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All content following this page was uploaded by Ricardo Henrique Almeida Dias on 01 December 2019.
1
Índice
Introdução ..........................................................................................................................
Capítulo I - Ano Mundial da Física ................................................................................... 8
Capítulo II - Albert Einstein – Vida e Obra ....................................................................... 23
Capítulo III - Jornalismo científico e o ensino de ciências ................................................ 77
Capítulo IV - Análises dos meios midiáticos ..................................................................... 96
2
Prefácio
3
mesma metodologia com outros assuntos, o que se constitui na análise de conteúdo dos
meios de comunicação ou de um observatório de mídia. Outra metodologia utilizada foi o
uso de entrevistas. Alguns professores e pesquisadores foram entrevistados pessoalmente e
outros responderam aos e-mails que eu enviei. As entrevistas foram indicadas no texto a
partir das notas de rodapé, sendo que as respostas dos e-mails podem ser vistas pelo assunto
“Monografia - Ano Mundial da Física” e pela indicação “[mensagem pessoal]”.
Por fim, a obra também pode ser útil para estudantes de pedagogia e das
licenciaturas pela abordagem dos aspectos pedagógicos e didáticos dos meios de
comunicação.
Agradeço a todos os físicos que me concederam entrevista para a coleta de
informações para este trabalho. Agradeço ao meu orientador, o Professor Doutor Mauro
César Silveira, pelo grande apoio dado ao trabalho.
Desejando a todos uma boa leitura, aspiro que a obra também seja relevante para
que outros estudos similares sejam realizados para pesquisar as relações entre ciência,
comunicação e educação para que cada vez mais a nossa sociedade proporcione a
alfabetização científica para todos os cidadãos.
O autor.
Abril de 2019
4
Apresentação
Há exatos 100 anos Albert Einstein contribuía para a grande ruptura do pensamento
científico e filosófico mundial. Em 1905, ele publicou trabalhos sobre vários temas da
física, como novos estudos sobre as propriedades da radiação, a comprovação da realidade
das concepções atômicas, e revolucionários conceitos sobre grandezas até então
indiscutíveis, como o espaço, o tempo, a matéria, massa e energia. Os acontecimentos
posteriores levaram à criação de uma das mais significativas e impactantes teorias da área:
a relatividade geral.
Após sua comprovação empírica no eclipse de Sobral, Albert Einstein alvoreceu
para a sociedade e para o mundo. Tornou-se uma figura lendária e sua fama é comparável a
de Jesus, Buda ou Gandhi.
No aniversário de um século de seu Annus Mirabilis – termo em latim que significa
“ano miraculoso” ou “ano milagroso” – as sociedades de física de todo o mundo
propuseram à ONU e à UNESCO que estabelecessem 2005 como sendo o “Ano
Internacional da Física”.
Assim, vários eventos foram programados para celebrar a data em várias partes do
globo. Agências de fomento e órgãos governamentais destinaram recursos especiais para
promover a comemoração do centenário. Os meios de comunicação foram acionados para
divulgar eventos, pesquisas ou congressos da física. Os organizadores mostraram não
somente a história e os avanços dessa ciência básica, mas suas inter-relações com outras
grandes áreas do conhecimento e sua influência no desenvolvimento do pensamento
humano em sociedade.
Foram analisados os veículos especializados e não-especializados de algumas
mídias do Brasil e do exterior. Verificou-se a quantidade de espaço dado, bem como a
avaliação dos conteúdos apresentados.
5
Introdução
Para um melhor aproveitamento dos estudos, esta monografia foi dividida em quatro
capítulos. Embora elas sejam distintas em seu foco de abordagem, elas contêm
intercorrelações mútuas.
No capítulo I foram conceituadas as definições, objetivos e princípios essenciais do
“Ano Mundial da Física”. As informações passadas fazem parte de relatos dos
organizadores, físicos e professores, além dos sites oficiais de divulgação do evento. Foram
citados alguns exemplos de comemorações, congressos, seminários e encontros acontecidos
em várias partes do Brasil, na Alemanha, em Portugal e nos Estados Unidos. Pretendeu-se
averiguar se os objetivos dos organizadores estavam sendo cumpridos e analisar o nível de
eficácia dessa missão.
Já no capítulo II foi a vez de verificar se os feitos de Albert Einstein em 1905
mereciam realmente uma celebração desse porte. Os dados e contextos históricos da ciência
antes do surgimento do famoso físico alemão foram contados com base na literatura
existente no assunto. Passou-se posteriormente a contar um pouco das influências da vida
de estudante do jovem Albert e seus primeiros trabalhos. Foram explanados os artigos de
1905 minuciosamente um por um e seus desdobramentos posteriores. Também foram
abordadas a criação da teoria da relatividade geral e a fama repentina de Einstein após sua
comprovação empírica. Os debates com a comunidade científica sobre a teoria corpuscular
da luz e a mecânica quântica e algumas prováveis aplicações das teorias de Einstein no
desenvolvimento tecnológico do século XX. Também foi dada uma atenção especial ao
pensamento filosófico que se pode estabelecer dentro da obra de Albert Einstein.
No capítulo III foi observado o papel da mídia no auxílio a execução das metas
propostas pelos organizadores do “Ano Mundial da Física”. Foram definidos os conceitos
básicos de jornalismo científico e sua função educativa. A busca pelo conhecimento
globalizado e verdadeiro como caminho à educação do futuro e como o jornalismo
científico pode participar desse processo.
6
O capítulo IV buscou analisar e comparar diversos meios de comunicação –
especializados e os gerais – para verificar se os objetivos primordiais do “Ano Mundial da
Física” estavam sendo cumpridos. Como a mídia se comportou no evento? Para responder
essa questão, foram feitas minuciosas análises dos veículos gerais como as edições online
da Folha de São Paulo, o Estadão, a agência de notícias BBC e a versão eletrônica da
Deutsche Welle. Na categoria de veículos especializados, foram estudadas as revistas
Ciência Hoje, Comciência e Ciência & Ambiente.
7
Capítulo I - O Ano Mundial da Física
1. Definição, objetivos e metas
O “Ano Mundial da Física” foi instituído pelas sociedades de física em várias
reuniões realizadas em diversas partes do globo. No Congresso Internacional de Sociedades
de Física, em Berlim, acontecido no mês de dezembro de 2000, mais de 40 físicos
aprovaram a proposta para declarar 2005 como sendo o “Ano Internacional da Física”,
devido ao Annus Mirabilis de Albert Einstein, ano em que ele publicou cinco artigos que
alteraram significativamente alguns sólidos conceitos da área. Trabalhos inovadores e
corajosos que englobavam novas concepções sobre o caráter corpuscular da luz, o
movimento browniano e a relatividade restrita.
Logo após ter sido apresentada no Congresso das Sociedades da Física, a União
Internacional de Física Pura e Aplicada (IUPAP, da sigla em inglês International Union of
Pure and Applied Physics) ratificou a proposta e determinou que o ano de 2005 fosse eleito
para as celebrações do aniversário de um século dos cinco papers de Einstein e celebrar a
grande ruptura no âmbito científico que eles provocaram.
Em novembro de 2003, a proposta do “Ano Mundial da Física” foi aprovada por
unanimidade na 32ª sessão da Conferência Geral da UNESCO, que ficou responsável por
coordenar os trabalhos. Segundo resolução da UNESCO:
A Assembleia Geral;
Reconhecendo que a física promove uma significante base para o
desenvolvimento de a compreensão de natureza. Acentuando que a
educação em física proporciona para as mulheres e para os homens as
ferramentas científicas para construir a infraestrutura essencial para
desenvolvimento. Considerando que a pesquisa em física e suas aplicações
foram, e continuou sendo, uma força motriz para desenvolvimento
científico e tecnológico, e permanece um fator vital que se dirige para os
desafios do século XXI. Estando atento que o ano de 2005 marca o
aniversário de cem anos de uma série de grandes avanços científicos por
Albert Einstein. Acolhe a resolução da União Internacional de Puras e
Aplicadas Físicas (IUPAP), uma iniciativa da Sociedade Física europeia,
que declarou o ano de 2005 como o Ano Internacional da Física e leva a
cabo, dentro deste período, atividades para promover a física em todos os
8
níveis mundiais. Assim, decide apoiar a iniciativa do Ano Internacional da
Física e convida o diretor-geral a pedir para a Assembleia Geral das Nações
Unidas declarar 2005 como o Ano Internacional da Física.
Em junho de 2004 foi a vez da Organização das Nações Unidas proclamar o “Ano
Mundial da Física”.
9
realçando a contribuição da física ao desenvolvimento da ciência e da
tecnologia no país e debatendo o ensino da física nos vários níveis
educacionais (2005, p. 1).
Studart comenta que não apenas os artigos de Albert Einstein serão celebrados, mas
haverá uma busca para a melhora da divulgação da física em todos os meios e âmbitos da
sociedade:
Desmistificar a física e atrair novos talentos para a área. Esse é um dos enfoques
principais do “Ano Mundial da Física”, como diz Knobel:
10
pensamento crítico e, quem sabe, futuros talentos para a área. Há diversas
atividades sendo desenvolvidas no Brasil e no mundo, devido ao Ano
Mundial da Física.3
Adilson Oliveira ressalta o dia da física em 19 de maio. Essa foi a data do eclipse de
1919 no nordeste brasileiro quando pesquisadores comprovaram a teoria da relatividade
geral e fez de Albert Einstein um dos grandes mitos do século XX. Ele reconhece como um
dos objetivos principais a popularização da física, tornando-a mais acessível e simpática, já
que ela está muito próxima do nosso cotidiano, sem que nos percebemos disso.
11
investimentos que o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) vai destinar para as
atividades do “Ano Mundial da Física” no Brasil:
Para alterar a visão que as pessoas têm da física são necessárias mudanças no
sistema de ensino. Inserir mais tópicos da física contemporânea e demonstrar as aplicações
que surgiram com os avanços na compreensão dos fenômenos físicos. Esse também é um
5
FERNADES, L. Discurso do ministro. Disponível em:
<http://www.sbf1.sbfisica.org.br/eventos/amf/discurso.htm>. Acesso em: 16 de abril de 2019.
6
SOCIEDADE BRASILEIRA DE FÍSICA. Ano Mundial da Física – 2005. Disponível em:
<http://www.sbf1.sbfisica.org.br/eventos/amf/>. Acesso em: 16 de abril de 2019.
12
dos objetivos do “Ano Mundial da Física”, como conta Oliveira:
2. Os trabalhos de 1905
O ano de 2005 foi escolhido para a grande celebração mundial da física por ser o
aniversário de um século do Annus Mirabilis de Albert Einstein. Logo no começo de sua
carreira, com apenas 26 anos, ele publicou cinco artigos que alteraram o fluxo do
pensamento científico apresentado até então. Foram trabalhos de grande criatividade e
7
OLIVEIRA, A. Monografia - Ano Mundial da Física [mensagem pessoal].
8
MIRANDA, O. Monografia - Ano Mundial da Física [mensagem pessoal].
13
inovação, que provocaram uma ruptura na história da ciência.
No primeiro artigo, “Sobre um ponto de vista heurístico concernindo a geração e a
conversão de luz”, Albert Einstein propõe novas concepções sobre a natureza da radiação.
A luz apresenta um caráter corpuscular, além da característica ondulatória pregada por
várias gerações de cientistas. Einstein reconheceu esse trabalho como sendo muito
revolucionário, em carta para seu amigo Conrad Habicht.
O segundo e o terceiro artigo fazem parte da sua tese de doutorado e comprovaram a
existência de átomos e moléculas, assunto ainda bem incipiente e controverso no início do
século XX. Ele determinou as dimensões moleculares e criou métodos para o cálculo do
número de Avogrado9, ao analisar os movimentos desordenados dos grãos de pólen em um
fluido em repouso, também denominado movimento browniano. Esses são os trabalhos
mais citados de Einstein, pela enorme gama de aplicações práticas (PAIS, 1995, p. 102.)
Os dois últimos artigos de 1905 são os primeiros trabalhos relativos à teoria da
relatividade restrita que acabaram se tornando a marca registrada de Albert Einstein.
Mesmo que muitos autores antes dele já pesquisassem os fenômenos eletrodinâmicos e as
concepções sobre o espaço e o tempo, Einstein deu um grande passo ao abolir conceitos
indiscutíveis como o éter luminífero. “Sobre a eletrodinâmica dos corpos em movimento” e
“A inércia de um corpo depende de sua energia?” modificaram as noções mais básicas da
física como espaço, tempo, velocidade, massa e energia. Uma primeira versão da equação
mais famosa da ciência e estampada em camisetas e adesivos foi teorizada em 1905:
E=mc2.
Muitos historiadores da ciência discutem se 1905 foi o ano mais importante da vida
científica de Albert Einstein e da física. John Stachel acredita que 1915, quando a teoria da
relatividade geral foi desenvolvida, é realmente o ano mais importante. 10 Mas se
considerarmos que a teoria da relatividade geral foi criada com base na relatividade restrita,
conclui-se que o ano de 1905 semeou os alicerces do nascimento de uma teoria de campo
mais unificada. Studart (2005, p. 3) explica os motivos da escolha da celebração do annus
9
Número de moléculas por mol (unidade para a quantidade de matéria).
10
Cf. em NOGUEIRA, S. Einstein previu “doutrina Bush”, diz físico. Folha Online – Ciência. Disponível
em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u12890.shtml>. Acesso em: 16 de abril de 2019.
14
mirabilis:
15
foi o país onde Einstein nasceu e dedicou grande parte da sua obra científica – e nos
Estados Unidos, país que Einstein pediu asilo, após os nazistas tomarem o poder, e onde
viveu até sua morte.
16
supercondutividade, mecânica quântica, laser e a história do Annus Mirabilis de Albert
Einstein foi contada por Nelson Studart. Foram abordados também vários tópicos sobre
ensino de física, a filosofia da ciência e o mercado de trabalho para bacharéis e licenciados
em física. Outros fatos marcantes do evento foram as apresentações culturais e sociais.
- Ano Mundial da Física na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
As atividades estão programadas por todo o ano de 2005 e englobam vários tópicos
históricos e epistemológicos da física, bem como todo o desenvolvimento científico e
tecnológico do século XX. Foram explanadas também novas ferramentas para a prática do
ensino da física, bem como teorias psicológicas e sociais da aprendizagem e a inserção da
física moderna e contemporânea no ensino médio. O Instituto de Física da UFRGS abriu
seus laboratórios para as visitações pedagógicas do ensino fundamental e médio, visando
mostrar a importância e o impacto da física teórica e experimental no mundo
contemporâneo.
