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cena n.

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Os Études Stanislavskianos e o Prêt-à-Porter Antuniano

Argus Cecil Nery Monteiro


Russian Academy of Theatre Arts – GITIS – Moscou, Rússia
E-mail: argus.monteiro@gmail.com

Resumo Abstract
Esse artigo discorre sobre os sistemas de This article says about the theater systems
trabalho do diretor russo Konstantin Sergeevi- of the russian director Konstantin Sergeevitch
tch Stanislavski – os études, e do diretor bra- Stanislavski – the études, and about the brazil-
sileiro Antunes Filho – o Prêt-à-Porter, em que ian director Antunes Filho – the Prêt-à-Porter,
ambos partem do trabalho do ator através de where both starts from the actor’s work through
cenas improvisadas. Assim, o artigo descreve improvised scenes. So, the article describe
e analisa cada sistema de trabalho dos dois and analyze each working system of these two
diretores citados, concluindo com a compara- cited directors, and conclude with the compar-
ção de ambos os sistemas. ison of both systems.

Palavras-chave Keywords
Teatro. Trabalho do ator. Konstantin Stanisla- Theater. Actor’s work. Konstantin Stanislavski.
vski. Antunes Filho. Maria Knebel. Antunes Filho. Maria Knebel.
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Na década de 1930, desgostoso com os re- atores nesta época: relatado no seu livro rabo-
sultados obtidos ao longo da sua carreira artís- ta aktera nad rol’yu3, mostra como ele dirigiu
tica, Stanislavski queria aumentar a qualidade o espetáculo A Desgraça de ter Espírito, em
do trabalho criativo dos atores, alterando o seu 1906: nesta primeira fase do teatro, os atores
processo de trabalho. deveriam seguir todos os detalhes descritos
Desde que começou a sua trajetória artísti- no texto, deixando pouco espaço para o tra-
ca, quando ainda estava na Sociedade Mos- balho criativo do ator. Ao longo dos anos, o
covita de Arte e Literatura, ali, o jovem ator seu trabalho foi evoluindo, influenciado tam-
teve a sua primeira visão aprofundada da arte, bém pelos experimentos feitos nos estúdios,
quando o diretor A. F. Fedotov junto com o que eram grupos de trabalho que funcionaram
cenógrafo F. L. Sollogub, mostraram-no uma como a base experimental do teatro, funcio-
nova forma de se fazer teatro1. nando de 1905 até a década de 1920. Apesar
A sua forma de ver teatro foi aumentando do caráter experimental, os resultados destes
gradualmente ao longo dos anos. Já como di- estúdios influenciaram o seu trabalho nos anos
retor, observou o trabalho da trupe do duque seguintes, como no plano de direção do es-
de Meiningen nesta mesma época, e, obser- petáculo Otello4, relatado no mesmo livro, em
vou a importância dos elementos da direção 1929.
realista do teatro, algo que estava em voga na- No seu trabalho sobre a peça O Inspetor
quele período, como o uso do figurino e das Geral, na década de 1930, ele já experimenta
ações cênicas - que deveria ser fiel ao tema um “novo” processo de trabalho: baseado em
proposto ao espetáculo, aumentando a quali- experimentos realizados com a sua assisten-
dade estética do espetáculo. te Maria Knebel - oriunda do segundo estúdio
Stanislavski teve como resultado dos seus do Teatro de Arte de Moscou -, busca um tra-
estudos a criação de três linhas essenciais nas balho criativo do próprio ator: estimulando a
ações do ator: a intuição, o sentimento e a fan- imaginação deste, o diretor seria apenas o seu
tasia. orientador e sugeriria possíveis situações5 para
Em 1898, junto com V. I. Nemirovitch-Dant- a construção da cena. Não era mais o foco do
chenko, fundam o Teatro de Arte de Moscou, trabalho em repetir fielmente o texto do autor,
colocando os seus estudos na prática. Sta- mas sim em criar uma cena análoga ao texto.
nislavski antecipa o que futuramente seria o Com a cena improvisada, criada e já fixada6,
seu método das ações físicas2 nas suas mon-
3 Работа актера над ролью (O trabalho do ator sob o pa-
tagens, como podemos ver no trabalho dos pel), é o quarto volume da sua coletânea de 8 livros, publica-
dos na Rússia. A mesma coletânea foi relançada entre 1988 e
1999, com 9 volumes.
1 “Graças a Fedotov e Sollogub, que dentro de mim aconte- 4 Neste espetáculo, Stanislavski já tinha começado a experi-
ceu a mudança do ponto morto, como que se eu saísse de um mentar um método de trabalho alternativo, em que resultasse
beco, no qual foi trilhado longamente. O novo caminho eu não em uma menor dependência do texto em relação ao trabalho
achei, mas entendi os meus erros...” (STANISLAVSKI, 1954, do ator, já que este não necessitava seguir todos os detalhes
p. 114) (Tradução do autor). do texto.
2 Termo criado por Stanislavski, onde ele sistematiza o seu 5 Tal trabalho é chamado de circunstâncias propostas.
sistema, no qual tem como pilares: o superobjetivo, a ação
cênica, e a fé nas circunstâncias propostas. Todo o sistema 6 O termo fixação é usado na escola russa de teatro, quando há a
buscava colocar o realismo cênico como uma busca da natu- consolidação da cena improvisada, sendo esta trabalhada ao lon-
reza inconsciente do ator, a busca da vida da alma humana. go dos ensaios. Apesar da cena já ter sido definida, nada impede

