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O corpo humano é um poderoso instrumento comunicativo.

Segundo
Guiraud (1991), gestos, expressões, pequenos detalhes, mesmo os ditos
“incontroláveis”, como questões físicas e reações fisiológicas do corpo,
produzem sentido e comunicam algo ao receptor da mensagem. Sendo um dos
papéis da indumentária vestir corpos, por meio dela podemos compreender
muito sobre os processos de formação e identificação de indivíduos e grupos
sociais, dado que, desde os primórdios, a linguagem visual do vestuário foi
utilizada como um elemento distintivo e de auto-afirmação.
A linguagem visual é a utilização de elementos imagéticos, como cores e
formas, para comunicar o significado. É um processo interpessoal, que ocorre
sempre de um transmissor para um receptor, este, interpretará tal significado de
acordo com suas próprias referências, nesse contexto, Cardoso (2012 apud
MOREIRA, 2014, p. 110-111) afirma que: “Os conceitos simbólicos que são
atribuídos à um objeto, em realidade, não são qualidades fixas e tampouco
derivam diretamente da sua configuração física, mas de um repertório cultural e
de pressupostos”. ...
“Existe um vasto universo de símbolos que identificam ações ou
organizações, estados de espírito, direções - símbolos que vão desde
os mais pródigos em detalhes representacionais até os completamente
abstratos, e tão desvinculados da informação identificável que é
preciso aprendê-los da maneira como se aprende uma língua. ”
(DONDIS, 2003, p. 20)

Estes signos, símbolos e suas significações são estudados e


compreendidos através da semiótica, ciência que, conforme Santaella (1983)
“[...] tem por objetivo o exame dos modos de constituição de todo e qualquer
fenômeno como fenômeno de produção de significado e sentido”. Nesse
contexto, a moda, como uma parte importante da expressão não-verbal,
proporciona uma larga variedade de funções comunicativas, e, por conseguinte,
uma série de codificações e simbolismos que servem como objetos de
investigação. Essa gama de códigos se manifestam de forma subjetiva e
exteriorizam, por meio de recursos imagéticos, modos de viver e pensar.
““Em vista disso, ao projetar um artefato vestível, é preciso entendê-lo
como um espaço dinâmico e interativo, no qual os elementos que
compõe sua configuração mediam um discurso não verbal que se
integra às mensagens do meio onde se insere, promovendo um
processo de identificação e comunicação” (SANCHES; MARTINS,
2014)
Reinke (2017, p. 80) traça o seguinte paralelo: “Se em uma frase são
utilizadas palavras de acordo com um sistema que torna possível a compreensão
de determinado conjunto de palavras, na moda serão as combinações entre
elementos que irão compor a linguagem visual a ser interpretada”. Não obstante,
diferente de outros tipos de linguagem, a sistemática envolta no contexto da
moda é mais complexa, oscilante e inortodoxa.
Se fizermos um recorte cultural, por exemplo, nos defrontaremos com
uma série de regras envolvendo o vestuário que nos foram ensinadas a partir da
nossa construção como indivíduos – imersos em determinado tempo, espaço e
contexto social, que por ventura, não serão as mesmas que foram ensinadas em
outras culturas, em outros tempos.
“Para tornar claro essas colocações em relação a moda como
linguagem e de que forma ela se constitui, utiliza-se como exemplo as
cores de roupas utilizadas em funerais. Na cultura ocidental cristã, o
preto é visto como uma roupa que se utilizada em um ritual de
sepultamento, será interpretado como uma forma de expressar o luto.
O que se difere ao nos deslocarmos para um contexto cultural como a
Índia, cujo o traje dentro do ritual funerário é reconhecido pela cor
branca. Evidenciando assim as colocações de como a linguagem da
moda não segue um processo sistemático como a linguagem
gramatical. ” (REINKE, 2017)

A moda, como linguagem, é resultado de um contrato ao qual todos se


submetem com o objetivo de se expressar por meio dos códigos culturais. Às
diferentes posições no espaço social correspondem estilos de vida, sistemas de
desvios diferenciais que são a retradução simbólica de diferenças objetivamente
inscritas nas condições de existência. (ARAGÃO; LOPES, 2012; BOURDIEU,
1983)
Nesta fluência de estímulos visuais e construções de sentido, a
transmissão de informações e conceitos se dá por meio das superfícies têxteis,
dispostas em volumes dinâmicos que se transformam em oscilações
simultâneas à movimentação do corpo.

Nesta fluência de estímulos visuais e construções de sentido, a transmissão de


informações e conceitos se dá por meio das superfícies têxteis, dispostas em
volumes dinâmicos que se transformam em oscilações simultâneas à
movimentação do corpo.
Os símbolos são muitos e podem variar em diferentes culturas. Cores, materiais
e formas são alguns dos principais aspectos comunicacionais quando os objetos
em análise constituem a indumentária.
Esses diferentes grupos podem incluir etnia, sexo ou classe, e cada um terá uma
posição de hierarquia social. Assim, a moda existe não só para constituir e
comunicar, mas para desafiar e contestar posições. (ARAGÃO; LOPES, 2012)
“O significado simbólico associado ao produto pode definir sua adoção
e uso. Por exemplo, a decisão de comprar um item de vestuário pode
não ser influenciado apenas, ou mesmo primordialmente, por sua cor,
tecido ou forma, mas pelo significado simbólico atribuído a uma dada
configuração desses recursos tangíveis tanto pelo consumidor
comprador quanto por outros que estejam observando. ”
(HIRSCHMAN, 1981)
Tal significado simbólico de um produto pode, em algumas classes de
produtos, superar ou dominar seu desempenho técnico como determinante do
consumo. Isso é especialmente provável se o produto for usado com frequência
para significar posição social e/ou identidade própria. (HIRSCHMAN, 1981)
GUIRARD, Pierre. A linguagem do corpo. Trad. Lólio Lourenço de Oliveira. São Paulo: Ática,
1991.

GARCIA, Carol e MIRANDA, Ana Paula de. Moda é comunicação:


experiências, memórias, vínculos. São Paulo: Editora Anhembi Morumbi.
Acesso em: 17 nov. 2022

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