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Um grande percurso, a inclusão das ciências humanas na organização da Ciência

nacional.
Mestre pelo PPG da UNESP/ASSIS em História
Gabriel Amabile Boscariol
gabrielacademic@yahoo.com.br
Na década de 1970 houve a construção da política nacional de forma
planificada com os Planos Nacionais de desenvolvimento. Dentro dessa expectativa
procurou-se estabelecer uma ciência nacional por meio do conselho nacional de
pesquisas (CNPq). A inclusão das ciências humanas dentro da política de ciência
nacional não foi de imediato e nem foi completamente ignorada durante sua
formulação. Enfrentou resistências tanto de alguns grupos de outras áreas, quanto
dos próprios cientistas sociais. É por meio dessas resistências e críticas que vamos
discutir esse longo percurso da inclusão das ciências humanas dentro da ciência
nacional, nas instituições que planejam e nas associações de ciências.

Palavras chave: CNPq, SBPC e Ciência e Cultura

Essa situação se alterou na década de 1970, quando a politização de muitos


cientistas se torna evidente e atuante. A ciência se transformou em um campo em
disputa entre grupos com perspectivas, ideologias e posições diferentes. Os grupos
civis apresentaram posições relacionadas a liberdade de trabalho,a continuidade de
projetos apoiados por essa comunidade e maior participação nas decisões das
políticas públicas. Entre os militares e tecnocratas a serviço do governo a posição de
apoio a comunidade científica vinha com o discurso do inimigo interno, sendo que
em alguns casos foi flexibilizado essa posição ideológica.
Dessa forma o artigo procurou focar a discussão nos anos 1970, sob a gestão
de José Dion de Mello Telles (1975-1979) e a atuação da associações civis de
cientistas desse período. Associações como a Academia Brasileira de Ciência (ABC)
e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O CNPq foi
constituído inicialmente como uma instituição vinculada diretamente ao gabinete da
presidência e foi evoluindo para um importante centro do sistema de ciência e
tecnologia nacional. De forma gradual foram sendo delegadas mais funções para
organizar a atividade científica nacional. Serviram também para funcionar como um
espaço de conciliação e participação da comunidade científica na formulação dessas
políticas. Importante destacar que desde a criação do Conselho Nacional de
Pesquisas (CNPq) em 1951 essa agência acabou por assumir um projeto de uma
ciência nacional. Essa ciência nacional passou a obter forma nos anos 1960 para
1970. Nos anos 1960 houve o surgimento de novas instituições, como a Comissão
Supervisora de Institutos (COSUPI). Na década de 1970 foram estabelecidos Planos
trienais e quinquenais, como os Planos Nacionais de Desenvolvimento e os Planos
Básicos de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. A construção de institutos
voltados para a área de ciência e a criação de um sistema que consolidasse e
garantisse os ganhos desse sistema foi uma das maiores lutas das associações de
ciência. A atuação civil foi importante e a entrada de um grupo de pensamento mais
tecnocrático garantiu a continuidade de certo programas. Com a Lei nº 6.129 de 6 de
Novembro de 1974 o CNPq passou por profundas transformações. Dispôs sobre a
transformação do Conselho Nacional de Pesquisas em Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), passando a ser uma fundação o
que permitia ter maior liberdade em sua atuação. O CNPq foi alçado à categoria de
instituição central para a ciência nacional onde se concentrou uma forte atuação de
pesquisadores e de políticos na defesa de uma política científica para o país. Dessa
forma, a instituição procurou organizar a atividade científica nacional e estimular o
aumento e a qualidade dessa produção científica, sendo, neste sentido, um
importante espaço em disputa e de discussão para a comunidade científica e outros
grupos interessados.
De uma forma crítica a SBPC procurou participar da construção da ciência
nacional e principalmente na articulação de forças que pudessem expor uma maior
diversidade de posições. A SBPC surgida de um protesto claramente buscou uma
maior atuação e participação nos rumos da política científica (FERNANDES, 1992).
Ganhou por essa atuação um reconhecimento como um "partido da ciência", devido
a sua forte atuação com políticos e outras personalidades públicas influentes
(BURGOS, 1999). Dessa forma começamos introduzindo as críticas as
universidades feitas pela SBPC.

Crítica a gestão das Universidades.


A difícil construção de uma prática universitária que não ficasse fechada em
seus respectivos departamentos. A necessidade de sair de um modelo que
estabelece alguns campos da ciência superior a outros, em moldes similares ao
cientificismo do século XIX. Afetando as ciências humanas nas universidades e
também fora dela. Retirou-se a filosofia como disciplina escolar, e a desvalorização
das matérias na área de humanas como história do vestibular aos que pretendiam
vagas nas ciências humanas. Criticou-se o bacharelismo científico, que beatifica as
ciências exatas e naturais e desmerecia a formação nas humanidades (CIÊNCIA E
CULTURA, 1970; N 3).
A lenta transformação da universidade brasileira e o fim das cátedras,
criticada pela SBPC como um grande limitador na evolução acadêmica. O tempo
parcial de dedicação afetou a introdução do departamento e a falta da cultura de
vivência em departamentos poderia levar a alguma dificuldade de implantação.
Essas dificuldades se apresentavam pela introdução de uma nova dinâmica e que
refletia o processo de mudanças na gestão do Ensino Superior que passa por
profundas mudanças.

