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RIBEIRINHOS E COLONOS:

A REPRESENTAÇÃO DE UMA IDENTIDADE


PREFERENCIAL NO HINO DE RONDÔNIA
RIVERINE AND SETTLERS:
THE REPRESENTATIO N O F A PREFERRED
IDENTITY IN THE HY MN O F RO NDÔ NIA

Sandro Adalberto Colferai*

RESUMO: Neste artigo é realizada a análise do hino oficial do estado de Rondônia,


que se originou do poema de Joaquim de Araújo Lima, tendo como foco principal as
representações identitárias ali presentes. Para isso são tomadas como ponto de parti-
da as posições assumidas pelos Estudos Culturais: Stuart Hall e os conceitos de
representação, ideologia e identidade; Nick Couldry e o método de análise de textos
por ele proposto a partir do paradigma dos Estudos Culturais. É feita a recuperação
histórica e social das migrações a partir das quais se formaram as sociedades contem-
porâneas da Amazônia e, em especial, de Rondônia.
Palavras-chave: Amazônia; migrações; representações; Estudos Culturais.

ABSTRACT: This paper presents the analysis of the official hymn of the state of
Rondônia, which originated from the poem by Joaquim de Araújo Lima, which
focuses the representations of identity are present there. This usually taken as a
starting point the positions of the Cultural Studies: Stuart Hall and the concepts of
representation, ideology and identity; Nick Couldry and the method of text analysis,
which it submitted to the paradigm of Cultural Studies. It made the recovery social
and history of migration from which formed the contemporary societies of the
Amazon and, in particular, of Rondônia.
Keywords: Amazônia; migrations, representation; Cultural Studies.

INTRODUÇÃO

Ao longo do século XX as migrações, no Brasil, fizeram surgir rapidamente


novas organizações sociais no interior do país. Cidades foram fundadas em meio à
floresta Amazônica, formadas principalmente por imigrantes do Sul e do Sudeste.
Estas pessoas encontraram moradores mais antigos, remanescentes de outras levas
migratórias, principalmente nordestinos. Tais encontros, intensificados ao longo das

* Graduado em Letras (UNIR); mestre em Comunicação Social (PUCRS). Professor do curso de


Jornalismo na UNIR/ V ilhena; jornalista provisionado por 10 anos, pesquisador atuando nas
áreas de Estudos Culturais, jornalismo na amazônia e história oral da Amazônia.

Raído, Dourados, MS, v. 4, n. 7, p. 333-346, jan./ jun. 2010.


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quatro últimas décadas, colocaram em contato culturas e fizeram surgir disputas no


campo simbólico em busca de legitimação cultural. Por tratar-se de práticas culturais
distintas, também diferem as formas de representação apropriadas por cada um
desses grupos. As disputas, assim, ocorrem através das representações, em busca da
afirmação de práticas simbólicas que possam ser tomadas como legítimas no espaço
ocupado pelos imigrantes.
Neste artigo as atenções se voltam para este movimento no estado de Rondônia
e toma-se um corpus específico: o hino oficial do estado. A opção por tomar Rondônia
como objeto se justifica por ser nele que de forma mais intensa houve este encontro
de culturas. Assim, Rondônia é uma dos mais importantes pontos do que se
convencionou chamar de fronteira de colonização amazônica e, agora, de fronteira
agrícola, que corresponde, na sua maior parte, a um arco de ocupação ao sul da
Amazônia desde o Maranhão até o Acre.
A opção pelo hino oficial de Rondônia para análise assume este formato de
texto como uma tentativa de identificação da sociedade a partir de uma determinada
representação, como voltará a ser tratado adiante. A busca é pela maneira como a
sociedade rondoniense é representada nesta canção, uma vez que esta pode ser toma-
da, por um lado, como forma de identificar a maneira como um grupo enxerga a si
mesmo e, por outro, da aceitação/imposição institucional da representação ali presente.

