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28/08/2020 György Lukács – Wikipédia, a enciclopédia livre

György Lukács
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

György Lukács ou Georg Lukács (IPA: [ɟørɟ lukɑːtʃ],


Budapeste, 13 de abril de 1885 — Budapeste, 4 de junho de György Lukács
1971) foi um filósofo e historiador literário húngaro. Como
crítico literário, Lukács foi especialmente influente, sendo
reconhecido como o precursor dos estudos sociológicos da
literatura ficcional. Ele adotou uma perspectiva que coloca a
obra de arte em seu contexto social e histórico e que se
esforça para reconstruí-la e analisá-la. Ele também foi um
feroz defensor do realismo na literatura, repudiando o
modernismo encarnado por autores como Kafka, Joyce ou
Beckett. Em 1919, foi nomeado ministro da Cultura húngaro
do governo da República Soviética da Hungria (entre março
e agosto de 1919).[1] Ele ainda foi agraciado postumamente
com o Prêmio Goethe.

Lukács é amplamente descrito como o mais proeminente


intelectual marxista da era stalinista, muito embora a
avaliação de seu legado possa ser difícil, pois Lukács parecia Nascimento 13 de abril de 1885
ora apoiar o stalinismo como a personificação do Budapeste
pensamento marxista, mas também defender um retorno ao Morte 4 de junho de
marxismo pré-stalinista.[2] Ele foi um dos fundadores do 1971 (86 anos)
Budapeste
marxismo ocidental, uma tradição interpretativa que se
afastou da ortodoxia marxista ideológica da União Soviética. Sepultamento Cemitério de Kerepesi
Ele desenvolveu a teoria da reificação e contribuiu para a Cidadania Hungria
teoria marxista com o desenvolvimento da teoria da
Filho(s) Ferenc Jánossy
consciência de classe de Karl Marx. Ele também foi um
teórico do leninismo. Desenvolveu e organizou Alma mater Universidade Humboldt
ideologicamente as práticas revolucionárias pragmáticas de de Berlim, Universidade
Eötvös Loránd
Lênin na filosofia formal da revolução.
Ocupação filósofo, político, escritor,
professor universitário,
sociólogo, crítico literário
Índice Prêmios Prêmio Kossuth, Prêmio
Goethe, Prêmio Kossuth
Período pré-marxista Empregador Nyugat
Período marxista sob o domínio de Stálin [edite no Wikidata]
Período da desestalinização
Obra
Crítica literária e estética
Bibliografia
Ver também
Referências
Ligações externas

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Período pré-marxista
Enquanto estudava na Universidade de Budapeste, Lukács foi membro de vários círculos socialistas
que o colocaram em contato com o anarco-sindicalista Ervin Szabó, que o introduziu nas obras de
Georges Sorel. Seu enfoque neste período foi, portanto, modernista e anti-positivista. De 1904 a
1908, ele esteve envolvido num grupo teatral que produziu peças de dramaturgos como Henrik Ibsen,
August Strindberg e Gerhart Hauptmann.

Lukács passou a maior parte deste período na Alemanha: estudou em Berlim em 1906 e, novamente,
em 1909-10, onde fez amizade com Georg Simmel, e em Heidelberg, em 1913, onde se tornou amigo
de Max Weber, Ernst Bloch e Stefan George. O sistema idealista que Lukács subscrevia neste tempo
era derivado do neokantismo que dominava as universidades da Alemanha, mas também de algo de
Platão, Hegel, Kierkegaard, Dilthey e Dostoievsky.

Lukács retornou a Budapeste em 1915 e liderou um círculo intelectual predominantemente de


esquerda, que incluía figuras eminentes tais como Karl Mannheim, Béla Bartok, Béla Balázs e Karl
Polanyi entre outros.

