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TCC Norman Bates Sobre o Livro 1-3 - Lido
TCC Norman Bates Sobre o Livro 1-3 - Lido
FORMOSA
2016
YARA ELISA FERREIRA GONTIJO
FORMOSA
2016
YARA ELISA FERREIRA GONTIJO
Data de aprovação:___/___/___
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________
Prof.º Msc. Gabriel Antunes (Orientador)
Universidade de Brasília
_____________________________________________
Prof.ª Dra. Émile Andrade
Universidade de Brasília
_____________________________________________
Profº. Marcelo Mello
Universidade de Brasília
RESUMO
Este trabalho visa Investigar as relações intermidiáticas entre o romance Psicose de
Robert Bloch (1959), o filme Psicose de Alfred Hitchcock (1960) e o seriado Bates
Motel dos criadores Carlton Cuse, Kerry Ehrin e Anthony Cipriano (2013).
Consistindo-se em analisar as diversas maneiras de como contar uma história, na
literatura, no cinema e na televisão, e discutir como se dá o processo de adaptação
da narrativa, personagens e o espaço e como tais elementos passam por uma
metamorfose para se encaixar de uma mídia a outra. Dessa forma, a
problematização discutida se dá quando em meio ao processo de intermidialidade é
possível pensar em uma literatura fora do papel, ou seja, se é arte pode se
transmutar com o passar do tempo, sem perder sua essência e literariedade.
This work aims to investigate the inter-media relations between Robert Bloch's novel
Psycho (1959), Alfred Hitchcock's Psycho (1960) and the TV show Bates Motel by
creators Carlton Cuse, Kerry Ehrin and Anthony Cipriano (2013). Consisting of
analyzing the different ways of telling a story, in literature, in cinema and on
television, and discussing how the process of adaptation of narrative, characters and
space takes place and how these elements undergo a metamorphosis to fit into a
media to another. In this way, the discussed problem occurs when in the midst of the
process of intermidiality it is possible to think of a literature out of paper, that is, if it is
art, it can transmute itself over time without losing its essence and literacy.
Introdução.................................................................................................. 07
Capítulo 1 – O Romance............................................................................08
1.1 – Sobre o Livro.....................................................................................08
Capítulo 2 – Do livro para Hitchcock..........................................................15
Capítulo 3 - Do Hitchcock para o mundo...................................................29
Considerações Finais.................................................................................35
Referências Bibliográficas .........................................................................36
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INTRODUÇÃO
Capítulo 1 – O romance
Esse começo revela o protagonista como um leitor voraz de livros, e isso fala
muito sobre sua natureza, demonstrando sua inteligência autodidata, e esse fato se
torna meio irônico dentro da narrativa, pois ele sempre tenta levar as coisas pelo
lado racional, e mais tarde vemos que na realidade sua perspectiva sobre sua vida é
deturpada.
A narrativa apresenta poucos personagens, possui além do personagem
principal Mary Crane, sua irmã Lila, seu namorado e o detetive Aborgast e alguns
personagens não tão importantes como o patrão de Mary, o empregado de seu
namorado Sam, o xerife e o médico.
Desse modo, Norman destaca-se, pois seu lado psicótico é encarregado de
sustentar a trama e segurar a atenção e o interesse do leitor, e este por sua vez,
mostra-se em um constante conflito entre amor e ódio em relação a todos os
acontecimentos de sua vida.
Norman cresceu escutando sua mãe dizer que o sexo era perverso e que
todas as mulheres não prestam, exceto ela. Desse modo, ele começou a
desenvolver certo fascínio pela mãe.
Assim quando ela se envolve com outro homem, Norman envenena-os
levando todos a pensar que haviam tirado a própria vida. Logo depois do crime, ele
passou um mês no hospital psiquiátrico e quando saiu à primeira coisa que fez foi
desenterrar sua mãe achando que ela ainda estava viva. Depois disso ele
1
Block, Robert. Psicose. p.21
10
desenvolve um transtorno dissociativo de identidade, que faz com que ele assuma
por vezes a personalidade da sua falecida mãe e sua psicose o deixa sem saber
distinguir o real do imaginário.
Seus pensamentos são verdadeiramente perturbadores e expõe que a maior
parte de sua loucura é devida aos seus problemas com a mãe. É nessa relação de
mãe e filho que está o ápice de Psicose. Assim, Bloch deixa a dúvida de até que
ponto ele era louco por efeito da convivência com a mãe ou mal por natureza.
