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Resumo Abstract
A crescente competitividade do mercado da enge- The competitive trends of the civil engineering
nharia civil tem induzido projetistas de estruturas a de- market have long been forcing structural engineers to
senvolverem sistemas estruturais compostos por peças develop minimum weight and labor cost solutions. A
mais leves e com menor custo final. A conseqüência dire- direct consequence of this new design trend is a
ta dessa filosofia de projeto foi o aumento considerável considerable increase in floor vibration problems. The
dos problemas de vibrações em pisos. Assim sendo, o main objective of this paper is to present an analysis
principal objetivo desse trabalho é o de desenvolver uma methodology to evaluate the composite floor’s human
metodologia de análise para avaliação do conforto huma- comfort criteria, considering a more realistic loading
no em pisos de edificações, com base em modelos de model incorporating the dynamic effects induced by
carregamento representativos do caminhar das pessoas. people walking. The investigated models were based
Os modelos estruturais foram compostos por pisos mis- on floors, with main spans varying from 5m to 10m. Based
tos com vão variando de 5,0m a 10,0m. Um estudo para- on an extensive parametric study the composite floors
métrico extenso foi desenvolvido e os resultados, com dynamic response was obtained and compared to
base nos valores das acelerações de pico, foram compa- limiting values proposed by several authors and design
rados com valores-limites propostos por diversos auto- standards. The results of the present study indicated
res e normas de projeto. Os resultados encontrados indi- that the walking loads could induce the composite floors
caram que a ação do caminhar das pessoas pode vir a to reach significant vibration levels implying and
gerar níveis elevados de vibração sobre os pisos, não violating the human comfort criteria.
satisfazendo os critérios de conforto humano.
Keywords: Composite floor, steel structures, structural
Palavras-chave: Pisos mistos, estruturas de aço, dynamics, computational modeling.
dinâmica estrutural, modelagem computacional.
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Antonio Vicente de Almeida Mello et al.
ciada a uma caminhada com freqüência
do passo fp = 1,856 Hz.
F(t) = P[1 + Σ αi cos(2πifpt + Φi] (1)
Onde:
P: peso do ser humano tomado igual a
700 N.
αi : coeficiente dinâmico para a compo-
nente da força harmônica i.
i : múltiplo do harmônico da freqüência
do passo.
fp: freqüência do passo ou freqüência da
excitação.
t : tempo.
Φi : ângulo de fase do harmônico i.
Esse modelo de carregamento ob-
jetiva simular, de maneira mais realista, a Figura 1 - Função de carregamento dinâmico: fp = 1,856 Hz.
ação dinâmica gerada durante a caminha-
da. Nessa situação, a posição do ser hu- Tabela 1 - Características da caminhada humana (Bachmann & Ammann,1987).
mano é alterada ao longo do tempo. Por-
tanto a função de tempo gerada para re-
presentar a caminhada do ser humano
apresenta uma descrição temporal e es-
pacial da carga, como mostrado na Figu-
ra 1.
Para a representação da variação
espacial da carga, a ação dinâmica será
aplicada sobre o modelo estrutural de
Tabela 2 - Freqüência da excitação (f p) e coeficiente dinâmico ( α i ) (Murray et al.,
um piso genérico, diretamente no nó de 1997).
um determinado elemento finito, duran-
te certo intervalo de tempo. Todavia, para
um melhor entendimento desse modelo,
faz-se necessário estudar outros parâ-
metros neste tipo de modelagem como a
distância e a velocidade do passo. Es-
ses parâmetros estão associados à fre-
qüência do passo e são ilustrados na
Tabela 1 (Bachmann & Ammann, 1987).
A excitação dinâmica associada ao cami-
nhar do ser humano sobre o piso é obti-
da mediante o emprego da equação (1),
Figura 1, e quatro harmônicos são em- obtida com a aplicação dos quatros a 0,69 m, Tabela 1. O período do passo é
pregados para gerar a função de carre- harmônicos representativos do cami- igual a 1/fp = 1/1,856 Hz = 0,5388 s, cor-
gamento. (Tabela 2). nhar (4 x 1,856 Hz = 7,424 Hz) e a parcela respondente a uma distância de 0,69 m.