Período marxista sob o domínio de Stálin


À luz da Primeira Guerra Mundial e da Revolução Russa, Lukács
repensou suas ideias. Ele tornou-se um dedicado marxista neste período
e juntou-se ao clandestino Partido Comunista da Hungria em 1918.
Como parte do curto governo da República Soviética da Hungria, Lukács
foi feito Comissário do Povo para a Educação e Cultura (foi
representante do Comissariado para Educação Zsigmond Kunfi).
Durante este período da República Soviética da Hungria, Lukács
trabalhou como comissário na Quinta Divisão do Exército Vermelho
Húngaro.

Depois que a República Soviética da Hungria foi derrotada, Lukács entra


na clandestinidade indo para Viena. Ele foi preso, mas salvo da
extradição graças aos esforços de um grupo de escritores que incluía
Thomas Mann e Heinrich Mann.
Lukács em 1919
Lukács voltou sua atenção para o desenvolvimento das ideias leninistas
no campo da Filosofia. Sua maior obra neste tempo foi a coletânea de
ensaios "História e Consciência de Classe", primeiramente publicada em 1923.[3] Estes ensaios
demonstram seu esforço em prover o leninismo de uma melhor base filosófica do que o próprio Lênin
tinha feito. Ao lado do trabalho de Karl Korsch, o livro foi atacado no quinto congresso do Comintern,
em julho de 1924, por Grigory Zinoviev. Em 1924, logo depois da morte de Lênin, Lukács também
publicou um curto estudo sobre ele: Um Estudo sobre a Unidade de seu Pensamento. Em 1925,
publicou uma revisão crítica do Manual do Materialismo Histórico de Nikolai Bukharin.

Como húngaro exilado, ele permaneceu ativo na esquerda do Partido Comunista da Hungria, e se
opôs ao programa de Béla Kun. Suas Teses sobre Blum de 1928 clamava pela derrubada do regime de
Horthy por meio de uma estratégia similar à Frente Popular dos anos 1930. Ele advogou uma
ditadura democrática do proletariado e camponeses como um estágio de transição até a ditadura do
proletariado. A estratégia de Lukács foi condenada pelo Comintern e posteriormente ele fez uma
autocrítica política.

Lukács viveu em Berlim de 1929 a 1933, mas mudou-se para Moscou após a ascensão do nazismo,
permanecendo lá até o fim da Segunda Guerra Mundial. Como Lukács viveu na União Soviética
durante os anos 1940, ele foi considerado como agente do aparato de segurança soviética, assim como
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também o foi, Imre Nagy. (Vede Granville, Joanna. "Imre Nagy, aka "Volodya" - a dent in the martyr's
halo?" Cold War International History Project Bulletin 5 (1995): 28, 34-36; KGB Chief Kryuchkov to
CC CPSU, 16 June 1989 (trans. Joanna Granville). Cold War International History Project Bulletin 5
(1995): 36 [from: TsKhSD, F. 89, Per. 45, Dok. 82.]).

Depois da Guerra, Lukács se envolveu no estabelecimento do novo governo da Hungria, como


membro do Partido Comunista Húngaro. Desde 1945 Lukács foi membro da Academia de Ciências
Húngara. Entre 1945 e 1946 ele criticou duramente os filósofos e escritores não-comunistas. Este
trabalho crítico foi parte da obrigação do trabalho de Lukács no partido, embora ele certamente
também acreditasse na necessidade da crítica do pensamento não-comunista como algo
intelectualmente deficiente. Lukács foi acusado de jogar um jogo "administrativo" (legal-
bureaucratic) de remoção dos intelectuais independentes e não-comunistas da vida acadêmica
húngara, a exemplo de Béla Hamvas, István Bibó, Lajos Prohászka e Károly Kerényi. Intelectuais não-
comunistas, como Bibó, foram frequentemente presos, forçados a entrar em manicômios e admitidos
em trabalhos de menor envergadura intelectual (como trabalhos de traduções) ou ainda forçados a
trabalhos manuais durante o período de 1946–1953. Claudio Mutti diz que Lukács foi o membro da
comissão do partido responsável pela feitura de listas de livros e trabalhos anti-democráticos e
socialmente aberrantes. No jargão daqueles tempos "anti-democrático" era usado para significar anti-
partidário ou anti-comunista e socialmente "aberrante" era usado para se referir a afirmações moral e
eticamente consideradas fora da muito estreita ética oficial do Partido Comunista. As listas de
trabalhos banidos (em três partes totalizando 160 páginas) eram distribuídas pelo Departamento de
Propaganda e Informação, associado ao escritório do Primeiro Ministro. Os autores destes trabalhos
eram silenciados pela lei, ou despedidos. Embora somente pela crítica intelectual, ou também pelos
meios "administrativos", Lukács teve culpa pela censura da sociedade civil húngara durante a era de
Tática Salami, de 1945 a 1950, na qual se estabeleceu o governo de Mátyás Rákosi.

