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Curso Agente e Escrivão Polícia Federal

Disciplina: Direito Administrativo


Prof. Fabrício Bolzan
Aula n.º 05

MATERIAL DE APOIO – MONITORIA

Índice

1. Artigos Correlatos
1.1. O servidor público civil da União e a possibilidade de remoção em razão de casamento
2. Leia!!!
2.1. Salário de servidor público é competência da Justiça Comum?
2.2. Pode o servidor público estável perder o cargo em razão de excesso de gastos do Poder Público?
3. Simulados

1. ARTIGO CORRELATO

1.1. O servidor público civil da União e a possibilidade de remoção em razão de casamento.

Autor: Murilo de Medeiros - Técnico do Ministério Público da União em Lages(SC), bacharel em Direito
pela Universidade do Planalto Catarinense (UNIPLAC), pós-graduando "lato sensu" em Direito Constitucio-
nal pela UNISUL/IELF.

A segurança do povo é a lei suprema; todas as outras leis particulares são subordinadas a esta lei e dela
dependem. E se no curso ordinário das coisas elas são seguidas e levadas em consideração, é apenas
porque a segurança e o interesse públicos ordinariamente requerem um exercício assim equânime e im-
parcial.

David Hume

SUMÁRIO: INTRODUÇÃO, 1 O SERVIDOR PÚBLICO E A ADMINISTRAÇÂO PÚBLICA, 1.1 Os recursos hu-


manos da Administração Pública, 1.1.1 Agentes públicos, 1.1.1.1 Agentes políticos, 1.1.1.2 Servidores
públicos, 1.1.1.3 Empregados públicos, 1.1.1.4 Empregados temporários, 1.2 Vínculos jurídicos dos servi-
dores públicos, 1.2.1 Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, 1.2.2 Estatuto, 1.2.3 Lei específica, 1.3 A
Administração Pública, 2 O DEVER DO ESTADO DE PROTEGER A FAMÍLIA, 2.1 O Estado, 2.2 A família, 2.3
O casamento, 2.4 O dever de proteção do Estado, 3 O CASAMENTO ENTRE SERVIDORES PÚBLICOS E O
DIREITO DE REMOÇÃO PARA UM DOS CÔNJUGES, 3.1 O interesse público versus o interesse individual
protegido pela Constituição, 3.2 As formas de remoção dos servidores públicos à luz da Lei n. 8.112/90,
3.3 O princípio da legalidade como limite de atuação da Administração Pública, 3.4 A posição dos Tribu-
nais Regionais Federais em defesa do interesse individual dos servidores públicos, CONSIDERAÇÕES FI-
NAIS, REFERÊNCIAS.

INTRODUÇÃO

A presente pesquisa monográfica pretende esclarecer se o servidor público civil da União (portanto regido
pelo Estatuto dos Servidores Públicos Civis da União – Lei n. 8.112/90) que contraia casamento com outro
servidor público, seja ele do Município, do Estado, do Distrito Federal, da União ou das autarquias e fun-
dações públicas federais, com lotação em localidade diversa, tem direito à remoção para que possa efeti-
vamente viver em matrimônio.

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A referida possibilidade não está contemplada nas hipóteses previstas no art. 36, da Lei n. 8.112/90, que
trata das formas de remoção, carecendo, desta forma, do pressuposto de legalidade que se exige para a
sua concessão.

A pesquisa pretende averiguar se há a possibilidade de se conceder a citada remoção com base no art.
226, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, que cria o dever do Estado para com a
proteção da instituição da família.

O fio condutor desta pesquisa é apresentar a dicotomia de um Estado que tem o dever constitucional de
obedecer ao princípio da legalidade (art. 37, caput) no que concerne aos seus atos e ao mesmo tempo
cumprir com o seu outro mandamento constitucional que lhe impõe proteger a família (art. 226, caput).

Se por um lado a Administração Pública deve obediência ao princípio da legalidade, só podendo fazer a-
quilo que está expressamente descrito na lei, por outro lado não pode desprezar a chamada "célula da
sociedade" que encontra-se sob a sua proteção, até por uma questão de auto preservação, pois não se
pode conceber um Estado sem a existência das famílias.

É no seio da família que o indivíduo tem os primeiros contatos de organização, de respeito à autoridade,
de valores morais e éticos, de princípios, de civismo e de democracia. A existência do Estado está inti-
mamente ligada à perpetuação da família e, esta, à união do homem com a mulher com a finalidade de
coabitação, assistência mútua e procriação.

A família é a grande escola da cidadania, pois é em seu meio que se renovam os votos de preservação da
sociedade organizada.

A própria geração de riquezas do país está relacionada a constituição da família, pois o que move o ho-
mem a produzir mais do que precisa para si é seu sentimento de dever em prover o conforto, a moradia,
a alimentação, a saúde, a segurança, a educação, o vestuário e a prosperidade do seu núcleo familiar.

A possibilidade aventada também encontra resistência no princípio da supremacia do interesse público


sobre o interesse privado e neste ponto também se pretende apresentar a concessão de remoção para o
servidor público civil da União em virtude de ter contraído núpcias, propiciando que este possa se unir ao
seu cônjuge para constituir uma família, como sendo ato de elevado interesse público.

Muito embora hodiernamente sabe-se que a família não é somente aquela oriunda do casamento, inclusi-
ve a Constituição reconhece a união estável entre homem e mulher como entidade familiar (art. 226, §
3º), nesta pesquisa somente será objeto de abordagem aquela afeta à instituição do casamento em virtu-
de da delimitação do tema proposto.

Deixa-se assim de abordar a união estável por esta não se enquadrar na proposta desta pesquisa mono-
gráfica, até porque seria intempestivo se requerer remoção para outra localidade com o intuito de manter
uma convivência duradoura, pública e contínua com o objetivo de constituição de família (conforme a de-
finição da Lei n. 9.278/96 que regulamentou o art. 226, § 3º, da CRFB/88), sem poder fazer provas desta
intenção com antecedência. Neste caso, parece evidente que para se fazer prova da existência da união
estável, demandaria que o casal já estivesse convivendo.

A jurisprudência dos Tribunais Regionais Federais tem se manifestado favoravelmente aos servidores pú-
blicos civis da União, que em suas portas vão bater em busca da tutela jurisdicional do Estado, quando a
situação fática se enquadra dentro dos pressupostos abordados nesta monografia.

Espera-se que ao final esta pesquisa consiga esclarecer alguns aspectos relevantes no que diz respeito a
remoção de servidor público civil da União em razão de casamento e que possa contribuir para o debate
acerca das implicações sociais e jurídicas que envolvem esta questão.

CAPÍTULO 1

O SERVIDOR PÚBLICO E A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

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1.1 Os recursos humanos da Administração Pública

1.1.1 Agentes públicos

São todos aqueles que possuem um vínculo de trabalho com os entes estatais, de qualquer Poder. A partir
de 1988, com a promulgação da Constituição, passou-se a utilizar a expressão "servidores públicos" com
esta amplitude. (MEDAUAR, 2003, p. 285).

No conceito de Maria Sylvia Zanella Di Pietro (2004, p. 431), agente público "é toda pessoa que presta
serviços ao Estado e às pessoas jurídicas da Administração Indireta".

Agentes públicos é a expressão mais ampla que se pode conceber para designar genérica e indistintamen-
te os sujeitos que servem ao Poder Público como instrumentos expressivos de sua vontade e ação, ainda
que o façam ocasional e episodicamente. (MELLO, 2003, p. 226).

Na lição de Hely Lopes Meirelles (2004, p. 75), agentes públicos são:

[...] todas as pessoas físicas incumbidas, definitiva ou transitoriamente, do exercício de alguma função
estatal. Os agentes normalmente desempenham funções do órgão, distribuídas entre os cargos de que
são titulares, mas excepcionalmente podem exercer funções sem cargo. A regra é a atribuição de funções
múltiplas e genéricas ao órgão, as quais são repartidas especificamente entre os cargos, ou individual-
mente entre os agentes de função sem cargo. Em qualquer hipótese, porém, o cargo ou a função perten-
ce ao Estado, e não ao agente que o exerce, razão pela qual o Estado pode suprimir ou alterar cargos e
funções sem nenhuma ofensa aos direitos de seus titulares, como podem desaparecer os titulares sem
extinção dos cargos e funções.

Haja vista a grande variedade de sujeitos que são compreendidos sob tal rótulo, cumpre indicar a siste-
matização proposta pelo Prof. Oswaldo Aranha Bandeira de Mello apud Celso Antônio Bandeira de Mello
(2003, p. 229), com algumas adaptações, notadamente em vista do atual texto constitucional. Segundo
ela, os agentes públicos podem ser divididos em três grandes grupos, dentro dos quais há outras subdivi-
sões. A saber: a) agentes políticos; b) servidores estatais, abrangendo servidores públicos e servidores
das pessoas governamentais de Direito Privado, e c) particulares em atuação colaboradora com o Poder
Público.

Para finalizar, quem quer que desempenhe função estatal, enquanto as exercita, é um agente público. É o
que ensina Mello (2003, p. 227):

Por isto, a noção abarca tanto o Chefe do Poder Executivo (em qualquer das esferas) como os senadores,
deputados e vereadores, os ocupantes de cargos ou empregos públicos da Administração direta dos três
Poderes, os servidores das autarquias, das fundações governamentais, das empresas públicas e socieda-
des de economia mista das distintas órbitas de governo, os concessionários e permissionários de serviço
público, os delegados de função ou ofício público, os requisitados, os contratados sob locação civil de ser-
viços e os gestores de negócios públicos.

Para Toshio Mukai (1999, p. 151) "agentes públicos, em geral, são pessoas naturais, mas também podem
ser pessoas jurídicas privadas ou governamentais incumbidas de uma função ou atividade estatal em si-
tuações determinadas e especiais". (Sem grifo no original).

1.1.1.1.Agentes políticos

Os agentes políticos são, primeiramente, os eleitos pelo sufrágio universal, ou seja, os detentores de
mandato eletivo: Presidente da República, Governadores, Senadores, Deputados, Prefeitos e Vereadores.
Em segundo lugar os auxiliares imediatos dos chefes do Executivo: Ministros de Estado, Secretários de
Estado e Secretários Municipais. Para os agentes políticos eleitos há normas básicas nas Constituições e
Leis Orgânicas de Municípios referentes aos seus direitos e deveres; e normas específicas quanto às res-
pectivas responsabilidades, como por exemplo, a Lei n. 1.079, de 10.04.1950, (Lei do impea-

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chment) que tipifica os crimes de responsabilidade do Presidente da República, dos Governadores e tam-
bém dos Ministros de Estado. Quanto aos auxiliares diretos dos chefes de Executivo, ocupantes de cargos
em comissão, aplicam-se, de regra os Estatutos correspondentes, no que for compatível com a situação.
(MEDAUAR, 2003, p. 286).

No mesmo sentido, Mello (2003, p. 229) considera como sendo agentes políticos os titulares de cargos
estruturais à organização política do País, ou seja, ocupantes dos que integram o arcabouço constitucional
do Estado, o esquema fundamental do Poder. Segundo seu entendimento, os agentes políticos se consti-
tuem "nos formadores da vontade superior do Estado". Para a sua classificação, os respectivos vices dos
chefes de Executivo também são considerados agentes políticos.

Os agentes políticos formam uma categoria própria de agente público. No entanto a Constituição, para
fins de tratamento jurídico coloca-os como se fossem servidores públicos. Todos os cargos contemplados
com a garantia da vitaliciedade são ocupados por agentes políticos, embora também haja aqueles que
ocupam cargos em comissão com esta designação, como os Ministros de Estado. Normalmente devem ser
regidos pelo regime estatutário, destarte alguns são submetidos obrigatoriamente a um regime estatutá-
rio de natureza peculiar, a exemplo da Magistratura e do Ministério Público. (MEIRELLES, 2004, p. 392).

Para Mukai (1999, p. 152) o rol dos agentes políticos é bem mais abrangente, senão vejamos:

São os que exercem mandatos de representação política nos Poderes Executivo ou Legislativo, como de-
putados, senadores, vereadores, Presidente da República, governadores, prefeitos; no Poder Judiciário
(magistrados em geral), bem como os membros do Ministério Público e os membros dos tribunais de Con-
tas. Portanto, são os que foram investidos em cargos funções, conselhos ou comissões por nomeação,
eleição, designação ou delegação para o exercício de atribuições constitucionais. Esses agentes políticos
exercem funções governamentais nos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, sendo as autoridades
públicas supremas em cada ente político da federação, pois não se subordinam a superior hierárquico no
exercício de suas atribuições típicas. Apesar disso, suas ações são regidas principalmente pela Constitui-
ção e por leis especiais no que concerne a escolha, investidura, conduta e processo por crimes funcionais
e de responsabilidade. As prerrogativas lhe são reconhecidas e não são consideradas privilégios pessoais,
mas apenas garantias para o pleno e adequado exercício de suas funções constitucionais.

Percebe-se que não há uma uniformidade de pensamento entre os doutrinadores acerca da conceituação
de quem seja considerado agente político, especificamente sobre os integrantes da Magistratura e do Mi-
nistério Público.

Sobre este tema discorre Di Pietro (2004, p. 433):

É necessário reconhecer, contudo, que atualmente há uma tendência a considerar os membros da Magis-
tratura e do Ministério Público como agentes políticos. Com relação aos primeiros, é valido esse entendi-
mento desde que se tenha presente o sentido em que sua função é considerada política; não significa que
participem do Governo ou que suas decisões sejam políticas, baseadas em critérios de oportunidade e
conveniência, e sim que correspondem ao exercício de uma parcela da soberania do Estado, consistente
na função de dizer o direito em última instância. Nesse sentido, o STF, no Recurso Extraordinário
228.977/SP, em que foi relator o Ministro Néri da Silveira, referiu-se aos magistrados como "agentes polí-
ticos, investidos para o exercício de atribuições constitucionais, sendo dotados de plena liberdade funcio-
nal no desempenho de suas funções, com prerrogativas próprias e legislação específica" (DJ de 12-4-
2002). Quanto ao vínculo com o poder público, é de natureza estatutária, regido pela Lei Orgânica da Ma-
gistratura.

Quanto aos membros do Ministério Público, a inclusão na categoria de agentes políticos tem sido justifica-
da pelas funções de controle que lhe foram atribuídas a partir da Constituição de 1988 (art. 129), especi-
almente a de "zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos
direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia" (inciso II).
No entanto, quanto à forma de investidura e aos vínculos com o Poder Público, sua situação iguala-se à
dos servidores públicos estatutários, ainda que submetida a estatuto próprio.

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Portanto, os agentes políticos são aqueles que exercem os cargos superiores na estrutura estatal constitu-
cional não subordinados a superior hierárquico, mas apenas a ditames constitucionais. São as pessoas
investidas em cargos públicos que têm ampla liberdade para exercerem suas funções típicas, com atribui-
ções, prerrogativas e responsabilidades estabelecidas na Constituição. (MUKAI, 1999, p. 152).

1.1.1.2 Servidores públicos

A Constituição de 1988, no capítulo concernente à Administração Pública, emprega a expressão "Servido-


res Públicos" para designar as pessoas que prestam serviços, com vínculo empregatício, à Administração
Pública direta, autarquias e fundações públicas. (DI PIETRO, 2004, p. 430).

