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EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA

Unidade II
5 CONTRIBUIÇÕES PARA A COMPREENSÃO DO LAZER

5.1 Os estudos do lazer no Brasil: principais pesquisadores e contribuições


das escolas internacionais

A área do lazer como estudo e pesquisa acompanha o contexto histórico social. Após a
Primeira Guerra Mundial, foram introduzidas a jornada de trabalho de 40 horas semanais, com
8 horas de trabalho por dia, e férias remuneradas. A conquista do tempo livre por meio das
reivindicações de direitos trabalhistas por parte dos movimentos sociais representou um impacto
na sociedade capitalista.

Um dos marcos principais dessa conquista foi a Assembleia-Geral da Organização Internacional do


Trabalho (OIT), realizada em 1924, que teve como tema principal o lazer. Na ocasião foram requisitados
aos governantes de diferentes países dados mais detalhados sobre as atividades de lazer exercidas pelos
trabalhadores de suas nações. Conforme Mommaas (1996), essa atividade foi realizada e os resultados
publicados no mesmo ano, na International Labour Review, que foi considerado o primeiro estudo de
lazer do Ocidente.

De acordo com Mommaas (1996), antes desse estudo da OIT, já haviam ocorrido outras iniciativas,
dentre as quais algumas de George Bevans, que, em 1913, fez estudos sobre o tempo livre dos
trabalhadores de Nova York, além de outras iniciativas realizadas por diferentes países, como Alemanha,
Bélgica, França, Holanda e União Soviética.

Ainda no final do século XIX, houve outros trabalhos significativos, tais como Le Droit à la Paresse,
de Paul Lafargue, que, em 1880, escreveu sobre os operários; e, posteriormente, nos Estados Unidos, em
1899, Leisure Theory Class, de Thorstein Vebler.

Observação

Lafargue frequentou o curso de medicina e posteriormente se casou


com Laura, filha de Karl Marx. Abandonou a medicina após a morte dos
filhos e se dedicou à vida política. Seu estudo contribuiu para uma visão
do direito ao ócio como forma de equilíbrio existencial para a dignidade
do trabalhador.

Em 1906, foi criada a primeira organização profissional direcionada para o lazer: a American
National Recreation Association, assim como surgiram, em outros países, a World Association for Adult
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Education (1918), a Socialist Workers Sport Internacional (1920) e o International Office for Allotments
and Workers Gardens (1926).

Em 1930, em Liège, na Bélgica, ocorreu o primeiro Congresso Internacional do Tempo Livre dos
Trabalhadores. O evento possibilitou a formação de um comitê internacional sobre o tempo livre
vinculado à Organização Internacional do Trabalho. Somente no segundo congresso, ocorrido em
1935, em Bruxelas, houve a formalização do comitê, que, porém, não avançou devido a divergências
políticas. Devido à recessão econômica de 1930, a noção de tempo livre tornou-se cada vez mais
vinculada ao consumo.

Ainda de acordo com o autor, as pesquisas sociais começaram a ser pensadas cientificamente: a
palavra “lazer” começou a aparecer em livros, revistas e jornais. Entre 1956 e 1969, na União Soviética,
surgiram também estudos na mesma área, dentre os quais se destacam os trabalhos O Tempo e o
Trabalho (1964), de G. A. Prudenski, O Tempo Fora do Trabalho dos Trabalhadores (1956), de G. Petrosjan,
e O Tempo Livre: Duração (1967), de B. Gruschin e L. Górdon.

De acordo com Dumazedier (1974), na Iugoslávia, foi realizada uma pesquisa empírica sobre o lazer
em um contexto socialista por V. Ahtik que foi uma referência para outras pesquisas, principalmente
pelo pesquisador Miro Mihovilovich (1967-1972).

A sociologia empírica do lazer, ou seja, a pesquisa na prática do lazer na cultura de massa, teve
também repercussões na Polônia e na Tchecoslováquia.

Posteriormente as pesquisas sociais sobre lazer e as suas respectivas gerações de pesquisadores


acadêmicos começaram a desenvolver um interesse pelas pesquisas empíricas com o objetivo de não
só compreender a sociedade, mas também apresentar as necessidades de implantações e avaliações de
políticas públicas voltadas para a área.

Os estudos de lazer realizados em alguns países começaram a buscar novas conotações para uma
melhor compreensão das atividades de lazer, utilizando técnicas para avaliar como as pessoas usavam
o seu tempo livre, considerando a quantidade de tempo para suas atividades cotidianas, o trabalho,
as atividades domésticas, as necessidades fisiológicas e o lazer. Essa técnica era conhecida como
orçamento-tempo, como já vimos.

Essas pesquisas eram, aos poucos, incorporadas e aplicadas nas áreas de Sociologia, Economia e
Psicologia, em países como a Alemanha, a Bélgica, a França, a Grã-Bretanha e a Holanda. Essa perspectiva
de estudo se desenvolveu no contexto da organização industrial, e nela destacaram-se Frédéric Le Play,
Ernst Engel e Franklin Giddings.

Cada vez mais o lazer vai adquirindo novos olhares, sendo encarado como um direito individual e
socialmente democrático em um sistema de produção que era até então aliado ao trabalho. A partir
desse viés, muitos investigadores começaram a vincular o lazer à cultura de consumo no final da década
de 1960 e início de 1970. Nessa direção de pensamento e análise, destacam-se Dumazedier, Riesman,
entre outros autores.
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Houve muitos fatores que contribuíram não só para o lazer, mas também para a sua diversificação:
a redução da jornada de trabalho, a aposentadoria, o aumento da expectativa de vida, a crescente
necessidade de educação profissional adulta, os avanços tecnológicos que impulsionaram o lazer
doméstico com o crescimento da aquisição e do uso da televisão.

A diversificação das atividades não só promoveu mudanças no tempo social e dos valores, como
também chamou a atenção dos pesquisadores: a “sociedade do lazer” começou a ser questionada
considerando as mais diferentes práticas do lazer. Os estudos se voltaram para os espaços e programas
de lazer que eram disponibilizados e consumidos nas sociedades ocidentais, principalmente em clubes,
colônias de férias e associações.

Esses espaços e programas impulsionaram o surgimento de novas profissões, como o trabalho


recreativo, e de disciplinas no currículo do Ensino Superior, assim como de associações como a World
Leisure and Recreation Association (WLRA), a European Leisure and Recreation Association (ERLA), a
The Australian and New Zealand Association e a Fundación Colombiana de Tiempo Libre & Recreación.

Dentre as mais articuladas, destaca-se a WLRA, como organização internacional que tem como
premissa promover condições ideais de lazer como forma de desenvolvimento humano e bem-estar
social por meio de congressos para discussões e trocas de experiências – surgem também, com as
associações, periódicos e coletâneas.

Segundo Mommaas (1996), em 1965, durante a Sexta Conferência Internacional dos Sociólogos,
em Evia, foi criada a Comissão de Pesquisa do Lazer, na Associação Sociológica Internacional (ISA). Esse
grupo foi responsável pelo grande projeto de orçamento-tempo entre países, coordenado por Alexander
Salai. Anos depois, em 1968, a Unesco cooperou com o Centre Européen du Loisir, de I´Education et de
la Culture, com estudos e pesquisas que resultaram em uma revista internacional, a Loisir & Société,
editada pela Universidade de Quebec. A publicação teve como objetivo reunir diferentes especialistas da
área das ciências sociais do lazer.

Também de acordo com Mommaas (1996), conforme iam se institucionalizando o lazer e a sua
profissionalização, também surgiam apoios políticos a projetos e ao Journal of Leisure Research (1969).
Dentre os muitos eventos que ocorreram em torno da temática lazer, destaca-se: Os Efeitos Sociais da
Cultura e do Turismo em Washington (1976).

No que se refere a publicações, destaca-se o livro Sociologia do Lazer, de Stanley Parker (1978),
que apresenta o lazer em diversas esferas da vida, considerando o ciclo vital, as relações do lazer entre
religião, família e educação e a necessidade de planejamento de políticas públicas voltadas a essa esfera
da vida do trabalhador.

Na década de 1980, além das tradições acadêmicas, as investigações buscaram outros interesses.
Para Mommaas (1996), houve, no campo da pesquisa do lazer, naquele contexto, uma fragmentação
dos estudos, justificada tanto pela busca de novas teorias quanto pela defesa da tradição. A abordagem
sobre o tema Lazer começou a analisá-lo também pela sua importância econômica e comercial e por
seus impactos, tais como geração de emprego e ativação da cadeia produtiva local e regional.
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Posteriormente, houve muitas críticas aos aspectos econômicos do lazer levantados por essas
novas abordagens, devido à importância que estava sendo dada à indústria do lazer em relação
à formação humanística da atividade. Da mesma forma que surgiram, em contrapartida, novos
programas de educação superior, especialmente na Europa central e ocidental, apareceram, então,
outras abordagens, como:

• dimensão social e/ou coletiva do lazer;

• lazer relacionado a gênero e à classe;

• envolvimento ativo das pessoas na constituição de seu lazer.

O lazer vai adquirindo, em estudos, um caráter multidisciplinar, com enfoque nos estudos culturais,
bem como turismo, esporte e educação física. Dentre os estudos da área do turismo, destacam-se as
contribuições de Jost Krippendorf, da Universidade de Berna, na Suíça. No livro Sociologia do Turismo:
para uma Compreensão do Lazer e das Viagens (1989), o autor discute o modelo existencial da sociedade
industrial, assim como a humanização do cotidiano e das viagens. Para o autor, a humanização se dará
não apenas para o homem-férias, mas para o homem por completo e absoluto.

Destacam-se também as contribuições de Michel Maffesoli, que apresentou a fenomenologia como


método de estudo para o cotidiano da vida e do lazer.

Dessa forma, verificamos que o lazer interfere em diversos aspectos da sociedade. Assim, o lazer,
como campo de estudo interdisciplinar, possibilita o diálogo entre disciplinas, contribuindo com uma
visão mais ampla e integradora do conhecimento, assim como com o diálogo entre ciência e outros
tipos de conhecimentos produzidos na sociedade.

Saiba mais

Para mais informações, consulte os sites da Organização Mundial de


Lazer e da Organização Internacional de Turismo Social:

<http://www.oits-isto.org/oits/public/index.jsf>.

<http://www.worldleisure.org/>.

5.2 A escola dumazediana e os principais estudiosos brasileiros

Em nosso País, os estudos de lazer surgem na década de 1970, numa onda de desenvolvimento de
estudos e projetos mais específicos. Ainda nesse período surgiram no Brasil também as primeiras ações
de políticas públicas voltadas ao incentivo da atividade turística.

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A literatura da época teve como referência principal da sociologia do lazer Jofre Dumazedier,
que esteve em nosso País em diferentes cidades e em diferentes ocasiões. O sociólogo participou dos
seminários organizados pelo Serviço Social do Comércio. Em 1961 e 1963, o pesquisador esteve presente
na Universidade de Brasília e depois em Recife, cidade para a qual foi convidado pelo Movimento Popular
da Cidade de Recife.

Na década de 1960, a bibliografia era muito restrita, devido à própria organização das cidades que
não chamava atenção dos sociólogos, economistas e educadores, nem do próprio governo. Não se tinha
ainda, nas cidades, as características das sociedades industriais.

Destaca-se, com relação a isso, o trabalho de José Acácio Ferreira, que, em 1959, desenvolveu
uma pesquisa sobre os trabalhadores assalariados da cidade de Salvador, o que resultou no livro Lazer
Operário. Requixa (1977) considera essa uma obra de grande interesse na época, devido a seu caráter
histórico, documental e referencial, que marcava os primeiros movimentos sobre os estudos do lazer.

A pesquisa desenvolvida por J. A. Ferreira entrevistou 597 trabalhadores que tinham como renda um
salário mínimo. Dentre os resultados obtidos, o autor observou a prática de jogos e a participação no
candomblé como atividades desenvolvidas por esse público.

Além dessa pesquisa, destacam-se os trabalhos do sociólogo José Vicente de Freitas Marcondes, da
Escola de Sociologia e Política de São Paulo. O pesquisador desenvolveu, na obra Trabalho e Lazer no
Trópico, a apresentação e o questionamento de diferentes tipos de trabalhos existentes em nosso País,
como os trabalhos indígena, doméstico, escravo e industrial, ressaltando a importância do lazer no
desenvolvimento da sociedade. Outro trabalho importante que marcou os estudos do lazer foi Lazer
& Cultura, organizado em 1968 por João Camilo de Oliveira Torres, caracterizando as relações entre a
cultura de massa e o lazer.

Em 1969, o Sesc São Paulo e a Secretaria de Bem-estar da Cidade de São Paulo promoveram o
Seminário sobre o Lazer: Perspectivas para uma Cidade que Trabalha, que teve como objetivo discutir
o tema Lazer junto com pesquisadores. O evento confirmava o lazer como produto do processo de
desenvolvimento industrial como o que estava acontecendo na cidade mais industrializada do País.

Então, começou a progredir a importância social e política do lazer no Brasil. Renato Requixa,
na ocasião do evento, chamou a atenção para a importância do lazer no mundo contemporâneo,
assim como da validade dos estudos do lazer para os países em desenvolvimento, conforme a
linha de Dumazedier.

A experiência do evento promovido pelo Sesc ressaltou também o lazer no sentido educativo: a
necessidade da educação para e através do lazer, levando em conta seus diferentes públicos, como
crianças, adolescentes, adultos e idosos. Passaram a ser discutidas, assim, as necessidades de lazer
na cidade, considerando o planejamento de áreas verdes e espaços de recreação. Foram discutidos
também a formação profissional de lazer, a sua importância nas políticas públicas e a promoção
do lazer municipal.

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O evento contou com embates de opiniões favoráveis e desfavoráveis. Havia posicionamentos


contrários, segundo Requixa (1977), orquestrados por ideias preconceituosas que consideravam a
discussão sobre lazer ofensiva à cultura do trabalho.

Luiz Octávio de Camargo, que foi orientando de Jofre Dumazedier em seu doutorado na Faculdade
de Ciências da Educação da Universidade de Sorbonne, em Paris, considerava que as sociedades urbanas
apresentavam três estágios em relação ao lazer:

• a negação da questão pelos mais diferentes argumentos;

• a visão do lazer como algo importante do ponto de vista terapêutico em relação à vida urbana;

• a percepção de que o lazer é importante em si mesmo.

Os três estágios refletem o processo de crescimento da industrialização e da urbanização das


sociedades capitalistas.

O seminário promovido pelo Sesc em 1969 teve repercussões positivas no lazer, principalmente quanto
ao conhecimento de suas características e à intensificação de outros estudos e eventos promovidos em
diferentes áreas acadêmicas. O lazer passou a ser discutido não só na Sociologia ou na Educação, mas
também no que diz respeito ao planejamento urbano.

Em 1973, foi criado, em Porto Alegre, o Centro de Estudos de Lazer e Recreação (Celar), na PUC do
Rio Grande do Sul, em parceria com a prefeitura do município. Em 1975, Dumazedier ministrou um
curso no Celar, para graduandos e professores universitários, sobre Teoria do Lazer. O curso culminou
no livro Questionamento Teórico do Lazer, escrito por Dumazedier na tentativa de oferecer subsídios
para as questões e preocupações sobre o lazer em nosso País. A obra tinha como premissa a proposta
de ações condizentes e respeitosas à humanidade e à sua relação com as atividades de lazer no
contexto brasileiro.

Outra iniciativa promovida pela Celar foi a promoção de cursos sobre educação e lazer que culminou
na criação de um curso de pós-graduação lato sensu em lazer, em 1974.

No mesmo ano, o Governo Federal criou a Comissão Nacional de Regiões Metropolitanas e Política
Urbana (CNPU). As diretrizes propostas para uma possível política pública para o lazer buscavam disciplinar
a urbanização devido às atividades ligadas ao turismo e ao lazer, assim como ações de preservação e
conservação das cidades históricas e também apoio às infraestruturas das estâncias hidrominerais e das
cidades litorâneas.

O Sesc e o Sesi, com o apoio do Ministério do Trabalho, realizaram, no mês de agosto de 1975, no
Hotel Glória, o Primeiro Encontro sobre Lazer no Rio de Janeiro, que contou com a presença de Jofre
Dumazedier. Os principais temas abordados foram a formação sociocultural e o lazer nas sociedades em
desenvolvimento.

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Dois anos depois, em 1977, Requixa escreveu o livro Lazer no Brasil, obra na qual destacou o
elemento lúdico das etnias formadoras da nacionalidade brasileira, assim como a industrialização, a
urbanização e seus reflexos, e também as formas contemporâneas de uso do tempo livre. Dentre as
principais atividades, foram considerados os meios de comunicação, o teatro, os hábitos de leitura,
os esportes, os fins de semana, as férias e o turismo. Além disso, o autor apresentou os equipamentos
urbanos públicos e privados para o uso do lazer.

A Constituição Federal brasileira, em 1988, instituiu o lazer como um direito básico do cidadão
brasileiro. Nessa década, houve um desenvolvimento significativo na área do lazer, assim como eventos
de importância nacional e internacional.

Em 1988, Sarah Bacal publicou, em São Paulo, o livro Lazer: Teoria e Pesquisa, no qual aborda as
relações entre trabalho, tempo livre e turismo. A autora considera que o tempo total (TT) é dividido em
tempo necessário (TN) para a execução das tarefas essenciais à sobrevivência e tempo liberado (TLB),
para as atividades não obrigatórias, sendo, muitas vezes, confundido com tempo livre.

Os estudos de lazer acompanham as mudanças da sociedade, assim como permitem a produção de


pesquisas de diferentes campos de estudo e refletem o comportamento do lazer como prática sociológica.

6 NOVAS PERSPECTIVAS PARA A SOCIOLOGIA DO LAZER

O lazer é uma área interdisciplinar, o que vem contribuindo para distintas possibilidades e abordagens
e construindo novas ideias. Os múltiplos olhares podem favorecer a reflexão e a crítica, colaborando com
o conhecimento e o debate sobre o lazer.

As discussões sobre lazer estão presentes em vários cursos, por exemplo, Administração,
Artes, Educação Física, Hotelaria, Turismo e Sociologia. Contudo, ainda ocupam um pequeno
espaço no interior das propostas curriculares em muitos cursos, o que restringe as oportunidades
de estudo e atuação.

Em muitas escolas de Ensino Superior, prioriza-se a formação técnica e operacional do lazer,


principalmente em níveis técnico e de graduação. Faz-se necessário criar pesquisadores na área do lazer
com o objetivo de aprofundar os conhecimentos e dar conta das manifestações de lazer que circundam
os contextos locais onde as práticas do lazer estão inseridas.

Gomes (2004), ao analisar os estudos e pesquisas na área, apresenta que houve avanços no campo de
estudos a partir da produção acadêmica em nível de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado)
principalmente nos cursos de Educação Física, Turismo, Educação, Comunicação e Sociologia, entre
outros.

De acordo com dados levantados por Marinho et al. (2011), foram identificados 211 grupos de
pesquisa que estudam direta ou indiretamente o lazer no Brasil:

• Educação Física: 9.
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• Educação: 25.

• Turismo: 22.

• Antropologia: 12.

• Psicologia: 7.

• Sociologia: 7.

• Planejamento Urbano Regional: 6.

• Geografia: 4.

• Fisioterapia: 3.

• Terapia Ocupacional: 3.

• História: 3.

• Administração: 3.

• Arquitetura: 3.

• Medicina: 2.

• Saúde Coletiva: 2.
• Economia: 2.
• Serviço Social: 2.
• Engenharia de Produção: 2.
• Desenho Industrial: 1.
• Museologia: 1.
• Comunicação: 1.
• Engenharia Naval: 1.
• Engenharia Oceânica: 1.
• Ecologia: 1.

• Parasitologia: 1.

Verificamos, portanto, a necessidade de pensar a construção de conhecimento no que se refere ao


lazer e ao ócio, a partir de uma perspectiva interdisciplinar. As diferentes possibilidades de estudo e
intervenção estimulam a construção de novas abordagens e ideias.
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As ideias devem ser concebidas e aplicadas em uma realidade concreta. Para Pimenta e Lima (2012),
é necessário pensar o lazer como uma atividade teórica de conhecimento, diálogo e intervenção na
realidade, ou seja, é no contexto do lazer e da sociedade que a práxis acontece.

A realização de eventos de caráter técnico-científico possibilita encontros e trocas de diferentes


profissionais. Além dos grupos de pesquisa, como já mencionamos, destacamos a realização de
eventos técnico-científicos, que contribuem para a formação dos profissionais e pesquisadores
na área do lazer.

O Encontro Nacional de Recreação e Lazer (Enarel) e o seminário O Lazer em Debate são eventos
que ocorrem anualmente e reúnem pessoas de diferentes áreas. Já o Congresso Brasileiro de Estudos do
Lazer acontece bienalmente e é organizado pela Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação em
Estudos do Lazer (Anpel).

Outros eventos de diferentes áreas também contribuem para o lazer, tais como o Congresso do
Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (Conbrace), o Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e
Pós-graduação (Anptur) e o Congresso Internacional de Educação Física e Motricidade Humana.

Assim como os grupos de pesquisa e os eventos, são importantes também as a publicações de


artigos científicos em revistas de diferentes áreas. Uma das publicações mais relevantes nos estudos
de lazer é a revista Licere, publicação do Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Estudos do
Lazer, da Universidade Federal de Minas Gerais, com periodicidade trimestral, que tem como objetivos
contribuir com avanços qualitativos dos estudos e experiências desenvolvidos na universidade, assim
como difundir, registrar e compartilhar o conhecimento construído na área de lazer.

Outra publicação importante é a Revista Brasileira de Estudos do Lazer, publicação quadrimestral da


Anpel, sem fins lucrativos, que objetiva divulgar a produção científica nacional e internacional sobre lazer
e temas afins. Com relação aos temas mais abordados pela revista, podemos mencionar que há uma forte
reflexão sobre o lazer voltada à implementação de políticas públicas e iniciativas do Terceiro Setor.

Nelson Carvalho Marcellino (2010) apresenta que é necessária a ampliação das possibilidades de
pesquisa, pois há diversos campos que ainda não foram explorados.

