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Direito Como Fato Social PDF
Direito Como Fato Social PDF
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•• F.A.de MIRANDA ROSA xv
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•,• CAPíTULO III
•• oFenômeno Jüríd·icn
, .
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•• Jorge 'Zat~
T ' ar ~c,Q!tor
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Direito é fato social. Ele se manifesta como
urna das realidades observáveis na sociedadc _' ..
É o instrumento Instítuclonallzado de malar Im-
portância para o controle socIal. Desde o inicio elas
sociedades organizada~_ manifestou-se. o fenômeno jurí.
dico, comcrststem!!"._ç)~_ lI01J:nas de.... cOnduta a que cor_
••
jesponde..-uma-coJ\~exercida pela Sociedade, segundo
certos_PIincipios aprovaaÕSlJ obedientes a l".mas prede-
terminadas. - _. ---- - •
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- A norma juridiclh...1lQrtantL..-é .llIILresultaúo da Tea _
lidade sociai:- E3ã: emana da sociedade, por seus instruo
mentm.",ifstitIÚÇões destinados a formular o Direi!.o, •
I
refletindo o que. a sociedade tem como objetivos. bem
como suas crenças e valorações, o complexo de seus
conceitos éticos e finallsticos.
Esse fato pode ser esclarecido mediante simples re-
•
t
ferência à variedade de sistemas e normas de Direito 4
e/I1. .~rentes qUadros cult.urJl,is. O estudo histórico das
sociedades revela a existência de estruturas jurídicas I
i
bastante diversas no tempo e no espaço. As pesquisas
realizadas sobre a evolução do direito de farnllia , ou sobre
as diversas fórmulas adotadas no direIto de sucessão •
4
.1 hereditária, no que se refere ao direito de propriedade
etc., mostram que cada uma dessas faces do fenômeno
jurldico global apresentou uma dessemelhança de formu-
lações, extremamente Interessante e curiosa. As reali-
••
dades sociais diferentes condicionaram ordens jUI1dicas
também diversas_
É importante pesquisar as relações existentes entre
•
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as estruturas e a dinâmica socIais dos exemplos tomados,
e as manifestações das instituições de Direito. Nesse
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,:
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1 LUIS RECAstNS SJCIlES, Trotado d~ Sociolo"ia" já eiL, pág'. 692.
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•• 58 Sociologia do Direito
Direito como Fato Social 59
•• it
estudo, a re~o entre' realÍdade -do meio -social e cada
uma das facetas do seu sistema cultural, nele incluida
a ordem jurld1ca, ~ela, a existência de uma interr.ção
novos paradigmas de justiça social, ou -seja ainda pelos
novos desenvolvimentos c1ent!flcos _• - '-,:
,•
dlscuUvels. As modificações do complexo cultural
dem a apresentar grandes diferenças em relação às que de uma sociedade correspondem, a seguir, alterações na ';,
são- vigentes nos países chamados desenvolvidos. As sua ordem juridica. Tais modiflcàÇões siio verificadas ,:
sociedades "em desenvolvlinento". ou subdesenvolvidas, c'pm maior ou menor celeridade, dePendendo de diversos
••
dentro de um quadro mundià1 que tende para a redução mento cultural" que se refere à maior lentidão COIl!., que
das diversidades fundamentais e para a maior Influência as modificações soctals se operam, comparadas 'cóm os
reciproca de todos os grupos humanos. A essa realidade progressos materlals; e o fenOmeno da diferença em
particular corresponde a produção de instituições tam- ritmos e velocidades na mudança social, entre as diversas
••
empregar. Modelos Juridicos -das socied8des industrlals entre as diversas sociedades, em uma esCala global. Um-
mais avançadas não podem, evidentemente, ser bons para dos fatos marcantes dos meados deste século é precisa-
sociedades subdesenvolvidas, a menos que sofram gran0 mente essa expansão do sistema de comunicações, de
des transformações no processo de aplicação, quando modo que qualquer fato social de alguma significação
••
as interaçóes da mudança soclal com a mudança do ainda está em sua fase de desenvolvimento, porém a
DIreito lembrando que -os estfmulos sociais à mod1f1cação
da ordem Jurldica assumem tormas varlildas, seja pelo .2 WOll'OÃNO FlUaUUHN. LcMu in a. ClurAgi1t41 Socie~. Penguln
crescimento lento -di' pressão -dos -padrões- e normas ai· Boob Ltd., Midd1eaex, lnrlaterra. '1964. Seus-. doia outro, t~~'
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60' Sociologia do Direito Direito como ~ato ~ ~ial
i" :":.'
'61
••
previsão normal ,é de que não se detenha, de modo que
a , Terra apresentará, provavelmente, dentro de certo
número de decênios, um panorama sociocultural relati-
vamente homogéneo, Não vaticinamos aqui a Supressão
observados idênticos modos de tratar as principais ins-
tituições juridicas.
Como já , se acentuou, o fenOmeno juridico poderia
ser qualificadO como um "universal" da sociedade.
••
de, todas as diversidades histórico-cuJturais relativas às
diversas civilizações, porém tais variações tendem a es-
maecer, sob o influxo das conseqUências soclais do enor-
Sanchez de ' la Torre" o afirmou em
lIltcressantt s consi-
derações, sobre a força garantidoni. que a norma jurldica
possui contra o mero arbltrio. Não é, porém . exclusi·
••
me progresso tecnológico,
O fenOmeno da transformação de nosso mundo pla-
netário numa grande aldeia foi analisado com grande
, ,
vamente sob esse aspecto que nos ocupa essa caracte-
rlstica de "universal" que o Direito possui. Reexami-
nemos, a pro\lóslto, a ~ção de que a presença da ••
sucesso por McLuhan, especinImente no que se refero
ao, çampo da ,comunicação social, seus simbolos e os
resultados do aperfeiçoamento de seus meios e instru-
ordem jurfdica é fato constatávcl em qualquer sociedade
complexa_ Ao aparecimento do grupo social com carac·
terísticas próprias e institucionalizadas corresponde de ••
mentos, mostrando que a humanidade estendeu, com
0, progresso tecnológico, o sistema nervoso central de
caJia ,homem, "num abraço global", em pleno processo
d,e transformação da criatura humana que estaria read·
logo O surgimento de um d,eterminado sistema jurldico,
compreendendo as normas de condutas aprovadas e de·
saprovadas pelo grupo, e os meios de coação que este
utiliza, para assegurar obediêncla àquelas normas.
••
qulrindo uma escala de valores de culturas anteriores
II escrita e retomando, pelo conhecimento em bloco, ins-
tantâneo, dos fatos de toda parte, processos soclocultu·
Isso porque, em qualquer agrupamento humano,
estão presentes, inevitavelmente, fenOmenos de valoração,
pelos quais O grupo atribui certos valores a determinadas
••
rall; de longa data em declJnio .·
? A verdade é que o Direito vai também sofrendo os
Impactos de tais novas realidades. A influêncta do ele·
situações, coisas e idéias. Não há, contudo, valores da
sociedade sem que se estabeleçam condutas necessárias;
nem Imposições normativas sem a avaliação concreta dt> ••
mento "tempo" nas vát1as formas de normatividade
jurfdlca é disso exemplo_ Prazos de validade, presunção
de _tonheclmento de fatos jurfdicamente relevantes, en-
que é justo e do que é injusto. DaI que todas as socie-
dades sejam organizações jurlcUcas, pelo m enos no que
se refere à confirmação de uma consciência de solida· ••
••
curtamento de distância para efeitos práticos, pela facili- riedade que estabelece regras necessárias à sobrevivência
dade de· comunicações e de deslocamento fisico das do grupo .'
pessoas, problemas relativos II eflcácla e aos efeitos das Essa relação entre a realidade social, condic:iQrlante
leis, ' foram dlretamente afetados pelas novas condições soclocultural da normatividade jurfdica, e esta pOde ser
materiais que a tecnologia moderna criou.
Assim sendo, é curioso observar que essas relativas
Identidades de " quadros, socioculturrus apresentam, tam-
ninda salientada pela enorme força que possui o costume,
cujo papel como elemento decisivo na formação do
DlteIto não pode ser negado .' O' costume reflete práticas •
bém; uma semelhança ,crescente dos sistemas jurfdlcos
das , diversas .socleCládes, que se aprolimam, uma das
outras, no modo de viver. ExIste certa uniformidade
'"
que se revelaram socialmente úteis e aprovadas, ajusta·
das às demais formas de vida do grupo soclal e que,
com o tempo, ,tendem II uniformidade e a adquirir aulo-
"
••
dif padrões soCIOcIiltu!'ls, por exemplo, na civlJlmÇão
ocidental; os sistemas ',d.) Direito nos palses pertencentes
a tal civilização ~ lambém assemelhados" e nele são
ridade própria.
Essa autoridade é uma conseqUência da convicção
que se forma , na S9cledade de que , tal ou qual modo
de proceder é adequado e -conveniente aos fins sociais.
••
01
• M.usHJ.LL JoICLUIUN, Uoderll4.di"l1 M.àÍ4 : TA. E"I .........
Meue, The New Ammean Library lne., Nova York, 11 .• ediçio.