O escritor dá vida a Mary Crane já no segundo capítulo do romance, no qual
ela aparece dirigindo o carro já na estrada, e tudo o que acontecera com a
personagem antes desse ocorrido é narrado por meio de flashbacks, como ela havia
roubado 40 mil dólares da empresa em que trabalhava e fugido, além de seus
planos do que fazer com o dinheiro conhecemos, ainda, sua irmã e seu noivo
mediante a suas memórias retrospectivas até que estas sejam interrompidas no
momento em que ela acaba se perdendo e encontrando o motel.
No terceiro capítulo Mary conhece Norman, quando vai dar entrada para se
hospedar no motel e ao vê-lo, instantaneamente o acha patético “ao ver a gorda face
de óculos e ao ouvir a voz macia e vacilante, Mary soube não haveria a menor
dificuldade.” (BLOCH, 2013 p, 43.) ao conversarem ele a chama para jantar em sua
casa que ficava atrás do motel, ela como estava com fome não recusou o convite
inesperado, até porque se achava no controle perto daquela figura estranha, e
sentia-se bem da forma como ele a olhava, pois fazia tempo que nenhum homem a
olhava daquela forma.
A casa era velha e com móveis antigos, parecia uma casa do século 19,
nunca havia sido modernizada. A janta foi servida na cozinha, e o assunto entre os
dois é sobre Norman, que para a Mary este se tornava cada vez mais patético e
digno de pena, ele havia lhe dito que não podia beber, fumar ou se relacionar com
mulheres porque sua mãe não permitia, achava tudo isso uma depravação, sua vida
girava em torna de gerenciar o motel e cuidar de sua mãe e seu único hobby era ler
e praticar taxidermia que é a arte de preservar animais mortos exatamente iguais
como quando estavam vivos.
A princípio o rapaz sente bem sendo questionado pela moça, no entanto
quando ele explica que seu relacionamento com a mãe era difícil e o quão
dominadora ela poderia ser a garota o indaga se não seria melhor colocá-la em um
asilo, Norman perde a cabeça e começa a gritar:
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“Ela não está louca!” A voz já não era macia em tom de desculpas:
era alta e estridente [...] “Ela não está louca”, ele repetiu. “Não
importa o que você ou os outros possam pensar. Não importa o que
digam os livros, o que diriam os médicos do hospício. Sei muito bem
o que aconteceria. Fariam um exame rápido e a prenderiam lá, se
pudessem – eu só teria que dizer uma palavra. Mas eu não vou
dizer, porque eu sei. Entende? Eu sei, e eles não. Eles não sabem
como ela cuidou de mim por todo esse tempo, [...] os sacrifícios que
fez. [...] Aquela vez em que ela veio me dizer que queria se casar de
novo, eu não deixei. [...]Não venha me falar de ciúmes, de posse - eu
era pior do que ela. Dez vezes mais louco, se for definir assim.
Teriam me internado se soubessem das coisas que disse, o que fiz,
como eu levei a situação. [...] E quem é você para dizer que alguém
deve ser internado? Eu acho que todos nós somos um pouco loucos
de vez em quando.”2
Deixando incontestavelmente nítido o amor abusivo e doente que sentia por sua
mãe, e esta por sua vez, não podemos saber ao certo se denotava esse carinho e
cuidado desenfreado pelo filho, pois apenas sabemos o que o Norman mostra, não
sendo viável arriscar a confiar em suas memórias, pois ele não sabe distinguir sua
imaginação de suas lembranças.
Por essa passagem podemos até pensar se o autor não joga dicas para o leitor
sobre o verdadeiro Norman Bates, mas também elucida o quanto esse personagem
se torna estranho e um tanto desprezível, não deixando espaço para o leitor criar
empatia.
O livro exprime a visão dos personagens em cada capítulo, a cena do
banheiro é narrada, primeiramente, dentro da ótica de Mary, vemos o que ela vê e
acompanhamos seus pensamentos e sentimentos. Deitada em seu quarto e absorta
em suas reflexões sobre o que tinha feito, ela se arrepende e decide retornar e
devolver o dinheiro. Em seguida levanta da cama, tranqüila e decidida, tira suas
roupas e vai para o banheiro do qual viria a ser assassinada.
Robert Bloch narra a entrada da mãe no quarto até o banheiro, porém não a
descreve, apenas após ele abrir as cortinas que Mary o vê que as características do
assassino são reveladas. E somente com um golpe sua cabeça é separada de seu
corpo e ela morre. Esse acontecimento fez-se em um parágrafo de três linhas “Mary
começou a gritar. A cortina se abriu mais e uma mão apareceu, empunhando uma
faca de açougueiro. E foi a faca que, no momento seguinte, cortou o seu grito. E a
sua cabeça.” (BLOCH, 2013 p, 55.)