- Ano Mundial da Física na Universidade de Campinas. Realizado durante todo o
ano de 2005, foi composto de oficinas, exposições e palestras. As oficinas abordaram os
100 anos da teoria da relatividade, a astronomia, a vida de Einstein e suas contribuições e a
física moderna aplicada à medicina. Também aconteceram atividades expositivas, como a
“Nanoaventura”, um circo itinerante que percorreu as cidades do Rio de Janeiro e
Campinas, levando para estudantes do ensino secundário as noções e conceitos básicos
referentes à nanotecnologia, através de jogos eletrônicos e vídeos com alto grau de
sofisticação.
- Ano Mundial da Física na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Durante todo o ano aconteceram atividades relacionadas ao evento mundial. A I Semana de
Física aconteceu nos dias 17 a 19 de maio e foram apresentados vários tópicos da física
moderna como a nanotecnologia e a astronomia. Discussões mercadológicas como as
possibilidades da atuação do físico e suas funções dentro de uma indústria. Ildeu Castro
Moreira e Roberto Martins falaram sobre o Annus Mirabilis e as pesquisas precedentes à
teoria da relatividade, respectivamente. Uma grande inovação do evento foram os
espetáculos “Física mais que divertida” e “A Física como inspiração para criar, planejar e
17
executar: números de mágica inspirados em teorias da física”. Os programas de extensão do
departamento de física para a divulgação e a educação em ciência, o LABIDEX
(Laboratório de Instrumentação, Divulgação e Experimentação em Física), proporcionou
atividades voltadas para os estudantes e professores do ensino médio, tendo por objetivo
demonstrar de maneira interativa e descontraída diversos conceitos da física. Já o “Baú de
Ciências” foi destinado prioritariamente ao ensino fundamental e realizou atividades
experimentais nas escolas durante o horário escolar.
As atividades na UFSC objetivaram atingir principalmente os jovens do ensino
médio e fundamental, atendendo a um dos objetivos principais dos idealizadores do “Ano
Mundial da Física”, que é atrair os jovens para a carreira científica.
- Simpósio Mineiro do Ano Mundial da Física – A inserção da física moderna nos
ensinos médio e fundamental. Esse evento ocorreu nos dias 19 a 21 de maio e demonstrou
um panorama da física moderna através de temas atuais e discutiram os instrumentos e
práticas para a viabilização da sua inserção nos ensinos fundamental e médio. As palestras
giraram em torno de temas como partículas, aceleradores e detectores. A física antes e
depois de Einstein. Alguns problemas biológicos abordados pelos físicos. Nanotecnologia e
cosmologia, além de uma palestra sobre a UNESCO e o evento global.
- Ano Mundial da Física no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Durante o
período entre 14 de junho e 16 de novembro aconteceram ciclos de palestras com a
temática: “A evolução do conceito espaço-tempo”, abrangendo as pesquisas sobre o campo
contínuo de Albert Einstein. Depois, dentro da “Semana Nacional de Ciência e Tecnologia”,
foram abordados temas referentes à cosmologia e as teorias modernas sobre o espaço e o
tempo.
- X Semana da Física da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Evento
ocorrido entre os dias 24 a 27 de outubro e coordenado pelo departamento de física da
UEL. Os conteúdos das palestras abrangeram tópicos bem atuais da física, tais como as
fibras ópticas, os neutrinos massivos e sua relação com a transição de fase em bio-
moléculas, o estado atual da magnetorecepção em insetos sociais, imagens por ressonância
magnética nuclear: princípios e aplicações em medicina, o laser e a fluorescência: suas
18
aplicações em biofísica, o Annus Mirabilis, as pesquisas sobre a abordagem histórico-
filosófica no ensino e na aprendizagem de física, astronomia, os aspectos políticos da vida
de Albert Einstein e uma mesa redonda com o tema: divulgação em ciência e tecnologia.
Nota-se a grande importância dada ao último tópico, mostrando a relevância fundamental e
estratégica da divulgação e do jornalismo científico em cumprir as metas dos organizadores
do “Ano Mundial da Física”.
- Peças de teatro em comemoração ao Ano da Física. Ótima iniciativa desenvolvida
pela Estação Ciência em São Paulo. O evento consistiu em três obras teatrais com o
objetivo de mostrar outros lados da física. A primeira peça com o título “Prof. Gervásio e a
energia elétrica” mostrou questões sobre energia elétrica, sua história e os fenômenos
físicos que ela apresenta. A segunda, “Marte, a viagem - Uma comédia no espaço”, um
astrônomo e uma mitóloga tentam explicar o Sistema Solar e seus planetas, mas um
assistente novato e atrapalhado sempre interrompe as explicações. A última peça, intitulada:
“O Monocórdio de Pitágoras: Uma história de cordel” usou a música e a matemática para
ensinar as descobertas do filósofo e matemático Pitágoras.
As criações artísticas que ensinam ciências são uma excelente maneira de mostrar
uma física divertida e desmistificada, como preveem os idealizadores do Ano Mundial da
Física.
As metas dos organizadores nacionais do Ano Mundial da Física foram atingidas e
muitas vezes superaram as expectativas, com novas alternativas e soluções para a física
demonstradas ao longo do ano de 2005.
19
Düsseldorf, Colônia, Bonn, Wiesbaden, Frankfurt, Karlsruhe e terminou sua jornada em
Basel, já em território suíço.
O barco se tornou uma exposição itinerante da vida e da obra científica de Albert
Einstein. Lá foram expostas suas teorias, sua biografia, experiências dos seus estudos e
vídeos demonstrativos. Tudo com muito luxo e sofisticação. O MS-Einstein foi financiado
pelo Bundesministerium für Bildung und Forschung11.
A casa de verão de Albert Einstein em Caputh, distante seis quilômetros ao sul de
Potsdam, foi transformado em um museu de exposição de Albert Einstein. Segundo seus
desejos pessoais antes de morrer, ele não gostaria que se levantassem monumentos em seu
nome e que sua casa em Caputh fosse apenas um ponto de diálogo científico, político e
cultural. Assim, dentro do interior da casa só se encontram móveis e cômodos dispostos da
mesma maneira que Einstein deixou quando precisou fugir para os Estados Unidos para
evitar o terror nazista. Seus escritos e documentos pessoais estão na Universidade Hebraica
de Jerusalém, onde estão sendo analisados e estudados.
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relacionar com as novas tecnologias emergentes no século XX.
- Conferência sobre “As energias do presente e do futuro”. Evento acontecido nos
dias 21 e 22 de novembro de 2005, no Centro de Congressos do Instituto Superior Técnico
da Universidade Técnica de Lisboa, com enfoque geral na temática energética. Os assuntos
discutidos foram a física e a energia, o problema dos combustíveis fósseis, a energia e o
meio ambiente. As energias hídrica, eólica, solar térmica, solar fotovoltaica, das ondas e
biocombustíveis. Os veículos alternativos e a energia para todos.
Esse foi um exemplo de um evento que aconteceu no “Ano Mundial da Física”, mas
que buscou especificar somente o problema energético, assunto tão em voga nos dias atuais
e que está intimamente ligado ao desenvolvimento da física.
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astrofísica, cosmologia, física teórica e uma palestra intitulada “Além de Einstein: A
procura da NASA para as respostas”.
As perspectivas futuras na física, assim como no Brasil, também foram bem
exploradas nos eventos realizados nos Estados Unidos.
Veremos agora se a vida e a obra científica de Albert Einstein justificam a escolha
da celebração do “Ano Mundial da Física” exatamente um século após os seus primeiros e
significativos trabalhos ocorridos em 1905.
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Capítulo II – Albert Einstein: Vida e Obra
1. A ciência antes de Einstein
Albert Einstein nasceu em uma época que a física, a filosofia e as demais ciências
passavam por uma enorme transformação causada pelas novas descobertas empíricas. Por
muitos séculos, os grandes alicerces que sustentavam a ciência eram a geometria grega
euclidiana e a física desenvolvida por Galileu e Newton, também denominada “física
clássica”. Pela geometria de Euclides entenda-se por definições sólidas como ponto, reta e
plano. O mundo era concebido como um enorme sistema de coordenadas onde três
dimensões limitavam o universo. A geometria grega era um grande axioma que pretendia
explicar todas as formas do universo. Segundo Capra:
12
GREGÓRIO-HETEM, J. e JATEMCO PEREIRA, V. Observatórios Virtuais – Fundamentos de
Astronomia. Disponível em <http://www.astro.iag.usp.br/~jane/aga215/>. Acesso em 16 de abr. 2019.
23
base nessa contradição, Kepler revolucionou ao afirmar que as órbitas dos planetas em
torno do Sol descrevem elipses e não círculos. Na conhecida primeira lei de Kepler, as
órbitas dos planetas estão fixas no mesmo plano e descrevem elipses ao redor do Sol, no
qual está localizado em um de seus focos. Assim, caía, definitivamente, uma lei que
vigorava por aproximadamente 1500 anos e a ideia que o mundo era regido por formas
perfeitas.
Mesmo com a contestação dos conceitos absolutos dos geômetras gregos, esse
modo de ver o mundo perdurou até o início da revolução causada pela física moderna no
início do século XX. O livro Elementos, de Euclides, tornou-se texto padrão adotado nas
escolas europeias até o início do século passado e a geometria euclidiana foi considerada
como a natureza verdadeira do espaço por mais de dois mil anos. Albert Einstein, em seu
livro Notas Autobiográficas, relata a profunda abstração que os livros de geometria lhe
causaram ainda na infância. Segundo Einstein:
24
mundial. Por mais de 300 anos, ninguém ousava duvidar de seus rígidos conceitos. A física
passava por um momento extremamente mecanicista, na qual as estruturas eram definidas
por conceitos absolutos do espaço e do tempo. A essência da matéria era concebida como
pequenos objetos sólidos que se moviam no espaço. Ao conhecer a posição inicial, a
velocidade e o tempo decorrido, poder-se-ia prever com exata precisão a posição final, ou
vice-versa, prever a velocidade ou o tempo decorrido conhecendo os demais parâmetros
físicos apresentados. Newton também postulou leis para a gravitação, na qual matéria atrai
matéria. Toda a física era explicada por tais pressupostos. Segundo Einstein:
A física desenvolvida por Isaac Newton foi considerada, no ano em que formulou
tais axiomas13, a regra final que explicava todos os fenômenos físicos conhecidos na época.
Suas ideias são classificadas nas definições, axiomas e leis fundamentais, que passaremos,
então, a explanar, em alguns de seus pontos principais. Segundo Isaac Newton (1990), em
sua obra Principia: princípios matemáticos da filosofia natural:
Logo após, surge a lei da gravitação universal, na qual matéria atrai matéria na razão
direta das massas e inversa do quadrado da distância, na qual dois corpos interagem
instantaneamente em um espaço vazio.
Observa-se que o vocábulo “lei” antecede todos os pressupostos de Newton.
13
O ano de 1665 também é conhecido como o Annus Mirabilis de Isaac Newton.
25
Tentaremos conceituar brevemente o que significa esse vocábulo. O dicionário Aurélio traz
10 explicações para a palavra lei: regra de direito ditada pela autoridade estatal e tornada
obrigatória para manter, numa comunidade, a ordem e o desenvolvimento; norma ou
conjunto de normas elaboradas e votadas pelo poder legislativo; obrigação imposta pela
consciência e pela sociedade; domínio, poder, mando; norma, preceito, princípio, regra;
condição imposta pelas coisas, pelas circunstâncias; religião, crença; título (12) de moeda
ou metal; relação necessária entre fenômenos, entre momentos de um processo ou entre
estados de um ser, e que lhes expressa a natureza ou a essência e fórmula geral que enuncia
uma relação constante entre fenômenos de uma dada ordem; lei natural.
Desses conceitos, quais deles se assemelham às proporções que as leis de Newton
abrangeram à ciência? Tirando alguns paradigmas adotados pelas ciências jurídicas e o
título de moeda ou metal, todas as demais explicações são válidas para o impacto que as
leis de Newton causaram em praticamente todo o universo científico por quase 300 anos.
“Toda a evolução de nossas ideias sobre a maneira pela qual até agora imaginamos as
operações da natureza pode ser concebida como um desenvolvimento das ideias
newtonianas”. (EINSTEIN, 1981, p. 191)
Outra tendência filosófica que moldou o pensamento científico no ocidente foi o
racionalismo e o empirismo pregado por filósofos como René Descartes e Francis Bacon.
Segundo esses autores, os fenômenos físicos eram totalmente explicados como processos
absolutamente mecânicos. Diante de um embate filosófico, deve-se decompor o problema
em tantas partes isoladas quanto possível. O universo, segundo Descartes, era uma enorme
máquina composta por engrenagens. Com a análise das engrenagens podia-se chegar ao
verdadeiro conhecimento da realidade. Capra expõe a influência que o filósofo René
Descartes exerceu sobre a física clássica:
26
do século XIX, o modelo mecanicista newtoniano do universo dominou
todo o pensamento científico (1983, p. 25).
Tudo corria bem para os axiomas da física clássica, até o momento em que as
teorias começaram a se defrontar com resultados empíricos e fenômenos sem explicação.
Como explicar a precessão no periélio da órbita de Mercúrio constatada em 1859? E quanto
aos fenômenos eletromagnéticos? A física clássica começa a ter seus alicerces
comprometidos quando físicos teóricos como Michael Faraday e James Clerk Maxwell
estabelecem o conceito dos campos. A matéria não interage instantaneamente à distância e
em um campo vazio como na mecânica de Newton, mas elas interagem em um campo
provocado pela manifestação das cargas elétricas. Como diz Einstein: “quando eu estava
ainda na universidade, o assunto mais fascinante era a teoria de Maxwell. O que lhe dava
um aspecto revolucionário era a transição da ação à distância para os campos, como
variáveis fundamentais” (1982, p. 39).
Faraday e Maxwell uniram três grandes teorias físicas da época: a eletricidade, a
óptica e o magnetismo. Por métodos empíricos postularam a ideia do campo elétrico e
magnético, unindo-os. Como diz Capra:
27
O que levou finalmente os físicos, após longa hesitação, a abandonar a
crença na possibilidade de toda a física ter como base a mecânica de
Newton foi a eletrodinâmica de Faraday e Maxwell. Essa teoria, confirmada
pelas experiências de Hertz, provou a existência de fenômenos
eletromagnéticos que por sua própria natureza são separados de toda
matéria ponderável – a saber, as ondas no espaço vazio, que consistem em
“campos” eletromagnéticos (1982, p. 32).