Saiba mais
A seguir indicamos os sites das revistas Licere, da Revista Brasileira
de Estudos do Lazer e do Grupo Interdisciplinar de Estudos do Lazer da
Universidade de São Paulo, respectivamente:
<https://seer.lcc.ufmg.br/index.php/licere>.
<https://seer.lcc.ufmg.br/index.php/rbel/index>.
<http://www.each.usp.br/giel/pt-br/lazer.php>.
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6.1 Duplo aspecto educativo das experiências do lazer

Para Marcellino (1987), ao se tratar o lazer como veículo de educação, é fundamental considerar
as potencialidades para o desenvolvimento pessoal e social dos indivíduos. O lazer não pode ser visto
restritamente como um bem de consumo.

Renato Requixa (1977) compreende que se pode educar pela prática do lazer e reconhece a
importância de se educar para o lazer, o que consiste na estimulação da produção cultural caracterizada
por diferentes práticas que buscam simultaneamente introduzir a prática criativa despretensiosa nas
necessidades lúdicas do cotidiano, assim como aprimorar a apreciação crítica.

O desenvolvimento do lazer é uma ação que pode ser coordenada por diferentes atores sociais,
tais como: governo, escolas, organizações não governamentais e comunidade. A educação para o lazer
implica diminuir as diferenças e proporcionar a igualdade de oportunidades no acesso a recursos.

Para Marcellino (1987), a educação para o lazer deve oferecer às pessoas atividades que possam
promover a vivência do lazer de forma criativa e adaptada às necessidades locais, considerando os sistemas
culturais, econômicos e sociais. O lazer pode contribuir para o desenvolvimento de conhecimentos,
aptidões, valores e atitudes que podem ser desenvolvidos tanto na escola quanto fora dela.

Há, conforme o autor, um duplo processo educativo do lazer, que pode ser compreendido tanto como
objeto quanto como veículo da educação. A experiência do lazer pode contribuir com o enriquecimento
do espírito crítico através de aprendizado, estímulo e iniciação.

O lazer compreendido como veículo de educação deve fornecer a compreensão da realidade, o


desenvolvimento social e o reconhecimento das responsabilidades sociais. Já como objeto da educação,
envolve a necessidade de disseminar o seu significado, apresentar sua importância e possibilitar a
participação e a transmissão de informações.

É preciso pensar e organizar um programa de ensino dedicado ao lazer, adotando procedimentos


didático-metodológicos que possam concretizar um fazer educativo de forma lúdica, criativa, cultural e
coletiva. Para isso, faz-se importante não só desenvolver currículos, mas também capacitar os profissionais
não somente na teoria, mas também na prática do lazer, de forma interdisciplinar e constante.

Trabalhar com o lazer tendo na educação um duplo sentido exige dos recursos humanos o
conhecimento das mais diversas realidades brasileiras, assim como das mais diferentes linguagens
culturais, e a busca do equilíbrio entre consumo e participação do tempo do lazer.

É importante que os profissionais de lazer tenham a ampliação de suas próprias vivências, de forma
não só a atualizar, mas também a manter condizente a prática profissional. Os profissionais devem
educar as pessoas participantes das atividades de lazer para as sensibilidades, provocando, por meio das
atividades propostas, experiências edificantes, e extrapolando a discussão em sala de aula, ampliando,
assim, os espaços de referências.

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Marcellino (2010) sugere o equilíbrio entre quatro eixos fundamentais para a formação do
profissional de lazer:

• teoria do lazer;

• relato de experiências refletidas;

• vivências de conteúdos culturais;

• políticas e diretrizes gerais do campo do lazer.

A educação para o lazer tem como princípio formar pessoas para que possam viver o seu tempo
disponível de forma positiva, capaz de conhecer a si mesmas e as relações do lazer com a sociedade.

A escola é um espaço importantíssimo na sociedade, um espaço de troca de saberes e conhecimento e


de formação moral e ética dos indivíduos. Nesse sentido, a WLRA (ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE RECREAÇÃO
E LAZER, 2002), no que se refere à educação para o lazer, recomenda, numa carta internacional de uma
educação para o lazer, de 1993, o auxílio aos estudantes de diferentes níveis, para que seja alcançada uma
qualidade de vida por meio do desenvolvimento pessoal, social, físico, emocional e intelectual. Ao promover
valores, a escola envolverá e influenciará a família, a comunidade e a sociedade onde o estudante está inserido.

É importante considerar também, no âmbito da educação, que o lazer não deve ser exclusividade
de uma única disciplina. Considerando o seu aspecto interdisciplinar, ele precisa envolver as diferentes
disciplinas direta e indiretamente, e também proporcionar atividades extracurriculares. Dessa forma, o
lazer pode ser incorporado dentro e fora da escola, por meio de atividades culturais e esportivas que
possam envolver os alunos e a comunidade.

Saiba mais

Leia a Carta Internacional do Lazer na versão original:

WORLD LEISURE ORGANIZATION. Charter for leisure. 2000. Disponível


em: <http://www.worldleisure.org/userfiles/Charter_for_Leisure_art27.pdf>.
Acesso em: 11 dez. 2015.

Requixa (1979) afirma que a educação é um importante veículo de desenvolvimento e tem no lazer
um ótimo instrumento para incentivar e motivar o indivíduo a desenvolver-se e ampliar seus interesses
e participação mais ativa de ordem individual, familiar, cultural e comunitária.

A sociabilidade no lazer é estimulada pela possibilidade de contatos variáveis em um


momento propício para a troca de experiências e ideias. O lazer também possibilita a afirmação
de comportamentos.
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A pedagogia da animação cultural engloba os sentidos da vida, de movimento e de alegria. É


preciso reconhecer a relação lazer-escola-processo educativo: “[...] uma ‘pedagogia da animação’, assim
encarada, estaria ligada à criação de ânimo, à provocação de estímulos, e à cobrança da esperança”
(MARCELLINO, 1988b, p.142).

Nesse sentido, pensar em uma educação para o lazer implica um processo amplo de educação, que
considere as relações entre as possibilidades da escola e as potencialidades educativas do lazer, ou seja,
a educação para o lazer é um canal possível para a busca de transformações.

A pedagogia da animação atuaria, desse modo, no plano cultural, orientada por princípios de
valorização da cultura local e regional em todas as áreas: artística, física, manual, social e intelectual, e
também no plano social, buscando compreender os interesses das pessoas participantes e iniciando um
trabalho a partir das diferentes realidades.

A Carta Internacional de Educação para o Lazer (2002), da Associação Mundial de Recreação e Lazer, é
um documento importante, pois apresenta as diretrizes para o desenvolvimento de educação para o lazer.

Saiba mais

Leia a carta na íntegra:

ASSOCIAÇÃO MUNDIAL DE RECREAÇÃO E LAZER (WORLD LEISURE


AND RECREATION ASSOCIATION – WLRA). Carta internacional de educação
para o lazer. Saúde em Movimento, 2002. Disponível em: <http://www.
saudeemmovimento.com.br/conteudos/conteudo_exibe1.asp?cod_
noticia=195>. Acesso em: 17 nov. 2015.

O lazer, segundo a carta, refere-se a uma experiência humana que possibilita uma série de benefícios,
como a liberdade de escolha, a criatividade, a satisfação, a diversão, o aumento de prazer e a felicidade.
A atividade de lazer, além de um direito básico, é um recurso para a melhoria da qualidade de vida que
pode também ser considerado um produto cultural, por gerar bens, serviços e empregos.

Observação

Fatores de ordem política, econômica, social, cultural e ambiental


podem influenciar a prática do lazer, ampliando ou restringindo seu acesso.

A carta enfatiza que a educação para o lazer tem um papel fundamental na diminuição de diferenças
das condições de vida, possibilitando a igualdade de oportunidades e recursos. Mas, para que isso aconteça,
é necessária a atuação de vários atores sociais, como a própria comunidade, os governos de todos os
âmbitos, as organizações não governamentais, as instituições de ensino e os meios de comunicação.
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Para que existam ações coordenadas, o documento propõe metas, princípios e estratégias para
efetivar uma educação para o lazer nos ambientes formais e informais da educação. O texto aponta
também diretrizes da educação para o lazer na comunidade, incentivando a participação social, assim
como estruturas e serviços comunitários para tal.

Considerando as diversas dimensões do lazer, principalmente a importância da educação para o lazer,


é importante destacar também o papel do animador sociocultural. Para começar, é importante destacar
que entendemos o sentido da palavra “animação” no contexto do lazer como “dar ânimo, coragem, força
e estímulo”. Nesse sentido, o animador sociocultural desenvolve seu trabalho a partir de vivências que
possibilitem a alegria e o prazer, tendo como objetivo estimular as pessoas em seus momentos de lazer.
A intervenção, nesse caso, deve se dar com a ideia de uma construção coletiva.

O animador sociocultural baseia o seu exercício profissional na vontade social e no compromisso


político-pedagógico com a promoção de mudanças, contribuindo para o exercício da cidadania e
para a melhoria da qualidade de vida, proporcionando, assim, uma ação educativa preocupada com a
emancipação de sujeitos para uma realidade mais justa e humana.

A animação sociocultural tem como objetivos:

• proporcionar o autoconhecimento;

• promover a compreensão das pessoas em relação a si mesmas e ao mundo;

• incentivar a participação dos sujeitos nas questões sociais mais amplas e também naquelas que
estão diretamente ligadas à sua comunidade;

• possibilitar o preparo e o empreendimento de mudanças por meio do estímulo à reflexão e à crítica.

Para que os objetivos sejam alcançados, a animação sociocultural deverá ser:

• concebida;

• discutida;

• planejada;

• organizada;

• executada;

• avaliada.

Independentemente da atuação no campo público ou privado do lazer e também independentemente


do tipo de público, a animação sociocultural deverá ser desenvolvida a partir dos seguintes aspectos:
67
Unidade II

• facilitação: interação e troca de informações entre pessoas e grupos;

• conscientização: noção dos significados individuais e coletivos das atividades de lazer que se
pretendem desenvolver;

• catalisação: iniciativas para a elaboração das atividades;

• promoção: a partir das ações realizadas, promoção da participação dos sujeitos.

Ação Reflexão Ação

Figura 29 – Ações do animador sociocultural

O animador sociocultural deverá tornar-se um pesquisador de suas ações práticas, compreendendo


a realidade dos grupos com os quais se relaciona e interage.

A prática reflexiva permite ao animador sociocultural aprender ainda mais sobre lazer, a partir de
uma análise crítica de suas próprias ações, no que diz respeito à condução de atividades, assim como,
por meio de eventos e revistas científicas, socializar suas experiências com outros profissionais que
atuam na área de animação.

Não se deve só incentivar a participação das pessoas nas atividades propostas, mas também despertar
no público envolvido a consciência da importância da atitude participativa. É necessário compreender
que a animação sociocultural tem como meta fomentar comunidades, grupos e pessoas a partir de
atitudes abertas e orientadas.

No que concerne a conteúdo, o animador sociocultural trabalha com vários campos de interesse,
tais como atividades físico-esportivas e artísticas. Os animadores socioculturais devem elaborar
atividades capazes de atrair e possibilitar a mobilização de pessoas por meio de programações (fixas
e regulares) e eventos.

As atividades devem ser pensadas conforme o tipo de público e a quantidade de pessoas que se
deseja envolver. Para isso, os profissionais devem ter a seguinte característica, de acordo com Luis
Octávio de Camargo (1998):

• polivalência cultural: conhecer diferentes práticas e linguagens como ginástica, dança, música,
cinema entre outras;

• conhecer as peculiaridades de participação dos mais diferentes públicos a partir de gênero, faixa
etária, classes socioeconômica e sociocultural;

• capacidade de organizar e coordenar equipes com profissionais das mais diversas formações;

68
EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA

• conhecimento sobre a formatação de projetos e sua viabilidade socioeconômica;

• conhecimento do espaço físico onde serão desenvolvidas as atividades.

Saiba mais

Você pode obter mais informações sobre o tema, lendo:

MARCELLINO, N. C. Lazer e recreação: repertório de atividades por fases


da vida. Campinas: Papirus, 2013.

___. Lazer e recreação: repertório de atividades por ambientes.


Campinas: Papirus, 2010.

CAMARGO, L. O. Educação para o lazer. São Paulo: Moderna, 1998.

6.2 Desenvolvimento de projetos de animação sociocultural

Para desenvolver atividades de lazer na prática, os animadores socioculturais, como vimos, devem,
além de conceber as atividades a serem executadas e refletir sobre elas, articular o planejamento de
ações e projetos.

A ação de planejamento não se resume apenas em detalhar o que será feito, mas envolve também
determinar previamente as ações, os materiais e os recursos que serão utilizados para realizar os projetos
de animação sociocultural.

A organização e o planejamento, quando bem-sucedidos, possibilitam a delimitação antecipada das


situações que podem ocorrer, promovendo, assim, a resolução ou a minimização de problemas.

O roteiro que apresentaremos pode ser utilizado por animadores que desejam elaborar novos projetos
nas instituições nas quais trabalham ou buscar novos espaços e oportunidades de atuação. Ressaltamos
que o roteiro proposto não é único; existem outros, mas queremos apontar os elementos fundamentais
para a adequação de projetos.

É importante lembrar que os projetos da área de lazer necessitam de avaliação, considerando


os objetivos e metas propostos no início do projeto. As avaliações podem ser quantitativas
e/ou qualitativas. A avaliação também é importante para verificar os aspectos que foram
bem-sucedidos e os que precisam ser melhorados no que diz respeito às atividades propostas,
aprimorando, assim, a experiência profissional e a qualidade dos projetos que poderão ser
desenvolvidos futuramente.

69
Unidade II

• Análise do contexto atual.


• Limites e possibilidades.
Introdução • Justificativas.
(Por que fazer?) • Local e público-alvo.
• Contato prévio com o grupo.

• O que se pretende alcançar.


Objetivos e metas • Solução de problemas.
(O que fazer?) • Delimitar objetivos gerais e específicos.

• Descrever os grupos que serão atendidos


pelos projetos.
• Faixa etária.
• Interesses.
• Expectativas.
Público-alvo • Preferências.
• Outros dados relevantes, tais como gênero,
classe social, etnia etc.

• Descrever como os objetivos propostos


Metodologia e serão alcançados.
cronograma • Descrever passo a passo todas as ações.
(Como fazer?) • Organização cronológica dos passos pensados
para a execução completa do projeto.

• Quais os profissionais que


atuarão no projeto?
Recursos • Quantos serão?
humanos • Quais funções exercerão?
• Qual sua formação específica?

Materiais e •Materiais necessários.


serviços • Bens e serviços que permitem oferecer
as atividades propostas.

Orçamento e • Delimitar as fontes de recursos


fontes de de cada elemento de despesa.
• De onde os recursos serão
financiamento provenientes.

Figura 30 – Etapas do planejamento de um projeto de lazer

Saiba mais

Aprofunde o estudo com a leitura:

ZINGONI, P. Marco lógico: uma metodologia de elaboração, gestão e


avaliação de projeto social de lazer. In: PINTO, L. M. S. Como fazer projetos de
lazer: elaboração, execução e avaliação. Campinas: Papirus, 2008. p.13-32.

70
EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA

6.3 Lazer e animação sociocultural: áreas de atuação

O animador sociocultural poderá exercer sua atividade em diferentes âmbitos, conforme segue.

6.3.1 No setor público

Podemos considerar as ações e os equipamentos voltados para a ocupação do tempo livre da


população em geral, nos âmbitos municipais, estaduais e federal da esfera governamental, tais como:

• centros culturais;

• centros esportivos;

• centros comunitários;

• parques públicos;

• clubes recreativos urbanos e campestres;

• museus;

• oficinas;

• conservatórios públicos, entre outros.

Incluem-se ainda no setor público as ações desenvolvidas por:

• secretarias governamentais;

• fundações públicas;

• empresas e autarquias ligadas ao poder público municipal, estadual e federal nas áreas de:

— cultura;

— esportes;

— turismo;

— lazer;

— meio ambiente.

6.3.2 Nas escolas

Principalmente na iniciativa privada, as escolas estão desenvolvendo projetos de lazer a serem


realizados no próprio recinto escolar.

71
Unidade II

Lembrete

Como vimos, é preciso atuação e participação dos atores sociais para


que as escolas públicas possam conceber, na formação formal e informal,
atividades de lazer.

Além do uso e aproveitamento dos espaços e equipamentos, os animadores socioculturais podem


propor programações que possam mobilizar alunos e comunidades.

6.3.3 No setor privado

No setor privado, os animadores socioculturais podem atuar em:

• clubes;
• parques temáticos;
• livrarias;
• academias de dança.

Nos empreendimentos turísticos hoteleiros, podem atuar em:

• acampamentos de férias;
• hotéis;
• colônias de férias;
• cruzeiros marítimos.

Outro espaço que vem desenvolvendo o interesse em práticas de lazer e animação sociocultural é o
dos hospitais. A prática de atividades lúdicas e artísticas, como a música, contribui para a melhoria dos
pacientes que estão em tratamento médico, assim como atenua a permanência na rotina hospitalar.

Destacam-se, nesse sentido, diversas iniciativas bem-sucedidas, entre elas a dos Doutores da
Alegria, grupo pioneiro que visita e anima as alas infantis dos hospitais e conta com grande número de
colaboradores.

6.3.4 No Terceiro Setor

Além do setor público e do privado, as atividades de lazer podem ser desenvolvidas pelo
Terceiro Setor. Na década de 1990, o crescimento desse tipo de organização estava diretamente
ligado às transformações estruturais nos modos de organização das ações de assistência social,
pois tratava-se de uma nova concepção de como se fazer política, considerando e fortalecendo as
72
EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA

dimensões sociais ligadas à cultura e à vida comunitária, ou seja, um novo arranjo de organização
social entre sociedade civil e Estado.

Lembrete
Como vimos anteriormente, os marcos regulatórios favoreceram o
protagonismo político e social desempenhado pelas ONGs, tendo o lazer como
um elemento estratégico para o desenvolvimento de uma agenda política.

A criação de marcos regulatórios, como diretrizes, cartas, convenções, declarações e leis, teve
como propósito sensibilizar governos, não apenas de forma imediata, mas também a médio e a longo
prazo, sobre as questões e os benefícios do lazer. Nesse sentido, as ONGs desenvolvem projetos sociais
ligados ao esporte e às artes (música, dança, produção audiovisual) que têm como objetivos estimular o
desenvolvimento de indivíduos e comunidades por meio do lazer, para:

• estimular a vida ativa;


• estimular o desenvolvimento cognitivo e reduzir a ansiedade;
• difundir valores morais positivos e desenvolver comportamento socialmente valorizado;
• reduzir taxas de abandono escolar;
• reduzir delinquência e criminalidade.

Conforme dissemos, o lazer pode ser considerado um instrumento importante para a melhoria da
qualidade de vida individual e coletiva. O animador sociocultural tem a possibilidade de desenvolver
atividades que proporcionem benefícios aos mais diferentes públicos. A atuação do profissional é ampla
em órgãos públicos, privados e em organizações não governamentais.

Saiba mais
Consulte os livros a seguir para aprofundar os conhecimentos no assunto:
LOPES, T. B.; ISAYAMA H. F. Sobre o fazer técnico e o fazer político:
a atuação do profissional de lazer no serviço público municipal. Revista
Brasileira de Ciência e Movimento, Brasília, v. 19, p. 87-99, 2011.
MARCELLINO, N. C. et al. Espaços e equipamentos de lazer em região
metropolitana: o caso da região metropolitana de Campinas. Curitiba:
Opus, 2007.
PINA, L. W.; RIBEIRO, O. C. F. Lazer e recreação na hotelaria. São Paulo:
Senac, 2007.

73
Unidade II

7 EXPERIÊNCIAS DO LAZER E DO ÓCIO NO BRASIL: ESTUDOS DE CASO

7.1 Lazer e esporte

Como sabemos, foram muitas as transformações que aconteceram na sociedade brasileira. Em


se tratando de lazer, foi no século XX que começaram a se desenhar novas relações com o tempo
do trabalho e fora dele nos grandes centros urbanos, principalmente por iniciativa de distintos
grupos sociais.

Entre 1850 e 1914, e posteriormente, entre 1927 e 1937, houve um aumento significativo da taxa de
industrialização. A mudança do sistema econômico introduziu novas formas e métodos de organização
do trabalho. Houve uma delimitação do tempo do trabalho, que foi sendo reduzido. Muitas horas
dedicadas ao trabalho apontavam para a necessidade de atividades recreativas como minimizadoras da
“desintegração fisiológica do homem”.

Aos poucos, as mudanças da paisagem já impunham desafios aos trabalhadores quanto ao tempo
fora do trabalho. A crescente concentração populacional possibilitou diversões populares, nem sempre
de acordo com os padrões da elite. A migração de trabalhadores que vinham do campo para a cidade
apresentava uma mão de obra nem um pouco familiarizada com as técnicas dos trabalhos exercidos
na indústria.

Tendo como parâmetro a influência europeia, vários setores da elite brasileira construíram uma
visão, a partir da ideia de que o trabalho era moralmente edificante, ligada à Igreja católica. Essa visão
criou os círculos operários, tendo como objetivo educar os trabalhadores na ordem da fé cristã por meio
de atividades ocupacionais como oficina de tricô e outros trabalhos manuais.

Os médicos também foram importantes nesse processo. A partir de 1930, surge a medicina do
trabalho, com técnicas de racionalização para otimizar a produção. Os profissionais da área médica
diagnosticavam a fadiga como uma das causas para o pouco rendimento do trabalhador e o aumento
da possibilidade de acidentes.

As origens da fadiga, os acidentes, as alterações do ritmo do trabalho e o descanso fora do trabalho


contribuíram para a relação desses fatores com a forma como esses trabalhadores se divertiam e
descansavam. Fortaleciam, ademais, as orientações dos donos das empresas sobre as atividades
recreativas favoráveis e desfavoráveis (excessos físicos) ao trabalho.

Surgiam, assim, a assistência social aos trabalhadores em muitas fábricas, incluindo o oferecimento
de atividades recreativas, esportivas e culturais.

Um exemplo disso foram os clubes de futebol organizados no chão das fábricas entre 1910 e 1920
na cidade de São Paulo. O Juventus, time de futebol do bairro operário da Mooca, surgiu nesse contexto.

