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Até o final dos anos 1970, arqueólogos norte-americanos acreditavam que a América do Norte havia
sido povoada, há mais de 15.000 anos, por bandos de caçadores provenientes da Ásia. De acordo
com essa teoria, esses bandos, em busca de caça, teriam atravessado o estreito de Bering – entre a
Sibéria, na Rússia, e o Alasca, nos Estados Unidos. Naquela época, devido ao fenômeno da glaciação,
esse estreito formava uma ponte de gelo. Dali, os grupos de caçadores teriam se espalhado por todo
o continente americano, até chegar ao Brasil, há cerca de 12.000 anos.
Essa teoria foi muito questionada por arqueólogos que afirmam que o povoamento do continente
americano ocorreu em um passado muito mais distante. Por exemplo, foram descobertos no Piauí
vestígios de presença humana que datam de, no mínimo, 32.000 anos. Algumas descobertas revelam
que esse tempo pode chegar a 56.000 anos. Pesquisas conduzidas em Goiás revelaram a existência
de restos de moluscos e de carvão que chegam a 43.000 anos.
Fora do Brasil, descobertas arqueológicas indicam que a ocupação humana do continente americana
é mais antiga do que se estimava. No Alasca, as descobertas revelam a presença do homem há
aproximadamente 37.000 anos e no Chile, 33.000 anos. Isso indica que os primeiros caçadores
asiáticos passaram pelo estreito de Bering há 70.000 anos, não 18.000.
Há, porém, outra hipótese, pesquisada por cientistas da Universidade do Pará: a de que a América
do Sul foi povoada por nativos das ilhas do Pacífico. De acordo com essa teoria, há algumas dezenas
de milhares de anos, eles atravessaram o oceano em pequenas embarcações até alcançar a costa
sul-americana.
Os achados mais antigos datam de quase 50.000 anos. Indicam que, naquela época, o homem vivia
em pequenos bandos de caçadores e coletores nômades. Viviam exclusivamente da caça e da coleta
de frutas e raízes. Caçavam principalmente animais de grande porte. Os fósseis de animais
encontrados junto aos vestígios humanos do Piauí são de cavalos, tatus gigantes, lagartos e
capivaras.
O clima da região era úmido. Os fósseis de plantas revelam que essa região do Nordeste brasileiro,
que é atualmente desértica, era recoberta por uma densa floresta tropical.
Há cerca de 17.000 anos, os homens que aí viviam começaram a fazer pinturas nas paredes de seus
abrigos naturais. As pinturas representavam animais, plantas e atividades humanas: a caça, a guerra,
o nascimento e as festas.
Por volta de 3.000 anos atrás, os antigos habitantes do Piauí descobriram a agricultura e a cerâmica.
Eles se organizaram em comunidades permanentes, semelhantes às aldeias indígenas que os
portugueses encontraram quando chegaram ao Brasil.
Os vasos de cerâmica dos marajoara, decorados com pinturas de cores variadas, foram difundidos
por toda a Amazônia. A cultura marajoara desapareceu por volta do ano 1350 – antes da chegada
dos portugueses ao Brasil. Acredita-se que tenham sido expulsos ou absorvidos por outros povos.
Há cerca de dois mil anos atrás, viveu em áreas entre os estados de São Paulo e Rio Grande do
Norte, um povo conhecido como os aratus. Eles conheciam a tecelagem e foram os originários dos
atuais bororos, caiapós e xavantes.
Por volta de 5.000 anos atrás, essas populações se deslocaram para o vale do rio Tietê. Nas
comunidades do Tietê, os homens se dedicavam à caça e à produção de armas – pontas de lanças e
fleches feitas de pedras lascadas. As mulheres coletavam raízes e coquinhos e preparavam os
alimentos em fogões de pedra.
Cerca de 4.000 anos mais tarde, os povos que ocupavam o Oeste paulista aprenderam a trabalhar
com cerâmica. O barro que advinha dos rios era utilizado para confeccionar potes e urnas funerárias.
Foram os ancestrais dos indígenas que deram os nomes dos atuais municípios da região: Sarutaiá,
Piraju, Tejupá, Narandiba e Itapeva.
Os indígenas do litoral
Há aproximadamente 8.000 anos, os povos do interior do Brasil chegaram ao litoral. Nessa época,
houve o rebaixamento do nível do mar, que facilitou a fixação desses povos ao longo da costa, pois
passou a haver peixes e moluscos em abundância, além da caça e coleta.
Esses montes são denominados sambaquis – palavra de origem indígena que significa “colina de
conchas”. A maioria deles mede entre cinco e seis metros de altura, mas alguns chegavam a medir
30 metros. Nos sambaquis – verdadeiros tesouros para os arqueólogos – foram encontrados armas,
ferramentas, instrumentos, sepulturas e esqueletos humanos. Os sambaquis são uma fonte de
informação sobre o modo de vida dos antigos habitantes do litoral brasileiro. Infelizmente, a maioria
deles foi destruída pelos colonizados europeus e transformada em cal para construção.
Os sambaquis se concentram no litoral sul, entre os estados do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
Sabe-se que essas comunidades tinham entre 100 e 150 habitantes. Os habitantes dos sambaquis
enfeitavam-se com colares de conchas, brincos e braceletes de ossos. Também faziam esculturas de
animais – peixes, répteis e aves – provavelmente com algum objetivo religioso.
Os povos dos sambaquis desapareceram há aproximadamente 3.000 anos. Foram desalojados pelas
tribos de índios tupi-guarani vindas do interior. Os portugueses que se estabeleceram em São
Vicente e nos arredores, a partir de 1530, reutilizaram as conchas dos sambaquis para fabricar cal,
com o qual construíram igrejas, fortes e solares.
A partir de então, tornou-se necessário estabelecer uma nova divisão social de trabalho. As
mulheres cultivavam a mandioca, o cará, a batata-doce, a abóbora, o milho, o feijão e o amendoim.
Também cozinhavam, cuidavam das crianças e produziam o artesanato doméstico.
As terras cultiváveis pertenciam a todos. O mesmo ocorria com os rios, as florestas e os campos
onde caçavam. Tudo o que se obtinha era dividido igualmente entre os membros da comunidade.
De acordo com o critério do tipo físico, os antropólogos afirmam que os índios brasileiros pertencem
à mesma origem dos chineses, japoneses e outros povos orientais.
O critério das diferenças culturais fundamenta-se na ideia de que mesmo as tribos indígenas que
pertençam ao mesmo grupo linguístico são diferentes em muitos aspectos culturais. Por outro lado,
tribos que falem línguas diferentes podem possuir costumes semelhantes devido ao fato de viverem
em regiões vizinhas.