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haveria um trabalho posterior de mesa – em dos outros dois, o processo de trabalho não
que atores e diretor fariam a análise literária da difere muito entre eles.
peça. Os études são usados na escola russa tea-
Tal trabalho de improvisação, Stanislavski tral durante a graduação em teatro. Tal configu-
definiu como études. Junto com Nemirovitch- ração remonta aos anos 1930, em que vários
-Dantchenko, definiram novas funções para o diretores russos9 concluíram que o trabalho
diretor: “diretor – intérprete; diretor – espelho; ideal de formação do futuro ator seria iniciar
diretor – organizador do espetáculo” (KNEBEL, os estudos com os études, ficando livre do tra-
2010, p. 375). balho de texto e focando apenas no trabalho
Uma das suas assistentes desta época foi criativo das cenas. A partir do segundo ano da
Maria Osipovna Knebel7, em que desenvolveu graduação, o futuro ator faz o estudo do texto,
o trabalho dos études, criando o termo Méto- mas, segue o método da análise ativa, cons-
do de Análise das Ações8, após a morte de truindo études a partir de cenas análogas as
Stanislavski. Partindo desta ideia de cenas im- do texto, com o professor assumindo o papel
provisadas para uma criação mais original do de diretor-orientador.
ator, os études foram adaptados não apenas No primeiro semestre do primeiro ano da
no trabalho em relação aos ensaios de espetá- graduação em artes cênicas nas universidades
culos, mas também para toda uma metodolo- russas10, o aluno monta a sua própria cena,
gia de ensino, sendo executada até os dias de pensando apenas em um enredo que possua
hoje em países como a Rússia. um conflito factível. Mesmo sendo uma turma
D. G. Livnev (LIVNEV, ZVEREVA, 2008, p. de jovens alunos em sua maioria, detecta-se
102), define o termo étude em três variações: que eles não possuem um grande repertório
1 – o études podem ser realizados no primei- de vivência para as ações da cena. Mas isso
ro ano da graduação, como a etapa inicial da não significa que esses alunos não façam ce-
profissão do ator e do diretor; 2 – os études nas sem qualidade. No final da apresentação
podem ser construídos para a preparação das da cena, o professor orienta, dá sugestões, o
peças (ou a partir da análise de trechos de pe- questiona, ou então descarta a proposta, pe-
ças); 3 – os études podem ser consolidados dindo para o aluno voltar na aula seguinte com
“no passado”, onde o ator-estudante utiliza-se outra cena. Todo esse processo ocorre ao lon-
de quadros, cenas, ou lembranças e constrói go do semestre, e, assim que chega o período
uma cena do passado a partir destas fontes. de avaliação no final deste período, os pro-
Neste artigo, utilizaremos somente o sentido fessores de interpretação fazem uma banca e
pedagógico. Apesar de ter objetivos distintos avaliam as melhores cenas. Como um ensaio
geral, são mostradas as cenas já estabeleci-
possíveis modificações, por estar em um processo artístico.

7 Maria Osipovna Knebel (Moscou, 1898 – 1985), renomada


diretora e professora russa de teatro, autora de vários livros 9 Podemos citar: Stanislavski, Nemirovitch-Dantchenko,
sobre o trabalho do ator. Meyerhold, Gortchakov, Knebel, Lobanov, Gontcharov e ou-
tros.
8 O termo Método de Análise das Ações foi criado por Knebel
como resultado de experimentos dessa última fase criativa de 10 O método de trabalho relatado foi observado pelo pesqui-
Stanslavski, onde ela se utiliza e formaliza todo o trabalho de sador no GITIS – Instituto de Artes Teatrais da Rússia, mas
ensaios já descrito – uso de études nos ensaios e o posterior tal método também é comum em outras instituições de ensino
trabalho de mesa. da Rússia.