CULTURA, IDENTIDADE E REPRESENTAÇÃO

Da perspectiva dos Estudos Culturais contemporâneos a cultura é tomada


como ponto central na discussão e estudo dos fenômenos sociais, e determinante na
alteração dos modos de viver, causando impacto sobre os sentidos dados à vida. Esta
centralidade da cultura é definida por Stuart Hall (1997) em função das significações
dadas pelos sujeitos às práticas realizadas em sociedade, ou por grupos na sociedade.
As ações distintas daquelas determinadas por programação genética, biológica ou
instintiva são “ações sociais”, que requerem e são relevantes para as significações. Os
seres humanos são tomados como seres interpretativos, instituidores de sentido,
capazes de criar códigos que dão sentido às ações. É o conjunto formado pelas ações
e pelos códigos que permite interpretar significativamente as ações alheias, é isso que,
no conjunto, constitui o “cultural”. Assim todas as ações sociais são culturais, uma
vez que “expressam ou comunicam um significado e, neste sentido, são práticas de
significação” (HALL, 1997, p. 16).
Trata-se de um posicionamento epistemológico específico, pois deixa de tomar
a cultura como variável dependente para tê-la como condição constitutiva da vida
social. Aqui, é fundamental o relacionamento com a linguagem, que assume posição
privilegiada na construção e circulação de significado.
Até os mais céticos têm se obrigado a reconhecer que os
significados são subjetivamente válidos e, ao mesmo tem-
po, estão objetivamente presentes no mundo contemporâ-
neo – em nossas ações, instituições, rituais e práticas. A

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ênfase na linguagem e no significado tem tido o efeito de


tornar distinta, senão de dissolver, a fronteira entre as duas
esferas, do social e do psíquico. (HALL, 1997, p. 24).
Esta ênfase na linguagem e no significado só é possível uma vez que a lingua-
gem funciona como um sistema de representação, uma vez que utilizamos sinais e
símbolos (sons, palavras escritas, imagens, notas musicais e até objetos) que signifi-
cam ou representam para outras pessoas. As pessoas, membros de determinada
cultura, devem ser capazes de reconhecer o que é colocado em circulação entre si, ou
seja, devem partilhar os mesmos códigos culturais, podendo compreender conceitos,
ideias e sentimentos. Devem ser capazes de fazer isso de forma mais ou menos
parecida, uma vez que o significado, colocado em circulação através da linguagem, é
um diálogo.
E o funcionamento da linguagem só é possível, como já referido, através da
representação. Elementos específicos, como sons, palavras, gestos, expressões, roupas,
fazem parte do mundo natural e material, mas sua importância é reconhecida não
pelo que são, mas pelo que fazem, pela sua função. Ao deixarem de serem reconhecidos
por si mesmos ganham importância simbólica e, por isso, deixam de referir a si
mesmos para representar outras coisas. É esta a dinâmica que forma a linguagem e seus
significados, a relação que se estabelece entre significado, linguagem e representação.
Os sinais significam ou representam nossos conceitos, idéias
e sentimentos de forma que possibilitem que outros “leiam”,
decodifiquem ou interpretem seu significado mais ou me-
nos do mesmo jeito que nós o fazemos. (HALL, 1997b).
Este jogo entre receptor e emissor faz com que a linguagem não pertença nem
a um, nem a outro. Para Hall (1997b), ela “é um ‘espaço’ cultural partilhado em que se
dá a produção de significados”. Esta é sua definição para representação, aquilo que é
construído na interseção entre as apreensões das leituras que emissor e receptor têm
de determinados significados colocados em circulação através da linguagem. E esta
ênfase na abordagem discursiva da representação é calcada na especificidade histórica
de determinadas formas e regimes de representação, “não na ‘linguagem’ como pre-
ocupação geral, mas em linguagens ou significados específicos, e como são dispostos
num tempo e espaço determinados” (HALL, 1997b). Com isso, se assinala uma
especificidade histórica maior, a forma como as práticas de representação funcionam
em situações históricas concretas, na prática real.
Isso sugere que a construção da identidade não se dá a partir de um centro
interior, mas no “diálogo” entre “os conceitos e definições que são representados
para nós pelos discursos de uma cultura e pelo desejo (consciente ou inconsciente) de
responder aos apelos feitos por estes significados” (HALL, 1997, p. 26). Identidade,
então, é compreendida como o pertencimento a culturas étnicas, raciais, lingüísticas,
religiosas e, acima de tudo, nacionais. Estes pertencimentos são problematizados
sobre o pano de fundo de um processo amplo de mudança “que está deslocando as
estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de

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referência que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo social” (HALL,
2003, p. 7).
Significa dizer que deslocamentos são impostos e levam à possibilidade de se
reconhecer, e ser reconhecido, de diferentes formas. O pertencimento deixa de ser
essencialista e imutável, e o indivíduo pode se reconhecer como parte de vários gru-
pos, auto-identificados pelas mais diferentes características, o que torna possível o
múltiplo pertencimento. E as posições diferentes às quais o indivíduo pode se apegar
são legitimadas nos discursos e estes, por sua vez, estão ancorados em práticas cultu-
rais reconhecidas pelos diferentes grupos sociais (HALL, 2003). Desta forma é possí-
vel dizer que as identificações se dão dentro das representações, através da cultura.