Os operários frequentavam as sociedades recreativas dançantes,


engrossavam com sua presença os clubes de futebol, gostavam de bailes e de
74
EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA

casas de jogo e apostas. Muitos dos bairros operários tinham seus times
de futebol ou associações esportivas, os clubes de várzeas, sendo muitos
deles vinculados a fábricas e empresas. Alguns nomes de times de futebol
ou sociedades esportivas: Fabrica Santana, Gasômetro F. C., Esportiva Casa
Pratt, Maria Zelia F. C. etc. (DECCA, 1987, p. 42).

Os clubes dos trabalhadores eram considerados mais do que um espaço para a prática do futebol:
eram locais para o estabelecimento de relações sociais e de comunicação. Era nas sedes sociais dos clubes
que os associados, acompanhados de seus familiares, participavam das atividades de lazer, como bailes,
piqueniques, excursões, festas de final de ano, assim como se comunicavam e trocavam informações
sobre o clube e o cotidiano de suas vidas.

As vilas operárias constituíram outra forma de habitação popular da virada


do século na cidade de São Paulo. Muitas grandes indústrias possuíam vilas
em suas proximidades ocupadas pelos trabalhadores. As mais conhecidas
situavam-se nos bairros do Brás e [da] Mooca, construídas pela Fábrica
Santana, Álvares Penteado, Francisco Matarazzo e Crespi (ROSA, 2005, p. 3).

Em contrapartida, as empresas, ao investirem no grêmio dos trabalhadores, exigiam a prestação de


contas, como forma de controle, dos clubes que estavam subsidiando. Formavam-se, assim, as diretorias,
cujos membros eram responsáveis pelo gerenciamento das atividades.

Era comum também que o dono ou os altos funcionários das indústrias que mantinham os clubes
ocupassem posições de destaque ou recebessem títulos de “presidente de honra” como reconhecimento
pelos benefícios prestados.

Saiba mais

AGOSTINO, G. Vencer ou morrer: futebol, geopolítica e identidade


nacional. Rio de Janeiro: Mauad, 2002.

DECCA, M. A. G. A vida fora das fábricas: cotidiano operário em São


Paulo. 1920-1934. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

No Brasil, no intenso processo de industrialização, entre 1935 e 1938, discutiam-se a organização da


educação industrial e novas estratégias de racionalização do trabalho envolvendo como benefícios ao
trabalhador assistência técnica, moradia, educação, cuidados domésticos e serviços de recreação e lazer.

Surge posteriormente, em 1942, o Serviço Nacional da Aprendizagem Social (Senai), que, além da
formação para o trabalhador da indústria, oferece diversas atividades, entre elas manuais, esportivas e
de formação moral e cívica.

75
Unidade II

Três anos depois, em 1945, realiza-se, na cidade de Teresópolis, a Primeira Conferência das Classes
Produtoras, que reúne mais de 700 associações de todo o País e culmina na criação de um fundo
social para ser investido em atividades que possam beneficiar os trabalhadores. Em 1946, organiza-se
formalmente a criação dos Serviço Social da Indústria (Sesi) e do Comércio (Sesc).

Essas organizações têm como princípio atuar no tempo fora do trabalho. Dentre as atividades
desenvolvidas pelo Sesi, destacamos:

• atividades de lazer;
• esporte;
• jogos operários;
• segurança no trabalho;
• nutrição;
• literatura;
• economia doméstica.

Tanto Sesi quanto Sesc, independentemente da ênfase da programação, são organizadores de lazeres
que têm como objetivo o desenvolvimento físico, intelectual, cultural e moral de seus trabalhadores.
Atualmente as entidades oferecem:

• teatros;
• clubes;
• bibliotecas;
• colônias de férias
• equipamentos e atividades esportivas.

Além dessas iniciativas, a ideia de atividades de lazer e recreação também seriam assumidas pelo
poder público. Assim, em 1943, surgiu o Serviço de Recreação Operária, que funcionou até 1964.

Saiba mais
Visite os sites do Sesi e do Sesc:
<http://www.portaldaindustria.com.br/sesi/>.
<http://www.sesc.com.br/>.

76
EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA

Na mesma década, são criados os marcos legais das políticas voltadas ao esporte. Na década de 1990,
há uma progressão sutil por meio da criação da Secretaria dos Desportos da Presidência da República,
que posteriormente origina o Ministério dos Esportes, em 2003.

Inicialmente, a estrutura estatal está voltada às políticas de esportes e lazer como instância de
regulação. Posteriormente, surgem programas como o Programa Esporte e Lazer da Cidade (Pelc), que
atua nacionalmente em situações e realidades de vulnerabilidade social. Com o objetivo de democratizar
o acesso ao lazer, o programa tem tentado suprir as carências de ações públicas para as demandas
mais importantes para crianças, jovens, adultos, idosos e portadores de deficiência. Dentre as atividades
desenvolvidas, destacamos:

• oficinas culturais;
• oficinas artísticas;
• oficinas esportivas;
• implantação de brinquedotecas;
• salas de leitura
• projeções;
• debates;
• eventos dos mais variados tipos.

Figura 31 – Logotipo do Programa Esporte e Lazer na Cidade

Contudo, apesar das ações, ainda são restritos os investimentos do Ministério nesse programa.
Segundo Almeida e March Júnior (2010), infelizmente 80% de todo o recurso destinado à pasta de
77
Unidade II

atividades esportivas são gastos com esportes de alto rendimento, apoio e financiamento de atletas e
equipes esportivas, eventos internacionais e construções esportivas.

Apesar das restrições para o programa, podemos avaliar positivamente a iniciativa. O programa
Esporte e Lazer na Cidade, do Governo Federal, apesar das dificuldades, representa uma conquista, mesmo
que tímida, para o esporte recreativo e de lazer. Ainda necessita, contudo, de iniciativas de práticas
esportivas comunitárias, assim como é necessário reivindicar a ampliação dos recursos destinados, para
que possam proporcionar impactos positivos.

Saiba mais

Obtenha mais detalhes sobre o Pelc acessando:

BRASIL. Ministério do Esporte. Projeto Esporte e Lazer da Cidade. Brasília,


[s.d.]. Disponível em: <http://www.esporte.gov.br/index.php/institucional/
esporte-educacao-lazer-e-inclusao-social/esporte-e-lazer-da-cidade/
programa-esporte-e-lazer-da-cidade-pelc>. Acesso em: 24 nov. 2015.

7.2 Lazer e cultura

Além do esporte, as atividades culturais desenvolvidas em nosso País têm contribuído para o lazer
e a qualidade de vida da população. Embora nem todos tenham ainda acesso aos bens culturais, há
interesse por parte das pessoas em experimentar atividades culturais fora do lar.

Para se ter uma ideia, em 2014, foi realizada a pesquisa Público de Cultura (SESC, 2013), para
compreender e criar cenários sobre o comportamento de consumo e da produção cultural com relação
à atividade de lazer.

A pesquisa foi realizada pelo Sesc em parceria com a Fundação Perseu Abramo. Ela fez 2.400
entrevistas, na área urbana de 25 estados das cinco regiões brasileiras, em 139 pequenos, médios e
grandes municípios.

Os resultados da pesquisa são muito interessantes. A maioria dos entrevistados se declarou branca e
parda. A maior parcela não está estudando e é composta por pessoas que completaram o Ensino Médio
ou Superior, seguida pelas pessoas que possuem Ensino Fundamental incompleto.

Quanto aos aspectos relacionados ao trabalho, a maior parte dos pesquisados está inserida
na População Economicamente Ativa (PEA). Um fato que chamou particularmente a atenção foi
a porcentagem de inativos (aposentados, donas de casa e desempregados): quatro em cada dez
entrevistados estão em uma dessas situações.

78
EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA

Outro aspecto relevante são as pessoas que estão no mercado informal (assalariados sem carteira
assinada). Entre os empregados formalmente, destacam-se assalariados com carteira assinada, servidores
públicos e autônomos que recolhem ISS. Mais de sete em cada dez pessoas que participaram da pesquisa
trabalham nos ramos de comércio (29%) e serviços (45%).

Já o perfil socioeconômico revelado pela pesquisa indica que mais da metade dos entrevistados
está inserida nos chamados estratos médios (EM), cuja renda mensal per capita corresponde a um valor
entre R$ 290,00 e R$ 1.018,00. É significativa a proporção de pessoas em altos estratos médios (20%) e
estratos altos (16%) concentradas nas Regiões Sul e Sudeste.

De acordo com o levantamento, 73% das pessoas ascenderam e conquistaram maiores níveis de
escolaridade que seus pais. A maior parte dos entrevistados é casada (54%) e é seguidora de alguma
religião: 57% se declararam católicos, e 28%, evangélicos.

Com relação aos hábitos de lazer, aproximadamente a metade afirmou que em seu tempo
livre de final de semana se dedica a atividades dentro de casa e/ou pratica alguma atividade de
lazer/entretenimento, como ir a restaurantes, a shoppings, sair com os amigos etc. Já durante a
semana (de segunda a sexta), as atividades de lazer exercidas dentro de casa são as apontadas por
66% dos entrevistados.

Considerando o total de horas gastas em atividades ao longo da semana, destacam-se:


cuidados pessoais com a própria saúde, incluindo tempo para repor o sono, alimentação, trabalho
remunerado, assistir à TV, deslocamento de um lugar para o outro. Já durante o final de semana,
a presença da TV se destaca, seguida de afazeres domésticos, passeio e trabalho remunerado.
Destaca-se também que 31% dos entrevistados exercem trabalho remunerado aos finais de
semana.

Ainda conforme a pesquisa, os entrevistados consideram as viagens e a companhia da família as


atividades mais valorizadas.

Já quando perguntada sobre quais atividades gostaria de fazer se pudesse escolher livremente, sem
a preocupação com tempo, dinheiro e permissão, mais da metade das pessoas citou o desejo de viajar,
de permanecer na companhia da família (41%), de cuidar de si (24%) e a intenção de descansar e não
fazer nada (18%).

Dentre os principais locais visitados quando se deseja fazer alguma atividade cultural aos finais
de semana, destacam-se: shoppings, cinemas, parques, igrejas, teatros, restaurantes e outros espaços
de alimentação, e praças.

A maior parcela dos entrevistados se dedica, nos lugares citados, à atividade de entretenimento, às
atividades culturais e à participação em atividades esportivas e religiosas. Destaca-se, na pesquisa, que
na percepção de 51% das pessoas entrevistadas, nenhuma atividade cultural é feita aos fins de semana.
Essa proporção chega a 85% durante a semana, de forma que a principal atividade cultural citada é
frequentar a igreja e outros espaços religiosos.
79
Unidade II

Dentre os entrevistados, se pudessem escolher, 60% fariam alguma atividade cultural no fim de
semana, e outros 50%, nos dias de semana. Entre os locais escolhidos para essas atividades, foram
citados: cinemas, teatros, parques, praças e shopping centers.

Ainda conforme a pesquisa, foi possível verificar que ainda é pequeno o leque de atividades culturais
realizadas pelos entrevistados: 89% nunca foram a um concerto de ópera ou música clássica em sala
de espetáculo, 75% nunca estiveram em espetáculos de balé ou dança no teatro, 71% nunca estiveram
em uma exposição de arte (pintura, escultura e outros) em museus ou outros locais e 70% nunca
frequentaram uma exposição de fotografia. Além desses dados, a maioria dos entrevistados (61%)
afirmou nunca ter realizado atividades como ir a uma peça de teatro ou a um show de música (57%).
Por outro lado, 91% já assistiram a um filme em casa ou em outro local diferente de salas de cinema,
80% já dançaram em bailes e baladas, 78% já estiveram no cinema, e 72% no circo, 77% já assistiram a
um show de música em casa ou outro local diferente de casas de espetáculo, 69% já leram um livro por
prazer e 58% já foram a uma biblioteca.

As razões apresentadas para a não realização das atividades se equilibram entre a falta de gosto por
determinadas atividades e sua não existência na cidade do entrevistado. Os principais meios pelos quais
os pesquisados se informam sobre as atividades culturais a que costumam ir são as sugestões de amigos,
parentes e colegas (41%), divulgação na mídia (36%) e internet (25%).

Quando questionados sobre a primeira atividade cultural com a qual tiveram contato (ainda na
infância ou mais tarde), os entrevistados indicaram o circo (29%), o cinema (16%) e o teatro (11%).

Ainda de acordo com a pesquisa realizada pelo Sesc, é pequena a proporção de pessoas que
desenvolvem algum tipo de produção: 15% cantam, 13% dançam individualmente ou em grupo, 10%
tocam algum tipo de instrumento musical, 7% fazem fotografia, 5% praticam pintura, escultura ou
desenho e somente 4% fazem algum tipo de escrita criativa ou compõem músicas.

A pesquisa, no que toca aos gostos musicais, revela que a maioria das pessoas entrevistadas
apontam gostar de observar os principais elementos culturais e artísticos presentes em uma cidade,
como parques (89%), arquitetura (73%), luzes decorativas e artísticas (70%), monumentos e estátuas
(68%), propaganda e publicidade (54%) e grafites e murais (41%).

Já com relação aos gostos musicais, os gêneros citados foram: sertanejo, MPB, Forró,
Gospel e Pagode. Entre as danças, as mais citadas foram forró, dança de salão, samba e street
dance/rap. Com relação ao teatro, o gênero preferido é comédia, e os principais tipos de
apresentação são o circo, as comédias stand up e os teatros de bonecos; 26% dos entrevistados
afirmaram que não gostam de exposições artísticas, e outros 26% citaram que não sabem o que
é uma exposição ou nunca foram a uma.

Sobre os hábitos de leitura, 58% dos entrevistados não leram nenhum livro nos últimos seis meses, e
os que leram possuem uma média de 1,2 livros lidos nesse período. Dos livros mais citados, destaca-se,
depois de romance, a Bíblia.

80
EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA

Já com relação ao hábito de ver televisão, 62%, afirmam assistir aos canais abertos e 28%
assistem tanto à TV por assinatura quanto à TV aberta. Os principais produtos culturais vistos na
TV são novelas (54%), filmes (52%) e jornais de notícias (44%). Já entre os filmes prediletos, foram
apontados os de aventura (39%), comédia (38%) e romance (29%), tendo como preferência o
cinema americano (45%), em detrimento do cinema nacional (33%); 65% das pessoas veem filmes
nacionais de vez em quando, enquanto 22% assistem sempre; 14% dos entrevistados afirmaram
nunca terem assistido.

Com relação aos meios de comunicação, a TV aberta é tida como principal meio de adquirir informação
sobre o que acontece nos âmbitos da cidade, do país e do mundo. A TV aberta se destaca em todas as
regiões do Brasil, embora tenha menos força na Região Sul.

A internet foi apontada como um dos meios mais utilizados para a obtenção de informações por
um terço dos entrevistados, principalmente as pessoas situadas nos estratos de renda acima de cinco
salários mínimos. Posteriormente, destacam-se as conversas entre amigos, rádio, jornais impressos e
TV por assinatura. Pouco mais da metade das pessoas pesquisadas afirmou que usa o computador e a
internet em sua residência. O uso do computador é voltado tanto ao entretenimento quanto à pesquisa:
conhecer pessoas e entrar em salas de bate-papo (35%), buscar notícias (28%), utilizar sites de busca
(22%) e enviar e-mails ou mensagens (14%).

Outro dado revelado pela pesquisa é que pouco mais de oito em cada dez pesquisados possuem
telefone celular, mas ainda são poucas as pessoas que usam o aparelho para outras modalidades que
não fazer e receber ligações telefônicas: usar SMS (34%), fotografar/filmar (17%), usar a internet (17%),
ouvir música (16%), conectar-se às redes sociais (12%) e jogar jogos (18%).

Saiba mais

Os dados detalhados e a apresentação dos gráficos podem ser acessados


através do link:

SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO (SESC). Públicos de cultura: pesquisa


de opinião pública. 2013. Disponível em: <http://www.sesc.com.br/wps/
wcm/connect/cac99ed0-4052-406b-a0ac-d92fcade0737/sintese_brasil.
pdf?MOD=AJPERES&CONVERT_TO=URL&CACHEID=cac99ed0-4052-
406b-a0ac-d92fcade0737>. Acesso em: 24 nov. 2015.

81
Unidade II

7.3 Festas tradicionais

Figura 32 – Festa junina no Nordeste

Outro aspecto interessante quando nos referimos ao lazer é compreendê-lo a partir da vertente
popular da cultura.

Como sabemos, a cultura é dinâmica e contínua e varia conforme o espaço e o tempo. A cultura
é a expressão de crenças, valores, costumes, conhecimentos e criações artísticas. Ela é acumulada
pelos membros de uma sociedade e transmitida socialmente de geração em geração, originalmente
ou modificada.

A cultura popular, ou espontânea, refere-se às manifestações de caráter coletivo, marcada de forma


pela espontaneidade e pelo cotidiano, e relaciona-se com os modos de vida, saberes e fazeres, tais como:

• alimentação;

• crenças;

• habitação;

• divisão de tarefas;

• práticas de cura, entre outras expressões.

Dentre várias expressões da cultura popular, destacam-se as festas, consideradas como


elementos fundamentais para compreender a mentalidade e o simbolismo do povo. Em nosso
País, particularmente, as festas com a participação popular estão presentes em todas as regiões,
resistindo e negociando com o contexto global, caracterizando uma das expressões mais criativas
da cultura brasileira. Para Rita Amaral (1998), as festas nas diferentes cidades do País revelam
múltiplos sentidos, tais como:
82
EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA

• organização popular;

• expressão artística;

• ação social;

• expressão de identidade cultural;

• afirmação de valores.

As festas foram muito utilizadas pelos colonizadores portugueses como um instrumento didático
e de catequização para a implantação da religião católica em nosso País, e meio de inserção social.
A festa é uma importante mediação simbólica na cultura dos povos. Ela é caracterizada por reunir
simultaneamente o sagrado e profano.

As festividades foram se tornando cada vez mais populares, pois agrupavam outras expressões, como
dança, fantasias, músicas, personagens. Elas apresentam duas dimensões: divertimento e compromisso.
As festas rompem com a rotina diária, muitas vezes no decorrer do ano, no que diz respeito tanto à
organização quanto à participação.

A festa, em todas as suas diferentes modalidades e em seus múltiplos


significados e contextos, tem em comum o fato de criar um espaço essencial
para fortalecer e nutrir a rede das relações sociais, a parte humana vital da
chamada “teia da vida”. A Festa – esses eternos rituais que acompanham
o homem em momentos suspensos, extraídos da linearidade do tempo
cotidiano – tem muitas modalidades, mas seja qual for sua forma de
expressão, os momentos de lazer proporcionados por ela têm sempre um
caráter participativo e a forma de convivialidade como cria, reforça e
nutre os laços sociais. O tempo vivido na festa é um tempo extraído do
cotidiano porque cria um envolvimento que permite um distanciamento
das preocupações, especialmente aquelas decorrentes do trabalho e/ou [do]
medo subjacente de perdê-lo (BUENO, 2008, p. 52).

São muitas as expressões da cultura popular brasileira, porém utilizaremos como exemplo o fandango
caiçara, presente em muitas festas nas comunidades caiçaras brasileiras.

Brevemente, podemos dizer que o fandango caiçara é uma expressão que interage nas festividades
da cultura popular nas regiões litorâneas dos Estados do Rio de Janeiro, de São Paulo e do Paraná. É um
elemento essencial na construção e afirmação da identidade cultural das comunidades caiçaras, fortalecendo
a articulação, a resistência, a identidade e a manutenção de suas práticas culturais.

O fandango é uma manifestação cultural e tem como características as cantigas e os versos


improvisados pelos fandangueiros, que também recriam as letras de acordo com acontecimentos do
cotidiano, ou provenientes de repertórios tradicionais.
83
Unidade II

Originalmente, o fandango está ligado à organização do trabalho coletivo (mutirão), no qual o dono
da terra a ser trabalhada convoca a comunidade para auxiliá-lo. Vizinhos e “camaradas” se reúnem para
ajudar a erguer uma casa, varar uma canoa, fazer lanço de tainha, ou ajudar nos preparativos para um
casamento. Após a tarefa, realizam-se os bailes, que são acompanhados de mesas fartas (pratos à base
de peixe, mariscos, farinha de mandioca e de milho, carne de caça, doces, cachaças curtidas em ervas
ou com melado).

As comunidades caiçaras comemoram, com fandango, aniversários, casamentos, batizados e festas


religiosas. Nesses encontros, a comunidade atualiza as notícias e reforça as relações de parentesco, a
convivência entre o grupo formado por tocadores e dançadores. A comunidade mantém a memória
e a prática das diferentes músicas e danças, bem como a continuidade do conhecimento musical em
torno do fandango e sua evolução.

7.4 Jogos, brinquedos e brincadeiras

Figura 33 – Crianças brincando

Além das festas, o lazer na cultura popular também é marcado pela presença de jogos, brinquedos
e brincadeiras.

De acordo com Gaspar e Barbosa (2007), esses elementos infantis possibilitam uma série de benefícios
paras as crianças como atividades de lazer e recreação:

• socialização;
• colaboração;
84
EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA

• desenvolvimento da imaginação;
• melhor compreensão do mundo a sua volta.

Contudo, devido às constantes mudanças e principalmente àquelas oriundas da constante evolução


tecnológica, as brincadeiras e os jogos infantis populares vêm sendo substituídos pela televisão, pelo
computador e pelos jogos eletrônicos.

A verticalização das cidades, assim como a redução do espaço e a violência, são fatores que
ameaçam essas expressões. Há algum tempo, nas mais diferentes cidades brasileiras, era comum
encontrar crianças brincando e jogando tranquilamente nas ruas com os mais variados tipos de
brinquedos e brincadeiras. Apesar das dificuldades, fizeram e ainda fazem parte da realidade
de muitas crianças:

• amarelinha;
• bola de gude;
• esconde-esconde;
• boca de forno;
• passarás;
• queimada;
• quebra-panela.

Em muitos espaços como equipamentos culturais e na escola, é possível verificar atividades que
visam a resgatar e ressignificar essas e outras brincadeiras para as gerações mais novas, com o sentido
de oferecer uma experiência lúdica, positiva e de contato com a cultura brasileira.