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••• €' Sociologia do Direito Direito como Fato Social 63
•• estudada. Na grande maioria dos exemplos, entretanto, a são. e prevalecem em casos de conflito. Exemplo disso
o costume permanece à margem do Direito Positivo, mas é a narmatividade que emana das grandes carpa rações
o influencia de maneira peculiar e o condiciona em todos industriais e das acardas entre elas, na sociedade indus·
trial modema.
•• os momentos .
A questão das regras sociais juridicamente relevan·
tes, aliás, é de grande ·atualidade. Não apenas no que
tange ao costume, mas também às normas morais; nor·
Tais regras de Direita, de formação. extralegislativa,
têm uma importância que ainda está por receber exame·
e pesquisa adequadOS à sua verdadeira influência na
sociedade. Elas são bem a medida da afinnaçãa de que
la mas religiosas e outras normas de comportamento que a Direito é reflexo da realidade social e se ajusta, neces-
••
faz inteiramente clara a natureza de fato social que tem
o fenOmena juridica, de acalhimenta que a narmativi·
dade juridica manifesta às demais farmas de normati·
vidade social. T
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da produção de normas juridicas' fora dos quadros le-
g:l!erantes do Estado.
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ChptTULO IV •
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o DIREITO COMO CONDICIONANTE
DA REALIDADE SOCIAL ••
1_ A ~ão .ocial t o Direito. lnfltú1tcia du u lIobrt tu ••
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dtm4lt m.4Ki/e.ta.çõe. IIOeiait. ~ - A norm.o. jurídica. como
Í'Put"'"ttft.to de controle social. j - Funçõu educo ttva,
t01Uenadora. e trcuuf~. O Direito como aDtnU cU ••
cr ••
v m1Lda~ 1Oci4l. A~ do Direito .obre (I, opinido -pública .
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Se o Direito é condicionado pelas . realldades do
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A vida poUtica é regulada pelas normas de DireitO, .Ela
se Pr,o<:eSl18 segundo prlnclplos e normas · flitadós · na
ordeJ,n jurldica, e o Estado, mesmo, .,é a ,: lnstitucloriali·
zaçãó maior dessa ordem Jurídlca. éstabeleclda. . Em' todos
•• a
eles, condléióriados pelos demais, ,desde ' àrte, ' o: 'senso
estéttco, as religiÕES, as valorações coietivss, e assim
também pelo DIreIto. I
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Sociologia do Direito Realidade Social 69 «
68
o sóclo·econOmico é, mula tis mutandl, a "sobredetennina· A ética recebe , de volta. influências ' da norma luri
dica. O mundo da moral. cuja capacidade condicionimte
••
••
ção" da teorização althusseriana, que a reconhece nas di·
versas "instâncias" de qualquer formação social concreta.' da normatividade jurldica é axiomática, c a ISSO se rcle·
Outra coisa não é, também o que outros autore!; marxis· riu. de novo, recentemente. o iá aludido J orion .' não
Escapa assim às Influências de torna·viagem que o DIreito
••
tas, prin<;ipalmente de palses socialistas, chamam de
"efeito constitutivo" das formas jurldlcas, reconhecendo distribui em toda a soc,iedade . Tem sido observado que,
a importância que esse "efeito" tem na conformação das com uma Ireqüência pouco ressaltada, mas signilicativa,
condições econOmicas.' comportamentos diladcs aparentemente apenas pelas
Todo o processo educacional em uma sociedade se
desenvolve segundo principlos jurldicos que o moldam.
A sociedade modema, alI4s, deslpcou em ' muito esse
normas morais de certos grupos tiveram e têm origem
em mandamentos de ordem juridica . Tais mandamentos
se refletem, dessa maneira, em modos de agir, formas ••
processo da esfera do grupo familiar, ou dos grupos
viclnals, para Instituições de ralzes mais amplas, com
a criação das escolas e o desenvolvimento dos sistemas
de comportamento que adquirem conteúdo moral pró·
prio, independente da origem juridica, mas nem por esse
motivo despidos de con teúdo ético marcante . Idên tico ••
de ensino, em que a intervenção normativa do Estado
se faz sentir de maneira cada vez mais importante.
A Instrução pública é disso um exemplo do qual se
fen Omeno. de form ação aproximadamente a mesma, é
o do costume de origem legal, nascido de determinação
em lei ou norma estatal de outra espécie. que pode , ou ••
••
podem tirar lições significativas, dado o seu caráter Oe não, continuar em vigor . \ No momento em que se forma
servlÇó público em expansão em todos os palses. um comportamento costumeiro decorrente daquela norma
Como ' resultado disso, o desenvolvimento cientifico jurídica. ele passa a ter vida independente, de modo que
••
e tecnOlógico estâ, sempre, condietonado pela variada se projeta, por vezes, multo tempo após a revogação
legislação que, dornlriando toda atividade educacional da da norma e sua substituição por outra . Isso explica
·socledade, nos seus diversos rúve1s e setores, regula a e se exemplifica nos casos de leis posteriores que mo·
atribuição de recursos, as ativldades de' pesquisa pura dificam Institutos ou simples disposições de Direito ,
e apllcada, o regime de sua administração e a sua pro-
priedade, assim como a aplicação flnaJ dos resultados
do conhecimento técrúco-clentlfico.
mas que não chegam a ter eficácia real, continuando a
prevalecer os comportamentos inspirados nas antigas
normas legais revogadas, porque tais compo rtamentos
••
• . J!: importante assinalar como uma adequada legis-
lação póde fayorecer, ou desfavorecer, o desénvçlvlmento
cientifico, mediante a concessão de vantagef!s ilôs estu·
criaram força consuetudinária capaz de se sobrepor às
novas determinações da ordem juridica.
Tudo, enfim, o que se observa dentro de uma socie· ••
; dlosos, a canalização de verbas, a JimI~ou" não, da
. troce. de informações,. a 'garantia da co.ntinl#dade: o estio
.'mulo :a iriiciativll,S ..riacionais, ou pioneiraS, ou regionais,
dade é influenciado por certa ordem jurid ica, que se
irúiltra nas formas de sociabilidade, modificando·as por
vezes, reforçando-lbes os traços principais, dando· lhe ••
íH
;'
··ou 1ÚIlda, apareritemente destituldas 'de interesSe prático
' imediato; mas cujos resultados podem vir 1i- ser .de im·
portância inusitada para o progresso da ciência e da
malot vigor ou reduzindo-Ihe a força condicionante.
a norma jurldica o instrumento institucionali·
É ••
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tecnologia.
J LoUIS ALTHUSSER, AndCi.. Critica da. , Teo,. ia. Manuta, Ed.
Zabar, Rio de Janeiro. 1966. ,
2 zado mais· importante de controle social. É por
seu Intermédio , sem a menor dúvida. que esse
controle se manifesta formalmente com maior eliciência,
pois a norma Juridica dispõe da força de coação. pode
••
' J Vel' por exemplo ' K..ALM.4N KULCSAR., em "Idcological Changes
and the Legal Structul'e : A Discu.s.sion of Soc:i.1ist Experience". em «
IJlttrnational l ounta l 01 t!te Sociologll o/ L4w, 1980 , D.O 8, pág. 67,
8
( .. JO&IOH, loc. cit., piC". 101 oe &egS.
" ,
••
•
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•• 70 Sociologia do Direi to Realidade So Cia l
•• 71
, "
. ~ .; . !..,
ser ,imposta ii obtidiêncla da sociedade pelos Instrumen. Sua simples autoridade, como fonna de manifestaçâó
tos que essa mesma sociedade crlou' com esse,; tJm.
••
da vontade social, exerce influência da' maior significação
~tone dedicou a esse' aspecto do Dinlito ,.um capitulo robre a conduta grupal, como veremos adiante,'
inteiro de SOCial Dimensi07l3' 01 Law and JtutIce I focali.
mndo minuciosamente o fenÔmeno jurídico em' relação , . '.
Outras funções de importâncja exp.rçi,jqs pelo
•• Estados lndustrlals.
A interdependência do ' controle. jurídico, ou legal,
e os demais tipos de controle ·social, também é de inte-
resse. Se a interação entre o fenOmeoo jurídico e os
jurídica, moldando as opiniões sociais e portanto o com·
portamento grupal, por melo de um processo de apren,
dizado e de convencimento de que ê , soclalmente útil,
ou bom, agir de certo modo: Não se trata, a', propósito,
•• nia!s elevada situação hlerúqulca, na escala de normas para se medir a diferença das respostas ' nos dois casos,
socialmente aprovadas. , . porque o Direito ê, em si mesmo, uma fo~ça que cria
. Sua função 'de controle soc!2:I, portento, não pode opiniões:
'No que se refere à função conservadora da ordem
••
ser posta de ,lado em qualquer análise que se faça de
sua natureza, O D!ieito não é apenas um modo de jurídica, deve ser dito que ela ê , 'essen~ialmente , a ex·
resolver conflitos . . Ele 'ospreVine e vai mais aiém, pois • Sobre eaaa fUDção de uruolverH , ou de 4'tratar" os conflitos
condiciona, direta ouiGd!retamente, o comportamento.