A definição que melhor abordou o servidor público, como sendo um recurso humano da Administração, foi
dado por Mukai (1999, p. 151):

Toda organização, inclusive a estatal, pressupõe a atuação de pessoas humanas as quais, por sua vez,
podem ser também organizadas por meio da atribuição de personalidade jurídica distinta daquela própria
do Poder Público à organização que as reúna para a consecução de objetivos ou finalidades específicas
previamente determinadas. As pessoas humanas é que são responsáveis pela movimentação da estrutura
organizacional do Poder Público com vistas ao atingimento dos fins de interesse público estabelecidos na
Constituição Federal.

São os servidores que fazem a Administração funcionar, pois as atividades a ela pertinentes, seus pode-
res, atos, gestão de seus bens só se operacionalizam pelo trabalho dos servidores públicos, ou seja, pelas
pessoas que mantém vínculo de trabalho com a Administração, o chamado pessoal da Administração.
(MEDAUAR, 2003, p. 283).

Ainda no dizer de Di Pietro (2004, p. 433-434):

São servidores públicos, em sentido amplo, as pessoas físicas que prestam serviços ao Estado e às enti-
dades da Administração Indireta, com vínculo empregatício e mediante remuneração paga pelos cofres
públicos.

Compreendem:

1. os servidores estatutários, sujeitos ao regime estatutário e ocupantes de cargos públicos;

2. os empregados públicos, contratados sob o regime da legislação trabalhista e ocupantes de emprego


público;

3. os servidores temporários, contratados por tempo determinado para atender à necessidade temporária
de excepcional interesse público (art. 37, IX, da Constituição); eles exercem função, sem estarem vincu-
lados a cargo ou emprego público. (Com grifo no original).

Ainda segundo Di Pietro (2004, p. 434), os servidores públicos que se submetem a regime estatutário,
estabelecido em lei por cada uma das unidades da federação e modificável unilateralmente, desde que
respeitados os direitos já adquiridos pelo servidor. Quando são nomeados, eles ingressam numa situação
jurídica previamente definida, à qual se submetem com o ato da posse; não há possibilidade de qualquer
modificação das normas vigentes por meio de contrato, ainda que com a concordância da Administração e
do servidor, porque se trata de normas de ordem pública cogentes, não derrogáveis pelas partes.

Para Mello (2003, p. 226) os servidores públicos são uma espécie dentro do gênero "agentes públicos".

Na classificação de Meirelles (2004, p. 391) constituem, os servidores públicos, uma subespécie dos agen-
tes públicos administrativos, categoria que abrange a grande massa de prestadores de serviços à Admi-
nistração e a ela vinculados por relações profissionais, em razão de investidura em cargos e funções, a
título de emprego e com retribuição pecuniária.

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A Constituição Federal de 1988 designa todas as pessoas físicas que trabalham nos entes estatais, de
qualquer poder, inclusive os detentores de cargos, como sendo servidores públicos; é o mesmo sentido da
locução agentes públicos. Anteriormente a vigência da presente Constituição, a doutrina atribuía tal nome
àqueles que trabalhavam nos estes estatais, sem ocuparem cargos, por exemplo: os contratados. (ME-
DAUAR, 2003, p. 286).

É uma espécie ou categoria constituída por um imenso número de pessoas que prestam serviços à Admi-
nistração direta e indireta nas modalidades admitidas pela Constituição de 1988. (MUJALLI, 1999, p. 197).

O termo servidor público foi adotado pela Constituição de 1988, sendo que desde então deixou-se de usar
a expressão funcionário público, usada na Constituição anterior, embora ainda haja na legislação ordinária
referência neste sentido, conforme aborda Di Pietro (2004, p. 430):

Isto significa que "servidor público" é expressão empregada ora em sentido amplo, para designar todas as
pessoas físicas que prestam serviços ao Estado e às entidades da Administração Indireta, com vínculo
empregatício, ora em sentido menos amplo, que exclui os que prestam serviços às entidades com perso-
nalidade jurídica de direito privado. Nenhuma vez a Constituição utiliza o vocábulo funcionário, o que não
impede seja mantido na legislação ordinária. (Com grifo no original).

Destarte, na linguagem comum, inclusive na imprensa falada e escrita, mencionam-se, com muita fre-
qüência, os termos funcionalismo, funcionários, servidores, para abranger todos os que trabalham na
Administração ou num setor. (MEDAUAR, 2003, p. 285).

Embora tenha, no capítulo dedicado ao tema, se referido a Funcionários Públicos, foi a Constituição de
1967 (RANGEL, 1986, p. 219) a primeira a fazer referência ao termo servidores públicos:

Art.67 - É da competência do Poder Executivo a iniciativa das leis orçamentárias e das que abram crédi-
tos, fixem vencimentos e vantagens dos servidores públicos, concedam subvenção ou auxilio, ou de qual-
quer modo autorizem, criem ou aumentem a despesa pública. (Sem grifo no original).

Com a Emenda Constitucional n. 19 – EC n. 19, de 04.06.98, houve a alteração da denominação "Servido-


res Públicos Civis", na seção II, do Capítulo VII, da Constituição da República Federativa do Brasil, para
somente "Servidores Públicos", dando um novo contexto para o seu significado (MELLO, 2003, p. 230):

Com efeito, a designação servidor público, já hoje, tem alcance mais restrito do que dantes. Não mais é
adequada para abarcar também os empregados das entidades da Administração indireta de Direito Priva-
do, porquanto, sob a rubrica constitucional "Dos Servidores Públicos" (que substituiu, desde o "Emendão",
Emenda Constitucional 19, de 4.6.98, a rubrica "Dos Servidores Públicos Civis"), é visível que só estão
considerados os integrantes de cargo ou emprego nas pessoas jurídicas de Direito Público. Assim, na a-
tualidade, o nomen juris "servidor público" é uma espécie do gênero "servidores estatais". (Com grifo no
original).

Em face de a EC n. 19/98, acima descrita, ter alterado o regime pelo qual os servidores públicos deveriam
se vincular na sua relação jurídica com o Estado (institucional estatutária) que Mello (2003, p. 230) suge-
re uma nova designação na classificação dos agentes públicos: os servidores estatais.

Em sentido amplo, são os servidores públicos as pessoas físicas que prestam serviços ao estado e às enti-
dades da Administração Indireta, com vínculo empregatício e mediante remuneração paga pelos cofres
públicos (DI PIETRO, 2004, p. 433).

Na mesma corrente de pensamento, acerca dos servidores públicos, em sentido amplo, arremata Meirelles
(2004, p. 392):

[...] são todos os agentes públicos que se vinculam à Administração Pública, direta e indireta, do Estado,
sob regime jurídico (a) estatutário regular, geral ou peculiar, ou (b) administrativo especial, ou (c) celetis-
ta (regido pela Consolidação das Leis do Trabalho – CLT), de natureza profissional empregatícia.

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Porém, servidor público, em sentido estrito, ou chamados de estatutários, ainda segundo Meirelles (2004,
p. 393), são "os titulares de cargos público efetivo e em comissão, com regime jurídico estatutário geral
ou particular e integrantes da Administração direta, das Autarquias e das fundações públicas com perso-
nalidade de Direito Público".

Para Mukai (1999, p. 152) o servidor público em sentido estrito é uma espécie de agente administrativo
(segundo a sua classificação), o qual engloba:

[...] todas as pessoas naturais vinculadas profissionalmente com o Poder Público, sujeitas à hierarquia
administrativa sob regime celetista ou estatutário, e também os dirigentes das entidades paraestatais, os
quais eleitos ou designados, passam a ter vinculação institucional com os órgãos da Administração aos
quais a entidade se encontre vinculada. São servidores públicos administrativos, pois não exercem cargos
ou funções no nível mais alto da organização estatal, o da Constituição.

As competência profissionais dos agentes administrativos nos níveis de chefia, planejamento, assessora-
mento ou de execução material são colocadas à disposição da Administração Pública, porém estes agentes
não são membros integrantes dos órgãos máximos da estrutura do Estado e, por isso, não o representam.

A Constituição de 1988 previu, na sua redação original, regime jurídico único para os servidores da Admi-
nistração Direta, autarquias e fundações públicas (art. 39). Foi a partir da EC n. 19/98, já citada, que a
exigência deixou de existir, de modo que cada esfera de governo poderá instituir o regime estatutário ou
o contratual, com possibilidade de conviverem os dois regimes na mesma entidade ou órgão, não haven-
do necessidade de que o mesmo regime adotado para a Administração Direta seja igual para as autarqui-
as e fundações públicas. (DI PIETRO, 2004, 436).

Portanto, servidor público, como emana da Constituição, é a designação genérica utilizada para englobar,
de modo abrangente, todos aqueles que mantém vínculos de trabalho profissional com as entidades go-
vernamentais, integrados em cargos ou empregos da União, Estados, Distrito Federal, Municípios, respec-
tivas autarquias e fundações de Direito Público. Em resumo, são os que entretêm com o Estado e com as
pessoas de Direito Público da Administração Indireta relação de trabalho de natureza profissional e caráter
não eventual sob vínculo de dependência. (MELLO, 2003, p. 230-231).

1.1.1.3 Empregados públicos

O termo empregados públicos é uma analogia à expressão usada para designar o vínculo de trabalho no
setor privado, onde vige a Consolidação das Leis do Trabalho CLT, (empregado – empregador), sendo que
o Poder Público passa a ser o empregador e o agente público, o empregado. (MEDAUAR, 2003, p. 286).

Em sua conceituação, Mello (2003, p. 235) discorreu sobre empregos públicos para se referir aos empre-
gados públicos:

Empregos públicos são núcleos de encargos de trabalho permanentes a serem preenchidos por agentes
contratados para desempenhá-los, sob relação trabalhista. Quando se trate de empregos permanentes na
Administração direta ou em autarquia, só podem ser criados por lei, como resulta do art. 61, § 1º, II, "a",
da Constituição.

Sujeitam-se a uma disciplina jurídica que, embora sofra inevitáveis influências advindas da natureza go-
vernamental da contratante, basicamente, é a que se aplica aos contratos trabalhistas em geral; portan-
to, a prevista na Consolidação das Leis do Trabalho. (Com grifo no original).

Ainda, segundo Mello (2003, p. 231-232) o empregado público é um servidor público empregado da Ad-
ministração Direta, das autarquias e fundações de Direito Público da União, dos Estados, do Distrito Fede-
ral e dos Municípios, assim como do Poder Judiciário e na esfera administrativa do Legislativo, que se en-
contre sob vínculo empregatício por alguma das seguintes razões:

[...] b.1) haverem sido admitidos sob vínculo de emprego para funções materiais subalternas (quais as de
artífice, servente, motorista, jardineiro, mecanógrafo etc.), o que, como ao diante se demons-

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tra, é constitucionalmente possível, embora não desejável. Note-se, de passagem, que o fato de o cha-
mado "Emendão" (Emenda Constitucional 19, de 4.6.98) haver suprimido a referência, dantes existente, à
obrigatoriedade de "regime jurídico único" para o pessoal da Administração direta, autarquias e fundações
públicas de modo algum significa, como adiante se esclarecerá (ns. 19-22), que conferiu ampla liberdade
para que possam elas adotar livremente regime trabalhista para seus servidores.

[...]

b.2) contratados, nos termos do art. 37, IX, da Constituição sob vínculo trabalhista, para atender a ne-
cessidade temporária de excepcional interesse público;

b.3) remanescentes do regime anterior, no qual se admitia (ainda que muitas vezes inconstitucionalmen-
te) amplamente o regime de emprego. (Com grifo no original).

Para Meirelles (2004, p. 393), empregados públicos "são todos os titulares de emprego público (não de
cargo público) da Administração Direta e Indireta, sujeitos ao regime jurídico da CLT, daí serem chamados
também de celetistas". Não sendo ocupantes de cargos públicos, não podem adquirir a estabilidade pre-
vista na Constituição, tampouco serão submetidos a regime de previdência peculiar, tal qual os titulares
de cargo em comissão e os agentes políticos, devendo obrigatoriamente serem enquadrados no regime
geral da previdência social.

Para Di Pietro (2004, p. 434) são considerados empregados públicos:

[...] os contratados sob regime da legislação trabalhista, que é aplicável a partir das alterações decorren-
tes da Constituição Federal (EC n. 19), e portanto são ocupantes de emprego público. Desta forma, não
podem estados e Municípios derrogar outras normas da legislação trabalhista, já que não têm competên-
cia para legislar sobre Direito do Trabalho, que é competência privativa da União (art. 22, I, da Constitui-
ção). Muito embora estejam sujeitos à CLT, sujeitam-se a todas as normas constitucionais referentes a
requisitos para a investidura, acumulação de cargos, vencimentos, entre outras previstas no Capítulo VII,
do Título III, da Constituição. (Com grifo no original).

Para Mukai (1999, p. 153) os empregados públicos são uma espécie de agentes administrativos que estão
subordinados ao regime jurídico da legislação trabalhista. Que desde a EC n. 19/98, podem figurar tanto
na Administração direta, naquelas funções não sujeitas ao regime estatutário, como na Administração
indireta (fundações, autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista e outras entidades
paraestatais). Segundo ele, aos empregados públicos contratados sob o regime celetista, destinam-se
"aquelas funções materiais de apoio às atividades funcionais próprias do estado que apenas exigem o co-
nhecimento e a habilitação profissionais pertinentes."

1.1.1.4 Empregados temporários

Os empregados temporários ou servidores temporários como querem alguns, são aqueles contratados
para exercerem funções temporárias, mediante regime jurídico especial a ser disciplinado em lei de cada
unidade da federação. (DI PIETRO, 2004, p. 434).

Para Meirelles (2004, p. 393), que os vê como contratados por tempo determinado, são "os servidores
públicos que estão submetidos ao regime jurídico administrativo especial da lei prevista no art. 37, IX, da
Carta Magna, bem como ao regime geral da previdência social". Saliente-se que este tipo de contratação
somente poderá ser feita por tempo determinado e com finalidade de atender a necessidade temporária
de excepcional interesse público. Aí excluídos os cargos típicos de carreira. Entretanto, por ser este caso
considerado especial, face ao caráter emergencial da necessidade imediata de contratação, dispensa-se a
realização de concurso público.

No pensamento de José Afonso da Silva (2000, p. 665) esta é uma forma de prestação de serviço público
diferente do exercício de cargo, de emprego e de função. O contratado é, assim, um "prestacionista" de
serviços temporários.

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1.2 Vínculos jurídicos dos servidores públicos

O regime jurídico é, em se tratando se servidores, o conjunto de normas referentes aos seus deveres,
direitos e demais aspectos da sua vida funcional. (MEDAUAR, 2003, p. 294).

A Constituição de 1988 estabeleceu que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, no âmbito
de sua competência, deveriam instituir o regime jurídico único para os servidores da Administração Dire-
ta, das autarquias e das fundações públicas. (GASPARINI, 2003, p. 184).

Esta imposição constitucional perdurou desde a promulgação da Constituição de 1988 até a entrada em
vigor da EC n. 19/98, que alterou totalmente o texto original do art. 39, da Constituição da República.

