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ARTIGO ARTICLE 1055

Atenção aos defeitos congênitos no Brasil:


panorama atual

Birth defects and health strategies in Brazil:


an overview

Dafne Dain Gandelman Horovitz 1

Juan Clinton Llerena Jr. 1


Ruben Araújo de Mattos 2

Abstract Introdução

1 Instituto Fernandes Birth defects have increased progressively in Os defeitos congênitos vêm apresentando rele-
Figueira, Fundação Oswaldo
Brazil, shifting from the fifth to the second cause vância crescente como causa de sofrimento e
Cruz, Rio de Janeiro, Brasil.
2 Instituto de Medicina of infant mortality from 1980 to 2000, thus prejuízos à saúde da população. Define-se co-
Social, Universidade highlighting the need for specific health policy mo malformação congênita a anomalia estru-
do Estado do Rio de Janeiro,
strategies. Some governmental and nongovern- tural presente ao nascimento 1. Uma definição
Rio de Janeiro, Brasil.
mental actions related to birth defects in Brazil mais ampla seria a expressão “defeito congêni-
Correspondência include information services on teratogenic to” (tradução do inglês “birth defect”), incluin-
D. D. G. Horovitz
agents and inborn errors of metabolism, moni- do toda anomalia funcional ou estrutural do
Centro de Genética Médica
José Carlos Cabral toring of birth defects, neonatal screening and desenvolvimento do feto decorrente de fator
de Almeida, Instituto treatment of some genetic diseases, and rubella originado antes do nascimento, seja genético,
Fernandes Figueira,
Fundação Oswaldo Cruz.
immunization. In addition, flour fortification ambiental ou desconhecido, mesmo quando o
Av. Ruy Barbosa 716, with folic acid for prevention of certain birth defeito não for aparente no recém-nascido e só
Rio de Janeiro, RJ defects has begun recently. Despite the impor- manifestar-se mais tarde 2.
22250-020, Brasil.
dafne@ceresgenetica.com.br
tance of such initiatives, it is still difficult to Estudos indicam que a incidência geral dos
view birth defects from a comprehensive per- defeitos congênitos na América Latina não di-
spective. A specific national policy on birth de- fere, significativamente, daquela encontrada
fects must be formulated. Active participation is em outras regiões do mundo 3. De modo geral,
needed by the Ministry of Health, using existing pode-se considerar que não menos de 5,0%
genetic services as the backbone, in order to de- dos nascidos vivos apresentam alguma anoma-
velop a regionalized, hierarchical, and func- lia do desenvolvimento, determinada, total ou
tional network related to birth defects in Brazil. parcialmente, por fatores genéticos. Acrescen-
tando-se os distúrbios que se manifestam mais
Birth Defects; Health Policy; Genetic Services; tarde, como certas enfermidades crônicas de-
Medical Genetics; Health Planning generativas, é ainda mais evidente o conside-
rável efeito que têm os fatores genéticos sobre
a saúde 2.
Apesar dos fatores genéticos estarem impli-
cados em praticamente todas as doenças, co-
mo resultado de sua interação com o ambien-
te, o papel relativo do componente genético