••
•
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72 Sociologia do Direito Realidade Social 73 ••
••
( "..
pressão de uma determinada ordem social cuja regula· em modHlcaÇÔt!S da sociedade, alterando-lhe o sistema
ção, cujo controle e cuja proteção se destina a realizar. de contrple social. e, .diretamente, a relação de . influências
Como bem acentuam os autores mais modernos, ela reciprocas dos diversos elementos condicionantes da vida
reflete a relação de poder entre as varias classes sociais
e as convicções dominantes na Sociedade' L'lg'l . exerce
função conservadora dessa ordem, garantindo-lhe as ins-
grupal. Por ,outro lado, cQntribuem indiretamente para
a 'formação _de novas manltestações de consenso, nisso
confundidas as funções transformadora c echAçativa do
••
tituições e o tipo de djnãmJca social considerado bom
para seus fins, com uma estrutura a isso adequada.
Protege os valores socialmente aceitos e, como já acen-
Direito.
Este precisa, na verdade, ser bem estudado como
agente da mudança social. ~ essa uma importante ma- ••
tuamos; gera uma tendência conservadora entre os espe-
clallsLas em seus estudos .
. A Inclusão de nOrmas de autodefesa do sistema,
nifestação da função transformadora, exercida pelas
normas jurídicas, cuja utilização planejada, visando alte-
rar determinado contexto soclocultural, começa ii ser ••
assim, é algo de normal e encontradiço em todos os
exemplos de crdem jurídica de mais complex;dade. As
sociedades não-primá rias, ao estabelecerem seu modo
objeto de estudos e de primeiras aplicações Não se
perca de vista que, no próprio momento em que o lcg;s-
lador edita a norma legal, ou quando o Juiz a aplica ao ••
••
de vida, seu sistema ' de valores e instituições, fixam caso concreto, ou ainda, quando o administradur executa
também, na ordem juridica, princípios e regras de ma- os seus mandamentos, um e outro estjio modificando,
nutenção do sistema total, em que são previsLas as ltipó- em alguma parcela, maior ou menor, a realidade social.
teses de 'sua defesa contra as tentativas de modificá-lo. Esse fato é especialmente senslvel e fácil de constatar
Sob esse ponto de vista . a Sociologia do Direito pode
-ser entendida 'em Intima relação com a chamada Socio-
log;a do Poder. A natureza, a qualidade de suas normas
no primeiro caso, pois a edição da norma legal é, sempre,
invariavelmente, um fato de mudança da estrutura social.
~ também vlslvel, em um exame simples, essa função
••
de autodefesa, depende das relações de poder na socie-
dade observada. .
Tais relações de poder. certamente, repousam na
de mudança soelal, quando os tribunais firmam orienta-
ção jurisprudenelal em questões de grande repercussão
e que envolvam grande número de casos concretos, fi-
••
estrutura social e no ' seu mecarusmo funcional. Os con-
dicionantes sócio-económicos das 'relações de pOder p06-
suem, portanto, conseqUências politicas, que se verit,içam
xando interpretação nova às nOrmas legais imprecisas,
ou quando, também interpretando as leis, a administra·
ção adota orientação determinada para B sua execução . ••
em tajs relações propriamente,. e se exPlicam, sempre,
em manltestações de ordem jurldlca. EsLas.-~omo"resul
tado, posSuem sempre aquele caráter de e~ressão de
Tais situações, modificando em alguma coisa a ordem
jurídica, se projetam sobre a realidade social nela, regu-
lada, mudando-a. 'O. " ••
uma determinada ordem social e,. inegavelmente, são
niani!estações . de uma ideolog;a, sob cUja pr~o .se
formam e vivem. ,
A propósito, é interessante abordar a relação ex;s·
tente entre o .Direito e a opinião pública. Ambos os
fenÓmenos, como ocorre em geral na sociedade, são ••
••
En! . sentido . contrário, porém, as nOrmas juridicas condlclonantes e condicionados recíprocos, em virtude
pôssuem uma função transfotfnadora do meiO':_" Quando da interação que opera entre a norma jurídica e a opio
editadas atendendo a "necessldadeS sentidas pelóS' órgãos nIão pública. As re8ÇÕes desta à rea\ldade da ordem
legjferantes, ou em resposta ao consenso de grupos jurídica constituem mesmo, na atualldade, um dos cam-
•••
que se antecipam . ao processo hlstórico, elas resultam pos de pesquisa mais iri:lpcirlantes dos sociólogos norte-
". _----
IORLANDO G<JM:ES, A CNe do ,Direito, ed. Mu Limonad,
americanos e europeus. Entre estes últimos, Podgorecki
e seus assistentes, na PolÓnia, Vinke e sua equipe, na
São Paulo, 1956, pága. 67 e sega. Holanda, e numeroso grupo italiano, a que faremos re·
••
•
•• ..,
•• 74 Sociologia do Direito
I
ferencia detalhada em outro capitulo, têm realizado, nos
••
últimos anos, preciosas indagações que tendem a assu-
mir o caráter de pesquisa coordenada de cunho mundial.
, As regras de Direito moldam, em parte, como aliás
_ já ficou demonstrado no desenvolvimento deste traba-
•• ~
1
lho, a opinião dominante em determinada sociedade.
O que ficou dito a pouco a respeito de suas funções edu-
cativa e transformadora o atesta. A maneira como . são
••
f - UmCl tipolol1UJ do. meio. de ocomodaçãn tU conflito •.
N,'1~ dirsta , m.diaçdo ou COftcili4.çiio, arbitro.melltu.
r.curtO' CIO apartlhe jv.dicüJl. S - A. 'Mnna. jurídicas t!
'KG inlltú'xcia no. diveno. tipo. re/eridiJ• . Norma. de outra
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Pretendemos examinar aqui, inicialmente, embora
de maneira sucinta, as relações entre o processn
social de conflito e o Direito. É elemenlar na ••
teoria sociológica a afirmação de que a vida social en·
~
~
.~
volve dois grandes tipos de processos de inleração, uns
tendentes a aglutin~ ou acentuar a associação, e outros
tendentes a afastar ou reduzir a interação grupal. 2 Os
••
I,
mais importantes dos processos dissociativos, ou de afas·
tamento, segundo os autores consagrados, são os proces-
sos de competição e de conflito. Aquele, mais geral , pre- ••
sente em caráter constante na vida social, impessoal, sem
••
I
que se Identifiquem propriamente os "adversários". Este
se apresenta como um grau agudo daquele~ em que se
Identificam os "adversários", portanto pessoal, intermi-
tente:
Em realidade, o processo de conflito é observável em ••
~ ••
todas as manüestaçóes da vida social. Está presente nos
diversos tipos de sociedade, das mais simples às mais
~r- complexas, de modo que é possível afirmar que inexiste
••
sociedade em que ele não apareça. O entrechoque de inte-
resses, entendidos na sua significação mais simples, manl-
~ festando-se numa escala de mera vivência ou, mais espe-
~,
cialmente, em fenômenos de poder, de apropriação de
recursos ou de relacionamentos preferenciais, revela si-
tuações em que o conflito se faz atuante .
O conflito pode ser definido como uma luta a respeito
••
de valores ou pretel'lSÕes a posiçóes, a poder ou a recur-
••
I .; , ;
..
,; .....
sos que não estão ao alcance de todos, em que os obJe·
Uvas dos oponentes, ou fladversários", são neutralizar,
,.\..:
•
•• ~
II
•• I"
~
78 Sociologia do Direito Mudança Social 79
•• ~
"
~
ferir ou eliminar os rivais.' Em verdade, o conflito li
sempre consciente e envolve a comunicação direta entre
os oponentes. Ele se verifica entre indivlduos ' ou grupos
I. 2
Dessas breves lndlcaçõesconceltuais a respeito do
copfl.lto, ~ é possível compreender facilmente a ,sue.
, importância no estudo do Direito e a relação es-
•
cu organizações, ou mesmo entre sqciedades, umas <:?m tllita entre:.os ienômenQs jurídicos 'e ' tál pra<:esso social ,
as outras, ou de indivíduos com grupos "-/ou orgaruzaçoes, O )Jireito refere-se ~prll,f.direte. oU"lIidiretamente, a si-,
••
:i /
, de grupos com a sociedade .glPpl!I,'etc_ "Sempre que seja /, , t\l!IÇÕes conflitantes; ou ' seja,~ a ', si~S"ém ' que O pro-
, possível Identificar um entrechoque de interesses de qual- I . ,," ceSso de conilito esteja 'presente, atuaJ' ou'1iõtencialmente_
quer espécie entre atores ou agentes, na vida 'social, es· I1 li; que a ordem jurídica se constitui de nomias sociais de
•• I
I
tar-se-á identüicando a existência do processo de' conflito,
em situações as mais variadas. O contllto. portanto, é
consciente, é pessoal, é intermitente. Ao passo que a com·
natureza especial, editadas por instItuições , especifica-
m'ente' destinadas a isto, dentro de uma' organização esta-
, taJ, cuja destinação é precisamente manter e dar todas
•• ~
petição é inconsciente, é impessoal e continua.