Na lição de Di Pietro (2004, p. 435) sobre o atual regime dos servidores públicos, o pessoal celetista será
gerido pela CLT, no que a lei não dispuser em contrário. Pelo estabelecido na Lei n. 9.962/00, (art. 4º,
assim como disciplinado no art. 61, § 1º, II, a, da Constituição), a criação de empregos públicos somente
poderá ser feita através de lei, sendo vedada a utilização de medidas provisórias para alcançar esse fim.

Também fica vedado, segundo Di Pietro (2004, p. 435):

[...] a aplicação do regime celetista para os ocupantes de cargo em comissão, para os servidores regidos
pelo Estatuto dos Servidores Públicos Civis da União – Lei n. 8.112/90, bem como a criação de empregos
não criados por leis específicas; repete a exigência constitucional (art. 37, II) de concurso público de pro-
vas ou de provas e títulos, conforme a natureza e a complexidade do emprego; cria certo grau de estabi-
lidade para os servidores celetistas contratados por prazo indeterminado, ao estabelecer que a rescisão
unilateral só poderá ocorrer nas seguintes hipóteses: I- prática de falta grave, dentre as enumeradas no
art. 482, da CLT; II – acumulação ilegal de cargos, empregos e funções públicas; III – necessidade de
redução de quadros de pessoal, por excesso de despesa, nos termos da lei complementar a que se refere
o art. 169 da Constituição; IV – insuficiência de desempenho, apurada em procedimento no qual se asse-
gurem pelo menos um recurso hierárquico dotado de efeito suspensivo, que será apreciado em 30 dias, e
o prévio conhecimento dos padrões mínimos exigidos para continuidade da relação de emprego, obrigato-
riamente estabelecidos de acordo com as peculiaridades das atividades exercidas.

Ressalte-se que há servidores que são titulares de cargos, de funções e servidores ocupantes de empre-
gos. Sendo que cargos públicos são "as mais simples e indivisíveis unidades de competência a serem ex-
pressadas por um agente, previstas em número certo, com denominação própria, retribuídas por pessoas
jurídicas de Direito Público e criadas por lei"; funções públicas são "plexos unitários de atribuições, criados
por lei, correspondentes a encargos de direção, chefia ou assessoramento, a serem exercidas por titular
de cargo efetivo, da confiança da autoridade que as preenche", e por último, empregos públicos são "nú-
cleos de encargos de trabalho permanentes a serem preenchidos por agentes contratados para desempe-
nhá-los, sob relação trabalhista". (MELLO, 2003, p. 233-235). (Com grifo no original).

Para Meirelles (2004, p. 75), cargos são "apenas os lugares criados no órgão para serem providos por
agentes que exercerão as suas funções na forma legal". Para ele, o cargo é lotado no órgão e o agente é
investido no cargo. Logo se vê que o cargo integra o órgão, ao passo que o agente, como ser humano,
somente é titular do cargo para servir ao órgão. Por fim Meirelles arremata: "órgão, função e cargo são
criações abstratas da lei; agente é a pessoa humana, real, que infunde vida, vontade e ação a essas abs-
trações legais". Agora, funções, ainda segundo Meirelles, são os encargos atribuídos aos órgãos, cargos e
agentes. (Com grifo no original).

Portanto é relevante que se diga que nas pessoas jurídicas de Direito Público (União, Estados, Municípios,
Distrito Federal e em suas Administrações indiretas, as respectivas autarquias e fundações de Direito Pú-
blico) tanto há servidores titulares de cargos quanto servidores ocupantes de empregos; bem como nas
pessoas de Direito Privado da Administração Indireta, isto é, nas empresas públicas e sociedades de eco-
nomia mista e fundações governamentais de Direito Privado, só há empregos. (MELLO, 2003, p. 235).

1.2.1 Consolidação das Leis do Trabalho – CLT

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É o regime próprio da legislação trabalhista que é aplicável aos empregados públicos. Trata-se de regime
de caráter contratual, fundado na celebração de um contrato de trabalho, no qual os direitos, deveres e
obrigações encontram-se positivados na CLT e nos instrumentos coletivos disciplinados pela legislação
trabalhista (acordos, convenções, sentenças coletivas normativas lavradas em dissídios coletivos). É o
regime de todos os que trabalham nas empresas públicas e nas empresas de economia mista, de acordo
com o que determina o art. 173, § 1º, da Constituição. Este regime, que é obrigatório para as agências
econômicas do estado, pode também ser estendido para a Administração direta, às autarquias e funda-
ções públicas. (PESSOA, 2000, p. 341).

É a forma de contratação dos ocupantes de empregos públicos, cujo regime será o celetista, ou seja, pro-
veniente da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT. (MUJALLI, 1999, p. 209).

A expressão empregado público é uma analogia que se faz com o setor privado, onde impera a relação
empregado-empregador, uma vez que em ambos os casos os seus direitos e deveres são norteados pela
Consolidação das Leis do trabalho. Assim sendo, empregado público é o posto de quem é contratado pela
CLT. Também nos Estados e Municípios que não adotaram o regime estatutário, há servidores contratados
pela CLT na Administração direta, nas autarquias e fundações públicas. (MEDAUAR, 2003, p. 295).

1.2.2 Estatuto

Os servidores públicos titulares de cargos públicos submetem-se a um regime específico concebido para
regê-los: estatutário. Portanto de índole não-contratual, mas de natureza institucional. (MELLO, 2003, p.
235).

Este regime, doravante chamado de estatutário, é aquele em que os direitos, deveres, obrigações e de-
mais aspectos da vida funcional do servidor estão cristalizados em uma lei básica, chamada de Estatuto.
(PESSOA, 2000, p. 340).

Para Diógenes Gasparini (2003, p. 184), os servidores estatutários, como espécie de servidores públicos,
guardam as mesmas características que qualificam o gênero e as que os distinguem dos servidores go-
vernamentais: a natureza pública das entidades a que se vinculam; ou seja, da Administração Pública
direta, das autarquias e das fundações públicas. Podem ser definidos como "os que se ligam sob um re-
gime de dependência à Administração Pública direta, às autarquias e às fundações públicas, mediante um
vínculo de natureza institucional para lhes prestar trabalho de natureza profissional e perene". (Com grifo
no original).

A diferença do regime celetista, cujo caráter é contratual, é que no regime estatutário predomina a unila-
teralidade da vontade, haja vista que o estatuto pode ser modificado a qualquer tempo, independente-
mente da concordância dos servidores. (PESSOA, 2000, p. 341).

Nesse mesmo sentido, discorre Medauar (2003, p. 295):

O regime estatutário é aquele em que os direitos, deveres e demais aspectos da vida funcional do servi-
dor estão contidos basicamente numa lei denominada Estatuto; o Estatuto pode ser alterado no decorrer
da vida funcional do servidor, independentemente da sua anuência, ressalvados os direitos adquiridos; o
servidor não tem direito a que seja mantido o Estatuto que existia no momento de seu ingresso nos qua-
dros da Administração.

A Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de 1937, em seu art. 156, já dispunha que o Poder Legislati-
vo haveria de organizar um estatuto para os servidores públicos:

Art. 156 - O Poder Legislativo organizará o Estatuto dos Funcionários Públicos, obedecendo aos seguintes
preceitos desde já em vigor:

[...]

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O primeiro estatuto dos, assim chamados, Funcionários Públicos Civis da União foi instituído pelo Decreto-
Lei n. 1.713, de 28 de outubro de 1939, assinado pelo presidente Getúlio Vargas. (ROSA, 2004, p.1).

Este primeiro estatuto dedicou o dia 28 de outubro ao Funcionário Público:

Art. 266. O dia 28 de outubro será consagrado ao "Funcionário público". (Com grifo no original).

O referido estatuto era o cumprimento do que a Constituição vigente havia prometido cerca de dois anos
antes.

Um segundo estatuto foi promulgado pela Lei n. 1.711, de 28 de outubro de 1952, na mesma data do
anterior. (ROSA, 2004, p.1).

O segundo estatuto manteve a data comemorativa ao funcionário público:

Art. 240. O dia 28 de outubro será consagrado ao Servidor Público.

Note-se que neste artigo o legislador usou a expressão "Servidor Público" e em Estatuto dedicado aos
"Funcionários Públicos".

O atual e terceiro Estatuto dos Servidores Públicos Civis da União, Lei n. 8.112, foi promulgado em 11 de
dezembro de 1990, pelo presidente Fernando Collor de Mello.

Novamente, o estatuto manteve a data que prestigia o servidor público:

Art. 236. O Dia do Servidor Público será comemorado a vinte e oito de outubro.

Este estatuto já sofreu diversas modificações desde a sua entrada em vigor, sobretudo pela Lei n. 9.527,
de 10 de dezembro de 1997, que alterou significativamente o texto original.

Para Mello (2003, p. 238) há várias razões para que o regime jurídico normal dos servidores das pessoas
de Direito Público tenha de ser o Estatutário, dentre elas:

A Constituição, nos arts. 39 a 41, ao tratar dos "Servidores Públicos", empenhou-se em traçar, nos nume-
rosos parágrafos e incisos que os compõe, os caracteres básicos de um regime específico, distinto dos
trabalhadores e tratado com amplitude. Certamente não o fez para permitir, ao depois, que tal regime
fosse desprezado e dotado o regime laboral comum (ainda que sujeito a certas refrações). Seria um con-
tra-senso a abertura de toda uma "Seção", com minuciosa disciplina atinente aos ocupantes de cargo pú-
blico, se não fora para este o regime de pessoal eleito com prioridade sobre qualquer outro.

Além disso, o § 3º do art. 39 determinou que os servidores ocupantes de cargos públicos aplicar-se-iam
determinados dispositivos do art. 7º, ou seja: concernentes à proteção dos trabalhadores em geral, urba-
nos e rurais, do País. Daí também se depreende a prevalência do regime de cargo, tido como o normal, o
corrente. Com efeito, se o regime prevalente devesse ser o trabalhista, seria despicienda a aludida remis-
são e não estaria cifrada a alguns incisos do art. 7º, porque todos eles se aplicariam normalmente.

Finalmente, o regime normal dos servidores públicos teria mesmo de ser o estatutário, pois este (ao con-
trário do regime trabalhista) é o concebido para atender a peculiaridades de um vínculo no qual não estão
em causa tão-só interesses empregatícios, mas onde avultam interesses públicos básicos, visto que os
servidores públicos são os próprios instrumentos da atuação do Estado.

E para finalizar, pode-se dizer que o regime estatutário é reservado para funções públicas cujo adequado
desempenho exija que o agente público seja titular de poderes e prerrogativas de autoridade próprias do
Estado e que tenha, ainda, a independência e a segurança proporcionadas pela garantia de estabilidade
funcional e remuneração condizente com estas responsabilidades. (MUKAI, 1999, p.153).

1.2.3 Lei específica

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A Constituição da República de 1988, já estabelece no seu art. 37, IX, a possibilidade de se contratar sob
regime especial, servidores por tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional
interesse público, na conformidade da lei. Desta forma, esta contratação poderá, inclusive, dispensar a
realização de concurso público, em virtude dessa necessidade especial e incomum como por exemplo:
casos de calamidade pública, epidemias, vacinação em massa etc. Para tanto é necessário que uma lei,
em cada nível, disponha a este respeito. Note-se que esta contratação deverá ser temporária, por prazo
determinado (curto) e segundo fixar a lei, o contrato poderá ser regido pela CLT ou até por preceitos do
próprio Estatuto correspondente. (MEDAUAR, 2003, p. 296).

Muito embora haja nesses casos uma contratação em caráter temporário, não significa que ocorra investi-
dura em cargo ou emprego público, pois para tal somente pode se dar, em se tratando de cargos efetivos,
através de concurso público. (PESSOA, 2000, p. 353).

A matéria acerca desse tipo de contratação encontra-se hoje disciplinada na Lei n. 8.745/93.

1.3 A Administração Pública

Admitindo-se que o direito administrativo aborda, fundamentalmente, a atuação da Administração Públi-


ca, necessário se faz o conhecimento de algumas noções básicas sobre a mesma, para propiciar o enten-
dimento adequado da estrutura e funcionamento da Administração brasileira. (MEDAUAR, 2003, p. 47).

Para Márcio Fernando Elias Rosa (2005, p. 26) a Administração Pública pode ser definida como:

A Administração Pública pode ser conceituada, em sentido amplo, como o conjunto de entidades e de ór-
gãos incumbidos de realizar a atividade administrativa visando a satisfação das necessidades coletivas e
segundo os fins desejados pelo Estado. Sob o enfoque material, o conceito de administração leva em con-
ta a natureza da atividade exercida (função administrativa), e, sob o subjetivo ou orgânico, as pessoas
físicas ou jurídicas incumbidas da realização daquela função.

Segundo José Cretella Junior (1979, p. 17), a Administração Pública é não só Governo, Poder Executivo, a
complexa máquina administrativa, o pessoal que a movimenta (ótica formal), como também a atividade
desenvolvida por esse aparelhamento (ótica material), que possibilita ao Estado o preenchimento de seus
fins. Em suma, "é atividade que o Estado desenvolve por meio seus órgãos, para a consecução do interes-
se público (ótica formal e material)."

A expressão Administração Pública tanto pode designar pessoas e órgãos governamentais como a ativida-
de administrativa em si mesma. Desta forma, pode-se falar de administração pública referindo-se aos
instrumentos de governo como à gestão mesma dos interesses da coletividade. (MEIRELLES, 2004, p.
84).

Consoante José Afonso da Silva (2000, p. 639) Administração Pública é:

O conjunto de meios institucionais, materiais, financeiros e humanos preordenados à execução das deci-
sões políticas. Essa é uma noção simples de Administração Pública que destaca, em primeiro lugar, que é
subordinada ao Poder político, em segundo lugar, que é meio e, portanto, algo de que se serve para atin-
gir fins definidos e, em terceiro lugar, denota os seus dois aspectos: um conjunto de órgãos a serviço do
Poder político e as operações, as atividades administrativas.

Para Alexandre de Moraes (2004, p. 313), a locução Administração Pública pode ser definida objetivamen-
te como a atividade concreta e imediata que o Estado desenvolve para "a consecução dos interesses cole-
tivos e subjetivamente como o conjunto de órgãos e de pessoas jurídicas aos quais a lei atribui o exercício
da função administrativa do Estado."

No dizer de José Tavares Tavares apud Moraes (2004, p. 313), a Administração Pública é "o conjunto das
pessoas colectivas públicas, seus órgãos e serviços que desenvolvem a actividade ou função administrati-
va."(em português luso).

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A maioria dos autores considera como sendo Administração Pública toda atividade que não estiver com-
preendida dentro da legislação e da justiça e por isso quando se fala em Administração deve-se compre-
ender todos os órgãos que prestam os serviços do Estado, excluindo-se apenas o Legislativo e o Judiciá-
rio. (MUKAI, 1999, p. 19).

Capítulo 2

O DEVER DO ESTADO DE PROTEGER A FAMÍLIA

2.1.O Estado

A concepção moderna para definir o que seja Estado é toda finalística, no sentido de que o exercício da
autoridade do Poder Público é direcionado precipuamente a proporcionar felicidade ao povo, à sociedade,
enfim, à Nação, esta entendida de acordo com os seus valores materiais e espirituais que formam a cons-
ciência nacional estratificada por afinidades de tradição, idioma, religião e costumes de um povo. (MAGA-
LHÃES 2, 1996, p. 9).