Saiba mais

Leia mais sobre o tema acessando:

SÃO PAULO (Estado). Biblioteca Virtual do Governo do Estado de


São Paulo. Cultura e folclore paulista: brincadeiras e brinquedos. 2015.
Disponível em: <http://www.bibliotecavirtual.sp.gov.br/temas/sao-paulo/
cultura-e-folclore-paulista-brincadeiras-e-brinquedos.php>. Acesso em:
24 nov. 2015.

85
Unidade II

8 NATUREZA, SOCIEDADE E TURISMO

Figura 34 – Turismo em áreas naturais

A evolução da atividade turística remonta à própria trajetória histórica da sociedade. Gregos e


romanos, por exemplo, já realizavam viagens para aproveitar atividades culturais e artísticas, além de
eventos, como os primeiros Jogos Olímpicos, realizados no século VIII a.C.

No período do Renascimento, entre os séculos XVI e XVII, houve registros de viagens turísticas
pela Europa, efetuadas por jovens que buscavam ampliar seus conhecimentos acerca de distintas
manifestações culturais.

O turismo organizado, entretanto, surge na Revolução Industrial, que marcou a Europa não só pelo
surgimento dos grandes centros urbanos, mas também pela degradação ambiental. As conquistas do
tempo livre e dos direitos trabalhistas por parte dos operários contribuíram para a busca de atividades
de lazer, dentre elas o turismo. Além desses fatores, ocorreu também o surgimento da classe média, que
emergiu nesse período, propiciando o aumento do consumo e das viagens. Todos esses fatores, por sua
vez, contribuíram para os danos ao meio ambiente.

A evolução dos meios de transporte contribuiu significativamente para o crescimento da atividade


turística no século XX. O apogeu do fenômeno foi alcançado entre as décadas de 1970 e 1980, o que
propiciou o crescimento desordenado da atividade e fez aumentar de forma assustadora uma série de
problemas ambientais, como:

• poluição do ar;

• poluição das águas;

• ausência de saneamento básico.

86
EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA

A necessidade humana de proximidade com a natureza, assim como a busca de um modelo de


desenvolvimento turístico de forma sustentável, fez com que a Organização Mundial do Turismo (OMT)
propusesse diretrizes para o ecoturismo,

[São diretrizes para o ecoturismo] todas as formas de turismo em que a


motivação principal do turista é a observação e a apreciação da natureza,
de forma a contribuir para a sua preservação e conservação e minimizar
impactos negativos no meio ambiente natural e sociocultural onde se
desenvolve (OMT, 1994).

Esse segmento da atividade turística tem como conceitos básicos e determinantes:

• desenvolvimento sustentável;

• educação ambiental;

• envolvimento das comunidades locais.

Segundo a World Travel & Tourism Council (WTTC, 2012), o turismo é o setor que apresenta o
maior crescimento. A estimativa, de acordo com o órgão, é de que, até 2023, exista um crescimento
anual de 2,4% ao ano na área. Uma das razões para essa perspectiva de aumento está relacionada
aos seguintes fatores:

• reconhecimento ainda maior do lazer para uma melhor qualidade de vida;

• maior interesse da população em expandir seus conhecimentos, procurando novas experiências


significativas e contato com novas culturas e novos lugares.

Ao procurar a atividade turística como principal atividade do lazer, segundo a Associação Brasileira
das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura (ABETA, 2010) o perfil do viajante está relacionado
às seguintes motivações:

• paz e tranquilidade (descansar, relaxar, contemplar);

• socialização (conhecer diferentes pessoas);

• união de casal (romantismo e privacidade);

• exploração e descobertas (conhecer novos lugares e estilos de vida);

• fuga (da família, do trabalho, do estresse, da rotina);

• proatividade (saúde, bem-estar, condicionamento físico);

87
Unidade II

• liberdade (de horários e responsabilidades);

• união familiar (momentos com os filhos, resgate de memórias).

Dentre os principais destinos no Brasil e no mundo, destacamos:

• Amazônia;

• Pantanal;

• Bonito;

• Fernando de Noronha;

• Parque Nacional de Iguaçu;

• Brotas;

• Vale do Ribeira;

• Estados Unidos;

• Nova Zelândia;

• Costa Rica;

• Quênia.

A Associação Mundial de Recreação e Lazer conta com uma comissão permanente sobre turismo e
meio ambiente que tem como objetivos:

• fornecer uma rede de comunicação sobre as relações entre lazer, turismo e meio ambiente para os
membros participantes;

• desenvolver iniciativas que pesquisem mais a fundo as inter-relações de lazer, recreação, turismo
e meio ambiente;

• servir como um mecanismo de defesa para políticas e programas na associação mundial.

Com relação principalmente ao lazer na cultura popular e suas relações com o turismo, essas
atividades podem contribuir não só para a qualidade de vida, mas também favorecer as experiências
subjetivas e individuais ligadas ao ócio.

88
EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA

Os benefícios tanto do lazer quanto do ócio só poderão ser ameaçados se o lazer for visto apenas
como mais um produto para consumo, levando os indivíduos à alienação.

Observação
A alienação está vinculada à fragmentação e também à perda de
consciência do sujeito. Ao propor atividades de lazer e ócio alienantes e
pautadas somente pela lógica do consumo, o sujeito deixa de ser o centro
de si e passa a ser comandado; como consequência, perde a sua consciência
crítica sobre o mundo e a sociedade na qual está inserido. Além disso, perde
também a sua individualidade, não conseguindo, portanto, pensar por si.

Resumo
Esta unidade abordou que o lazer como área de estudos e pesquisa
surge no final do século XIX, com alguns trabalhos importantes, como os de
Paul Lafargue. Além desses trabalhos, começam a acontecer alguns eventos
importantes, principalmente após a Primeira Guerra Mundial, como as
conquistas trabalhistas obtidas nesse período.

Aos poucos, os estudos do lazer começam a buscar novas conotações


e objetos de estudo, não só analisando como as pessoas usam o seu
tempo livre, mas também avaliando programas e espaços voltados para
a prática do lazer. Essas mudanças favorecem os estudos empíricos da
área, assim como a importância do lazer e suas implicações na família, na
religião e na educação.

Surgem estudos e pesquisas voltados para os impactos econômicos da


área, como a geração de emprego e a ativação da cadeia produtiva tanto
em nível local quanto regional. Aparecem, além disso, estudos abordando
a dimensão social e/ou coletiva do lazer, considerando gênero, classe e
envolvimento ativo dos sujeitos.

No Brasil, os estudos de lazer começam efetivamente no final da


década de 1960 e início da década de 1970. Tanto os estudos quanto as
iniciativas de lazer como Sesc e Celar tiveram influência do pesquisador
Jofre Dumazedier, que participou de muitos eventos e desenvolveu suas
pesquisas com outros estudiosos brasileiros, que seguiram a sua trilha de
conhecimento – caso de Luiz Octávio de Camargo, por exemplo. Destacam-se,
além disso, as contribuições de José Acácio Ferreira, Renato Requixa, Sarah
Bacal, entre outros.

89
Unidade II

O lazer como possibilidade de estudo é interdisciplinar, pois possibilita


diferentes olhares e reflexões sobre as mais diferentes áreas, devido a sua
amplitude e complexidade: Sociologia, Educação Física, Turismo, Psicologia etc.

Nelson Carvalho Marcellino, ao longo do desenvolvimento de toda a


sua obra, que se constitui como importante referência dos estudos do lazer
no Brasil, alerta que é necessário um equilíbrio entre os quatro eixos que
norteiam a formação para o lazer (teoria do lazer; relatos de experiências
refletidas; vivências de conteúdos culturais; políticas e diretrizes), assim como
é necessário haver novas abordagens para estudos e pesquisas.

O lazer tem um duplo aspecto educativo: educar para o lazer e o


lazer como veículo de educação. A educação para o lazer tem como
princípios formar pessoas para viver o seu tempo disponível de forma
positiva, conhecendo a si e a sociedade à qual pertencem. Já o lazer como
veículo de educação pode ser implementado dentro e fora da escola, por
meio de atividades culturais e esportivas que possam envolver alunos e
comunidades. Dentre os documentos importantes sobre esses aspectos,
destaca-se a Carta Internacional de Educação para o Lazer (ASSOCIAÇÃO
MUNDIAL DE RECREAÇÃO E LAZER, 2002).

É fundamental ter em vista a importância do animador sociocultural,


principalmente com relação aos objetivos, características e desenvolvimento
do lazer que visem à facilitação, conscientização, catalisação e promoção
da participação dos diferentes sujeitos.

Faz-se necessário também conhecer as etapas para o desenvolvimento


de projetos para o lazer (introdução, objetivos, metas, público-alvo,
metodologia, cronograma, recursos humanos, materiais e serviços,
orçamentos e fontes de financiamento).

Assim como na Europa, o período de industrialização em nosso País,


ocasionado no final do século XIX e no século XX, trouxe uma série de
mudanças na paisagem e na dinâmica da vida dos operários.

Surge uma série de iniciativas sociais para os trabalhadores,


oferecendo-lhes atividades esportivas e culturais. As empresas tinham
interesse não só em conhecer como seus trabalhadores se divertiam, mas
também orientar quais atividades recreativas poderiam ser exercidas por
eles. Por exemplo, muitos times de futebol na cidade de São Paulo surgiram
nos chãos das fábricas. Posteriormente, na década de 1940, surgem o Sesi
e o Sesc, que tinham como objetivo oferecer atividades fora do ambiente
do trabalho, como lazer, esporte, jogos, segurança, nutrição, literatura e
economia doméstica.
90
EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA

Dentre as iniciativas mais recentes em termos de políticas públicas para


o lazer, destaca-se o Pelc, presente em várias cidades brasileiras e voltado
para crianças, jovens, adultos, idosos e portadores de deficiência.

Além do esporte, destacam-se as atividades culturais. Em 2014, o Sesc e


a Fundação Perseu Abramo realizaram uma pesquisa que revelou aspectos
interessantes para que sejam repensados propostas e projetos voltados
para o lazer e a cultura.

O lazer mantém relação com a cultura popular; daí, por exemplo, a


importância das festas tradicionais, assim como dos jogos, brinquedos e
brincadeiras populares, atividades que colaboram com a sociabilização, a
colaboração e o senso comunitário.

Finalmente, é vital lembrar a importância da atividade turística em


áreas naturais, a necessidade de contato com a natureza e as principais
motivações que despertam o interesse pelo lazer por meio do turismo
na natureza e pelas viagens aos principais destinos turísticos do Brasil
e do mundo.

Exercícios

Questão 1. (Enade 2013, adaptada) Uma empresa de grande porte da área de produtos alimentícios
instalada em uma pequena cidade de interior é responsável por parte da economia local, empregando um
número expressivo de habitantes da cidade nos setores de produção, embalagem, estoque e distribuição.
Consciente de sua responsabilidade social, a empresa decide criar um programa de qualidade de vida
para seus empregados. Para tanto, contrata diferentes profissionais, pois entende que há necessidades
específicas em cada setor. Um profissional de Educação Física é convidado a integrar a equipe
multidisciplinar e desenvolver o projeto pretendido. Nessa situação, são ações que um profissional de
Educação Física pode desenvolver de forma a contribuir efetivamente com a melhoria da qualidade de
vida dos empregados da empresa:

I – Identificar grupos de interesse em diferentes práticas corporais e, a partir de então, estabelecer


as ofertas de atividades físicas coletivas para que, dessa forma, ocorra maior aderência dos empregados
às práticas.

II – Propor sessões semanais de ginástica laboral utilizando série padronizada de alongamento para
que os empregados de todos os setores possam realizá-la de forma correta.

III – Organizar campeonatos esportivos exigindo índices de rendimento compatíveis com competições
da região onde vivem os empregados, a fim de que aqueles que representam a empresa em eventos
esportivos possam ser treinados.

91
Unidade II

IV – Criar estratégias de comunicação (campanhas, palestras ou divulgação nos e-mails) para


disseminar orientações regulares sobre a postura corporal adequada, fatores de risco e sedentarismo a
ser adotada em cada setor da empresa.

V – Promover eventos de recreação e lazer, buscando integrar os empregados e seus familiares,


levando em consideração a cultura corporal local na escolha das atividades propostas.

Escolha a alternativa correta:

A) Somente as afirmações I, II e III estão corretas.

B) Somente as afirmações I, III e IV estão corretas.

C) Somente as afirmações I, IV e V estão corretas.

D) Somente as afirmações II, III e V estão corretas.

E) Somente as afirmações II, IV e V estão corretas.

Resposta correta: alternativa C.

Análise das afirmativas

I – Afirmativa correta.

Justificativa: a identificação do interesse dos grupos é fundamental para a aderência dos empregados
às práticas.

II – Afirmativa incorreta.

Justificativa: esta proposição de sessões semanais de ginástica laboral e as séries padronizadas de


alongamento em todos os setores criariam monotonia, dificultariam a aderência dos empregados às
práticas e não levariam em conta que cada setor tem a sua característica.

III – Afirmativa incorreta.

Justificativa: a organização de campeonatos esportivos com exigência de índices de rendimento


compatíveis com competições não é uma boa estratégia para melhorar a qualidade. Há empregados que
têm interesse em competições e campeonatos.

IV – Afirmativa correta.

Justificativa: a criação de estratégias (campanhas, palestras ou divulgação nos e-mails) são boas
estratégias de para disseminar orientações regulares sobre a postura corporal adequada, fatores de risco
e sedentarismo a ser adotada em cada setor da empresa e, assim, melhorar a qualidade de vida.
92
EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA

V – Afirmativa correta.

Justificativa: promover eventos de recreação e lazer buscando integrar os empregados e seus


familiares, levando em consideração a cultura corporal local na escolha das atividades propostas são
boas estratégias para melhorar a qualidade de vida.

Questão 2. (Enade 2010, adaptada) “A implementação da educação para o lazer na comunidade


inclui o processo de desenvolvimento comunitário. Comunidade é definida como lugar geográfico e
agregado de interesses que tem afinidade e interconexão mútuas. O desenvolvimento comunitário
refere-se a um processo que utiliza o ensino formal, o informal e o não formal, bem como a liderança
para aumentar a qualidade de vida dos grupos que vivem na comunidade”. (Carta internacional de
Educação para o lazer. Associação Mundial de Recreação e Lazer – World Leisure and Recreation
Association – WLRA, 2002).

A partir dessa citação, analise as afirmações que se seguem.

I – A educação para o lazer deve estimular a organização autogerida de comunidades, com o objetivo
de desenvolver a capacidade de pessoas ou grupos e melhorar sua qualidade de vida.

II – Projetos de lazer devem trabalhar com grupos comunitários existentes, para minimizar as
barreiras e otimizar o acesso aos serviços de lazer.

III – Liderança e orientação permanentes do profissional de Educação Física são necessárias para que
grupos comunitários se capacitem para propor formas que atendam aos seus interesses de lazer.

IV – As políticas de lazer comunitárias devem estimular a abrangência, respeitando a existência de


grupos multiculturais, raciais, sexuais, etários e de habilidades na sociedade.

Aponte a alternativa correta:

A) Somente as afirmações I e II são corretas.

B) Somente as afirmações I, II e III são corretas.

C) Somente as afirmações I, II e IV são corretas.

D) Somente as afirmações II, III e IV são corretas.

E) As afirmações I, II, III e IV são corretas.

Resolução desta questão na plataforma.

93
FIGURAS E ILUSTRAÇÕES

Figura 1

873610. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/display/873610>. Acesso em: 11 jan. 2016.

Figura 2

26048. Disponível em: <http://openphoto.net/gallery/image/view/26048>. Acesso em: 11 jan. 2016.

Figura 3

12399. Disponível em: <http://openphoto.net/gallery/image/view/12399>. Acesso em: 11 jan. 2016.

Figura 4

921351. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/display/921351>. Acesso em: 11 jan. 2016.

Figura 5

181928. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/display/181928>. Acesso em: 11 jan. 2016.

Figura 6

901127. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/display/901127>. Acesso em: 11 jan. 2016.

Figura 7

120746. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/display/120746>. Acesso em: 11 jan. 2016.

Figura 8

939760. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/display/939760>. Acesso em: 11 jan. 2016.

Figura 9

924590. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/display/924590>. Acesso em: 11 jan. 2016.

Figura 10

849151. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/display/849151>. Acesso em: 11 jan. 2016.

Figura 11

82894. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/display/82894>. Acesso em: 11 jan. 2016.


94
Figura 12

953214. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/display/953214>. Acesso em: 11 jan. 2016.

Figura 13

858140. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/display/858140>. Acesso em: 11 jan. 2016.

Figura 14

102014. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/display/102014>. Acesso em: 11 jan. 2016.

Figura 15

CONIC%20029.JPG. Disponível em: <http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/sites/_agenciabrasil/


files/gallery_assist/26/gallery_assist668836/prev/Conic%20029.jpg>. Acesso em: 11 jan. 2016.

Figura 16

08112010-03.11.2010WDO9190.JPG. Disponível em: <http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/sites/_


agenciabrasil/files/gallery_assist/29/gallery_assist664908/prev/08112010-03.11.2010WDO9190.jpg>.
Acesso em: 11 jan. 2016.

Figura 17

653595. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/display/653595>. Acesso em: 11 jan. 2016.

Figura 18

UFF-ABRE-PRIMEIRO-CURSO-DE-MESTRADO-EM-TURISMO-DO-ESTADO-DO-RIO-DE-JANEIRO.
Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2015-04/uff-abre-primeiro-curso-
de-mestrado-em-turismo-do-estado-do-rio-de-janeiro>. Acesso em: 11 jan. 2016.

Figura 19

876117. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/display/876117>. Acesso em: 11 jan. 2016.

Figura 20

910399. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/display/910399>. Acesso em: 11 jan. 2016.

Figura 22

142114. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/display/142114>. Acesso em: 11 jan. 2016.


95
Figura 23

930490. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/display/930490>. Acesso em: 11 jan. 2016.

Figura 24

791914. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/display/791914>. Acesso em: 11 jan. 2016.

Figura 25

779996. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/display/779996>. Acesso em: 11 jan. 2016.

Figura 26

114483. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/display/114483>. Acesso em: 11 jan. 2016.

Figura 27

953934. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/display/953934>. Acesso em: 11 jan. 2016.

Figura 28

904127. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/display/904127>. Acesso em: 11 jan. 2016.

Figura 31

ESPORTE-E-LAZER-DA-CIDADE/IMAGENS. Disponível em: <http://www.esporte.gov.br/index.php/


institucional/esporte-educacao-lazer-e-inclusao-social/esporte-e-lazer-da-cidade/imagens>. Acesso
em: 11 jan. 2016.

Figura 32

ARRAIAIS-DO-BRASIL-ASSISTA-AOS-SHOWS-DAS-FESTAS-JUNINAS-DO-PAIS. Disponível em: <http://


www.ebc.com.br/cultura/2013/06/arraiais-do-brasil-assista-aos-shows-das-festas-juninas-do-pais>.
Acesso em: 11 jan. 2016.

Figura 33

EDUCADORA-E-CINEASTA-PERCORREM-O-PAIS-PARA-REGISTRAR-BRINCADEIRAS. Disponível em:


<http://www.ebc.com.br/infantil/para-educadores/2012/07/educadora-e-cineasta-percorrem-o-pais-
para-registrar-brincadeiras>. Acesso em: 11 jan. 2016.

Figura 34

231612. Disponível em: <http://www.morguefile.com/archive/display/231612>. Acesso em: 11 jan. 2016.


96
REFERÊNCIAS

Audiovisuais

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2014. 1 DVD.

AMOR. Dir. Michel Haneke. Áustria; França; Itália: Les Films du Losange, 2012. 127 minutos.

ANTUNES, A. Se assim quiser. Intérprete: ___. In: Saiba. São Paulo: BMG, 2004. 1 CD. Faixa 7.

ANTUNES, A.; TATIT, P. Criança não trabalha. Intérprete: Palavra Cantada. In: Canções curiosas. 2005.
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CRIANÇAS invisíveis. Dir. Mehdi Charef; Emir Kusturica; Spike Lee; Kátia Lund; Jordan Scott; Ridley
Scott; Stefano Veneruso; John Woo. França; Itália: MK Film Productions S.r.l., 2005. 124 minutos.

JENECI, M.; CÉSAR, C. Felicidade. Intérprete: Marcelo Jeneci. In: Feito pra acabar. São Paulo: Som Livre,
2010. 1 CD. Faixa 1.

LENINE; DUDU FALCÃO. Paciência. Intérprete: Lenine. In: Perfil. São Paulo: Som Livre, 2009. 1 CD. Faixa 2.

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VALLE, M.; VALLE, P. L. Capitão de indústria. Intérprete: Paralamas do Sucesso. In: Perfil. São Paulo: Som
Livre, 2006. 1 CD. Faixa 12.

Textuais

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97
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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS EMPRESAS DE ECOTURISMO E TURISMO DE AVENTURA (ABETA). Plano


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Exercícios

Unidade I – Questão 1: INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO


TEIXEIRA (INEP). Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) 2004: Educação Física.
Questão 15. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/download/superior/2004/enade/provas/
EDUCACAO%20FISICA.pdf>. Acesso em: 22 nov. 2018.

Unidade I – Questão 2: INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO


TEIXEIRA (INEP). Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) 2004: Educação Física.
Questão 21. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/download/superior/2004/enade/provas/
EDUCACAO%20FISICA.pdf>. Acesso em: 22 nov. 2018.

Unidade II – Questão 1: INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO


TEIXEIRA (INEP). Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) 2013: Educação Física.
101
Questão 25. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2013/03_
EDUCACAO_FISICA.pdf>. Acesso em: 22 nov. 2018.

Unidade II – Questão 2: INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO


TEIXEIRA (INEP). Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) 2010: Educação Física.
Questão 24. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2010/
educacao_fisica_2010.pdf>. Acesso em: 22 nov. 2018.