Emitio Willerns define o contllto como ·competlçao
consciente entre indivíduos ou entre grupos, que visa a
. _ , as conseqUências necessárias à ordemr, social que a edita_
Em essência, o Direito é um sistema de·normas,.que tem
por objeto assegurar que os comPQ1'tslnentos sociais se
••
:1
sujeição ou a destruição do rival. Seu ~suJtado visível ajustem às expectativas socialmente estabelecidas naquJlo
~ que 11.considerado mais importante_ Dessa maneira, quan-
é a organização política (intergrupal e mt~grup~l) «: o
status que os individuos e grupos ocupam- no ' mtenor do norma constitucional dispõe, por exemplo, sobre os
r, poderes do Estado e sobre sua distribuição de competên-
•• \
1
i5
de tal organização. O conflito pode revestir formas di-
versas, como a rivalidade, a discussão, até o litlgio, O
duelo, a sabotagem, a revolução, a guerra, compreendi-
cia, o que se está fazendo é prevenir a eclosão de situa-
ções Contlltantes e estabelecer, desde" Jogo, as <tormas de
composições das tensões que o processo de col11:lito pode
••
das nele, portanto, tQ:ias as formas de ' lutas abertas
ou não_"' O conceito não difere em muito daquele produzir, acomodando os interesses opostos ou' as pre-
tensões ,contrárias umas às outras_ "';'. _,
J outro antes mencionado_ Vale dizer, entretanto, que
Ocorre que a solução de conflitos que se manifesta
•• Coser terá sido mais generalizante, ao mencionar a
•• ~,
~
:i
luta pelo status. pelo poder e pelos recursos escassos_
Outra maneira de abordar a conceituação do conflito
é aquela em que, insistindo na forma de luta de indi-
na vida ' da sociedade humana pão é deixada somente às
normas jurliUc3s_ Os cosiumes, as nontjl1S de natureza
moIa! ou rellgiosa, e outras ' formas n0llI1!!tivas da vida
•• ~
1
I'
i:
viduos ou grupos, salienta-se que ele !!nvolve sempre
éontato além de ocorrer ao nivel cOnsciente pessoal
e Impll::a violência ou pelo ~~!'los amell:~ ~e ' violênc!a_
soC!aI conduzem também à acomodação. dll§ interesses
contllÍantes de mOdo que no universo da interação so-
cial muitos' mecanismos, ou proCessos; atuam simuJtanea-
••
~ mente, compondo, acomodando ou ajustando, si~1:1ações . 7
Enquanto a competição determma a PO~lçaO que um l?-
~
iI
divlduo ocupa na comunidade, isto é; !lua distrlbulçao
espacIal, o CO!ltlito determina o seu' lugar na sociedade, • Sobre a problemitica do c.onflito, "hi ..ainda · aspectos não-orto·
doxol 'do proceaao. em que nio H identi.:n,~ propriamente ato~
•,• ~,
~
I,
~
ou seja, o seu statüs no sistema soclal_'
•,•
4.
f et eie., Paru, 1960. edição francesa modificada do DieiOftdrú> r:ú , vuaas ~itest&ções e implicações.
StXiolDgiG originalmente publicado em 1960 pela Ed. Globo. I1 T t copiou & literatura lIOCiológica sobre à :.acoinodacão como
I S4MUEL XOENIG, ElefM:flto. ü Sociowgia, Zahar Editores, Rio processo aocial. Reporte.ae o leitor intenuado, por exemplo, a PAULO
il d. Janeiro, 1967, pág_ 308.
!! Dou1uDo GOBJr(lo, Ma.7tual de Sociowgio, Ed. Forense, Rio, 5.& ed"
t
~
<
-4, -
t .!
••
•
••
•
, I
••
versos, <tal 'força coa,tiva se manlfestâ;' • partes convencionam, tácita ou t!%pressamente, buscar
' Quanto aos modos de soluÇão dos conflitos, segundo acomodação e. qualquer que seja a ' forma: encontrada,
a natureza dos ' agentes que o medejlii:n ou o açomodam tem ela alguma natureza nopnativa e, em 'si 'mesma; ln'
em
••
também' é'''posslvel dizer que eles ' dlvidem·Se instru: clul normas sociais ,P~tentes, ,
mentQs judiciais' e em instrulÍlentos eXtrajudi<;il!iS ou não- Ora, uma considera,ção se impõe aqui, lt , ,que tudo
jUd!ciais (no ' caso, a negociaÇão dlreta, a medjlição e o está a Indicar que as nonnas de Direito '!pini!iin grande
arbItramento, nafase' anteiior ao pedido de homologação P!lfÚl do pano de fundo sobre o qual se pt:Qjet4m os mo-
•• 3
Há entretanto; um outro I,ISpecto ' essencial a con·
siderar em 'relação a esse pOnto, Tratá,Se do tipo
presença da regra de Direito em escala malQ~ <1,0 que se-
ria razoável esperar por SUD. simples particiPl'ção pro-
porcional no conjunto das nonnas atuantes 'n;l 'Y;\da social,
••
•
,,
------.
,
84
"
"i'. ,Sociologia do Direito
4
o quadro acima descrito de mecanismos de solu-
ção de conflitos revela alternativas ou opções que
;; tiai.s às já feitas em vários trechos deste trabalho,
sobre um conoeito sociológico de uso corrente, na ••
1
as pessoas, ou grupos, ou instituições, escolhem
quando se produzem as situações litigiosas. E;ssa escolha
pode decorrer de fatores ideológicos e o de fatores sócio-
C1Jlturals dominantes; de Influências históricas e tradicio-
nais; da ,-realidade sócio-econOmica, financeira, politica,
religiosa, :moral; de motivações estritl;lmente prátiqas, e
outras_ É importante procurar identificar o tipo de fato-
aparência elementar cuja compreensão, porém. é impre-
cisa, contraditória e SOfre de influências que lhe tiram a
nitlde2!_ Trata-se do conceito de mudança social que, como
alguns outros conceitos sociológicos, tem Importância .CB-
da vez malsrecoohecida no estudo do fenOmeno juridico,
sobretudo porque os problemaS do desenvolvimento colo-
cam a questão das transformações da vida social no
I.•
I
ti
f res dominantes nas escolhas, inclusive para a preferência
individual das alternativas não-judlclals que parecem, a
uma primeira reflexão, majoritárias no dia-a-dia da vida
social. It comUm a' suposição de que os caminhos não-
primeiro plano das cogitações de cientistas e bomens de
ação, pesqulslldores e admlnIstradores.
Já se tem salientado ~ importância. O conceito de
mudança social é partI~ente significativo no estudo
•
I
_judiciais podem set mais rápidos 'e menos onerosos do do Direito porque este reflete sempre a ordem social que I
- que o apelo ao aparelho estatal de realização da justiça, o produz e o sustenta, como realidade sócio-cultural, só-
, I
41
"
41
•• 86 Sociologia do Direito Mudança Social 81
I
•• cio-econ6mica e poUtica. Todas as mod1âC8ções nessa
realidade social, supJacente ao Direito e Q,ue o envolve
e o contém, 'têm conseqUênClâs na-óidemijúridica. Esta
Em realidade, a idéia de mudança social já foi por
algum tempo identülcada com a de progresso, ou de evo·
•• abordado 'locaUzando situações m~cadas que hajam Glnsberg também (embora de outra vertente), exige
sido identificadas, em contraposição a outro entoque, que mudança estrutural para, se configurar a muda.'lça social.
se relere 'uo processo que produz tais' situações. Assim, Esta é a seu ver, modificação na estrutUI1ll' social, ou
seja, ~o tamanho de uma sociedade, na composição _ou
••
mento ' de uma sociedade, rUi. ,medlda em que constitui: Exemplo oposto, de conceito amplo e, de ,c~rto modo,
(a) ' ó 'resultado de medldas legislativas ou outras com o impreciso, é o de Donald'Plerson, que enteh4e::ser a ~u·
clÍn de controlar a conduta; ou (b) o produto de modlfi· dança social qualqul'r alteração de forma de Vida socilU,
••
em ,con!ormldade com maneiras s1stematiçamente relu· ma, revolução, reproduzindo afinal noyas hIStltu.l ç?es.
clonadas de preencher n~ld,ades e 4~der expectativas Uma visão funcionalista está ai presente, a toda eVidencia.
que prevalecem em determ1nada sociedade., De outro lado,
para ele o termo também significa ri processo através do Loc. cit., pág. 64.7. .
••
10
qual tais d1!erenças ocorrem. 11 T. B. BonoMO~ Introdução à. Soeu,logia, Zahar Edit.ores.
Rio de Janeiro, 1967, pigs. 227 e sega.
