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Ernesto Pinto____________________________Projecto, Melhoria e Medição de Terras

1. Introdução
O tema do meu estágio / PSTFC é “Projecto, Medições e Melhoria de
Terras”, e decorreu nas instalações da EDP Distribuição (EDIS) da ARN –
Minho1 desde 1 de Março de 2005, sensivelmente.

Fig. 1 e 2 - Viana do Castelo

Foi obviamente muito enriquecedor e permitiu-me sobretudo, ter um contacto


com a realidade e o “state of the art” no que diz respeito ao projecto e melhoria
de circuitos de terra, bem como na medição da resistividade do solo e posterior
estudo da solução a implementar.

Durante todo este período, foi-me permitido também ter contacto com o
ambiente de uma empresa envolvida directa e profundamente nestas
questões, ter conhecimento das dificuldades no terreno, dos aspectos
orçamentais, dos aspectos logísticos e das subtilezas intrínsecas a este
assunto.

Cedo percebi que o assunto das terras é vasto. Incorpora, além disso, uma
larga panóplia de conceitos e conhecimentos sendo, até por isso, um tema
bastante actual, quer em termos de tecnologia, quer no aspecto das
ferramentas de suporte (sofware e hardware).

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EDIS – EDP distribuição, área de rede Norte (Minho)

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No caso da EDIS foi patente a profunda preocupação dada ao aspecto


económico. As soluções de melhoria de terras ou execução do próprio circuito
chegam a dobrar (!) o orçamento previsto para o próprio PT.

A zona geográfica onde se insere a ARN- Minho é caracterizada por solo


granítico e/ou húmos, solo esse onde são típicos valores de resistividade do
solo que podem ir de 200 .m a 5000-10000 .m, o que por si só representa
uma dificuldade drasticamente acrescida no que diz respeito à implementação,
e em particular á escolha e projecto do eléctrodo e circuito a adoptar.

Fig. 3 - Resistividades médias em Portugal continental.

As soluções encontradas, muitas vezes centram-se em eléctrodos verticais


(varetas) enterrados a grande profundidade, na tentativa de encontrar na
profundidade solos com valores de resistividade mais baixos, e dessa forma

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baixar o valor de RE (Resistência de Terra ou Resistência do Eléctrodo). Mas


depressa percebi que seria necessário uma mudança conceptual na forma
como se aborda a questão e forma de implementar o sistema de terras.

Para mim foi evidente que apostar na profundidade, por si só, poderia não ser
a solução, porque, por exemplo, não existe a garantia real que a resistividade
do solo baixe efectivamente com a profundidade. O solo, tipicamente, é
estratificado, mas nada garante que (resistividade) vá diminuir à medida que
aumentamos o comprimento do nosso eléctrodo, poderá ocorrer exactamente
o contrário.

Existe também a justificação que o furo profundo se destina a encontrar


possíveis lençóis de água e dessa forma encontrar solos ensopados que
teriam altas condutibilidades, e que dessa forma também baixariam RE, mas
talvez não seja a melhor solução, porque esses lençóis normalmente
encontram-se a profundidades acima dos 25 m, tornando o furo muito
dispendioso.

Depois há a questão do encamisamento dos furos efectuados. A definição


de eléctrodo de terra implica a noção de um elemento condutor em contacto,
ou melhor, envolvido por um solo de resistividade , logo, é necessário em
furos particularmente fundos (ou em qualquer tipo de furos acima dos 0,80 m,
por exemplo), encamisá-los devidamente, através de um tubo de ferro
galvanizado (tipicamente), de forma a impedir que o próprio condutor de cobre
que faz a ligação entre o eléctrodo e a instalação seja ele próprio um eléctrodo,
com uma resistência à terra Rx que depois se vá somar à RE do próprio
eléctrodo.

Rx

RE RE

Rtotal = Rx + RE

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No projecto ou melhoria de circuitos ou sistemas de terra, normalmente define-


se os vários parâmetros que constituem os próprios constituintes do circuito,
como sendo:

- Tipo de eléctrodo a utilizar.