O TEXTO COMO PONTO DE PARTIDA

Esta articulação entre as esferas interior e exterior do discurso torna possível aos
Estudos Culturais assumir como ponto preferencial de abordagem das práticas cul-
turais os textos colocados em circulação num dado contexto, postos em primeiro
plano os elementos simbólicos deles advindos. Desde os primeiros textos teóricos
ligados a esta corrente1 é rejeitada a idéia de se tratar de textos legitimados por um
cânone e por isso inscritos sob a premissa dos que “vale a pena estudar”. Assim, por
texto, como faz Nick Couldry (2000), é compreendido todo o “[...] complexo de
significados interrelacionados que seus leitores tendem a interpretar como um todo
distinto e unificado”2 (COULDRY, 2000, p. 70-71). É desta forma que o texto deixa
de ser encarado como um objeto fechado sobre si mesmo, e passa a ser compreendi-
do como toda a gama de significações postas em movimento a partir de leituras
determinadas, ou preferenciais, que podem ser acionadas tanto pelo conhecimento
prévio do “leitor”, como pelas ligações feitas com outros “textos”. O conceito de
texto, desta maneira, se solta das amarras que o mantiveram como um objeto
linguístico restrito, para ser compreendido a partir das mais diferentes formas. Um
grafite num muro, um seriado, os modos de se vestir, um conjunto de músicas
executado em um evento, podem ser tomados como textos, assim como quaisquer
outras manifestações significativas.
O conceito de textualidade está diretamente ligado ao de texto. Para Couldry esta
noção é fundamental, uma vez que não é o objeto “texto” que deve ser tomado como
ponto de partida para a investigação, mas os significados por ele acionados. Como
textualidade, então, compreende-se a maneira como os diferentes textos são encarados
pelas audiências, seja na forma de recebê-los ou mesmo nas relações feitas a partir
deles. É o que ocorre, por exemplo, com os textos colocados em circulação sob a
forma de filmes ou revistas. Enquanto no primeiro admite-se que o expectador ficará
1
Culture and Society (1958) Raymond Williams; The Uses of Literacy (1957), Richard Hoggart; The
making of the E nglish working class (1963) E.P. Thompson.
2
“[...] a complex of interrelated meanings which its readers tend to interpret as a discrete,
unified whole” (tradução minha).

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nele concentrado até o final, na segunda reconhece-se que pode haver atenção frag-
mentada. De qualquer forma, o que interessa saber, em ambos os casos, é sob quais
convenções esses textos são lidos, e por quem? Ao conceito de textualidade liga-se o de
intertextualidade: os leitores acionam todo um repertório prévio sob o qual têm co-
nhecimento sempre que são colocados em contato com um novo texto. Dar conta
das questões que envolvem textualidade e intertextualidade requer ir além de questões
subjetivas, e estar atento às “operações reais do campo textual contemporâneo”3
(COULDRY, 2000, p. 72).
Couldry ainda aponta para uma questão que nos parece fundamental diante do
objeto que se tem em vista aqui: como fazer análise textual diante de uma enorme
proliferação de textos? Ele deixa uma pista para a resposta, pois destaca que o objeto
de estudo não deve ser um conjunto determinado de textos, mas todo o ambiente
textual, como funciona e como ocorrem as negociações diante dele. O descentramento
da noção tradicional de texto é fundamental para a leitura proposta por Couldry, e tal
posicionamento leva a outro descentramento: “Ao invés do texto ser fonte de certeza,
tornou-se o lugar de um enigma, ou pelo menos de cuidadosa exploração”4
(COULDRY, 2000, p. 87).

MATRIZES E PRÁTICAS CULTURAIS

O ponto de partida aqui será o contexto sócio-histórico em que se insere o


estado de Rondônia. Este cenário tem na aportagem de imigrantes seu principal
elemento. Durante os dois ciclos da borracha, o primeiro no final do século XIX e
meados do século XX, e o segundo durante a década de 1940 – este motivado pela II
Guerra Mundial – a região que viria a se tornar Rondônia teve os seus primeiros
grandes fluxos imigratórios. De acordo com Samuel Benchimol (1977), é possível
avaliar que nesses períodos tenha havido a imigração de até 1,5 milhão de pessoas
para a região amazônica, quase na totalidade nordestinos – com destaque para emi-
grantes do Ceará.
Após os períodos de opulência da seringa estas pessoas acabaram por se fixar,
seja por opção ou por abandono, este último o caso da maioria. Somaram-se à
pequena população já existente e tornaram-se ribeirinhos ou pequenos proprietários.
A fixação se fez com o passar do tempo, e suas práticas culturais foram reelaboradas,
levando à circulação de novas representações. “Este migrantes estão integrados à
região, e alguns confessam que se saírem desse local se sentirão, como dizem, ‘um
peixe fora d´água’” (SILVA, 2000, p. 101).
A partir da década de 1960 o estado brasileiro organizou o deslocamento de
grandes levas populacionais do Sul e Sudeste para o Centro-Oeste e Norte do país,
regiões consideradas um “grande vazio demográfico”, como forma de reduzir as
3
“[...] actual operations of the contemporary textual field” (tradução minha).
4
“Instead of the text being the source of certainty, it has become the site of an enigma, or at
least cautions exploration” (tradução minha).

