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121
Black
Gestão do Uso
dos Recursos Pesqueiros
na Amazônia
Gestão do Uso
dos Recursos Pesqueiros
na Amazônia
Manaus • 2005
Catalogação na fonte
Bibliográfica
ISBN 85-7300-188-7
APRESENTAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
CAPÍTULO 1 • Panorama do ordenamento da pesca
continental na Amazônia Legal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Em busca da pesca sustentável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Conceitos norteadores no manejo convencional da pesca . . . . . . . . . 10
CAPÍTULO 2 • O desenvolvimento pesqueiro na Amazônia . . 13
Período anterior à década de 1960 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
Período entre 1960 e 1988 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
Após 1989 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
CAPÍTULO 3 • A crise do peixe . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Conflitos de pesca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
Modificações nos ecossistemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
Sobrexplotação dos estoques . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
CAPÍTULO 4 • Elementos da gestão dos recursos aquáticos . . . 27
Questões sobre manejo comunitário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
Modelo de reserva de lagos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Mediação entre atores sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
Potencial e riscos da pesca amadora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
CAPÍTULO 5 • Ordenamento pesqueiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
Linhas de ação para o ordenamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Diretrizes estratégicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Como se faz ordenamento pesqueiro? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
Parcerias para um ordenamento eficaz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
Organização social e ordenamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
Atores do ordenamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
Organizações de base . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
Entidades de pesca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
Entidades envolvidas com o turismo e a pesca amadora . . . . . . . . . . 46
Estado e consumidor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
O
Brasil é privilegiado em termos de disponibilidade de
recurso naturais. No entanto, essa disponibilidade se
apresenta de forma muito variada, no espaço e no tempo,
nas diferentes regiões do país.
A manutenção das situações de abundância ou de reversão de
quadros de escassez, exige a adoção de medidas, planos, ações e
princípios norteadores para que se processe uma gestão que permita
aos diferentes segmentos da sociedade o direito ao uso dos recursos
naturais de forma justa e responsável.
Nesse aspecto, a pesca continental brasileira, especialmente a ocorrente
na Amazônia Legal, apresenta-se hoje com um elevado nível de
complexidade, exigindo um esforço conjunto e interativo de diferentes
atores sociais no sentido de que sejam estabelecidas com clareza as
regras para operacionalização de uma gestão integrada com instrumentos
de controle e estratégias de aplicação muito bem definidas.
O maior desafio é o de garantir acesso para todos, em especial
para as populações excluídas e, ao mesmo tempo, manter a
disponibilidade dos recursos pesqueiros em quantidade e qualidade
para as presentes e futuras gerações. 7
O
modelo de desenvolvimento pesqueiro, concebido na
década de 1960 e desenvolvido até o final da década
de 1980 pela Superintendência do Desenvolvimento
da Pesca – Sudepe, buscava principalmente o aumento da produção.
A pesca era vista de forma setorial, desconsiderando-se os fatores
sociais, culturais e ambientais que interagem para o seu
desenvolvimento.
Com a criação do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama, as questões ambientais
foram internalizadas no gerenciamento do uso dos recursos naturais.
Ao mesmo tempo, passou-se a buscar modelos de gerenciamento
voltados à gestão integrada das várias atividades atuantes sobre
determinado ecossistema.
Conceitos norteadores no
manejo convencional da pesca
Em termos dos conceitos adotados, várias questões devem
ser avaliadas. O modelo convencional para o manejo da pesca
10 no Brasil baseou-se em três suposições básicas:
12
O desenvolvimento
pesqueiro
na Amazônia
N
o desenvolvimento da atividade pesqueira na Amazônia
e das ações do Estado para incentivá-la distinguem-se
claramente três períodos: antes da década de 1960, os
anos entre 1960 e 1988 e o período posterior a 1989.
Após 1989
Os últimos anos do século XX marcam uma nova configuração
nas forças econômicas atuantes na Amazônia. Ao mesmo tempo
18 em que se consolida a ocupação humana e cresce o desmatamento,
Ainda que não seja posta na prática de forma suficiente, esta filosofia
constitui, hoje em dia, o discurso das autoridades nacionais e regionais.