102
103
104
Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000
Educação Física Integrada
Autora: Profa. Renata Castro Cardias Kawaguchi
Colaboradores: Profa. Vanessa Santhiago
Profa. Ivy Judensnaider
Prof. Marcel da Rocha Chehuen
Professora conteudista: Renata Castro Cardias Kawaguchi

É bacharel em Turismo pela Universidade Paulista (UNIP), especialista em Gestão Cultural pelo Senac-RJ, e em
Empreendimentos e Cidades Criativas pela Universidade Nacional de Córdoba, na Argentina, e mestre e doutoranda
em Comunicação pela Universidade Metodista de São Paulo. Atua no mercado turístico desde 1996, nos segmentos
de agenciamento de viagens, hospedagem e eventos. É docente desde 2000, em cursos de graduação (bacharelado e
tecnológico) presenciais e a distância e em cursos de pós-graduação na área de hospitalidade.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

K22s Kawaguchi, Renata Castro Cardias.

Educação Física Integrada / Renata Castro Cardias Kawaguchi. –


São Paulo: Editora Sol, 2019.

104 p. il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXV, n. 2-070/19, ISSN 1517-9230.

1. Lazer. 2. Tempo. 3. Atividades. I. Título.

CDU 796

W500.43 – 19

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
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Unip Interativa – EaD

Profa. Elisabete Brihy


Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli

Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Giovanna Oliveira
Juliana Maria Mendes
Sumário
Educação Física Integrada
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................7

Unidade I
1 LAZER E SOCIEDADE..........................................................................................................................................9
1.1 Organização social do tempo: de Cronos a Kairós.....................................................................9
1.2 Lazer: origens, funções e conceitos............................................................................................... 13
1.2.1 Função de descanso................................................................................................................................ 15
1.2.2 Função de divertimento, recreação e entretenimento............................................................. 16
1.2.3 Função de desenvolvimento................................................................................................................ 16
1.3 Tempo social............................................................................................................................................ 18
1.3.1 Tempo psicobiológico............................................................................................................................. 18
1.3.2 Tempo sociocultural................................................................................................................................ 19
1.3.3 Tempo livre................................................................................................................................................. 19
1.3.4 Tempo livre após o trabalho................................................................................................................ 20
1.3.5 Tempo livre de fim de semana/feriado........................................................................................... 21
1.3.6 Tempo livre de férias.............................................................................................................................. 21
2 ORÇAMENTO-TEMPO...................................................................................................................................... 22
2.1 Praticar, assistir, estudar..................................................................................................................... 24
2.1.1 Atividades físicas .................................................................................................................................... 25
2.1.2 Atividades manuais................................................................................................................................. 25
2.1.3 Atividades artísticas................................................................................................................................ 26
2.1.4 Atividades intelectuais........................................................................................................................... 26
2.1.5 Atividades associativas.......................................................................................................................... 27
2.1.6 Atividades turísticas............................................................................................................................... 27
2.2 O lazer como direito: principais marcos regulatórios............................................................ 28
2.2.1 A casa............................................................................................................................................................ 33
2.2.2 Ruas e bares............................................................................................................................................... 33
2.2.3 Centros culturais...................................................................................................................................... 35
2.2.4 Praças e parques...................................................................................................................................... 36
3 HOMO FABER X HOMO LUDENS................................................................................................................ 37
3.1 O homem que trabalha....................................................................................................................... 37
3.2 O homem que se diverte.................................................................................................................... 39
3.3 Integração do faber e do ludens..................................................................................................... 42
4 LAZER E ÓCIO NA CONTEMPORANEIDADE: CONCEITOS, CONCEPÇÕES E SIGNIFICADOS............. 44
4.1 O ócio e as experiências subjetivas................................................................................................ 45
4.2 A sociedade do hiperconsumo......................................................................................................... 46
Unidade II
5 CONTRIBUIÇÕES PARA A COMPREENSÃO DO LAZER....................................................................... 55
5.1 Os estudos do lazer no Brasil: principais pesquisadores e contribuições
das escolas internacionais......................................................................................................................... 55
5.2 A escola dumazediana e os principais estudiosos brasileiros.............................................. 58
6 NOVAS PERSPECTIVAS PARA A SOCIOLOGIA DO LAZER ................................................................. 61
6.1 Duplo aspecto educativo das experiências do lazer............................................................... 64
6.2 Desenvolvimento de projetos de animação sociocultural.................................................... 69
6.3 Lazer e animação sociocultural: áreas de atuação.................................................................. 71
6.3.1 No setor público....................................................................................................................................... 71
6.3.2 Nas escolas................................................................................................................................................. 71
6.3.3 No setor privado...................................................................................................................................... 72
6.3.4 No Terceiro Setor..................................................................................................................................... 72
7 EXPERIÊNCIAS DO LAZER E DO ÓCIO NO BRASIL: ESTUDOS DE CASO...................................... 74
7.1 Lazer e esporte....................................................................................................................................... 74
7.2 Lazer e cultura........................................................................................................................................ 78
7.3 Festas tradicionais................................................................................................................................. 82
7.4 Jogos, brinquedos e brincadeiras.................................................................................................... 84
8 NATUREZA, SOCIEDADE E TURISMO........................................................................................................ 86
APRESENTAÇÃO

A disciplina Educação Física Integrada tem como objetivo promover o conhecimento, a reflexão e a
compreensão da realidade social em seus múltiplos aspectos, dentre eles, o lazer. No atual contexto, em
que o trabalho ocupou (e ainda ocupa) a centralidade da organização social, o lazer e o ócio reaparecem
como elementos fundamentais, pois possibilitam a transformação do sujeito, convocando-o a ser
conquistado para a expressão de suas subjetividades, contribuindo para uma nova possibilidade de ser
e estar. A temática abordada objetiva a habilitação de profissionais para o exercício da docência, com
ética e competência e sólida formação teórica e metodológica.

Inicialmente, você conhecerá e analisará o contexto contemporâneo a partir da perspectiva da


sociologia do lazer, assim como discutirá os conceitos de tempo livre, lazer e ócio. Também estabelecerá
as integrações entre o Homo faber e o Homo ludens.

Posteriormente, você aprenderá sobre a trajetória dos estudos do lazer no Brasil, sobre suas influências
e novas perspectivas. Irá compreender, além disso, o duplo aspecto do lazer e do ócio na educação. Além
disso, conhecerá aspectos da sociologia do lazer a partir de estudos de caso brasileiros.

INTRODUÇÃO

A disciplina expõe como o pensamento sociológico busca compreender o contexto contemporâneo


em seus diversos tipos de interações e movimentos.

Dentre tantos aspectos socioculturais, destacam-se as relações estabelecidas entre o indivíduo, o


lazer e o ócio, considerando as constantes transformações que caracterizam nossa sociedade globalizada.

Desde o estabelecimento da era industrial, o trabalho foi a atividade que ocupou a centralidade na
organização da temporalidade social, marcada também pela produção e pelo consumo.

Na atualidade, o lazer e o ócio reaparecem como elementos fundamentais, pois possibilitam a


transformação do sujeito (longe de sua liberdade, criação e desejo), convocando-o à conquista de um
tempo para a expressão das suas subjetividades, o que contribui para a aquisição de um novo sentido
para sua experiência de ser e estar.

7
EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA

Unidade I
1 LAZER E SOCIEDADE

1.1 Organização social do tempo: de Cronos a Kairós

Figura 1 – O relógio

O lazer faz parte de nossa cultura. Como manifestação sociológica, está fortemente presente na
contemporaneidade; porém, para compreendê-lo, não podemos deixar de entender também as suas
relações com o tempo, um fenômeno complexo que faz parte de nossa experiência existencial.

O tempo marca a nossa forma de existir e interagir na sociedade e conduz nossa trajetória entre o
passado, o presente e o futuro, movendo nossas aspirações.

Na mitologia grega, Cronos era um ser da raça dos Titãs, que devorava os filhos, logo que nasciam,
com o intuito de impedir a realização de uma profecia que o alertava de que um dos seus filhos iria
matá-lo para tomar seu lugar como senhor da criação. Já Kairós é um deus representado como um jovem
de porte atlético com duas asas nos pés que o faziam transitar de forma aleatória e imprevisível. Essas
duas figuras míticas eram representantes do tempo, mas cada uma simbolizava um tempo diferente:

Por outro lado, se voltarmos o nosso olhar para as sociedades


mítico-eróticas, verificaremos que estas tomavam dois tipos de tempo como
vitais: um tempo no qual se vive e se elabora um “sempre” transformador
(Kairós), e, ainda, um outro, que exaure a vida (Kronos). De outra forma, na
contemporaneidade, os homens das ditas sociedades evoluídas reclamam
da falta de um tempo para si. No entanto, e de forma paradoxal, seguem
9
Unidade I

investindo tempo e recursos na busca pela realização a partir da posse


de objetos que entendem ser muito importantes para a sua felicidade
(MARTINS; BAPTISTA, 2013, p. 3).

Ao relacionarmos os mitos com a nossa realidade, verificamos que a palavra “tempo” origina-se da
palavra grega kronos, da qual derivam outras palavras, como “cronograma” e “cronômetro”, associadas a
um tempo a ser controlado, com finitude: segundos, minutos, horas, dias, meses, anos. É o tempo de 24
horas que rege nossos processos sociais.

Já kairós representa o tempo subjetivo, significa o tempo oportuno, pessoal, que pode ser
rápido ou devagar, dependendo de quem o vive, e associam-se a ele atividades prazerosas ou
desgastantes. É aquela sensação pessoal do tempo que não passa, ou passa rápido demais, que se
eterniza ou é esquecido.

A questão do tempo controlado e do tempo subjetivo interferiu nas relações da humanidade e


do trabalho.

Para Martins e Baptista (2013), nas sociedades pré-industriais, as atividades exercidas atendiam
às necessidades básicas. Até o fim do período paleolítico (700.000 a 10.000 a.C.), as pessoas eram
nômades, mudavam de lugar de acordo com as condições propícias para a sua sobrevivência. No período
mesolítico (10.000 a 7.000 a.C), a população começou a se estabilizar, com a criação de animais, mas
ainda sobrevivia da caça e da coleta de frutos.

No período neolítico (7.000 a 3.000 a.C.), houve grandes transformações na relação entre homem
e natureza. Além de domesticar animais, o homem começou a cultivar a terra e, por meio da atividade
agrícola, introduziu o trabalho coletivo. Ainda não se tinha noção de posse particular, assim como não
existia a separação de ações: ao mesmo tempo que se saía para caçar, brincava-se; cozinhava-se ao
mesmo tempo que se educava. Todos participavam de tudo; as rupturas aconteciam nos rituais de festa,
que rompiam com o cotidiano.

Da mesma forma que se foi introduzindo o sedentarismo, a humanidade foi buscando o crescimento
na produção de bens para a sua sobrevivência, intensificando o sistema de trocas. Foi nas margens dos
rios que muitas sociedades se desenvolveram e que surgiram os primeiros indícios da divisão do trabalho.
Havia, então, liberdade na escolha das atividades, e uma parcela da produção era ofertada ao Estado.

Conforme afirmam Martins e Baptista (2013), no período arcaico (século VIII a.C.), diminuíram as
atividades agrícolas e pastoris. Surgiram as propriedades privadas e a escravidão, fatores que modificaram
as relações com o trabalho: de um tempo de trabalho autogerido para um trabalho escravo.

Posteriormente, de forma gradual, a escravidão deu lugar ao trabalho de manufatura, também


conhecido como dirigismo estatal, que tinha como característica prestar serviços ao Estado.

No século V d.C., o dirigismo estatal deu lugar aos poucos ao sistema dominal, caracterizado pelas
transformações ocorridas no sistema agrícola devido à difusão do cristianismo. Havia, independentemente
10
EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA

do tamanho da propriedade, a terra dos senhores, que tinha uma parcela cedida ao camponês, que nela
trabalhava de acordo com o seu tempo. Uma parte de tudo o que ele produzia era destinada ao dono da terra.

Com o fim do Estado carolíngio (séculos VIII e IX), estabeleceu-se o feudalismo, no qual os senhores de
terra se apropriavam da produção camponesa exigindo parcelas cada vez maiores do que era produzido,
o que obrigava os camponeses a buscar outras formas de renda por meio de trabalhos artesanais e
de trabalho assalariado. Os contratos eram estabelecidos de forma individualizada; assim, o tempo de
trabalho e a remuneração não eram uniformes.

Na Idade Moderna, houve mudanças com relação ao trabalho, marcadas principalmente pelo crescimento
das atividades comerciais e pelas crises agrárias e monetárias. Surgiu, assim, o sistema econômico comercial,
que desenhava as primeiras intervenções regulamentadas entre tempo, trabalho e salário.

O aumento da economia e dos mercados foi a base do sistema capitalista, o processo entendido de
um ponto de vista histórico, com o aumento do trabalho assalariado e a substituição do escambo pela
moeda que circulava no mercado que ia se expandindo conforme o consumo ia crescendo, aspectos
esses que forçaram o surgimento de novas formas de produção mais rápida para suprir as necessidades
do sistema que ia se estabelecendo na lógica mercadológica.

Segundo Martins e Baptista (2013), o tempo controlado (kronos) interferia diretamente na economia,
então caracterizada pela venda e circulação de produtos.

No século XVI, a reforma protestante, principalmente nas visões de Martinho Lutero e João Calvino,
vinculava o trabalho à salvação divina.

O capitalismo era baseado na produtividade organizada por meio de jornadas de trabalho longas
e em linhas de produção. A Revolução Industrial surgiu com a introdução das máquinas a vapor, que
intensificaram a produção. Os relógios implantados nas fábricas controlavam o tempo de produção
e o ganho de produtividade, assim como a modernização dos meios de transporte, essencial para o
escoamento dos produtos.

Marx (apud MARTINS; BAPTISTA, 2013, p. 12) aponta que o tempo do trabalho passou a dominar
o próprio trabalho. O tempo passou a ser uma moeda de troca: o trabalhador era remunerado pela
sua jornada. Para Martins e Baptista (2013), a introdução do sistema capitalista provocou uma maior
dimensão do tempo laboral, ou tempo para o trabalho, em relação aos outros tempos sociais. Houve,
desse modo, uma supervalorização do tempo do trabalho que trouxe muitas consequências para nossa
sociedade, na qual sujeitos sociais são orientados pela lógica da produção e do consumo.

O trabalho e a sua execução passaram a ser um meio de alcançar bens materiais e a identidade por
meio do consumo e do esvaziamento do sujeito. Muitas vezes, na nossa sociedade, o trabalho para “ter”
subtrai o sentido do “ser”.

A sofisticação dos meios de transporte e de comunicação por intermédio da tecnologia otimizou o


tempo e as tarefas, o que também provocou mudanças nas relações de trabalho.
11
Unidade I

Um exemplo atual são os home offices que, aos poucos, vêm afastando as jornadas homogêneas.
O relógio de ponto (presente nas empresas), no trabalho em casa, é substituído pela tarefa a ser efetuada.
O gerenciamento do trabalho a ser realizado pode ser feito, atualmente, em nossos aparelhos eletrônicos,
como os celulares inteligentes e os computadores portáteis, que podem ser acessados de qualquer lugar
e em qualquer tempo, possibilitando rapidez e flexibilidade.

Os apontamentos nos fazem pensar na necessidade do tempo autogerido (kairós). Há muitas


empresas que vêm substituindo a obrigatoriedade da presença do colaborador no ambiente laboral a
fim de que o trabalhador desenvolva suas tarefas de acordo com o seu próprio tempo. Assim, há um
crescimento no número de profissionais que trabalham e desenvolvem suas atividades de acordo com
o serviço que desempenham. Existem, além disso, embora ainda de forma tímida, ações para obter a
melhoria da qualidade de vida: o movimento slow de desaceleração do tempo e da vida já acontece em
alguns lugares.

Faz-se necessário pensar, analisar e refletir a partir de uma perspectiva sociológica: qual o papel
social do lazer? Considerando o tempo voltado para as necessidades do sujeito de se expressar
socioculturalmente, o lazer tem uma função especial.

A música Paciência pode ser usada como exemplo das relações que temos com o tempo.

Lenine – Paciência

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma


Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
A vida não para
Enquanto o tempo acelera e pede pressa
Eu me recuso, faço hora, vou na valsa
A vida é tão rara

Enquanto todo mundo espera a cura do mal


E a loucura finge que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência
E o mundo vai girando cada vez mais veloz
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência

Será que é tempo que lhe falta pra perceber?


Será que temos esse tempo pra perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara...
[...]
Fonte: Lenine; Dudu Falcão (2009).

12
EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA

A música Paciência, do cantor brasileiro Lenine, apresenta um dos nossos grandes dilemas do
cotidiano: o tempo e suas implicações, como a falta dele em uma sociedade cada vez mais acelerada, a
necessidade e o exercício da paciência para termos condições de viver melhor “com mais tempo”. Além
disso, a canção apresenta a percepção da finitude do tempo, que passa rapidamente e que “deixamos
passar” por estarmos ocupados demais.

Exemplo de aplicação

Com base no que apresentamos anteriormente e na leitura da letra, eis algumas perguntas para refletir:

• Qual tempo queremos e podemos construir para nossas vidas?

• Queremos o tempo de kronos ou o tempo de kairós?

• Observe as pessoas com as quais você convive. Como são as relações que elas estabelecem com
o tempo?

1.2 Lazer: origens, funções e conceitos

Capitão de Indústria mantém relação com a temática do lazer:

Paralamas do sucesso – Capitão de indústria

Eu às vezes fico a pensar


Em outra vida ou lugar
Estou cansado demais
Eu não tenho tempo de ter
O tempo livre de ser
De nada ter que fazer
É quando eu me encontro perdido
Nas coisas que eu criei
E eu não sei

Eu não vejo além da fumaça


O amor e as coisas livres, coloridas
Nada poluídas
Ah, eu acordo pra trabalhar
Eu durmo pra trabalhar
Eu corro pra trabalhar

Eu não tenho tempo de ter


O tempo livre de ser
De nada ter que fazer
13
Unidade I

Eu não vejo além da fumaça


Que passa e polui o ar
Eu nada sei
Eu não vejo além disso tudo
O amor e as coisas livres, coloridas
Nada poluídas

Eu acordo pra trabalhar


Eu durmo pra trabalhar
Eu corro pra trabalhar
Eu não tenho tempo de ter
O tempo livre de ser
De nada ter que fazer
É quando eu me encontro perdido
Nas coisas que eu criei
E eu não sei
Eu não vejo além da fumaça
O amor e as coisas livres, coloridas
Nada poluídas
Ah, eu acordo pra trabalhar
Eu durmo pra trabalhar
Eu corro pra trabalhar
Fonte: Valle; Valle (2006).

A música do grupo Paralamas do Sucesso exemplifica as relações do tempo em uma vivência para o
mundo do trabalho, que muitas vezes rouba o tempo da liberdade de ser.

Como vimos, o tempo controlado foi construído à medida que foi se desenvolvendo o sistema
capitalista. Esse sistema, por sua vez, influenciou toda uma dinâmica social, que se estendeu também às
sociedades pós-industriais.

A Revolução Industrial instituiu:

• jornada diária de trabalho de catorze a dezesseis horas;


• urbanização com os grandes galpões industriais;
• trabalho infantil;
• produção em série;
• trabalho repetitivo.

A máquina a vapor foi introduzida entre os séculos XVIII e XIX, e provocou mudanças sociais e
econômicas. O tempo é marcado pelo relógio, e não mais pelo ciclo da natureza (amanhecer e anoitecer).
14
EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA

O maquinário provoca também a fragmentação do trabalho, distanciando o trabalhador do produto


final, restringindo sua participação no processo produtivo.

A “revolução” trouxe o crescimento urbano, o êxodo rural, a verticalização das cidades, a redução dos
espaços. Esses fatores provocaram o enclausuramento da vida em apartamentos, a perda da identidade
individual, as limitações das relações pessoais no âmbito familiar, o afastamento do ambiente natural.
A aceleração da vida também contribuiu para a constante concorrência, tensionada pela pressão do
trabalho e da configuração das cidades, que carregou com ela a solidão, a insatisfação e o nervosismo,
dentre tantas outras doenças psicossomáticas.

Ao se apropriar desse processo, o capitalismo usa o trabalho, a racionalização e o lucro em todos os


aspectos da vida humana, impondo seus ideais. A luta pelo direito ao lazer está ligada aos embates entre
empresários e colaboradores, na conquista de direitos trabalhistas como redução da jornada de trabalho,
férias remuneradas e regulação da aposentadoria, para um maior tempo livre.

As condições estruturadas por uma sociedade do trabalho contribuíram para conceber o lazer como
qualidade de vida e possibilidade de desenvolvimento humano. Podemos dizer que:

Lazer é um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de


livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se
ou ainda para desenvolver sua informação e formação desinteressada, sua
participação social voluntária ou livre capacidade criadora após livrar-se
ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais
(DUMAZEDIER, 1974, p. 34).

Nesse sentido, o lazer começa a ser olhado de outra maneira, estabelecendo na sociedade três
funções importantes: a) função de descanso; b) função de divertimento, recreação e entretenimento; c)
função de desenvolvimento, conforme veremos a seguir.

1.2.1 Função de descanso

Figura 2 – Descanso

15
Unidade I

O lazer atua como um reparador do cansaço físico e psicológico resultante das tensões cotidianas,
principalmente quanto às pressões do trabalho. Apesar da melhora na execução das tarefas, o ritmo da
produtividade e a complexidade dos deslocamentos nas cidades grandes determinam o aumento do
tempo necessário para o descanso.

1.2.2 Função de divertimento, recreação e entretenimento

Figura 3 – Parque de diversões

A atividade de lazer, nesse sentido, colabora para o rompimento da monotonia. Há compensação e


fuga por meio do divertimento e da evasão. Divertir-se, recrear-se e entreter-se são ações que se opõem
à rotina. São atividades que rompem a repetição das atividades enfrentadas todos os dias. Há uma
ruptura da rotina, que pode trazer experiências distintas. Essa mudança é possível, por exemplo, por
meio de práticas que levem o indivíduo a outros lugares, reais (viagens, jogos, brinquedos e esportes) ou
fictícios, por intermédio das diferentes linguagens da arte (teatro, cinema, leitura).

1.2.3 Função de desenvolvimento

Figura 4 – Desenvolvimento humano

16
EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA

Voltado ao desenvolvimento da personalidade, o lazer permite a participação em uma vida


social mais livre, ou seja, baseia-se na prática de uma cultura desinteressada do corpo, da
sensibilidade e da razão, além da formação prática e técnica que oferece novas possibilidades de
integração. Nessa vertente, o lazer refere-se também a novas formas de aprendizagem.