Para José Afonso da Silva (2000, p. 101), Estado pode ser definido como:

[...] uma ordenação que tem por fim específico e essencial a regulamentação global das relações sociais
entre os membros de uma dada população sobre um dado território, na qual a palavra ordenação expres-
sa a idéia de poder soberano institucionalizado. (Com grifo no original).

Para Hely Lopes Meirelles (2004, p. 60), o conceito de Estado depende do ângulo que se deseja conside-
rar:

Do ponto de vista socilógico, é corporação territorial dotada de um poder de mando originário (Jellinek);
sob o aspecto político, é comunidade de homens, fixada sobre um território, com potestade superior de
ação, de mando e de coerção (Malberg); sob o prisma constitucional, é pessoa jurídica territorial soberana
(Biscaretti di Ruffia); na conceituação de nosso Código Civil, é pessoa jurídica de Direito Público Interno
(art. 41, I). Como ente personalizado, o Estado tanto pode atuar no campo do Direito Público como no do
Direito Privado, mantendo sempre sua única personalidade de Direito Público, pois a teoria da dupla per-
sonalidade do Estado acha-se definitivamente superada.

Consoante Manoel Gonçalves Ferreira Filho (2002, P. 47), o Estado é uma associação humana (povo),
radicado em base espacial (território), que vive sob o comando de uma autoridade (poder) não sujeita a
qualquer outra (soberana).

Para Dalmo de Abreu Dallari (1995, p. 60-61), ao se definir o Estado, costuma-se mencionar a existência
de dois elementos materiais, o território e o povo, havendo grande variedade de opiniões quanto ao ter-
ceiro elemento, que muitos denominam formal. O mais comum é a identificação desse último elemento
com o poder ou alguma de suas expressões, como autoridade, governo ou soberania.

Novamente se busca na lição de Meirelles (2004, p. 60), o conceito de Estado:

O Estado é constituído de três elementos originários e indissociáveis: Povo, Território e Governo sobera-
no. Povo é o componente humano do Estado; Território, a sua base física; Governo soberano, o elemento
condutor do Estado que detém e exerce o poder absoluto de autodeterminação e auto-organização ema-
nado do Povo. Não há, nem pode haver Estado independente sem Soberania, isto é, sem este poder abso-
luto, indivisível e incontrastável de organizar-se e de conduzir-se segundo a vontade livre de seu Povo e
de fazer cumprir as suas decisões inclusive pela força, se necessário. (Com grifo no original)

O Estado, como pode se perceber, constitui-se quatro elementos essenciais: um poder soberano, de um
povo, situado num território com certas finalidades, sendo a constituição o conjunto de normas que orga-
nizam estes elementos constitutivos do Estado: povo, território, poder e fins. (SILVA, 2000, p. 102).

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Segundo a lição de Celso Ribeiro Bastos (1986, p. 5) acerca do que é Estado, assim o definiu:

O Estado é uma realidade ideal que envolve o homem. É ideal, porque não tem realidade física; não se
pode apanhá-lo, não se pode apreendê-lo através dos sentidos. Mas podemos senti-lo, indiretamente,
através de suas manifestações no mundo físico. Podemos sentir a presença dos Estado quando, por e-
xemplo, somos coagidos a pagar tributos, somos obrigados a obedecer os imperativos jurídicos etc...

Para Kelsen (1992, p. 191) o Estado é "uma sociedade politicamente organizada porque é uma comunida-
de constituída por uma ordem coercitiva, e essa ordem coercitiva é o Direito.

Como nação politicamente organizada, o Estado é dotado de personalidade jurídica própria, sendo pessoa
jurídica de direito público interno (Código Civil Brasileiro, art. 41, I), e formado por quatro elementos bá-
sicos: povo, território, poder soberano (poder de autodeterminação e auto-organização emanados do po-
vo para ser exercido em território determinado e por ele defendido) e finalidades definidas. (ROSA 2,
2005, p. 27).

2.2 A família

A palavra família, conforme observa Ulpiano, tem vários significados para o mundo jurídico, que se depre-
endem do vocábulo, em gradações de várias matizes, segundo a situação, em que se acha o observador.
Compreende, num sentido, o complexo das pessoas, que descendem de um tronco ancestral comum, tan-
to quanto essa ascendência conserva na memória dos descendentes. (BEVILÁQUA, 2001, p. 29).

Considerando a família em um conceito amplo, como parentesco, ou seja, o conjunto de pessoas unidas
por vínculo jurídico de natureza familiar. Nesse sentido, compreende os ascendentes, descendentes e co-
laterais de uma linhagem, incluindo-se os ascendentes, descendentes e colaterais do cônjuge, que se de-
nominam parentes por afinidade ou afins. Nessa compreensão, inclui-se o cônjuge, que não é considerado
parente. Em conceito restrito, família compreende somente o núcleo formado por pais e filhos que vivem
sob o pátrio poder. Nesse particular, a Constituição Federal estendeu sua tutela inclusive para a entidade
familiar formada por apenas um dos pais e seus descendentes, a denominada família monoparental, con-
forme disposto no § 4º do art. 226: "Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada
por qualquer dos pais e seus descendentes." (VENOSA, 2003, p. 16).

Desse modo, constitui família, o grupo de pessoas integrado por um dos pais e pelos filhos ou demais
descendentes. É o que se denomina de família monoparental, de grande importância na atualidade, dada
a quantidade dessas famílias, especialmente formadas por mães e filhos. Isto se deve, em grande parte,
em virtude da freqüência como se formam uniões puramente sexuais, sem maior estabilidade, que aca-
bam por resultar de conjuntos familiares composto da mãe e dos filhos, ou mais raramente, do pai com os
filhos. É um fenômeno que se repete com as separações ou divórcios, quando um dos pais fica com a
guarda dos filhos, passando a constituir uma nova unidade familiar. (RIZZARDO, 2005, p. 12).

Portanto, o termo família não é um conceito fechado, pelo contrário, é necessário estabelecer um foco
para se diferenciar o tipo de família a que se está fazendo referência. Maria Helena Diniz (2005, p. 9),
classifica o vocábulo família em três acepções fundamentais:

a) No sentido amplíssimo o termo abrange todos os indivíduos que estiverem ligados pelo vínculo de con-
sangüinidade ou de afinidade, chegando a incluir estranhos, como no caso do art. 1.412, § 2º, do Código
Civil, em que a necessidade da família do usuário compreendem também as das pessoas de seu serviço
doméstico. A Lei n. 8.112/90, Estatuto dos Servidores Públicos Civis da União, no art. 241, considera co-
mo família do funcionário, além do cônjuge e prole, quaisquer pessoas que vivam às suas expensas e
constem de seu assentamento individual.

b) Na acepção "lata", além dos cônjuges ou companheiros, e de seus filhos, abrange os parentes da linha
reta ou colateral, bem como os afins (os parentes do outro cônjuge ou companheiro), como a concebem
os arts. 1.591 e s. do Código Civil, o Decreto-lei n. 3.204/41 e a Lei n. 883/49.

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c) Na significação restrita é a família (CRFB, art. 226, §§ 1º e 2º) o conjunto de pessoas unidas pelos la-
ços do matrimônio e da filiação, ou seja, unicamente os cônjuges e a prole (CC, arts. 1.567 e 1.716), e
entidade familiar a comunidade formada pelos pais, que vivem em união estável, ou por qualquer dos pais
e descendentes, como prescreve o art. 226, §§ 3º e 4º, da Constituição Federal, independentemente de
existir o vínculo conjugal, que a originou (JB, 166: 277 e 324). Inova assim a Constituição de 1988, ao
retirar da antiga Carta (art. 175) de que só seria núcleo familiar o constituído pelo casamento. Assim sen-
do, a Magna Carta de 1988 e a Lei n. 9.278/96, art. 1º, e o novo Código Civil, arts. 1.511, 1.513 e 1.723,
vieram a reconhecer como família a decorrente do matrimônio (art. 226, §§ 1º e 2º, da CRFB/88) e como
entidade familiar não só a oriunda de união estável como também a comunidade monoparental (CRFB/88,
art. 226, §§ 3º e 4º) formada por qualquer dos pais e seus descendentes independentemente de existên-
cia de vínculo conjugal que a tenha originado (JB, 166: 277 e 324). A família monoparental ou unilinear
desvincula-se da idéia de um casal relacionado com seus filhos, pois estes vivem apenas com um de seus
genitores, em razão da viuvez, separação judicial, divórcio, adoção unilateral, não reconhecimento de fili-
ação pelo outro genitor, "produção independente" etc. (Com grifo no original).

No mesmo sentido Eduardo Espínola (2001, p. 1) também classifica a família quanto ao seu significado:

Em acepção ampla, a palavra família compreende as pessoas unidas pelo casamento, as provenientes de
um tronco ancestral comum e as vinculadas por adoção.

Em sentido restritivo, correspondendo ao que os romanos denominavam domus, a família compreende


apenas os cônjuges e os filhos.

Algumas disposições do Código Civil, como acontece também nos vários sistemas legislativos, aplicam-se
à família, em sentido mais ou menos lato, considerando certas relações de parentesco.

Outras, porém, visam tão-somente às relações entre os cônjuges e entre estes e os filhos, isto é, aplicam-
se às duas pessoas unidas pelo casamento e aos seus descendentes. (Com grifo no original).

Do exposto, conclui-se que o direito não abarca somente a família matrimonial, pois ele protege também
as uniões constituídas fora do casamento, à sua imagem e semelhança, bem como os vínculos de filiação
estabelecidos pela adoção. E, além disso, a Lei n. 8.069/90 (Estatuto da criança e do Adolescente), no
art. 28, refere-se à família substituta, que se configurará pela guarda, tutela e adoção. (DINIZ, 2005, p.
13).

No direito moderno, família é um conjunto de pessoas ligadas pelo vínculo sangüíneo, cuja eficácia se es-
tende ora mais larga, ora mais restrita, segundo as várias legislações. Outras vezes, porém, designam-se,
por família, somente os cônjuges e a respectiva progênie. (BEVILÁQUA, 2001, p. 30).

Cícero apud Monteiro (2004, p. 1) apelidou-a de seminarium reipublicae. "Efetivamente, onde e quando a
família se mostrou forte, aí floresceu o Estado, onde e quando se revelou frágil, aí começou a decadência
geral".

Muito embora, há quem pense de modo diferente, como é o caso de Arnaldo Rizzardo (2005, p. 1) que
assim se manifesta: "Não mais predomina, hoje, aquele entendimento muito em voga até algumas déca-
das atrás, assentado na necessidade do fortalecimento da família para tornar mais forte o Estado, embora
a totalidade das Constituições consagre o alto propósito da irrestrita proteção à família".

No entanto é dele o conceito "trata-se a família de um núcleo social primário".

Pontes de Miranda (apud RIZZARDO, 2005, p. 11) aponta vários significados de família:

Ainda modernamente, há multiplicidade de conceitos da expressão "família", Ora significa o conjunto das
pessoas que descendem de tronco ancestral comum, tanto quanto essa ascendência se conserva na me-
mória dos descendentes; ou nos arquivos, ou na memória dos estranhos, ora o conjunto de pessoas liga-
das a alguém, ou a um casal, pelos laços de consangüinidade ou de parentesco civil; ora o conjunto das

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mesmas pessoas, mais os afins apontados por lei; ora o marido e a mulher, descendentes e adotados;
ora, finalmente, marido, mulher e parentes sucessíveis de um e de outra.

A família moderna, formada por pais e filhos, não se alterou muito com a vida urbana. A família atual,
entretanto, difere das formas antigas no que concerne as suas finalidades, composição de papel de pais e
mães. (VENOSA, 2003, p. 20).

Atualmente, a escola e outras instituições de educação, esportes e recreação preenchem atividades dos
filhos que anteriormente eram da responsabilidade dos pais. Os ofícios não são mais transmitidos de pai
para filho dentro dos lares e das corporações de ofício. Tampouco a família que vive no meio rural conse-
gue manter seus filhos na terra ao atingirem a maioridade. A educação cabe ao Estado ou a instituições
privadas por ele supervisionadas. A religião não mais é ministrada em casa e a multiplicidade de seitas e
de credos cristãos, desvinculados da fé originais, por vezes oportunistas, não mais permite uma definição
homogênea. Também as funções de assistência a crianças, adolescentes, necessitados e idosos têm sido
assumidas pelo Estado. (VENOSA, 2003, p. 20).

Clóvis Beviláqua (2001, p. 30) elenca dois fatores como sendo primordiais para a constituição da família:
em primeiro lugar, o instinto genesíaco, o amor, que aproxima os dois sexos; em segundo, os cuidados
exigidos para a conservação da prole, que tornam mais duradouras a associação do homem e da mulher,
e que determinam o surto de emoções novas, a filoprogênie e o amor filial, entre procriadores e procria-
dos, emoções essas que tendem todas a consolidar a associação familial.

Deve-se, portanto, vislumbrar na família a possibilidade de convivência, marcada pelo afeto e pelo amor,
fundada não apenas no casamento, mas também no companheirismo, na adoção e na monoparentalida-
de. É a família o instrumento para a realização integral do ser humano. (DINIZ, 2005, p. 13).

2.3 O casamento

Foi Modestino, jurista do período clássico, apud Sílvio de Salvo Venosa (2003, p. 39), quem conceituou o
casamento como sendo "nuptiae sunt coniunctio maris et feminae, comnsortium omnis vitae, divini et
humani iuris communicatio" (as núpcias são a conjunção do homem e da mulher em consórcio para toda a
vida, pelo direito divino e pelo direito humano). Esta definição reforça o caráter religioso e a perenidade
do casamento.

Ruggiero apud Washington de Barros Monteiro (2004, p. 22), analisando a definição de Modestino, diz que
"a conjunção indica o elemento físico da relação, o consórcio para toda a vida, o elemento moral, e a co-
munhão de direito divino e do direito humano, o traço mais nobre e mais elevado da sociedade conjugal".

Para Monteiro (2004, p. 22), muito embora seja vetusta, a definição romana ainda é a que melhor expri-
me a instituição do casamento, pois segundo ele, é juridicamente exata.

Para Rui Ribeiro de Magalhães (2003, p. 21), a criação da família ainda é o principal efeito do casamento.

Para Silvio Rodrigues (2002, p. 19), o casamento é um contrato, pois assim definiu o casamento: "contra-
to de direito de família que tem por fim promover a união do homem e da mulher, de conformidade com a
lei, a fim de regularem suas relações sexuais, cuidarem da prole comum e se prestarem mútua assistên-
cia".

Muito embora o conceito de Silvio Rodrigues se reporte a contratualidade do casamento, ele mesmo faz
questão de registrar que a Assembléia Constituinte que se instalou logo após a eclosão da Revolução
Francesa de 1789, proclamou: "la loi ne considere lê marriage que comme um contrat civil" (a lei não
considera o casamento como um contrato civil). (RODRIGUES, 2002, p. 19).

Clóvis Beviláqua (2001, p. 46), assim definiu a instituição do casamento:

O casamento é um contrato bilateral e solene, pelo qual um homem e uma mulher se unem indissoluvel-

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mente, legalizando por ele suas relações sexuais, estabelecendo a mais estreita comunhão de vida e de
interesses, e comprometendo-se a criar e educar a prole, que de ambos nascer.