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tensões entre proprietários de terras e trabalhadores rurais. Para a região Norte, nas
décadas de 1970 e 1980, migraram 7,5 milhões de pessoas, o que significou um
crescimento populacional, em duas décadas, de 200% (SOUZA, 2001, pp. 52 e 59).
Em Rondônia, no mesmo período, o crescimento populacional próximo a 1.000%.
Em 1970 a população do estado era de 111 mil habitantes, e chegou a 1,13 milhão em
1991 (PERDIGÃO & BASSEGIO, 1992, p. 178).
Ao travarem contato os imigrantes colocaram em disputa as práticas que trou-
xeram ou criaram no novo ambiente. Este contato é reduzido por Thiéblot (1977) a
dois grandes grupos: a cultura amazonense – está já constituída a partir de bases
nordestinas – e cultura do migrante do sul. Absolutamente distintas entre si, as trocas
que se estabelecem entre os seus representantes são tomadas como as bases para a
constituição de uma cultura própria de Rondônia.
No entanto, não é um movimento de integração que se percebe no percurso
sócio-histórico de Rondônia, mas, ao invés disso, a subjugação e a conseqüente
substituição de um complexo cultural, e de seu sistema de representação, por outro.
As populações tradicionais – ou a cultura amazonense, como prefere Thiéblot – têm o
seu modo de vida e as formas de conhecer e de se fazerem conhecer, invadido e
desqualificado frente ao modo de vida trazido pelos novos imigrantes. Para isso
corroboram ações oficiais, principalmente através da ação do Incra5, que garantiam
apoio técnico aos colonos6, enquanto as atividades tradicionais eram praticamente
ignoradas.
A relação do homem com a natureza é fundamental na compreensão de como
se dá a fixação de um sistema de representação cultural, enquanto outro é relegado a
um segundo plano e, posteriormente, desqualificado. De acordo com Cemin (1992),
a relação social do homem com a natureza passou, a partir da colonização agrícola de
Rondônia, a ser condicionada à presença de colonos oriundos de regiões de agricultu-
ra mecanizada, que passam a agir numa área de floresta tropical. Com isso estabe-
lecendo-se relações de estranhamento, expressas em inúmeras perdas materiais e
simbólicas.
Embora a política desenvolvimentista dos militares para a
Amazônia tivesse por lema a ocupação dos vazios
demográficos, a colonização apropriou-se, na verdade, de
terras tribais, ou de terras cujos habitantes encontravam-
se inseridos em sistemas econômicos baseados no

5
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. O órgão foi responsável pela coloniza-
ção de Rondônia e pela criação de projetos de assentamentos, além de ter fomentado a criação
de núcleos urbanos. Nos primeiros anos da colonização era na maior parte de Rondônia a única
presença do Estado, o que acaba por ampliar, de maneira informal suas atribuições, o que
significava, inclusive, assumir funções de polícia, por exemplo.
6
Aqui o termo “colonos” é usado para todos os indivíduos voltados para atividade agrícola e
que, na sua maioria, chegaram a Rondônia a partir da década de 1970, de uma forma ou de outra
em função das políticas oficiais do governo federal. Cemin (1992) diferencia “colonos” e
“capitalistas agrários”: os primeiros seriam os trabalhadores do campo e pequenos proprietários,
enquanto os outros são latifundiários. Tal distinção não é assumida neste artigo.

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extrativismo vegetal; tratava-se de populações sustenta-