Considera-se, como exemplo, um estática devido ao peso do pedestre, de Adotando-se uma malha de elementos
piso misto com freqüência fundamental acordo com a Equação (1) e Figura 1. finitos com elementos com um compri-
de 7,424 Hz e uma freqüência do passo A metodologia de análise conside- mento de 0,23 m, Figura 2, para represen-
igual a 1,856 Hz. Nesse caso, a condição ra que a distância do passo, associada à tar um passo humano sobre o piso, são
de ressonância do modelo estrutural é freqüência do passo de 1,856 Hz, é igual necessárias três cargas. Desse modo,
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cada uma dessas ações dinâmicas P1, P2 e P3 devem ser aplicadas durante
0,5388/3 = 0,1796 s, Figura 2.
Convém ressaltar que a força dinâmica não é aplicada simultaneamente. A carga
P1 é aplicada durante 0,1796 s e, no fim deste período, P1 passa a assumir um valor
nulo e, logo em seguida, a carga P2 é aplicada por 0,1796 s. Esse processo ocorre
sucessivamente, ao longo do tempo, e a força dinâmica associada ao caminhar do
ser humano é aplicada ao longo de todo o piso. (Figura 2).
⎛ nh ⎞
⎧⎛ f F − P ⎞
∑
Fm = P⎜1 + α i ⎟
⎜ ⎟ (3)
⎝ i =1 ⎠
⎪⎜ mi m ⎟ t + P ; se 0 ≤ t < 0,04 Tp
⎪⎜⎝ 0,04 Tp ⎟⎠ ⎛ 1 ⎞
⎪ C1 = ⎜⎜ − 1⎟⎟ (4)
⎪ ⎝ f mi ⎠
⎪ ⎡ ( ) ⎤
⎪f F ⎢ C1 t − 0,04 Tp + 1⎥ ; se 0,04 T ≤ t < 0,06 T ⎧P(1 − α 2 ); se nh = 3
⎪ mi m ⎢ 0,02 Tp ⎥⎦
p p
C2 = ⎨
⎣
⎩P(1 − α 2 + α 4 ); se nh = 4
⎪ (5)
⎪
⎪ De acordo com Varela (2004), a fun-
F( t ) = ⎨Fm ; se 0,06 Tp ≤ t < 0,15 Tp
⎪ ção matemática proposta, Equações (2)
⎪ a (5), utilizada para representar a carga
⎪
[ ( ) ]
nh dinâmica produzida por uma pessoa ca-
∑
(2)
⎪P + P α sen 2 π i f c t + 0,1 Tp + φi ; se 0,15 Tp ≤ t < 0,90 Tp minhando sobre um piso, não é simu-
⎪ i =1
⎪ lada simplesmente por uma série de Fou-
⎪ rier, pois essas equações incorporam,
⎪ ⎛ ⎞ também, em sua formulação, o pico tran-
⎪10 (P − C ) ⎜ t − 1⎟ + P ; se 0,90 T ≤ t < T siente representativo do impacto do cal-
2 ⎜ ⎟
⎪ p p
⎩ ⎝ Tp ⎠ canhar sobre o piso. (Figura 3).
Na presente investigação, adota-
se, para o fator de amplificação do im-
Onde:
pacto do calcanhar humano, o valor de
Fm : valor máximo da série de Fourier, dado pela Eq. (3). 1,12 (fmi = 1,12), (Varela, 2004). Todavia
deve-se ressaltar que esse valor de 1,12
fmi : fator de majoração do impacto do calcanhar (fmi = 1,12).
varia de pessoa para pessoa e que esse
Tp : período do passo. coeficiente merece um estudo mais apro-
C1 : coeficiente dado pela Eq. (4). fundado. A Figura 4 apresenta o gráfico
da função de carregamento para uma
C2 : coeficiente dado pela Eq. (5). pessoa caminhando com uma freqüên-
cia de passo igual a 1,856 Hz.
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3. Modelo estrutural
investigado
O modelo estrutural estudado con-
siste em um piso misto (aço-concreto),
Murray et al. (1997), onde a influência da
rigidez real das colunas de aço é consi-
derada na análise. As colunas de aço
apresentam altura de 5m com caracterís-
ticas descritas na Tabela 3.
No que tange à análise paramétri-
ca, ressalta-se que o sistema estrutural
adotado para o piso é o mesmo em todos
os casos. Contudo o vão denominado
de “Lj” é modificado (ver Figura 5) com
variação de 5 m até 10 m (de 0,5 m em 0,5
m). Já o vão denominado de “Lg” é man-
tido constante e igual a 9 m, como mos-
trado na Figura 5. O espaçamento entre
as vigas secundárias também é mantido
constante e igual a 3 m (Figura 7). As
vigas principais e secundárias são for-
madas por perfis soldados da série VS,
de acordo com a Tabela 3.
