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DISCUSSÕES PERTINENTES.
RESUMO
A Educação oferecida nas Escolas Estaduais para o Ensino Fundamental possui
atualmente como principal material o Livro Didático, principalmente no que tange a
disciplina de História. Este, por sua vez, é distribuído gratuitamente aos alunos e
docentes, onde é um instrumento essencial para o aporte teórico das aulas ministradas.
Sendo assim, este trabalho deseja efetuar algumas discussões que possuem como foco o
Livro Didático de História inserido no Ensino Fundamental, tomando como suporte
uma coleção didática utilizada pelas Escolas Estaduais de Presidente Prudente, do sexto
ao nono ano respectivamente. Para isso, contempla-se também algumas denominações
sobre o que é o Livro Didático, principalmente os exemplares de História, que,
apresentam uma forte carga ideológica influenciadora não só na forma como os
conteúdos são dispostos nos textos didáticos, mas, em relação aos saberes rumo a
criticidade e a formação para a cidadania. Adota-se como metodologia uma análise
sobre o conteúdo presente na coleção determinada aos alunos do sexto ao nono ano,
buscando-se a visualização de até que ponto esses conteúdos presentes nos textos
didáticos de História, com uma ideologia presente, podem modificar o ensino de
História. Como área do saber espera-se que por meio da âncora oferecida pelo livro
didático de história, as aulas sejam direcionadas para uma reflexão sobre os mecanismos
dominantes que contribuem para o desenvolvimento dos relacionamentos sociais, assim
como as ações de exclusão e dominação, que surgem em nossos conteúdos didáticos e
estabelecem uma única vertente, sem a perspectiva de modificações ao longo de uma
aprendizagem. Por meio de um trabalho com uma amostra da coleção elegida, pode-se
perceber a abordagem de temas que contemplam desde a História do mundo, primeiras
navegações, História do Brasil e perspectivas para o novo século, porém, a presença de
capítulos fragmentados, grandes figuras e poucas perspectivas de contato com outras
informações a respeito dos temas. O que se percebe também é que, o fragmento desta
coleção até então analisada mostra para profº e aluno formas bem compactas de se
estudar um determinado momento da História, seja ela no âmbito macro ou micro,
necessitando de memorização para uma suposta aprendizagem, percebendo-se a
presença da ideologia subjacente.Com o desenvolvimento de uma primeira amostra da
coleção didática, pode-se constatar parcialmente a presença de uma forte carga
ideológica presente na estrutura dos textos, influenciando na apresentação dos temas e
distanciando-se de um material que deveria proporcionar aos discentes e docentes,
reflexão e formação para a cidadania.
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Para uma melhor compreensão, este trabalho será apresentado em alguns tópicos
específicos que giram em torno do livro didático de História, seguindo em um primeiro
momento uma breve discussão histórica embasada em dados do Ministério da Educação
sobre a trajetória do livro didático no século XX e início do século XXI. Após esta
exposição, discutiremos no que consiste o livro didático de história e alguns pontos que
enfatizam-no dentro do Ensino Fundamental, apreciando num terceiro ponto também o
que esses livros de história utilizados nas escolas estaduais oferecem tanto a docentes
como a discentes respectivamente, com exemplos extraídos de uma coleção didática
para as aulas de História.
Por fim, teceremos alguns pontos sobre o livro didático de História e seus
parceiros de trabalho, que são os outros materiais existentes a disposição das aulas,
como, por exemplo, os exemplares paradidáticos, filmes, artigos específicos,
ponderando a presença deles não só na cidade de Presidente Prudente, mas em todo o
mundo, atrelados as modificações que a História sofre ao longo das ações do homem e
de seus conhecimentos.
ligação com suas pesquisas e uma linguagem extremamente acadêmica, passa a ser mais
coloquial e simplificada, atendendo aos programas pré-determinados e a uma clientela
que necessita do contato com os conteúdos históricos, mas de uma maneira simplificada
e acessível.
Diante de uma retrospectiva histórica, nos voltemos agora para o que se constitui
realmente o Livro Didático, sempre em conexão aos exemplares para as aulas de
História, sem deixar de mencionar os professores e alunos que utilizam esses materiais.
De acordo com Décio Gatti Junior (2004), os Livros Didáticos são “objetos da
cultura escolar”, sendo ainda uma amostra das relações culturais vivenciadas nas
escolas, que colaboram no cenário nacional e internacional da Educação. De fato, o
Livro Didático pode se apresentar também no sistema Educacional, principalmente o
público e gratuito como uma forma de “garantia” educacional por todos aqueles que
utilizam desse material.
