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3o Seminário de Áreas Verdes

Uso do microhabitat por Dendrophryniscus brevipollicatus Jimenez de la


Espada 1871 (Anura, Bufonidae) no Parque Natural Municipal Nascentes
de Paranapiacaba

Da Silva, R.V ¹; Dimitrov, V¹; Laporta, J.L¹

Centro Universitário Fundação Santo André, Laboratório de Zoologia, Avenida Príncipe de


Gales – 09060-650- Santo André, SP- e-mail: vieira_renata@yahoo.com.br

Resumo: No presente estudo foram determinados a abundância, freqüência e o uso


do microhabitat de Dendrophryniscus brevipollicatus Jimenez de La Espada (1871)
através da observação do anuro em campo. As campanhas foram realizadas
mensalmente no período de Janeiro 2009 a Março de 2010 no Parque Natural
Municipal Nascentes de Paranapiacaba, Santo André, SP. Foram registrados 78
indivíduos e o índice de constância da espécie foi de 65%. Através do teste de qui-
quadrado foi constatado que a espécie estudada está associada a plantas da família
bromeliaceae (x² = 65,032; 5%), corroborando estudos de outros pesquisadores. Visto
a importância das bromeliáceas como microhabitats, a sua preservação é tão
importante quanto do habitat como um todo e estudos de monitoramento de sua
diversidade são necessários para a compreensão da biodiversidade da região.

Introdução

O bioma Mata Atlântica é considerado um dos 25 hotspots (florestas com mais


de 70% da sua composição vegetal danificada) devido à sua importância em relação à
biodiversidade e as constantes ameaças que vem sofrendo, principalmente, pela
industrialização e pelo crescimento desenfreado dos centros urbanos. A extensão da
floresta cobria desde o Nordeste Brasileiro até o Rio Grande do Sul, atualmente está
restrita a 12% da cobertura original, com remanescentes fragmentados e isolados
(Ribeiro et al., 2009). A floresta possui diversas espécies endêmicas, abrigando cerca
de 8% da biodiversidade mundial e apresenta uma heterogeneidade de habitat e
microhabitats que proporciona uma diversidade de vertebrados com especializações
em seus modos reprodutivos (Myers et. al., 2000; Crump 1971, Pough et al., 1977;
Cardoso et al. 1989, Camara, 2003; Afonso, 2005).
A Mata Atlântica possui diversos microhabitats, dentre eles os vegetais da
família Bromeliaceae. As bromeliáceas apresentam ramos em rosetas, formando um
tanque central que junto com as suas axilas acumulam água e detritos orgânicos
utilizados para a sua nutrição. Este microambiente denominado como fitotelmo,
constitui um verdadeiro ecossistema, onde se desenvolvem inúmeros vertebrados
como os anfíbios anuros, que apresentam graus diferenciados de relação com esta
família podendo utilizá-la na maior parte da vida ou até mesmo durante todo o ciclo de
vida, desenvolvendo estratégias avançadas relacionadas com o seu modo reprodutivo
(Mee, 1999; Andrade, 2009).
Atualmente, são conhecidas para a ordem Anura 5.858 espécies distribuídas
em 49 famílias (Frost, 2010). Um dos seus representantes, a família Bufonidae, reúne
cerca de 35 gêneros, dentre eles o Dendrophryniscus Jiménez de la Espada (Frost et
al., 2006). A espécie Dendrophryniscus brevipollicatus Jimenez de La Espada (1871)
ocorre em zonas costeiras de São Paulo e Rio de Janeiro, encontram-se distribuídas
de maneira desigual em áreas florestadas, variando de acordo com certas
características ambientais, como a presença de bromélias. É uma espécie de pequeno
porte, cerca de 2 cm, com dorso amarronzado e com um desenho central em forma de
X ou ampulheta. A reprodução do D. brevipollicatus ocorre em bromélias, terrestres ou

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próximas ao solo, onde são depositados os ovos e os girinos se desenvolvem


(Izecksohn, 1993; Pombal & Gordo 2004, Dixo & Verdade, 2006).
Embora tenha sido registrado mundialmente o declínio das espécies de
anfíbios anuros, é extremamente difícil quantificar o grau de ameaça frente ao
desconhecimento sobre o uso de habitat e microhabitat (Young et al., 2001; Eterovick
et al., 2005). Apesar das pesquisas relacionadas ao uso do microhabitat serem de
extrema importância para os planos de conservação e monitoramento das populações
de anuros, tais estudos são escassos (Eterovick & Barros 2003), principalmente na
Unidade de Conservação do Parque Natural Municipal Nascentes de Paranapiacaba.
O objetivo do presente estudo foi determinar a abundância e a freqüência de D.
brevipollicatus e analisar o uso do microhabitat no Parque Natural Municipal
Nascentes de Paranapiacaba município de Santo André, SP.