Entretanto, a posição política pessoal de Lukács a respeito de estética e política cultural foi sempre
que a cultura socialista deveria eventualmente triunfar em termos de qualidade, mas que este conflito
devia se dar como competição cultural, não como medidas "administrativas". Entre 1948–49 a
posição de Lukács, opinando pela tolerância intelectual dentro do partido, culminou no seu expurgo,
quando Mátyás Rákosi se voltou com sua famosa Tática Salami sobre o próprio Partido Comunista
Húngaro. Lukács foi reintegrado na vida do partido em meados dos anos 1950, e foi usado pelo
partido durante os expurgos da associação de escritores em 1955-56 (Veja Aczel, Meray em Revolt of
the Mind). Contudo, Aczel e Meray acreditavam que Lukács esteve apenas presente nos expurgos e
citam que Lukács deixou o presidium e as reuniões como primeira evidência de relutância.

Período da desestalinização
Em 1956 Lukács tornou-se ministro do breve governo comunista revolucionário liderado por Imre
Nagy ao qual a União Soviética se opôs. Neste tempo, a filha de Lukács liderou a juventude comunista
revolucionária. A posição de Lukács na Revolução Húngara de 1956 foi a de que o Partido Comunista
Húngaro necessitava se retratar dentro da coalizão governamental dos socialistas, e rapidamente
reconstruir sua credibilidade diante do povo húngaro. Com isto, enquanto ministro do governo
revolucionário de Imre Nagy, Lukács também participou da refundação do Partido Comunista
Húngaro em novas bases. Este partido foi rapidamente cooptado por János Kádár depois do 4 de
Novembro de 1956.(Woroszylski, 1957).

Durante a Revolução Húngara de 1956, Lukács esteve presente nos debates da anti-partidária e
revolucionária sociedade comunista Petofi, enquanto continuava a fazer parte do aparato partidário.
Durante a Revolução, como mencionado no "Diário de Budapeste", Lukács defendeu um novo
alinhamento ao Partido Comunista da União Soviética. No ponto de vista de Lukács, o novo partido
poderia ganhar a liderança social pela persuasão ao invés da força. Lukács concebeu uma aliança
entre os dissidentes jovens do partido, o revolucionário Partido Social Democrata Húngaro e o
Partido Comunista Soviético de Lukács como o mais jovem parceiro. Depois de 1956, Lukács por

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pouco evitou a execução, e não se reintegrou no aparato partidário devido ao seu papel no governo
revolucionário de Nagy. Os seguidores de Lukács foram indiciados por crimes políticos ao longo dos
anos 1960 e 70, e vários deles fugiram para o Ocidente. O livro de Lukács sobre o Jovem Hegel e a
Destruição da Razão foi usado para argumentar que ele havia se tornado um crítico do stalinismo
como uma irracional distorção do Hegeliano-Marxismo de Lukács.