11 Loco cito
•ToM BU1\NS, in A. Dictiofto", 01 the Soc~ SCU!Mcn, Tavistock U DoNALD PtERSON, Ttllria r. Pe.q"iIlG e," SOCiologia , Ed. Me-
•• 11
•
v
••
>,
88
,
Sociologia do Direito Mudança Social 89
••
41
Este quadro de contrastes e divei-géncias é bem sall· (~formação, m.?<illlcação, alteração); e de mudança 41
entado por Eva Maria Lakatos, em excelente resumo da da .~da ' SOCial. Nao há bom fUndamento cientifico no
matéria . " Nele é oportuna a Invocação do conceito se- r entend.er que SÓ há mudaliça quando se moditlcarn as es- 41
gundo Guy Rocher, 'que Identifica mudança social em toda truturas, o que significa entender ' que outros aspectos de 41
transfonnação observável no tempo e que ateta, de ma· modiftcação da vida social"Seriam Irrelevantes. Muito pelo
l)eira que não seja provisória ou efêmera, a estrutura ou con.trário. QUalquer modificação da vida social é mudança 41
funcionamento da organização social de dada c<>letividad.e ~la1. Assim, mesmo que as chamadas estruturas soclals 41
e modifica li curso de sua história. MIl:", diz ele, "a mu·
dança de estrutura resultante da ação histórica de certos
fatores ou de certos gr.upos no seio de dada coleUvida·
nao tenham sido revolucionadas (condição exigida por
certos cientistas soclals), pode haver mudança e, na ver.
dade, essas ocorrem em todas as sociedades, todo o tem. •
41
de."" Tal conceito é ambíguo . De um lado, Incluem·se
nele as estruturas modlticadas e a dlnAmlca dessa modl·
ficação, ou seja, o processo; de outro, refere-se apenas à
po, em algum grau (embora de maneira desigual em
ritmo e andamento, em profundidade e amplitude). Disso
decorre a atlrmação, que nada tem de simplória, mas nM •
41
mudança de estrutura.
Essa ambigUidade se apresenta com grande freqüência
nos conceitos de diversos autores. Assim, entre mudan·
deve surpreender pessoa alguma, de que a mudança so.
clal é um universal da sociedade, ocorre sempre; não
existe sociedade estática, sem mudança. O conceito de ••
•
ça social como processo, em contraposição à Identificação imobilismo social é relativo e mero rótulo para Indicar
de estruturas dlterencladas; e a que se conceitua pelas baixo Indice de mudança. Essa a razão pela qual a aflr.
transformações "signlticaUvas" das estruturas em contras· mação de que "estamos vivendo época de transição" não
41
••
te com as moditicações em qualsquer situações na "vida tem qualquer significado real; todas as épocas são de
social", oscilam as maneiras de' conceltuá·la, entre os au· transição.
tores consagrados. O subjetlvisino domina a Idéia de que para eDstlr
mudança social é necessário que ocorram transformações
6
A matéria comporta algumas observações relevan·
teso A primeira delas é que é inaceitável limitar o
conceito a certos tipos de modltlcaçõcs que pode
Mslgnltlcatlvas" da vida social. Significativas para quem?
A partir de que ponto ou momento urna transIonnação
passa a ser Msigniflcatlva"? Il: óbvio, ao mais elementar
••
sofrer a vida social;' a segunda é que a ~gêncla de mo·
dltlcação Mslgnltlcatlva~, para reconbecer a ocorrência de
mudança social, inclui um elemento fortemente subJetlvo
exame critico, o elevado grau de subJeUvlsmo nessa orlen.
tação. Isso contraria o rumo da objetlvldade cientifica
necessária (nos limites em que ela é posslvel), buscada
••
no conceito; a terceira é que, entretanto, nem tudo que se
altera- na Vida humana em sociedade é de ser entendido
como mudançâ social. ExamInemos brevemente cada uma
em todo estudo clerlUtlco. O que se pode exigir é que a
moditlcação seja da vida . social, e não apenas na vida
sociaL Em outras palavras, que a vida da sociedade se ••
desSasqbSerViições.
A nosso ver, é necessário um mlnlmo de objeUvidade
e reallsmo no estudo de qualquer fenômeno social (aliás,
,. altere. Não basta que dentro dela haja aspectos dlteren·
c1lldos, mas é preciso que a própria vida social seja me>-
diflcada. , Em vez de modificação "significativa·, melhor ••
de qualquer .fenOmeno, social ou não). Quando se pensa
a respeito de mudança social, coglta·se dê mudança
será exigir que ela seja Mperceptlvel" ao cientista, medi,
ante sua observação comum. ll: possivel dizer então que
há mudança social nas modificações perceptlveis da vida ••
U EVA M.uu. L.uc.ATOS, Sociologia. Geral, Ed. Atlas, S. Paulo,
1976, pig•• 2.9 e .ega.
U Lo<. til, pig. 2'9.
da sociedade.
Finalmente. vale lp.slstlr em que nem tudo que muda
na vida social ê mudança social. Modificações não-durá· ••
I~ ••
••
•• 90 Sociologia do Direito
•• 7
Em verdade, o conceito de que cuidamos abrange
as alteraÇões dinámicas e estruturais da sociedade,
,
cação, mas também,.em outras oportunidades, como (atar
de transformação. . .
Nesta última função. o Direito atua , freqüentemente
••
atacado como simplis~. Talvez lhe falte (certamente lhe Em resumo, neste capitulo foi examinada a dInA-
falta) a sofisticilção e' ii complex?dade de voçabulário tão 8 mica da relação entre o Direito e dois. processos
do agrado de numerosos cientistas sociais que o acusa- sociais de grande importâncla para o estudo dos
rão, decerto, de não ter rigor clentlflco porque, afln~, problemas que nos ocupam; o conflito e a mudança social.
•• )
•
I
I
,~ I
f
,.. , 1.'4,
I
92 Sociologia do Direito
• I
A análise dos modos de solução .de conflitos que foi I
feita nestas páginas, além de indicar essa presença das
normas juridicas fora dos quadros estritos do litígio judi· I
cial, permitiu explorar algumas outras questões teóricas, I
que se .ligam à intensidade do conflito, à intervenção de
terceiros, e quais sejam esses terceiros, assiin como à I
força coativa da acomodação alcançada que, combinadas
em análise adequada, podem propor linhas de pesquisa
de .grande interesse.
, As motivações das escolhas dos diversos caminhos
CAPiTULO VI •
I
I
para a ,Solução dos conflitos são importantes porque, em
tais opçÕjlS, elementos sócio-culturais diversos atuam no
mundo des valores, da ideologia, das crenças e dQs costu·
mes. O poder social se manifesta, assim, de maneira difusa
DIREITO E ANOMIA
•
I
e informal, na maioria dos casos. 1 - •
A • im----
#'V. - -
An.ci4 do. '---e1ON.
A
' ~A • U
...... ' . . . .
•
'04:lOwqt4:0' J)a.1"'a o e.huLo I
Por outro lado, o processo de mudança social, cuja ~ Diretto. A noçoo d. "po.per'.. outro, C01LC«1U1' .igni!1ca-
natureza.epnstante e universal não é demais acentuar, tem bt/O..'. I - A floção
S' . . tU ct1u»nia. •· Qttlh'-':.I--'- ·
.., ...~ e tmprccuao. . P
I
especial significado, em face do ' Direito, particularmente tg7\t.fr.eado. ha.bltwlt.r. Dvrkh,im , o utauto d4 . I
•• à d" " _ a1(,(/Ir:.la
pela função transformadora, ou seja, de agente de mu· qWUtlN UlUao do trebtllÁo lfocicl • ao ".Jd · •
u' I ,i
dança social, que pode ter a ordem jurldica. 1U1Gl 10. '" -
ona qtr'U da, an.omi" forrnulo.da por Mulon.. Tipologw. I
Cabe, porém, liberar o conceito de mudança social do, comportam.tmto. CJ1't6m.ico. o.
tÚ duvlO'
da enorme carga de confusão, em parte sob a pressão de O~ . .
Oh . -
J<Ç<J"' .
Lnrett4 como rupoda. ao~ c:omporunnen.to. d ~ - "" O
I
',_ _, " e atI.tJU) . ~
pOSições dogmllticas e doutrtruirias, que o têm obscure- mUIIN' nltJelI d..." Nl~o " 5 - COft.tl",ão. I
cido. Mudança há sempre que elementos s6clo-culturals
importantes sé transformam de modo perceptlvel e .rela· I
tlvamente durivel. O subjetlvlsmo que domina a Idéia
.de mudança que . s6 se reconhece quando "significativa",
ou quando estrutural, responde poI: boa parte das difi·
•
I
culdades 'cOnpeituais apontadas - e refoge à reàlidade.
A relevArieta do estudo da mudança social, como de
outros concéltos socioI6giC9S, . para B compreensão dos fe-
nOmenos jurlíticos e, em última análise, das realidades do
•
I
Poder. foI' ligÚi lembrada, pois o Direito é o caminho nor- II
mativo maIs' utlllzado ti mais efléaz para que o poder 50- I
élal, especialmente o poder do Estado, se' realize.
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•• ,1
A Soc1ologla, coJ;llo qua\quer ramo do conheci,
ménto cientifico, desenvo~veu e está sempre de-.
••
Issó está rigorosamente eJJ:lRtado ao conjunto do que
se diz e se exemplifica nesta,s páginas, Não é possíve) ,
fazer Sociologia do DireIto S\lm utllizar métodos eté<:.,
nicas da Soc1ologia, Nada ,mala claro, O que re~ulta .... '
••
Um exemplo do que estamos afirmando é ,o do eÍ!:!-
prego da noção de -papel- no mundo :conceptual e prá- ,
j' Uco da CiêncIa do , Direito. Ele foi objeto de, anáU"""
feita .por Madeleine Graw!tz,'.I que se ,baseia nos trêS
•• ~ . .'~~.
