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Adaptação da Legenda CORINE Land Cover à Escala 1:10000 e Análise Comparativa de

Sistemas de Classificação de Uso e Ocupação do Solo

João Paulo Fernandes (Prof. Associado da Universidade de Évora)


Carlos Souto Cruz (Prof. Auxiliar da Universidade de Évora)
Nuno Guiomar (Investigador/Colaborador da Universidade de Évora)
Teresa Batista (Assistente convidada da Universidade de Évora e Técnica Superior da
Associação de Municípios de Évora)
Júlio Mateus (Técnico Superior da Associação de Municípios do Distrito de Évora)

O uso do solo é, segundo CASIMIRO (2000), o ponto de intersecção mais importante entre as
actividades humanas e o ambiente, e como tal o seu estudo é premente a escalas globais,
regionais e locais, importando desenvolver novos métodos e técnicas, por forma a permitir
classificações, comparações e generalizações a escalas mais amplas.

A ocupação e o uso do solo constituem o mais circunstancial de todos os elementos


caracterizantes do espaço. Com efeito, quer se trate de ocupações espontâneas, resultantes
dos múltiplos condicionalismos litológicos, edafoclimáticos, hidrológicos, fitogeográficos e
zoogeográficos, quer de outras estruturas de carácter antropogénico, resultantes de diversas
acções mais ou menos intensas do Homem, a sua estabilidade temporal e estrutural é baixa,
uma vez que são determinantes, em cada momento, para as comunidades e espécies
vegetais e animais presentes, ou para a sua ausência, em cada parcela do território
(FERNANDES, 1991; LOUREIRO e CRUZ, 1993). Isto determina que cada mancha de uso
constitui, tendencialmente, um objecto muito pouco estável, necessitando a sua cartografia de
permanente actualização.

A cartografia temática de ocupação de solo é uma ferramenta indispensável na tomada de


decisão em ordenamento e planeamento do território, uma vez que contribui para um
conhecimento efectivo da dispersão espacial das actividades humanas, assim como permite
avaliar a necessidade de proceder a reajustes ao nível do uso e ocupação do espaço
(CAETANO et al., 2002, TREITZ e ROGAN, 2004, FERREIRA et al., 2005). É assim um instrumento
privilegiado para a monitorização da dinâmica do território (HENRIQUES et al., 2001), permitindo
análises complexas para a modelação de cenários de alterações de uso e a simulação dos
seus impactes.

A cartografia temática disponível a este nível fornece ao utilizador essencialmente informação


sobre a ocupação do solo, permitindo em alguns pontos das nomenclaturas utilizadas tecer
considerações sobre o uso dominante, perdendo-se muitas vezes a percepção do carácter
multifuncional das paisagens em presença. A complexidade dos factores envolvidos na
determinação dos padrões de organização espacial, se considerarmos que, cada sistema
geocenótico, apresenta um padrão de estabilidade próprio, distinto do padrão de estabilidade
e da resiliência de cada tipo de sistema biocenótico, e que o domínio da antropocenose
influencia de modo, por vezes bastante diferencial, espacial e temporalmente, cada um destes
subsistemas, determinando, portanto, que os padrões de organização do ecossistema,
possam assumir níveis de complexidade bastante significativos (GUIOMAR et al., 2006).

Os sistemas de classificação
de uso e ocupação do solo
permitem delinear objectivos e
metodologias para a produção
de cartografia temática de
ocupação do solo a diferentes
escalas. A escala é um factor
chave na diferenciação das
unidades espaciais a
cartografar, uma vez que a
Figura 1. Exemplo da classificação desenvolvida por Cruz (2002) estrutura, funções e padrões
de mudança numa paisagem são eles próprios dependentes da escala.