De acordo com Dumazedier (1974), essas funções são solidárias e estão uma associada à outra,
coexistem. As exigências do mundo do trabalho são minimizadas por meio das atividades de descanso,
divertimento e desenvolvimento.

Nelson Carvalho Marcellino (1996) complementa que o lazer pode ser entendido no seu sentido
mais amplo, ou seja, da vivência praticada no tempo disponível, que deve ser desinteressada.

O fenômeno lazer impacta trabalho, família e cultura. Revendo a trajetória do trabalho como
apresentado anteriormente, verificamos que o desenvolvimento da industrialização acabou com o
antigo ritmo do trabalho que era, até então, regido pelas estações do ano e interrompido pelos
momentos de festividades.

O importante é que o trabalho não mais se identifica com a atividade e


que o dia não é ocupado unicamente pelo trabalho, comportando duas ou
três horas de lazer. [...] A vida de trabalho não termina mais unicamente
devido à doença ou à morte, mas tem um fim legal que assegura o direito ao
repouso. Assim, para o trabalhador, a elevação do nível de vida apresentou-se
acompanhada pela crescente elevação do número de horas livres
(MARCELLINO, 1988a, p. 25).

A necessidade da prática do lazer cresce com a urbanização e a industrialização. Podemos dizer que
as relações entre o lazer e as obrigações da vida cotidiana determinam uma participação crescente na
vida cultural e social.

O lazer é uma manifestação mais completa de si, pela imaginação, pelos sentimentos, sentidos e
expressões corporais que retomam a vitalidade da vida e o extravasamento de atividades conduzidas
pelo tempo autogerido.

Observação

O lazer e a recreação, embora estejam próximos, possuem diferenças


em suas concepções. De acordo com Cavallari e Zacharias (1994), o lazer
é o estado de espírito, a disponibilidade em que um indivíduo se encontra,
institivamente, a partir do seu tempo livre, em busca do prazer por meio do
lúdico, da alegria, da diversão e do entretenimento. Já recreação, para os
autores, é o momento em si ou a circunstância na qual o indivíduo escolhe
atividades que satisfaçam suas vontades e anseios.

17
Unidade I

Outra diferença entre os dois conceitos é que o lazer é voluntário,


espontâneo, é a busca de um estado de prazer ou descanso, e a
recreação tem como característica ser uma atividade dirigida, com
uma supervisão e um objetivo, ou seja, ter sempre uma condução.

1.3 Tempo social

O tempo social é compreendido em três categorias, conforme nossas necessidades, de acordo com
Munné (1980). Para um melhor entendimento do conceito, o autor nos apresenta o tempo social
conforme a tipologia que segue.

1.3.1 Tempo psicobiológico

Figura 5 – Criança dormindo

O tempo psicobiológico é caracterizado pela ocupação e condução das necessidades físicas,


biológicas e psíquicas. O tempo psicobiológico é individualizado e endógeno. Por exemplo, as
consequências de um bom ou mau sono repercutem na prática social. O tempo destinado a
dormir nos restabelece cotidianamente por meio do descanso do corpo e da mente. Desse modo,
a qualidade do sono tem uma importância muito grande na saúde e na qualidade de vida.

Com relação às horas de sono para uma boa qualidade de vida, especialistas da área da saúde
recomendam diariamente de seis a oito horas de sono para que possamos restabelecer, por meio
do descanso, um melhor funcionamento do nosso organismo. A restrição das horas de sono pode
comprometer seriamente a saúde física e mental, trazendo doenças associadas ao distúrbio do
sono e à depressão, que têm como causa principal o acúmulo de tarefas.

18
EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA

1.3.2 Tempo sociocultural

Figura 6 – Círculo de pessoas

O tempo sociocultural é caracterizado pela sociabilidade dos indivíduos em relação aos compromissos
estabelecidos de acordo com os sistemas de valores introduzidos pela sociedade. O tempo sociocultural
depende das relações com os grupos sociais dos quais fazermos parte.

Desse modo, ele pode ser heterocondicionado ou autocondicionado. Essa tipologia é marcada
por encontros sociais como festas de aniversário, batizados, casamentos, assim como reuniões ou
confraternizações na escola, na igreja, entre outros espaços nos quais construímos nossas relações sociais.

1.3.3 Tempo livre

Figura 7 – Tempo disponível

O tempo livre se refere ao tempo social em que os indivíduos voltam-se para a realização de atividades
criativas e desinteressadas, livres das obrigações.

De acordo com esses três tipos de manifestação de tempo social apresentados por Munné
(psicobiológico, sociocultural, livre). Ansarah complementa que:
19
Unidade I

De acordo com essa classificação, o tempo de vida natural ou biológico


é aquele dedicado à satisfação das necessidades vitais do homem, ou
seja: dormir, alimentar-se, funções fisiológicas e de asseio pessoal. O
tempo de trabalho é utilizado para as atividades remuneradas destinadas
à sobrevivência material. Já o tempo dedicado às atividades familiares e
sociais é classificado como aquele situado entre o tempo de trabalho
e o tempo livre. Finalmente, o tempo livre é o tempo empregado para
desfrutar do lazer, ou seja, o tempo dedicado ao descanso, à distração, ao
entretenimento, ou, mesmo, às atividades para aumentar o conhecimento
(ANSARAH, 1990, p. 86).

De acordo com Acerenza (1968), o tempo livre de que os indivíduos disponibilizam para o exercício do
lazer pode ser dividido em três categorias: após o trabalho, de fim de semana e em feriados, e nas férias.

1.3.4 Tempo livre após o trabalho

Figura 8 – Happy hour

Após o trabalho e depois do cumprimento de suas necessidades biológicas e compromissos, as


pessoas podem buscar o entretenimento dentro ou fora de casa, fazendo atividades como assistir à
televisão, ouvir música, ir ao teatro, ao cinema, a um centro cultural, ler um livro, participar de um
happy hour com os colegas do trabalho ou praticar atividades físicas ou esportivas.

20
EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA

1.3.5 Tempo livre de fim de semana/feriado

Figura 9 – Família passeando no parque

Pode-se optar por atividades recreativas e esportivas em parques ou clubes na própria cidade ou
bairro e até por turismo de curta duração em deslocamentos de pequena distância intermunicipais e
interestaduais. É possível verificar na prática que, aos sábados, domingos e feriados, os espaços de lazer
público e privados são tomados para o desenvolvimento de diferentes atividades gratuitas ou pagas.

1.3.6 Tempo livre de férias

Figura 10 – Passeio turístico em Veneza

Durante as férias, amplia-se a dedicação às atividades mencionadas e ainda se amplia a possibilidade


do exercício do turismo como atividade de lazer. As viagens de média e longa duração pelo próprio país
ou para países diferentes contribuem para a escapatória das agressões do cotidiano dos grandes centros
urbanos, assim como possibilitam diferentes experiências sociais e culturais.
21
Unidade I

2 ORÇAMENTO-TEMPO

Qual é o tempo diário, semanal e anual que temos para o lazer? Quanto tempo disponibilizamos
para o exercício de atividades que nos beneficiam de forma voluntária e desinteressada? A técnica para
estudar como as pessoas gastam seu tempo é chamada de orçamento-tempo.

Figura 11 – Ampulheta: artefato para medir o tempo

A seguir incluímos um exemplo de cálculo de orçamento-tempo, usando as seguintes variáveis:

TL: Tempo livre

Tto: Tempo total

Tpb: Tempo psicobiológico

Tt: Tempo do trabalho

Tsc: Tempo sociocultural

Durante a semana:

TL = Tto – (Tpb + Tsc + Tt)

TL = 24 h – (9 h + 2 h + 9 h)

TL = 24 h – 20 h

TL = 4 h

22
EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA

Durante o final de semana:

TL = Tto – (Tpb + Tsc + Tt)

TL = 24 h – (9 h + 4 h + 0 h)

TL = 24 h - 13 h

TL = 11 h

O exemplo anterior apresenta o cálculo do tempo livre que uma pessoa tem disponível durante a
semana e no final de semana. Dependendo de alguns fatores, como a dinâmica das cidades, os meios
de transporte, a quantidade de horas de sono, o tempo de deslocamento, as pressões do trabalho, entre
outros, o tempo livre durante a semana pode aumentar ou se fragmentar.

Muitas vezes a correria resultante dos afazeres e compromissos é tanta que as quatro horas
(conforme o exemplo do cálculo anterior) de tempo livre se diluem, restringindo as atividades de lazer
que podem ser praticadas. Desse modo, é aos finais de semana que temos mais tempo disponível para
exercer diferentes atividades de acordo com a nossa liberdade de escolha. Esse tipo de estudo foi muito
usado no início do século XX para buscar compreender como as pessoas utilizavam o seu tempo em um
contexto marcado pela industrialização.

Porém, na atualidade, essa liberdade de fazer o que se quer é ameaçada constantemente pelo
consumismo, que coisifica e empobrece o seu significado. Consome-se o lazer, mas não há uma
significação da experiência capaz de melhorar evidentemente a qualidade de vida.

Observação
A compreensão sobre o que é qualidade de vida envolve inúmeros
campos do conhecimento. Trata-se de um termo interdisciplinar, pois
envolve aspectos biológicos, políticos, econômicos, sociais (dentre os quais
se destaca o lazer), entre outros, e encontra-se em constante inter-relação.

Em nossa sociedade atual, desde a infância, somos condicionados a exercer uma atividade social
predominante: o trabalho. “O que você vai ser quando crescer?” é o tipo de pergunta que já nos fazem
desde que somos muito novos.

Lembrete
Para Dumazedier (1974), o lazer é a prática fora das obrigações sociais
em um tempo variável quanto à sua forma e conforme a intensidade das
atividades profissionais. O lazer está voltado, como vimos, para o descanso,
a diversão e o desenvolvimento.
23
Unidade I

O sociólogo Renato Requixa (1977, p. 11), por sua vez, entende o “lazer como uma ocupação
não obrigatória, de livre escolha do indivíduo que a vivencia e cujos valores propiciam condições de
recuperação e de desenvolvimento pessoal e social”.

Nesse sentido, Nelson Carvalho Marcellino (1987) nos apresenta o lazer como atividade
desinteressada, libertatória e sem fins lucrativos, pois acredita que, para alcançar o lazer, seja
necessária a eliminação de barreiras sociais, a fim de que ele seja encarado como um direito de
todos os cidadãos, e não mais como uma atividade segregadora. Por isso, o autor considera a
necessidade de uma democracia política e econômica para que o lazer realmente se desenvolva.

Já Luiz Octávio de Camargo entende que “as atividades de lazer são, pois, desinteressadas, libertatórias,
escolha pessoal, na busca de algum prazer” (CAMARGO, 1986, p. 34). De acordo com as contribuições do
autor, as atividades de lazer podem ser centradas em diferentes ações: praticar, assistir e estudar.

2.1 Praticar, assistir, estudar

Figura 12 – O hábito da leitura

Em todas as áreas culturais do lazer, são possíveis três atitudes sob a forma de lazer: praticar,
assistir ou estudar um assunto. Ou seja, independentemente de ser uma atividade esportiva ou
cultural, podemos encontrar indivíduos que praticam, assistem ou estudam temas sem que seja
obrigação fazê-lo.

Por exemplo: há pessoas que praticam o teatro, outras que assistem a filmes e outras que
estudam por meio de cursos ou eventos. Essas atitudes não são isoladas, uma vez que podem
ser combinadas.

24
EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA

2.1.1 Atividades físicas

Figura 13 – Mulheres praticando futebol

Atividades físicas são, por exemplo, caminhadas, ginástica e os mais diferentes esportes que podem
ser executados de maneira formal ou informal em espaços planejados para a sua prática, como academias,
estádios ou quadras. Também podem ser exercidos em espaços improvisados, como ruas, casas e praias.

Há diferentes interesses que se associam ao lazer nas práticas esportivas, tais como interesse estético,
contemplação da natureza, estabelecimento de relacionamentos etc. – isso depende especificamente de
cada pessoa.

2.1.2 Atividades manuais

Figura 14 – Artesanato

25
Unidade I

As atividades manuais são aquelas ligadas ao prazer de manipular, explorar e transformar. Elas vão
desde cultivar flores e hortaliças, praticar artesanato, consertar e desmontar aparelhos até fabricar
objetos como estantes, mesas, entre outros.

A criação com as mãos representa a expressão de uma capacidade reprimida, que foi substituída
por empresas e fábricas. A expressão gestual das mãos, assim como a prática de transformar, assegura
a liberdade de criação.

2.1.3 Atividades artísticas

Figura 15 – Grafite

Com relação aos interesses de práticas artísticas, destaca-se a importância do imaginário e da


capacidade de sonhar, de encantar-se, assim como da busca do belo, que se refere a atividades eruditas
e populares relacionadas à arte, ao teatro, ao cinema e à literatura.

As atividades artísticas compõem as diversas expressões culturais da humanidade e não podem ser
olhadas apenas na perspectiva erudita. A cultura popular também é fonte criadora de ricas manifestações
como a música, a dança, a escultura e as pinturas.

2.1.4 Atividades intelectuais

Figura 16 – Leitura

26
EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA

As atividades intelectuais compreendem aquelas que promovem conhecimento, informação


e aprendizagem. O lazer pode promover o exercício do conhecimento e a satisfação da curiosidade
intelectual por meio de diferentes atividades, como a leitura de um livro ou de uma revista.

2.1.5 Atividades associativas

Figura 17 – Dança tradicional

Em todas as atividades de lazer, há um forte conteúdo de sociabilidade expresso nas relações entre
amigos, familiares e colegas do trabalho. As atividades associativas são aquelas voltadas aos interesses
culturais dirigidos ao contato das pessoas – desde atividades como passear com os filhos ou visitar
amigos e parentes até frequentar associações e movimentos culturais e comunitários.

2.1.6 Atividades turísticas

Figura 18 – Turismo na cidade do Rio de Janeiro

Destaca-se o interesse cultural dos indivíduos que buscam o turismo como uma das possíveis
atividades de lazer. Conhecer novos lugares, paisagens e estilos de vida promove a alteração da rotina.
Utilizando o tempo livre dos finais de semana, feriados e férias, o indivíduo busca ritmos opostos àqueles

27
Unidade I

exercidos no cotidiano, paisagens de sol, céu e água, assim como o consumo de alimentos e bebidas
diferentes e artesanato.

O setor econômico do turismo, por meio da produção e comercialização de roteiros turísticos


internacionais, não dá conta de atender a suas implicações.

Os pacotes turísticos padronizados, assim como fórmulas de viagens, estão sendo atualmente
questionados por valorizarem apenas a questão econômica e restringirem o conhecimento cultural e
social das cidades, transformadas em verdadeiros cenários onde há uma encenação da realidade, em
detrimento das experiências culturais e sociais e, consequentemente, dos seus impactos.

O turismo de massa também promove impactos físicos negativos por meio da construção impessoal
de meios de hospedagem que não respeitam a paisagem local, que desprezam a mão de obra nativa
e que provocam danos ambientais como a poluição e a deterioração de mares, rios, ruas, além de
vegetação e flora nativas.

Contudo, há iniciativas por meio da manifestação de outras formas de turismo, como o comunitário e o
social, que valorizam a comunidade local e as trocas que podem ser estabelecidas na atividade turística.

O turismo social é uma crítica às atividades turísticas convencionais desenvolvidas e comercializadas


por grandes corporações. Ele compreende a criação de equipamentos físicos compatíveis com a realidade
local, que operem em sintonia com a paisagem e sejam geridos pela população local.

Também são valorizados diferentes pontos de interesse que evitem a concentração de grandes
massas poluidoras. O turismo social, além disso, valoriza o artesanato local, assim como o custo mais
baixo, fortalecendo todo um potencial de valorização das paisagens e dos seres humanos.

2.2 O lazer como direito: principais marcos regulatórios

Figura 19 – Principais documentos e diretrizes sobre o lazer

28
EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA

A conquista do lazer na trajetória da humanidade provocou a geração de marcos regulatórios.


A criação de leis e documentos internacionais – por exemplo, declarações e convenções – teve
como objetivo sensibilizar governos de vários países para apoiar as iniciativas voltadas ao lazer.
A constituição desses marcos regulatórios não provocou efeitos práticos imediatos, porém foi
importante para o início dos debates voltados a discutir o lazer como direito de todos, e não apenas
privilégio de alguns.

Um dos primeiros esforços nesse sentido foi a Declaração Universal de Direitos Humanos, que
aponta, no artigo 24, que “Toda pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive à limitação razoável
das horas de trabalho e férias periódicas remuneradas” (ASSEMBLEIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS,
1948). No artigo 27, além disso, o documento destaca que “Toda pessoa tem direito de participar
livremente da vida cultural da comunidade, de fruir das artes e participar do progresso científico e de
seus benefícios” (ibidem).

O período pós-Segunda Guerra foi importante para o incentivo do lazer. Uma década depois da
Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1959, são promulgados os direitos da criança (UNICEF,
1989), assim como, posteriormente, em 1978, reconhece-se o direito à prática esportiva, por meio da
Carta Internacional de Educação Física e Esportes (UNESCO, 1978).

Posteriormente, houve outros documentos que reconheciam a importância das práticas esportivas,
inclusive para mulheres, conforme a Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação
Contra a Mulher, de 1979, ratificada pelo Brasil em 1984. O documento também ressaltava a necessidade
dos governos de promoverem a igualdade de condições para a prática do lazer e dos esportes.

Na década de 1990, foram criados documentos que salientavam a importância social e política
das atividades de lazer. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU, 2009), o lazer é um
dos cinco itens mais relevantes para todos os indivíduos da sociedade, é um direito, assim como
a alimentação, a educação, a saúde e a habitação. Um exemplo disso é a Convenção sobre os
Direitos da Criança (1989), destacando que toda criança tem direito ao descanso e ao lazer, ao
divertimento e às atividades recreativas da própria idade, bem como à livre participação na vida
cultural e artística. O direito e a prática do lazer na infância estão vinculados à aquisição de
hábitos saudáveis e à permanência destes na vida adulta.

As conquistas trabalhistas e a valorização do tempo livre são grandes ganhos, mas ainda não são
suficientes: o direito ao lazer continua fazendo parte da luta de vários segmentos sociais.

Podemos dizer que o surgimento das atividades de lazer como prática e direito a ser conquistado
acompanham também o crescimento de inúmeros movimentos sociais. Conforme Vieira (2000):

As lutas pela liberdade e igualdade ampliaram os direitos civis e políticos da


cidadania, criaram os direitos sociais, os direitos das chamadas minorias –
mulheres, crianças, idosos, minorias étnicas e sexuais e, pelas lutas ecológicas,
o direito ao meio ambiente sadio (VIEIRA, 2000, p. 39-40).

29
Unidade I

Observação
A cidadania pode ser entendida como o exercício dos direitos e deveres civis,
políticos e sociais. Esses direitos e deveres são estabelecidos na Constituição do
país. No caso, referem-se à cidadania brasileira. Os direitos e os deveres estão
interligados, e o cumprimento de ambos, assim como o respeito à cidadania,
contribuem para uma sociedade mais justa e equilibrada.

A sociedade industrial, ao reunir os indivíduos em cidades para trabalhar nas fábricas, provocou e
mobilizou lutas e ações para uma melhor qualidade de vida dos operários.

“O trabalho ou a exploração do trabalho não era a única situação comum dos habitantes das cidades.
Outros segmentos da população, ligados por situações peculiares difíceis, passaram a encontrar-se, a
reunir-se e a buscar soluções para encaminhamento de reivindicações comuns” (CAMARGO, 1986, p. 54-55).

Um dos exemplos que podemos citar foi a luta das mulheres operárias. Elas representavam parte da
mão de obra fabril. As indústrias pagavam-lhes salários mais baixos em relação aos dos homens com a
justificativa de que a população feminina não estava preparada para o trabalho.

Embora o movimento de mulheres registre, historicamente, como sua


primeira reivindicação, o direito do voto, até então exclusivo aos homens,
a palavra de ordem que conferiu identidade ao movimento foi a luta pela
igualdade de direito de acesso ao trabalho e de sua remuneração. Com o
passar do tempo, as mulheres perceberam que a reivindicação da igualdade
de direito ao trabalho, se isolada, era uma armadilha: na realidade, elas
estavam reivindicando o direito a uma dupla jornada de trabalho, a
profissional, à qual acediam, e a doméstica, que tradicionalmente lhes era
legada [...] A mulher trabalhadora é prejudicada no seu tempo livre em
relação ao homem (CAMARGO, 1986, p. 55).

O movimento de mulheres, atualmente, tem na sua luta a igualdade e a justiça em relação ao homem, na
totalidade de seus tempos sociais, seja em relação ao trabalho profissional, seja em relação ao direito ao lazer.

Figura 20 – O rosto feminino

30
EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA

O movimento jovem também é caracterizado como irreversível na perspectiva social, cultural e


política. A presença do jovem na luta pelo seu espaço na sociedade, desse modo, ainda é uma questão
atual, pois é um movimento em constante construção, principalmente com relação ao direito ao lazer.

Mesmo quando os jovens lutam por uma maior participação política ou na


gestão de escolas e universidades, pode-se vislumbrar uma dimensão de
lazer: no fundo eles exigem uma sociedade gerida segundo seus modelos de
lazer, mais autêntica, menos autoritária, menos guiada pelo “a-vida-é-assim-
mesmo” dos adultos, ditos responsáveis, e mais baseada na inventividade
e no prazer extraídos dos modelos de prática convivial de lazer que eles,
jovens, dominam (CAMARGO, 1986, p. 58).

Um dos problemas encontrados em muitas cidades, sejam elas grandes, médias ou pequenas, é a
falta de disponibilidade de ações e políticas de lazer para os jovens, principalmente a juventude das
regiões periféricas de cidades brasileiras e internacionais, que cotidianamente é marginalizada e tratada
de forma violenta (física e simbólica), não tendo acesso às mesmas oportunidades de outros jovens
pertencentes a outras camadas sociais.