Na física newtoniana, o espaço era considerado uma enorme arena onde aconteciam
todos os fenômenos físicos. A passividade do espaço, que era postulada por Newton, foi
contestada pela primeira vez por Maxwell e Faraday com a formulação da teoria
eletrodinâmica. Segundo esses autores, o espaço não é um lugar vazio e participa
ativamente dos acontecimentos. Segundo Einstein:
Em sua obra literária, Albert Einstein deixa clara a importância que a eletrodinâmica
de Faraday e Maxwell proporcionou para a toda a física teórica. Ele esclarece como a
criação de uma nova espécie de objetos físicos, como o conceito de campo, abalaram as
estruturas tão fortemente enraizadas da física clássica.
Mesmo com tantas contradições com a física clássica, Maxwell, ainda fortemente
influenciado pela mecânica de Newton, explicou que os resultados que obtivera eram
28
resultados de interações da matéria com o meio que preenchia todo o espaço do Universo,
denominado éter14. O conceito de “éter luminífero” seria o grande problema da física por
quase meio século e cientistas como Henri Poincaré e Hendrik Lorentz eram totalmente
favoráveis, ao contrário de Einstein, que baniu o conceito como veremos mais adiante.
Einstein alertou para o fato dos teóricos da eletrodinâmica estarem ainda presos na teia da
mecânica newtoniana:
Aos 4 ou 5 anos, (...) quando meu pai mostrou-me uma bússola. O fato de a
agulha comportar-se de uma certa forma não se encaixava entre os tipos de
14
Proposto como um meio necessário para a luz se deslocar no vácuo.
29
ocorrências que podiam ser colocados no mundo inconsciente dos
conceitos. Lembro-me ainda que essa experiência causou-me uma
impressão profunda e duradoura. Devia haver algo escondido nas
profundezas das coisas (1982, p. 18).
A precocidade científica de Einstein também pode ser explicada pela atividade que
exerciam seu pai e seu tio. Eles se dedicavam ao desenvolvimento de artefatos
eletromecânicos, como ressalta Galison:
As discussões com seu amigo Max Talmud vieram seguidas de uma liberdade de
pensamento que colocaram seus dogmas religiosos em total contradição. Vale a pena
ressaltar que Einstein, aos 10 anos, entregou-se a uma religiosidade profunda, apesar de ser
filho de pais absolutamente não-religiosos. Segundo Einstein:
30
7 anos, ou seja, o Annus Mirabilis aconteceu durante esse período.15
Vale a pena ressaltar a importância que o trabalho no escritório de patentes teve na
obra científica de Einstein. Lá, ele tomou contato com todos os tipos de novidades nas áreas
de artefatos elétricos e inovações na emergente área de telefonia. O grande esforço dos
pesquisadores da época era criar soluções envolvendo compostos elétricos e de
comunicações. Segundo Galison:
31
Quando Einstein veio para o escritório de patentes de Berna em 1902,
penetrou em um mundo no qual o triunfo do elétrico sobre o mecânico já
estava simbolicamente a sonhos da modernidade. (...) o escritório era uma
tribuna de honra para o grande desfile das modernas tecnologias. (2005, p.
33)
A confusão era tamanha que, por exemplo, a Torre da Ilha em Genebra possuía três
relógios em série. O relógio do meio marcava o tempo local, por exemplo, 10h13min.
Nesse exato momento, o relógio da esquerda marcava 9h58min com referência a Paris ao
longo da via férrea da companhia de trem Paris-Lyon-Mediterranée. O relógio da direita
exibia a hora de Berna com cinco minutos adiantado, 10h18min. Em países como a
Alemanha, esse problema se intensificava com a existência de cinco unidades diferentes de
32
tempo.
Tal problema sempre intrigava o jovem Albert Einstein. Em sua caminhada diária
até o seu trabalho no escritório de patentes, ele passava pelas grandes torres do relógio em
Berna e percebia o grande sistema de relógios coordenados. Sem dúvida alguma, a
sincronização dos relógios era um grande enigma que perturbava os cientistas da época e de
todas as pessoas que dependiam da marcação do tempo com precisão. Mais adiante
veremos como o problema foi solucionado. Voltemos as explanações referentes às
influências científicas de Albert Einstein.
A transição do século XIX e XX experimentou o nascer de uma nova concepção
sobre a realidade da matéria. Essa nova maneira de explicar os processos atômicos fez parte
constante do estudo científico de Einstein e trouxeram para ele grandes debates filosóficos.
Estamos falando do nascimento da mecânica quântica.
Em 1900, o físico alemão Max Planck postula que a luz é transferida através de
pacotes de energia, denominados quantum. A luz apresenta um caráter dual, sendo
composta, ao mesmo tempo, de onda eletromagnética e partícula. Com isso nasce a teoria
dos quanta, que até hoje intriga físicos e pesquisadores da área. Segundo Einstein:
Com o início dos estudos dos fenômenos atômicos, Albert Einstein sempre procurou
respostas para tais acontecimentos, sem deixar de lado sua preocupação com os estudos
referentes à relatividade. Devido a isso, a obra científica de Einstein parece estar dividida
em duas abordagens teóricas distintas da matéria: o campo contínuo – teoria da relatividade
e cosmologia – e as propriedades atômicas e quânticas dos corpos. Segundo Paty:
33
37).
3. O Annus Mirabilis
O ano de 1905 ficará marcado para a história como o ano em que apenas uma
pessoa desenvolveu estudos científicos que marcaram toda a evolução da ciência e do
mundo.16 Nesse ano surgiram teorias revolucionárias que derrubavam alguns conceitos
fixos dentro da comunidade científica da época. Os cinco papers de Einstein abrigavam
muitos dos grandes problemas da física, como a relatividade e os fenômenos quânticos. Em
uma carta para seu amigo Conrad Habicht, em maio de 1905, Einstein resume o momento:
34
teoria do espaço e do tempo.17
35
eletrodinâmica como sendo definitivas ou absolutas. Por isso sempre suspeitava dos
preceitos regidos por tais teorias. Max Planck, apesar da grande inovação de suas
explicações, ainda estava preso à ideia de que a luz se comportava somente como onda
eletromagnética se deslocando no éter. Segundo Paty:
Segundo Davidovich: “Einstein propõe (...) que a luz comporta-se como se fosse
constituída de unidades elementares de energia proporcional à sua frequência” (2005, p.
84).
Com esse postulado, Einstein semeava o conceito de fótons que são a base dos
estudos da física quântica. Se a luz é composta por partículas, então ela deve interagir com
a matéria, fazendo com que as superfícies de certos metais emitam elétrons se a luz for
incidida sobre ela. O caráter corpuscular da luz faz com que elétrons sejam arrancados da
placa de metal por incidência de radiação. Os elétrons são arrancados, pois sofreram
excitação advinda dos quanta de luz. Dessa maneira, o fenômeno fotoelétrico, que é
conhecido desde as experiências de Hertz em 1887, é explicado e futuramente traria o
prêmio Nobel para Einstein em 1921. Segundo Einstein (apud MOREIRA):
36
36).
Com esse artigo, Albert Einstein deu início a uma das mais polêmicas teorias da
física: a mecânica quântica. Apesar de ser um dos seus fundadores, Einstein futuramente
seria um de seus grandes críticos, como veremos mais adiante. Todavia, ele proporcionou
um enorme passo ao questionar toda uma geração de físicos presos a conceitos absolutos da
ciência.
“Uma nova determinação das dimensões moleculares”. Esse trabalho fez parte da
sua tese de doutorado apresentada na Universidade de Zurique. Em outra frente de
abordagem, Einstein buscava uma pesquisa na qual poderia ser mais facilmente
comprovada pela experiência empírica com o intuito de ser mais aceito pelos físicos da
universidade, já que se tratava de uma tese de doutorado. Aliás, desde 1901 ele tentava
obter o título de doutor pela Universidade de Zurique e obteve grandes frustrações nesse
esforço.
Albert Einstein buscava nesse artigo demonstrar experimentalmente a realidade
física de átomos e moléculas, como calcular seu tamanho. Como ele mesmo disse em carta
a Conrad Habicht: “O segundo artigo é uma determinação dos tamanhos reais dos átomos a
partir da difusão e da viscosidade de soluções diluídas de substâncias neutras”. Segundo
Oliveira, “Einstein mostrou uma nova maneira de se determinar o tamanho de moléculas a
37
partir da difusão de átomos em soluções”.19 De acordo com Salinas:
Einstein adotou desde cedo uma visão realista, objetiva, sobre a existência
de átomos e moléculas. Na sua tese de doutoramento, Einstein analisa o
fenômeno de difusão das partículas do soluto numa solução diluída
(moléculas de açúcar em água) com o objetivo de obter estimativas para o
número de Avogadro e o diâmetro das partículas do soluto (2005, p. 24).
Segundo Pais:
Veremos mais adiante que esse número ainda não correspondia à realidade. Einstein
buscaria métodos melhores em seu próximo trabalho.
“Sobre o movimento de partículas suspensas em fluídos em repouso”,
desdobramento da tese (recebido para a publicação apenas 11 dias após a tese), foi um
estudo que abordou o movimento browniano. Esse fenômeno leva esse nome porque Robert
Brown, botânico inglês, observou no microscópio o movimento irregular errático de
partículas de pólen suspensa em água em 1828. Albert Einstein explica o fenômeno como o
produto de colisões das partículas suspensas na água com as moléculas do fluído,
produzindo energia térmica e um movimento desordenado da partícula. Muitos consideram
como a prova direta da existência das moléculas. Segundo Moreira:
19
OLIVEIRA, A. Aol - Educação. 24 de nov. 2005.
38
aspecto, principalmente no início da carreira. Segundo Rosenfeld: “Usando dados
experimentais da época, Einstein encontrou valores para o número de Avogadro (6 x 10 23) e
o tamanho da molécula de glucose (15 Å)”. Segundo Oliveira:
Uma nova matemática teve que ser desenvolvida para descrever trajetórias
do movimento browniano: o cálculo estocástico. Assim, a tese do
movimento browniano é usada como modelo para inúmeros processos
estocásticos, não só em Física, mas também em outras áreas, como
finanças, por exemplo (ibidem).
39
entendi onde estava a chave do problema.” Ele nem saudou Besso no dia
seguinte e já foi dizendo: “Pode me dar os parabéns; resolvi completamente
o problema. Uma análise do conceito de tempo foi minha solução. O tempo
não pode ser definido em termos absolutos e há uma relação inseparável
entre tempo e velocidade sinalizada” (2005, p. 23).
40
Eles (Lorentz e Poincaré) achavam que os problemas da óptica, da
eletrodinâmica dos corpos em movimento tinham que ser resolvidos dentro
da estrutura de uma teoria dinâmica. Einstein foi o primeiro a perceber que
se poderia separar totalmente as questões cinemáticas – como velocidade e
a natureza do espaço e do tempo – da dinâmica. A cinemática é a fundação
da física, e ele foi o único a notar isso e chegar à teoria. Por isso, as
fórmulas de Lorentz e Poincaré são iguais às de Einstein, mas a
interpretação muda. Por exemplo, a contração de Lorentz, para o próprio
Lorentz, é um efeito físico dinâmico real, que faz com que os corpos que se
movem pelo éter alterem seu comprimento, que se contraiam realmente.
Para Einstein, isso era apenas o efeito cinemático, a partir de um referencial
em movimento, para o comprimento de um objeto que está em outro
(referencial), estático. Não há contração realmente. É um efeito de
perspectiva. Lorentz e Poincaré nunca perceberam que não se precisava
resolver os problemas dinâmicos, mas sim criar um novo modelo de
cinemática do espaço-tempo e do movimento para reconciliar os problemas
mecânicos e dinâmicos (2005, p. 7).
O astrofísico britânico Arthur Stanley Eddington (apud VIDEIRA, 2005a) cita outro
exemplo:
41
... o tempo flui em taxas diferentes para observadores em movimento
relativo entre si; tanto os intervalos de tempo quanto os comprimentos
medidos variam com o observador, dando origem, respectivamente, ao que
se convencionou chamar dilatação temporal e contração espacial (2005, p.
39).
42
(2005a, p. 69).
43
natureza que não cumpra essa condição, ficaria refutado pelo menos um dos
pressupostos fundamentais da teoria (1999, p. 20).
Einstein tinha razão, como veremos mais adiante. A partir da teoria da relatividade
restrita novas formas de interpretar o mundo apareceram junto com ela. Surgiram também
novos problemas para serem solucionados…
“A inércia de um corpo depende de sua energia?”, recebido para publicação em 27
de setembro e fruto de conclusões obtidas através do quarto artigo. A energia cinética e a
massa se equivalem e se relacionam com a velocidade da luz no vácuo. As equações
contidas nesse artigo, dois anos depois, apresentarão a fórmula mais famosa da física e
quase uma lenda: E = mc2. Segundo Capra:
Albert Einstein cita essa equivalência como sendo uma das elucidações de natureza
definitiva que a física deve à teoria da relatividade restrita. “Os princípios da conservação
do momentum linear e da energia fundem-se em um único princípio. A massa inerte de um
sistema isolado é idêntica à sua energia, eliminando assim a massa como conceito
independente” (1982, p. 61).
O conceito de massa sofre uma revolução, já que pela física newtoniana, a massa
era definida como um “estofo” da qual fazia parte da matéria. Com Einstein, a massa nada
mais é que uma forma de energia e vice-versa. Moreira também aponta para a equivalência
entre massa e energia e ressalta que pequenas quantidades de massa podem se transformar
em grandes quantidades de energia.
44
Albert Einstein considera o novo conceito de massa como um dos pontos mais
importantes da teoria da relatividade restrita. A independência entre massa e energia
postulada por Newton perde sua validade. Segundo Einstein:
... a massa inercial de um corpo não é uma constante, sem variar segundo a
modificação de sua energia. A massa inercial de um sistema de corpos cabe
contemplá-la precisamente como uma medida de sua energia. O postulado
da conservação da massa de um sistema coincide com o da conservação da
energia e só é válido na medida em que o sistema não absorve nem emite
energia (1999, p. 23).
45
22).