- Parâmetros do eléctrodo (Comprimento, seccção, forma, disposição etc..).
- Nº de eléctrodos.

No caso de uma vareta ou piquet , por exemplo, pode-se intervir ao nível do


seu comprimento. Vejamos a fórmula para cálculo de RE para uma Vareta
(com em .m, l , comprimento da vareta em m, d, diâmetro da vareta em m e
RE em ):

8.l
RE = * ln( ) 1
2. .l d

Na fórmula aproximada para uma vareta enterrada num solo de resistividade ,


podemos facilmente verificar que, se aumentar-mos o comprimento l, baixamos
RE, isso pode ser confirmado se traçarmos o gráfico2 da variação de RE com o
comprimento, para um eléctrodo de determinadas características.

Fig. 4 - Traçado de RE (l) no SPT

De facto, verifica-se que, aumentando o comprimento (a roxo), RE vai diminuir,


mas deve-se ter em atenção que, devido a fenómenos de interacção entre
tomadas de terra, está estipulada uma distância de segurança entre dois

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Este gráfico foi desenhado pelo S.P.T. , uma aplicação que desenvolvi durante o meu estágio. Mais á
frente neste relatório vou-me debruçar sobre ela e explica-la com todo o detalhe.

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piquets sucessivos no mínimo igual ao seu comprimento. Logo, aumentando o


comprimento das varetas, está-se a aumentar também a distância entre eles, e
portanto, o comprimento das valas, o que sob o ponto de vista económico e de
espaço pode ser um sério problema.

Neste caso, seria de adoptar outro tipo de configuração: aumentar o nº de


eléctrodos em paralelo, alterar a forma do próprio eléctrodo (para um anel, por
exemplo), ou adoptar um eléctrodo horizontal, enterrado a uma profundidade x
de resistividade x e dessa forma garantir um valor consistente de RE.

Deve-se ter presente a morfologia típica dos solos, que são estratificados,
implicando uma variação de mais com a profundidade, mas também
horizontalmente, o que muitas vezes é esquecido na prática. A morfologia
típica do terreno deve influenciar a escolha do tipo de eléctrodo a utilizar.

No caso de considerarmos um solo estratificado com 4 níveis de resistividade,


por exemplo, a solução de furar até á camada 4 e enterrar um eléctrodo
vertical, parece desajustada.

1
1

2 2

3 3

4 4

REa REb = R4

Com 4 << 1.

Seria mais indicado optar neste caso por um eléctrodo horizontal, de forma a
potenciar o baixo valor de 4 característico dessa camada.

É claro que este procedimento apenas seria justificável em termos económicos


se a profundidade correspondente a 4 não implicasse um orçamento
proibitivo, mas mesmo assim, no caso, por exemplo, de se optar por enterrar o
eléctrodo em 2, seria de esperar que REb viesse inferior a REa.

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Normalmente existem várias soluções, mas como sempre, apenas uma é


óptima.

Na minha óptica, a abordagem a um problema de projecto ou melhoria de


terras deve ser a mais sistemática possível. Deve passar sempre primeiro por
uma fase de estudo das condições do terreno, medida da resistividade ( ) do
solo, estudo cuidadoso da localização dos eléctrodos e depois então por uma
análise do tipo de eléctrodo a utilizar e finalmente, sua implementação.

No projecto dum circuito de terra ou na sua melhoria, existem certas variáveis


que estão fora do nosso controlo, como sendo, as condições climatéricas,
que influem nas condições de resistividade do solo e outras questões
relacionadas com aspectos de ordem geológica. Torna-se por isso necessário
ter uma atitude crítica e realista na fase de projecto ou na fase de
implementação dos eléctrodos e circuitos de terra. Ganhar 0,5 ou mesmo
1,5 em RE, realisticamente, não significa nada.

Todas as fórmulas postuladas em normas internacionais (no IEEE std 80, por
exemplo) que vou usar na minha abordagem ao problema das terras, são
sempre o pior caso, um majorante e reflectem uma perspectiva mais qualitativa
do que exacta, porque, objectivamente, a precisão é impossível de ser
encontrada. O que se pretende é uma orientação, uma abordagem que vá no
sentido da optimização, de uma forma que seja prática e que vá de encontro
às condicionantes económicas.