das, portanto, pela manutenção das condições da “primeira
natureza”. O processo de colonização estabelece uma rup-
tura nesta relação, instalando um consumo predatório das
forças produtivas humanas e naturais. (CEMIN, 1992, p.
266-267).
Esta ruptura não ocorre sem ambigüidades, pois o meio, em específico a flores-
ta, torna-se um espaço de junção entre as diferentes representações, de um lado aquela
da cultura já tradicional, e do outro os colonos imigrantes. É neste espaço comum,
saturado de ambigüidades, que podem ser identificadas relações de estranhamento
dos homens entre si e com a natureza. Esse estranhamento tem o seu ponto crítico
nos processos de perda, de ambos os grupos, e nas relações que viabilizam as condi-
ções de reprodução social por parte dos colonos, uma vez que uma nova estrutura
social é organizada para lhe dar apoio e manutenção. A floresta, então, torna-se espaço
de articulação entre sistemas excludentes.
No interior da oposição binária, entre a racionalidade desen-
volvimentista, de um lado, e os grupos sociais ditos ‘primi-
tivos’, de outro, identificamos uma diversidade de oposi-
ções, através das quais indicamos uma aproximação com o
processo contraditório de produção da natureza a partir da
colonização em Rondônia. (CEMIN, 1992, p. 272).
Por um lado há a implantação de um projeto desenvolvimentista, e por outro
a articulação com a natureza, que não chega a ser realizada. Isso gera tensões e
ambiguidades entre os diferentes agentes sociais envolvidos no processo, mas em
diferentes condições sócio-econômicas. A posição desenvolvimentista representa os
colonos imigrantes, ao mesmo tempo em que se contrapõe à lógica das populações
tradicionais. Uma estratégia pode ser percebida aí, tornada possível por uma ideologia
da modernização (CEMIN, 1992, p. 273), para garantir o controle sobre os homens, a
partir da figura do colono, e do espaço, neste caso a floresta amazônica.
É neste contexto de contradições e embates em busca de espaço para firmar
suas próprias representações de mundo que se deram, pouco a pouco, os surgimentos
de instituições em Rondônia, principalmente a partir da década de 19807 e a apropria-
ção de práticas próprias tanto da população tradicional como da imigrante como
referência para suas atuações. Se por um lado as bases para a implantação destas
instituições oficiais foi a administração do antigo território, este assentado sobre as
bases deixadas pelo complexo seringalista e/ ou minerador, por outro se deparava
com a importância crescente da agricultura, pecuária e da indústria madeireira, advindas
do processo de colonização. Atender às demandas desses dois grandes grupos – uma
que o Estado é tomado como mediador – neste momento inicial, parece-nos ter sido
o grande desafio do Estado de Rondônia nos seus primórdios.
7
A implantação do Estado de Rondônia aconteceu em 4 de janeiro de 1982. A elevação do
território federal à categoria de unidade da federação significou a acelerada implantação, no
âmbito dos três poderes, de todo o aparato burocrático necessário para o seu funcionamento.