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poderá ser maior ou menor 4. Dentre as doen- Finalmente, com o objetivo de localizar ou-
ças nas quais o componente genético é pre- tras ações relacionadas aos defeitos congênitos
ponderante, podem ser citadas as monogêni- no Brasil, foram utilizadas informações obtidas
cas, individualmente raras, porém acometen- através de um questionário fechado enviado
do como grupo 2,0% da população geral, as aos serviços de genética médica brasileiros 7,
cromossômicas, presentes em 0,7% dos nasci- notadamente aquelas relacionadas a linhas de
dos vivos (e em metade dos abortamentos es- pesquisa/projetos extramurais. Foi confeccio-
pontâneos) e as multifatoriais, responsáveis nada planilha no programa Excel, sendo tabu-
por grande parte das malformações congênitas ladas todas as informações colhidas de modo a
e também por muitos problemas comuns da ter-se um mapa das principais características
vida adulta 4. Neste artigo, em alguns momen- dos serviços, em especial, quanto a: (a) oferta,
tos, os termos “defeito congênito” e “doença ge- (b) distribuição geográfica, (c) financiamento,
nética” são usados como sinônimos, apesar de, (d) características do atendimento, (e) linhas
atualmente, praticamente todas as doenças se- de pesquisa e (f ) projetos extramurais. Uma
rem “genéticas” em algum aspecto (mesmo uma vez sinalizada a existência de atendimentos es-
eventual predisposição para doença infeccio- pecíficos (diferenciados da rotina de atendi-
sa). Na realidade, tais termos, no âmbito deste mento clínico dos serviços de genética), solici-
texto, referem-se às doenças monogênicas, tou-se informação adicional sobre os mesmos.
cromossômicas e às malformações congênitas, Os dados assim coletados foram analisados in-
nas quais o papel da genética clínica (também ter e intra fontes e depois cruzados com a pro-
utilizada como sinônimo de genética médica) dução atual de literatura sobre defeitos congê-
é de reconhecida importância. No Brasil, a prá- nitos e natureza dos serviços a eles dirigidos.
tica médica nessa área teve início recente quan- Para melhor expor e discutir os resultados
do comparada com outras especialidades. obtidos, subdividiu-se o presente artigo em
Diante do exposto sobre os defeitos congê- três seções. A primeira aborda o crescente im-
nitos, tivemos como objetivo determinar a re- pacto dos defeitos congênitos na saúde, ilus-
levância desses no Brasil, mapeando estraté- trados pelos levantamentos da evolução das
gias já implementadas para sua abordagem. causas proporcionais de mortalidade e do peso
Apenas após a obtenção de tais dados, caso de- dos defeitos congênitos na morbidade hospita-
finido que se trata de problema significativo, lar no Brasil. A segunda seção mostra as ações
poderá ser estruturada política pública na área. disponíveis no país relacionadas aos defeitos
Foi realizada uma análise documental, to- congênitos (governamentais e não-governa-
mando como fonte documentos oficiais emiti- mentais); tais ações incluem monitorização
dos pelo Ministério da Saúde (MS), notada- dos defeitos congênitos, informações sobre te-
mente portarias ministeriais e da Secretaria da ratógenos e erros metabólicos, triagem neona-
Assistência à Saúde, resoluções de agências go- tal, tratamento de doenças genéticas e medi-
vernamentais e manuais operacionais do Mi- das preventivas para defeitos congênitos espe-
nistério. A análise dessas fontes foi executada cíficos. Finalmente, na última seção, são teci-
tendo como guia as proposições da análise te- das considerações acerca das informações ob-
mática 5. Paralelamente, a partir de um instru- tidas e, apresentadas propostas para elabora-
mento de coleta previamente elaborado e vali- ção de política de saúde voltada para os defei-
dado, lançou-se mão dos seguintes bancos de tos congênitos.
dados disponibilizados pelo MS: Sistema de In-
formações sobre Mortalidade (http://tabnet.da-
tasus.gov.br/cgi/sim/obtmap.htm, acessado em Defeitos congênitos
31/Out/2003) e Sistema de Informações Hospi- e seu impacto na saúde
talares (http://tabnet.datasus.gov.br/tabnet/
tabnet.htm#Morbidade, acessado em 31/Out/ A mortalidade infantil é um importante indica-
2003). Procurou-se basicamente identificar: (a) dor de saúde de um país ou comunidade, por
evolução da mortalidade proporcional por estar associado a fatores como saúde materna,
causas em menores de um ano entre 1980 e qualidade e acesso a serviços de saúde, condi-
2000; (b) permanência hospitalar de pacientes ções sócio-econômicas e práticas de saúde pú-
entre 0 a 19 anos; (c) mortalidade hospitalar blica. Quando estratificadas as causas de mor-
para esse mesmo grupo etário e; (d) correlações talidade infantil, observa-se, em várias regiões
desses dados com o capítulo XVII da Classifica- do mundo, uma diminuição na taxa total de
ção Internacional de Doenças (CID) 6 (“malfor- óbitos no grupo, em especial, nas causas infec-
mações congênitas, deformidades e anomalias ciosas; como resultante, a proporção de mor-
cromossômicas”). tes atribuíveis às malformações congênitas vem