Todavia, a indissolubilidade do casamento, citada por Beviláqua, não vige mais no Brasil desde o advento
da Lei n. 6.515, de 26 de dezembro de 1977 (Lei do Divórcio).

Washington de Barros Monteiro (2004, p. 21), acrescentou algumas definições irônicas ao casamento cu-
nhadas por autores da língua inglesa, tais como a de Aldous Huxley que vislumbra no ato matrimonial
"um pacto inoportuno e obsceno", e Lockeridge que define como "a kind of funeral in which we bury a
part of ourselves" (um tipo de funeral no qual enterramos uma parte de nós mesmos).

Ironias à parte, o próprio Monteiro (2004, p. 22) apresentou o seu conceito para o casamento: "a união
permanente entre o homem e a mulher, de acordo com a lei, a fim de se reproduzirem, de se ajudarem
mutuamente e de criarem os seus filhos".

Todavia, este conceito de Monteiro implica em se reconhecer a reprodução como a finalidade precípua do
casamento, o que, hodiernamente, não se coaduna com a realidade, em razão da opção, não tão inco-
mum, de casais que preferem não ter filhos. Nesse entendimento, a ajuda mútua, deve ser entendida
como a finalidade e o efeito jurídico do casamento. (MONTEIRO, 2004, p. 22).

Outrora se considerava que o casamento constituía a parte central do direito de família, inclusive várias
Constituições brasileiras do passado realçavam a sua importância. Assim, por exemplo, a Constituição de
1934 (e as de 1946, 1967 e 1969 o repetiram) já mencionava que a família, constituída pelo casamento
de vínculo indissolúvel, estava sob a proteção do Estado. (RODRIGUES, 2002, p. 7).

A origem primordial do casamento está na atração sexual, ou no apetite sexual inato da pessoa. É o ca-
samento um contrato solene em que duas pessoas de sexo diferente se unem para construir uma família
e viver em plena comunhão de vida, prometendo no ato de sua celebração, mútua fidelidade, assistência
recíproca, e a criação e educação dos filhos. (RIZZARDO, 2005, p. 17).

Muito se tem falado sobre a natureza do casamento, se é um contrato ou se é uma instituição. Considera-
se uma instituição porque está elevado à categoria de um valor, ou de uma ordem constituída pelo Esta-
do. Diz-se que é um ente que engloba uma organização e uma série de elementos que transcendem a
simplicidade de um contrato. (RIZZARDO, 2005, p. 21).

Carvalho Santos apud Arnaldo Rizzardo (2005, p. 21), diz que o casamento é um contrato especial:

[...] É um contrato todo especial, que muitos de distinguem dos demais contratos meramente patrimoni-
ais. Porque, enquanto estes só giram em torno do interesse econômico, o casamento se prende a eleva-
dos interesses morais e pessoais e de tal forma que, uma vez ultimado o contrato, produz ele efeitos des-
de logo, que não mais podem desaparecer, substituindo sempre e sempre como que para mais lhe realçar
o valor.

Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka (1990, p. 10), ao discorrer sobre a natureza do casamento, se
contratual ou institucional, aderiu a chamada Teoria Eclética "que congraça as duas idéias anteriormente
vistas, considerando o casamento como contrato em sua formação, por se originar do acordo de vontades
e instituição em sua duração, pela interferência do poder Público e pelo caráter inalterável de seus efei-
tos."

Ainda segundo Hironaka, (1990, p. 10), no que tange a teoria eclética:

Esta teoria distingue o casamento-fonte do casamento-estado, sendo que o primeiro é de natureza con-
tratual e, o segundo, natureza institucional, uma vez que as regras que governam e orientam os esposos
durante a união conjugal são fixadas imperativamente pelo Poder Público, não podendo o casal modificá-
las.

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Relegar o matrimônio a simples contrato, mesmo que se admita filosoficamente tal visão materialista,
significa ignorar todas as relações sociais, espirituais, físicas (a comunhão de vida, a que se referem os
civilistas) que decorrem do relacionamento entre duas pessoas, não só entre dois patrimônios. O casa-
mento é um instituto não somente jurídico, mas também ético, social, político, uma união não só de pa-
trimônio e de corpos, mas também de espíritos. (RIZZARDO, 2005, p. 22).

O casamento, por ser um ato solene e requerer a presença de um representante do Estado, pode ser
comprovado documentalmente. A comprovação direta do casamento celebrado no Brasil se dá pela certi-
dão de registro feita ao tempo de sua celebração. (DINIZ, 2005, p. 120).

Consoante Arnoldo Wald (2004, p. 67): "a lei que rege o casamento estabelece os meios pelos quais pode
ser provado. O casamento celebrado no Brasil prova-se pela certidão do registro Civil."

Segundo a lição de Hélio Borghi (2001, p. 123):

Para certos efeitos civis, há necessidade de se provar a realização de um determinado casamento. Atual-
mente, tal prova é mais fácil de ser obtida do que na vigência do Direito antigo, pois com as disposições
da Lei do Casamento Civil (Decreto n. 181, de 1890), passaram os Cartórios de Registro Civil a expedir
certidões comprobatórias, extraídas do assento do casamento [...]. Quando vigia somente o casamento
religioso no Brasil, antes do Decreto n. 181, a prova do mesmo era feita mediante os registros paroquiais,
já sem aplicação, devido a preponderância da legislação civil nesse terreno.

Neste sentido, também é o ensinamento de Rui Ribeiro de Magalhães (2003, p. 77): "Diz o art. 1543 do
Código Civil que o casamento celebrado no Brasil prova-se pela certidão do registro feito ao tempo de sua
celebração. A questão não oferece maiores indagações, pois a certidão goza de fé pública e presunção
jures et de jure."

Para Pontes de Miranda (2001, p. 294) o casamento civil realizado no Brasil só poderá ser provado por
outros meios de prova, que não o devido assento no Registro Civil, caso seja justificada a sua falta ou a
sua perda.

2.4 O dever de proteção do Estado

A família está reconhecida como base da sociedade e tem assegurada a especial proteção do Estado, me-
diante assistência aos seus integrantes e pela criação de mecanismos que visem coibir a violência no âm-
bito de suas relações (CRFB/88, art. 226, § 8º). (SILVA, 2000, p. 823).

Em virtude se ser a célula da sociedade, é da família que nasce o Estado. (DINIZ, 2005, p. 14).

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 garantiu ampla proteção à família, definindo três
espécies de entidades familiares, entre elas a constituída pelo casamento civil ou religioso. (MORAES,
2004, p. 705-706).

Para a nossa civilização, a família constitui a base de toda a estrutura da sociedade. Nela se assentam,
não apenas as colunas econômicas, como também as raízes morais da organização social. (RODRIGUES,
2002, p. 5).

Na Exposição de Motivos do Código Penal italiano de 1930, ressaltou o ministro da Justiça da Itália, Roc-
co, apud Orlando Soares (2004, p. 91), já naquela época:

O Estado deve dirigir, constantemente, e com o máximo interesse, a sua atenção sobre a instituição ético-
jurídica da família, centro da irradiação de toda a vida civil. No seio da comunidade familiar, os pais, por
suas palavras, e mais ainda pelo seu exemplo, modelam a alma do filho, que será o cidadão de amanhã.
Segundo o ambiente moral, sadio ou viciado, que encontrar no lar paterno, verá ele crescer em si a planta
do homem de bem, ou, ao contrário, nele deitará raízes a triste e envenenada planta do futuro delinqüen-
te.

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Como de todo o resto, a família também atravessa mutações no decorrer da história e por esta razão o
legislador deve estar atento às necessidades de constantes alterações legislativas que devem ser feitas no
curso do tempo. Desta forma, não pode o Estado deixar de cumprir sua permanente função social de pro-
teção à família, como sua célula mater, sob o risco de o próprio Estado desaparecer, cedendo lugar ao
caos. Por esta razão que a intervenção do Estado na família é fundamental, embora deva preservar os
seus direitos básicos de autonomia. A intervenção deve ser sempre protetora. (VENOSA, 2003, P. 24).

Washington de Barros Monteiro (2004, p. 1), referindo-se a encíclica Casti Connubii, expedida pelo Papa
Pio XI (de 30 de dezembro de 1930), comentou:

Ao afirmar que a salvação do Estado e a prosperidade da vida temporal dos cidadãos não podem perma-
necer em segurança onde quer que vacile a base sobre a qual se apóiam e de onde procede a sociedade,
isto é, a família.

Na afirmação de Ruggiero e Maroi apud Eduardo Espínola (2002, p. 17): "através do interesse da família,
se descortina um outro interesse ainda superior que reclama e recebe proteção: o do próprio Estado, que
na solidez e conservação do núcleo familiar haure a sua força e o impulso para seu desenvolvimento."

No dizer de Diniz (2005, p. 28), no que se refere a intervenção protetora do Estado sobre a família:

Essa intervenção protetora do Estado é um fato universal, pois o poder público de todas as nações pre-
tende garantir a família, protegendo-a, evitando abusos, propiciando melhores condições de vida às novas
gerações, ajudando-a a exercer beneficamente seus poderes, criando órgãos sociais que a tutelam, como
os Conselhos de Família e de Tutela, o Ministério Público, o Juizado da Infância e da Juventude etc.

É possível se vislumbrar que a dignidade da pessoa humana, elevada pelo art. 1º, III, da Constituição
Federal, a fundamento da República, dá conteúdo à proteção da família atribuída ao Estado pelo art. 226
da mesma Carta: a pessoa humana, o desenvolvimento de sua personalidade, o objeto final da proteção
estatal, para a qual devem convergir todas as normas do direito positivo e em particular as que regem o
direito de família. (TEPEDINO, 2001, p. 328).

Felizmente que o Estado, na preservação de sua própria sobrevivência, tem interesse primordial em pro-
teger a família, por meio de leis que lhe assegurem o desenvolvimento estável e a intangibilidade de seus
elementos institucionais. (RODRIGUES, 2002, p. 5).

A família, no seu nicho, cada vez mais se impõe ao espírito de coletividade, como sendo a base sólida da
sociedade e inspiradora das virtudes cívicas, o mais puro esteio da organização do Estado. (ESPÍNOLA,
2002, p. 28).

Ainda segundo Monteiro (2004, p. 5):

Na evolução do direito de família, verifica-se que, além de ser havida como célula básica da sociedade,
presentes os interesses do Estado, a família passa a ser tratada como centro de preservação do ser hu-
mano, com a devida tutela à dignidade nas relações familiares.

A família, pela sua importância, em qualquer sociedade civilizada, tem assegurada a proteção do Estado,
podendo considerar-se integrado ao direito público no sentido amplo, por essa razão, em todos aqueles
litígios que a envolvem é necessária a participação do Ministério Público, o qual representa o Estado na
composição das questões que requerem uma solução jurisdicional. (RIZZARDO, 2005).

Ihering apud Diniz (2005, p. 14), já disse "com o decorrer do tempo a família, baseada no princípio do
Estado, se transforma em um Estado, baseado no princípio da família, isto é, a hierarquia e o princípio da
autoridade."

Para finalizar, é delicada e manifesta a atuação do Estado no campo do direito de família para tutelar e
resguardar, sob todas as formas de manifestações, o grupo familiar, elemento este da própria vida e base
fundamental da sociedade. (MONTEIRO, 2004, p. 6).

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CAPÍTULO 3

O CASAMENTO ENTRE SERVIDORES PÚBLICOS E O DIREITO À REMOÇÃO DE UM DOS CÔNJUGES

3.1 O interesse público versus o direito individual protegido pela Constituição

Na hierarquia dos princípios do Direito Administrativo, o princípio do interesse público está em um pata-
mar acima do interesse privado. Este conceito, por si só, já é um princípio, chamado de princípio da su-
premacia do interesse público sobre o interesse privado. Como bem ensina Celso Antônio Bandeira de
Mello (2003, p. 87):

O princípio da supremacia do interesse público sobre o interesse privado é princípio geral de Direito ine-
rente a qualquer sociedade. É a própria condição de sua existência. Assim, não se radica em dispositivo
específico algum da Constituição, ainda que inúmeros aludam ou impliquem manifestações concretas dele,
como, por exemplo, os princípios da função social da propriedade, da defesa do consumidor ou do meio
ambiente (art. 170, III, V e VI), ou tantos outros. Afinal, o princípio em causa é um pressuposto lógico do
convívio social.

Quando se pensa em interesse público, normalmente se tem a noção que este se contrapõe ao interesse
privado, ao interesse individual, ou seja, ao interesse pessoal de cada indivíduo. Por certo que se trata do
interesse do todo, isto é, do próprio conjunto social, também é correto afirmar-se que se trata da soma
dos interesses individuais, peculiar de cada pessoa. (MELLO, 2003, p. 50).

Ainda segundo Mello (2003, p. 52):

O que fica visível, como fruto dessas considerações, é que existe, de um lado, o interesse individual, par-
ticular, atinente às conveniências de cada um no que concerne aos assuntos de sua vida particular – inte-
resse, este, que é o da pessoa ou grupo de pessoas singularmente consideradas -, e que, de par com isto,
existe também o interesse igualmente pessoal destas mesmas pessoas ou grupos, mas que comparecem
enquanto partícipes de uma coletividade maior na qual estão inseridos, tal como nela estivera, os que os
precederam e nela estarão os que virão a sucedê-lo nas gerações futuras. (Com grifo no original).

O princípio da supremacia do interesse público sobre o privado proclama a superioridade do interesse da


coletividade, firmando a prevalência dele sobre o do particular, como condição, até mesmo, da sobrevi-
vência e asseguramento deste último, sendo pressuposto de uma ordem social estável. O princípio da
indisponibilidade, pela Administração, dos interesses públicos, significa que sendo interesses qualificados
como próprios da coletividade não se encontra à livre disposição de quem quer que seja, por inapropriá-
veis. (LAZZARINI, 1999, p. 24).

No dizer de Mello (2003, p. 48), todo o sistema de Direito Administrativo está construído sobre o princípio
da supremacia do interesse público sobre o interesse particular e a indisponibilidade do interesse público
pela Administração.

O princípio do interesse público, também conhecido como princípio da utilidade pública, é no dizer de Mu-
kai (1999, p. 13) a expressão-chave do conceito de Direito Administrativo: "pois dela fazem parte pelo
menos dois dos mais importantes princípios gerais caracterizadores do regime jurídico-administrativo: o
da indisponibilidade do interesse público e o da prevalência do interesse público sobre o particular".

Para Medauar (2003, p. 142) o princípio da preponderância do interesse público sobre o interesse particu-
lar apresenta-se como princípio do direito público em geral. Ainda segundo seu entendimento, o termo
interesse público está diretamente associado ao bem de toda a coletividade, uma exigência que se faz da
vida em sociedade. Diz mais:

Esse clássico princípio rege muitos institutos e normas do direito administrativo. Mas vem sendo matizado
pela idéia de que à Administração cabe realizar a ponderação dos interesses presentes numa determinada
circunstância, para que não ocorra sacrifício "a priori" de nenhum interesse; o objetivo dessa

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função está na busca de compatibilidade ou conciliação dos interesses, com a minimização de sacrifícios.
O princípio da proporcionalidade também matiza o sentido absoluto do preceito, pois implica, entre outras
decorrências, a busca da providência menos gravosa, na obtenção de um resultado. (Com grifo no origi-
nal).