Os perfis metálicos do tipo “I” são
constituídos por um aço com limite de
escoamento de 300 MPa. Para as vigas
de aço, foi considerado um módulo de
elasticidade igual a 200 GPa, coeficiente Figura 3 - Força de contato de um passo e reação do piso (Varela, 2004).
de Poisson de 0,3 e massa específica igual
a 7850 Kg/m³. A laje de concreto possui
espessura de 0,15 m, resistência caracte-
rística à compressão de 30 MPa, módulo
de elasticidade igual a 24 GPa, coeficien-
te de Poisson de 0,1 e massa específica
igual a 2550 kg/m³. As Figuras 5 e 6 apre-
sentam o modelo estrutural usado nesse
estudo, bem como a seção transversal
genérica do piso, respectivamente.
4. Modelo em
elementos finitos
Os modelos computacionais foram
gerados usando-se técnicas usuais de
discretização, via método dos elemen-
tos finitos, com o programa ANSYS
(ANSYS, 1998). No presente modelo, as
vigas e as colunas são simuladas por
elementos finitos tridimensionais, onde
são considerados os efeitos de flexão e
de torção. A laje de concreto é simulada
por meio de elementos finitos de casca, Figura 4 - Função de carregamento dinâmico: f p = 1,856 Hz.
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Tabela 3 - Características geométricas (em mm) do piso misto.
5. Análise dinâmica
A resposta dinâmica dos pisos mis-
tos é determinada mediante a obtenção
das freqüências naturais, deslocamen-
tos, velocidades e acelerações para cada
modelo estrutural. Os resultados são
obtidos através de uma análise paramé-
trica extensa, com base no método dos
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elementos finitos, utilizando o programa Tabela 4 - Freqüências naturais do modelo de piso com L j = 7,0 m.
ANSYS (ANSYS, 1998).
Com o objetivo de se verificarem,
quantitativa e qualitativamente, os resul-
tados, foram obtidos os valores das ace-
lerações máximas dos modelos (pico)
para comparação com os critérios asso-
ciados ao conforto humano presentes
em recomendações técnicas disponíveis
sobre o assunto, (Murray et al., 1997),
(ISO 2631/2, 1989).
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Estudo do conforto humano em pisos mistos (aço-concreto)
sos ainda mais suscetíveis às excitações Tabela 5 - Freqüências naturais dos pisos com a variação do vão.
dinâmicas induzidas pelos seres huma-
nos.
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de estruturas. Deve-se ressaltar, ainda, pacto do calcanhar humano sobre o piso, siente do impacto do calcanhar humano
que os modelos de carregamento usa- produz níveis bastante elevados de ace- (modelo II), as acelerações de pico en-
dos nesse estudo são próximos da reali- leração, onde grande parte desses valo- contram-se em patamares bastante ele-
dade, pois consideram a variação espa- res são superiores aos encontrados com vados. Evidentemente, esses resultados
cial e temporal da carga dinâmica. a aplicação do modelo de carregamento apontam para a consideração do efeito
Os modelos de carregamento I e II I, nas duas direções (caminhos 1 e 2), do impacto do calcanhar das pessoas
apresentam valores de acelerações ele- sendo, também, maiores que aqueles pre- sobre os pisos, quando da análise dinâ-
vados, no que diz respeito a todos os vistos pela literatura técnica (Murray et mica desse tipo de estrutura.
pisos analisados (Tabela 6). Tal situação al., 1997), inclusive violando os critérios
Os resultados encontrados, no pre-
indica que, quando a posição da carga de conforto humano (ISO 2631-2, 1989).
sente trabalho, sugerem a continuação
dinâmica, correspondente à excitação Tal fato demonstra, claramente, que o
da pesquisa com base no desenvolvi-
induzida pelo caminhar das pessoas, é impacto da queda do calcanhar sobre o
mento de uma nova análise paramétrica,
alterada, de acordo com a posição do piso deve ser considerado para análise
através da modificação de determinados
individuo, há um aumento substancial do conforto humano desse tipo de es-
parâmetros de projeto, tais como: fator
na resposta dinâmica dos pisos mistos. trutura.