Com as novas modificações envolvendo os grandes parâmetros físicos como espaço,
tempo, momentum, massa e energia. Albert Einstein provocou enormes mudanças na física.
Ele criticou a visão clássica e eletromagnética do mundo, que a maioria dos cientistas
seguiam, em seus primeiros artigos científicos, deixando evidente uma linha que seria
constante em sua vida acadêmica. Os artigos de 1905 – principalmente os dois últimos
sobre a teoria da relatividade restrita – foram um passo à frente em busca da solução dos
grandes enigmas da ciência. Mais adiante, retornaremos a explanar alguns dos princípios
básicos dos artigos de 1905, ano em que Einstein ainda era um desconhecido, mas sua
intensa produção científica e, a revolução que a partir dela surgiu, geraram enorme
controvérsia no nicho acadêmico do qual ele fazia parte. Sua fama mundial só seria iniciada
após a comprovação da teoria da relatividade geral e o recebimento do prêmio Nobel em
1921. Analisemos, então, esse período em que Einstein viveu praticamente no anonimato.
De 1905 a 1911, sua atenção se fixou nos quanta, com exceção do artigo –
fundamental – de 1907, em que apresentava uma primeira síntese das ideias
sobre a relatividade. (...) Tendo obtido resultados significativos com os
quanta – uma primeira forma de dualidade ondulatório-corpuscular para a
luz, a extensão da hipótese quântica à estrutura atômica através do
problema dos calores específicos (2005, p. 37).
Logo após esse período de estudos sobre os fenômenos dos quanta, Einstein voltou
a se preocupar com as pesquisas referentes ao campo contínuo. Ele descobriu que os
pressupostos básicos da teoria da relatividade restrita não se encaixavam quando se levava
em conta a gravitação. Segundo ele mesmo: “O fato de ser a teoria da relatividade restrita
apenas o primeiro passo de um desenvolvimento necessário só se tornou evidente para mim
quando procurei representar a gravitação na estrutura dessa teoria” (1982, p. 63).
46
A gravitação já havia sido explicada por Isaac Newton como sendo uma força
misteriosa que os corpos instantaneamente interagem. Relembrando o aspecto básico da lei
da gravitação universal: matéria atrai matéria na razão direta das massas e inversa do
quadrado da distância, na qual dois corpos interagem instantaneamente em um espaço
vazio.
Pois bem, levando-se em consideração uma das premissas básicas da teoria da
relatividade restrita, a luz apresenta uma velocidade constante e finita, sendo que nada pode
superá-la. Ora, dois corpos não podem interagir instantaneamente como na física clássica,
pois o postulado da constância da velocidade da luz seria superado e colocaria a teoria da
relatividade restrita em contradição. Era necessária, afinal, uma nova teoria dos campos de
gravitação. Segundo Einstein:
47
nem do estado físico do corpo. Uma pluma e um tronco de madeira, por
exemplo, caem exatamente iguais no campo gravitacional (em ausência de
ar) quando os deixamos cair sem velocidade inicial ou com velocidades
iniciais iguais (1999, p. 32).
48
Com a teoria da relatividade geral, Einstein demonstra que tanto a radiação quanto a
matéria são influenciados pela presença de corpos e a relação desse encurvamento se
relaciona com a massa. Segundo Einstein:
Vale a pena ressaltar que essa situação só é verificada pelos meios experimentais
quando a matéria está sendo influenciada por corpos extremamente massivos. Mesmo o
Sol, que contém 99,8% da massa de todo o Sistema Solar e 330 mil vezes mais que a massa
do nosso planeta, é capaz de causar apenas sensíveis alterações ao seu redor. Segundo
Einstein:
Ainda que uma reflexão detida demonstre que a curvatura que prediz a
teoria da relatividade geral para os raios luminosos é ínfima nos casos de
campos gravitacionais que nos brinda a experiência, tem que ascender a 1,7
segundos de arco para raios de luz que passam pelas imediações do Sol.
Este efeito deveria traduzir-se no fato de que as estrelas fixas situadas nas
cercanias do Sol, e que são observáveis durante eclipses solares totais,
apareçam afastadas dele nessa quantidade, comparado com a posição que
ocupam para nós no céu quando o Sol se acha em outro lugar da abóbada
celeste (1999, p. 36).
Isso quer dizer que as estrelas fixas que se encontram ao lado do Sol sofrem desvios
da sua posição original e nos mostram apenas uma posição aparente. Vimos que não apenas
a radiação é alterada, mas também a matéria. A precessão no periélio da órbita do planeta
Mercúrio24 que já é conhecida desde 1859 confirma as predições da teoria da relatividade
geral. De acordo com Einstein:
49
anterior, não é fixa, senão que rompida – ainda que lentamente – no plano
orbital e no sentido de sua revolução. Para este movimento de rotação da
elipse orbital se obteve um valor de 43 segundos de arco por século. (1999,
p. 48)
50
maio de 1919 e que o local mais viável para a observação seria o nordeste do Brasil e Ilhas
do Príncipe, na África Ocidental. Sobral, cidade localizada no Ceará, foi escolhida para
abrigar os pesquisadores e astrônomos. Segundo Machado:
51
Einstein. Em reunião realizada na Royal Astronomical Society foi apresentado as
conclusões das pesquisas fruto das observações astronômicas durante o eclipse solar.
Segundo Machado:
Essa manchete, que à primeira vista pode soar sensacionalista, talvez tenha
resumido um sentimento de enorme transformação que se iniciava nesse instante. Todas as
noções de espaço e tempo que a humanidade tinha formulado durante séculos entravam em
crise e precisavam ser revistas. De acordo com Videira:
Com a fama, eu estou ficando cada vez mais estúpido, o que, naturalmente,
é um fenômeno muito comum. Existe uma desproporção enorme entre o
52
que você é e o que os outros pensam que você é ou, pelo menos, com o que
dizem que você é. Mas você tem de aceitar tudo isto com bom humor
(1979, p. 13).
Em 1921, Albert Einstein recebe o prêmio Nobel e reforça mais ainda sua fama
mundial. É curioso notar que o motivo que o levou a receber o prêmio foi devido às suas
explicações envolvendo o fenômeno fotoelétrico e não sua grande obra-prima, a teoria da
relatividade. Está no site26 da organização do prêmio Nobel a seguinte frase referindo-se ao
prêmio de Einstein: “Pelos seus serviços à física teórica, e em especial pela descoberta da
lei do efeito fotoelétrico”. Isso exprimia a grande ressalva dos físicos que escolhiam e
indicavam os laureados ao prêmio e esperavam maiores comprovações empíricas da teoria
da relatividade. Geralmente, os organizadores do Nobel premiavam físicos que descobriam
algum novo artefato ou conhecimento que pudesse ser facilmente aplicado e acabavam
preterindo os físicos teóricos. Henri Poincaré diversas vezes foi indicado, mas nunca levou
o prêmio.
53
cientistas, jornalistas e membros da comunidade judaica. Nessa rápida passagem, escreveu
para um jornalista a célebre frase: “O problema que minha mente formulou foi respondido
pelo radiante céu do Brasil”. Depois seguiu viagem rumo à Argentina e o Uruguai. No dia 4
de maio retornou ao Brasil. Os motivos que fortaleceram o assentimento de Einstein ao
convite da comunidade científica brasileira estavam em total acordo com a linha política do
famoso físico. Segundo Videira:
Albert Einstein permaneceu no Rio de Janeiro por oito dias e visitou diversos
centros de pesquisa científica, como o Museu Nacional, Instituto Oswaldo Cruz e o
Observatório Nacional. Ele proferiu palestras sobre a relatividade e as novas ideias da
física. Na Academia Brasileira de Ciências, ele deixou de lado os discursos protocolares e
fez uma ótima explicação da situação de um dos embates científicos que intrigavam
grandes físicos da época: a teoria da luz. Segundo Einstein:
Até pouco tempo atrás, acreditava-se que com a teoria ondulatória da luz,
na sua forma eletromagnética, tivéssemos adquirido um conhecimento
definitivo sobre a natureza da radiação. No entanto, sabemos já, desde uns
25 anos atrás, que essa teoria não permite explicitar as propriedades
térmicas e energéticas da radiação, embora descreva com precisão as
propriedades geométricas da luz. Uma nova concepção teórica, a teoria do
quantum luminoso, semelhante à teoria da emissão de Newton, surgiu ao
lado da teoria ondulatória da luz e adquiriu uma posição firme na ciência
pelo seu poder explicativo. Não se conseguiu, até hoje, uma síntese lógica
da teoria dos quanta e da teoria ondulatória, apesar de todos os esforços
feitos pelos físicos. É, por essa razão, muito discutida a questão da
realidade dos quanta de luz (1995, pp. 61-64).
Físicos famosos, como Niels Bohr e Hendrik Kramers, resistiam fortemente à ideia
do caráter corpuscular da luz defendida por Einstein. Em 1924, um trabalho de John Clark
Slater, defendia a ideia de um “campo de radiação virtual” emitida por osciladores virtuais.
54
Segundo Moreira:
Com isso, surge a teoria BKS (iniciais dos nomes de seus autores) em total
contradição aos trabalhos científicos desenvolvidos por Albert Einstein, como, por
exemplo, o artigo de 1905 sobre o quantum e o efeito fotoelétrico. Ele reagiu com enorme
oposição à teoria BKS e, em um jornal alemão e em uma conferência no Brasil, disse
esperar com grande interesse o resultado de pesquisas experimentais de Hans Geiger e
Walther Bothe no Instituto Físico-Técnico de Berlim.
Arthur Holly Compton, em 1923, já havia realizado experiências com raios-X.
Segundo seu estudo, o comprimento de onda dos raios-X aumentava quando eram
espalhados por elétrons – e na explicação proposta por ele (um fóton se chocaria
individualmente com um elétron livre e as leis de conservação se verificariam) uma
evidência definitiva sobre a realidade dos fótons. Segundo Moreira:
55
Para que se possa compreender o efeito Compton pela teoria de Bohr,
Cramers e Slater, é necessário conceber a difusão da radiação como um
processo contínuo em que tomam parte todos os átomos da substância que
difunde aquela radiação, enquanto a emissão dos elétrons tem apenas o
caráter de acontecimentos isolados que obedecem a leis estatísticas. Pela
teoria dos quanta de luz, também a difusão da luz possui o caráter de
acontecimentos isolados, devendo sempre existir, em uma determinada
direção, um elétron emitido toda vez que é produzido um efeito secundário
pela radiação que incide sobre a matéria (2005, p. 151).
56
como explicação para os fenômenos atomísticos da radiação. Da teoria que dela surgiu,
nasce a mecânica quântica, sendo que vários físicos se dedicaram exclusivamente para a
explicação dos fenômenos microscópicos e a natureza mais íntima da matéria. Seus
principais autores são: o inglês Paul Dirac, o austríaco Erwin Schrödinger, o francês Louis
de Broglie e o alemão Werner Heisenberg. Esse último, autor do famoso princípio da
incerteza. Segundo Oliveira:
O advento da mecânica quântica fez com que diversas premissas pregadas pela
física clássica fossem alteradas. Alguns conceitos básicos como espaço, tempo e velocidade
foram novamente revistos. Segundo Davidovich:
No nível subatômico, não se pode dizer que a matéria exista com certeza
27
OLIVEIRA, A. A incerteza faz parte da vida. Aol – Educação. 27 de nov. 2005.
57
em lugares definidos; diz-se, antes, que ela apresenta “tendências a existir”,
e que os eventos atômicos não ocorrem com certeza em instantes definidos
e numa direção definida, mas, sim, que apresentam “tendências a ocorrer”.
No formalismo da teoria quântica, essas tendências são expressas como
probabilidades, e são associadas a quantidades matemáticas que tomam a
forma de ondas. Essa é a razão pela qual as partículas podem ser ao mesmo
tempo ondas. Elas não são ondas tridimensionais “reais”, como as ondas
sonoras ou as ondas na água. São, em vez disso, “ondas de probabilidade”,
quantidades matemáticas abstratas, com todas as propriedades
características de ondas, que são relacionadas às probabilidades de se
encontrar as partículas em determinados pontos do espaço e em
determinados instantes. Todas as leis da física atômica são expressas em
termos dessas probabilidades. Jamais podemos prever um fato atômico com
certeza; podemos unicamente supor quão provável é a sua ocorrência
(1983, p. 58).
58
concebível que o sistema obtivesse um valor numérico definido para q,
valor numérico medido apenas através da sua própria medição (1982, p.
78).
Albert Einstein acreditava que a teoria quântica era apenas provisória e que logo a física
iria chegar a um ponto mais real do fenômeno dos quanta. “Reconheço que esta interpretação
me parece provisória. Porque creio ainda na possibilidade de um modelo da realidade, quer
dizer, de uma teoria que represente as coisas mesmas, e não apenas a probabilidade de sua
existência” (1981, p. 153).
Apesar disso, Einstein reconhece que, no momento, é a melhor teoria para explicar
os fenômenos subatômicos, mas deixa bem clara sua posição contrária aos postulados da
mecânica quântica. Segundo ele próprio:
Em uma de suas cartas, Einstein escreve: “Parece difícil dar uma espiada nas cartas
de Deus. Mas que ele jogue dados e use métodos ‘telepáticos’ (como a atual teoria dos
quanta exige dele) é algo em que não posso acreditar por um momento sequer” (1979, p.
55).
Muitos autores utilizam essa frase para exprimir a insatisfação de Einstein com o
caráter probabilístico da teoria quântica, mas o que ele mais criticava era a questão da não-
separabilidade das partículas subatômicas. De acordo com Stachel:
59
discussão. Costumava-se citar a famosa frase de Einstein: “Deus não joga
dados”. No entanto, esse caráter probabilístico não era a questão mais
importante para Einstein, mas sim a chamada não-separabilidade. O artigo
Einstein-Podolsky-Rosen baseia-se na proposta de que a mecânica quântica
não pode ser uma teoria completa, porque ela propõe que dois sistemas,
uma vez que tenham interagido, não podem ser separados. Mesmo que
estivessem a milhares de quilômetros de distância, uma medida efetuada
sobre um desses sistemas irá alterar o estado do outro. (Einstein
denominava esse fenômeno “fantasmagórica ação à distância”). Para que
isso aconteça, a transmissão de informações teria que ser praticamente
instantânea, ou seja, mais rápida que a luz. Era essa característica da teoria
quântica que desagradava a Einstein 28 (2005, p. 9).