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HINO OFICI AL E LEGITIMAÇÃO DE PRÁTICAS CULTURAIS

O objeto de análise deste artigo, o hino oficial “Céus de Rondônia”, será abor-
dado tendo como pano de fundo as contradições advindas da colonização de
Rondônia. Trata-se de um objeto institucionalizada e se buscará recuperar a maneira
como foi apropriado em momentos particulares da história do Estado.
Um hino oficial pode ser tomado como uma peça de legitimação e identificação
de dada sociedade, por ser reconhecido por esta sociedade como uma representação
da forma como ela própria se reconhece. Esta justificativa, que pode ela mesma ser
tomada como a razão pela qual o hino de Rondônia é aqui objeto de análise. Galinari
(2007, p. 198) aponta os hinos nacionais e/ ou canções patrióticas como forma
discursivas mais ou menos estáveis, recorrentes e reconhecíveis por suas comunida-
des de origem. De acordo com Sadie & Tyrrell (apud GALINARI, 2007, p. 200-201),
a origem dos hinos com caráter de louvor remonta à Grécia clássica. A característica de
homenagem por meio de canções de louvor foi mantida, principalmente como can-
ções patrióticas, até hoje, passando pela sua adoção sistemática, no contexto cristão-
ocidental, a partir do final do século XVIII com o surgimento dos nacionalismos.
Neste percurso uma característica é marcante: os hinos são elementos discursivo-
musicais ligados a algum tipo de cerimônia.
Para Sadie & Tyrrell (apud GALINARI, 2007, p. 198), os hinos têm “o ‘fervor
patriótico’ como peça chave, ao revelar os traços de uma nação”. Tanto que é possível
afirmar que pelas suas características e pela valorização de determinadas diretrizes
morais, políticas e econômicas, os hinos nacionais possuem discurso acima de tudo
político. A intenção política se instaura através de elementos a princípio estranhos ao
debate político, caracterizado pelos confrontos públicos, pois ao se falar de hinos,
refere-se a comemorações, confraternização, identidades e valores comuns, e não a
posições políticas antagônicas.
O cerimonial, então, “pacífico”, favoreceria a instauração
de uma instância de recepção politicamente despercebida,
ou melhor, com a “guarda abaixada” para a investida sim-
bólica que recairá sobre as suas mentes, mas que corre ao
mesmo tempo o risco de ser coenunciada sem que o indiví-
duo se desse conta da violência. E a chave de todo esse
efeito estaria na cenografia característica dos hinos nacio-
nais, das canções de cunho patriótico, quase “festeira”.
(GALINARI, 2007, p. 202).
Desta forma, os hinos, que aparentemente estão isentos de posicionamentos
político-ideológicos, possuiriam grande poder de persuasão, mas que surgem de
maneira amortecida pelo conteúdo simbólico que os envolve. No campo discursivo
e pelas representações que apresenta, o hino autorizaria o indivíduo a se comportar de
uma determinada maneira, e não de outra, propiciando a legitimação de uma prática
cultural, em detrimento de outras.
Na origem, a letra do hino “Céus de Rondônia” era um poema, intitulado
“Céus do Guaporé”, de autoria de Joaquim de Araújo Lima, que teria sido escrito
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ainda na década de 1950. Na mesma década o poema foi musicado por José de Melo
Silva, e passou a ser executado em cerimônias oficiais no então território federal do
Guaporé. Quando houve a implantação do estado de Rondônia, em 1981, a canção,
já como nome “Céus de Rondônia” foi oficializada, pela constituição estadual, como
hino da nova unidade da federação.
Dadas estas premissas, é importante retomar que, quando da composição da
letra e, posteriormente, da música que viriam a se tornar o hino de Rondônia, o
contexto histórico era absolutamente distinto daquele encontrado no início da década
de 1980, quando foi adotado oficialmente. Em 1950 Rondônia tinha apenas dois
municípios8 e a população se concentrava às margens dos rios Madeira e Mamoré,
tendo como principais atividades a coleta de látex, a pesca e a mineração nos leitos
destes rios. Três décadas depois a população era pelo menos cinco vezes maior e as
atividades base do estado eram outras. Com a colonização agrícola, em função da
distribuição de terras, a agricultura passou a ser a atividade principal. Assim, a relação
com o meio alterou-se completamente, passando de atividades basicamente
extrativistas para a intervenção direta no ambiente.
Ainda assim, a letra de um poema composto sob outras representações foi
mantida como hino oficial. Isso pode ter ocorrido em função das novas leituras
possíveis de serem feitas a partir do mesmo texto. Mudou-se o contexto e as
textualidades em torno dele, e com isso o sentido do próprio texto. A partir do
movimento migratório, novas representações foram instituídas, e encontraram res-
sonância numa nova leitura do “Céus do Guaporé”. Antes de realizar a nossa análise,
convém apresentar a letra de “Céus de Rondônia”:
Quando nosso céu se faz moldura
Para engalanar a natureza
Nós, os bandeirantes de Rondônia,
Nos orgulharmos de tanta beleza.

Como sentinelas avançadas,


Somos destemidos pioneiros
Que nestas paragens do poente
Gritam com força: somos brasileiros!

Nestas fronteiras, de nossa pátria,


Rondônia trabalha febrilmente
Nas oficinas e nas escolas
A orquestração empolga toda gente;

8
A capital, Porto Velho, e Guajará-Mirim, às margens dos rios Madeira e Mamoré, respectiva-
mente. Estas duas cidades eram os pontos extremos da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré.

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Braços e mentes forjam cantando


A apoteose deste rincão
Que com orgulho exaltaremos,
Enquanto nos palpita o coração

Azul, nosso céu é sempre azul -


Que Deus o mantenha sem rival,
Cristalino sempre puro
E o conserve sempre assim.

Aqui toda vida se engalana


De belezas tropicais,
Nossos lagos, nossos rios
Nossas matas, tudo enfim...

O letra do hino de Rondônia é construída sobre dois eixos distintos, o que


significa dizer que há dois temas que se cruzam ao longo das seis estrofes que o
compõem. Por um lado há o que se pode considerar uma exaltação à natureza,
enquanto por outro lado existe também uma exaltação, mas esta voltada ao trabalho,
ao desenvolvimento eminente e desejável. O contexto preferencial em que esta leitura
deve ser feita parece ser o surgido a partir da imigração de colonos, pois é nele que a
canção é transformada em hino oficial.
Este primeiro olhar sobre o texto leva à noção de que há a tentativa de represen-
tar posições antagônicas como convivendo de forma próxima e amistosa. O que
parece surgir é a conjugação de que trata Thieblót: o aparecimento de uma cultura que
é o produto do encontro entre as práticas da população tradicional e do colono
imigrante. Mas, a partir do panorama traçado por Cemin (1992), o que há é a expres-
são de uma contradição. A representação de Rondônia como a soma de duas visões
diferentes de mundo, principalmente diante da floresta, não encontraria então base
nas práticas. A presença destes dois eixos pode ser verificada já na primeira estrofe:

Quando nosso céu se faz moldura


Para engalanar a natureza
Nós, os bandeirantes de Rondônia,
Nos orgulharmos de tanta beleza.