Materiais e Métodos

O trabalho foi realizado no Parque Natural Municipal Nascentes de Paranapiacaba


(PNM Nascentes) localizado entre as coordenadas geográficas: 23º45'"S e 46º17'"W.
O PNM Nascentes possui área de 426 hectares e está situado no subdistrito de
Paranapiacaba, município de Santo André, SP (FIGURA 1). O clima da região é
tropical úmido, segundo Köppen. A vegetação é caracterizada pela formação Montana
da Floresta Ombrófila Densa que ocupa as faixas de altitude de 500 a 1500 m
(PREFEITURA DO MUNICIPIO DE SANTO ANDRÉ, 2008). Para a realização do
trabalho foram realizadas 14 campanhas mensais entre Janeiro 2009 a Março de 2010
seguindo a metodologia de trajeto linear proposta por Heyer (1994). O esforço para
cada amostragem foi de cinco horas no campo, com início às 19h e término às 24h.

Figura 1: Parque Natural Municipal Nascentes de Paranapiacaba, adaptadado de


PMSA 2005.

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Foi avaliada a abundância e a freqüência dos espécimes observados. Para


determinar a freqüência de ocorrência do D. brevipollicatus foi calculado o índice de
constância segundo Dajoz (1972), seguindo a classificação como: constante (C 
50%) , freqüente (25% < C < 50%) ou infrequente (C  25%). Foi avaliada a
preferência entre os indivíduos de D. brevipollicatus e o substrato através do teste de
qui-quadrado (x²). D. brevipollicatus foi testado independentemente com cada tipo de
substrato onde foi encontrado no campo, foi tomada como hipótese nula à não
associação entre a espécie de anuro e o substrato. Para essa análise o nível de 5% foi
tomado como significante, sendo este nível apropriado para o tamanho das amostras.
Todos os testes estatísticos foram calculados por meio do software Ecosoft versão
1.1.06.
Resultados e Discussão
Durante as amostragens foram registrados e observados 78 espécimes de D.
brevipollicatus. De acordo com o índice de constância, D. brevipollicatus foi
considerada uma espécie constante (C=65%). Através do teste de qui-quadrado foi
constatado que os espécimes estudados têm a preferência maior pela bromeliaceae
em relação aos outros tipos de substrato. D. brevipollicatus apresentou alto grau de
significância para Bromeliaceae (x²=65,032; 5%), seguido por Araceae (x²=7,944; 5%),
Serrapilheira (x²=7,459; 5%), Commelinaceae (x² = 5,455; 5%), e Epífitas (x²=4,587;
5%). A utilização dos outros substratos pode estar ligada ao forrageio das espécies
pelo habitat para alimentação, enquanto buscam outros microhabitats ou durante o
período de reprodução. Segundo Peixoto (1995) D. brevipollicatus é uma espécie
bromelígena com fase larval livre, com a complementação do ciclo de vida em
dependência de bromélias e os seus ovos depositados nas bainhas das folhas com
água. Durante as amostragens foram observadas diferenças morfológicas entre os
espécimes estudados, possivelmente podendo haver mais de uma espécie desse
gênero na localidade de estudo.

Conclusão

Visto a importância das bromélias como microhabitat no ciclo de vida e refúgios


das espécies bromelígenas, a sua preservação é tão importante quanto a do habitat
como um todo. Estudos de monitoramento são necessários para a biodiversidade da
região do Parque Natural Municipal Nascentes de Paranapiacaba e devido aos
problemas taxonômicos observados em D. brevipollicatus são necessários novos
estudos taxonômicos e ecológicos sobre o táxon Dendrophryniscus.

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