Ao discutirmos a questão do lazer na juventude, é importante compreendermos os aspectos da


identidade. A dimensão da cultura e consequentemente do lazer surge como espaço privilegiado de
práticas e representações simbólicas capazes de demarcar a identidade juvenil por meio de diversas
linguagens artísticas, como a música, a dança e outras expressões culturais. O incentivo e o acesso
igualitário a elas possibilitam ao jovem se expressar e se inserir socialmente no mundo. Nesse sentido,
é importante analisar as diferentes expressões culturais vivenciadas pelos grupos e estar atento a elas.

A valorização da indústria cultural para o público jovem muitas vezes está centralizada no consumo,
porém é importante destacar os movimentos de questionamento, que possibilitam a construção de novos
espaços e novas formas de sociabilização e estímulo de atividades de valorização individual e coletiva.

Outra faixa etária importante a ser destacada nas discussões sobre o direito ao lazer é a dos idosos. Para
Acosta e Pacheco (2013), o envelhecimento da população está articulado com diversas mudanças nas cidades
ao longo do tempo, como o surgimento de espaços, serviços e atendimento voltados ao público idoso.

A introdução da aposentadoria, somada ao aumento da esperança de vida, possibilitou aos indivíduos


mais velhos, já fora do mercado de trabalho, um maior tempo livre. As reivindicações surgiram no
vislumbramento de vivências a serem aproveitadas, já que muitos idosos envelheceram gozando do uso
pleno de sua capacidade física e psicológica.

O envelhecimento da população já é uma realidade, e, logo, as atividades de lazer devem também se


voltar para o atendimento dessa faixa etária.

O peso demográfico no conjunto da população urbana propiciou condições


de encontro, de intercâmbio e de associação com reivindicações, de início,
ligadas a melhores condições financeiras de aposentadoria e até mesmo a
31
Unidade I

uma nova oportunidade de trabalho, do direito a serem reconhecidos como


indivíduos integrais, com o mesmo direito de decidirem sobre sua vida afetiva
e sobre a forma como ocupam o tempo livre existencial de aposentadoria
(CAMARGO, 1986, p. 60).

Os idosos representam os grupos de lazer, pois possibilitam novas modalidades de atividades


intelectuais, manuais, artísticas e físicas para esse público não só envolvendo equipamentos, mas
também ações que favorecem envelhecer com alegria e dignidade.

Saiba mais

Indicamos os dois filmes a seguir. O primeiro apresenta diferentes


formas de expressão da infância e o segundo demonstra a velhice tanto em
seus aspectos positivos quanto nos limitadores.

AMOR. Dir. Michel Haneke. Áustria; França; Itália: Les Films du Losange,
2012. 127 minutos.

CRIANÇAS invisíveis. Dir. Mehdi Charef; Emir Kusturica; Spike Lee; Kátia
Lund; Jordan Scott; Ridley Scott; Stefano Veneruso; John Woo. França;
Itália: MK Film Productions S.r.l., 2005. 124 minutos.

Independentemente da faixa etária, é necessário considerar um conjunto de fatores ligado ao


contexto cultural no qual os indivíduos estão inseridos. Os contextos culturais em que diferentes grupos
sociais vivem e se relacionam são diversos, logo suas opções e atividades de lazer também o são.

Nos centros
urbanos?
Para os Nas áreas
empresários? rurais?

Como é o
lazer
Para os Nos bairros
trabalhadores? ricos?
Nos bairros
pobres?

Figura 21 – Questionamentos sobre como é o lazer

Como vimos representado na figura anterior, há diferentes fatores que podem determinar a prática do
lazer, assim como os hábitos e costumes de lazer em diferentes grupos sociais devem ser compreendidos
e analisados. O que faz as pessoas irem ou não a um museu? Por que ir ou não a um baile funk? Por que
32
EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA

muitas pessoas assistem à televisão ou passam seu tempo diante do computador em seu tempo livre?
Crianças, homens, mulheres, jovens ou idosos: onde podem exercitar as suas atividades de lazer?

É importante, além disso, lembrar que o lazer voltado para diferentes públicos se manifesta em
diferentes tipos de espaço, questão que abordaremos na sequência.

2.2.1 A casa

A residência é um equipamento de lazer. É o espaço doméstico. Além da comodidade, o lazer doméstico


vem sendo desenvolvido não só pelo crescimento da indústria de entretenimento, mas também por
produtos diferenciados oferecidos pelo serviço de TV a cabo, por jogos eletrônicos e também por espaços
de lazer.

O lazer no âmbito doméstico pode ser muito positivo no desenvolvimento de atividades como
fazer trabalhos manuais, cultivar plantas e flores e tocar um instrumento musical. A deficiência
dos serviços públicos voltados ao lazer, assim como a questão da segurança, incentiva a prática
do lazer doméstico.

Há muitas polêmicas em relação ao lazer doméstico: a primeira delas é com relação à qualidade das
atividades desenvolvidas. O lazer doméstico seria menos rico do que o lazer obtido fora de casa?

Figura 22 – O lazer doméstico

2.2.2 Ruas e bares

A rua é um espaço importante de sociabilização. Com a construção das cidades, as ruas surgiram
para atender às necessidades de contemplação e de encontros. A invenção do automóvel e os
poucos investimentos em transporte público de qualidade ameaçam a ocupação das ruas pelas
pessoas cotidianamente nos grandes centros urbanos. Por exemplo, prioriza-se, em muitos centros
urbanos, o carro, em vez do transporte público ou de outros meios de transporte menos poluentes,
como as bicicletas.

33
Unidade I

É importante incentivar a ocupação das ruas como um espaço nato para atividades de lazer. A
rua proporciona a oportunidade de ver e ser visto, observar as paisagens naturais e as construções
humanas, é um lugar propício para encontros. Em alguns municípios, aos finais de semana, a rua é
fechada para a circulação de carros e aberta para as atividades de lazer, desde atividades esportivas
e brincadeiras até atividades culturais como teatro de rua, feiras de artesanato e apresentações
musicais ou de dança.

Figura 23 – Pessoas andando na rua

Já os bares podem ser considerados estabelecimentos que não se limitam a comercializar produtos e
serviços de bebidas e alimentação, pois se configuram como locais de encontro com o outro. Os roteiros
de lazer nas cidades sempre os incluem em sua programação, não só pelo cardápio, mas também pelo
ambiente, que favorece atividades lúdicas como jogos e música. Com a comercialização de bebidas
alcoólicas, contudo, esses estabelecimentos frequentemente sofrem com os abusos cometidos por quem
os usufrui.

Os bares também são prejudicados, muitas vezes, por não colaborarem com a circulação das pessoas
ou ainda pela poluição sonora e outros excessos e transtornos que podem comprometer as boas relações
com a vizinhança. Apesar disso, contribuem com as atividades de socialização e descontração.

Esses estabelecimentos podem evoluir, promovendo diversas atividades culturais, como exposições
de arte e lançamentos de livros e álbuns musicais.

Com relação ao melhor aproveitamento do espaço da cidade, a proibição de circulação de carros e a


introdução de calçadões por parte do poder público, por exemplo, são medidas que podem favorecer os
valores culturais e sociais da cidade.

34
EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA

Figura 24 – O bar como local de encontro de pessoas

2.2.3 Centros culturais

São estabelecimentos que podem ser planejados e implantados para alcançar diferentes classes
sociais. Os investimentos são ou deveriam ser voltados não só para a construção, como também para
a manutenção e animação do espaço. Para isso, são necessárias políticas culturais que promovam
programações de lazer e cultura que atendam às necessidades da população e, assim, que sejam por ela
percebidas e usufruídas.

As práticas culturais devem ser alinhadas ao público e anualmente distribuídas entre manutenção,
reformas, reposição de materiais e divulgação. Os espaços devem ser introduzidos não só nas áreas
centrais, mas também nas áreas periféricas, para que a população tenha acesso a eles.

Figura 25 – Lazer em espaços culturais

35
Unidade I

2.2.4 Praças e parques

As áreas verdes não só são importantes para fins paisagísticos e para deixar a cidade mais bonita e
agradável, mas também podem significar espaços de encontro e participação, bem como de benefícios
à saúde, melhorando a qualidade do ar.

Os parques e praças são espaços que incentivam atividades esportivas de baixo impacto, como
caminhadas, e o exercício da brincadeira, para crianças. Contadores de histórias, rodas de capoeira,
apresentações musicais, oficinas de educação ambiental, e saraus são elementos que podem valorizar o
lazer nessas áreas.

Figura 26 – Músicos tocando na praça

Saiba mais

O livro que indicamos a seguir apresenta uma série de estudos


antropológicos sobre as diferentes práticas de lazer na cidade de São Paulo:

MAGNANI, J. G.; TORRES, L. L. (Org.). Na metrópole: textos de antropologia.


São Paulo: Edusp, 2000.

Procure, além disso, o filme a seguir, que aborda as relações e práticas


de lazer de diferentes pessoas, apresentando fatores difíceis e limitadores
de barreiras sociais:

O GOSTO dos outros. Dir. Agnès Jaoui. França: Canal+, 2000. 112 minutos.

36
EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA

3 HOMO FABER X HOMO LUDENS

De acordo com Luiz Octávio de Camargo (1998), nós, seres humanos, somos sempre faber e ludens,
mas não ao mesmo tempo. “Divertir-se trabalhando ou trabalhar divertindo-se é, em tese, o objetivo de
todos, mas, na prática, uma exceção válida apenas para muito poucos em muito poucas circunstâncias”
(CAMARGO, 1998, p. 22).

Porém entender o faber e o ludens nos leva a compreender melhor as nossas relações tanto com o
tempo do trabalho quanto com o tempo de lazer.

3.1 O homem que trabalha

Figura 27 – “Homens trabalhando”

Para Camargo (1998), como faber, a humanidade, em todas as épocas, teve de ser disciplinada, tensa,
produtiva, bater metas, ações totalmente contrárias ao divertimento. Foi, assim, adquirindo gestos e
postura para alcançar bom desempenho em suas atividades profissionais.

Os gestos e as ações são mais contidos, tanto no jeito de falar quanto na forma de nos relacionarmos
com os colegas. Existe uma rigidez na postura profissional em sua totalidade: na aparência pessoal, no
vestuário, na etiqueta e nos comportamentos profissionais. O que é e o que não é permitido: o que o
chefe, a empresa e os colegas pensarão de você? Há um esforço constante de construção do profissional
ideal, que tenha uma imagem positiva perante a empresa e o mercado.

As exigências do ambiente profissional fazem as pessoas manterem uma postura mais rígida.
Enquanto se trabalha, deve-se estar atento aos fatos externos que possam interromper ou prejudicar
seu trabalho. Nos dias atuais, com o enxugamento das empresas em relação ao número de empregados,
há um acúmulo de funções: o trabalho que deveria ser feito por três, na maioria das vezes, é feito por
uma única pessoa. Há sempre uma tarefa atrasada ou no limite do prazo de entrega.

37
Unidade I

Aumentam, assim, as tarefas, as tensões e as doenças ocasionadas pelas atividades laborais. O


trabalho é um dos elementos que mais interferem na qualidade de vida. Muitas reivindicações dos
trabalhadores estão diretamente relacionadas a um ambiente de trabalho saudável.

As doenças relacionadas ao trabalho já eram conhecidas pela Organização Internacional do Trabalho


(OIT) desde o início do século XX. Em nosso País, a Constituição Federal de 1988 moveu o assunto Saúde
do Trabalhador do Campo do Direito do Trabalho para o Direito Sanitário, entendendo que a saúde não
pode ser negociada, e sim garantida de forma integral.

Infelizmente, na prática, são muitos os problemas relacionados à saúde do trabalhador.


Grandes empresas preservam e aumentam seus lucros ainda nas condições precárias que são
oferecidas ao trabalhador.

Segundo dados da OIT, divulgados em 2013:

• 2,02 milhões de pessoas morrem todo ano devido a enfermidades relacionadas com o trabalho.

• 321 mil pessoas morrem a cada ano como consequência de acidentes no trabalho.

• 160 milhões de pessoas sofrem de doenças não letais relacionadas com o trabalho.

• 317 milhões de acidentes laborais não mortais ocorrem todo ano.

• A cada 15 segundos, um trabalhador morre de acidentes ou doenças relacionadas com o trabalho.

• A cada 15 segundos, 115 trabalhadores sofrem um acidente laboral.

De acordo com o Ministério da Previdência Social, as doenças que mais causaram o afastamento do
trabalho entre 2000 e 2011 foram:

• dor nas costas;

• joelhos machucados;

• hérnia inguinal;

• depressão;

• mioma uterino;

• varizes;

• doença isquêmica do coração;

• hemorragia no início da gravidez;

• câncer.

38
EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA

Além das predisposições, muitas vezes as doenças podem ser desencadeadas pelas más condições do
ambiente de trabalho, o que vem forçando muitas empresas a repensar e mudar suas ações na prática
quando se trata da saúde de seus trabalhadores.

Saiba mais

Sobre o papel do trabalho, leia:

LAFARGUE, P. O direito à preguiça. São Paulo: Hucitec, 2000.

3.2 O homem que se diverte

Figura 28 – Passeio no parque

O Homo ludens tem como característica o relaxamento, é contrário à rotina e à disciplina,


apresenta uma receptividade a se divertir. Sobressai no ludens a espontaneidade na expressão
de atividades.

No momento de lazer, o crachá não vale. O que vale é o que temos de


mais pessoal, a espontaneidade. Ser divertido, saber contar piadas, tocar
um instrumento musical, cantar, no caso de pessoas mais extrovertidas, ou
simplesmente saber deixar-se ficar degustando o momento presente, no
caso de pessoas mais introspectivas: essas são as qualidades necessárias
(CAMARGO, 1998, p. 23).

39
Unidade I

A seguir incluímos músicas que apresentam a realidade da infância:

Palavra Cantada – Criança não Trabalha

Lápis, caderno, chiclete, pião


Sol, bicicleta, skate, calção
Esconderijo, avião, correria, tambor, gritaria, jardim, confusão

Bola, pelúcia, merenda, crayon


Banho de rio, banho de mar, pula-sela, bombom
Tanque de areia, gnomo, sereia, pirata, baleia, manteiga no pão

Giz, merthiolate, band-aid, sabão


Tênis, cadarço, almofada, colchão
Quebra-cabeça, boneca, peteca, botão, pega-pega, papel, papelão

Criança não trabalha, criança dá trabalho


Criança não trabalha...

Lápis, caderno, chiclete, pião


Sol, bicicleta, skate, calção
Esconderijo, avião, correria, tambor, gritaria, jardim, confusão

Bola, pelúcia, merenda, crayon


Banho de rio, banho de mar, pula-sela, bombom
Tanque de areia, gnomo, sereia, pirata, baleia, manteiga no pão
Fonte: Antunes; Tatit (2005).

Palavra Cantada – Agenda Infantil

Segunda-feira tenho aula de inglês


Na terça-feira curso de computação
Na quarta-feira faço uma terapia
Que me dá muita preguiça
Não tenho problema não
Na quinta-feira dia de ortodontista
Na sexta-feira é minha recuperação

Até no sábado acordar às sete horas


Pra treinar na minha escola
Capoeira e natação
Eu já falei pra minha mãe milhões de vezes
Meu Deus do céu eu não sou relógio não

40
EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA

Eu sou criança e criança nessa idade


Quer brincar bem à vontade

Sem ter tanta obrigação


Eu já falei mamãe mil vezes
Além de tudo tem um monte de lição!
Eu sou criança e criança nessa idade
Quer brincar bem à vontade
Sem ter tanta obrigação
Fonte: Agenda... (2014).

As músicas do grupo Palavra Cantada revelam um dos aspectos mais corriqueiros que se
refletem na questão do tempo livre e na necessidade de brincar da criança na atualidade. Isso
ocorre devido à competitividade. A criança é, cada vez mais cedo, apresentada ao Homo faber,
seja na brincadeira, seja na noção de “dever” que vai assimilando, assim como, cada vez mais
cedo, é apresentada à agenda de atividades. Além disso, em muitos lugares do mundo e do Brasil,
crianças são exploradas cada vez mais cedo, trabalhando em condições precárias e insalubres,
como ocorria na Revolução Industrial.

O sistema educacional prepara desde muito novas as crianças, que depois se tornam jovens a se
submeterem ao vestibular e ingressarem no mundo do trabalho. Não basta ir à escola: a sociedade do
trabalho impôs e criou necessidades de ocupar o tempo do brincar com cursos extracurriculares como
idiomas, informática, entre outras opções existentes.

Adultos ou crianças, no decorrer da história, eram basicamente ludens. Conforme as transformações


ocorridas na sociedade, com a sofisticação de objetos e aparatos comunicacionais, assim como com a
mudança nos modos de produção, passaram a desenvolver o faber.

Contudo, é preciso ser ludens. Afinal, o que buscamos na diversão? Para Camargo (1998), são quatro
as grandes motivações para toda e qualquer diversão:

• Aventura: é do ser humano a descoberta, a revelação do mistério. O livro, o filme, a partida de


futebol, a festa são exemplos de como exercitamos a busca de aventura. Ao viajar, buscamos um
novo lugar para conhecer, novos costumes, novas pessoas, novas formas de nos alimentar e de
ser e estar no mundo. Somos também motivados pelo novo. A experiência lúdica da aventura tem
como base a curiosidade, o desenvolvimento da inteligência abstrata e prática.

• Competição: a palavra não significa necessariamente disputa com o outro, pois pode ser entendida
como disputa contra si, ser melhor do que da última vez. O competir com o outro não significa
aprender a esmagar o adversário. O esporte é o maior exemplo de como podemos praticar o
perder e o ganhar na vida; ao estabelecer uma relação com o outro, podemos estabelecer desafios
para nós mesmos.

41
Unidade I

• Vertigem: refere-se à capacidade de se deixar levar, correr riscos: o escorregador, a


montanha-russa, os jogos virtuais, a fascinação pela velocidade.

• Fantasia: é o devaneio, o pensamento sem amarras, a imaginação que pode ser despertada nas
artes plásticas, na literatura, no cinema, no teatro, na música. A capacidade de imaginar possibilita
a oportunidade de ver o mundo e as situações de diferentes formas e ângulos.

Podemos dizer que a mesma atividade de lazer pode atender a diferentes motivações, o que nos
possibilita pensar e refletir sobre como o lazer é fundamental para o exercício do lúdico. Isso porque
o lúdico é importante para nos fortalecer para enfrentarmos o cotidiano e os desafios do Homo faber.

Retomando a discussão de como é importante e enriquecedor brincar na infância, assim como na


juventude, na vida adulta e na melhor idade, reafirmamos que ter experiências lúdicas criativas por meio
do lazer possibilita o exercício de viver socialmente e de fazer novas leituras do mundo.

A diversão em nossa sociedade é baseada nas relações de consumo, como veremos mais adiante,
e, por isso, pode se corromper facilmente e gerar problemas muitas vezes difíceis – até irreversíveis:
do gosto pela competição pode nascer a violência; do gosto pela aventura, a dependência dos
jogos de azar; do gosto pela vertigem, o uso compulsivo de drogas químicas e não químicas; da
fantasia, a paranoia.

Muitas vezes a organização econômica de nossa sociedade globalizada se utiliza dos mais diferentes
subterfúgios e estratégias para inserir necessidades criadas a fim de promover o consumo. As formas
concretas ou simbólicas de necessidade/estímulo permanente do consumo podem corromper o lúdico.
Por exemplo, as propagandas de bebidas, refrigerantes, automóveis e brinquedos utilizam o lúdico para
promover seus produtos pela diversão. Muitas vezes, o que é imposto, a mensagem, não é se divertir,
mas sim consumir.

3.3 Integração do faber e do ludens

A seguir veremos uma música sobre lazer:

Arnaldo Antunes – Se assim quiser

Acabou a hora do trabalho


começou o tempo do lazer
você vai ganhar o seu salário
pra fazer o que quiser fazer

O que você gosta e gostaria


de estar fazendo noite e dia
ler, andar, ir ao cinema, brincar com seu neném
e até mesmo trabalhar também

42
EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA

Quando quiser, se assim quiser


se assim quiser, como quiser
como quiser, quando quiser

Ir de bicicleta ao mercado
escolher um peixe pro jantar
encontrar a namorada ou o namorado
escolher alguém pra visitar

Quando quiser, se assim quiser


se assim quiser, como quiser
como quiser, quando quiser
Fonte: Antunes (2004).

A música de Arnaldo Antunes apresenta o lazer a partir da sua livre vontade, elemento que caracteriza
o lazer livre e desinteressado. Ainda assim menciona, em seu início, a relação que temos com o trabalho
como forma de sobrevivência.

A letra da canção menciona algo recorrente quando nos referimos ao mundo do trabalho,
principalmente às vocações: pessoas trabalhando sem nenhuma motivação ou paixão. Como
vimos, as doenças físicas e mentais revelam a falta de qualidade no trabalho e a falta de respeito
ao trabalhador, caracterizando diversos tipos de abuso. Muitas pessoas aguardam ansiosamente
o horário marcado do relógio para recomeçar a viver, assim como submetem a sua felicidade e
seus sentimentos de realização ao salário recebido no final de todos os meses. Há uma frustração
no mercado de trabalho, atividades são malrealizadas porque muitas pessoas não gostariam de
exercer a profissão na qual atuam.

A sociedade que foi construída tem na sua centralidade o trabalho. Ao ser apresentados a ele, muitas
vezes muito novos, escolhemos uma profissão para seguir sem descobrir que temos não só uma, mas
muitas vocações. Quantas pessoas não mudam radicalmente de profissão e buscam outras para se
sentirem completas e realizadas?

O que é importante considerar ao escolhemos a profissão para que possamos estabelecer uma
convivência entre o faber e o ludens?

É importante considerar três fatores:

• gosto ou interesse;

• aptidão;

• disposição para enfrentar obstáculos.

43
Unidade I

Embora a sociedade nos aponte o trabalho como atividade mais importante, não podemos nos
esquecer de que o trabalho mais prazeroso do mundo não pode dar conta de toda a nossa necessidade
existencial. É preciso pensar no trabalho, escolher e buscar a atividade com a qual mais nos identificamos,
e não aquela que paga melhor. Também no não trabalho, ou seja, no lazer, é imperativo buscar atividades
que nos favoreçam a satisfação. É preciso ser faber, mas também é necessário ser ludens para que
possamos nos tornar melhores, embora inacabados.

