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evento, segundo a qual “o principal objetivo direciona-se para o debate em torno de uma
sobre Literatura e Cultura, resolvi trabalhar a relação entre essas duas instâncias,
construtivismo cultural passou a ser responsável por quase tudo. Assistimos, então, à
primazia do cultural, em que as premissas da sociedade são cada vez mais vistas como
culturalmente construídas.
estudos literários, parece não ter havido grandes mudanças. Estudar, por exemplo, uma
Antonio Cândido sempre fez isso de forma admirável. A sua crítica sociológica é um
Assim, o contexto, isto é, o externo, ao ser incluído na obra literária, passa a ser um
elemento estruturante, contribuindo para a realidade ficcional. Ora, não é bem isso o que
acontece com o processo interpretativo pelo viés dos Estudos Culturais, porque aqui a teoria
é politizada, visando sempre a uma leitura política dos textos literários. Isto é, uma leitura
Com a avalanche dessa nova disciplina, os estudos literários foram invadidos por
estudioso do texto literário não pode perder de vista a questão da linguagem, elemento
estruturante da obra.
literatura não participa mais da formação intelectual do indivíduo, pois os jovens não entram
em contato direto com os textos. O acesso à literatura, agora, é mediado pela história
OGlobo de 17/04, onde ele fala de sua paixão pelos clássicos. Começa assim:
Anais do II Seminário Nacional Literatura e Cultura
Vol. 2, São Cristóvão: GELIC, 2010. ISSN 2175-4128
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Falando de Bandeira, João Cabral e Vinicius, Castello diz – “eles são os meus
clássicos. Os livros que me fundaram.” (p.4) Isto é, textos que são fundantes na formação
Esse é o autêntico contato com o texto literário e não aquele onde ele fica
comprometido pela parafernália teórica, que o abafa, tornando-o pretexto para outras
andaimes, mas não se deve substituir o primeiro pelos segundos: uma vez construído o
abafando o texto, agora quase pretexto para outras discussões. Se isso pode ser visto como
enriquecimento, por outro lado, revela uma descaracterização, até certo ponto, prejudicial.
Bastante discutíveis são certas novidades veiculadas pela mídia impressa. Em O Globo, de
17/4, encontramos uma crônica de Zuenir Ventura, intitulada “Uma tuiteratura?”, onde ele,
muito sutilmente, critica a inovação da Academia Brasileira de Letras que criou um concurso
de microcontos para textos com apenas 140 caracteres. Ele termina dizendo: “Por ora,
pergunto, como se estivesse tuitando: querer fazer literatura com palavras de menos não é
pretensão demais?” (p.7)Talvez vocês estejam achando que isso seria uma forma de
incentivo ao fazer literário. Concordo, mas e o resultado não deixaria a desejar do ponto de
vista literário?São questões que me inquietam. Aprecio em Todorov a abertura com que se
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refere ao ensino da literatura. Diz ele: “ Não ‘assassinamos a literatura’ (retomando o título
de um panfleto recente) quando também estudamos na escola textos ‘não literários’, mas
quando fazemos das obras simples ilustrações de uma visão formalista, ou niilista, ou
vozes das minorias e para a produção de múltiplas verdades. Conquistas muito importantes
atenção de vocês para esse lado produtivo do culturalismo, presente nos saberes
homem e mulher. Já em 1949, Simone de Beauvoir, como vimos, dizia que não se nascia
mulher, que se tornava mulher. As feministas do final do século levaram essa afirmação às
últimas conseqüências de seu enunciado, uma vez que para elas não existem mulher e
homem enquanto categorias universais. Porque tudo é construção. Lembro-me que, quando
estive na Universidade de Cincinnati, nos EEUU, há anos atrás, vi muitas alunas usando
bottons onde se lia – “Anatomy ist not detiny”.Verdadeira batalha contra a determinação do
identidades. Estéticas, estilos e preferências sexuais parecem ser uma questão de escolha.
instigar a uma reflexão mais séria a propósito da literatura. Se a proposta culturalista foi
benéfica aos estudos feministas, abrindo espaço para a produção de autoria feminina, antes
literários, ocultando-lhe a especificidade. Como fazer para conciliar essa abertura propícia à
teoria feminista com a retomada do prazer que a literatura proporciona? Aquele prazer que
nos é ensinado através dos estudos literários, onde o texto é priorizado e, como tal, fonte
palavras de Todorov: “Hoje, se me pergunto por que amo a literatura, a resposta que me
Mais densa e mais eloqüente que a vida cotidiana, mas não radicalmente
diferente, a literatura amplia o nosso universo, incita-nos a imaginar outras
maneiras de concebê-lo. Somos todos feitos do que os outros seres humanos nos
dão: primeiro nossos pais, depois aqueles que nos cercam; a literatura abre ao
infinito essa possibilidade de interação com os outros e, por isso, nos enriquece
infinitamente. Ela nos proporciona sensações insubstituíveis que fazem o mundo
real se tornar mais pleno de sentido e mais belo. Longe de ser um simples
entretenimento, uma distração reservada às pessoas educadas, ela permite que
cada um responda melhor à sua vocação de ser humano. (p.24)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Anais do II Seminário Nacional Literatura e Cultura
Vol. 2, São Cristóvão: GELIC, 2010. ISSN 2175-4128
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CASTELLO, José.Bandeira no trampolim. In: Prosa & Verso. O Globo, 17 de abril de 2010.