•,• -,
~
•
••
••
96
Sociologia do Direito
4
••
••
idéia de anomia corresponde a um desses con-
zona de certeza tradicional, para utilizar noções de con- 2 celtos. A palavra tem origem grega . Vem de
tornos mal definidos?" - perguntou a autora, para res- anomos (a representa ausência, inexistência, pri-
ponder: ·Parece que a Sociologia Jurídica não pode pro- vação de; e nomos, é lei, normall J?m sua. ~strita signi-
gredir senão assumindo riscos, isto é, saindo do regime
'garantidor'" do Direito para abordar uma realidade ainda
mal explorada: de um lado, o que inspira o Djreito, que
ficação etimológica, portanto, anonua Significa falta de
lei, ou falta de norma de conduta. Foi com esse enten-
dimento que Durkheim usou a palavra pela primeira ••
lhe é anterior, que ele ordena e institucionàliza e, de
outro lado, o que reage ao Direito, as conseqUências de
. sUa regulamentação sobre avida."'
vez, ligada a uma tentativa de explicação de certos fe-
nômenos sociais, em seu famoso estudo sobre a divisão
do trabalho social_' Depois dele, diversos autores têm ••
.' O conceito de interação social, como désenvolvido
peJlI Sociologia e
pela Antropologia Cultural, é também
Important!ssirno para o Direito, pois toda relação juri-
dica é eD;l essência, o produto de urna interação social,
abordado o conceito, com variações quanta a seu exato
entendimento de um palito de vista rigorosamente cien-
tUico e sociológico. ••
••
A amblgilldade e a imprecisão com que o conceito
como ~elação social que é. Mais que Isto, pois ela é o de anomia se vestiu através de tais utilizações, inclusive
resultado estrutural, ou como estrutura, de wn processo como se verá, pelo próprio Durkheim, contribuiram
sociojurídlco que é a interação social com aspectos re- para o seu menor uso em estudos teóricos sistemáticos
:: Loc. cito
• ~~., I • ~
3 EMn.E D'UB.XHElM, De la. divia1mt d1L travail social, Presses
Uni\"crsitairea de Franee, 8.6 ediçio, Paris. 1967.
••
22. ••
••
••
• ••
98
••
lado de um ' desenvolvimento favorável do esplrito de
é o de "uma situação social que, em seus casos limJ:'.I' minúcia. no sentido de abalar o eSplrlto de> <:ilnjunto.
trofes, não contém normas e que é, em conseqüência, ou pelo menos de entravar seriamente o '~eu desenvol-
o contrário de 'sociedade'. como 'anarquia' é o contrário vimento. Também citou Esplnas, quando _esse autor
•• 'lO
normas sociais. como resultado de urna desorganização
pessoal; no segundo, é " o . conflito 'entre as próprias
normas. como comandos sociais destinados a orientar
posto pela própria complexidade crescen~ , da . Vida
social, tal divisão, ao provocar com(j conseqMnCla as
especializações dos Individuos, ou mesmo _<J.e · grupos de
•• .
trata-se precisamente de uma situação social em que
não existam ou não operem as ' normas.
Emlle Durkheim, ao' examinar a divisão do trabalho
na sociedade, depOis de -assinalar essa divisão como um I
'. . .:;;"7~
~~
""" tido também vai o esmaecimento das normas que re-
f1ete'm a SOlidariedade grupal. Norinas sotiâis ' deixam
de 'vígorar em vírtude ·do isolameo.to dos diversos seto-
res do trabalho na sociedade. O que ocorre, então, é
•,•
Social Scieftçu, Taviatock PublleatioUl, Lond.rea:, 1964..
• Loc. ' ;;1 •• piE. 848.
•
fi
••
Sociologia do Direito Direito e Anomia 101 t
100
junto de normas comuns que constitui' o principal me- aponta para o egoismo e o altnúsmo, em relação às
práticas suicidas. No exame dos dois quadro, Já men-
••
••
canismo para a regulação das relações entre os compo-
nentes de um sistema social se desmorona. Durkhelm cionados, é possivel realçar um elemento importante c
qualificou tal , situação de anomia, no sentido de ausên· mesmo dominante, que é a influência das circunstân·
cias p.:C:0nómic:as l=>()hrf! () aument.() da,; ta:<a"':. ..I ~ <;" li~i di f)
cia de normas.
No seu estudo sobre o suicldio e ao Indicar os res,
pectivos tipos, Durkhelm deu a um deles o nome de
"suicldio anOmico". Dois quadros diferentes e aparen·
A pobreza, a depressão econOmlca, de um lado, e a ri-
queza, o sucesso econômico, de outro, :tpresentavam
pelos dados examinados pelo sociólogo francês igual ••
••
temente contraditórios de suicldio anOmlco foram exa· .;J" força motivadora do aumento de atos atentatórios à
minados no . referido estudo. T Um deles é aquele preso" própria vida. Como salienta ainda Parsons, Durkheinl
ao aumento dos suicídios nos periodos de depressão teve uma visão bastante aguda da Importância que os
alvos socioculturalmcnte prescritos possuem na vida
•,•
econOmlca; o outro, é o do acréscimo dos atos- atenta-
tórios à própria vida nos perlodos de prosperidade em social. Essa compreensão ele a mostrou especialmente
crescimento acelerado, ao examinar o aumento dos suicldios como reação a
No primeiro quadro, a falta de sucesso no atinai r uma prosperidade não·usual. Disse que o sentido de
os nlveis de vida considerados e a legttlma recompe';;;" segurança e do progresso em busca dos objetivos da
vida depende não apenas de um dom!nio apropriado
,•
do trabalho de cada um, explicaria claramente a con·
duta evidentemente patológica. Tal fracasso, para mui- sobre os meios que a sociedade proporciona para atino
t~s, significa vergonha, desespero, futilidade da vida que
gir aqueles alvos, mas também de uma clara definição
MO parece valer a pena ser vivida. Já o segundo quadro dc, tais objet~vos, eles próprios. Em conseqüência, quan·
aPr:esen~ aspectos mais dlflceis de compreender à pri-
meU1l VISta. Para Durkheim, a explicação desse com- ' ,.pJ>
portamento surpreendente estaria no fato de que os.r?a5'-'
do grande numero de pessoas atinge as metas sociocul-
turail! (os objetivos de vida cultivados na sociedade),
taIs pessoas tendem a considerar tudo passivei e abano ,•
homens têm desejos em principio ilimitados. Não existe J<I
um' limite "natural" às pretensões humanas de moc\o~'_./'
que, à proporção que efes atingem objetivos ';a sua vida, r" ,p<~
donam as normas de comportamento socialmente preso
crítslS, de · certo ponto em diante consideradas inúteis ,
De todo esse quadro resulta um desequilíbrio pessoal
que desemboca em diversas formas de ruptura dos es·
••
alargam os llmites de seus desejos. A possibilidade de j,.I.;"II""I
atingir tais objetivos de vida e o fato de que atlngem,r,#'
~guns, efetivamente todos os objetivos que tinham, re- ~
tira a esses ' alvos os atrativos de valores pelos quais
quemas de vida, figurando os Suicldios nos casos ex·
tremos. •,•
lutaram. ,Todas as pretensões passam a valer.. pouco e
uma espécie de desencanto penetra no modo fie ver as
.coisas, conduzindo a ~ comportamento de autodestrul-
3
Os desenvolvimentos que se seguiram não acres-
centaram muito à conceituação de anomia adota-
~ por Durkhelm com dois diferentes ângulos de
,
çãd. Seria;'-portanto, ainda aqui, o desaparecimento das
normas de ' conduta, preso à perda dos alvos cultural·
mente preS!lritos e Individualmente entendidos e busca-
observaçao. Coube a Robert K. Merton, em um artigo
famoso, o mérito de ter estabelecido as fundações de
uma teoria geral da anomia. Esse tràbalho, que Albert I',
I
r,
dos, a raiZe~ da conduta anOmlca reíei'lda.
Em véidade, como salienta Parsons, • Durkhelrn
eleya a anomia ao mesmo ruvel de influêncta que ele
Cohen denominou de "um curto artigo de dez páginas
fecundas·,' foi publicado inicialmente em 1938 e depois
revisto e aumentado, transformou·se em ' parté da obra ••
, EMI~ . DUUHElIl, Le Suicide. Preaaea Universitaires dê
Franee (nove. edição), Paris,. 1960.
8 TAUXrI:'1' PAROON8. TIt.. Strudvr. 01 soêúsl Action., The Free
N.....
• ÂLUItT
Gembloux,
Coru:N, lA <14";"""., ediç10 belp, Ed, J. Dueolo!.
1971, p'g. 162.
••
,•
Preoo, York, 1968, pAr.' 3S4.