Com a criação do Ibama surgiram modelos de gerenciamento
que buscam gerir de forma integrada as várias atividades atuantes
sobre determinado ecossistema. Nesse contexto se insere o Programa
de Pesca Continental / Gerenciamento por Bacias Hidrográficas.
A partir de 1993, foram desenvolvidos mecanismos gerenciais
(fóruns de discussão, incentivos à participação, integração intra-
institucional, contextualização
inter-setorial da pesca), que
possibilitaram iniciar a gestão
De forma ainda incipiente, integrada. Tal estratégia fortaleceu-
a pesca esportiva começa a se a partir de 1995, com o
estabelecimento, pelo governo
interagir com as demais
federal, de diretrizes claras sobre
modalidades de pesca na região. gestão integrada e da reorganização
Por ser uma atividade que necessita institucional desenvolvida pelo
da integridade dos ecossistemas Ibama e que teve forte contribuição
das experiências do projeto de
para sua sobrevivência, torna-se
cooperação técnica entre o Ibama
uma potencial aliada de outras e a Agência de Cooperação Técnica
iniciativas que visam ao Alemã - GTZ, através do Projeto
desenvolvimento sustentável. Iara (Ibama, 1995).
Ao lado disso, uma série de
iniciativas, como o Programa de
Desenvolvimento do Ecoturismo na Amazônia Legal – Proecotur, o
Programa Nacional de Desenvolvimento da Pesca Amadora – PNDPA,
e o Programa Piloto de Proteção das Florestas Tropicais do Brasil –
PPG7, especialmente por meio de um dos seus projetos, o Projeto
Manejo dos Recursos Naturais da Várzea - ProVárzea, constituem
reforços à iniciativa de trazer sustentabilidade para a pesca na região,
por meio de incentivo a ações e à participação da sociedade civil
20 neste processo.
A crise do peixe
O
processo tradicional de ordenamento pesqueiro apresenta
evidências de insucesso em todo o mundo. Segundo
a FAO, 75% dos estoques pesqueiros marinhos,
comercialmente importantes do mundo, encontram-se inteiramente
sobrexplorados, esgotados ou em fase de lenta recuperação.
Em quase todos os lugares, a pesca, que sustentou comunidades
por gerações, tem sofrido acentuado declínio, levando à exaustão
dos estoques e até mesmo a extinção de espécies comerciais,
como o bacalhau do Atlântico, por exemplo.
No Brasil, pode-se afirmar que o ordenamento das principais
pescarias tem sido marcado por muitos insucessos. Como principais
causas, pode-se citar:
• o princípio do “livre acesso”, que sempre caracterizou a
utilização dos estoques pesqueiros e que contribui para
dificultar a efetiva aplicação das medidas de regulamentação;
25
26
Elementos
da gestão
dos recursos
aquáticos
H
á pouca informação científica disponível sobre a pesca,
especialmente na Amazônia. Apenas nos últimos 10
anos, os projetos de pesquisa começaram a gerar dados
sistemáticos sobre captura, esforço e biologia de alguns estoques
de peixes, bem como sobre aspectos sociais e econômicos dos
conflitos que ocorrem nos diversos sistemas de pesca.
Esse tipo de informação vem proporcionando a base para
que se formulem novas estratégias de manejo. Ao mesmo tempo,
as regulamentações pesqueiras existentes têm sido minimamente
executadas. Em geral, estas se baseiam em suposições e consistem
em esforços isolados e esporádicos de agências de governos regionais.
Ao mesmo tempo, a política pesqueira governamental
está começando a mudar, passando de um enfoque tecnocrata,
que tem caracterizado a política pesqueira brasileira dos
últimos anos, para uma abordagem descentralizada e
participativa. Como conseqüência, os movimentos de base
estão se expandindo, para dar suporte ao manejo comunitário.
Evidentemente, trata-se de uma difícil tarefa, de implantar medidas
destinadas a regular a pesca amazônica. Entretanto, existe consenso 27
33
34
Ordenamento
pesqueiro
E
ntende-se por ordenamento pesqueiro um conjunto de
ações empreendidas pelo Poder Público, mediante solicitação
ou não da sociedade, para o uso sustentado dos recursos pesqueiros.
Nesse sentido, o ordenamento tem como objetivo desenvolver
mecanismos para o uso sustentável dos recursos pesqueiros adequados
à realidade regional, de forma a equacionar os conflitos causados
pela apropriação destes recursos.