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das – ou seja, os études que se tornaram cenas distribuição desses no palco, assim como con-
definitivas – sendo passíveis de modificações trolando o próprio jogo do ator – pois é traba-
para a prova pública – a avaliação semestral. lhado também a questão do tempo-ritmo em
No segundo semestre ocorre algo pareci- cena. Apesar da pouca experiência dos jovens
do. Mas, o aluno não está sozinho em cena. alunos, o professor já trabalha com a velocida-
Para aumentar o potencial do jogo do ator, os de das ações e do discurso cênico – o uso de
alunos atuam em duplas (ou trios, dependen- pausas é estimulado, para o futuro ator buscar
do da situação), buscando a criação de uma um subtexto entre as falas, mesmo não tendo
nova cena improvisada. Mais uma vez, os alu- um domínio pleno do uso da pausa.
nos não usam qualquer dramaturgia, mas sim, Nos études, o estudante é questionado so-
criam a sua, através da orientação do profes- bre quem ele é, e dá as informações necessá-
sor. rias de um possível superobjetivo da persona-
O método de trabalho do professor, neste gem que ele criou, ou seja, ele mostra quem ele
caso, é ser um diretor-orientador: instigar os quer ser e quais as suas atitudes que deseja
alunos no fim da cena e fazer perguntas sobre ter para chegar no seu superobjetivo. Temos,
a cena trabalhada e a personagem que o aluno como exemplo: se um aluno criou o persona-
realizou. Questões básicas e específicas são gem de um assassino, o objetivo dele é de co-
propostas; questões básicas para os alunos meter um crime, e ele terá na sua inconsciência
são três: Quem é você? Aonde você está? que só terá como satisfeito quando o objetivo
Quando ocorre a cena? Tais questões fazem for cumprido, ou seja, o seu desejo interior foi
o professor estimular o aluno a abrir o perso- estimulado do consciente para o inconsciente.
nagem que ele criou. A seguir, se o professor Para aumentar estas possibilidades do
perceber que a cena possui um potencial cria- acesso ao inconsciente, o próprio Stanislavs-
tivo, ele começa a fazer questões específicas; ki já havia falado das circunstâncias propos-
assim como propõe as circunstâncias propos- tas - é um recurso em que o diretor coloca a
tas, baseadas no se stanislavskiano, aumen- personagem do ator em possíveis situações
tando a possibilidade criativa da cena. Caso o de conflito durante o espetáculo, fomentando
étude for realizado em duplas, o professor faz o conflito consciente para o inconsciente da
as perguntas básicas para cada um dos alu- personagem.
nos envolvidos e, a seguir, questiona cada um O método de trabalho prepara os alunos
sobre qual relação tem com o outro. Se o pro- para os anos pós-universitários, quando o fu-
fessor dá como satisfeito o trabalho dos alu- turo ator, mais consciente das suas possibili-
nos, ele propõe um trabalho contínuo da cena dades criativas e do seu repertório de ações,
– chamado de fixação da cena – ao longo do poderá trabalhar com os textos, segundo o
semestre. Neste período, a cada aula o pro- método da análise das ações. A ideia é que
fessor observa a evolução da cena e continua o ator trabalhe junto com o seu futuro diretor
apontando novas circunstâncias propostas. através de études, intercalando com o trabalho
O trabalho do professor-diretor também in- de mesa, analisando a peça a ser montada.
clui fazer a mise en scène – observar e fazer a Já em São Paulo, nos fins dos anos 1940,
colocação dos alunos em cena, melhorando a começava a carreira teatral de um futuro dire-