Supõe-se então que a partícula 1 é observada muito depois das duas partículas
terem interagido, quando estão muito distantes uma da outra. Como q é bem
definido, se medirmos a posição da partícula 1 poderemos saber a posição da
partícula 2, sem interagir diretamente com esta partícula. Portanto, de acordo com
os autores, q2 é um elemento de realidade. Por outro lado, poderíamos também
medir o momentum da partícula 1, e assim determinar o momentum da partícula 2
sem interagir com ela. Segue assim que p2 é também um elemento de realidade.
Mas a mecânica quântica afirma que q2 e p2 não podem ser simultaneamente
elementos de realidade, pois não podem ser bem determinados ao mesmo tempo.
Portanto, segundo os autores, a mecânica quântica seria uma teoria incompleta
(2005, p. 93).
60
e macroscópico (DAVIDOVICH, 2005, p. 94). Experiências realizadas posteriormente
refutaram os postulados do paradoxo EPR. John Stachel conta que os “experimentos têm
comprovado a não-separabilidade” (idem).
Paty toca em outro ponto que Einstein não acreditava na mecânica quântica: o seu
fraco poder heurístico e coloca algumas aspirações do famoso físico:
A partir desse ponto, Albert Einstein passou grande parte da sua vida buscando
unificar as teorias da física. Ele concentrou seus esforços para as explicações envolvendo a
gravitação, considerada por ele a chave do processo de unificação.
Mas o ponto central é, para mim, a questão: o que pode ser feito, com
alguma esperança de sucesso, tendo em vista a situação atual da teoria
física? Minhas esperanças estão nas experiências com a teoria da
gravitação. Para mim, essas equações têm maiores probabilidades de nos
fornecer informação precisa do que quaisquer outras equações da física
(1982, p. 83).
61
exprime a sensação de busca sem fim de Einstein:
29
NOGUEIRA, S. ‘Science’ lista questões da ciência do século 21. Folha de São Paulo. Folha Ciência, 1º de
julho de 2005.
62
indiretamente são legados de Albert Einstein, é necessário deixar bem claro que o físico
alemão era um teórico por essência. Ele não estava nem um pouco interessado se de suas
teorias surgissem equipamentos ou artefatos para uso tecnológico. Aliás, algumas de suas
teorias são difíceis até de se comprovar pela via experimental, exigindo situações
completamente fora do alcance humano.30 Albert Einstein era a síntese do que podemos
chamar de “cientista puro”, que tem a priori o objetivo de descobrir conhecimentos que
explicassem as leis que regem o universo e não a ciência desenvolvida para fins políticos,
militares ou industriais.
Para fins de estudo, vamos escolher quatro possíveis aplicações das teorias de
Einstein: o nascimento da cosmologia, o cálculo estatístico fruto de sua tese de doutorado e
o movimento browniano, o desenvolvimento do laser e a enorme polêmica da fabricação da
bomba atômica.
30
A teoria da relatividade restrita necessita da observação de objetos se movendo perto da velocidade da luz
(300 mil km/s) e a teoria da relatividade geral precisa de campos gravitacionais intensos, como buracos
negros, estrelas de nêutrons ou supernovas para suas comprovações empíricas.
63
após ele haver publicado seu trabalho sobre a teoria do campo
gravitacional, a relatividade geral. O primeiro modelo cosmológico
relativista proposto por ele, além de espacialmente homogêneo, isotrópico e
finito (com curvatura espacial constante e positiva), possui a propriedade de
ser estático (2005, p. 158).
64
efeito espúrio, consequência do sistema de coordenadas usadas e não
decorrente da expansão do espaço (ibidem).
65
Por muito tempo, acreditou-se que a expansão do Universo seguia um curso
desacelerado, levando-se em consideração que a gravidade é atrativa. A gravidade
decorrente da matéria é atrativa e, portanto, ela desaceleraria a expansão. No entanto, como
já foi dito, na astronomia sempre aparecem novos dados que reforçam e refutam teorias.
Como já observamos:
Mas a Natureza tinha ainda uma outra surpresa guardada para os cientistas.
Graças a uma descoberta em 1998, considerada pela revista Science como
uma das mais importantes do século XX, sabemos hoje que cerca de 70%
do universo é composto de algo difuso, que não se concentra em galáxias e
que provoca a expansão acelerada do universo. (...) Podemos imaginar
então a presença de um meio extremamente tênue que permeia todo o
universo. Esse meio, porém, tem propriedades diferentes de um meio
material: apresenta uma pressão grande e negativa, o que causa um efeito
de anti-gravidade, resultando na expansão acelerada observada. A esse meio
foi dado o nome de energia escura. Esse meio poderia ser formado pela
chamada constante cosmológica, proposta por Einstein para explicar porque
o universo seria estático, que era o paradigma do início do século XX. Com
a descoberta da expansão do universo, Einstein reconheceu nessa constante
seu maior erro. Talvez Einstein estivesse certo, afinal (2005, p. 37).
35
DIAS, R. A Gênesis Estelar. Revista Macrocosmo, n. 20, 2005.
66
ser uma força contrária à gravidade. Aproximadamente 80 anos depois, ao descobrir-se a
“energia escura” ou “quintessência36” como força que proporciona a repulsão cósmica – do
mesmo modo que a constante cosmológica – foi reestabelecido o termo de Einstein. Assim,
o seu maior erro acabou se tornando um grande acerto (mesmo que “no chute”).
67
areia nas misturas de cimento), para a indústria leiteira (movimento de
micelas de caseína no leite de vaca) e para a ecologia (movimento de
partículas de aerossóis nas nuvens), para mencionar apenas alguns
exemplos dispersos. Einstein gostaria de ouvir isto, visto que lhe agradava
imensamente poder aplicar a física a situações práticas (1995, p. 102).
Bagnato diz ainda que “Albert Einstein elaborou a teoria que mostra a ocorrência de
emissão estimulada de átomos excitados. Este é o fato mais importante para poder
viabilizar a construção de um laser”.38
Einstein não terminou sua investigação sobre a luz em 1905. Já em 1916 e 1917 ele
publicou artigos que tratam dos processos de emissão e absorção de radiação e que
introduzem dois tipos de emissão, espontânea e induzida. Segundo Davidovich:
68
O processo de emissão induzida segue algumas regras, como diz Davidovich:
“Se um pacote de radiação faz com que uma molécula emita ou absorva
uma quantidade de energia hν, então um momento hν/c é transferido para a
molécula, dirigido ao longo do pacote no caso de absorção e na direção
oposta, no caso de emissão”. Einstein associa pois, pela primeira vez, um
momentum ao fóton! Muitos anos depois, o conceito de emissão induzida
teria aplicações importantíssimas no maser (1956) e no laser (1960) (2005,
pp. 86-87).
Kleppner comenta que do artigo de 1917 pode-se extrair várias pedras preciosas da
ciência. Uma delas é a demonstração que o fóton possui todas as propriedades de uma
excitação fundamental.
Aqui é preciso novamente ressaltar que Albert Einstein talvez nem sonhasse que
esse conhecimento pudesse ser utilizado em larga escala em vários campos da ciência. O
laser é muito empregado na indústria, na engenharia e na medicina.
69
Em dezembro de 1938, os físicos alemães Otto Hahn e Fritz Strassman
tentaram criar em laboratório os chamados elementos transurânicos,
bombardeando urânio com nêutrons. Surpreendentemente, ao invés de
obterem os elementos pesados que eles esperavam, surgiram vários
produtos que eles não foram capazes de identificar imediatamente. Após
várias análises Hahn e Strassman concluíram que um dos produtos era o
elemento químico Barium 141. Por ser um resultado muito estranho e
totalmente não esperado, os cientistas relutaram até mesmo em publicá-lo,
só o fazendo em 1939. No entanto, esses dados chamaram a atenção da
física austríaca Lise Meitner, que já havia trabalhado com Hahn em
experiências de física nuclear.
70
Vieira:
Em outubro de 1933, Albert Einstein e sua família se mudaram para Princeton, onde
permaneceu até sua morte.
Logo após o início da Segunda Guerra Mundial, alguns cientistas temiam que a
Alemanha nazista pudesse desenvolver artefatos nucleares. A maioria dos ingredientes para
a fabricação da bomba atômica eles possuíam, tais como fartas jazidas de urânio na
Tchecoslováquia, renomados físicos e um ditador insano como Adolf Hitler no comando.
Leo Szilard e Eugene Wigner da Universidade de Colúmbia também trabalhavam
com física nuclear e foram os primeiros a se preocupar com a ameaça nazista. Assim sendo,
procuraram Albert Einstein para ajudá-los a tomarem medidas preventivas junto aos
governantes americanos. Eles redigiram quatro cartas para serem enviadas ao presidente
americano Franklin Roosevelt expondo as pesquisas envolvendo o enriquecimento de
urânio, o processo de reação em cadeia causado pelo bombardeamento do núcleo de urânio,
o perigo dos nazistas desenvolverem a bomba e ressaltaram a importância dos Estados
Unidos adotarem contramedidas.
Após receber as cartas, o presidente Franklin Roosevelt liberou apenas 6 mil dólares
para as experiências de Szilard e criou o Briggs Committee, que pouco funcionava.
Somente no dia 6 de dezembro de 1941 é que os americanos criaram um projeto para a
energia nuclear em larga escala. Coincidentemente, um dia antes do ataque japonês em
Pearl Harbor e a entrada dos Estados Unidos na guerra. O projeto mais tarde seria
conhecido como Projeto Manhattan, sendo dirigido pelo físico Julius Robert Oppenheimer
e contando com um time de cientistas de altíssimo nível.
71
No dia 12 de abril de 1945, Franklin Roosevelt morre e Harry Truman assume. Em
meados de 1945, a bomba atômica é criada e alguns próprios cientistas do projeto como
Szilard se mostraram contrários à utilização das bombas para fins militares. A guerra na
Europa já havia acabado e não havia sido encontrado nenhum indício de que os alemães
estavam desenvolvendo armas nucleares. Porém, na Ásia a guerra continuava e
simultaneamente a bomba nuclear era testada no deserto do Novo México nos Estados
Unidos.
Nos dias 6 e 9 de agosto de 1945 são lançadas as duas bombas sobre Hiroshima e
Nagasaki.
Albert Einstein recebeu as notícias da utilização das bombas atômicas contra
populações civis com extremo transtorno e revolta. No dia 19 de agosto de 1946, o jornal
New York Times colocou em sua primeira página um pequeno artigo com o título “Einstein
deplora o uso da bomba atômica”. Em novembro de 1954, Einstein escreve com
lamentação: “Eu cometi um grande erro em minha vida... quando assinei a carta ao
presidente Roosevelt recomendando que bombas atômicas fossem feitas, mas havia alguma
justificativa – o perigo que os alemães as fizessem”.
Albert Einstein (apud PAIS, 1995) disse também que “se soubesse que os alemães
não seriam bem sucedidos na produção da bomba atômica, não teria levantado um dedo”
(1995, p. 539).
Com relação à política, Albert Einstein experimentou algumas mudanças de postura.
Segundo Freire:
72
Primeira Guerra Mundial e a perseguição dos judeus pelo nazismo. Foi obrigado a fugir
para a Bélgica e depois se instalou permanentemente nos Estados Unidos. Ele tomou
conhecimento das pesquisas envolvendo a fissão nuclear e seu medonho emprego como
arma de destruição em massa. Ele, como cientista alemão, sabia da enorme tradição do país
em produzir talentos para a física e os estudos avançados que aconteciam em suas
universidades e academias de ciência. Como judeu, conheceu de perto a fúria do nazismo e
compreendia a noção exata do que Adolf Hitler era capaz de fazer para colocar seus planos
em prática. Albert Einstein tinha plena consciência que todo o futuro do planeta Terra
estava correndo sério risco se a Alemanha produzisse uma arma de destruição em massa.
Compreende-se, então, a natural atitude de Einstein pró-bomba atômica nessas condições.
7. Einstein e a filosofia
Não apenas contribuições para a física Einstein nos deixou. Com suas novas
concepções envolvendo o espaço e o tempo, bem como a matéria e a radiação, todo o
desenvolvimento filosófico sofreu alguma influência das ideias do físico alemão. Ao
romper com as bases da geometria euclidiana e com a física clássica de Newton, tão
enraizadas no subconsciente coletivo dos cientistas e filósofos, Einstein deu um passo rumo
ao desenvolvimento de novas maneiras de conceber o conhecimento e o pensamento
humano. Assim, conclui-se que Einstein, além de físico, foi também um filósofo. Segundo
Paty:
73
... para atingir uma ciência que descreva a realidade, ainda faltava uma
segunda base fundamental que, até Kepler e Galileu, foi ignorada por todos
os filósofos. Porque o pensamento lógico, por si mesmo, não pode oferecer
nenhum conhecimento tirado do mundo da experiência. Ora, todo o
conhecimento da realidade vem da experiência e a ela se refere. Por esse
fato, conhecimentos, deduzidos por via puramente lógica, seriam diante da
realidade estritamente vazios. Um completo sistema de física teórica
comporta um conjunto de conceitos, de leis fundamentais aplicáveis a tais
conceitos, e de proposições lógicas normalmente daí reduzidas (1981, p.
147).
Em muitas de suas cartas, que foram sintetizadas na obra Einstein: o lado humano
(DUKAS e HOFFMAN, 1979), ele sempre enfatizava os objetivos e metas que trilhava durante
o desenvolvimento de suas teorias. A busca por entender a natureza sem se preocupar com
suas aplicações foi uma das principais marcas deixadas pelo físico alemão.
74
De acordo com Einstein, “a construção do pensamento se processa, na maior parte
das vezes, sem o uso de signos e, além disso, em grande parte inconscientemente” (1982, p.
18). Albert Einstein acreditava com isso que a lógica e os estudos específicos dos
fenômenos ceifavam a essência do trabalho do físico. Este deveria ir mais além, penetrar a
fundo nos problemas e contradições da ciência. Poderíamos estender essa característica às
demais áreas da ciência como a biologia, a química, a medicina e, do mesmo modo, às
ciências sociais, às artes e à história. Indo mais além, por que não empregar tais conceitos à
prática do jornalismo?