A competência e a responsabilidade pelo ordenamento são
do Poder Público. Por meio de leis, decretos, portarias, instrumentos
normativos e ações, o Poder Público induz a sociedade como
um todo a conservar os estoques pesqueiros, explorando-os dentro
de critérios de racionalidade econômica, social e ecológica.
No entanto, a própria sociedade também é co-responsável
pelo ordenamento pesqueiro. Afinal, é ela que em ações diárias
(pesca, poluição, degradação ambiental) pode ameaçar ou zelar
pelo equilíbrio dos estoques pesqueiros.
Atualmente, as principais leis que regulamentam toda a atividade
pesqueira no Brasil são, em linhas gerais, o Decreto-Lei nº 221,
de 28 de fevereiro de 1967, a Lei nº 7679, de 23 de novembro de 35
Diretrizes estratégicas
Objetivando orientar o ordenamento do uso dos recursos pesqueiros
para um trabalho conjunto, participativo e co-responsável, envolvendo
os diversos segmentos usuários desses recursos, o Ibama estabeleceu,
em 1997, algumas diretrizes estratégicas para nortear o processo.
Segundo essas diretrizes, o ordenamento pesqueiro deve ser
realizado:
Atores do ordenamento
A tarefa de aplicar os instrumentos necessários ao ordenamento
da pesca é competência do Estado. Existem, porém, outros atores 43
Organizações de base
Podem-se citar as seguintes organizações de base ou locais,
com atuação direta na pesca ou junto aos pescadores:
• Associação de Armadores de Pesca;
• Federação e Colônias de Pescadores;
• Associação e Federação das Indústrias de Pesca;
• Sindicato dos Pescadores;
• Sindicato das Indústrias de Pesca;
• Cooperativas de Pesca;
• Movimentos Estaduais dos Pescadores;
• Comissão Pastoral dos Pescadores;
• Associações de Pescadores; e
• Conselhos Regionais de Pesca.
Essas organizações ocupam espaço na atividade pesqueira ou
junto aos pescadores, sem, no entanto, integrar-se de forma organizada
na gestão pesqueira. Como características comuns:
• possuem intervenção no exercício da pesca;
• trabalham numa visão quase que exclusivamente corporativa;
• são organizações legítimas, com todo o direito de se fazer
representar em qualquer fórum de discussão ou de decisão
que envolva a atividade pesqueira. Não devem ser tratadas
como simples observadoras, mas ter poder de deliberação
e paridade, de forma a contribuir para o aperfeiçoamento
44 da gestão da atividade pesqueira;
Entidades de pesca
Devem ser incluídas também as entidades de representação da atividade
pesqueira nos fóruns de gestão. Estas devem representar os interesses
do setor e podem tornar-se importantes organismos na administração
dos recursos pesqueiros. São elas:
• Confederação Nacional dos Pescadores – CNP;
• Conselho Nacional de Pesca e Aquicultura – Conepe; e
• Movimento Nacional dos Pescadores – Monape.
Na administração dos recursos pesqueiros é imperiosa a
participação das entidades nacionais e locais. Não há dúvida
que esses são os organismos que têm representação e autoridade
para participar de fóruns da pesca. Há que se adequar essa
participação, considerando:
• o “peso” e a dimensão que cada uma dessas organizações
possui;
• se os interesses representados são ou não os legítimos
e intrínsecos ao setor;
• até que ponto a organização reflete os interesses do
grupo que representa; e
• até que ponto a organização funciona como correia
de transmissão de interesses hegemônicos antagônicos
à essência de seus próprios interesses.
As atuais entidades nacionais têm dificuldade em representar
o universo de interesses de uma atividade tão cheia de conflitos
como a atividade pesqueira. Englobam uma série de diferenças
entre tipos de pesca, estoques pesqueiros e interesses de grupos
econômicos. Por mais que se empenhe, a Confederação Nacional 45
Estado e consumidor
O elemento tido como “de fora” no modelo de gestão de
46 recursos pesqueiros é o consumidor, ou melhor, sua entidade
47
48
O Ibama e a
gestão da pesca
O
Ibama, como órgão executor da política de gestão
dos recursos pesqueiros de águas continentais, tem como
atribuição zelar pela preservação das espécies e do meio
ambiente, com a competência de normatizar as condições de
uso e sustentabilidade do recurso.