,•
••
•• 102
Sociologia do D ire ito Dir eito e Anomia 103
•• dade norte-ameI'lCllIla, H que todo contexto Sociocultural . ÜIna classificação' esquemática usando os, súnbolos de
desenvolve metas culturais que se identificam ou repre- . positivo ' (+) e negativo (-) parâ ' indicaT '3ceitàção ou
sentam os valores socÍoculturais que nort.eiam a vida .e rejeição, respectivaménte; e a comoinação -dos dois sim·'
•• dos individuos e, paralelamente a tais metas;· as socie- bolos ( ± ) como sigruricando rejeição total com : substi-
dades em que elas são desenvolvidas estabelecem os tulção de valores e meios para 'atingi,I,ql! . . ".i'1 , este o
meios institucionalizados para se atfugir aquelas metas. esquema: ., ,
De um lado, portanto, metas socioculturais; de outro,
••
4. Evuão
estruturada de maneira a que os meios e as normas, (±) (=)
6. Rebelião
socialmente admitidos aqueles e prescritas estas, não
permitem a todos, nem mesmo à maioria das pessoas,
•• estimulados os cidadãos a alcançá-los) , de um lado, e conformista seguida pela grande maioria das pessoas
os recursos oferecidos pelá sociedade para que se alcan- na maior parte do tempo_ Não há, portanto, desvio de
ce aqueles objetivos, de outro. Como resultada, surgem comportamento. Busca-se as metas culturalmente pres-
critas através dos ' meios inStitucionalizados para atingi-
••
os comportamentos individuais e mesmo de grupos, a
encontrar outros meios para atingir . as metas, mesmo las e com respeito habitual às normas fixadas pela s0-
que contrários às :normas .e stabelecidas ~ sociedade ciedade para isso. li: o tipo modal de comportamento.
como válldos para Isso. Examinando a disSociação entre Os outros quatro tipos ou modos de adaptação, entre-
•• tipos diferentes, dependendo da maneira como se com- mentos de desvio, de grande relevância para o estudo
da Patologia ' Social e que, na tipologia mertonlana, de-
sempenham papel Importantlssimo para a elaboração 'de
10 :aouzr Ir. MD1oN, T~ 'II ..tf'W.Cttu"G .oeia.U•• Fondo de sua teoria de anomia.
•,•
11 Loo. oit., P'p. 140 • 201.
••
••
104 . Sociologi a do Direito Direito c Anomia 10~ ••
~eral para todos os componentes da sociedade norte-
americana a meta de sucessO pessoal que envolve ri-
ferentes maneiras de pensar e de agir, geralmente en.
entrosadas em fenômenos de mudança social, não são
uma conduta .de desvio. A segunda observação é de que
••
queza e prestígio;. e ao deixar de proporcionar, com a
mesma generalidade, os instrumentos prescritos ou admi-
tidos para atingir aquelas metas, a refenda SOCIedade
a conduta divergente não é necessariamente contrária
ii étic.. qu~ exist~ no grupo ~ocjal e que constltw dessa
':Ian_eira; elemento objetivo que pennite se faça' a dig-
••
••
criou condições especllicas para estimular O abandono
ou a burla das normas socialmente fixadas para se atin- tmçao entre as condutas divergentes criadoras e as con·
gir as metas culturalmente estabelecidas. Dessa manei- dutas diverg~nte~ anti-sociais. Comportamento divergen·
ra, a conduta divergente se torna, no pensamento mer- te, aSSIm, r:ao e sempre expressão de disfunção saciai.
toniano, na realidade uma r eação normal a uma situação
social definida e detenninada. Os melas institucionali-
zados, ou normas, para atingir as metas culturais esta-
A proposlto das outras formas de adaptação exami.
nadas por Merton, já tivemos oportunidade de escrever
brevemente quando da preparação da segunda edição ••
••
belecidas podem ser de diversos tipos. Abrangem nor- de nosso PatolOgia Soczal. Assim é que salientamos que
mas imperativas (faça-se isso ou aquilO), normas prefe- O segundo tipo de comportamento, rotulado de "ritua-
rencials (que estabelecem critérios de precedência ou lismo" pelo autor norte·americano, se caracteriza pelo
alternativas de comportamento ), normas permissivas fato de que enquanto na conduta inovacionista se busca
(que conferem a faculdade de agir 011 não-agir) e nor-
mas proibitivas (não se faça isso ou aquilo) . Todas
essas normas podem ser observadas tranqüilamente
o sucesso ("a vitória a qualquer preço") sob a regra
de que os fins justilicam os meios, na conduta ritualista
os fins perdem sua importância e o ritual institucionali· ••
mas também podem ser contornadas, ignoradas, rejei-
tadas ou apenas transformadas em ritual, o que também
é comportamento divergente.
zado de comportamento sobe ao primeiro plano. O fra-
casso clctivo, já produzido, ou em potencial, o medn ao
insucesso provável ou muito passivei, dadas aquelas cir- ••
Assim, O insucesso na busca da meta cultural, diante
da Insuficiência dos meios institucionalizados da socie-
dade para atingir aquela, como foi dito, produz o que
se pode chamar de uma tendência para a anomia. Trata-
cunstâncias de desajuste entre os processos SOCialmente
aprovados para alcançar as metas culturais, e estas
mesmas produzem desencanto e desestimulo . O com-
portamento conseqüente, muitas vezes, é o do abandono
••
se de um comportamento em que as normas são aban-
donadas, ou contornadas. É o chamado comportamen-
to de desvio, pelo qual superando-sc os obstáculos insti-
das metas culturais e dos valores que a elas aderem e
as sustentam, com a paralela retenção dos rituais. Em-
bora na aparência seja esse um comportamento confor-
mista, porque ajustado aos tipos de conduta socialmente
••
tucionais ou instrumentais, procura-se atingir os alvos
culturalmente estimulados por todo o sistema. ' Nesse recomendados ou aprovados, ocorre no caso inconfor- a
dosvio de comportamento estão retratadas, como é evi- mismo quanto a manutenção dos alvos socialmente pres- ,a
dente; a crlinirtalldade e todas as formas de deIinqüên-
ela. Também nele se revelam as faltas disciplinares, a
inobservância das regras de conduta social e outros
critos. O indiv·iduo abandona e virtualmente rejeita
esses alvos, porque os entende inatingiveis.
A conduta ritualista passa a ser, então, um valor
em si mesmo. Melhor dizendo, o cumprimento dos ritos
••
tipos. Tudo isso configura o segundo tipo de adaptação
da tipologia mertoniana, rotulado de "inovação".
Duas observações se impõem a esta altura: a pri-
meira é que se deve compreender que as divergências
estabelecidos pelos processos institucionalizantes é que
adquire a dimensão e a importância de valor sociocultu-
rai. Cumprir de qualquer maneira os regulamentos ou
••
que visam" 'c riar novos meios instltuclollalizados, mais
eficientes para a realização dos objetivos sociais ligados
ao alcance das metas culturals, não são, em si mesmas,
as ordens recebidas, sem indagar da sua adequação
aqueles valores e aquelas metas, é assim a conduta
observada. Para isso contribui o intenso condiciona- ••
exemplos de comportamento "lnovaclonista". Essas di- mento social, em especial nos grupos familiar c profis·
••
. ----------------------------------------------------------------
••
•• 106 Sociologia do Direito Direito e Anomia 107
••
outra maneira, vivem no meio social mas a ele não aos próprios valores e metas que a sociedade estabelece.
aderem, ou delEi retiram a adesão antes dada. A. apatia Sem . ser definitiva , o que teoda alguma é, aquela for-
e a renúncia à participação politica, à libcrdade, a auto· mulada por Merton a respeito do coinpor~mp.nt.o anô·
nomia moral; a rec11Sa de submissão a qualquer disci- mico estabelece bases para um desenvolvimeI!lo cienti-
••
ou incapazes de realizar o bem-estar humano, passo a que o grupo exerce sobre certas formas de comporta·
passo com a recusa de coruormidade aos comp?rtamen- mento de desvio . Essas influências, como se sabe, são
tos socialmente estabelecidos. Prevalece, quanto as metas muito fortes . Considerável número de pessoas e até
culturais a atitude de que- elas não valem a pena de
••
pequenos grupos ou "cliques" adotam comportamento
coisa al~; e quanto aos comportamen.t os _soci,:is de desvio de maneira a contribuir eficientemente para
aprovados, a de que, despidos daquela motIvaçao, nao a popularização e a disseminação de tal modo de con-
merecem observância. duta. Essa influência é particularmente observada entre
•
tamento de "rebelião" não se limita a aperfeiçoar lOS · popl\laridade dessas pessoas fornecem os ~tfmulos a que
trumentos ' ele tem como objetivo a substituição total se erurente os controles sociais irúorrnais e mesmos os
•• '
-' .
') 1.
•
,,
,,
Sociologia do Direito Direito e Anomia 109
108
I
ridas por diversos autores, entret:ml:o, a teoria geral
da anomia esboçada por Merton constitui ainda o mais
amplo e seguro quadro de referência para o estudo dos
portanto, cogitando do Dueito subjetivo , faculdade ou
poder de agir, a facultas agendi ,
Qualquer que seja a posição teórica em que se co°
loque o observador, o Direito é sempre entendido como
,
I
4
Ora, O Direito intervém precisamente porque há
comportamento de desvio no meio social. Ou
mais precisamente, ele intervém porque a sacie·
pura do Direito" que tal teoria demonstra que o Direito
não pode, na realidade, ser infringido ou violado pelos
comportamentos antijurídicos, acentuando que ele de- ,
I
dade atingiu um nível de complexidade em que existem,
ou podem ,existir, comportamentos de desvio, cuja exa·
cerbação ou até mesmo, em alguns casos, cuja simples
eclosão somente serão passiveis de evitar se intervierem
sempenha a sua função graças à antijuridicidade. "
Com isso, deixou ele bem à mostra que o Direito fun-
ciona precisamente porque existe o comportamento con·
trário a ele. Em essência, o que isso slglliIica é que
,
I
as normas jurídicas. Os costumes, como simples a ordem juridica existe porque existem, ou podem existir I
"fOlkways " ou na feição de " mores" bem estabelecidos
_ na classificação de Sumner " porque não são sufi·
cientes, em tais casos, para conformar os comporta·
mentos sociais - cedem lugar ao Direito que passa a
comportamentos contrários às normas de conduta social-
mente prescriLas, admitidas ou simplesmente toleradas.