Os princípios filosóficos de Einstein encontram-se dentro de sua obra científica de
maneira implícita e talvez nem fosse a pretensão dele se tornar um filósofo. Entretanto, ao
contextualizar seus trabalhos no âmbito dos movimentos culturais surgidos na primeira
metade do século XX, pode-se notar a influência que suas teorias exerceram no
modernismo e nos movimentos de vanguarda do século XX. Arthur Miller, em seu livro
Space, time, and the beauty that causes havoc40, traça paralelos entre as vidas do pintor
Pablo Picasso e do físico Albert Einstein, que tiveram ao mesmo tempo o seu ápice de
criatividade. Terão sido esses fatos frutos de mera coincidência?41
40
Lançado em 2001 pela editora norte-americana Perseus Books e indicado ao Pulitzer Prize. Sem tradução
para o português.
41
Cf. em ALMEIDA, C. Einstein e Picasso, dois gênios que tiveram seus períodos mais férteis de
criatividade na mesma época. Será coincidência? Jornal da Ciência. Disponível em:
<www.jornaldaciencia.org.br>. Acesso em: 27 de nov. 2005.
75
mundial.
A história de Albert Einstein, bem como as teorias que ele produziu, parece mostrar
alguns fatos que o distingue completamente das pessoas comuns. Einstein foi e continua
sendo até hoje uma lenda mundial. Sua busca por tentar compreender os mistérios da
natureza, a procura pela verdade científica e, principalmente, as comprovações empíricas da
teoria da relatividade geral, fizeram dele mais que um cientista. Ele acabou se
transformando em um mito. A revista Time elegeu recentemente Albert Einstein como um
tipo de personalidade síntese do século XX. Paty42 e Stachel43 definem bem essa conclusão:
76
Capítulo III – Jornalismo científico e o ensino de ciências
1. O jornalismo e a educação como manifestações culturais
Como já foi mencionado anteriormente, os objetivos do “Ano Mundial da Física”
englobam vários princípios básicos, como aproximar a física das pessoas comuns, despertar
o interesse dos estudantes por essa ciência, atrair futuros talentos, ressaltar sua importância
no cotidiano, lembrar suas contribuições para a construção da nossa visão de mundo, ligar
suas inter-relações com outras áreas do conhecimento, mostrar seu caráter amplamente
interdisciplinar, disseminar a consciência de que ela está na base do desenvolvimento
tecnológico e econômico que o mundo alcançou até aqui, entre outros motivos.
Para cumprir com tais objetivos, os meios de comunicação de massa ganham uma
fundamental importância. Se os meios midiáticos forem utilizados de maneira correta e
consciente, um gigantesco avanço poderá ser sentido na busca pelo objetivo final, que é
chamar a atenção da sociedade para a física.
Um fato que nos chama a atenção, sempre que conversamos com autoridades no
ensino de física no país, é a finalidade do evento em atrair novos talentos, despertar a visão
dos jovens para a carreira de físico ou professor de física. Um dos motivos é desmistificar a
visão geral que os jovens têm da física, de chata e hermética. Passar a ideia que ela está
presente em todas as áreas do conhecimento e nos desenvolvimentos tecnológicos, que
podem ser banais em uma análise descuidada, mas que dependeram de alguma forma aos
avanços dessa ciência básica, que nossa visão normalmente fragmentária e encerrada nas
disciplinas não nos permite enxergar.
Com isso, cai cada vez mais a procura pelos cursos de física nos vestibulares do
nosso país. Isso futuramente acentuará o enorme deficit de professores de física para o
ensino médio nas escolas e reforçará ainda mais o desinteresse dos jovens pelos cursos
superiores da área, instaurando-se um círculo vicioso. Como prevê Vieira: “Chegaremos a
2010 com um deficit de aproximadamente 50 mil professores de ensino médio de física e
química”.44
Com a escolha da realização do “Ano Mundial da Física” exatamente no aniversário
44
VIEIRA, C. L. Monografia - Ano Mundial da Física. [Mensagem pessoal].
77
de um século dos cinco papers de Albert Einstein contidos no Annus Mirabilis, busca-se
aproveitar a imagem mítica do famoso físico alemão e, principalmente, associar a
importantíssima figura do cientista puro na mente das pessoas. A física desenvolvida para
buscar os segredos da natureza, procurar conhecer e dominar tanto os fenômenos
subatômicos quanto os grandes enigmas cosmológicos. Assim, ter por objetivo principal,
único e exclusivo, a melhoria na vida das pessoas e o conhecimento em prol da
coletividade, em detrimento da ciência desenvolvida especificamente para atender aos
interesses das grandes corporações industriais, incluindo fins bélicos.
O jornalismo científico passa a ter um papel fundamental nesse empenho, por ser
praticamente o único elo entre o que se passa dentro dos laboratórios e a vida da população
comum. Por jornalismo científico, entenda-se como uma especialização da prática de
jornalismo, muito embora ela possua todo um corpus próprio e autônomo. As definições de
jornalismo científico são um pouco complicadas, haja vista que se pode encontrar aspectos
e características dessa especialização em outras editorias, como economia, comunicação
rural, política e meio ambiente. Por isso, não vamos nos aprofundar nessa análise, já que
nem é a proposta primordial do presente trabalho. Iremos, então, apresentar algumas
definições já consagradas sobre o tema. Segundo Bueno:
De acordo com Salles (apud BUENO, 1985), jornalismo científico é “... a informação
persistente de fatos, personalidades e acontecimentos relacionados ao campo da ciência,
veiculada através dos meios de comunicação de massa e transmitidas em linguagem
acessível ao grande público”. Segundo Lage, o jornalismo científico possui duas funções
principais:
78
indexador, fornecendo o estímulo para investigação mais ampla dos
interessados. A difusão dos computadores, a extensão rural e os programas
de saúde pública estão entre as áreas que se beneficiam simultaneamente
dessas duas funções.45
Apesar de a priori não ser uma função básica do jornalismo científico, ela acaba
indiretamente cumprindo a função educativa para a população e fornecendo os parâmetros
necessários à educação continuada e permanente das pessoas. Segundo Bueno:
O jornalismo científico deve estar atento para o fato, já lembrado por José
Reis46, de que, em muitos casos, ele se constitui na única fonte popular de
informações sobre ciência e tecnologia. Num país como o nosso,
caracterizado pelo ensino desatualizado de ciências, passa a ser a única
forma pela qual os cidadãos tomam contato com a atividade e os produtos
de tecnólogos e cientistas (1985, p. 33).
Como afirma Melo, o jornalismo científico também tem um caráter educativo. Para
ele deve ser:
45
LAGE, N. O jornalismo científico em tempos de confronto. In: Intercom – XXVI Congresso Brasileiro de
Ciências da Comunicação, 2003.
46
Médico e jornalista que sempre se empenhou em divulgar a ciência. Nasceu no Rio de Janeiro, e morreu em
São Paulo, no dia 16 de maio de 2002, aos 94 anos de idade.
79
compreensão e transformação da realidade:
A Física está presente a cada momento, do nosso dia a dia; basta saber
enxergá-la nos mais banais acontecimentos e situações. Desempenhando tal
habilidade, o professor certamente poderá passar aos alunos a percepção
não limita-se a apenas um amontoado de equações que devem ser decoradas
(2005, p. 30).
80
Einstein também percebeu o fato das especializações tirarem o conhecimento
humano do foco principal e indicou o desenvolvimento do espírito crítico na inteligência:
81
Paulo. Lá, os pesquisadores utilizam vários conceitos advindos da física, da fisiologia, da
bioquímica, da medicina e da engenharia para desenvolver novas armas para combater o
câncer, principalmente os do tipo carcinoma. Esse é apenas um exemplo dentre muitos que
acontecem nas universidades e centros de pesquisa no mundo. A interdisciplinaridade
cresce cada vez mais nas pesquisas científicas, o que evidencia a unidade do conhecimento.
Morin prenuncia a era planetária, onde todos os conhecimentos são globalizados:
Alguns pontos da fala de Morin podem ser correlacionados com alguns pontos da
física quântica que surgiu com Max Planck e Albert Einstein seguidos de Niels Bohr,
Edwin Schrödinger e Werner Heisenberg. Com a física quântica, surgem definições como
teia cósmica, tecido de eventos e complexidade quântica. Segundo Capra:
82
No caso específico do jornalismo científico, sua utilização como material didático
pode auxiliar na relação professor-educando, já que os meios midiáticos acompanham com
maior velocidade os avanços da ciência do que os livros didáticos. Diversos autores já vêm
pesquisando essa possibilidade e já obtiveram grandes êxitos nesse empenho. Assim, o
jornalismo científico se transforma em uma boa ferramenta de ensino. Segundo Knobel:
A concepção da ciência como parte da cultura torna ainda mais importante o papel
dos meios midiáticos. Para Vigotsky et al. (1988) a força diretiva do pensamento é externa,
o mundo social é fundamental no desenvolvimento cognitivo, o conhecimento resulta da
apropriação cultural. As estruturas mentais são, desde a infância, construídas a partir de
concepções espontâneas dos fenômenos. A sociedade e a sua cultura determinam o
47
KNOBEL, M. Monografia - Ano Mundial da Física. [Mensagem pessoal].
48
OLIVEIRA, A. Monografia - Ano Mundial da Física. [Mensagem pessoal].
83
desenvolvimento da formação do pensamento humano. Assim, os meios de comunicação de
massa contribuem de maneira significativa nesse processo de construção do raciocínio
lógico, ao ser uma manifestação de destaque nas relações sociais. A transição entre as
concepções espontâneas para a formulação dos conhecimentos verdadeiros pode ser um dos
papéis do jornalismo científico, quando a educação formal for deficitária ou desmotivadora.
Segundo Gaspar:
84
em um dos combustíveis da teoria de Vigotsky. O estímulo da curiosidade propicia o
autodidatismo nos jovens. Segundo Morin:
85
indeterminismo e do improvável. Morin expõe muito bem essa situação:
86
estar atento ao público que vai atingir e de que maneira essa informação chegará até as
pessoas. O leitor que busca leituras científicas está ávido pelo sentimento de querer
compreender melhor o mundo que o rodeia em toda a sua plenitude. Os conhecimentos
científicos que o jornalista quer transmitir devem estar inseridos dentro da complexidade
humana, como diz Morin:
87
formal exige muita responsabilidade por parte do professor e devem obedecer alguns
aspectos49, como diz Chaves:
88
conteúdo dos dados e indicar ao aluno a passagem na qual ele se equivocou ou no parágrafo
em que foi muito bem. A relação com a divulgação científica como instrumento de ensino
agora muda, não apenas a interação fica por conta pela relação professor-aluno, aluno-
aluno, aluno-texto de divulgação científica. Agora, a relação é texto de divulgação
científica-aluno-professor. A grande vantagem é perceber a elaboração de textos de
jornalismo científico por parte dos alunos. A prática de redigir trabalhos científicos, poderá
ser uma técnica muito utilizada na educação do futuro. Para conseguir desenvolver seu
trabalho, o aluno terá que interagir com várias fontes do conhecimento, como professores,
técnicos ou documentos científicos (jornal e internet). Terá que desenvolver várias
faculdades no processo, como a observação e a curiosidade, para elaborar um bom texto.
Assim, suas estruturas mentais e seu desenvolvimento cognitivo serão exercitados como
prevê a teoria de Vigotsky e fornece os parâmetros necessários para a definição da carreira
que o jovem quer seguir, tão indeciso nessa época da vida. Quem sabe, tal prática não
aumente a procura pelos cursos de física, química e matemática.
Moles já alertava para o fato dos meios midiáticos assumirem o papel educativo e
esse passa a ser até mais eficaz pelo estabelecimento do conhecimento na comparação com
a educação formal.
89
No caso específico da física moderna, em especial a mecânica quântica, há um
paradigma fundamental: sua característica de improbabilidade. Segundo Piza:
90
O jornalismo, como exemplo de discurso através do texto, é também
multidimensional, enquanto espaço simbólico. Por isso, deve estar preparado para a função
de mediação entre as diversas esferas das relações sociais, dentre elas a construção do
pensamento, a linguagem e o mundo, como diz Orlandi:
91
O aprendizado, segundo Vigotsky, é desenvolvimento e um processo puramente
exterior, paralelo. Por um lado, o processo de desenvolvimento está concebido como um
processo independente do de aprendizagem, mas, por outro lado, essa mesma aprendizagem
considera-se coincidente com o desenvolvimento. Segundo Luria:
Aqui aparece o termo “superficialidade”, tão em voga nos dias atuais. Que pode ser
a maior crítica dos profissionais de ciência aos jornalistas. Uma pesquisa de décadas pode
ser resumida num lead de 700 toques. Uma grande descoberta científica da física é passada
segundo os moldes da pirâmide invertida e com todo o enfoque voltado para o valor
econômico que a provável aplicabilidade dessa ciência pode trazer. O lado humanístico da
ciência é esquecido. Aliás, a significação da palavra “humanidades”, sob o ponto de vista
cultural que normalmente é empregada, colabora para reforçar ainda mais a distância de
algumas grandes áreas da ciência para a sociedade em geral. Segundo Moles:
92
A palavra “humanidades” foi forjada de maneira formal nos séculos XVII e
XVIII, para designar uma concepção do homem cultivado que possuía
conhecimentos extensos sobre a maioria das atividades de seus congêneres.
(...) Esses conhecimentos deveriam ser adquiridos pelo estudo das artes
liberais e das línguas antigas, com a hipótese implícita, mas que foi
confirmada pelas pesquisas da psicologia moderna, de que as palavras
preexistem às ideias e as recobrem. Os quadros de nossa sociedade
ocidental ainda se baseiam, por inércia, nesta concepção humanista, que
falsifica nossa visão da cultura (1979, pp. 10-11).
A divulgação científica tinha grande importância para a vida de Albert Einstein e ele
também deixou alguns bons aforismos nessa área. Após as pesquisas sobre a teoria da
relatividade geral, ele percebeu a grande importância de divulgar seus estudos para um
público mais amplo. Segundo Studart e Moreira:
93
aceitação de sua teoria junto à própria comunidade científica, era necessário
que suas ideias centrais se tornassem palatáveis para um público mais
amplo. Por outro lado, julgava importante a difusão de um conhecimento
que achava necessário para o aprimoramento da cultura científica geral
(2005, p. 132).
94
Segundo Monteiro:
51
MONTEIRO, M. A. Monografia – Ano Mundial da Física. [Mensagem pessoal].