2
Bloch, Robert. Psicose. p. 50
12
de seus desejos e que na realidade fizeram o que fizeram por sua sobrevivência,
mas que foram repentinamente lançados em acontecimentos tortuosos, quase como
se esse destino trágico fosse inevitável.
Porém Psicose foi uma obra literária pouco aclamada, não havia muitas
pessoas interessadas na história de um homem de meia idade que ainda vivia com a
mãe e tinha um motel na beira de uma estrada abandonada. Os críticos da época
diziam que o livro possuía um peso emocional fraco.
Do ponto de vista estrutural e narrativo a construção da trama se faz por
meio da economia de detalhes e isso provoca uma falta de carga dramática, tanto na
fala dos personagens como na narração dos acontecimentos. No último capítulo,
quando descreve o caso de Norman Bates e de seus assassinatos, associamos a
notícia como à de um jornal.
“A primeira página foi quase toda dedicada ao caso de Bates [...]
alguns textos compararam a história ao caso de Ed Gein, [...] eles se
esmeraram na descrição daquela “casa de horrores” e apostaram
tudo na suposição de que Norman Bates vinha assassinando
hóspedes há anos. Exigiram uma investigação completa de cada
pessoa desaparecida naquela área durante as duas últimas décadas
e insistiram na drenagem de todo o pântano, para ver se descobriam
outros cadáveres. 3
Negro dirigido por Darren Aronofsky, demonstrando como esse tópico encantou e
encanta as pessoas.
Em vista disso, o romance de Robert Bloch conquistou um lugar no nosso
século, ao escrever sobre o terror provocado pela mente humana, e ao trazer esse
universo dos assassinos em série, do qual se tornou no imaginário de muitos leitores
um personagem icônico interessante e curioso, sendo bastante procurado pela
nossa sociedade de consumo.
4
Truffaut, François. HitchcockTruffaut. p. 270
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viria a ser sua obra prima. Ele fez o filme com um extraordinário cuidado,
escolhendo bem atores e roteiristas.
Porém o filme não conseguiu patrocínio, para muitos não parecia ser um bom
investimento. A Paramount tinha um contrato com o diretor e se recusou a
patrocinar, e foi a Universal que viu algum potencial no seu trabalho. Muitos diziam
que Hitchcock deveria parar de produzir enquanto ainda estava por cima sendo o
mestre do suspense, no entanto, para ele havia muita coisa a ser feita.
Produzir esse filme seria mostrar para todos que mesmo velho se superaria
em qualquer gênero e forma de suspense. Não ter incentivo só fez com que ele
fosse adiante. Desse modo Psicose custou oitocentos mil dólares e depois de
lançado rendeu mais de treze milhões de dólares.
O cineasta almejava sentir novamente a sensação de quando fez seu primeiro
filme, aquela liberdade que sentia no início da carreira de não saber se iria conseguir
agradar ao público. “Psicose marcaria a ruptura do diretor com seu passado e
mostraria para a indústria que um velho cavalo de batalha cinematográfico de 60
anos podia chocar e inovar acompanhado de melhor sangue novo.” (REBELLO,
2013, p.37).
O diretor preferiu começar o seu filme introduzindo Marion (Mary no livro),
diferente do livro, que começa com Norman Bates, um homem de meia idade, se
distanciando também da fisionomia do ator escolhido para interpretá-lo no filme.
Essa troca de personagens principais foi um importante artifício para gerar mais
suspense no decorrer da história. Essa ideia não partiu do diretor e sim de seu
roteirista Joseph Stefano, por causa dela, ele conseguiu o trabalho como roteirista.
Hitchcock insere a cena na qual aparece Marion de sutiã na cama com seu
amante logo no início, ele queria demonstrar como os filmes de romances com
beijos e cenas censuradas não atraiam o público, ainda enfatiza o horário do
encontro, que se deu na hora do almoço, insinuando que a moça prefere sexo do
que descanso e comida.
Além disso, intentava projetar nesses dois personagens logo no começo o
comportamento de muitos jovens, em suas próprias palavras “sei que eles mesmos
se comportam como John Gavin e Janet Leigh, e quase sempre temos que mostrar-
lhes como eles mesmos se comportam.” (TRUFFAUT, 2004, p.270).
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A renovação do público foi algo que o diretor levou em conta e foi por isso que
Psicose tem muitos elementos novos e modernos. Esse começo é um exemplo
disso, foi seu primeiro filme em que aparece uma cena de nudez.