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aumentando 8,9. Outro dado relacionado às ano- cessita de tratamento contínuo, implicando em
malias congênitas, além da mortalidade, é a altos custos. A estimativa de custo-vida médio
maior morbidade, definida como risco para o por criança para as anomalias congênitas deve
desenvolvimento de complicações clínicas, in- compreender, além do tratamento médico, ser-
cluindo número de internações e gravidade viços do desenvolvimento (como fisioterapia,
das intercorrências. A maioria das doenças não- fonoaudiologia, terapia ocupacional), educa-
infecciosas, maior causa dos óbitos em nações ção especial ou inclusiva, perda da produtivi-
desenvolvidas, provavelmente têm um compo- dade por incapacidade ou morte e perda na ar-
nente genético 10,11. recadação salarial familiar do responsável pe-
Também, no Brasil, em hospitais de refe- los cuidados da criança 15. A esse cálculo deve-
rência, as malformações congênitas assumem riam também ser adicionados os custos psicos-
papel importante na morbidade e mortalidade. sociais, como trauma psicológico da família e
No Instituto Fernandes Figueira (IFF), Funda- dificuldades de adaptação à sociedade “nor-
ção Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), Rio de Janeiro, mal”, inclusive com grande risco de desestru-
de janeiro de 1999 a julho de 2003, malforma- turação familiar.
ção congênita foi um dos três diagnósticos prin- Através dos dados computados pelo MS, no
cipais codificados na internação em 37,0% das banco de dados do Sistema de Informações so-
admissões hospitalares pediátricas. A mortali- bre Mortalidade, pode ser observada a evolu-
dade hospitalar, no grupo com malformação, ção das causas de mortalidade infantil desde
foi 9,8%, o dobro daquela do grupo sem mal- 1980. A Figura 1 apresenta graficamente a evo-
formação 12. Em 1986, 13,4% de um grupo de lução da mortalidade proporcional entre os
pacientes acompanhados pelo serviço de ge- menores de um ano nos cinco principais gru-
nética da Fundação Faculdade Federal de Ciên- pos de causa de óbito entre os anos de 1980 e
cias Médicas de Porto Alegre, Rio Grande do 2000 no Brasil.
Sul, faleceram, numa proporção quase cinco Quando excluídas e redistribuídas propor-
vezes superior ao grupo controle, sem defeitos cionalmente as causas mal definidas, as causas
congênitos 13. Dado semelhante foi observado perinatais eram a principal causa de mortali-
na cidade de São Paulo, com uma mortalidade dade infantil no Brasil em 1980, responsáveis
quatro vezes maior num grupo com anomalias por 38,0% dos óbitos em menores de um ano,
congênitas quando pareado com controles sem ocupando as anomalias congênitas a quinta
malformação 14. Além da gravidade, foram do- posição, com 5,0% do total. Em 1990, o perfil
brados o tempo e o custo das internações dos começou a mudar, notando-se uma redução
pacientes com defeitos congênitos em relação proporcional nas causas infecciosas e nutricio-
aos controles 13. nais, passando as anomalias congênitas para
Ao levantar, na base de dados do Departa- 8,0% e quarta causa. No último ano avaliado
mento de Informática do SUS (DATASUS – http: (2000), as diferenças foram bastante significa-
/ / t a b n e t . d a t a s u s. g ov. b r / t a b n e t / t a b n e t . tivas, com grande redução proporcional dos
htm#Morbidade), as informações relacionadas óbitos por causas infecciosas e respiratórias,
a malformações congênitas, observa-se que a que passaram para menos de 10,0%, assumin-
mortalidade hospitalar, em 2002, na faixa etá- do as malformações congênitas a segunda po-
ria pediátrica (0 a 19 anos), foi de 1,13%, pas- sição, como causa de 13,0% dos óbitos em me-
sando para 3,33% quando o capítulo CID do nores de um ano. Essas estatísticas referentes
diagnóstico era o XVII (“malformações congê- aos defeitos congênitos e mortalidade infantil
nitas, deformidades e anomalias cromossômi- no Brasil podem ser classificadas como sur-
cas”). Na faixa de menores de um ano, a morta- preendentes, considerando sua magnitude e a
lidade hospitalar foi 3,59%, sendo 9,99% em total ausência de políticas governamentais re-
casos com malformação. Ainda neste levanta- lacionadas à prevenção e ao manejo desse gru-
mento, a permanência hospitalar média, em po de problemas.
caso de malformação, foi de 5,7 dias, contra
uma média de 4,5 dias. No quesito custo, o da-
do é ainda mais significativo, com valor esti- Ações já existentes no Brasil
mado em R$ 1.168,93 nas internações com mal- relacionadas aos defeitos congênitos
formação congênita, contra um valor médio
das AIH (Autorização de Internação Hospita- A seguir, serão descritos alguns programas es-
lar) de R$ 365,74. peciais relacionados aos defeitos congênitos.
Além da alta morbi-mortalidade, outra pro- Trata-se, na maioria, de iniciativas isoladas, al-
blemática envolvida em tais patologias é a cro- gumas organizadas por grupos técnicos ou ser-
nicidade. O indivíduo com doença crônica ne- viços de genética, preocupados com questões

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Figura 1

Evolução do número de óbitos por grupo de causa de mortalidade em menores de um ano de 1980 a 2000 no Brasil.