Para Mukai (1999, p. 13) a primazia do interesse público é o princípio que domina toda a atuação estatal,
pois esta é a razão de ser do Estado – satisfazer o interesse público.

Para Gasparini (2003, p. 18), no embate entre o interesse público e o particular "há de prevalecer o inte-
resse público". Nem poderia se imaginar que o contrário pudesse vingar: que o interesse de um ou de um
grupo pudesse se sobrepor ao interesse de todos.

Destarte, observa-se que interesse público e interesse administrativo não são sinônimos, neste sentido é
o pensamento de Alves Júnior (2005, p. 4):

Em primeiro lugar não se deve confundir o interesse administrativo com o interesse público. Não há maior
interesse público que o bem-estar de todas as pessoas. Não há maior interesse público que a preservação
das famílias. Isso pode até não ser relevante para o administrador – ou para alguns administradores –
mas para a sociedade esse é o interesse capital. Por isso, pode até ser que não haja interesse administra-
tivo, mas dizer que não há interesse público é acreditar que só há interesse público onde houver interesse
administrativo. Essa é uma concepção que não se enquadra no paradigma de um Estado Democrático de
Direito, onde a sociedade e os indivíduos não são reféns do Estado e nem estão a serviço dele. Ao contrá-
rio, o Estado existe para servir à sociedade e aos indivíduos, sob pena de perder o seu sentido, especial-
mente em uma democracia.

No entendimento de Volnei Ivo Carlin (2005, p. 67), o princípio da supremacia do interesse público encon-
tra-se inserido no princípio da legalidade e no princípio da impessoalidade. Pois a impessoalidade está
ligada com a finalidade pública de modo que a Administração não pode atuar com o objetivo de prejudicar
ou de beneficiar determinadas pessoas, uma vez que o que deve nortear o seu comportamento é o inte-
resse público despersonalizado.

Segundo Maria Sylvia Zanella Di Pietro (2004, p. 69):

Apesar das críticas a esse critério distintivo, que realmente não é absoluto, algumas verdades permane-
cem: em primeiro lugar, as normas de direito público, embora protejam reflexamente o interesse indivi-
dual, têm o objetivo primordial de atender ao interesse público, ao bem-estar coletivo. Além disso, pode-
se dizer que o direito público somente começou a se desenvolver quando, depois de superados o primado
do Direito Civil (que durou muitos séculos) e o individualismo que tomou conta dos vários setores da ciên-
cia, inclusive a do Direito, substituiu-se a idéia do homem como fim único do direito (própria do individua-
lismo) pelo princípio que hoje serve de fundamento para todo o direito público e que vincula a Administra-
ção em todas as suas decisões: o de que os interesses públicos têm supremacia sobre os individuais.

O princípio da supremacia do interesse público ou princípio da finalidade pública, se faz presente tanto no
momento da elaboração da lei, quanto no da sua execução pela Administração Pública. Esse princípio, é o
que inspira o legislador e vincula a autoridade administrativa em sua atuação. (DI PIETRO, 2004, p. 68).

3.2 As formas de remoção dos servidores públicos à luz da Lei n. 8.112/90

Primeiramente há que se definir o que seja remoção, haja vista que comumente se confunde com a cha-
mada transferência, ambos institutos do Direito Administrativo.

A definição exata do vocábulo remoção está inserida no próprio texto legal da Lei n. 8.112/90 (art. 36,
caput): "remoção é o deslocamento do servidor, a pedido ou de ofício, no âmbito do mesmo quadro, com
ou sem mudança de sede."

Na definição de Ivan Barbosa Rigolin (1994, p. 92):

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Na remoção o servidor não sai do quadro onde estava lotado, ainda que dentro do mesmo quadro mude
de sede, ou seja, transfira-se de endereço do local de trabalho.

No dizer de Waldo Fazzio Júnior (2002, p. 141) "remoção é o deslocamento vertical dentro do mesmo
quadro de pessoal."

Desta forma, um servidor da Delegacia da Receita Federal de Lages/SC poderá ser removido, a pedido ou
de ofício, para a Delegacia da Receita Federal de Fortaleza/CE.

Já a transferência, anteriormente prevista no art. 23, da Lei. N. 8.112/90 (e revogada pela Lei n.
9.527/97), era "a passagem do servidor estável de cargo efetivo para outro de igual denominação, per-
tencente a quadro de pessoal diverso, de órgão ou instituição do mesmo Poder." Igualmente poderia se
dar a pedido ou de ofício.

Sobre este instituto, Rigolin (1994, p. 70) esclarece:

Significa o trânsito de um servidor estável, de seu cargo efetivo para outro de denominação idêntica, que
pertença a órgão ou entidade diversa afeta ao mesmo Poder. Inexiste portanto este modo de provimento
para cargo em comissão e para os cargos cujos ocupantes ainda cumpram estágio probatório. Significa
também, que um servidor do Executivo somente poderá ser transferido para outro cargo pertencente
também ao Executivo, e de denominação idêntica. Um escriturário do Ministério da Agricultura, por exem-
plo, se estável, pode ser transferido ao Ministério da Justiça, mas nunca ao Senado ou ao Superior Tribu-
nal de Justiça; em outro exemplo, o Escriturário de uma autarquia federal poderá ser transferido para
outro quadro de pessoal acaso existente dentro da mesma autarquia, vale dizer: Escriturário do INSS lo-
tado no Acre pode ser transferido para o INSS do Rio Grande do Sul.

Neste caso, na transferência, quando de sua vigência, poderia o servidor ser transferido da Delegacia da
Receita Federal de Lages/SC para a Delegacia do Trabalho de Fortaleza/CE, ou seja para quadro de pes-
soal diverso, mas em instituição do mesmo Poder (Executivo para Executivo).

Nesse sentido, Walter Brasil Mukalli (1999, p. 207) asseverou:

Não se deve confundir [remoção] com a transferência que, ao contrário da remoção é o movimento que
se faz em torno dos cargos, carreiras ou quadros. Em tais condições o deslocamento de um servidor de
uma para outra repartição que implique em movimento deixa de ser simples remoção e configura uma
transferência. Remoção é o preenchimento de cargo em lotação, enquanto que a transferência é modali-
dade de provimento de cargo público. (Sem grifo no original).

A mesma distinção é feita Rigolin (1994, p. 91):

Não se deve confundir esse instituto [remoção] com a transferência, que é a mudança de um cargo efeti-
vo para outro de denominação igual, e não o simples deslocamento do servidor. (Sem grifo no original).

A razão de haver confusão entre os dois instituto é que na iniciativa privada o instituto vigente é o da
transferência.

As formas de remoção para os servidores públicos civis da União estão previstas no art. 36, da Lei n.
8112/90:

Art. 36. Remoção é o deslocamento do servidor, a pedido ou de ofício, no âmbito do mesmo quadro, com
ou sem mudança de sede.

Parágrafo único. Para fins do disposto neste artigo, entende-se por modalidades de remoção:

I - de ofício, no interesse da Administração;

II - a pedido, a critério da Administração;

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III - a pedido, para outra localidade, independentemente do interesse da Administração:

a) para acompanhar cônjuge ou companheiro, também servidor público civil ou militar, de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, que foi deslocado no interesse da
Administração;

b) por motivo de saúde do servidor, cônjuge, companheiro ou dependente que viva às suas expensas e
conste do seu assentamento funcional, condicionada à comprovação por junta médica oficial;

c) em virtude de processo seletivo promovido, na hipótese em que o número de interessados for superior
ao número de vagas, de acordo com normas preestabelecidas pelo órgão ou entidade em que aqueles
estejam lotados.

(Sem grifo no original)

Como se percebe, a primeira forma de remoção é a "de ofício, no interesse da Administração", ou seja,
quando a remoção se der por ordem da autoridade e pelo interesse da administração.

É o que se depreende do vocábulo de ofício, conforme o significado para este termo no dicionário Aurélio
(FERREIRA, 2004, p. 1430): "De ofício. Jur. Por iniciativa e autoridade própria". Neste caso não se requer
que o servidor esteja de acordo com a iniciativa de ser removido, basta que esteja presente o interesse
administrativo, neste sentido também é a lição de Rigolin (1994, p. 91):

Tratando-se aparentemente de um inegável direito do servidor, o que causa alguma espécie é como possa
a remoção ser procedida ex offício pela Administração, pois neste caso ela estaria sobrepondo sua vonta-
de à do próprio servidor, que deve ser em todo caso o primeiro interessado no deslocamento por remo-
ção. Justifica-se talvez o direito potestativo da Administração que resolva remover servidor quando por
alguma razão ele não a requer e a Administração constata que dela o servidor necessita, às vezes de mo-
do premente. Seja como for, é malgrado a parente estranheza desse último mecanismo, a remoção é um
direito do servidor, e ao que parece também da Administração...A todo direito da administração corres-
ponde um dever do servidor, e portanto além de direito, pode converter-se para ele a remoção, assim
sendo, em um dever. (Com grifo no original).

A segunda forma prescrita na lei é a remoção "a pedido, a critério da Administração", quando o interesse
é do servidor e a remoção é por ele requerida. Caberá a Administração o critério discricionário de conce-
dê-la ou não, conforme a sua conveniência.

A terceira forma de remoção denominada "a pedido, para outra localidade, independentemente do inte-
resse da Administração", estabeleceu três situações em que o servidor poderá pedir a sua remoção sem
que haja a possibilidade da Administração indeferir-lhe a pretensão:

- para acompanhar cônjuge ou companheiro, também servidor público, que foi deslocado no interesse da
Administração;

- por motivo de saúde do servidor, cônjuge, companheiro ou seu dependente, condicionada à comprova-
ção por junta médica oficial;

- em virtude de processo seletivo.

Neste caso os papéis se invertem, agora o servidor é que usará de seu critério discricionário para requerer
ou não a sua remoção, desde que comprove a ocorrência de uma das situações elencadas.

Na primeira situação, percebe-se que o legislador preocupou-se em preservar o núcleo familiar do servi-
dor cujo cônjuge foi removido no interesse da Administração.

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Anteriormente, antes da alteração introduzida pela Lei n. 9.527/97, o texto original trazia apenas o caput,
com o mesmo teor do agora vigente, e o parágrafo único, sem incisos, e que permitia ao servidor ser des-
locado para outra localidade a fim de acompanhar o cônjuge ou companheiro, independentemente da e-
xistência de vaga, o que beneficiava de sobremaneira a união familiar, senão vejamos:

Art. 36. Remoção é o deslocamento do servidor, a pedido ou de ofício, no âmbito do mesmo quadro, com
ou sem mudança de sede.

Parágrafo único. Dar-se-á remoção, a pedido, para outra localidade, independentemente de vaga, para
acompanhar cônjuge ou companheiro, ou por motivo de saúde do servidor, cônjuge, companheiro ou de-
pendente, condicionada à comprovação por junta médica. (Sem grifo no original).

Com a alteração do texto legal foi acrescentada a exigência de que para se conceder a remoção a pedido,
para outra localidade, independentemente do interesse da Administração, para o acompanhamento de
cônjuge ou companheiro, que este tivesse sido deslocado no interesse da Administração, ou seja, a con-
cessão da remoção a pedido, ainda que independente do interesse da Administração está agora condicio-
nada à existência de uma remoção de ofício para o outro cônjuge ou companheiro.

Para Dênerson Dias Rosa (2004, p., 3), as hipóteses de remoção "a pedido, para outra localidade, inde-
pendentemente do interesse da Administração", carrega consigo a marca do interesse público:

Importante ressaltar que o que atualmente se denomina de "remoção a pedido, independentemente do


interesse da Administração", dá-se na verdade no interesse público, mas sem que a Administração possa
manifestar eventual discordância. O objetivo da norma, ao utilizar a terminologia "independentemente do
interesse da Administração", foi simplesmente definir que nesta situação o interesse público já estaria
previamente patente e presente, e que não caberia ao Administrador público realizar qualquer avaliação
objetiva ou subjetiva quanto ao que considerasse como de interesse ou conveniência da Administração
Pública.

Este critério fica patente quando analisadas a primeira e a terceira situação previstas na lei, quais sejam,
a remoção para acompanhar cônjuge ou companheiro, também servidor público, que foi deslocado no
interesse da Administração e a remoção em virtude de processo seletivo. Em ambas as situações se en-
contra patente o interesse público, na primeira situação de remoção têm-se que esta se dará para que o
servidor possa acompanhar seu cônjuge ou companheiro também servidor que tenha sido deslocado no
interesse da Administração, na terceira também se faz patente o interesse público quando se assegura a
remoção em virtude de aprovação em processo seletivo interno (promoção ou concurso interno), sendo
claro que processo seletivo interno somente ocorre no interesse da Administração. (Com grifo no original).

Logo, conclui-se que esta forma de remoção atende ao interesse público na medida em que procura pre-
servar a unidade familiar do servidor público naqueles casos em que este é deslocado no interesse da
Administração, seja para acompanhar o cônjuge ou companheiro removido pela própria Administração,
seja por motivo de saúde (certamente que ninguém é removido por gozar de boa saúde, neste caso quis o
legislador se referir a má condição do estado de saúde) do servidor, cônjuge ou companheiro, ou depen-
dente ou, finalmente, em virtude de processo seletivo.

Diga-se de passagem que assim como é necessário se fazer prova do estado de saúde do servidor, cônju-
ge ou companheiro, ou dependente, para a remoção a pedido por motivo de saúde, face ao dispositivo
legal condicionar sua comprovação por junta médica oficial; também é preciso que se prove o estado de
casado ou de companheiro, no caso de remoção para acompanhar o cônjuge ou companheiro que foi re-
movido no interesse da Administração, bem como sua condição de servidor público e o Ato que o removeu
de ofício.

Neste sentido, Rigolin (1994, p. 92) assim dispôs: "A prova de casamento, ou da relação de companhei-
rismo, ou de dependência, pode ser produzida por qualquer meio em direito admitido, que a Administra-
ção obviamente precisará aceitar."

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É importante registrar que em outro artigo da Lei n. 8.112/90, o legislador procurou efetivar a proteção
da família do servidor público:

Art. 84. Poderá ser concedida licença ao servidor para acompanhar cônjuge ou companheiro que foi deslo-
cado para outro ponto do território nacional, para o exterior ou para o exercício de mandato eletivo dos
Poderes Executivos ou Legislativo.

(...)

2º. No deslocamento de servidor cujo cônjuge ou companheiro também seja servidor público civil ou mili-
tar, de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e Municípios, poderá haver exercí-
cio provisório em órgão ou entidade da Administração Federal direta, autárquica ou fundacional, desde
que para o exercício de atividade compatível com o seu cargo.

Embora o caput não trate de remoção, mas da concessão de licença, para acompanhar cônjuge ou com-
panheiro, no § 2º o legislador estabeleceu uma forma do servidor público manter a sua união familiar com
a possibilidade de lotação provisória. Novamente se conciliou o interesse público como a manutenção da
família.