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tor de renome: José Alves Antunes Filho. Pri- cena improvisada a partir de um conflito como
meiramente como ator, mas, em seguida, so- já foi descrito anteriormente. Antunes assimi-
mente atua como diretor. Antunes trabalhou ou la este conhecimento, que influenciaria no seu
se aproximou de vários diretores que o influen- repertório teatral.
ciaram, como Zibgnew Marian Ziembinski, Ao longo da sua carreira artística, Antunes
Flaminio Bollini, Ruggero Jacobbi, Adolfo Celi, coloca à prova o que aprendeu. É visto como
Maurice Vaneau, Kazuo Ohno, Tadeuz Kantor e o realismo era executado no seu trabalho: nos
Robert Wilson. ensaios com os atores, ele usou o método
No período em que esteve no Teatro Bra- Stanislavski através de études, mesmo que de
sileiro de Comédia, no início dos anos 1950, forma involuntária. Propondo aos atores cenas
podemos observar como o jovem Antunes co- análogas com as da peça e dando a liberdade
meçou a trabalhar e a cuidar da parte técnica criativa aos atores para que eles não fossem
do ator. Era necessário todo um cuidado es- meros “bonecos” na mão do diretor, podemos
pecial neste trabalho, e ele rapidamente viu a observar que ali já começava a batuta do pró-
importância disso enquanto estava junto com prio Antunes, o que mais tarde seria o embrião
os diretores renomados do teatro: da forma de trabalho que ele chamaria de Prê-
t-à-Porter.
(...) a pegar uma ideia, formalizá-la, e Com o passar dos anos, Antunes observou
ter a técnica adequada para isso. En-
tão aí e que entra o Ziembinski, meu a eficácia da influência da filosofia, e, com isso,
guia, que me ensinou; diariamente ele busca respostas para os problemas da socie-
me ensinava como ele fazia e como
fazer isso, a técnica do ator. Porque dade contemporânea. Elementos e conceitos
sem técnica não dá pra chegar lá! (MI- da arte, como o modernismo, o positivismo,
CHALSKI, 1995, p. 212)
o racionalismo e outros já estavam ultrapas-
sados. Era necessária a busca de uma arte
Trabalhando no TBC, Antunes acaba co-
correspondente ao pensamento dos novos
nhecendo outras tendências de estilos tea-
tempos. Para isso, Antunes busca o que ele
trais, como o expressionismo, o neorrealismo
chamou de realismo brasileiro:
italiano, e outros, que o ajudaram a aumentar o
seu repertório para produzir o seu futuro estilo Estamos, por meio de exercícios, pro-
teatral próprio, que reúne diversas tendências curando afastar-nos do naturalismo
internacionalmente consagrado, bus-
artísticas. cando o verdadeiro comportamento
Antunes também teve a cooperação do di- do nosso homem de campo. Se tal
experiência for bem-sucedida, ter-se-
retor russo Eugenio Kusnet, que era um adepto -á criado um realismo brasileiro, que
do sistema Stanislavski no Brasil. Kusnet não poderá vir a revolucionar a arte da re-
somente assimilou a literatura dos livros russos presentação no Brasil. (GUIMARÃES,
1998, p. 34)
de Stanislavski, mas também colocou estes
conhecimentos em prática: o uso do método
Observando o trabalho do ator, Antunes re-
das ações físicas e a ideia dos études. É visto
para que não basta possuir apenas a qualida-
que Kusnet desconhecia o significado real de
de artística. Era vista a necessidade de uma
études – provavelmente tenha entendido como
formação intelectual: o conhecimento do ator
a tradução literal – estudos, e não como uma

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acerca das informações sobre a peça e os per- realistas do ator está na alma, e não no estilo,
sonagens relacionados com a vida em geral ou seja, todas as ações, gestos, discursos...
eram de extrema importância. Em uma de suas tudo vem da alma. Antunes Filho concorda
entrevistas, Antunes define quem é o seu ator que o ator deve dar de si ao papel. Entretanto,
ideal: se ele faz isso somente com a ajuda da razão,
a sua ação tornar-se-á falsa. O diretor conta
Eu o (ator) quero independente, eu o que o ator precisa trabalhar através da respira-
quero senhor absoluto do palco. (...)
O ator terá que ser ao mesmo tempo ção, e por aí vem o seu entendimento sobre o
cientista, artista, físico, matemático, realismo teatral: “É a captação do ar, para dar
professor de literatura, político e soci-
ólogo. Pode ser meio utópico o que eu outras inflexões, outros sentimentos, outras
vou dizer, mas o ator e a grande sínte- sensações. Você nunca se adentra num senti-
se do conhecimento humano. (MILA-
RÉ, 2007, p. 249) mento”12. Veremos maiores detalhes do uso da
respiração adiante.
Anos depois, já na formação do seu Centro Para colocar toda essa teoria em prática,
de Pesquisa Teatral, Antunes publica o mani- Antunes propõe uma série de exercícios e uma
festo em que dá o significado do método de metodologia que ele colocou no seu método
trabalho do CPT, buscando ser um centro di- de trabalho, primeiramente em 1984, quan-
ferencial de pesquisa, de experimentação e de do ele aborda todo o seu sistema de trabalho
formação do ator. Ainda neste manifesto, An- em 20 páginas, descrevendo desde o sentido
tunes proclama a necessidade de unir a teoria de Diderot – na discussão sobre a razão na
à prática, visto que o significado teórico surge cena, indo para as questões filosóficas, como
em cena através de exercícios, dos quais dão a dialética de Politzer e as ideias metafísicas
novas possibilidades criativas aos atores. de Artaud. O seu método compõe-se de três
Todo o conhecimento teórico vem de uma partes: preparação técnica do ator, prepara-
vasta bibliografia, em que Antunes seleciona ção da alma do ator e construção da imagem.
alguns livros para trabalhar com os atores. Anos depois, em 1987, saiu uma nova versão
Além de livros de teatro, também há livros de do seu método, com atualizações no seu tra-
filosofia e de sociologia que são usados para balho sobre a preparação do ator. Nesta nova
aumentar o potencial criativo e o repertório ar- edição há quatro capítulos: discurso cênico e
tístico dos atores, suscitando-os a pensar so- expressão corporal, programação (o traba-
bre as questões da sociedade contemporânea, lho sobre o papel e a análise do texto), gênese
assim como fazer a manutenção ideológica na (o trabalho sobre o papel, a análise do passa-
sua formação. do e do futuro do papel), ensaio de situação
Discutindo com o realismo teatral, mas atra- (quando se analisa os resultados na programa-
vés de novas ideias, Antunes propõe uma re- ção e na gênese).
leitura desta corrente teatral. Para ele, não é Para colocar o seu método em prática, An-
importante o quanto o espetáculo é realista11, tunes opta por atores jovens, onde vê a possi-
pois ele acredita que a base de todas as ações bilidade de criar não somente o novo ator, mas