60.000
Malformações
congênita

50.000 Doenças endócrinas,


nutricionais e metabólicas

40.000 Doenças do
aparelho respiratório

30.000 Doenças infecciosas


e parasitárias

Causas perinatais
20.000

10.000
óbitos

0
1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade, acessado através do DATASUS (http://www.datasus.gov.br).

pontuais; outras, muitas vezes, oriundas de pres- • Sistemas de Informação sobre


sões exercidas por grupos de pacientes, de- Agentes Teratogênicos (SIATs)
mandando diagnóstico ou tratamento, refletin-
do a ausência do Estado nas formulações. Tais Define-se como agente teratogênico qualquer
programas sinalizam uma tímida apresentação substância, organismo, agente físico ou estado
da questão dos defeitos congênitos na agenda de deficiência que, estando presente durante a
de políticas públicas. vida embrionária ou fetal, produz uma altera-
ção na estrutura ou função da descendência.
Respostas não-governamentais Considerando a amplitude da bibliografia so-
aos defeitos congênitos bre teratogenicidade e necessidade constante
de atualização, serviços especializados para
• Estudo Colaborativo Latino-Americano fornecimento desse tipo de informação a mé-
de Malformações Congênitas (ECLAMC) dicos e pacientes foram criados a partir da dé-
cada de 80 em países da Europa e América do
O ECLAMC existe desde 1967 e é reconhecido Norte 19.
como centro colaborador da Organização Mun- Em 1990, o SIAT (Sistema Nacional de In-
dial da Saúde (OMS) para a prevenção das mal- formação sobre Agentes Teratogênicos) foi im-
formações congênitas. Trata-se de um estudo plantado no Serviço de Genética Médica do Hos-
epidemiológico voluntário, de base hospitalar, pital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) da Uni-
que congrega profissionais dedicados ao estu- versidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),
do das anomalias congênitas na América Lati- tendo sido o primeiro desta natureza a operar
na. O espírito colaborativo, guiado por uma re- na América Latina. Seus objetivos principais
gulamentação operacional, assegura a unifor- são a prevenção do aparecimento de defeitos
midade das avaliações, necessárias para a com- congênitos na espécie humana decorrentes de
parabilidade dos dados registrados nos vários exposições ambientais e o aprofundamento de
centros 16. conhecimentos sobre teratogênese em huma-
O programa é dedicado à investigação dos nos. O serviço, destinado a gestantes e médicos
defeitos congênitos, suas freqüências e fatores de diversas especialidades, opera através de
de risco, com o objetivo de preveni-los, promo- contato telefônico gratuito, fax ou internet, for-
vendo as ações de saúde pertinentes 17. Segun- necendo informações sobre exposições de mu-
do Salzano 18, trata-se do programa de monito- lheres grávidas a agentes químicos, físicos e
ramento das malformações congênitas mais biológicos. O SIAT atua também na investiga-
importante em nosso meio. ção da teratogenicidade de agentes ambientais,

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através do seguimento e observação do final de FC). Os serviços de referência seriam cadastra-