3.3 O princípio da legalidade como limite de atuação da Administração pública

No direito administrativo, os princípios revestem-se de grande importância. Por ser um ramo do direito de
elaboração recente e não codificado, são os princípios que auxiliam na compreensão e consolidação de
seus institutos. Além do mais, no âmbito do direito administrativo muitas normas são editadas ao sabor
do momento, o que resulta em uma quantidade enorme de textos, sem qualquer reunião sistemática. Daí
a importância dos princípios, pois debruçados sobre eles é que se pode buscar soluções para casos não
previstos, para melhor compreender os textos esparsos e para conferir uma maior segurança aos cida-
dãos quanto à extensão dos seus direitos e deveres. (MEDAUAR, 2003, p. 134).

O fascinante estudo do Direito Administrativo, no momento, como adverte Odete Medauar (1992, p. 227),
revela mudanças. Ele, de fato, se atualiza e se revitaliza a cada instante para que possa acompanhar a
dinâmica do Estado e, assim, da comunidade administrada e isso, com o desvencilhamento de resquícios
absolutistas, sobretudo no aspecto da vontade da autoridade impondo-se imponente, com a absorção de
valores e princípios do ordenamento consagrados na Constituição e assimilação da nova realidade do rela-
cionamento Estado-sociedade, com a abertura para o cenário sócio-político-econômico em que se situa a
abertura para conexões científicas interdisciplinares e disposição de acrescentar novos itens à temática
clássica.

Diz-se que há uma disciplina jurídica autônoma quando corresponde a um conjunto sistematizado de prin-
cípios e normas que lhe dão identidade, diferenciando-a das demais ramificações do Direito. (MELLO,
2003, p. 45).

O Direito Administrativo é, como assevera José Cretella Junior (1972, p. 17), dominado pela idéia de prin-
cípio. Há um conjunto de cânones ou proposições que informam este setor da ciência jurídica, dando-lhe
autonomia e impedindo que se confunda com outros setores. Princípios, no dizer do mesmo mestre, é
termo análogo, susceptível de diversos sentidos, certo que, antes de tudo, significa ponto de partida.

O Direito Administrativo, como conjunto de princípios jurídicos que informam e disciplinam as atividades
da Administração Pública em qualquer dos Poderes do estado, no dizer de Tereza Arruda Alvim (1987, p.
69), apresenta, nos dias atuais, marcada tendência a tornar-se um dos ramos-base, senão o ramo-base,
do direito público infraconstitucional, em decorrência, talvez, da hipertrofia do Poder Executivo, caracteri-
zador de forma nítida, nas últimas décadas, dos países do mundo capitalista.

No Direito Administrativo, realmente, como observou a ilustre processualista, se concebem construções


jurídicas que, na verdade, deveriam ampliar o espectro de abrangência a todos os outros ramos do direito
público e, acrescenta-se, das ciências afins, em especial a ciência da administração e a política.

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O Direito Administrativo, assim, não mais é aquele ramo do saber jurídico que só favorece a Administra-
ção Pública. É muito mais, porque, o administrado que o conheça, ao certo, terá princípios jurídicos, terá
conhecimentos jurídicos que o favorecerão contra os eventuais arbítrios da Administração Pública, cujas
atividades são encontradas em quaisquer dos três Poderes da Soberania Nacional, embora atividade típica
do poder Executivo e atípica dos Poderes Legislativo e Judiciário. (LAZZARINI, 1999, p. 22).

Sendo o Direito Administrativo de elaboração pretoriana e não codificado, os princípios representam papel
relevante nesse ramo do direito, permitindo à Administração e ao Judiciário estabelecer o necessário equi-
líbrio entre os direitos dos administrados e as prerrogativas da Administração. (DI PIETRO, 2004, p. 67).

Dito isto, acerca da importância dos princípios em Direito Administrativo, discorrera-se-á agora sobre o
princípio da legalidade como limite de atuação da Administração pública.

O princípio da legalidade, juntamente com o de controle da Administração pelo Poder Judiciário, nasceu
com o Estado de Direito e constitui uma das principais garantias de respeito aos direitos individuais. Isto
porque a lei, ao mesmo tempo em que os define, estabelece também os limites da atuação administrativa
que tenha por objeto a restrição ao exercício de tais direitos em benefício da coletividade. É aqui que se
enquadra aquela idéia de que, na relação administrativa, a vontade da Administração Pública é a que de-
corre de lei. (DI PIETRO, 2004, p. 67).

O princípio da legalidade, no Brasil, significa que a Administração nada pode fazer senão o que a lei de-
termina. Ao contrário dos particulares, os quais podem fazer tudo o que a lei não proíbe, a Administração
só pode fazer o que a lei antecipadamente autorize. Donde, administrar é prover aos interesses públicos,
assim caracterizados em lei, fazendo-o na conformidade dos meios e formas nela estabelecidos ou parti-
cularizados segundo suas disposições. (MELLO, 2003, p. 95).

Conforme o ensinamento do mestre Hely Lopes Meirelles (2004, p. 87-88), a legalidade, como princípio
de administração (CRFB, art. 37, caput), significa que "o administrador público está, em toda a sua ativi-
dade funcional, sujeito aos mandamentos da lei e às exigências do bem comum, e deles não se pode afas-
tar ou desviar, sob pena de praticar ato inválido e expor-se à responsabilidade disciplinar, civil e criminal,
conforme o caso".

Ainda na lição de Meirelles, (2004, p.88) na Administração Pública não há liberdades nem vontade pesso-
al: "Enquanto na administração particular é lícito fazer tudo que a lei não proíbe, na Administração Pública
só é permitido fazer o que a lei autoriza". A lei para o particular significa "pode fazer assim"; para o admi-
nistrador público significa "deve fazer assim".

Isto posto, conclui-se que ao contrário dos particulares, que se movem por vontade própria, aos agentes
públicos somente é facultado agir por imposição ou autorização legal. Inexistindo lei, não haverá atuação
administrativa legítima. A simetria é patente. Os indivíduos e pessoas privadas podem fazer tudo o que a
lei não veda; os Poderes Públicos somente podem praticar os atos determinados pela lei. Como decorrên-
cia, tudo aquilo que não resulta de prescrição legal é vedado ao administrador público.

3.4 A posição dos Tribunais Regionais Federais em defesa do interesse individual dos servidores públicos

Reiteradamente, os Tribunais Regionais Federais (TRF’s) têm se manifestado favoravelmente aos servido-
res públicos federais que buscam sua tutela jurisdicional para assegurarem seus direitos de convivência
com o cônjuge a partir do evento do casamento. Abaixo algumas dessas decisões:

AGRAVO DE INSTRUMENTO N. 1998.01.00.084106-7/PI

RELATOR: JUIZ LUCIANO TOLENTINO AMARAL

AGRAVANTE: UNIÃO FEDERAL

PROCURADOR: AMAURY JOSÉ DE AQUINO CARVALHO

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AGRAVADO: VAL CÁSSIO COSTA QUIRINO

ADVOGADOS: JOSÉ ANCHIETA SANTOS E OUTROS.

EMENTA

ADMINISTRATIVO – SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL – REMOÇÃO "EX OFFICIO" PARA ACOMPANHAR CÔN-
JUGE – ANTECIPAÇÃO DE TUTELA DEFERIDA – CONCORRÊNCIA DOS REQUISITOS DO ART. 273/CPC –
DECISÃO MANTIDA.

1. A remoção "ex offício" de servidor público federal por motivo de núpcias com funcionária pública esta-
dual residente em localidade diversa da sua encontra conforto no art. 226 da Constituição, que protege,
de modo especial e privilegiado, a união familiar (característica elementar da organização cultural e socie-
tária brasileira), em ordem a ser assegurada até mesmo em sede do juízo de antecipação dos efeitos da
tutela (CPC, art. 273), diante da prova inequívoca dos fatos embasadores do bom direito, associado ao
dano decorrente de manter "separados" cônjuges recém-casados.

2. Agravo não provido.

3. Peças liberadas pelo Relator em 15/02/2000 para publicação do acórdão.

ACÓRDÃO

Decide a 1ª Turma NEGAR provimento ao agravo, por unanimidade.

Brasília/DF, 15 de fevereiro de 2000.

(Publicado no DJ em 20/03/2000, p. 100).

(Sem grifo no original).

No presente Acórdão, proferido pela Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região – TRF 1,
com sede em Brasília/DF, por unanimidade, foi negado provimento ao Agravo de Instrumento interposto
pela União contra decisão de juiz federal da 1ª Vara Federal de Teresina/PI, que concedeu a remoção ao
servidor público da União para que se juntasse a sua esposa, servidora pública estadual residente em ou-
tra cidade, mediante acolhimento da argüição de que é dever do Estado proteger a entidade da família,
como previsto no art. 226, da Constituição de 1988.

Em seu Voto, o relator destacou:

Verifica-se também a "verossimilhança" do direito alegado, pois a Constituição Federal em seu art. 226
protege a união da família.

Ademais, não é razoável, nesses casos, coagir o(a) servidor(a) público(a) a optar entre continuar no ser-
viço público ou morar com a sua esposa. (Com grifo no original).

O que parece bastante razoável, haja vista a grande dificuldade que se apresenta atualmente se conse-
guir uma aprovação em concurso público.

APELAÇÃO CÍVEL N. 1998.01.00.094265-0/TO

PROCESSO DE ORIGEM: 199843000010457

RELATORA: JUÍZA MARIA JOSÉ DE MACEDO RIBEIRO (CONV.)

APELANTE: MARCO AURÉLIO PERES

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ADVOGADO: JOSUÉ PEREIRA DE AMORIM E OUTRA

APELADO: UNIÃO FEDERAL

PROCURADOR: AMAURY JOSÉ DE AQUINO CARVALHO

VARA DE ORIGEM: JUÍZO FEDERAL DA 1ª VARA – TO

EMENTA

CONSTITUCIONAL – ADMINISTRATIVO - SERVIDOR PÚBLICO – REMOÇÃO – ART. 36, LEI N. 8.112/90 –


FATO DIFERENCIADO – FAMÍLIA – PROTEÇÃO ESPECIAL – ART. 226, CRFB/88 – INTERESSE PÚBLICO –
ATO ADMINISTRATIVO – INCONSTITUCIONALIDADE.

1. Remoção que se autoriza em face de situação peculiar, diferenciada, do servidor, ante às circunstâncias
do caso concreto analisado, visando preservar a unidade familiar, de interesse público, em nome da ga-
rantia constitucional insculpida no art. 226, da CF/88.

2. Sentença reformada.

3. Apelação provida.

ACÓRDÃO

A Segunda Turma, por maioria, vencido o Juiz Carlos Moreira Alves, que negava provimento à Apelação,
deu provimento à Apelação.

Brasília, 24 de março de 2000.

(Publicado no DJ em 13/03/2002, p. 56).

(Sem grifo no original).

Este Acórdão da Segunda Turma do TRF 1, que decidiu por maioria em favor do impetrante da Apelação
Cível contra decisão proferida por juiz da 1ª Vara Federal de Palmas/TO, vem exemplificar o tipo de situa-
ção que é objeto da presente pesquisa monográfica.

O impetrante, servidor público federal, ocupando o cargo de Fiscal do Trabalho, com lotação na Delegacia
Regional do Trabalho do Estado do Tocantins, casou com servidora pública da Prefeitura Municipal de Vol-
ta Redonda/RJ, sendo que neste caso não há como o cônjuge virago mudar-se para Palmas/TO face ao
seu ente empregador ser o município. Desta forma, coube ao cônjuge varão solicitar remoção de Pal-
mas/TO para Volta Redonda/RJ, onde inclusive há uma Subdelegacia do Trabalho, onde o requerente po-
deria ser lotado.

Ocorre que teve o seu pedido administrativo indeferido segundo o entendimento de que não há previsão
legal no art. 36, da Lei n. 8.112/90, para a pretensa remoção. Inconformado, o servidor entrou com uma
Ação Ordinária, impetrada na 1ª Vara Federal de Palmas/TO, para que seu direito de juntar-se a sua es-
posa fosse reconhecido. Entretanto o juiz singular julgou improcedente o seu pedido, com fundamento no
mesmo dispositivo alegado pela Administração.

No entanto, melhor sorte teve sua Apelação Cível onde o TRF 1 reconheceu o fundamento constitucional
de proteção a família previsto no art. 226, da Constituição de 1988, norma de eficácia plena e hierarqui-
camente superior à Lei n. 8.112/90.

Na manifestação de seu Voto a relatora aduziu:

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É certo que a Lei nº 8.112/90, ao sistematizar a matéria em seu art. 36, já exaustivamente transcrito nos
autos, condicionou o direito de remoção de servidor, quando independe do interesse da Administração, à
existência de deslocamento do cônjuge ou companheiro, também servidor, no interesse da mesma. Mas
impende trazer à lume a normatização constitucional que assegura proteção especial do Estado à família,
no seu art. 226, portanto de hierarquia superior, e que pode interferir no alcance do instituto de remoção,
ali disciplinado. (Com grifo no original).

[...]

Nestas condições, convém a Administração, por ser do interesse do Estado, logo, de interesse público, a
manutenção da unidade familiar, fazendo ceder a literal interpretação dos comando legais do art. 36 da
Lei nº 8.112/90, no caso, colidentes e impeditivos da referida proteção do Estado à família constitucio-
nalmente assegurada.

Segundo a opinião da juíza relatora, a unidade da família deve ser interpretado como de interesse público
uma vez que a Constituição da República assim reconheceu a proteção da família como sendo um dever
do Estado.

APELAÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA N. 2000.34.00.035460-0/DF

RELATOR: JUIZ TOURINHO NETO

APELANTE: FERNANDO CESAR DE QUEIROZ

ADVOGADOS: GELSON VILMAR DICKEL E OUTRO

APELANTE: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

PROCURADOR: BRASILINO PEREIRA DOS SANTOS

APELADA: UNIÃO FEDERAL

PROCURADOR: ANTENOR PEREIRA MADRUGA FILHO

EMENTA

ADMINISTRATIVO – REMOÇÃO - SERVIDOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO MILITAR

Possibilidade de remoção do servidor do Ministério Público Militar, em Brasília, para a Procuradoria Regio-
nal do Trabalho, em Campo Grande/MS, em face do matrimônio contraído com servidora do Poder Judiciá-
rio do Estado do Mato Grosso do Sul, ainda que essa situação existisse antes do casamento, tendo em
vista inocorrência de prejuízo ou inconveniência para o serviço.

ACÓRDÃO

Decide a 2ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, por maioria, vencido o Juiz Carlos Eduardo
Maul Moreira Alves, dar provimento às apelações.

Brasília/DF, 26 de agosto de 2002.

(Publicado no DJ em 25/11/2002, p. 142).

(Sem grifo no original).

Outro Acórdão, oriundo da Segunda Turma do TRF 1, que socorre a servidor público da União que pleitea-
va sua remoção em razão de casamento.

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Trata-se de Mandado de Segurança movido por Analista Processual do Ministério Público Militar – MPM,
lotado na capital federal, visando garantir o direito líquido e certo de poder ser removido para a Procura-
doria Regional do Trabalho – PRT, de Campo Grande/MS, a fim de se juntar-se a servidora do Poder Judi-
ciário do Mato Grosso do Sul – MS, com quem contraiu casamento.