Pretende-se um método sistemático e estruturado de análise qualitativa,


exacto quanto possível, para o projecto ou melhoria de um circuito de terras.

A minha abordagem vai-se centrar no seu aspecto mais sensível: A escolha


do tipo de eléctrodo a utilizar, sua configuração e disposição no terreno.

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2. Objectivos

2.1 Projecto, Melhoria e Medição de Terras


Os objectivos para o meu trabalho foram, no seu essencial, definidos no
começo do meu estágio, baseado nas primeiras trocas de impressões com
pessoal da EDIS que levei a cabo nas duas primeiras semanas de Março.

As conversas tinham um carácter informal e o seu propósito era captar as


dificuldades inerentes ao assunto que iria versar no meu trabalho e a
perspectiva de quem lida quase diariamente no terreno com a problemática
das terras.

Queria ter também um enquadramento completo relativamente à empresa, sua


organização, sua estrutura funcional e, claro, desenvolver um contacto estreito
com todo o staff humano.

O meu tutor é o responsável pela área de projectos de construção da EDIS


Viana do Castelo, Engº José Carvalho, com o qual fui tendo longas
entrevistas. Ficou para mim claro dessas conversas, que a questão do projecto
de circuitos de terra, na óptica da EDIS, se reveste de uma problemática
estreitamente ligada à questão económica.

Gasta-se muito, sem se ter propriamente a certeza que se gaste bem.

A execução destes projectos de melhoria ou estabelecimento de um circuito de


terra é normalmente entregue a empresas subcontratadas da EDP (Electro
Minho SA, por exemplo), empresas essas que não estão minimamente
envolvidas na fase de projecto (nem têm de estar). E empresas essas que têm
obviamente os seus próprios interesses económicos, os seus objectivos e
metas orçamentais a atingir, que não têm forçosamente de coincidir com os da
EDIS.

Fig. 5 - Execução de um furo artesiano em Marinhas (Esposende) para em eléctrodo tipo vareta, o
comprimento final do furo foi de 50 m .

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Sendo assim, torna-se claro que se deverá avançar para o terreno com uma
ideia clara e concreta do que se tem de fazer e como fazer, porque, como mais
tarde verifiquei, no terreno as coisas podem tornar-se complicadas com a
maior das facilidades.

Durante a execução da tarefa de estabelecer a terra de serviço e protecção


para um PT é muitas vezes usada a táctica do ‘mede e fura’, ou seja, nos
casos mais complicados, casos de solos pedregosos (muito típicos nesta
zona), vai-se furando e medindo até se encontrar um valor considerado
aceitável para o valor da Resistência de Terra (RE).

Daqui se percebe, porque com facilidade se chega aos orçamentos proibitivos


que estão na origem do problema.

Logo, é necessário o acompanhante da obra (do lado da EDIS) ter uma clara e
cristalina noção do que se deve fazer, e isto só é possível, a meu ver, se forem
reunidas as seguintes condições:

1 – Conhecimento claro das condições do terreno e condições


climatéricas afectas ao local de estabelecimento do circuito e eléctrodos
de terra (Tipo de solo, microclima envolvido, etc..) através de uma visita
prévia ao sitio onde vai ser efectuada a obra.

2 – Medição, a mais pormenorizada possível, da resistividade do terreno


no local do estabelecimento dos eléctrodos de terra. Menos de 3- 4
medidas para três níveis de profundidade, para mim, não é minimamente
aceitável.

3 – Projecto do circuito de terra, que envolve a escolha do tipo de


eléctrodo a utilizar e sua caracterização completa, mediante os dados
anteriormente reunidos.

Após estarem reunidas, pelo menos, estas três condições o acompanhante da


obra estará apto a desempenhar as suas funções de uma forma muito mais
segura, evitando que se escale no orçamento e protegendo os interesses da
EDP e da EDIS neste caso.