de majoração do impacto do calcanhar,
Verifica-se que, quando o modelo espessura da laje, amortecimento estru-
de carregamento II é aplicado sobre os tural, rigidez da ligação viga-coluna, ca-
pisos mistos investigados, usando o fa-
6. Conclusões racterísticas geométricas das seções
tor de majoração do impacto do calca- Essa investigação apresenta uma transversais das vigas do piso, variação
nhar igual a 1,12 (fmi = 1,12) (Varela, 2004), contribuição desenvolvida para se ava- do pé direito das colunas e do tipo de
os valores das acelerações de pico são, liar o comportamento estrutural de pisos sistema estrutural.
praticamente, da mesma ordem de gran- mistos submetidos a excitações dinâmi-
deza que os gerados com a aplicação do cas associadas ao caminhar de pessoas.
modelo de carregamento I (Tabela 6). A metodologia de análise considera o 7. Referências
estudo do comportamento dinâmico li-
Como mencionado anteriormente, o bibliográficas
near em regime de serviço de pisos mis-
fator de majoração do impacto do calca- ANSYS, Swanson analysis systems, Inc., P.O.
tos. Assim sendo, foi possível avaliar-se Box 65, Johnson Road, Houston, PA,
nhar (fmi = 1,12), (Varela, 2004), deve ter o
seu valor modificado mediante uma aná- o nível de vibração dos pisos, quando 15342-0065, version 5.5, Basic analysis
submetidos ao caminhar de pessoas, com procedures, Second edition, 1998.
lise paramétrica extensa, de forma a se BACHMANN, H., AMMANN, W.
obter uma visão mais global dos mode- base na obtenção da resposta dinâmica
Vibrations in structures induced by man
los de carregamento I e II. Contudo os dos modelos, principalmente, em termos
and machines, IABSE Structural
autores ressaltam a importância de que das acelerações máximas. Engineering Document 3E,
o impacto da queda do calcanhar sobre International Association for Bridges and
Convém ressaltar que os picos de
Structural Engineering, ISBN 3-85748-
o piso deve ser considerado, sem som- aceleração obtidos via aplicação dos 052-X, 1987.
bra de dúvida, na análise de conforto modelos de carregamento I e II são sem- CHEN, Y. Finite element analysis for walking
humano. pre superiores àqueles fornecidos pelos vibration problems for composite precast
procedimentos simplificados de guias building floors using ADINA: modeling,
Nota-se que o limite da norma simulation, and comparison, Computers
(ISO 2631-2, 1989) é ultrapassado, quan- práticos de projeto utilizados corrente-
& Structures, v. 72, p. 109-126, 1999.
do são consideradas as acelerações de mente (Murray et al., 1997). Por outro FAISCA, R. G. Caracterização de cargas
pico geradas a partir dos modelos de car- lado, esses valores de pico encontram- dinâmicas geradas por atividades
regamento desenvolvidos. Isto deve ser se bem acima das normas de projeto humanas. Rio deJaneiro, Rj, Brasil:
(ISO 2631-2, 1989). Esse quadro pode ser COPPE/UFRJ, 2003. (Tese de Doutorado).
levado em consideração, no que tange
International Standards Organisation / ISO
aos critérios de conforto humano, pois a um indicativo de que os critérios simpli-
2631-2, Evaluation of human exposure
modelagem da carga móvel apresenta- ficados de projeto devem ser emprega- to whole-body vibration. Continuous
se como uma alternativa mais realista da dos com cautela. and shock-induced vibration in
ação dinâmica humana gerada, ao longo buildings (1-80Hz), 1989.
Com base nos resultados obtidos MELLO, A.V. de A. Vibrações em pisos de
do tempo, durante a caminhada. ao longo da investigação, observa-se edificações induzidas por atividades
O modelo de carregamento II, que que, a partir do emprego do modelo de humanas. Rio de Janeiro: Programa de
inclui o pico transiente gerado pelo im- carregamento que incorpora o efeito tran- Pós-Graduação em Engenharia Civil,
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Estudo do conforto humano em pisos mistos (aço-concreto)
PGECIV, Faculdade de Engenharia, FEN, MOREIRA, B. C. Avaliação comparativa de pisos de edificações em estrutura metálica
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MELLO, A.V. de A., SILVA J.G.S. da, LIMA de Mestrado).
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Artigo recebido em 24/11/2006 e aprovado em 28/11/2006.
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