todas as gestações submetidas a consultas 19. dos como “Referência em Triagem Neonatal /
Outros SIATs foram criados posteriormente Acompanhamento e Tratamento de Doenças
no Brasil, estando atualmente em operação ser- Congênitas”, devendo garantir a realização da
viços semelhantes no Rio de Janeiro, São Paulo, triagem, confirmação diagnóstica e adequado
Campinas e Salvador 7. acompanhamento e tratamento dos pacientes
triados.
• Serviço de Informações sobre As experiências dos programas de triagem
Erros Inatos do Metabolismo (SIEM) neonatal mostram dados importantes, como a
possibilidade de cobertura com qualidade e agi-
Essa iniciativa pioneira foi implantada em 2001, lidade, com integração entre rede básica e cen-
no HCPA/UFRGS, centro de referência nacional tro de referência 25 (Botler J. Comunicação pes-
para erros inatos do metabolismo. O objetivo do soal; 2002). Como regra primordial, a triagem
serviço é apoiar médicos e profissionais de saú- neonatal deveria estar baseada em laboratórios
de em situações que envolvam suspeita clínica regionais de referência (não necessariamente
de erros metabólicos, patologias raras e pouco em todos os estados da união) com supervisão
conhecidas, mesmo entre esses profissionais 20. estadual (ou regional) integrada à rede primá-
O SIEM pode ser contactado através de li- ria e com suporte clínico de centros de referên-
gação telefônica gratuita, sendo fornecidas cia; a supervisão global deveria ficar sob res-
orientações relativas à conduta clínica e labo- ponsabilidade do grupo técnico de assessora-
ratorial recomendadas para cada caso. O servi- mento em triagem neonatal, instituído pela Se-
ço disponibiliza informações para médicos de cretaria de Assistência à Saúde 24. É de interes-
diversas especialidades em qualquer região do se não apenas epidemiológico, mas também
Brasil, contribuindo para o diagnóstico e insti- econômico para o país, analisar os resultados
tuição precoce de terapêutica. dos programas nas diferentes regiões brasilei-
ras, priorizando as doenças com real indicação
Respostas governamentais para rastreamento segundo regionalizações ét-
aos defeitos congênitos nicas, sem vinculação aos interesses econômi-
cos ou privados para a ampliação indiscrimi-
• Programa Nacional de Triagem nada dos testes 26. O seguimento desse modelo
Neonatal (PNTN) permitiria a otimização da triagem neonatal,
com detecção precoce dos afetados e institui-
A partir de 1990, começaram a surgir leis rela- ção eficaz de terapêutica, resultando em ações
cionadas à triagem neonatal 21,22, culminando efetivas para a prevenção de complicações clí-
com o PNTN em 2001 23,24. Tal programa foi nicas e do retardo mental.
iniciado com a triagem da fenilcetonúria e do
hipotireoidismo congênito, doenças que levam • Programas especiais do Ministério
a retardo mental grave quando não tratadas da Saúde relacionados ao tratamento
precocemente, e cujos diagnósticos e institui- de doenças genéticas
ção precoce de tratamento permitem o desen-
volvimento adequado da criança afetada. Tratamentos de algumas doenças genéticas
O PNTN considera que as doenças a serem vêm sendo assumidos pelo MS, regulamentados
triadas devem seguir como critérios o fato de através de portarias especiais. O processo não é
não apresentarem manifestações clínicas pre- simples, sobretudo por questões relacionadas
coces, permitirem a detecção precoce por meio ao elevadíssimo custo de medicamentos, mui-
de testes seguros e confiáveis, serem amenizá- tas vezes, envolvendo ações judiciais ou fortes
veis mediante tratamento, serem passíveis de “lobbies” por parte das famílias, justificados pe-
administração em programas com logística de- la Constituição Federal, segundo a qual todos
finida e terem uma relação custo benefício têm direito à saúde, a ser provida pelo Estado.
economicamente viável e socialmente aceitá- Há diversos argumentos contrários ao go-
vel 23,24. Ao ser instituído o PNTN no âmbito do verno assumir certos tratamentos, principal-
Sistema Único de Saúde (SUS), foi recomenda- mente pela carência de recursos da União e
da a triagem para as seguintes doenças: fenil- ações básicas de saúde que poderiam ser im-
cetonúria (PKU), hipotireoidismo congênito plementadas no lugar de tratar apenas um pa-
(HC), doença falciforme e outras hemoglobi- ciente com doença rara. Caso utilizada a uni-
nopatias (DF) e fibrose cística (FC), de acordo dade “anos de vida ajustados por incapacida-
com as fases de implantação (Fase I: PKU e HC; de” (AVAI), não seria justificado aos países em
Fase II: PKU, HC e DF; Fase III: PKU, HC, DF e desenvolvimento o investimento em ações de