Após a derrota da Revolução, Lukács foi deportado para a Romênia com o resto do governo Nagy,
mas ao contrário de Nagy, ele sobreviveu aos expurgos de 1956, retornando à Budapeste em 1957.
Lukács abandonou publicamente suas posições de 1956 e fez uma autocrítica. Tendo abandonado
suas primeiras posições autocriticamente, Lukács permaneceu leal ao Partido Comunista até sua
morte em 1971. Entretanto, tornou-se o maior crítico do Partido Comunista da União Soviética e
Hungria em seus últimos anos, após os levantes na França e Tchecoslováquia de 1968. Foi sepultado
no Cemitério Kerepesi, Budapeste na Hungria.[4]

Obra
História e Consciência de Classe

Escrito entre 1919 e 1922 e publicado em 1923, "História e Consciência" inicia a corrente de
pensamento que passou a ser conhecida como marxismo ocidental. O livro é notável pela
contribuição ao debate concernente à relação entre sociologia, política e filosofia com o marxismo e
pela reconstituição da teoria marxista da alienação, antes dos escritos de juventude do jovem Marx
terem sido publicados. O trabalho de Lukács elabora e se expande sobre teorias marxistas tais como
ideologia, falsa consciência, reificação e consciência de classe.

Para Lukács, "ideologia" é realmente a projeção da consciência de classe da burguesia, que funciona
para prevenir que o proletariado atente para a real consciência de sua posição revolucionária. A
ideologia determina mais a "forma de objetividade" do que a estrutura do conhecimento por si
mesmo. A ciência do real deve se ater, de acordo com Lukács, ao pensamento da "totalidade concreta"
através de que é possível pensar objetivamente um período histórico. Assim sendo, as chamadas
"leis" eternas da economia são desmistificadas como ilusão ideológica projetada pelo objetivismo ("O
que é Marxismo Ortodoxo?", 3º parágrafo). Ele também escreve: "Somente quando o coração do ser
mostra-se como ser social, pode aparecer como um produto, inconsciente, da atividade humana, e
esta atividade, por sua vez, é o elemento decisivo de transformação do ser." ("O que é Marxismo
Ortodoxo?", 5º parágrafo). Finalmente, o "marxismo ortodoxo" não é definido como uma
interpretação de O Capital como se este fosse uma Bíblia, mas como fiel ao método marxiano, à sua
dialética.

Lukács apresenta a categoria da reificação argumentando que, devido à natureza íntima da sociedade
capitalista, as relações sociais transformam-se em 'coisificação', impedindo o surgimento da
consciência de classe. É neste contexto que um partido leninista emerge, no sentido de um revigorado
marxismo dialético.

Já no ensaio homônimo à obra, “História da Consciência de Classe” (1920), Lukács lida


primeiramente com a ausência da conceituação de classe em Marx, definindo-a como posição no
modo de produção. A cada classe no capitalismo há uma consciência equivalente. Essa consciência
não consiste no entendimento pessoal ou psicológico dos interesses individuais dos membros da
classe, tampouco a soma ou a média desses entendimentos, mas seu sentido histórico: a história
permite que uma consciência seja interpretada racionalmente e atribuída à classe.

Lukács concentra-se, então, na análise de duas classes: burguesia e proletariado. A burguesia, apesar
de poder teoricamente entender a totalidade da sociedade, tem sua compreensão obstada pelos seus
interesses e sua consciência assim fadada a uma falsa consciência. O proletariado tem o potencial
pleno para a consciência da totalidade porque tem interesse na destruição do modo de produção
capitalista; falta-lhe, porém, desvencilhar-se da falsa consciência tomada emprestada da burguesia,
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que estruturalmente e ideologicamente submete o todo da sociedade aos seus interesses. Para o
filósofo húngaro, a revolução proletária não viria passivamente, mas como resultado da tomada de
consciência pelo proletariado. As crises do capitalismo forçariam o proletário a abrir os olhos,
conscientizar-se de sua posição de classe e identificar seus interesses com aqueles indicados
historicamente.