11 Entrevista com o diretor. 12 Entrevista com o diretor.

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também formar seres humanos equilibrados. da personagem), causa forte influência nesta
Trabalhar com atores jovens em formação per- construção. O blues dá o repertório de movi-
mite ver que esses não possuem carimbos es- mentos, que, através da música, estimula o
tabelecidos, podendo ser moldados livremen- aluno individualmente, e a seguir com o seu
te, no objetivo de construir um novo ator. parceiro, na busca e construção do repertório
Nesta época em que funda o seu Centro de gestual, no contato e nos olhares. Com todo
Pesquisa Teatral, Antunes também abre vagas este processo, o aluno poderá aplicar tudo na
para o seu curso anual de teatro – o cptzinho. construção da cena, junto com o seu parceiro.
Podemos observar que o curso é o início da Nas aulas de voz, há o uso da ressonância
formação deste futuro ator. Antunes e os seus e da silabação, do fonemol, do uso da respira-
assistentes trabalham com os alunos num pe- ção como regulador do sentimento e do tempo
ríodo de 4 meses (atualmente), em aulas que ritmo, e o uso de sombras para o monólogo
tratam sobre o corpo, a voz, a retórica e dra- interior e a busca do mito.
maturgia, além de análise de filmes. Nos exercícios de ressonância e silabação,
O autor deste artigo observou as aulas de é de se destacar a importância no exercício da
corpo e voz, e percebeu que, nas aulas de cor- atividade do ator, além de ser um condutor do
po, há o uso de dois elementos primordiais: o fonemol. Quanto a esse, é uma língua imagi-
desequilíbrio e a respiração como regulador do nária (lembra um exercício básico do teatro,
tempo ritmo e do sentimento. O desequilíbrio a blablablação), que tem uma importância no
traz ao aluno a necessidade da comunicação exercício do ator, pois reforça a silabação na
dos contrários, assim como a imprevisibilidade busca do diálogo na criação da personagem,
do movimento e a busca do realismo da ação através da modulação da voz.
cênica. O uso da respiração é também de extrema
A respiração atua como regulador do tempo importância, regulando o tempo ritmo na fala
ritmo e do sentimento, mostrando a procura do ator, e assim como a formação do senti-
deste movimento realista, fugindo da ansieda- mento, aliado com o uso das vogais. Com um
de e fazendo a busca de um melhor domínio melhor domínio da respiração (e do tempo rit-
do aluno na sua construção da futura perso- mo), o aluno pode ter controle do monólogo
nagem. interior, na busca das sombras, resultando na
Nesta construção da personagem, posso busca do mito.
destacar as formas de acesso observadas: Durante o curso, os alunos, em duplas,
gênese, blues, filmes e exposições em geral, constroem diversas cenas usando estes ele-
assim como outros exercícios trabalhados du- mentos. Tais cenas são analisadas por uma
rante o período do curso. Os filmes (que ficam banca, primeiramente pelos assistentes, se-
à disposição dos alunos, indicados como re- guindo pelo próprio Antunes. É vista uma evo-
ferências de cenas e enredo) e as exposições lução gradual da qualidade do jogo do ator du-
(indicadas pelo próprio Antunes e seus as- rante o curso, na medida em que os elementos
sistentes) servem como fontes de repertório. acima são trabalhados. Nas suas avaliações,
A gênese, apesar da sua origem dramatúrgi- Antunes critica e faz alterações necessárias
ca (que é a análise e criação da vida anterior para melhorar a cena.

