Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Aquelas vidas que se cruzaram por um
momento, cruzamentos provocados por um
inesperado acontecimento, elas são tão frágeis
e solitárias que causam uma dor profunda
naqueles que as percebem enquanto tal.
Não interessa se sapos caem do céu e as
coincidências perturbadoras prosseguem
indefinidamente. As pessoas continuarão
traindo, amando, morrendo, sofrendo e
gozando. Elas encontrarão seus momentos de
epifanias na frente da TV ou diante de altares
policromados (ou não exatamente), isso não faz
a menor diferença. Seguirão incrédulos,
esperando um pôr-do-sol sem metafísica no
horizonte de soja transgênica e aquela trilha
sonora da novela das 8 (ou de alguma série
modinha da Netflix, pouco importa).
O absurdo da vida só causa espanto
quando não vemos sapos voando por aí.
Eu, por exemplo, só tenho acreditado
neles, nos sapos que caem dos céus em dias
nublados e com 82% de chance de chuva.
Não sei exatamente porque, mas vendo a
atuação de Cruise, acabo por rever alguns
paradigmas e ignorar tantos outros. Talvez,
Magnólia tenha sido o primeiro filme com ele
que levei à sério. Sua primeira atuação que me
convenceu, eu acho. Mas não sei qual o
significado disso, tampouco consigo vê-lo com
o espírito devidamente preparado. Apenas
arrisco alguns palpites antes que seja tarde
demais.
A trilha é muito boa, com a cantora Aimee
Mann compondo especialmente para o filme.
Nem dá para imaginar como outro artista teria
conseguido fazer canções que funcionassem tão
bem, orgânicamente, com toda a trama.
Em poucos frases nem dá pra falar de
Magnólia, afinal, Paul Thomas Anderson armou
um enredo pra lá de intrincado. Na verdade,
trata-se de um longa-metragem de histórias
curtas, entrelaçadas, só que é mais que isso. É
claro que a presença do Tom Cruise centra nele
boa parte da ação cênica, supõem-se, de
antemão, mas isso é pura ilusão. A
fragmentação se acelera e os cruzamentos de
vidas em frenesi se tornam o personagem
principal.
O policial em suas rondas diárias e o
empenho em fazer um bom trabalho; o
apresentador de quiz show e os problemas com
a filha viciada; o filho usado pelo pai em
programas de TV de perguntas-e-respostas; o
frustrado vendedor que foi usado pelos pais nos
antigos programas de TV; a mulher que casou
por interesse mas, com o marido moribundo,
descobre que o ama e se arrepende de tantas
traições; o escritor e performer que aconselha
homens a como lidar e dominar suas “garotas
em potencial”; a jornalista que entrevista o
performer e desvenda seus segredos, etc.. Esse
jogo intricado encontra antecedentes em uma
sequência de coincidências de perder o fôlego,
nos primeiros cinco minutos que antecem a
trilha.
Magnólia é uma espécie de
montanha-russa narrativa, em suas quase três
horas de duração. Entretanto, vale a pena o
investimento, podecrê.