A arquitetura da casa e do motel proporcionam ao filme um ar de mistério que
de acordo com Hitchcock foi totalmente desproposital, na Califórnia do Norte pode-
se encontrar muitas casas que se parecem com a de Psicose, chamam essas casa
de “gótico californiano”. O diretor queria ser o mais original possível então escolheu
a casa e o motel autênticos com os modelos californianos que deu a composição
genuína da casa vertical e o motel horizontal.
As filmagens de Psicose foram feitas secretamente, poucas pessoas tinham
acesso, o diretor não queria que ninguém soubesse como seria a história do filme,
tanto que comprou todos os exemplares do livro de Bloch e quando o filme foi
lançado não permitiu que ninguém entrasse atrasado nas salas de cinema, tudo isso
apenas para manter o segredo.
Joseph Stefano foi um dos mais jovens roteiristas contratados por ele, cheio
de ideias que agradavam o diretor. Entretanto para Hitchcock o que mais importava
e impressionava era como iria fazer para manipular o público, não o preocupava
tanto com o que o roteirista colocava ou tirava do roteiro, contanto que pudesse
fazer as filmagens como bem pretendesse. Porém, para dar um tom mais realístico
no filme ele fez com que todos da equipe estudassem o local onde seriam feitas as
gravações, soubessem mais sobre a cultura do local, a forma como se vestiam,
falavam, andavam etc.
Antony Perkins, ator que interpretou Norman Bates, aceitou fazer o papel,
mesmo sendo por uma baixa quantia porque devia um favor ao cineasta, mas
também porque seria algo que ele nunca tinha tentado na vida, e já havia se
cansado de apenas fazer papeis românticos. Era algo que poderia fazer sua carreira
ir ao auge ou ser um fiasco.
O ator foi escolhido por sua aparência ingênua, carismática, por ser atraente,
sensível, diferente do livro do qual não passa a mesma sensação “(...) muitos
assassinos são pessoas sedutoras – ele têm que ser para atrair suas vítimas.”
(RABELLO, 2013, p. 377).
A relação entre o bem e o mal em Psicose se estabelece dentro da
personificação da natureza doentia de Norman Bates. Ele assassina sua própria
mãe Norma e se convence de que ela se matou, mais tarde mata uma mulher no
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banheiro e joga a culpa na mãe e fica perturbado ao voltar a cena do crime, e por
último quando foi investigado pela polícia fica preocupado em esconder a existência
dela.
Norman é um personagem que esconde várias faces, revelando-as apenas
quando o filme chega ao seu fim. Isso acontece porque Hitchcock oculta o fato de
que ele e a mãe são a mesma pessoa, não dando nenhum indicativo disso ao longo
do filme, esse fato permite ao diretor trabalhar com essa falta de suspeita do público
sobre a personalidade do personagem a favor de influenciar na certeza de que a
mãe morta é a verdadeira assassina da trama.
Assim ele inova o que conhecemos como Norman Bates do livro, ao trazê-lo
com uma aparência ingênua e incapaz de fazer mal a alguém, o diretor engana e
manipula o espectador sobre sua verdadeira natureza “[...] quanto mais perfeito for o
vilão, mais perfeito será o filme” (TRUFFAUT, 2004, p.189) diz Hitchcock.
Nessa vertente, consideramos inicialmente a mãe sendo a representação do
mal empregado quase indubitavelmente na narrativa do filme, e o Norman
aparentemente vemos apenas como uma vítima, disfarçado de algo bom, nesse
sentindo o que primeiramente pensamos ser o mal, não passava de um cadáver.
Psicose, não abre espaço para o espectador se identificar com nenhum
personagem, a não ser com Marion (Janet Leigh), porém essa primeira parte do
filme que diz respeito a história dela é o que em Hollywood chama de “red herring”
em português “arenque vermelho”, é uma tática para manipular o público inserindo
uma informação que não é relevante ou uma pista falsa com o propósito de
esconder as verdadeiras intenções para o aumentar o impacto do assassinato
fazendo com que ele se torne uma surpresa.
O diretor faz com que o espectador acompanhe sua gigantesca jornada desde
o roubo, a cena em que ela dirige o carro e pensa na reação de todas as pessoas
que deixou, assim Hitchcock desperta no público a simpatia pela personagem ao
ponto de torcemos por ela, mesmo sabendo que o que ela fez é errado. Assim, o
cineasta faz com que o público se afeiçoe à garota querendo saber do seu destino,
faz o espectador se perguntar se ela conseguirá escapar impune e até torcemos
para isso
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A fim de não gerar desconfiança do que está para acontecer com Marion, ele
faz com que sua história se torne demorada, tudo que se refere a sua fuga com o
dinheiro, a viagem e a troca do carro servem para desviar a atenção.