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Através de todos os resultados deste cur- seu sistema, o que já falamos anteriormente,
so, além de suas montagens, em um momento refletindo nesta conexão teoria-prática.
crucial da sua carreira, ele decide criar um mé- O método de trabalho do Prêt-à-Porter
todo que faça o ator ser independente do dire- pode ser descrito na união criativa de dois ato-
tor na sua criação. As cenas criadas dos ato- res, em que esses escolhem uma situação de
res não seriam balizadas por uma peça, mas conflito. Com o tema escolhido, eles têm uma
sim por cenas improvisadas por eles mesmos, semana para elaborar a primeira cena, ou seja,
sendo desenvolvidas com a ajuda do próprio eles escrevem e ensaiam a cena que só é o
Antunes, na figura de diretor-orientador, com esboço de um futuro trabalho que irá se es-
o objetivo de que atores iniciantes compreen- tabelecer. Ela é improvisada, pois, como não
dam e já comecem a praticar a arte dramática, há uma peça para balizar a criação, a própria
aprimorando o trabalho de interpretação e da situação cria a futura dramaturgia. A parte dra-
imaginação dos jovens atores. matúrgica é analisada nas aulas de dramatur-
E assim nasce o que Antunes chama de Prê- gia, em que o professor desta matéria analisa,
t-à-Porter13. A primeira edição do Prêt-à-Porter discute e orienta as cenas escritas que serão
acontece em 1998, quando Antunes reúne vá- levadas à cena.
rias cenas prontas pelos alunos e atores, mas Através do uso de elementos do método de
que, no processo de criação, inicialmente eram trabalho de Antunes Filho, como a programa-
improvisadas. Antunes define Prêt-à-Porter: “é ção e a gênese, os atores constroem a histó-
a busca de um novo tipo de teatro, um tea- ria com os procedimentos descritos na fase
tro da sensibilidade, no qual não existem mais inicial. A programação, neste caso, faz o ator
certezas, estereótipos e macetes, mas onde analisar a sua personagem, até que o ator che-
cada um de seus criadores está ali com suas gue em um nível de inconsciência; na gênese,
dúvidas, sua precariedade, com seus limites.” o ator continua a trabalhar sobre a persona-
(MILARÉ, 2010, p. 337). Já houve várias edi- gem, mas agora analisando o passado e o fu-
ções do Prêt-à-Porter, em que modificações turo do papel criado. Ou seja, toda a criação
foram realizadas, mas a essência de ter cenas e análise são de responsabilidade dos atores,
criadas pelos alunos e atores continuam. Devi- somente tendo a orientação de Antunes nas
do ao número de edições do seu Prêt-à-Porter apresentações.
(10), podemos julgar que é um sucesso de re- Com a cena criada, os alunos e atores de-
conhecimento pela crítica14. vem avaliar se a situação pode ocorrer, assim
Segundo o próprio Antunes, ele utiliza-se de como responder a possíveis questões geradas
todas as referências possíveis e imagináveis15, pela cena – as ações dos personagens nos pla-
influenciadas pela literatura indicada pelo dire- nos individual ou na interrelação dos mesmos.
tor, assim como os filmes e exposições, e pelo Com todas as possibilidades e questões sa-
nadas, das quais surgem durante as apresen-
13 Podemos traduzir o termo prêt-à-porter originário da língua tações, o próprio Antunes avalia a viabilidade
francesa como pronto-a-vestir.
da cena, como ele próprio fala: “e aí é que eu
14 Veja mais em https://aplausobrasil.com.br/antunes-filho- vou ver se interessa ou não. Se é interessante
-apresenta-10%C2%AA-edicao-de-pret-a-porter/.
apresentar ou não. Se alcançou o nível dese-
15 Entrevista com o diretor.

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jável de interpretação e de espetáculo... tea- criação, colocando a responsabilidade criativa