O servidor, ao ter seu pedido de remoção indeferido, ingressou com Mandado de Segurança na 15ª Vara
da Seção Judiciária do Distrito Federal, que denegou a segurança pleiteada.

Inconformado, o servidor, juntamente com o Ministério Público Federal que em sua manifestação foi favo-
rável ao pedido, ingressaram com Apelação no TRF 1 que deu decisão favorável ao apelante.

Em seu Voto o juiz relator acrescentou:

Por fim, nos termos do art. 226 da Constituição Federal: "A família, base da sociedade, tem especial pro-
teção do Estado." E ao magistrado compete, sempre que possível, observar tal preceito constitucional na
aplicação da lei ao caso concreto, tutelando a manutenção da unidade familiar. (Com grifo no original).

Assegura, o juiz relator, que compete ao magistrado fazer cumprir o mandamento constitucional de prote-
ção à família sempre que este for possível.

AGRAVO DE INSTRUMENTO N. 31394-CE 2000.05.00.038900-8

AGRAVANTE: UNIÃO

AGRAVADO: JONAS FERREIRA LIMA NETO

ADV/PROC: MARCELO DIAS PONTE

ORIGEM: 11ª VARA FEDERAL DO CEARÁ

RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL JOSÉ MARIA LUCENA

EMENTA

AGRAVO DE INSTRUMENTO. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. CONVOLAÇÃO DE NÚPCIAS. REMO-


ÇÃO A PEDIDO.

1. "O art. 226, da Constituição Federal de 1988, garante proteção especial à entidade familiar e, sob esse
aspecto, em caso de remoção de servidor público, a pedido, para localidade onde reside e trabalha o côn-
juge a fim de preservar a unidade familiar, a orientação jurisprudencial de nossos tribunais, inclusive do
colendo STF tem sinalizado no sentido de que deve se dar prevalência ao princípio constitucional da pro-
teção à família, quando da interpretação do art. 36, da Lei n. 8.112/90, que trata da remoção de servidor
público federal" (TRF da 5ª Região, Apelação Cível n. 336.458-PB, Relator Desembargador Federal Ubaldo
Ataíde Cavalcante, Primeira Turma, unânime, julgado em 11.11.2004, DJ de 01.02.2005).

2. Precedente: TRF da 5ª Região, Agravo de Instrumento n. 53.815-PB, Relator Desembargador Federal


Francisco Wildo, Primeira Turma, unânime, julgado em 18.11.2004, DJ de 18.01.2005.

3. Agravo de instrumento desprovido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Primeira Turma do Egrégio
Tribunal Regional Federal da 5ª Região, à unanimidade, negar provimento ao Agravo de Instrumento, nos
termos do voto do Relator e das notas taquigráficas constantes dos autos, que integram o presente julga-
do.

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Recife, 30 de junho de 2005 (data do julgamento).

(Publicado no DJ em 29/09/2005, p. 717).

(Sem grifo no original)

Este Acórdão da Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região – TRF 5, com sede em Reci-
fe/PE, manifestou-se desfavoravelmente ao Agravo de Instrumento interposto pela União contra decisão
de juiz singular da 11ª Vara Federal de Fortaleza/CE que concedeu o direito de remoção a Técnico da Re-
ceita Federal, lotado em Salvador/BA, para Fortaleza/CE em razão de ter convolado núpcias com servido-
ra do Poder Judiciário do Estado do Ceará, lotada no Fórum Clóvis Beviláqua em Fortaleza/CE.

Na sustentação de seu Voto, o juiz relator baseou-se também na jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça – STJ que assim já decidiu:

"Não há que se falar, no caso sub judice, em prevalência do interesse público sobre o particular, porquan-
to o bem maior a ser tutelado é a união e manutenção da própria constituição familiar, esta tida como
fons vitae e organização mater, devendo se sobrepor a qualquer outra forma de organização existen-
te.[...] (STJ – ROMS 11767 – RS – 5ª T. – Rel. Min. JORGE SCARTEZZINI – DJU 16.04.2001 p. 00109).

Para finalizar citamos Arnaldo Vasconcelos (2002, p. 187) que diz:

É certo que o legislador faz a lei, mas esta não é Direito. O que nela está é a previsão daquilo que pode
vir a ser Direito. E quem declara oficialmente que a previsão foi realizada é o Juiz. Portanto, ele declara o
Direito que é, constituindo-o de acordo com os fatos, que seleciona, e com os dispositivos legais, que in-
terpreta.

Embora o art. 36, da Lei n. 8.112/90, estabeleça os casos em que se concederá a remoção, na sua omis-
são caberá ao Estado-Juiz declarar o Direito e, assim o fazendo, está fazendo justiça aos servidores públi-
cos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final desta pesquisa monográfica restou demonstrada a necessidade de alteração do texto do art. 36,
da Lei n. 8.112/90, para que possibilite a remoção de servidor público civil da União que contraia casa-
mento com servidor público do Município, do Estado, do Distrito Federal, da União, das autarquias ou das
fundações públicas federais, haja vista que o casamento dá início à formação da família e esta está sob a
proteção do Estado, conforme consagrou a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

A alteração do referido texto legal tornaria possível a concessão de remoção, para o caso apontado, sem
que a autoridade responsável pelo ato incorra na prática de ilegalidade, tendo-se em vista que esta possi-
bilidade não está prevista na lei e a Administração só pode fazer aquilo que a lei prevê.

A necessária alteração legislativa não é absurda, tampouco é inédita naquele texto legal que já sofreu
dezenas de modificações desde a sua promulgação em 1990 e, diga-se de passagem, quase todas em
benefício da Administração e em prejuízo dos direitos dos servidores.

A remoção é, antes de mais nada, um direito do servidor público e colocado à sua disposição, à Adminis-
tração cabe a faculdade de concedê-la ou não, conforme a sua conveniência e de acordo com a previsão
legal, desde que isto não implique em ofender um dispositivo constitucional.

Outrossim, é devido ressaltar que há quem entenda que a concessão de remoção nesse caso específico
atende ao interesse público uma vez que a proteção da entidade familiar é do interesse do Estado.

É sabido que uma norma constitucional como a prevista no art. 226, caput, possui eficácia plena, ou seja,
não é necessária uma lei para dar-lhe regulamentação. Também é cediço que na hierarquia das normas a

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Constituição está acima das normas infraconstitucionais, como é o caso da Lei n. 8.112/90, e que estas
lhe devem obediência.

Portanto, se o Estado tem o dever constitucional de proteger a instituição da família e este dever é oponí-
vel contra todos, seria uma contradição que o mesmo Estado não possibilite aos seus servidores a mesma
proteção objetiva, obrigando-os a buscarem a efetivação desse direito protetivo perante o Poder Judiciá-
rio.

REFERÊNCIAS

ALVES JUNIOR, Luís Carlos Martins. Os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e da
legalidade e o § 2. do art. 84, da Lei n. 8.112/90. Jus Navigandi, Teresina, a. 9, n. 789, 31 ago. 2005.
Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7216. Acesso em: 14.10.2005.

ALVIM, Tereza Arruda. Nulidades da sentença. São Paulo : Revista dos Tribunais, 1987.

BRASIL. Constituição (1937). Constituição dos Estados Unidos do Brasil. Disponível em:
www.presidencia.gov.br. Acesso em:05. Nov. 2005.

______. Constituição (1988). Constituição da República Federativa de Brasil. Brasília, DF: Senado, 2005.

______. Lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943. Consolidação das Leis do Trabalho -CLT. Disponível em:
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______. Tribunal Regional Federal (1. Região). Agravo de Instrumento n. 1998.01.00.084106-7/PI. Agra-
vante: União Federal. Agravado: Val Cássio Costa Quirino. Relator: Juiz Luciano Tolentino Amaral. Brasí-
lia. Julgado em: 15. fev. 2000.

______. Tribunal Regional Federal (1. Região). Apelação Cível n. 1998.01.00.094265-0/TO. Apelante:
Marco Aurélio Peres. Apelado: União Federal. Relatora: Juíza Maria José de Macedo Ribeiro. Julgado em:
24. Mar. 2000.

______. Tribunal Regional Federal (1. Região). Apelação em Mandado de Segurança n.


2000.34.00.035460-0/DF. Apelante: Fernando César de Queiroz e Ministério Público Federal. Apelado:
União Federal. Relator: Juiz Tourinho Neto. Julgado em 26. Ago. 2002.

______. Tribunal Regional Federal (5. Região). Agravo de Instrumento n. 2000.05.00.038900-8/CE. A-

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gravante: União. Agravado: Jonas Ferreira Lima Neto e outro. Relator: Desembargador Federal José Maria
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Fonte: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9226&p=3

2. LEIA!!!

2.1. Salário de servidor público é competência da Justiça Comum?

Notícia (Fonte: TJRN)

Verba salarial de servidor deve ser julgada na Justiça comum

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A 2ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte definiu, mais uma vez, que a Justiça
comum, e não a trabalhista, tem a competência para julgar questões relativas a verbas salariais atrasadas
de servidor estatutário.

A atual decisão recai sobre o Município de São José do Campestre, que terá que pagar, para um servidor,
as verbas salariais, relativas aos meses de novembro e dezembro de 2004, na forma que foi acordada na
Ação Civil Pública.

Os desembargadores destacaram que o próprio Supremo Tribunal Federal, no objetivo de cumprir o artigo
114 da Constituição Federal, incluído pela Emenda Constitucional nº. 25/2004, entendeu que se deve
compreender de maneira 'restrita' a expressão "relação de trabalho", de maneira tal a não estarem a-
brangidas as causas entre o Poder Público e os seus servidores estatutários.

O Município ainda alegou que a sentença inicial quebrou a sistemática de pagamento dos precatórios (dí-
vidas contraídas por um ente público).

No entanto, os desembargadores ressaltaram que, no caso dos autos, o montante objeto de execução, tal
como discriminado na planilha, equivale a R$ 1.082,70, razão pela qual é considerado, nos termos do ar-
tigo 87, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, pequeno valor, não se submetendo, pois, ao
regime de precatórios.

Apelação Cível nº. 2009.007046-8

NOTAS DA REDAÇÃO

Com relação à competência a Constituição Federal faz uma primária distribuição em cinco justiças, quais
sejam: Justiça Militar, Justiça do Trabalho, Justiça Federal, Justiça Eleitoral e Justiça Estadual. As quatro
primeiras são consideradas Justiças Especiais, as quais têm suas competências expressamente previstas
na CR/88, já a Justiça Estadual por ter competência residual, é chamada de Justiça Comum e caberá aos
Estados a sua distribuição.

A etapa inicial para fixação da competência é verificar qual, dentre as cinco Justiças, é a Justiça compe-
tente. No que tange à competência da Justiça do Trabalho será definida nos termos do artigo 114 da
CR/88, in verbis:

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
45, de 2004)

I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da adminis-
tração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

II - as ações que envolvam exercício do direito de greve; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de
2004)

III - as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sin-
dicatos e empregadores; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

IV - os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data , quando o ato questionado envolver maté-
ria sujeita à sua jurisdição; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

V - os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102,
I, o; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

VI - as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho; (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

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VII - as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fisca-
lização das relações de trabalho; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

VIII - a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a , e II, e seus acréscimos
legais, decorrentes das sentenças que proferir; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

IX - outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004).

De acordo com a redação do inciso I do artigo 114 da CR/88, passou-se a atribuir competência à Justiça
do Trabalho das ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e
da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios

Porém, de acordo com o entendimento proferido na liminar da ADI 3.395-MC com relação ao inciso I do
artigo 114 foi suspensa toda e qualquer interpretação que insira "na competência da Justiça do Trabalho,
a apreciação de causas instauradas entre o Poder Público e seus servidores, a eles vinculados por típica
relação de ordem estatutária, ou de caráter jurídico-administrativo (enquanto essa última é de Direito
singelamente administrativo, a relação estatutária é de Direito Constitucional-Administrativo a um só
tempo)".

Diante da exclusão da competência da Justiça Laboral, questões relativas a verbas salariais de servidor
estatutário são da competência da Justiça Estadual.

Fonte: http://www.lfg.com.br/public_html/article.php?story=20100201142004309

2.2 Pode o servidor público estável perder o cargo em razão de excesso de gastos do Poder
Público?

Sim. Trata-se de hipótese de perda de cargo de forma não punitiva, prevista no art. 169, §4º, CF: quando
a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, após adotarem as medidas de contenção de des-
pesas com pessoal ativo e inativo como a redução de 20% das despesas com cargos em comissão e fun-
ções de confiança e exoneração dos não estáveis, essas não forem suficientes para adequar os gastos
dentro dos limites estabelecidos na lei complementar nº. 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal).

Desta forma, após a adoção das medidas acima dispostas, não havendo readequação dos gastos (não
sendo suficientes), os servidores estáveis podem, sim, perder o cargo.

Importante ressaltar a exigência de ato normativo motivado de cada um dos Poderes, que deverá especi-
ficar a atividade funcional, o órgão ou unidade administrativa objeto da redução. Mostra-se necessário,
portanto, a edição de um ato administrativo normativo, ou seja, lei em sentido material.

Do que se vê, a motivação garante o controle por parte do servidor público e da sociedade como um todo,
sendo anulado o ato que descumprir a motivação explicitada no ato normativo.

Por fim, é importante lembrar que esse servidor exonerado por excesso de despesas do Poder Público terá
direito à indenização pela perda do cargo, consistente a um mês de remuneração por ano de serviço, con-
forme disposto no art. 169, §5º, CF.

Fonte: http://www.lfg.com.br/public_html/article.php?story=20090312110604186

3. SIMULADOS

3.1 Os servidores públicos seguem as seguintes normas:

(a) Os vencimentos dos servidores públicos que não estejam sob o vínculo estatutário pode ser definido
por convenção coletiva.

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(b) A proibição de acumular cargos no serviço público não se estende à sociedade controladas apenas
indiretamente pelo Poder Público.

(c) É vedada a acumulação, rem unerada ou não, de cargos públicos exceto quando houver com patibili-
dade de horários, nos casos expressamente previstos na Constituição Federal.

(d) Excetua-se a proibição de acumulação remunerada de cargos públicos a do servidor que ocupa dois
empregos privativos de profissionais de saúde, desde que com profissões regulamentadas.

Resp.: D

3.2 Sobre as normas constitucionais relativas aos servidores públicos, é INCORRETO afirmar
que:

(a) os servidores públicos têm assegurada a liberdade sindical

(b) o direito de greve dos servidores públicos deverá ser regulamentado por lei complementar

(c) a Constituição permite o acesso do estrangeiro a cargos públicos nas situações previstas na lei

(d) os servidores públicos, homens e mulheres, deverão se aposentar de forma compulsória aos setenta
anos.

Resp.: B

3.3 O regime jurídico dos servidores públicos civis nominado Estatutário significa:

(a) aquele em que os direitos, deveres e demais aspectos da vida funcional estão contidos em uma lei
básica.

(b) aquele em que os servidores tem seus direitos e deveres norteados, nuclearmente, pela Consolidação
das Leis do Trabalho.

(c) aquele em que os servidores são contratados por tempo determinado para atender necessidade tem-
porária de excepcional interesse público.

(d) aquele que engloba na mesma legislação, quanto aos direitos e deveres, os trabalhadores urbanos,
rurais e empregados públicos.

Resp.: A

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