Por outro lado, segundo SOARES (2004)
desses livros e a criação de uma identidade educacional sobre o que se estuda, alienante
e incorreta.
Sem dúvida, o controle que existia sobre os conteúdos, que os livros didáticos
deveriam apresentar, no contexto nacional, diminui por meio do governo, mas o
posicionamento e a compactação dos conteúdos pelas editoras e autores, prossegue até
hoje.
Vê-se também que, os textos presentes nos livros didáticos são frutos da leitura e
compreensão de uma determinada unidade didática pelo autor, onde ele elimina grandes
assuntos, pelo motivo de ser algo resumido e compacto para a utilização nas aulas.
Infelizmente, expõe-se nesse momento um problema que interfere na qualidade
das aulas que são dirigidas somente pelo exemplar didático, ou seja, o aluno é privado
de conhecer outras vertentes sobre o assunto tratado em sala, por possuir um livro
incompleto e o professor, “acomoda-se” com o tipo de material, por estar pronto e
acessível a todos, não pensando na qualidade de suas aulas, e sim, na quantidade dos
conteúdos transmitidos.
Se nos retrocedermos para as funções da escola, que não podem ser esquecidas,
onde encontramos a transmissão de conteúdos clássicos e formação para a cidadania, as
duas denominações perdem-se ao longo do sistema educacional, fator este ocasionado
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Como uma importante área do saber, espera-se que por meio do aporte oferecido
pelo livro didático de história, as aulas de História sejam direcionadas para uma reflexão
sobre os mecanismos dominantes que contribuem para o desenvolvimento dos
relacionamentos sociais, assim como as ações de exclusão e dominação, que surgem em
nossos conteúdos didáticos e estabelecem uma única vertente, sem a perspectiva de
modificações ao longo de uma aprendizagem.
Conduzindo este trabalho a um foco mais prático, busca-se assim, uma análise
crítica que desmistifique a visão tradicional e ideológica que se tem quando
consultamos um livro didático utilizado em História do Brasil, principalmente no que
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diz respeito à forma que esses livros são utilizados, levando em conta uma das funções
do livro didático que é “cumprir sua missão de formação, de informação, de estímulo ao
espírito crítico, de integração da criança no mundo tal como ele é”.(ECO e BONAZZI,
1980).
Diante desses comentários, vários conceitos poderiam ser atribuídos para o Livro
Didático, principalmente para os exemplares de História, como sendo um material
portador de saberes específicos para as disciplinas e “abordados” como absolutos para a
organização das aulas e ao mesmo tempo, instrumento de consulta para o aluno, mas
hoje, vê-se que o professor também transfere todas as suas ações e pensamentos para
esse material didático, transferindo discretamente também uma forte carga ideológica.
Concomitante com algumas discussões realizadas por Marilena Chauí (2001), é
imprescindível que faça parte do direcionamento dessa discussão um conceito muito
presente no material que se analisa, considerando assim, a ideologia, como um conjunto
articulado de idéias, valores, opiniões que expressam a visão de um determinado grupo.
Infelizmente, o que se percebe é que a grande massa popular não consegue a sua
maneira de expressão relacionada aos seus valores e crenças a fatos essenciais de nosso
cotidiano, onde restam somente a opressão e dominação por conceitos maiores, que por
muitas vezes são aprendidos nos livros didáticos e tidos como verdades indiscutíveis.
De acordo com Franco (1982, p.18), a ideologia pode representar também, em
outras palavras, “...um conjunto de valores que, em uma sociedade de classes, refletem
os interesses particulares de apenas uma classe social: aquela que domina as relações de
produção.”
Nesta linha de raciocínio sobre a ideologia, outro fator está presente embasando
a análise de conteúdo, se denominando Materialismo Histórico-Dialético, que afirma
modos de produção da vida material, rumo a todos os processos da vida social, política,
econômica, educacional, considerando que as coisas e fatos não são únicos, uma vez
que sofrem modificações pelas ações do ser humano na busca de atender suas
necessidades enquanto ser pensante e ativo dentro de um grupo social.