No fim da carreira, Lukács repudiou as ideias de "História e Consciência de Classe", em particular a


crença no proletariado como sujeito-objeto da História (1960: posfácio da tradução francesa), mas
escreveu uma defesa deles, assim como fizera em 1925 e 1926. Este livro Lukács chamou "A Defesa de
História e Consciência de Classe" e somente foi publicado em húngaro, em 1996, e inglês, em 2000.
Esta obra talvez tenha sido o mais importante texto marxista desconhecido do século XX.

Crítica literária e estética


Além de ser um pensador do marxismo político, Lukács foi também um dos mais influentes críticos
literários no século XX. Sua importante obra de crítica literária começou bem cedo em sua carreira,
com A Teoria do Romance, um trabalho seminal de teoria literária. O livro é uma história do
romance enquanto forma literária, e uma investigação de suas distintas características, e demonstra
forte inspiração hegeliana.

Lukács, posteriormente, quando mais afeito às ideias do marxismo clássico, repudiaria A Teoria do
Romance, escrevendo uma introdução que o descreve como errôneo, apesar de conter um anti-
capitalismo romântico que seria mais bem desenvolvido depois dentro do marxismo. (Esta
introdução, ainda contém, a rejeição de Theodor Adorno e outros expoentes do marxismo ocidental,
como tendo tomado assento no "Grand Hotel Abyss".)

O trabalho de crítica literária de Lukács inclui o bem conhecido ensaio "Kafka ou Thomas Mann?",
no qual Lukács argumenta em favor da obra de Thomas Mann como uma superior adequação às
condições da modernidade, enquanto critica o modo de inserção de Franz Kafka no modernismo.
Lukács se opôs às inovações formais de escritores modernistas como Kafka, James Joyce, e Samuel
Beckett, preferindo a estética tradicional do realismo. Ele defendia o caráter revolucionário dos
romances de Sir Walter Scott e Honoré de Balzac; afirmando que estes autores, a despeito de suas
nostalgias dos tempos aristocráticos, escreviam com um acurado senso crítico por causa de suas
oposições à ascensão da burguesia (diferindo-se da oposição reacionária). Este ponto de vista foi
expresso no seu último livro O Romance Histórico.

Além desse trabalho, são notáveis os textos "Notas sobre o romance" e "Narrar ou descrever?", em
que o autor se debruça mais meticulosamente sobre a concepção marxista da literatura. No primeiro
desses textos, Lukács faz uma revisão histórica da formação do gênero romanesco, desde as suas
origens, passando pela época de sua consolidação histórica e chegando a prognósticos (considerados
precipitados por vertentes teóricas de cunho marxista, mas substancialmente divergentes da de
Lukács) a respeito das suas feições quando do triunfo do proletariado.

Ao mesmo tempo, o romance começa a adquirir forma, tendo como principal exemplo o livro de
Miguel de Cervantes, Dom Quixote. Segundo Lukács, com o capitalismo, há a passagem de uma
consciência coletiva para uma consciência individualista que leva, mais tarde, à formação do romance
enquanto forma predominante da sociedade burguesa. Neste sentido, o romance caminha para a
solução realista, depois de ter passado pelo romance histórico de Sir Walter Scott; surge, portanto, o
romance realista como forma literária que apreende a individualidade como parte de uma estrutura
mais geral. Dito de outro modo, de acordo com Lukács, orientado pelas principais teses do
materialismo dialético, o romance realista é a forma literária por excelência da burguesia na medida
em que privilegia o tipo - isto é, uma situação típica vivenciada por um personagem típico -, colocado
sobre um pano de fundo histórico relevante; assim, de acordo com essa perspectiva, tem-se uma
compreensão geral das contradições que engendram a sociedade burguesa-capitalista, uma vez que a
situação narrada permite vislumbrar não só a particularidade que define a literatura, mas também o
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quadro geral de construção da mentalidade e de desvendamento das contradições e ideologias da


sociedade capitalista. Nesse sentido, as ações, muito mais do que as minúcias descritivas, interessam
mais ao crítico. Lukács destaca, então, a obra de Honoré de Balzac como paradigmática dessa relação.