Há a apresentação de um sujeito do texto, aqui o “bandeirante”, termo clara-


mente relacionado à figura do bandeirante paulista, desbravador do interior brasilei-
ro, figura reconhecida historicamente como sendo a do conquistador de terras bravias.
A relação que surge é com o imigrante, num primeiro momento o nordestino que se
deslocou para o seringal, e depois o colono do centro-sul brasileiro. Se nas migrações
dos ciclos da borracha ainda havia uma relação de reciprocidade com a natureza, agora

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trata-se de reconhecer o sujeito que subverte a natureza. A tomada desta letra como
hino de Rondônia a partir da década de 1980 – já na fase de colonização agrícola – leva
a uma leitura própria, mais próxima da figura do bandeirante histórico. A representa-
ção então é do sujeito que submete o meio, e a natureza a ele serve com recursos ou
mesmo como um espaço a ser transformado.
Na estrofe seguinte a idéia do desbravador destemido é retomada e reforçada:

Como sentinelas avançadas,


Somos destemidos pioneiros
Que nestas paragens do poente
Gritam com força: somos brasileiros!

Neste trecho “sentinelas avançadas” e “destemidos pioneiros” estão no mes-


mo campo em que se encontra o termo “bandeirantes”. Existe a exaltação do espírito
desbravador, aguerrido, das pessoas que buscam espaço para se colocar, abrindo
caminho, noção valorizada ao longo da letra. Este sentido é reforçado e, ao mesmo
tempo, relacionado, à expressão “somos brasileiros”.
Para ampliar este ponto de vista é preciso recuperar o contexto em que a letra
veio à luz e, depois, o momento em que foi tornada hino oficial de Rondônia. No
final da década de 1940, início da década de 1950, existia o território federal do Guaporé,
unidade da federação criada pelo Governo Vargas como parte da estratégia de ocupa-
ção do oeste brasileiro9, o que justifica a afirmação “somos brasileiros”. A releitura no
início da década de 1980, quando da oficialização da letra como hino do estado de
Rondônia, se dá em outro contexto: agora ser brasileiro é assumir a posição
desenvolvimentista, pela necessidade de alargar as fronteiras agrícolas, o que vai de
encontro com a manutenção da natureza pintada no hino.
O mesmo movimento histórico-contextual pode ser visto nas representações
que aparecem a seguir, principalmente nas estrofes que seguem:

Nestas fronteiras, de nossa pátria,


Rondônia trabalha febrilmente
Nas oficinas e nas escolas
A orquestração empolga toda gente;

Braços e mentes forjam cantando


A apoteose deste rincão
Que com orgulho exaltaremos,
Enquanto nos palpita o coração
Por seu turno, as representações da natureza na letra são ainda mais presentes.

9
Em 1943 o governo de Getúlio Vargas cria cinco territórios federais em áreas estratégicas de
fronteira: Amapá, Rio Branco (atual estado de Roraima), Ponta Porá e Iguaçu (estes extintos pela
constituição de 1946), e Guaporé, depois elevado a estado já como Rondônia.

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Não só tomam mais espaço como também são mais bem descritas. É assim nas duas
últimas estrofes:

Azul, nosso céu é sempre azul -


Que Deus o mantenha sem rival,
Cristalino sempre puro
E o conserve sempre assim.

Aqui toda vida se engalana


De belezas tropicais,
Nossos lagos, nossos rios
Nossas matas, tudo enfim...

Este trecho é tomado por descrições da natureza, apontada como divina e


tomando-a como inigualável no pedido de mantê-la “sem rival”. O desejo de
conservá-la “sempre assim” é mais um exemplo de contradição: tal desejo surge na
penúltima estrofe, depois de já terem sido exaltadas a presença e o valor dos desbra-
vadores. O encerramento da letra mantém a exaltação à natureza, de forma contun-
dente, tratando de belezas tropicais, lagos, rios e matas. Esse movimento revela duas
realidades contrapostas, uma vez que o trabalho remete à colonização, enquanto a
ideia de natureza é mais próxima às populações tradicionais.
As representações presentes na letra remetem à convivência sem conflitos entre
dois grupos, sem apresentar elementos que remetam à resistência à penetração de
novas práticas. Trata-se de uma posição utópica, tomada como expressão de uma
realidade, e base da constituição de uma sociedade. Sem resistência, com o desbrava-
dor como sujeito com ascendência sobre o meio, portador da capacidade de trabalho
que “empolga toda gente”, há a indicação de uma clara motivação para a tomada desta
canção como hino oficial de Rondônia, o que se reforça por isso ter efetivamente
acontecido em meio ao auge da colonização agrícola de Rondônia.
O que haveria é a tentativa de representar a colonização como legítima e – em
boa medida – natural, uma vez que os desbravadores, representantes da força de
trabalho reconhecida por “Deus” e pela “pátria”, como sugerem os fragmentos “Nestas
fronteiras, de nossa pátria,/ Rondônia trabalha febrilmente” e “Que Deus o mante-
nha sem rival”, são conjugados junto com as belezas naturais em Rondônia. Sem
antagonismos, sem resistências, uma representação específica é colocada em circula-
ção, tornada oficial, institucionalizada e, por isso, possível de ser tomada como legíti-
ma imagem do que é Rondônia e do que é ser rondoniense: desenvolvimentista e
apegada à natureza, ignorando a contradição que esta articulação comporta. Uma clara
indicação da identidade preferencial assumida pelas instituições e pelos grupos
hegemônicos do estado.