O ambiente ou espaço em que encontramos essas transformações é a escola, que,
regida por um sistema governamental, se apresenta como um “Aparelho Ideológico do
Estado”, pois transmite, por meio dos conteúdos e saberes, que formam as mudanças da
sociedade, os valores e saberes essenciais para aqueles que se fazem presentes nesses
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E comenta também:
“...pode-se observar que em diversos momentos, dife-
rentes coleções didáticas destinadas para um determi-
nado grau escolar apresentam conteúdos e textos mui-
to parecidos. Quais as razões disso? Provavelmente, a
existência de um consenso social em torno do ensino
daqueles conteúdos e não dos outros, ou seja, na so-
ciedade cria-se uma variedade de determinações e im-
posições que não abrem muito espaço para experiên-
cias alternativas”. (GATTI JUNIOR, 2004, p.30)
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Do mesmo modo que a Homogeneidade cultural é criada pelo Estado, outro fator
que se evidencia também ao se utilizar um livro didático diz respeito à ideologia
presente nos exemplares escolares, mas neste caso, os livros de História, que propõe-se
de maneira sutil aos olhos de quem consulta esse livros, mas que estabelece formas de
trabalho e de ensino para quem ensina e quem aprende. Além de o aluno estar em uma
ambiente educacional, é importante frisarmos que, muitos professores não possuem
formação adequada para ministrar aulas na Rede Estadual de Ensino, e muitas vezes,
aprendem inicialmente com os livros didáticos para que “repasse” para o aluno os temas
que são pertinentes à aprendizagem, sendo incluídos do mesmo modo nesse sistema
ideológico criado para tal sistema.
Se pensarmos nessa ideologia existente no meio educacional, não somente os
exemplares da coleção, mas a grande parte dos livros didáticos recomendados pelo
Governo possuem embutidos uma certa ideologia, levando a uma educação programada,
ou seja, ensinar e aprender o que um sistema superior ao educacional deseja aos
indivíduos, nos tornando “prisioneiros” de uma rede de poder dos que possuem mais
capital cultural, econômico e político em detrimento da classe popular, que acredita em
um grande investimento que é feito a eles, porém, buscando o esvaziamento dos
conteúdos e falta de compreensão do mundo.
Contudo, Bonazzi e Eco apontam alguns comentários sobre essa temática, onde
Mas, esse bloqueio muitas vezes não parte somente do corpo docente, pois, a
direção da escola ou coordenadores de um local escolar preferem somente os livros
didáticos por ser mais cômodo e fácil para estoque e distribuição a todos os alunos,
deixando em segundo plano por algumas vezes a qualidade das aulas e um rendimento
satisfatório de todo o grupo.
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5-Considerações Finais
A realização deste trabalho pode sintetizar algumas discussões acerca dos livros
didáticos de História que precisam ser sempre repensadas, como por exemplo, a sua
utilização em sala de aula com influências na formação para a cidadania, além do
trabalho de professores e alunos com uma única forma de material didático, deixando
em segundo plano a pesquisa, o contato e criação de novos saberes ao crescimento de
cada um dos indivíduos.
A respeito do Livro Didático de História, mais precisamente na coleção citada ,
pode-se explicitar claramente o que nossos materiais adotados nas escolas estaduais
transmitem aos indivíduos que usufruem destes livros, porém, como qualquer material,
apresentou vertentes positivas e negativas em uma primeira amostra trabalhada, sendo
um aspecto que se pretende aprofundar em algumas análises posteriores, por meio de
entrevistas num trabalho de campo no interior das escolas.
Muitos são os comentários efetuados pela mídia ou pelo próprio sistema
educacional sobre os livros didáticos, mas um ponto que sintetiza grande parte do que se
apresentou neste trabalho é de que, quanto mais os docentes e discentes iniciarem uma
reflexão sobre as funções que possuem “dentro e fora” do universo escolar,
concomitantemente com as modificações apresentadas pela sociedade em que vivemos,
mais estarão preparados para um confronto com muitas ideologias existentes e impostas
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pelas classes dominantes, não somente do saber, mas também do ter e querer. Do
contrário, estabelecendo um único material de trabalho, “...os livros parecem estar
modelando os professores.” (FREITAG, 1989, p.111)
Deste modo, estudarmos a História com apoio do livro didático de História
“...não se constitui em uma mera descrição. Ela é uma elaboração, uma versão da
realidade”. (DALAROSA APUD LOMBARDI 2000, p.48).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS e BIBLIOGRAFIA
BONAZZI, Marisa; ECO, Umberto. Mentiras que parecem verdades. São Paulo:
Summus, 1980, 135p.
CHAUÍ. M.de S. O que é Ideologia. São Paulo, SP: Abril Cultural: Editora Brasiliense,
1984, 125p.(Coleção Primeiros Passos).