Adiante, nesse mesmo ensaio, Lukács manifesta o seu repúdio pelas formas literárias naturalistas,
que, segundo ele, em favor de "formalismos", sacrificam o nível actancial da narrativa (Ver: Círculo
Linguístico de Praga), a fim de relevar aspectos da realidade que não necessariamente contribuem
para um esclarecimento do público acerca de sua condição social. Dessa forma, escritores como
Gustave Flaubert - e, mais tarde, todo o empreendimento das vanguardas históricas - são muito mal
vistos pelo pensador húngaro.

O outro ensaio, "Narrar ou descrever?" retoma os aspectos abordados no ensaio acima. De forma
programática, Lukács afirma que, em nome da construção de uma consciência mais crítica acerca do
papel social dos sujeitos - que, segundo ele, é um dos objetivos da arte -, o "narrar" é preferível ao
"descrever", na medida em que o primeiro revela contradições a partir de situações típicas, e o
segundo descamba para formalismos que alienam o público.

Além desses ensaios, Lukács escreveu longos volumes sobre Estética. É notável, nessa sua produção,
a reiteração de ideias sobre a deontologia da arte e da literatura. De acordo com o seu ponto de vista,
que reflete apenas um dos desdobramentos possíveis e consolidados da epistemologia marxista - ao
qual se opõe, por exemplo, o ponto de vista de Theodor Adorno, o papel principal da arte é contribuir
para a transformação da consciência do indivíduo, apresentando-lhe formas alternativas e
profundamente críticas de confronto com a sociedade capitalista e seu modo de produção. Como
vimos acima, Lukács acredita que apenas o realismo artístico pode produzir esse grau de
comprometimento e consciência, aproximando-se, nesse aspecto, do pensamento de Arnold Gehlen,
autor que Lukács estudou com grande interesse a partir da década de 1950. Todavia, cumpre lembrar
que essa visão estreita contribuiu, mais tarde, para a erupção do Realismo Socialista russo, que
condenou, entre outros, artistas de vanguarda engajados na produção artística comprometida com os
ideais marxistas, apesar de partirem, através de outro viés, para a crítica da sociedade burguesa.

Bibliografia
1950. Studies in European Realism. London: Hillway.[5]
1962. [1937, Rus.; 1947, Hun.]. The Historical Novel. London: Merlin.
1963. [1955, Ger.]. The Meaning of Contemporary Realism. London: Merlin.[6]
1964. [1947, Hun.]. Essays on Thomas Mann. London: Merlin.
1968. [1947, Ger.]. Goethe and His Age. London: Merlin.
1970. [1924, Ger.] Lenin: A Study on the Unity of his Thought. London: New Left Books.[7]
1970. [1969, Ger.]. Solzhenitsyn. London: Merlin.</ref>
1970. Writer and Critic, and Other Essays. Edited by Arthur Kahn. London: Merlin.
1971. [1923, Ger.]. History and Class Consciousness. London: Merlin.
1971. [1916/1920, Ger.: Die Theorie des Romans]. The Theory of the Novel. London: Merlin.
1972. [1919, Hun.]. Tactics and Ethics. Edited by Rodney Livingstone. London: New Left Books.
1973. Marxism and Human Liberation. Edited by E. San Juan, Jr. New York: Dell.
1974. Conversations with Lukács. Edited by Theo Pinkus. London: Merlin.
1974. [1910, Hun.]. Soul and Form. London: Merlin.
1975. [1948, Ger.]. The Young Hegel. London: Merlin.
1978. The Ontology of Social Being. 1, Hegel's False and His Genuine Ontology. London: Merlin.
1978. The Ontology of Social Being. 2, Marx's Basic Ontological Premises. London: Merlin.
1980. [1954, Ger.]. The Destruction of Reason. London: Merlin.
1980. [1948, Ger.]. Essays on Realism. Edited by Rodney Livingstone. London: Lawrence and
Wishart.
https://pt.wikipedia.org/wiki/György_Lukács 6/8
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1980. The Ontology of Social Being. 3, Labour. London: Merlin.