95
Capítulo IV – Análises dos meios midiáticos
1. Os meios de comunicação e o Ano Mundial da Física
Desde que a ONU e a UNESCO declararam 2005 como sendo o “Ano Internacional
da Física”, algumas mídias (a internet em especial) prepararam seções e selos 52 para
organizar as informações referentes ao evento. Pôde-se notar com clareza uma divisão entre
as seções especiais, que contaram a história de Albert Einstein, e às inserções relativas ao
“Ano Mundial da Física” dentro do noticiário comum, seja com a cobertura de eventos, ou
com o anúncio de pesquisas que de alguma forma estão ligadas ao trabalho científico de
Einstein.
As análises englobarão tanto os conteúdos epistemológicos e históricos da física
quanto a relevância dada aos eventos e pesquisas científicas. Algumas publicações, como a
revista Comciência e a revista Ciência Hoje, prosseguiram sua cobertura tradicional dos
avanços em ciência e tecnologia e fizeram seções e selos especiais ao aniversário de um
século dos trabalhos de Einstein. Esta última destinou, em todas as publicações do ano de
2005, um selo especial comemorativo indicando artigos na área da física ou de subáreas
correlatas. Os textos também podem ser classificados pela observação do nível de relação
com os primeiros trabalhos de Albert Einstein, em 1905, com o desenvolvimento científico
posterior ao longo de sua vida, as aplicações delas surgidas e, em alguns casos, quase
nenhuma menção à obra do físico alemão. Os artigos especiais da revista Ciência Hoje
enfocaram a física como um todo, e não somente os trabalhos de Einstein, como disse
Nelson Studart, sobre os objetivos do “Ano Mundial da Física”, no capítulo I deste
trabalho.
Outra classificação compreende o público-alvo das matérias. A abrangência vai
desde pós-graduados em física até o público leigo em geral. Os conteúdos das reportagens
que tiveram grande profundidade técnica nos forneceram ricas informações, embora
excluísse o público leigo. Os textos que tentaram simplificar os conceitos científicos de
maneira exaustiva foram os que ficaram mais sujeitos aos erros e ao fortalecimento de
mitos equivocados da obra científica de Einstein, como a relação entre a equação E=mc 2 e o
52
Selo é a marca visual de uma cobertura ou matéria especial no jornalismo.
96
desenvolvimento de armas de destruição em massa.
Dividimos os veículos em não-especializados e especializados. Na primeira
categoria entraram as edições online dos jornais Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo –
o Estadão – e das emissoras BBC e Deutsche Welle. No segundo conjunto foram analisadas
as revistas Ciência Hoje e Comciência. Buscamos em seus bancos de dados os verbetes
“Ano Mundial da Física”, “Ano Internacional da Física” e “Albert Einstein”. As inserções
são referentes às reportagens publicadas antes do dia 1º de novembro de 2005.
97
Nacional de Pesquisas Espaciais, Universidade de São Paulo e Universidade Estadual
Paulista. O “Convite à Física”, já citado por esta monografia no capítulo I, também foi
divulgado na Folha Online.
Já os eventos ocorridos em outras partes do mundo foram divulgados através das
agências internacionais de notícias. Primeiro, a abertura do “Ano Mundial da Física” em
janeiro, na Alemanha, pelo então chanceler Gerhard Schroeder. Depois, o maior congresso
de física já realizado na Europa, acontecido em Berlim, no mês de março. Duas grandes
reportagens da agência France Presse foram veiculadas no site da Folha divulgando esse
evento, que contou com 7 mil físicos de várias partes do mundo. Foi mencionada também a
exposição da vida e da obra científica de Albert Einstein no Museu Histórico de Berna,
capital da Suíça.
Duas inserções ressaltaram o lado cultural do “Ano Mundial da Física”. No dia 5 de
junho foi apresentada uma matéria contendo dicas de filmes e livros com temas científicos
e biográficos da vida de Albert Einstein. Em julho, durante a reunião da Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência, em Fortaleza, o jornalista Ricardo Bonalume Neto
entrevistou Arthur Miller, autor do livro que comparou as vidas e produções de Albert
Einstein e Pablo Picasso, já citado neste trabalho.
Analisando por aspectos científicos, as matérias sobre física da Folha Online foram
bem aprofundadas e elucidativas. Logo nos primeiros dias de janeiro foi publicada uma
reportagem sobre uma pesquisa nacional desenvolvida pelo Laboratório Nacional de Luz
Síncrotron e a Universidade Estadual de Campinas, envolvendo partículas elementares e
um novo método de investigação científica, que estuda os núcleos atômicos, ao invés de
analisar o elétron. No primeiro artigo de Einstein de 1905, nas explicações sobre o efeito
fotoelétrico – já discutido no capítulo II deste trabalho – elétrons são arrancados das placas
metal após serem excitados por uma fonte de emissão eletromagnética específica.
Normalmente, ao estudar o comportamento da matéria, os cientistas analisavam o elétron
que saltava, e não o núcleo atômico restante da placa de metal, que se transforma em íons.
A grande inovação dessa pesquisa é justamente a análise do núcleo atômico, que, segundo
os especialistas, contém muito mais informações.
98
Em abril foi noticiada uma pesquisa sobre estudos relativos à colisão de partículas
em situações de temperatura perto do zero kelvin – o menor número possível da escala. A
relação com a obra científica de Einstein fica por conta do artigo publicado em 1924 sobre
o fenômeno batizado de “condensado Bose-Einstein”, que prevê a aglomeração de átomos
se comportando como se fosse um único átomo, quando submetido à temperatura
extremamente baixa, já na ordem dos nanokelvins.
Outra matéria significativa ficou por conta do anúncio de um trabalho perdido do
físico César Lattes pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF). O artigo versava
sobre detalhes da cooperação entre Brasil e Japão nos estudos referentes aos raios
cósmicos. Um pouco antes de defender essa tese, em 1966, Lattes trabalhava interinamente
como professor na Universidade de São Paulo (USP). Um concurso foi aberto
especialmente para ele continuar seu trabalho como professor titular. Todavia, o físico
Jayme Tiomno resolveu participar da disputa, o que teria irritado Lattes e sua opção por
lecionar na então nova Universidade Estadual de Campinas. Sua tese sobre raios cósmicos
não foi defendida e ficou esquecida na USP. No entanto, no ano passado, o físico Alfredo
Marques, pediu autorização para César Lattes para publicar seu trabalho, em
comemorações aos 80 anos de seu aniversário 53. Então, o CBPF decidiu divulgá-lo
exatamente no ano de 2005 para as comemorações do “Ano Mundial da Física”.
A divulgação de conclusões de pesquisas internacionais da física também foram
intensas na Folha Online. Em janeiro uma equipe britânica criou uma réplica virtual do
cérebro de Albert Einstein. Os estudos neurológicos sobre o cérebro de Einstein foram
altamente investigados em várias partes do mundo. Os cientistas procuraram achar
diferenças e excentricidades do seu cérebro para identificar possíveis relações com sua
genialidade exacerbada.
Uma notícia polêmica foi publicada em março. Cientistas italianos e americanos
propuseram que a “energia escura”, meio difuso que é responsável pela expansão acelerada
do universo, não existe. E mais, ressuscitaram com todo o vigor, a constante cosmológica
53
César Lattes morreu no Hospital de Clínicas da Unicamp, em Campinas, vítima de uma parada cardíaca, em
8 de março de 2005.
99
de Einstein, considerada por ele como o maior erro da sua vida. Segundo os pesquisadores,
a expansão acelerada do universo é o resultado de “vincos” no espaço-tempo, criados pelo
Big Bang, durante a chamada fase inflacionária, quando o universo se expandiu de forma
rápida. O resultado dessa pesquisa é bem controverso e muitos cientistas já criticaram tal
estudo.
Para os historiadores da física, uma ótima notícia surgiu em agosto: foi descoberto
um artigo perdido de Albert Einstein, na Universidade de Leiden, na Holanda. O texto, do
ano de 1924, tem 16 páginas e o título Quantentheorie des einatomigen idealen Gases -
Zweite Abhandlung, que trata das pesquisas referentes à condensação Bose-Einstein. O
descobridor foi um estudante holandês chamado Rowdy Boeyink que o encontrou durante
uma pesquisa.
Antes, o historiador da ciência, John Stachel, havia sido entrevistado pelo jornalista
Salvador Nogueira, em fevereiro. Stachel, da Universidade de Princeton, é um dos grandes
biógrafos e pesquisadores da vida e da obra científica de Einstein. Na entrevista, ele disse
que, em sua opinião, os trabalhos do ano de 1915, quando Einstein desenvolveu a
relatividade geral, foram o seu feito mais importante. Ele falou também sobre as críticas do
físico alemão à mecânica quântica e sobre o crescente militarismo americano depois da
Segunda Guerra Mundial. Stachel afirmou também que Einstein previu a possibilidade de
guerras preventivas e apoiou o desenvolvimento do estado de Israel, mas disse que a forma
como se daria a relação com seus vizinhos árabes seria o teste para ver se o novo estado
israelense é mesmo democrático ou não. Ele contou sobre a real relação de Einstein com a
bomba atômica e sobre o prêmio Nobel ganho por ele em 1921. Ele finalizou a entrevista
comentando os motivos quase lendários da figura de Einstein.
Além das notícias convencionais dentro da sua editoria de Ciência, a Folha Online
destinou uma seção especial comemorativa ao “Ano Mundial da Física”, quando fez um
resumo histórico sobre o Annus Mirabilis e a física antes, durante e depois de Albert
Einstein. Logo no primeiro texto, de autoria do jornalista Cássio Leite Vieira, foram
relembradas as teorias científicas e os aspectos biográficos da vida do famoso físico a partir
de 1905. Em outro texto, Vieira também contou sobre a infância e juventude de Einstein,
100
assim como sua vida acadêmica e algumas desilusões momentâneas antes do ano de 1905.
Em uma matéria de 5 de junho, foi contada a história da visita de Albert Einstein ao
Brasil, em 1925. Relembrou-se também a expedição de astrônomos ingleses à cidade de
Sobral para a confirmação da teoria da relatividade geral.
Também fazem parte do especial “100 anos da teoria de Einstein” uma minuciosa
biografia de Albert Einstein, uma detalhada cronologia dos anos com os fatos, dicas de sites
e explicações sobre a teoria da relatividade restrita, com muitos infográficos (marca
registrada da Folha).
Os conteúdos apresentados pela Folha Online demonstraram assuntos bem
aprofundados, que talvez escape um pouco do público-alvo primordial leigo dos veículos
não-especializados. Ao mesmo tempo, os conceitos científicos foram mostrados de maneira
clara e explicativa, provando que o jornalismo científico pode ser realmente um eficaz
instrumento educativo, como explanado no capítulo III desta monografia.
101
temporais delas surgidas. A velocidade superior e finita da luz e a relação entre massa e
energia. Foram citados também os outros trabalhos de 1905 menos conhecidos, como as
determinações das dimensões moleculares e o movimento browniano. Para encerrar, foram
mostrados os acontecimentos posteriores ao Annus Mirabilis, como o desenvolvimento da
teoria da relatividade geral, os debates com os físicos da mecânica quântica, a famosa carta
para o presidente dos Estados Unidos alertando sobre os perigos de uma provável bomba
atômica alemã, o convite para ser presidente do estado de Israel e sua morte em 1955.
Do mesmo modo que a Folha Online, os conteúdos apresentados na seção especial
também aprofundaram os conceitos científicos, mas foram explicados de maneira muito
elucidativa e educativa.
102
Na BBC Brasil Online não houve seções especiais, como na Folha ou no Estadão.
103
Em uma curiosa matéria sobre uma campanha publicitária alemã para levantar a
autoestima da população (que anda meio baixa ultimamente) foram veiculadas imagens de
Einstein com a seguinte inscrição: “Du Bist Albert Einstein” (Você é Albert Einstein).
3. Veículos especializados
3.1. Revista Ciência Hoje
Logo na capa da primeira edição do ano, a revista Ciência Hoje mostrou a
importância do “Ano Mundial da Física” para sua publicação. A imagem da capa exibe
Albert Einstein em sua cadeira lendo um livro. Foi criado um selo especial que
acompanhou todos os artigos da seção.
No primeiro artigo, Ildeu Castro Moreira explicou todos os trabalhos publicados no
“ano miraculoso”, em 1905, e os situou no contexto histórico e científico da época.
Demonstrou também as influências e fontes de inspiração do jovem Albert, na sua fase de
estudante. Finalizou contando sobre o pensamento social e político que acompanharam o
físico alemão em toda sua vida.
Na edição do mês de março, Antonio Fernando Ribeiro de Toledo Piza explanou
sobre o nascimento da física quântica e seus acontecimentos posteriores, como o princípio
da incerteza, o condensado Bose-Einstein, o paradoxo EPR e sobre a interpretação da
mecânica quântica para os fenômenos físicos.
Ronald Cintra Shellard versou, na edição de abril, sobre os raios cósmicos e como
104
as ideias de Einstein auxiliaram nas pesquisas sobre a área. O autor definiu o conceito de
raios cósmicos e o contextualizou com os trabalhos científicos do Annus Mirabilis. Ele
explicou sobre as novas tecnologias de detecção de partículas que provêm de lugares
aleatórios do Universo e previu o desafio futuro de compreender como eles são tão
energéticos e de precisar com exatidão sua origem.
Na mesma edição foi publicada a entrevista de um dos maiores estudiosos da vida e
da obra científica de Albert Einstein: John Stachel. Ele contou sobre os estudos biográficos
do famoso físico, dos mitos equivocados da sua imagem, da diferença entre sua teoria da
relatividade e dos estudos anteriores de Poincaré e Lorentz, seu debate com os físicos da
mecânica quântica e sobre sua figura lendária.
Na edição do mês de maio, Marcelo Knobel escreveu um artigo sobre as aplicações
do magnetismo. Ele contou os primórdios dos estudos envolvendo os fenômenos
magnéticos e seu avanço quando foi relacionado com a eletricidade. Explicou sobre o ciclo
de histerese do material, ou seja, sua capacidade de se magnetizar sob a influência de um
campo magnético e a permanência do estado de magnetização quando esse campo é
desligado. Ele mostrou também a evolução dos materiais utilizados nos ímãs, como o
alnico (constituídos de ferro, níquel e cobalto e dotados de pequenas quantidades de
alumínio, cobre e titânio), a liga de samário e cobalto e da descoberta recente de novos ímãs
de neodímio, ferro e boro. Ele falou sobre até onde a nanotecnologia pode auxiliar no
desenvolvimento de avanços industriais na área magnética, como o aumento na densidade
dos discos rígidos de computadores e na miniaturização dos aparelhos eletrônicos. Ele
concluiu mostrando as aplicações e promessas futuras da área.