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CONCLUSÃO

Na análise apresentada procurou-se indicar um posicionamento preferencial


quando da tomada da letra de “Céus de Rondônia” como a do hino oficial do estado
de Rondônia. Trata-se aí de um posicionamento ideológico que se torna aparente
frente ao olhar crítico sobre sua letra e para as suas ligações com o contexto que a
canção pretende representar. Os significados colocados em circulação pelo hino, tal
como apontado por Galinari (2007), se pretendem não conflitantes, já que não assu-
mem um papel político direto, mas escamoteado. Seria um recurso semelhante ao
identificado por Hall (2006, p. 178):
Termos positivamente marcados “significam” por causa de
sua posição em relação àquilo que está ausente, não marca-
do, não dito, ou quase é impronunciável. O significado é
relacional dentro de um sistema ideológico de presenças e
ausências.
A ausência, como foi demonstrado na análise, é a da ruptura, do conflito
resultante do contato entre uma cultura tradicional e outra, exógena, muitas vezes
apontada como invasora (TEIXEIRA, 1996). A representação que se faz no hino é
livre de contradições, mas nela mesma surgem os conflitos. Como destaca Stuart Hall
(2006, p. 170), “as ideologias são sistemas de representação materializados em práti-
cas”, mas não se deixa cair na compreensão que não há nada além da ideologia. O que
existe – e no caso de Rondônia a tentativa de fixação de um posicionamento através
de leituras específicas do seu hino oficial isso pode ser verificado – é a articulação entre
diversos níveis, através da linguagem. As ideologias fazem com que se fixem determi-
nados sistemas de representação, estes ancorados em práticas culturais particulares, e
que, por seu turno, legitimam e são legitimadas pelas posições assumidas.
Hall prefere, em função desta interdependência, apontar para circuitos onde
todos os momentos têm a mesma importância e precisam uns dos outros para
apresentar uma visão não limitada das conformações sociais, e da maneira que se dá a
circulação e fixação de significados num determinado contexto. Com isso se encami-
nha para afirmar que os sujeitos não são posicionados em relação ao campo das
ideologias “exclusivamente”, mas também por formações discursivas de formações
sociais específicas. Isso, claro, se dá sem a clara consciência dos sujeitos de que estejam
operando dentro de determinada ideologia. Mas, como as normas da linguagem se
apresentam abertas à inspeção racional, é possível proceder a análise e a desconstrução
de discursos ao ponto de se chegar até os fundamentos que permitam observar as
categorias que os geraram (HALL, 2006).
É isso que se procurou fazer aqui: uma busca pelos fundamentos do discurso
presente no hino oficial do estado de Rondônia, a fim de compreender as represen-
tações colocadas em circulação a partir dele. Estas representações são apresentadas
como ligadas à identificação que a população de Rondônia tem com relação a si, e
como se apresenta frente a outros grupos. No entanto, trata-se de um complexo de
significados e práticas que se entrecruzam, de forma muito mais articulada do que
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pretende a representação presente no hino. Diferentes percursos histórico-sociais são


colocados diante uns dos outros, e buscam a legitimação de suas próprias práticas
culturais, e das representações e significados daí advindos.
É assim que podemos tomar o hino de Rondônia como uma tentativa de
legitimação de uma dada visão de mundo, mas que não se impõe como reflexo
transparente do mundo da linguagem (HALL, 2006, p. 177). Isso ocorre por que
surgem diferenças entre termos e categorias, sistemas de referências antagônicos – e
por isso contraditórios – que classificam o mundo e fazem com que ele seja apropria-
do de maneiras diferentes, pelo pensamento social e pelo senso comum.

REFERÊNCIAS
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