Notei que era necessário definir uma sistematização de processos para a


abordagem da questão das terras, que fosse prática e intuitiva e sobretudo que
tivesse uma forte dimensão qualitativa, que desse uma perspectiva
aproximada da realidade do terreno, antes de se medir propriamente o valor de
RE depois de montados os eléctrodos e circuito de terra.

A minha proposta de abordagem ao problema consiste num raciocínio


estruturado num fluxograma (ver pagina seguinte), onde se incorporam os
passos que considero serem fundamentais

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Mais à frente no meu trabalho irei seguir este fluxograma, incorporando outros
aspectos a considerar numa empreitada de estabelecimento de um circuito de
terra, mas o meu ponto de partida será este.

Despacho para montagem do PT

Visita ao terreno para avaliação


do tipo de solo e condições
climatéricas.

Medição da resistividade do
terreno, pelo menos para 5 niveis
de profundidade e 2 ou 4
localizações .

Escolha do tipo de eléctrodos a


utilizar, disposição e
características com base numa
ferramenta de cálculo como o
SPT por ex.

EXECUÇÃO ACOMPANHAMENTO

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Como já foquei anteriormente, neste assunto das terras não interessa


propriamente fazer uma previsão exacta do valor de RE no local x onde se vai
estabelecer um circuito de terra de serviço ou protecção, isso é irrealista a meu
ver, pelo menos para os meios técnicos e logísticos da EDIS.

É muito mais indicado saber antes se, por exemplo, se baixa mais RE fazendo
isto ou aquilo ou optando por este ou aquele eléctrodo ou esta ou aquela
disposição.

Cedo percebi que seria esta abordagem correcta para o enquadramento que a
EDIS Viana do Castelo e o seu staff humano me oferecia.

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2.2 O S.P.T.
Depois de uma conversa que tive com um técnico da EDIS, que me confessou
que lhes faltava uma ferramenta de cálculo, tive a ideia de desenvolver uma
pequena aplicação informática, o SPT (Software para Projecto de Terras),
onde se pudesse fazer uma avaliação do tipo de eléctrodo a utilizar,
comparação entre eléctrodos, tendo como base as condições do terreno e o
valor aproximado de RE em cada caso.

O SPT seria portanto um ponto de partida, um estádio naquela sistematização


que atrás referi, uma orientação para a escolha da melhor solução, antes de
avançar para o terreno.

Fig. 6 - O SPT

Os primeiros tempos do estágio aqui em Viana, passei a reunir informação


relativamente a métodos de cálculo de RE para cada tipo de eléctrodo e a
estruturar e desenvolver o SPT.

O desenvolvimento do SPT ocupou-me intensamente durante os segundo e


terceiro mês deste estágio, tendo eu tido oportunidade de apresentar a
aplicação aos técnicos da EDIS em Viana e efectuado cálculos com ela
durante os últimos dois meses.

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Sendo assim, defini então os meus objectivos para o meu estágio aqui na
EDIS de Viana do Castelo.

2.3 Objectivos Estabelecidos


O objectivo primordial envolve o conhecimento e familiarização com os
métodos existentes de medição de terras e sua melhoria: os princípios
teóricos ou empíricos envolvidos, metodologias e bases teóricas .

Os objectivos passam ainda pela identificação do “state of the art ' no que diz
respeito a aparelhagem de medida, software de apoio ou tecnologia disponível
na actualidade.

Deverei ter um conhecimento abrangente dos métodos de medida e técnicas


de melhoramento de terras utilizadas na EDIS (ARN-Minho) e sugerir novas
formas de abordar a questão do melhoramento/optimização de circuitos,
ligações e eléctrodos de terra.

Outro aspecto a concretizar como objectivo, consistirá no desenvolvimento de


um software de apoio ao engenheiro ( SPT ) na fase de projecto, ou na fase de
optimização do circuito de terras (eléctrodos e ligações), que seja simples,
prático e intuitivo, constituindo não um fim, mas uma base para o processo de
melhoramento.

Durante o processo deverei produzir informação e documentação clara,


apelativa e precisa sobre o quadro presente da problemática das terras bem
como abordar perspectivas de evolução.

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