O artigo de junho, de autoria de Thyrso Villela Neto, tratou de um dos temas mais
controversos da física e da astronomia: a cosmologia. Ele apresentou os dados históricos
dos primeiros modelos cosmológicos e a lei de Hubble, assim como as novas teorias
cosmológicas surgidas ao longo do século XX.
Na publicação do mês de julho, Henrique Toma e Koiti Araki versaram sobre a
nanociência e a nanotecnologia. Mostraram seus conceitos principais, sua evolução e sua
aplicabilidade nas outras áreas da ciência, como a biologia, a química e a computação. Essa
105
última ‘aguarda ansiosamente’ os desenvolvimentos dos computadores quânticos.
Sergio Machado Rezende demonstrou tópicos conceituais da física da matéria
condensada, na edição de agosto. O nascimento dos transistores e o grande avanço
tecnológico dos processadores de computador. Os grupos de pesquisas e laboratórios
espalhados pelo país e a grande concentração de doutores em física no ramo da matéria
condensada.
No artigo do mês de setembro, Paulo Murilo Castro de Oliveira escreveu sobre a
mecânica estatística, teoria do caos e complexidade. Ele demonstrou também o caráter
amplamente interdisciplinar do tema, ao englobar grandes áreas do conhecimento, como a
física, a biologia, a economia e a antropologia.
Em outubro foi a vez de Odair Dias Gonçalves e Ivan Pedro Salati de Almeida
contarem sobre os processos de fissão nuclear e seu grande aproveitamento na questão
energética. Eles conceituaram o fenômeno de reação em cadeia, princípio básico do
funcionamento das bombas nucleares, provocada pela transformação do núcleo de urânio
em elementos mais leves. Ele demonstrou a utilização do uso de radioisótopos na medicina,
na indústria e no meio ambiente. Explicou sobre o processo de geração de energia e
lembrou dos acidentes de Three Mile Island (Estados Unidos) e Chernobyl (Ucrânia) e as
medidas de segurança tomadas posteriormente.
106
contribuição de cada cientista. O surgimento da teoria da relatividade de Einstein, com base
em autores como os físicos matemáticos Wilhelm Weber e Bernhard Riemann, o historiador
da ciência Ernst Mach e o filósofo Baruch Spinoza. Segundo Magalhães, os interesses
fundamentais de Einstein eram o de interpretar a física e procurar nela uma unidade
fundamental, não se limitando ao aspecto experimental e matemático usual. Assim surgiram
os artigos revolucionários de 1905, como as interpretações do efeito fotoelétrico, o
movimento browniano e a teoria da relatividade restrita. O autor expôs também sobre as
críticas e as propostas de revisões que as teorias do final do século XIX e início do século
XX sofreram por parte da comunidade científica.
Uma reportagem com o título “Viagem no tempo: teoricamente possível,
tecnicamente inviável” definiu os conceitos básicos da teoria da relatividade restrita e as
explicações envolvendo os fenômenos da dilatação temporal e as distorções no espaço-
tempo. A entrada do campo gravitacional como fator geométrico das dimensões espaciais e
temporais, na teoria da relatividade geral. Os estudos sobre “buracos de minhoca”, “buracos
negros” e sobre as concepções teóricas das “viagens no tempo”.
A matéria intitulada “Teoria unificadora permanece em aberto” mostrou as
principais teorias que Einstein desenvolveu, como os fenômenos quânticos da radiação, a
realidade dos átomos e moléculas a partir da análise do movimento browniano, as teorias da
relatividade restrita e geral e as consequências dos novos conceitos referentes à gravitação e
os novos modelos cosmológicos surgidos. Foi ressaltado que Einstein desenvolveu a teoria
da relatividade geral sem qualquer contrapartida empírica e que estas só aconteceram
posteriormente à conclusão da mesma. Recentemente pesquisadores da Universidade de
Stanford e da Nasa, construíram um experimento denominado Gravity Probe B para tentar
comprovar a teoria da relatividade geral. A matéria relembrou o nascimento da física
quântica com Einstein e sua postura extremamente crítica com os seus rumos. As
dificuldades em unificar as teorias quânticas com os estudos referentes ao campo contínuo,
como a gravitação e a teoria da relatividade geral.
Em outra abordagem do “Ano Mundial da Física”, mais voltada para os processos
biográficos do famoso físico alemão, a reportagem intitulada “Excentricidade e mitificação
107
marcam a vida de Albert Einstein” demonstrou os motivos da sua popularidade e seus
envolvimentos com as questões políticas e sociais de seu tempo. A matéria mostrou os
motivos da curiosa foto de Einstein em que está com a língua de fora, já com 72 anos.
A reportagem sobre a grande polêmica da bomba atômica também teve um
considerável espaço na revista Comciência. Tudo começou com as pesquisas sobre fissão
nuclear na década de 30. Os cientistas descobriram que bombardeando um nêutron em um
núcleo de urânio, esse fissionava em elementos mais leves e emanava grande quantidade de
energia. Mais tarde, o famoso físico alemão Werner Heisenberg percebeu que o
enriquecimento do urânio 235 seria, segundo ele, o único método de produzir explosivos
mais poderosos em inúmeras ordens de magnitude que os explosivos mais fortes
conhecidos.
Em 1939, com o avanço das pesquisas de reação em cadeia nos Estados Unidos, os
cientistas americanos temiam que o regime nazista produzisse armas de destruição em
massa. Sendo assim, alertaram os governantes americanos dessa possibilidade. Nesse
momento entra a figura de Albert Einstein, que participou ativamente desse alerta, já que
assinou um conjunto de cartas avisando o presidente Roosevelt dos perigos de uma
provável bomba nazista e pedindo uma rápida ação por parte do governo. Em 1942, os
Estados Unidos criaram o “Projeto Manhattan”, que foi um enorme esforço humano,
técnico e financeiro para desenvolver a bomba.
Após a rendição alemã, os mesmos cientistas que criaram e testaram a bomba
atômica com sucesso, se posicionaram contra o seu uso após saberem que não existia mais
o risco da bomba alemã. A reportagem passa a explicação dos motivos da não fabricação
das armas nucleares por parte dos alemães.
Vanderlei Bagnato, em seu artigo, contou as perspectivas da física atômica dentro do
“Ano Internacional da Física”. A história da mecânica quântica e sua relação com as teorias
de Einstein, como o estudo sobre o movimento browniano, a interação entre luz, matéria e
emissão estimulada de radiação, que mais tarde dariam origem ao laser. Suas pesquisas
conjuntas com o físico Nath Bose sobre o condensado de átomos quando colocado em
temperaturas próximas ao zero absoluto, e seu entendimento, proporcionaram
108
posteriormente a descoberta da supercondutividade e superfluidez, tão empregadas nas
pesquisas atuais. Ele concluiu prevendo que a compreensão dos fenômenos atomísticos
trará uma gama de evoluções em várias faces da ciência e que os estudos do mundo
microscópico são fundamentais para entender a característica do universo que nos rodeia.
As revistas especializadas cumpriram o que já era esperado. Seu aprofundado nível
oscilou entre o nível médio e acadêmico, mas foram um ótimo material de pesquisa e
análise dos assuntos referentes ao “Ano Mundial da Física” e Albert Einstein. Os temas
abrangeram diversos assuntos, não se limitando às produções científicas do famoso físico
alemão e buscaram contextualizar com os aspectos sócio-históricos e com as outras teorias
divergentes das ideias principais defendidas por Albert Einstein. As matérias e artigos
procuraram situar os novos acontecimentos da física e as novas tecnologias emergentes,
como propôs o físico Nelson Studart no capítulo I deste trabalho.
109
Considerações finais
1. Pesquisas futuras
Este trabalho não tem o objetivo de ser a versão final dos assuntos abordados ao
longo de suas páginas. Muito há o que ser pesquisado futuramente sobre o grande tema aqui
tratado ou a elaboração de investigações mais aprofundadas a partir dos tópicos citados.
Várias linhas de pesquisas em diversas grandes áreas do conhecimento podem prosseguir o
estudo, como veremos a seguir.
Pesquisadores em comunicação ou cientistas sociais podem verificar, no ano de
2015, se a procura pelos cursos de física aumentou, ou não, após a celebração do “Ano
Mundial da Física”, em 2005. O deficit de professores de física no ensino médio aumentou
ou diminuiu? O número de dissertações e teses defendidas na área de física evoluiu ou
regrediu?
Os psicólogos sociais e comunicólogos podem avaliar o impacto da mídia na
população com a exposição da física nos meios de comunicação e eventos. Analisar o
feedback e verificar se a física continuou com a imagem que tinha antes de 2005, ou não.
Os objetivos dos organizadores foram alcançados?
Em outra frente de pesquisa, pode haver um aprofundamento maior da história do
desenvolvimento científico antes de Albert Einstein. Desde as primeiras concepções
filosóficas do átomo, com os antigos gregos; passando pelos cientistas do renascimento,
como Giordano Bruno, Galileu Galilei, Johannes Kepler e Isaac Newton. O nascimento da
eletrodinâmica com James Clerk Maxwell, Michael Faraday e Heinrich Hertz. Os primeiros
conceitos da teoria da relatividade com Henri Poincaré e Hendrik Lorentz, até chegar em
Albert Einstein.
Sobre o famoso físico alemão, pode surgir uma pesquisa específica para ele. Ele
apenas compilou os dados de cientistas anteriores a ele, ou não, sobre a relatividade
restrita? Quais foram suas influências científicas? Albert Einstein pode ser considerado um
filósofo? Como ele desenvolveu suas teorias? Por que ele se tornou tão famoso? Quais são
os seus mitos mais equivocados construídos sobre ele, que o senso comum geralmente
110
apregoa? Quais são as posições políticas e sociais que Einstein possuía? Quais foram os
grandes legados dele aos desenvolvimentos científicos e tecnológicos dos dias atuais?
Quais suas concepções sobre os deveres da ciência e dos cientistas? Enfim, a vida de Albert
Einstein merece um estudo em separado, com vistas ao entendimento de grandes questões
que nos cercam até hoje.
Quanto aos tópicos abordados no capítulo III, outros assuntos merecem enormes
oportunidades de serem melhor estudados. Os pesquisadores em educação podem averiguar
se o jornalismo científico pode ser realmente um instrumento eficaz de ensino. Os
procedimentos de pesquisas podem englobar vários aspectos, como a relação dos textos de
divulgação científica com os alunos, a criação de textos como exercício da prática de
escrita e maior absorção dos temas técnicos, os cuidados que o professor deve tomar ao
lidar com textos de jornalismo científico e a inserção da física moderna no ensino médio
através dos meios de comunicação. Os psicólogos e pedagogos podem verificar a influência
dos meios midiáticos no desenvolvimento cognitivo das crianças e dos adolescentes.
As pesquisas sobre os objetivos e funções do jornalismo científico podem ir muito
mais além ao que foi apresentado no capítulo III deste trabalho. Qual o seu grande papel
social? Quais são os seus paradigmas e seus princípios deontológicos? Como tornar os
textos de jornalismo científico ferramentas para o ensino? Quais são os pressupostos
essenciais para escrever um bom artigo de divulgação científica?
A epistemologia e o desenvolvimento do conhecimento humano também podem ser
explorados por filósofos, psicólogos ou cientistas sociais. Eles devem buscar os caminhos
do conhecimento verdadeiro e globalizado e a interdisciplinaridade como princípio
essencial à educação do futuro.
Os investigadores em comunicação podem fazer uma análise quantitativa e
qualitativa referente ao “Ano Mundial da Física” nos meios midiáticos. Eles podem realizar
uma pesquisa comparativa entre os veículos especializados e os não-especializados, os
públicos-alvo de cada publicação e suas posturas editoriais.
Podem existir outras linhas de pesquisa referentes a esta monografia que não foram
citadas acima. Pela enorme abrangência e a grande amplitude disciplinar, alguns estudos
111
poderão surgir posteriormente. O que mais vale neste tópico é ressaltar o amplo caráter
heurístico deste trabalho.
2. Conclusões
Os veículos de grande circulação e de assuntos gerais, analisados no capítulo IV,
demonstraram que realmente é possível realizar certo aprofundamento nos assuntos
destinados à ciência e tecnologia e atingir o grande público. A criação de seções especiais
como ilustrações e infográficos também foram um excelente recurso na busca pela
divulgação do conhecimento.
Os meios de comunicação especializados em ciência cumpriram seu papel de situar
os leitores no contexto histórico de Albert Einstein, ao demonstrar os grandes avanços
científicos dos dias atuais e inter-relacionar a física com as demais áreas do conhecimento.
Os veículos especializados cumpriram o desejo do professor Nelson Studart no início deste
trabalho: “Não queremos apenas celebrar os papers de Einstein, queremos divulgar a física
em todos os meios, mostrar as nossas contribuições, tanto as antigas quanto as atuais, do dia
a dia e em todos os setores”.
Ainda não é possível saber se os objetivos e metas do “Ano Mundial da Física”
foram alcançados, mas pode-se adiantar que a enorme quantidade de eventos em várias
partes do mundo e suas repercussões na mídia, com certeza, cumprirão os objetivos dos
organizadores, parcialmente no mínimo.
A lembrança dos primeiros trabalhos de Albert Einstein, no Annus Mirabilis, foi
importantíssima para uma maior compreensão da história e do desenvolvimento científico
moderno. A pesquisa de sua vida também foi uma oportunidade para relembrarmos diversos
fatos marcantes acontecidos em todo o século XX. A grande ruptura paradigmática que
Albert Einstein ajudou a promover até hoje está influenciando a construção do pensamento
humano contemporâneo.
A grande importância dos meios midiáticos para a divulgação de eventos como o
“Ano Mundial da Física” ficou categoricamente comprovada. Isso talvez incentive a
criação de um “Ano Mundial da Biologia” ou “Ano Internacional da Química”. Os sucessos
112
do evento de 2005 podem ser repetidos em outras esferas científicas. O desenvolvimento
científico e tecnológico de toda uma sociedade precisa ser compreendido e celebrado por
toda ela, sem distinção de classe social ou educacional. A ciência necessita ser
desmistificada para cumprir seu papel social, e eventos como o “Ano Mundial da Física”,
podem ser uma solução inovadora nesse sentido.
113
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