Janet Leigh era uma atriz bastante requisitada, e todos esperavam que
Hitchcock a desse o papel de Lila Crane, porém ela ficou como papel de Marion
Crane nas palavras do diretor para Truffaut:
“[...] Aposto tudo o que você quiser que, numa produção
comum, teriam dado a Janet Leigh o outro papel, o da irmã que
investiga, pois não é hábito matar a estrela na primeira terça parte do
filme. Quanto a mim, foi de propósito que matei a estrela, pois assim
o crime era mais inesperado ainda. Aliás, foi por isso que, mais
adiante, insisti para que não se deixasse o público entrar depois do
filme ter começado, pois os retardatários ficariam esperando o
momento de ver Janet Leigh, quando na verdade ela já teria deixado
a tela e morrido!”5
nem a moça sendo apunhalada, o diretor usou uma duble nua de Janet Leigh para
fazer a cena, da atriz, ele utilizou apenas o rosto, os ombros e as mãos.
Hitchcock teve muito trabalho para produzir essa cena que durou apenas
quarenta e cinco segundos do filme. Mostrar a privada em alguns fremes foi alvo de
grande crítica, considerado de mau gosto, o diretor também não queria nenhuma
música como pano de fundo, apenas o som ambiente para dar uma sensação de
realidade a cena, apesar disso, Bernard Herrmann cria uma música para ser
utilizada nessa sequência que viria a ser um ícone no cinema. É curioso investigar e
explorar essa cena.
porão, é como se ele estivesse movendo sua própria mente do superego para o id,
primeiro ouvimos a mãe reclamando “Não! Não vou me esconder na despensa”
(PSICOSE, 1960) e depois subitamente ela se torna obscena “Você acha que sou
suculenta?” (PSICOSE, 1960) o superego não tem características éticas, existe
sempre alguma coisa de louco e obsceno na conduta do superego.
Zizek ainda diz que não devemos tentar voltar nossos olhos por de trás da
ficção e sim tentar ver a verdade dentro da ficção, aceitação dessa nova
representação do real como verdadeira provoca entre o espectador e as imagens na
tela do cinema uma relação interessante e bonita, pois sabemos que estamos sendo
enganados e nos deixamos iludir, na realidade pagamos para isso.
As imagens sempre foram um problema para a experiência humana, no que
tange ao entendimento, e do imaginário disponível que cada pessoa têm, pois uma
imagem fala muito, e é a partir dessa gama de interpretações possíveis que o diretor
encontrou um meio de controlar e conduzir as ideias dos espectadores.
7
Cabrera, Julio. De Hitchcock a Greenaway. p. 21
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parte da noite, como o assassinato da professora, ou quando Norma vigia seu filho,
entre outras. É interessante notar como as sombras empregadas no seriado servem
pra manipular o espaço e o que se vê, física ou mentalmente.
O motel e casa, presentes no filme de Hitchcock se tornaram um
representação simbólica na mente do espectador, nesse sentindo quando o seriado
resgata essa imagem icônica passa a sensação de familiaridade para a trama, ao
mesmo tempo funciona como um personagem, o único que conhece e esconde
todos os segredos.
A série televisiva produz algumas relações com o filme de Hitchcock, como no
primeiro episódio da temporada que faz uma homenagem ao mestre do suspense,
ao inserir uma cena em que o espectador visualiza Norma (após ser estuprada pelo
antigo dono da propriedade e com a ajuda de seu filho Norman o mata) recebendo o
delegado Zack Shelby e o xerife Alex Romero que por alguma desconfiança
decidem averiguar o motel, assim, o público fica apreensivo com a chegada dos dois
policias, pois o corpo do antigo proprietário está escondido na banheira prestes a ser
descoberto.
Partindo para uma visão mais analítica do seriado observa-se a evolução dos
personagens, principalmente de Norman, já que essa forma de arte possibilita uma
maior abordagem da mente do protagonista e visualiza-se a evolução de sua
“psicopatia” desde o início, com mais detalhes.
Dessa forma, o público tem a oportunidade de se aproximar ainda mais de
Norman e outros personagens, novos e antigos, e também sente-se alívio ao
perceber que não houve prejuízo a narrativa ao recriar uma história diferente da qual
se conhece. Bates motel, assim, se consagra ao introduzir elementos de suspense
de forma a sempre trazer referências do filme de Hitchcock.
34
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Bates Motel, Direção de David Straiton; Ed Bianchi; Johan Renck; Paul F. Edwards;
S. J. Clarkson; Tucker Gates, EUA, Distribuição Univelsal studios, 2013, Dvd,Cor,
450 min.