1983. Record of a Life. Edited by István Eörsi. London: Verso.
1983. Reviews and Articles from "Die Rote Fahne". London: Merlin.
1986. Selected Correspondence, 1902–1920. Edited by Judith Marcus and Zoltán Tar. New York:
Columbia University Press.
1991. The Process of Democratization. Albany: State University of New York Press.
1993. [1951, Ger.]. German Realists in the Nineteenth Century. Edited by Rodney Livingstone.
London: Libris.
1995. The Lukács Reader. Edited by Arpad Kadarkay. Oxford: Blackwell.
2002. [1996, Ger.]. A Defence of "History and Class Consciousness." London: Verso.
2010. [1910, Hun.]. Soul and Form. New ed. Edited by John T. Sanders and Katie Terezakis. New
York: Columbia University Press.
2012. The Culture of People's Democracy. Edited by Tyrus Miller. Leiden: Brill.

Ver também
Karl Marx
István Mészáros
Arnold Gehlen
Lenin

Referências
1. Benét's Reader's Encyclopedia, Third Edition (1987) p. 588.
2. Leszek Kołakowski ([1981], 2008), Main Currents of Marxism, Vol. 3: The Breakdown, W. W.
Norton & Company, Ch VII: "György Lukács: Reason in the Service of Dogma, W.W. Norton & Co.
3. « A Defence of History and Class Consciousness» (http://books.google.co.th/books/about/A_Defe
nce_of_History_and_Class_Conscious.html?id=gA9n5FRMMvIC&redir_esc=y) (em inglês).
books.google.co.th. Consultado em 28 de dezembro de 2013
4. György Lukács (http://www.findagrave.com/cgi-bin/fg.cgi?page=gr&GRid=15686265) (em inglês)
no Find a Grave
5. Also published by Merlin, 1972.
6. Also published with different prefaces as Realism in Our Time (New York: Harper and Row, 1964).
7. Also published in Cambridge, Massachusetts: MIT Press.

Ligações externas
Georg Lukács Archive on marxists.org (https://www.marxists.org/archive/lukacs/index.htm)
Johns Hopkins Guide to Literary Theory (http://www.press.jhu.edu/books/hopkins_guide_to_litera
ry_theory/georg_lukacs.html)
Bendl Júlia, Lukács György élete a századfordulótól 1918-ig (https://web.archive.org/web/200408
19110158/http://nyitottegyetem.phil-inst.hu/Tarsfil/ktar/Bendl/tartalomjegyzek.htm)
Hungarian biography (http://mek.oszk.hu/02100/02185/html/1179.html)
Claudio Mutti:Lukács Evangéliuma (hungarian) (https://web.archive.org/web/20011120154809/htt
p://www.geocities.com/pannon_front/30/htm/07Mutti.htm)
Georg Lukács Archive from Libertarian Communist Library (http://libcom.org/library/taxonomy/ter
m/119)
Instituto Lukács: Conhecimento para emancipação humana (http://www.institutolukacs.com.br/)
PDF dos livros "Para uma ontologia do ser social" e "Prolegômenos" (G. Lukács) em português
brasileiro disponibilizados gratuito, sob Creative Commons, no site do Coletivo Veredas (https://c
https://pt.wikipedia.org/wiki/György_Lukács 7/8
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oletivoveredas.com/livros-em-pdf)
PDF do livro "Introdução a uma Estética Marxista" (G. Lukács) em português brasileiro,
disponibilizado gratuitamente no site do IL, sob Creative Commons (http://www.institutolukacs.co
m.br/single-post/2018/11/01/Introdu%C3%A7%C3%A3o-a-uma-Est%C3%A9tica-Marxista)

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