Tais condutas contrárias às no'rmas se dirigem, primei-
ramente, contra aquelas não sancionadas pela ordem
•
I
desempenhar, com a sociedade mais complexa e no rumo jurldica. Historicamente, os costumes em seus vários I
das institucion~ações bem deflnldas, o instrument'J graus de força condicionante de comportamento, desde
mais forte de controle social, embora incidente sobre o nível de mera sugestão até o plano de obrigatoriedade, I
uma parcela apenas reduzida dos comportamentos. :€ foram os primeiros a ser violados ou infringidos pelo I
assim, diante dos desvios de conduta ou da conduta comportamento de desvio. Desta realidade foi que a
anOmica que o Direito tem aparecimento e se desenvolve. sociedade, já complexa e diversificada, extraiu a solução I
Ele é a' resposta social à conduta anOmica. Seria des· de editar formalmente normas de comportamento que
necessário sem ela. Mas, embora existente, é cpntomado, são, afinal de contas, as regras de Direito. Mas também I
como norma de conduta, pelos comportamentOs de des· essas regras são objeto dos comportamentos contrários. I
I'
vio. A reciproca relação, ou inter-relação, é clara. Dai que o Direito represente sempre uma resposta aos
.' Evidente que, nestas páginas, ao nos referirmos ao comportamentos de desvio manifestados , em relação
Direito estamos cogitando, de modo geral, da ordem aos simples costumes, inclusive os "mores", ou em re-
I
•
jurfdiai.. Ou lI)elhor, cuidamos do chamado Direito obje- lação à própria ordem jurídica.
tivo, regra 'social obrigatória que a sociedade edita pelos É de observar que o mecanismo das relações entre
seus órgãos institucionalizados do poder. Não estamos, as normas de comportamento social e as condutas a
elas contrárias, como o comportamento de desvio, são I
12 'W.íLLLUl GUB.AlIl SUMNER, Lo. PlubCo. 11 atLI Costumbre •.
I
1:1 HANS Teoria.
Iú:LSEN, PUTtI do Direito, Saraiva & Cia.,
Ed. GuUlerme Kraft Ltda., Buenos Ai re~, 1948, tradução espanhola I
de FoUctoa.y., titulo origintll da obra.
Sã. Paul., 1939, pAgo 33.
l<' r-. cit., p'g. 32.
I
,, :
I
,
I
••
•• 110 O',
Sociologia do Direito
',I
DIreito e Anomia 111
••
não·exteriorizadÁs e não-transformadas em ação é inviá·
Ou seja, mais explicitamente, muitas regras de Direito vel e!1contrar comportamentos de desvio. ·E somente
se destinam a assegurar o cumprimento de outras. Elas os comportamentos interessam ao Direito. Como bem
são respostas, no plano legal, aos comportamentos exis· salien~ou.. Olivecrona, ( toda regra juridica se · r-ciere aos
•• ou a fornecer os. instrumentos de que a sociedade dispõe Igual ordem de idéias se encontra exposta pelo em!-
para isso-/ No último caso, encontra·se todo o quadro ne~te Pontes de MiEanda, quando -.a firma 'Lue a regra
de normas jurídicas relativas aos direitos e deveres d~ J.undica fOI a cnaçao. mais eficiente dO-JlOmem para
funcionários, às suas funções, à organização de serviços sUQIt1«:~!':LB~~llIldo~oç~::I, e, pois, os hom~, às mesmas
••
coriáufã-- social, mas também porque as regras de Direito
são o resultado de um longo processo de nonnatividade, mundo social.. É que ,e ntra ela em jogo para conformar
ou melhor, de criação e imposição de normas, formu- os comportamentos . que não se ajustam áos controles
lado pela sociedade. No quadro geral de normas de infonnats. E dentro da própria orde'm jurldica, convém
••
!.
mandamentos; e dentro da própria ordem jurídica, como Milão, lU~i., ,.11!67". pág. ,23.",-." ., , ., ,, .
11 'P~Hn:: p.~ ' MIRANO:~b T~t4do .~ Direito PrilJado, Tomo I,
Ed. Borsol, 2. edição. Rio, ' 1954.; ' páp. ·~ 8=9.
10 CÚUDIO SOUTO, Introdução ao Direito co-rn.o Ciência. Soci41, ; II EDwlH M. SCHm\ "' 'Sóciologia / deZ - diritto,:' Sodetà editriee
•• Ed. Tempo Brasileiro e Universidade de Brasilia, Ri o, 1971, pág. 7. 11 Mulino, Bolonha, IWia, 19'1O, .i pr,. Do.: ~ ~,
•
b·
••
••
: ~
_ _ < _p'
._- ~-~=- ~ =-= -~.--:.~------
••
mar os comportamentos individuaIS e grupais a outras
regras de DIreito preexistentes que se tenhiún revelada
de baixa força coatlva, Ou cuja vigência tenha se mostre-
líaades de explicação dos comportamentos de desvio.
A:tlpologia meitoniana, porém, e as noções básicas sobre
metas cÍllturais e meios estabelecidos para alcançá-las
••
do muito fácil de contornar.
Pare se entender, portanto, a natureza essen.c!n1 da
ordem jurídica, niío é necessário ir b~r nos couceitos
marxistas as bases de uma expllcaçao. ~ elementar
permitem. uma compreensão adequada dos aludidos com
porlamentos.
Em suma, avançamos uma proposição teórica que ••
dizer que os modos de conduta que o DIreito visa pre-
servar são os modos de determinada sociedade. Por
isso, O Direito é relativo no tempo e no espaço. També;n
nos parece relevante: a de que o Direito é resposta social,
editada em sociedades complexas, e por meio de órgãos
para isso existentes: para enfrentar os comportamentos
de desvio aos costumes) e que, secundariamente. con-
••
é merídianamente claro que esses modos de conduta sao
os que se ajustam aos valores cultun.lmente estabele-
cidos, expressos nas metas cultun.ls, e às maneiras so-
tinua a ser criado ' para conformar as condutas que são
de desvio em relação às primeiras normas juridicas, ou
para criar, ou desenvolver, os instrumentos de que a ••
cialmente admitidas de se perseguir tais metas. Logo,
se determinada sociedade está ·estruturada de certa ma-
m,ira, que reflete as relações soelais nela crtstallzadas,
sociedade necessita para isso, num mecanismo dialélico
expresso pelas relações costumes·desvio, desvio·norma
;urldica, norma ;urldica-desvw, desvio·norma iuridica, e ••
não há como fugir à conclusão de que a ordem juridica
nela desenvolvida se destina u conformar os comporta-
mentos individuais e grupais àquelas metas culturais e
àqueles meios instltucionallzados permitidos para alcan-
assim por diante.
Como conseqUência a ordem jurídica rerlete uma
ordem social. Deslina-s~ a mantê-Ia, conservá·la, defendê
la. Os comportamentos que ela se destina a assegurar
••
çá-Ias . .
~"POr ISso que, como se afirmou no capitulo prece-
dente, o Direito possui função conservadora da ordem
são aqueles que a ordem social admite. E quando a
ordem jUrídica funciona como agente de mudança s.0Clal,
só o faz nos limites que assegurem a sobreVIvênCIa do
••
soclal em que existe. Cada>ordem Jurídica tende a con-
servar a ordem soc!n1 que lhe dá nascimento; é dela
instrumento para esse fim. O DIreito educa dentro desse
sistema que edita o Direito, no que ele tem de essencial
ou no que a ~le se afigure essencial - o que não exclui.
acrescentamos agora, a :possIbUldade de que, . dada a
••
. quadro, defende-o e por meio de sua função transfor-
. medora ou de agente de mudança socJ.aI só vai até
certoS llmftes de modificações, admissiveis pelo sistema
em que 'ele existe e que o assegura.
constante e hoje acelerada mudança sociocultural. o
"essencial" de hoje seja multo diferente do de ontem
ou do de amanhã. . ••
•
Esse é mais um dado 8 acrescentar 11 relatividade
5
Neste capitulo, assim, tivemos oportunidade de
examinar de modo concreto ~ importância que
aigims conceitos sociológicos podem ter para o
estudo dôs fenômenos Juridicos_ Depois de referirmos
a noção de ·papel" que :Madeleine Grawitz estudou com
espaço-temPoral do Direito.
'.
••
esse objetlvo, e outros conceitos sociológicos, fixamo-
nos na nOçRo de anomia como merecedora de um novo
e acurado exame, agora do ponto de vista soelojuridico. ••
Analisamo's brevemente o que é anomia, principal-
mente segundo Durkheim e Merton. A teoria geral da
anomia, formulada pelo segundo, é mais completa e atual ••
••
e já nos permite um cousiderável progresso no estudo
3°