4 LAZER E ÓCIO NA CONTEMPORANEIDADE: CONCEITOS, CONCEPÇÕES E


SIGNIFICADOS

Além de entender o conceito de lazer, outro aspecto discutido por pesquisadores de diferentes áreas
é a questão do ócio. Como vimos, muitos fatores contribuíram para o aumento do tempo livre; contudo,
atualmente, existe muito questionamento sobre como esse tempo está sendo aproveitado.

Nesse sentido, retomam-se as discussões sobre o ócio. A palavra “ócio” vem do latim otium, que significa
“ocupação prazerosa” e está associada à ideia de repouso, e ainda se confunde com a ideia de ociosidade.

O tempo livre e o ócio são tomados, muitas vezes, como o mesmo fenômeno social, porém há
diferenças a serem compreendidas, uma vez que os conceitos possuem naturezas diferentes. Para Aquino
e Martins (2007), o tempo livre como o concebemos tem uma natureza cronológica que atingiu seu
ápice após a Revolução Industrial. Há algumas implicações quanto ao tempo, de acordo com os autores:
uma delas é a questão da liberdade tomada como um exercício temporal, e a segunda é o conceito de
lazer baseado no tempo livre sob uma perspectiva objetiva.

O ócio, já em seu conceito, traz uma abordagem que parte da experiência subjetiva. A vivência do
ócio constitui uma experiência gratuita, necessária, prazerosa e integrante da forma de ser de cada
pessoa, sendo a expressão de sua identidade. A vivência do ócio não depende do tempo da atividade
em si, nem da condição econômica, como acontece com o lazer. No trabalho, por exemplo, podemos
desenvolver a experiência do ócio. Há pessoas que encontram prazer no trabalho, engajam-se da mesma
forma que encontram no ócio em suas atividades laborais uma forma de minimizar as pressões.

Ainda segundo Aquino e Martins (2007), o ócio está relacionado ao sentido atribuído a quem vive,
ou seja, está relacionado à subjetividade, ao modo pelo qual nos relacionamos com o mundo e as
pessoas de forma particular.

O ócio tem a sua importância social na perspectiva individual, no questionamento de cada um


consigo mesmo em relação à vivência e à experiência do ócio, o que auxilia o autoconhecimento, a
identificação, a recuperação do equilíbrio das decepções e frustações.

Há uma série de funções que organizam a função do ócio:

• Função psicológica: inclui as funções de desenvolvimento, diversão e descanso concebidas por


Dumazedier (1974), que atendem parcialmente à compensação das perdas humanas, possibilitando
o equilíbrio psicológico do indivíduo.
44
EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA

• Função social: está relacionada à integração social, em contraponto ao empobrecimento da


comunicação interpessoal.

• Função simbólica: o ócio oferece a percepção de identidade e um sentido de pertencimento,


além da afirmação pessoal por meio da escolha das atividades diversionais.

• Função terapêutica: oferece a possibilidade de melhorar a saúde física e mental.

• Função econômica: compreende gastos pessoais e familiares com as atividades de ócio, assim
como as suas implicações no sistema econômico.

Infelizmente, o ócio, nas formas contemporâneas de divertimento e entretenimento, é dominado


pelo consumo e muitas vezes possibilita, em vez de uma experiência enriquecedora, uma experiência
alienada. O trabalho, o ritmo acelerado e o acúmulo de tarefas sufocam o sujeito, da mesma forma que
restringem, muitas vezes, a experiência do ócio.

Para Cuenca (2003) a função econômica do ócio é ambígua, pois os gastos alimentam o sistema, mas
as práticas não são amparadas pela política econômica. O acesso ao ócio passa pelo consumo, que não
expressa experiências significativas.

Ainda com o autor, o ócio não pode ser atribuído ao tempo, pois implica a liberdade de escolha.
O tempo e a atividade em si não podem determinar uma experiência do ócio. Por exemplo, a pessoa
pode ter o tempo livre e viajar, mas a viagem pode ou não ser uma experiência de ócio, dependendo
da experiência humanista relacionada com os valores e o sentido da vida para cada um. Por isso é algo
subjetivo: a experiência do ócio depende da formação de cada indivíduo.

4.1 O ócio e as experiências subjetivas

A identificação da relação entre ócio e tempo livre é resultado dos estudos sociológicos difundidos
desde a segunda metade do século XX. Porém, estudiosos de outras áreas, como a Psicologia, afirmam
que só o tempo livre não determina uma experiência de ócio. Assim, embora haja uma relação entre
ócio e tempo livre, a vivência do ócio depende do exercício humano de vontade, autorreconhecimento
e identidade.

O pensamento do ócio humanista surge em meados dos anos 1990, como aconteceu no World
Leisure and Recreation Association, em 1998. O ócio como experiência humana está vinculado a valores
e significados profundos que provocam transformações na vida das pessoas.

Ainda há um caminho para se trilhar: o ócio cada vez mais é necessário em um contexto
cada vez mais acelerado. O lazer e o ócio são capazes de substituir a ordem cronológica do
tempo e compreender o sentido da sua duração, para que nós, seres humanos, possamos
expressar nossas subjetividades.

45
Unidade I

Saiba mais

Entre no site do Laboratório de Estudos sobre Ócio, Trabalho e


Tempo Livre:

<http://www.otium.net.br/>.

Associação Ibero-americana de Estudos de Ócio.

<http://www.asociacionotium.org/>.

4.2 A sociedade do hiperconsumo

A Revolução Industrial não só promoveu a conquista do tempo livre para a vivência do lazer, mas
também construiu uma sociedade de consumo. De acordo com Lipovetsky (2007), ela surgiu pela
expansão de mercados e pelo consumo de massa, tendo como a sofisticação dos meios de comunicação
e transportes elementos fundamentais para seu crescimento – pois eles favoreciam custos reduzidos,
aumento da produtividade e circulação do produto até o consumidor.

Em uma segunda fase, a partir da segunda metade do século XX, expandiu-se a democratização do
consumo de bens duradouros, e a sociedade começou a consumir ideias e modos de vida que até então
pertenciam apenas às classes mais abastadas.

Realizando o “milagre do consumo”, a fase II dá origem a um poder de


compra discriminatório em camadas sociais cada vez mais alargadas, que
podem aspirar, confiantes, ao melhoramento constante dos seus recursos;
difundiu o crédito e permitiu à maioria das pessoas libertarem-se da urgência
das necessidades imediatas. Pela primeira vez, as massas ascendem a uma
procura material mais psicologizada e mais individualizada, a um modo de
vida (bens duradouros, atividades de lazer, férias, moda) até então exclusivo
das elites sociais (LIPOVETSKY, 2007, p. 29).

Há, portanto, uma mobilização da sociedade para criar uma realidade sinônimo da felicidade cercada
de conforto e facilidade. Essa mobilização da busca desesperada da felicidade se reflete nos hábitos de
consumo e do lazer; “há também todo um ambiente de estimulação dos desejos, a euforia publicitária,
a imagem luxuriante de férias, a sexualização dos símbolos e dos corpos” (LIPOVETSKY, 2007, p. 30-1).

A terceira fase do capitalismo já é alçada à sociedade do hiperconsumo, na qual consumidores


tornam-se mais exigentes em relação à qualidade de vida:

Queremos objetos para viver, mais do que objetos para exibir; compramos
isto ou aquilo não tanto para ostentar, para evidenciar uma posição

46
EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA

social, mas para ir ao encontro de satisfações emocionais e corporais,


sensoriais e estéticas, relacionais e sanitárias, lúdicas e recreativas
(LIPOVETSKY, 2007, p. 7-8).

As sociedades de consumo surgem devido a um interminável sistema de estímulos e à criação


de novas necessidades que prometem a felicidade, assim como a criação de um sistema de signos
gerados pelas marcas revela a realização dos seus próprios desejos de prazer, felicidade e êxtase. Há uma
veiculação das marcas a imagens, conceitos e valores, proporcionando relações afetivas emocionais
entre produto e consumidor, para trazer experiências mais prazerosas.

Lipovetsky (2007) ressalta que a nova ordem cultural da contemporaneidade valoriza os laços
emocionais e sentimentos do homem, ou seja, além do consumo material, há um consumo do
simbólico, tendo como justificativa a resolução de temores, dilemas, frustrações e ansiedades, o
que se evidencia na produção e no consumo de valores efêmeros que passam do campo material
para o das subjetividades.

Nessa perspectiva, destacam-se também as contribuições de Bauman (2009) na obra A Arte da Vida,
em que faz um contraponto entre a vida, a arte e a busca da felicidade na sociedade contemporânea,
caracterizada pelas constantes transformações que fazem o sujeito se flexibilizar, ter uma certa
capacidade de descartar uma ideia por outra, para dar sentido ao mundo e a sua existência.

O autor critica o modelo societário voltado para o consumo de diferentes tipos de mercadorias. Da
mesma forma, apresenta a “frustração de não poder consumir” ou a “competitividade com outro” (sobre
“quem é mais feliz”) como manifestações de uma sociedade de consumo que faz da felicidade um bem
a ser consumido, desde que haja condições econômicas para fazê-lo. O autor afirma ainda que isso
determina a inclusão ou a exclusão de pessoas, revelando uma concepção perversa da felicidade.

As redes sociais, como o Facebook e o Instagram, evidenciam não só o compartilhamento da


experiência, mas também uma concorrência explícita sobre quem é mais feliz.

Para Bauman (2009, p. 36), “atingir a felicidade significa a aquisição de coisas que outras pessoas
não têm chance nem perspectiva de adquirir. A felicidade exige estar à frente dos competidores”. Ainda
segundo o autor:

Vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, os seres humanos tendem
a ser treinados, preparados, exortados, persuadidos e tentando abandonar as
maneiras que consideram corretas e adequadas, dar as costas àquilo que
prezavam e que imaginavam que os fazia felizes e tornar-se diferentes do
que são (BAUMAN, 2009, p. 68).

Bauman (2009) acrescenta que, para alcançar a felicidade, o artista da vida não deve seguir a
lógica do mercado, pois amor, carinho e solidariedade não se compram, uma vez que a sua busca não
depende de receitas ou fórmulas mágicas ou do atendimento a um determinado padrão instituído
por forças hegemônicas. É necessário alcançar nas experiências particulares soluções para o coletivo,
47
Unidade I

estabelecendo, dessa forma, uma ligação com o outro. O lazer e o ócio nessa perspectiva são atividades
extremamente benéficas e transformadoras.

Outros aspectos relevantes em relação à felicidade são a globalização e a identidade. Hall (2011)
afirma que a globalização leva ao fortalecimento ou à produção de novas identidades, assim como atribui
ao sujeito pós-moderno uma identidade mais fluida com possibilidades de múltiplos pertencimentos.

Esse processo produz o sujeito pós-moderno, conceitualizado como não


tendo uma identidade fixa, essencial ou permanente. A identidade torna-se
uma celebração móvel; formada e transformada continuamente em relação
às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas
culturais, que nos rodeiam [...] à medida que os sistemas de significação
e representação cultural se multiplicam, somos confrontados por uma
multiplicidade desconcertante, cambiante de identidades possíveis, com
cada uma das quais poderíamos nos identificar ao menos temporariamente
(HALL, 2011, p. 12-13)

O caráter móvel das identidades reflete o efêmero. Desse modo, a identidade do sujeito se adapta e se
molda às constantes transformações de um determinado ideal de felicidade. Nesse sentido, o consumo
encarrega-se de uma nova função identitária. Não se vendem apenas produtos, mas sim estilos de
vida. O sujeito, assim, decide qual identidade “vestirá” hoje, amanhã ou depois. Na incessante busca da
felicidade, o homem contemporâneo vive o hedonismo, não estabelece limites e quer conquistá-la a
qualquer custo.

É nesse contexto de questionamentos das consequências da globalização e do modo de produção


capitalista que surge a economia da experiência, com a divulgação de dois trabalhos que tiveram grande
impacto nos negócios: o livro The Dream Society (1999), do dinamarquês Rolf Jensen, e o estudo The
Experience Economy (1999), dos americanos James Gilmore e Joseph Pine.

Observação

O trabalho de Rolf Jensen (1999), a partir da Sociedade dos Sonhos,


introduziu novas necessidades e tendências de mercado, nas quais o
componente emocional assumiria um papel-chave no consumo de bens e
serviços, pautados por acontecimentos exclusivos e inesquecíveis.

Já o trabalho de James Gilmore e Joseph Pine (1999) é um complexo


estudo sobre as tendências de vida e consumo por meio da “humanização
da demanda” a partir do “mundo das experiências”.

A partir da economia da experiência, os negócios do lazer passariam a fundamentar suas atividades


nos locais onde estão inseridos, a partir da ideia de personalização, ou “sensação de exclusividade”,
deixando de ser uma atividade padronizada e passando a agregar valores simbólicos e interesses especiais.
48
EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA

A prática do lazer e do ócio possibilita a vivência de experiências positivas; porém, muitas vezes,
as propostas das atividades de lazer são comprometidas quando são transformadas em dispositivos
meramente consumistas, sem oferecer algo significativo e benéfico às pessoas.

A seguir incluiremos uma música sobre a felicidade:

Marcelo Jeneci – Felicidade

Haverá um dia em que você não haverá de ser feliz


Sentirá o ar sem se mexer
Sem desejar como antes sempre quis
Você vai rir, sem perceber
Felicidade é só questão de ser
Quando chover, deixar molhar
Pra receber o sol quando voltar

Lembrará os dias
que você deixou passar sem ver a luz
Se chorar, chorar é vão
porque os dias vão pra nunca mais

Melhor viver, meu bem


Pois há um lugar em que o sol brilha pra você
Chorar, sorrir também e depois dançar
Na chuva quando a chuva vem

Melhor viver, meu bem


Pois há um lugar em que o sol brilha pra você
Chorar, sorrir também e dançar
Dançar na chuva quando a chuva vem

Tem vez que as coisas pesam mais


Do que a gente acha que pode aguentar
Nessa hora fique firme
Pois tudo isso logo vai passar

Você vai rir, sem perceber


Felicidade é só questão de ser
Quando chover, deixar molhar
Pra receber o sol quando voltar

Melhor viver, meu bem


Pois há um lugar em que o sol brilha pra você
Chorar, sorrir também e depois dançar
Na chuva quando a chuva vem
49
Unidade I

Melhor viver, meu bem


Pois há um lugar em que o sol brilha pra você
Chorar, sorrir também e dançar
Dançar na chuva quando a chuva vem

Dançar na chuva quando a chuva vem


Dançar na chuva quando a chuva
Dançar na chuva quando a chuva vem
Fonte: Jeneci; César (2010).

Questionamos a qualidade das atividades de lazer e as possibilidades que são dadas para experimentar o ócio:

• Até que ponto são edificantes?

• O que as pessoas trazem para as suas vidas quando assistem a um filme no cinema ou a uma
peça teatral?

• Qual a contribuição das viagens para o repertório cultural das pessoas?

• Há um enriquecimento ou um empobrecimento das experiências de lazer e do ócio?

• As sociedades de hiperconsumo integram ou segregam as pessoas quando se trata do lazer?

• É preciso ter para ser feliz?

Não pretendemos fechar o debate, mas provocar a observação, a reflexão e o pensamento sobre as
práticas do lazer e do ócio em nossa sociedade. Ao conjugarmos o ócio ao lazer como experiência social
fora das amarras do hiperconsumo, proporcionamos atividades verdadeiras, autênticas e positivas na
construção de pessoas e de uma sociedade melhor e mais humana.

Resumo

Nesta unidade, vimos que entender as relações temporais é fundamental


para compreender o conceito de lazer, entendido como um conjunto de
atividades que podem ser feitas de forma livre e desinteressada. O lazer
estabelece três funções importantes, como vimos: a função de descanso,
de divertimento e de desenvolvimento. Essas funções são caracterizadas
pela coexistência.

O lazer se relaciona com a questão do tempo livre, que pode ser


classificado como: tempo livre após o trabalho, tempo livre de final de
semana/feriado e tempo livre de férias.

50
EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA

Uma das formas de compreender o tempo disponível que temos voltado


para o lazer é o orçamento-tempo. Além disso, a prática do lazer pode ser
desenvolvida a partir de diferentes ações, como: praticar, assistir, estudar;
fazer atividades físicas, manuais, intelectuais, associativas e turísticas.

De acordo com a trajetória de sua evolução, a sociedade foi se


desenvolvendo a partir de uma ideia de trabalho, determinada por vários
acontecimentos, dentre eles a Revolução Industrial, que possibilitou o
questionamento do tempo livre para uma melhor condição de vida aos
trabalhadores. Surgiram, assim, marcos regulatórios para sensibilizar
governos de vários países sobre a importância do lazer. A temática também
passou a fazer parte da pauta para reivindicações de diferentes públicos,
como as crianças, as mulheres, os jovens e os idosos.

Independentemente do grupo social, o lazer pode ser manifestado em


diferentes espaços, tais como a casa, as ruas, os bares, os centros culturais,
as praças e os parques.

Conforme Camargo (1998), nós precisamos ser ludens e faber, pois


o trabalho, por mais prazeroso que seja, não pode ocupar toda a nossa
necessidade existencial. É preciso pensar e agir no não trabalho, permitir
que o ludens exista a partir das atividades de lazer.

Por fim, o ócio pode ser entendido como uma experiência subjetiva e
está associado ao sentido atribuído a quem e ao que se vive. A experiência
do ócio nos auxilia a nos conhecer e identificar, a recuperar o equilíbrio
e lidar com as frustrações a partir de suas funções (psicológica, social,
simbólica, terapêutica e econômica). Porém o ócio é constantemente
ameaçado pelo consumo, que pode fazer tanto do lazer quanto do ócio
atividades alienantes e não edificantes. O ideal é, entretanto, que ele
fortaleça o sujeito tanto no âmbito individual quanto no coletivo.

Exercícios

Questão 1. (Enade 2004, adaptada) Milton Santos, ao se referir às relações entre o lazer e o trabalho
no mundo atual, comenta que:

“As pessoas não se divertem, são objetos de diversão. É preciso resgatar o lazer criativo e popular,
que gera solidariedade e trabalho [...]. A diversão é produzida, reproduzida, e as pessoas são convocadas
a consumi-la. Houve uma domesticação do gosto, impondo ou reforçando imagens de um mundo ou do
outro. Esse ‘lazer industrializado’ faz com que as pessoas não vejam o mundo real, mas o mundo como
dizem que é.”

51
Unidade I

Com base no texto anterior, propor uma prática que concorde com essa reflexão significa:

I – Tornar obrigatórias as atividades esportivas e/ou de ginástica laboral dentro das empresas de
indústria e comércio.

II – Propor políticas públicas para promoção do lazer em suas múltiplas possibilidades (autonomia,
instalações, tempo livre).

III – Racionalizar o custo de produtos de entretenimento e lazer para que a população possa
consumi‑los.

IV – Possibilitar a criação de atividades para promoção de práticas culturais regionais.

Assinale a afirmativa correta:

A) Somente as afirmações I e II estão corretas.

B) Somente as afirmações I e IV estão corretas.

C) Somente as afirmações II e III estão corretas.

D) Somente as afirmações II e IV estão corretas.

E) Somente as afirmações III e IV estão corretas.

Resposta correta: alternativa D.

Análise das afirmativas

I – Afirmação incorreta.

Justificativa: a afirmativa refere-se à obrigatoriedade para as atividades esportivas. A obrigatoriedade


da participação nas atividades fere o estatuto do trabalho, que não prevê em nenhuma lei a obrigatoriedade
de ações que não fazem parte das atividades de trabalho.

II – Afirmação correta.

Justificativa: a afirmativa refere-se às ações de conscientização do trabalhador nas suas


diferentes esferas.

III – Afirmação incorreta.

Justificativa: a afirmativa refere-se na redução do lazer. Este fato diminuiria a adesão a esta prática.

52
EDUCAÇÃO FÍSICA INTEGRADA

IV – Afirmação correta.

Justificativa: a afirmativa refere-se à criação de atividades culturais que possibilitariam a promoção


da saúde.

Questão 2. (Enade 2004, adaptada) A partir dos dados da “Pesquisa sobre Padrões de Vida: 1996
– 1997” do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Monteiro et alli. (2003) mostraram a
prevalência de atividade física (realização de pelo menos 30 minutos em um dia na semana) no tempo
de lazer, de acordo com variáveis demográficas e socioeconômicas. A tabela apresenta os resultados
proporcionais relativos a essas variáveis.

Tabela: Distribuição percentual de prevalência de


atividade física pelo menos uma vez na semana

Variáveis Homens (n=4.899) % Mulheres (n=5.447) %


Idade
20-39 25,3* 8,5
40-59 10,6 8,4
acima de 60 8,7 6,8
Região
Nordeste 19,0* 5,5
Sudeste 17,7 9,8
Local da residência
Urbano 19,4 9,3
Rural 13,4 3,1
Renda familiar
Primeiro quartil 12,6 1,3*
Segundo quartil 15,2 3,3
Terceiro quartil 17,0 6,4
Quarto quartil 28,2 21,8
Educação
Primeiro quartil 8,3* 1,3*
Segundo quartil 12,7 6,5
Terceiro quartil 21,5 7,2
Quarto quartil 31,5 18,0
* p<0,05

Fonte: MONTEIRO, C. A. et al. A descriptive epidemiology of leisure-time physical activity in Brazil, 1996-1997. Rev. Panam Salud
Publica. v. 14, n. 4, p. 246-254, 2003.

A partir desses dados e considerando as características da população brasileira, conclui-se que


apresentam níveis mais baixos de prática regular de atividade física:

53
Unidade I

A) Os indivíduos de alta renda e alta escolaridade, possivelmente por não gostarem de fazer exercícios
físicos.

B) Os indivíduos de baixa renda e baixa escolaridade, possivelmente por não se preocuparem


com a saúde.

C) Os indivíduos de baixa renda e baixa escolaridade, possivelmente por se encontrarem mais


vulneráveis e, por isso, não conseguirem se engajar em programas de exercícios físicos.

D) Os indivíduos de baixa renda, independente de terem ou não baixa escolaridade, possivelmente


pela falta de disposição para a atividade física.

E) Os habitantes do campo, possivelmente por já serem obrigados a fazer exercícios físicos em


seu trabalho.

Resolução desta questão na plataforma.

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