tro. Que seja teatro. Não é uma coisa qualquer. nos atores, tendo a análise posterior das cenas
Tem que ter uma estrutura, uma estrutura com construídas.
princípio, meio e fim.”16 Observando o sucesso da empreitada, Kne-
Podemos analisar ambos os sistemas de bel adapta o processo de ensaio para a sala
trabalho: os études, de Stanislavski, e o Prêt- de aula, onde o professor-orientador assume o
à-Porter, de Antunes - e ver quais são as pos- seu lado diretor-orientador. Mas agora o obje-
síveis semelhanças. tivo final não é mais a montagem de um gran-
Antes dos études, segundo o seu livro O de espetáculo, mas um exercício com provas
trabalho do ator sob o papel, Stanislavski re- semestrais, em que deve ser desenvolvida a
lata a divisão em três partes da sua carreira potencialidade criativa do futuro ator.
criativa – no início do livro, quando ele monta, Já Antunes, observando a sua carreira artís-
em 1906, a peça A Desgraça de ter Espírito, de tica, especialmente após o sucesso de Macu-
Alexander Griboedov. Primeiramente, ele lia e naíma, mostra que os seus espetáculos evo-
analisava o texto com os atores, para depois luíram cada vez mais. Em um momento crucial
irem a cena. Havia todo um trabalho de mesa da sua carreira, decide constituir o termo Prêt-
anterior, com uma análise extremamente deta- à-Porter: a partir de cenas improvisadas, das
lhada do papel, da peça e das cenas a serem quais serão constituídas para um futuro es-
trabalhadas, e que os atores deveriam seguir petáculo a ser apresentado. Neste processo,
as indicações do autor. Na sua segunda fase, como Stanislavski e Knebel, Antunes assume
no plano da montagem de Otello, em 1929, ele o papel de diretor-orientador. Como Antunes
já não buscava mais o estudo aprofundado an- não trabalha em um ambiente acadêmico, mas
terior aos ensaios. O ator não tinha mais a obri- em um ambiente teatral, ao contrário dos rus-
gação de uma leitura aprofundada do texto, e sos, ele não possui uma grande disponibilida-
ele não era obrigado a decorar ipsis litteris a de de tempo para trabalhar com os alunos (1
sua cena. Se caso o ator esquecesse do texto, ano), mas sim apenas alguns meses para mon-
Stanislavski sopraria o texto para o ator, como tar o espetáculo. A questão da avaliação fica
se fosse o ponto. Mas a ideia não era fazer o somente na mão do Antunes. Assim como os
ator seguir o ponto, sendo tal recurso usado russos, há o foco de desenvolver a potenciali-
somente nos ensaios. Assim que o ator tivesse dade criativa do futuro ator, preparando-o para
o domínio do texto, gradualmente tal hábito ia a montagem de um espetáculo.
desaparecendo. Nas universidades russas, o aluno tem a li-
Até que Stanislavski chega nos études, no berdade de fazer quantos études quiser, desde
seu trabalho sob a peça O Inspetor Geral, de que ele dê conta, ao longo do semestre. Como
Nikolai Gogol, entre 1936 a 1937, em que ele já dissemos anteriormente, as cenas criadas
mesmo define como a real sensação da vida ao longo do semestre podem ser aproveitadas
da peça e do papel (STANISLAVSKI, 1957, p. ou não, chegando no ensaio geral apenas um
311), mostra a total mudança no seu estilo de número reduzido de cenas a serem escolhidas
para a prova pública.

16 Entrevista com o diretor.

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No trabalho com Antunes, os alunos têm de trabalho: estudo da dialética, teoria da pro-
uma semana para criar a cena. Depois, Antu- babilidade, física quântica, religiões orientais,
nes vai desenvolvendo-as ao longo do tempo, equilíbrio/desequilíbrio (com o yin/yang) e ar-
até chegar as apresentações em um futuro es- quétipos coletivos. Usa elementos da arte mo-
petáculo, em que ele reúne as cenas desenvol- derna e contemporânea, assim como o uso do
vidas neste período. cinema e das artes visuais. Por fazer teatro em
Quanto aos études, o sistema de trabalho é uma época contemporânea, ele tem a liberda-
baseado em termos próprios para sistematizar de de seguir várias correntes artísticas.
todo o processo de trabalho. Tais termos são Os études foram uma criação de Stanislavs-
oriundos do sistema das ações físicas, como o ki, em um momento decisivo da sua carreira,
se, as circunstâncias propostas, o objetivo, baseados em estudos e resultados que pos-
o superobjetivo, e outros. Mais tarde, novos sibilitaram ao ator a sua criação das ações da
termos foram adicionados por Knebel. personagem. Podemos entender como a últi-
O sistema de trabalho de Antunes foi de- ma atualização do seu sistema de trabalho. Já
senvolvido e orientado por ele mesmo, a partir o Prêt-à-Porter, também foi criado por Antu-
das suas pesquisas pessoais oriundas de vá- nes em um momento crucial da sua carreira,
rias fontes. Nestas fontes podemos observar e, também foi uma evolução do seu trabalho.
que há uma preocupação maior em relação à Stanislavski foi pioneiro porque, junto com
ideologia do ator. Nemirovitch-Dantchenko, quando ambos fun-
No caso de Stanislavski, ele coloca elemen- daram o Teatro de Arte de Moscou, no fim do
tos filosóficos em desenvolvimento na sua épo- século XIX, deram uma resposta às mazelas
ca (início do século XX), como o inconsciente. do ator naquele tempo: o melodrama, com os
Para fazer o ator chegar ao inconsciente, uti- seus movimentos exagerados e não críveis;
liza com os atores elementos do seu sistema: e ao diletantismo no trabalho do ator, ligado
o se, o superobjetivo e as circunstâncias pro- à figura do primeiro ator que havia na época.
postas, assim como a análise do papel, atra- Com o realismo em cena – tendência artísti-
vés do estudo aprofundado da personagem. ca em voga naquele tempo – tinha como ob-
Elementos do realismo que estavam em voga jetivo a busca da verossimilhança. Tanto para
na sua época, como a necessidade de retratar os atores, quanto para o espectador, Stanis-
a vida fielmente como ela é, são refletidos nos lavski consolida e moderniza todo um sistema
estudos das ações de cada papel, chegando de atuação, que evoluiria ao longo dos anos,
até os detalhes mínimos. chegando a fase final da sua carreira nos étu-
Com Antunes, esse já faz a releitura do tea- des, uma criação original sua. Podemos ob-
tro com uma filosofia que reflete a sua época servar que os études podem ser considerados
(especialmente a segunda metade do século a renovação da renovação do seu sistema. A
XX e o início do século atual), tanto na análi- primeira em 1898, a segunda, nos anos 1930.
se do personagem e da peça, para chegar a Ambos os diretores citados acima tiveram su-
uma nova forma de representação, com ele- cesso na empreitada, tanto na fundação do
mentos que se desenvolveram ao longo deste teatro, quanto no trabalho do ator, e até hoje
período. Assim, ele sistematizou o seu sistema o seu sistema é usado em larga escala em