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saúde com alto custo por AVAI ganho 27. Como avaliação, tratamento e acompanhamento dos
argumento favorável, pode ser utilizada a “re- pacientes 31. Atualmente, a Imiglucerase é a
gra de resgate” (rule of rescue – Jonsen), na qual droga mais cara do programa de medicamen-
não se deve abandonar uma pessoa à própria tos extraordinários. Tal financiamento, contu-
sorte pelo alto custo de seu tratamento, se o do, tem possibilitado uma vida normal e pro-
mesmo está disponível e é comprovadamente dutiva para os brasileiros acometidos por essa
eficaz 28. A opção pelo não tratamento também doença rara.
seria incompatível com o princípio da integra- Alguns pontos devem ser ressaltados a res-
lidade, assim como com os princípios consti- peito dos programas terapêuticos para doen-
tucionais da universalidade e igualdade 27. ças genéticas disponíveis via SUS. Tratamentos
São descritos abaixo dois programas do MS para outros tipos de doenças metabólicas vêm
para tratamento de doenças genéticas: sendo desenvolvidos, muito provavelmente es-
tarão disponíveis em breve e virão a ser requi-
a) Programa de Osteogênese Imperfeita sitados pelas famílias e associações de pacien-
tes. É fundamental que novos programas sigam
A osteogênese imperfeita é uma doença causa- protocolos bem estabelecidos, a exemplo dos
da por mutações no colágeno tipo I, caracteri- disponíveis atualmente. Aliadas às questões te-
zada por fragilidade óssea e osteopenia. Os pa- rapêuticas, deverão ser traçadas estratégias pa-
cientes apresentam múltiplas fraturas que po- ra prevenção de novos casos, sendo essencial o
dem evoluir com graves deformidades ósseas e papel da genética clínica com o aconselhamen-
limitação funcional. O tratamento com subs- to genético, considerando ser essa uma das pou-
tâncias do grupo dos bifosfonatos leva à dimi- cas possibilidades de estabilização dos custos
nuição da reabsorção óssea e ganho de massa crescentes dos tratamentos 32.
óssea, diminuição de fraturas e melhora na qua-
lidade de vida. • Ações governamentais relacionadas
Em dezembro de 2001, foi publicada porta- à prevenção e monitorização
ria 29 autorizando o tratamento da osteogênese dos defeitos congênitos
imperfeita no âmbito do SUS. O IFF/FIOCRUZ,
centro de referência no Rio de Janeiro, iniciou, Além da triagem neonatal e tratamentos já des-
em abril de 2002, o tratamento dos portadores critos, três iniciativas recentes, caso efetiva-
da osteogênese imperfeita com Pamidronato mente implementadas, poderão auxiliar sobre-
Dissódico, tendo quarenta pacientes sido inse- maneira a programação do atendimento e pre-
ridos nesse programa até maio de 2003 30. Se- venção dos defeitos congênitos.
guindo-se as normas estabelecidas pela porta-
ria, outros centros poderão ser cadastrados, es- a) Fortificação da farinha com ácido fólico
tendendo o atendimento ao maior número pos-
sível de afetados em todas as regiões brasileiras. Os defeitos de fechamento do tubo neural são
malformações de etiologia multifatorial, com
b) Programa de Doença de Gaucher fatores genéticos e ambientais envolvidos na
sua gênese. Já está bem estabelecida a relação
A doença de Gaucher é uma doença metabóli- entre a deficiência do ácido fólico, metabolismo
ca hereditária, que compromete o metabolis- materno da homocisteína e ocorrência de mal-
mo dos lipídeos; suas principais manifestações formações desse grupo. Estudos controlados em
são o aumento do fígado e baço, alterações he- países com prevalência aumentada de defeitos
matológicas e lesões ósseas. O tratamento de de fechamento do tubo neural mostraram que a
reposição enzimática foi introduzido na práti- suplementação dietética com folato em mulhe-
ca clínica na década de 1990. res pouco antes e durante a fase inicial da gesta-
No Brasil, a Associação Brasileira de Porta- ção diminui esses riscos de ocorrência 33. Traba-
dores da Doença de Gaucher foi fundada em lho realizado no Chile 34 mostrou redução de
1994, tendo como objetivos a divulgação da 31,0% na incidência de defeitos de fechamento
patologia e a obtenção do tratamento pelo SUS do tubo neural após fortificação da farinha de
para os afetados. O trajeto inicial foi bastante trigo com 2,2mg/kg de ácido fólico.
tortuoso, incluindo liminares e mandatos judi- A Agência Nacional de Vigilância Sanitária
ciais para a compra do medicamento a partir (ANVISA), considerando as recomendações da
de 1995. Atualmente, a medicação é diretamen- OMS e da Organização Pan-Americana da Saú-
te custeada pelo MS, tendo sido, em 2002, esta- de (OPAS) quanto à fortificação de produtos
belecidos protocolo oficial para tratamento da alimentícios com ferro e ácido fólico, regula-
doença e centros de referência estaduais para mentou tal fortificação no Brasil 35. A partir de

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ATENÇÃO AOS DEFEITOS CONGÊNITOS NO BRASIL 1061

junho de 2004, tornou-se obrigatória a fortifica- Levantamento realizado na cidade de Porto


