elevadas em
York: Academic Press.
todas as características obsessivo-compulsivas, Baptista, A. (1989). O questionário do medo. Psiquia-
provavelmente, como resultado do desenvolvimen- tria Clínica, 10, 55-60.
to precoce desta ansiedade nos rapazes. Baptista, A. (2000). Perturbações do medo e da ansie-
Os resultados permitiram-nos, ainda, constatar dade: uma perspectiva evolutiva e desenvolvimen-
que de todas as tarefas psicossociais a que me- tal. In I. Soares (coord.), Psicopatologia do desen-
lhor explica as diferenças encontradas nos dife- volvimento: Trajectórias (in)adaptativas ao longo
da vida (pp. 88-141). Coimbra: Editora Quarteto.
rentes grupos de ansiedade é a confiança vs. des- Barbosa, M. R. (2001). A vinculação aos pais e a ima-
confiança básica. Este resultado é compreensível gem corporal de adolescentes e jovens. Tese de Mes-
se atendermos que esta tarefa é a primeira a as- trado. Porto: Faculdade de Psicologia e de Ciências
cender e, como referiu Erikson (1980) é a pedra da Educação da Universidade do Porto.
angular para todo o desenvolvimento futuro. To- Barlow, D. H. (1988). Anxiety and its disorders. The
davia, como tivemos oportunidade de analisar os nature and treatment of anxiety and panic. New
York: The Guilford Press.
resultados também evidenciam a relevância de ou-
Beck, A. T., Emery, G., & Greenberg, R. L. (1985).
tras tarefas psicossociais para a explicação de de- Anxiety disorders and phobias: A cognitive pers-
terminados tipos de ansiedade. pective. U.S.A.: Basic Book.
No entanto, apesar do contributo que possamos Berzonsky, M. D., & Kuk, L. S. (2000). Identity status,
retirar deste estudo é necessário ter em conside- identity processing style, and the transition to uni-
ração que se trata de um estudo exploratório que versity. Journal of Adolescent Research, 15, 81-98.
encerra algumas limitações. Com efeito, trata-se Bowlby, J. (1973). Attachment and loss. Vol. 2: Sepa-
ration. New York: Basic Books.
de uma amostra de estudantes universitários, pe- Burke, K. C., Burke, J. D., & Regier, D. A. (1990). Age
lo que não deve ser considerada representativa at onset of selected mental disorders in five
de toda a população jovem, devendo ter-se cuida- community populations. Archives of General Psy-
do com generalizações destes resultados. chiatry, 47, 511-518.

124
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ABSTRACT of psychosocial tasks corresponds to a smaller tenden-
cy for anxiety. Results also allow the understanding of
This research, based on the Erikson’s psychosocial the specific contribution each stage has concerning the
development perspective, has as its fundamental goal development of different anxious structures.
to study the relations between developmental psycho- As for gender, results indicate the presence of signi-
social tasks and anxiety in young people. In this study ficant effects for fears, obsessive thoughts and com-
we used a sample of 511 Portuguese young people, with pulsive behaviours, as well as for psychosocial deve-
ages between 17 and 26 years, which attended several lopmental stages.
higher education courses in the Porto area. Key words: Psychosocial development, anxiety, young
Globally, results show that a constructive resolution people.

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