Participação da SBPC na discussão sobre reformas do sistema de ciência.

O presidente Ernesto Geisel recebeu em reunião representantes da SBPC e


do periódico Ciência e Cultura, profs. Oscar Sala, Luís Edmundo Magalhães,
Carolina Bori, Warwick Estevão Kerr e José Reis. Estavam presentes a reunião o
ministro Reis Veloso e o presidente do Conselho de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico, Dr. José Dion de Melo Teles. Na reunião foi discutido o problema de
São Paulo quanto aos institutos e as disparidades existentes de questões salariais e
de condições com as universidade. Entrega de documentos, como a lista de
sugestões realizada pela SBPC na Reunião Anual em Recife de 1974 (CIÊNCIA E
CULTURA, 1975; N 3. p.310). Nessas propostas estava a maior atenção as áreas de
ciências humanas, que sofreram desde o início do regime militar de perseguição
implacável em seus quadros discente e docente.

A presidência de José Dion de Melo Telles


Durante a presidência de José Dion de Melo Telles (1975-1979) a inclusão
das ciências humanas veio de um maior entendimento e compreensão da ciência
enquanto atividade holística (MOTOYAMA, 2002. p. 263) que deveria integrar todos
os campos de conhecimento. Em suas palavras "ciência não é uma atividade
isolada, nem fragmentada"(MOTOYAMA, 2002. p. 264). José Dion de Melo Telles
com apoio de José Peluccio Pereira, criou o Conselho Científico e Tecnológico e
estabeleceu uma ponte que incluía representantes de ministros de estado,
empresários e das associações de ciências, SBPC e ABC.
Foi por meio dessas pontes criadas por diversos interlocutores entre as
instituições públicas que faziam a gestão da ciência e mentiam o sistema com as
associações de ciência. Essas mediações foram importantes para estabelecer maior
unidade de intelectuais e assumir posições me defesa da ciência brasileira que
englobava também as ciências humanas desde 1972, com algumas exceções como
os geógrafos que aderiram em 1974.
Em depoimento o historiador prof. Odilon Nogueira de Matos, explicou a
demora dos geógrafos em se integrar na SBPC. Foi devido aos encontros periódicos
ocorriam no mesmo período, o que desestimulava a entrar nas Reuniões Anuais da
SBPC. Relatou ainda o fato dos Historiadores que também se uniram tardiamente
devido a maior consolidação da ANPUH e uma maior preocupação com sua própria
representação entre os historiadores (CIÊNCIA E CULTURA, 1974; n 3.p. 420 ).
Marcando a aceitação e o interesse em história e sua relação com a ciência
José Reis em editorial da revista Ciência e Cultura demonstra o interesse existente
pelas palestras com essa temática na reunião anual da SBPC de 1974 (CIÊNCIA E
CULTURA, 1975; n. 10. p. 1050).
Essa aceitação e participação das ciências humanas dentro desse conceito
geral de ciência é um grande percurso. Como o próprio José reis era ter uma
aproximação com as ciências humanas desde sua fundação. O primeiro presidente
da SBPC foi O Bacharel Jorge Americano, cuja atuação na área do direito auxiliou a
associação que nascia e deveria ter atraído a atenção de outras áreas. Entretanto
em seu início a maioria dos associados estava ligado aos cursos de biológicas e
exatas, as ciências humanas foi entrando aos poucos.

BURGOS, M. B. Ciência na periferia: a luz sincroton brasileira. Juiz de Fora:


EDUFJF, 1999.
FERNANDES, A. M. A construção da Ciência no Brasil e a SBPC. Brasília:
Editora, 1992.
MOTOYAMA, S. (Org.). 50 anos do CNPq: contados pelos seus presidentes. São
Paulo:FAPESP,2002.
NETTO. A. L. Machado. A FUNÇÃO DA UNIVERSIDADE NA ATUAL SOCIEDADE
BRASILEIRA.Revista Ciência e Cultura Vol. 22 Junho 1970 N° 3
Revista Ciência e Cultura Vol. 27 Março 1975 N° 03REVISTA CIÊNCIA E
CULTURA, São Paulo: SBPC, 1970. Mensal. n. 6 Vol. 22 Junho 1970.
REVISTA CIÊNCIA E CULTURA, São Paulo: SBPC, 1975. Mensal. n. 4 Vol. 26 Abril
1974. p. 420
REVISTA CIÊNCIA E CULTURA, São Paulo: SBPC, 1970. Mensal. n. 3 Vol. 27
Março 1975. p. 310
REVISTA CIÊNCIA E CULTURA, São Paulo: SBPC, 1970. Mensal. n. 10 Vol. 27
Março 1975. p. 1050
SCHWARTZMAN, Simon. Formação da comunidade científica no Brasil. São
Paulo: Ed. Nacional; Rio de Janeiro: FINEP, 1979.
SOUZA, H. G.; ALMEIDA, D. F.; RIBEIRO, C. C. Política Científica. São Paulo:
Editora Perspectiva, 1972.

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