ção das farinhas de trigo e milho com 150mcg/ Alegre, cruzando dados do Sistema de Nascidos
100g de ácido fólico. Assim é possível que haja Vivos com óbitos cuja causa básica foi uma
uma diminuição da incidência de defeitos de malformação congênita, registrados no Siste-
fechamento do tubo neural no Brasil, embora ma de Informação de Mortalidade, mostrou um
talvez a fortificação das farinhas apenas não sub-registro de 60,7% para as malformações
seja suficiente, considerando, além das dimen- congênitas na declaração de nascimento 39. Es-
sões continentais do país, as diversidades dos se dado é fundamental para alertar para a sub-
hábitos alimentares nas regiões. Estudos epi- utilização do Campo 34; sua introdução ape-
demiológicos para aferir a real eficácia da me- nas será relevante para programas relaciona-
dida adotada deverão ser programados. dos aos defeitos congênitos caso seja imple-
mentado de forma efetiva, com o reconheci-
b) Programa Nacional de Imunizações mento da importância do dado. Na cidade de
Porto Alegre, o interesse da municipalidade,
O vírus da rubéola é altamente teratogênico, aliado a um serviço de referência em genética
podendo levar a óbito intra-uterino e malfor- clínica com experiência em monitoramento de
mações fetais, sendo a prevenção da síndrome defeitos congênitos, fez surgir um programa de
da rubéola congênita a principal finalidade da atendimento a crianças com defeitos congêni-
vacinação contra rubéola 36. A partir da segun- tos 40. Programas semelhantes poderão vir a
da metade da década de 1990, a vacina MMR ser desenvolvidos em todo o país, aliados a um
(anti-sarampo, caxumba e rubéola) foi intro- registro nacional. A implementação efetiva do
duzida na faixa pediátrica no Brasil, deslocan- Campo 34 permitirá não apenas o conheci-
do, no entanto, o grupo mais acometido pela mento da realidade brasileira relacionada aos
rubéola de escolares/adolescentes para 20-29 defeitos congênitos, como uma melhor progra-
anos 37, aumentando os riscos de infecção em mação de ações de saúde para atendimento e
gestantes e síndrome da rubéola congênita. prevenção.
Atualmente, além da infância, é preconizada a
vacinação seletiva de adolescentes do sexo fe-
minino e de mulheres até 49 anos no pós-parto Considerações finais
ou pós-aborto imediato 36. Campanhas de va-
cinação contra rubéola em mulheres vêm ocor- Uma política visando às anomalias congênitas
rendo desde 2001 no país. A introdução da va- é urgente, conforme já demonstrado pela sua
cina é uma medida bastante eficaz, embora a crescente importância. É evidente que as en-
vigilância epidemiológica permanente seja fermidades genéticas e os defeitos congênitos
fundamental para o controle e erradicação da incidem significativamente na saúde de nossa
síndrome da rubéola congênita. população, acentuando-se, ainda mais, à me-
dida que o desenvolvimento sócio-econômico
c) Campo 34 da declaração de nascimento e sanitário favorecer a diminuição das enfermi-
dades infecciosas e nutricionais 2.
A partir de janeiro de 2000, a Declaração de Re- Segundo a OMS 32, para o melhor atendi-
cém-nascido Vivo (DN) – documento oficial mento aos defeitos congênitos, deve haver uma
emitido pelas maternidades, sem o qual os pais modificação no padrão dos serviços de saúde
não podem realizar o registro civil – conta com necessários para o atendimento da população,
um novo campo de preenchimento, o Campo desviando o foco de doenças agudas para o ma-
34 38. Tal item permite que sejam registradas as nejo de problemas crônicos e de programas ver-
anomalias congênitas apresentadas ao nasci- ticais para sistemas integrados de atenção pri-
mento de forma sistemática. mária. Tal modificação passa a ser especial-
Informação de teor semelhante àquela pos- mente necessária quando a queda da mortali-
sível de obter-se com o Campo 34 inexiste na dade infantil atinge patamar abaixo de 40-50/
maioria dos países, e tais dados podem vir a ser 1.000. Com tais cifras, um número significativo
de grande valia para a monitorização e preven- de crianças com condições potencialmente in-
ção dos defeitos congênitos no Brasil. O campo capacitantes, que morreriam sem diagnóstico,
não é de preenchimento obrigatório, embora não apenas sobrevivem, como passam a ser diag-
conte com a questão presença ou não de mal- nosticadas e a necessitar de intervenções mé-
formação congênita juntamente com espaço dicas e de suporte ao longo da vida. Segundo o
para sua descrição e classificação da anomalia Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
segundo o CID-10 6, possibilitando um registro (IBGE. Tábua Completa de Mortalidade – Am-
bastante completo dessas alterações. bos os Sexos – 2001 – Brasil. http://www.ibge.

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gov.br/home/estatistica/populacao/tabuade- tência. Por esses motivos, seu grau de utiliza-