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todo o mundo. Podemos deduzir o desconhecimento pelo


Podemos comparar o momento de Stanis- fato que Kusnet também não conhecia o ter-
lavski no fim do século XIX, de forma rude, mo na escola teatral russa, e, provavelmente
com a renovação teatral de Antunes contra o traduziu-o apenas como estudos, sem o signi-
falso naturalismo. Apesar de terem agidos em ficado real de Stanislavski.
épocas e culturas diversas, ambos os diretores Para concluir, podemos considerar que o
tinham como sentido o fim do diletantismo e Prêt-à-Porter é uma criação de Antunes, mas,
da falsa atuação. Se fossemos colocar quem involuntariamente, é uma variação dos études
fez a renovação do teatro brasileiro, podemos stanislavskianos, pois os métodos de trabalho
considerar que foi Ziembinski, com a célebre são praticamente similares, mas Antunes adi-
montagem de Vestido de Noiva, em 1943, em ciona as suas ideias provenientes da sua expe-
que trouxe não apenas o combate às mazelas riência artística, das quais, uma boa parte não
do ator brasileiro daquela época, mas como havia no fim do século XIX.
revolucionou no trabalho do jogo do ator. Ain- Com o rápido andar da sociedade contem-
da assim, podemos observar que Antunes é porânea, o método de trabalho stanislavskiano
a evolução desta renovação, iniciada pelo di- proporciona abertura para constantes evolu-
retor polonês no teatro brasileiro, pois o Prêt- ções, possibilitando artistas a refletirem a so-
à-porter, ou algo parecido, não foi usado por ciedade em que eles vivem, pois é um objetivo
Ziembinski. Antunes admite que não conhece tanto de Stanislavski – quando queria que o
o termo étude, mesmo com a leitura dos livros ator imitasse a natureza verdadeira –, quanto
originais russos, feita por Eugenio Kusnet. Os de Antunes – que quer sair do falso natura-
livros russos de Stanislavski, ao contrário das lismo. Aos próximos que seguirão, não tenha-
traduções vendidas no Brasil, que são origina- mos dúvidas que o objetivo será o mesmo: de
das da versão americana e que não seguem tentar entender e refletir uma sociedade em
totalmente os livros originais, deixam de mos- constante mutação, sempre levando a verda-
trar várias partes de grande importância na de.
formação do ator teatral. Uma destas partes
é justamente a criação e como Stanislavski
usava os études no seu processo de trabalho
com os atores, em que ele descreve através Referências
de ensaios. Mesmo para quem saiba a língua
russa, mas não conheça a escola russa teatral, FARIA, João. História do teatro brasileiro. São
a leitura pode ficar comprometida, devido ao Paulo: SESCSP, 2013.
desconhecimento dos termos do sistema ali
descritos. FERNANDES, Michel. Antunes Filho apresen-
A tradução recente de livros de Maria Knebel ta 10a edição de pret-a-porter. Disponível em:
para o português auxilia no entendimento des- <https://aplausobrasil.com.br/antunes-filho-
te conceito de étude e do Método das Ações -apresenta-10%C2%AA-edicao-de-pret-a-
Físicas. Mas essas traduções foram feitas re- -porter/>. Acesso em 11 jul. 2018.
centemente, e resultados demorarão a surgir.

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Recebido: 31/05/2018
Aprovado: 31/08/2018

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