O presente trabalho foi realizado no


âmbito do Projecto TECHNOLANGUE
(Associação de Municípios do Distrito de
Évora), cujo objectivo consistiu no
desenvolvimento e implementação de
uma nova classificação CORINE Land
Cover (CLC) adaptada a uma escala de
maior precisão e exactidão (1:10000),
tendo como ponto de partida o nível 3
(1:100000) adoptado para a mesma
cartografia. A nomenclatura final foi
resultado de um processo de análise e
Figura 2. Exemplo da nomenclatura proposta
comparação entre os sistemas de
classificação de ocupação do solo disponíveis (COS’90, EUNIS, CLC, FAO e outras
derivadas), da análise de relatórios efectuados por outros países com o mesmo objectivo, da
análise de bibliografia especializada, e da consulta de um conjunto de especialistas.

Para FERNANDES (1993) no zonamento microescalar as diferenças são função, quer de


variações microclimáticas, quer de variações das características do substrato, podendo a
forma introduzir alguns factores de diferenciação local, nomeadamente em termos dos
padrões de interrelacionamento lateral. O uso do solo, como factor determinante de variação
destes padrões, constitui, como factor essencialmente circunstancial, um determinante
adicional de zonamento.
Verifica-se que classificações monotemáticas como o CLC ou equivalente (EUNIS para as
fitocenoses) são insuficientes para retratar adequadamente o território. Soluções integradas
envolvendo elementos fitocenóticos, geocenóticos e antropocenóticos como a apresentada
por CRUZ (2002) permitem caracterizações territoriais que retratam com mais fidelidade as
relações entre os vários elementos do sistema biofísico. O nível 5 proposto da legenda CLC
constitui um ponto de partida para uma análise complexa do sistema ecológico, que pode ser
associado ao nível de classificação definido no sistema EUNIS, à caracterização da
geocenose e aos sistemas de uso.

Referências bibliográficas

CAETANO, M., SANTOS, T., e GONÇALVES, L., 2002. Cartografia de ocupação do solo com
imagens de satélite: Estado da arte. [CD-Rom] Proceedings do ESIG’2002, Oeiras.

CASIMIRO, P. C., 2000. Uso do Solo – Ecologia da Paisagem: Perspectivas de uma nova
abordagem do estudo da Paisagem em Geografia. Revista GeoInova, 2: 45-66.

CRUZ, C. S., 2002. A cartografia das fitogeocenoses aplicada à gestão de áreas protegidas.
Tese de Doutoramento, Universidade de Évora.

FERNANDES, J. P., 1991. Modelo de Caracterização e Avaliação Ambiental Aplicável ao


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FERNANDES, J. P., 1993. Classificação das Unidades Ecológicas Adoptada para Portugal.
Seminário sobre Avaliação de Impacte Ambiental em Sistemas Ecológicos, CEPGA,
SPRCN, Serra da Estrela.

FERREIRA, C. L., GARCIA, T., FERREIRA, O., e DIAS, J. A., 2005. Sistemas de Informação
Geográfica e Detecção Remota para Análise da Variação das Áreas Construídas nas Ilhas
Barreira da Ria Formosa (Portugal). [CD-Rom] Proceedings III Congresso sobre
Planeamento e Gestão das Zonas Costeiras dos Países de Expressão Portuguesa:
Perspectivas de Gestão e Sustentabilidade da Zona Costeira, Maputo.

GUIOMAR, N., FERNANDES, J. P., CRUZ, C. S., BATISTA, T., MATEUS, J., 2006A. Sistemas de
classificação e caracterização do uso e ocupação do solo para zonamento microescalar:
pressupostos para a adptação da legenda CORINE Land Cover (Nível 5) à escala 1:10000
e análise comparativa de sistemas de classificação de uso e ocupação do solo. [CD-Rom]
Proceedings do ESIG 2006, Oeiras.

HENRIQUES, R., CONDESSA, B., NÉRY, F., e NEVES, N., 2001. Estatísticas de ocupação do solo
para Portugal Continental. [CD-Rom] Proceedings do ESIG’2001, Oeiras.

LOUREIRO, N. S., e CRUZ, C. S., 1993. Cartografia dos Usos do Território e dos Habitats de
Portugal Continental. Projecto INASP, Instituto da Conservação da Natureza, Lisboa.
TREITZ, P., e ROGAN, J., 2004. Remote sensing for mapping and monitoring land-cover and
land-use change. Progress in Planning, 61: 269-279.

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