vida/textoambossexos2001.shtm, acessado em ção pela população é reduzido e ainda não ti-
09/Out/2003), a mortalidade infantil no Brasil, veram impacto significativo na política de saú-
em 2001, foi de 32,6/1.000, já indicando a ne- de dos respectivos países 2. Nesse sentido, con-
cessidade de introdução na agenda de um en- figurar, no sistema de saúde, uma rede para o
foque específico para a atenção, suporte, trata- atendimento aos defeitos congênitos não deve
mento e prevenção dos defeitos congênitos. ser considerado um luxo ou um despropósito,
Apesar do enorme progresso registrado du- muito menos uma utopia.
rante a última década nos métodos de diagnós- As ações de saúde em matéria de genética
tico, prevenção e tratamento das enfermidades não diferem conceitualmente do resto das
genéticas, uma abordagem racional para a ques- ações de saúde e compreendem os diversos as-
tão dos defeitos congênitos dependeria menos pectos de diagnóstico, prevenção e tratamento
de tecnologia e mais de planejamento. Ao ana- das enfermidades de origem genética e dos de-
lisar o sistema político de saúde no país, é pos- feitos congênitos. Os objetivos visados são: pre-
sível observar, de forma absolutamente clara, o venção da ocorrência, atendimento dos pro-
não reconhecimento “oficial” da problemática blemas uma vez ocorridos (detecção e trata-
dos defeitos congênitos frente à insuficiência mento precoce), prevenção das complicações e
da resposta governamental à questão. Embora minimização do dano (reabilitação médica, psi-
os dados estejam facilmente disponíveis nas cológica e social) 41. É, no entanto, indispensá-
bases de dados da saúde, é possível que os mes- vel que esses programas não sejam concebidos
mos ainda não tenham vindo à tona devido a isoladamente, mas sim estreitamente integra-
não sensibilização específica do corpo técnico dos aos demais programas de saúde 41.
do MS. Ações, no Brasil, principalmente no No Brasil, embora a maioria dos serviços
sentido da organização do atendimento inicial, continue atuando de forma individual, alguns
diagnóstico, exames complementares, estraté- já estão mais integrados com a saúde comuni-
gias de tratamento disponíveis e estabelecimen- tária. Trabalhos recentes têm deixado um pou-
to de rotinas de acompanhamento a longo pra- co de lado os assuntos mais técnicos, concen-
zo são recomendadas. Também é fundamental trando-se na discussão de como a genética clí-
ser mencionado o papel da prevenção, através nica pode trazer melhorias para a vida da co-
de campanhas educativas e da ampliação do munidade. Faria et al. 42 e Brunoni 43 reforçam
acesso ao aconselhamento genético. Finalmen- a importância do reconhecimento e inserção
te, porém não menos importante, a educação e de fato da especialidade no SUS, contemplan-
a sensibilização não apenas do público, como do a formação de grupo de trabalho com su-
também dos profissionais de saúde aos defei- porte governamental, visando traçar recomen-
tos congênitos deverão ser estimuladas. dações para a implementação e melhoria dos
Conforme já mostrado, o processo de en- serviços de genética clínica e médica no país.
trada na agenda da questão dos defeitos con- Visando à elaboração de programa de gené-
gênitos vem ocorrendo de forma lenta e tími- tica clínica no Brasil, é fundamental que haja
da. Embora algumas ações já tenham sido bem um levantamento o mais completo possível so-
implementadas, um ponto crucial para a abor- bre as ações já existentes relacionadas aos de-
dagem da questão como um todo não vem sen- feitos congênitos, conforme apresentado neste
do contemplado: a organização da rede de ser- artigo, além de delinear o perfil dos serviços já
viços em genética. Na América Latina, desde a estabelecidos no país. Compilação de informa-
década de 70, foram criados serviços de genéti- ções sobre os serviços e propostas para inte-
ca isolados, em geral como parte de estabeleci- gração da abordagem aos defeitos congênitos
mentos hospitalares ou associados a escolas de no âmbito do SUS foram recentemente apre-
medicina e institutos de pesquisa. Esses cen- sentadas 7. Deve-se considerar que esses cen-
tros desenvolvem ações de diagnóstico e asses- tros já estruturados deveriam formar a coluna
soramento genético, particularmente no cam- vertebral de qualquer plano organizado que de-
po das alterações cromossômicas, malforma- cida pôr em prática medidas de diagnóstico,
ções congênitas e retardamento mental. Em- prevenção e tratamento das enfermidades ge-
bora a modalidade operacional desses centros néticas no âmbito comunitário 2. A configura-
varie muito e dependa de circunstâncias locais, ção em rede (regionalizada, hierarquizada e
quase sempre os serviços prestados são incom- funcional, conforme preconizado pelo SUS)
pletos, desvinculados dos programas gerais de dos serviços em genética clínica seria um item
assistência médica e baseados somente na de- crucial para a abordagem e atendimento aos
manda espontânea ou derivada dos poucos defeitos congênitos de maneira integral, reso-
profissionais de saúde que sabem de sua exis- lutiva e, sobretudo, democrática.

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ATENÇÃO AOS DEFEITOS CONGÊNITOS NO BRASIL 1063

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