Observadas estas premissas, a Coordenação Geral de Gestão
dos Recursos Pesqueiros tem como missão buscar a sustentabilidade
no uso desses recursos. O conceito principal, aqui inserido como
o de “gestão do uso dos recursos pesqueiros”, pressupõe a formulação
e a aplicação de instrumentos, normas, critérios e padrões que
concorram para:
• a definição do volume a ser capturado;
• esforço de pesca máximo permitido;
• modalidades de pesca;
• períodos, áreas e petrechos permitidos;
• tamanhos mínimos de captura por espécies;
• aspectos relacionados aos riscos e impactos gerados na
introdução, reintrodução, transferência e translocação de
espécies utilizadas na aqüicultura; e 49
Princípios estratégicos da
gestão dos recursos pesqueiros
• Garantir a participação da sociedade civil organizada na
50 discussão de propostas para a gestão dos recursos pesqueiros,
Embasamento técnico-científico
Este tem por objetivo dar suporte às ações de ordenamento propostas,
52 principalmente no tocante ao estabelecimento de:
Formação do processo
A proposta de ordenamento para a bacia, bem como a minuta
de Instrução Normativa gerada, deverão ser estruturadas dentro
de um processo. Este deverá ser encaminhado à Coordenação
Geral de Gestão dos Recursos Pesqueiros, na sede do Ibama,
para avaliação técnica e jurídica.
55
56
Mecanismos
de controle
E
ntre as medidas gerais de ordenamento vigentes para a
Amazônia, algumas merecem ser discutidas de forma mais
detalhada. Essas medidas tratam de:
Defeso
Registros e licenças
Pescador amador
Embarcações Pesqueiras
O artigo 6 do Decreto-Lei nº 221/67 estabelece que toda embarcação
nacional ou estrangeira que se dedique à pesca deverá ser inscrita
no Cadastro Nacional de Embarcações Pesqueiras, da Secretaria
Especial de Aquicüiltura e Pesca, mediante o pagamento anual
de taxa, variável de acordo com o comprimento total da embarcação,
cumpridas, ainda, as exigências das autoridades marítimas, quando
for o caso.
Caracterizam-se como embarcações pesqueiras aquelas que se
dedicam exclusiva e permanentemente à captura, transporte ou
pesquisa de animais e vegetais aquáticos e estão devidamente
autorizadas pelo Ministério da Agricultura.
Para obter licença para a embarcação de pesca, o proprietário
da embarcação deve se dirigir à Secretaria Especial de Aqüicultura
e Pesca, portando os seguintes documentos:
• documento que comprove a propriedade da embarcação,
emitido e ratificado pela instituição competente da Marinha
do Brasil;
• formulário Cadastro Nacional de Embarcações Pesqueiras
devidamente preenchido.
A efetivação do registro fica condicionada à verificação, pela
Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca,da existência de: 63
64
Gestão
participativa
A
participação popular, vista como parte integrante do
desenvolvimento, deve ser considerada como base para
a tomada descentralizada de decisões. Isto implica na
intervenção direta dos diferentes atores sociais na produção de
conhecimento, planejamento, execução, controle, avaliação e no
redimensionamento das ações a partir de demandas locais.
A adoção desta modalidade de gerenciamento ambiental, que
envolve os diferentes grupos de agentes relacionados com a atividade
pesqueira, atende a um preceito constitucional. Com a redemocratização
em curso no Brasil, apresenta-se como condição indispensável
para viabilizar qualquer proposta de desenvolvimento sustentável.
O Ibama acredita que a participação da sociedade nesse processo
poderá ser efetivo se houver organização e representação legítimas
nas instâncias de tomada de decisões. Por esta razão, uma das
diretrizes básicas para implementar e consolidar um processo
de Gestão Participativa consiste em fortalecer as estruturas
organizacionais dos vários tipos de usuários envolvidos. Desse
modo será possível a sua integração e uma interlocução formal
com legitimidade para representar os diferentes interesses. 65
Acordos de Pesca
O declínio na produtividade pesqueira e a ausência de autoridade
66 governamental na regulamentação da pesca levaram várias
Problemas
Alguns acordos restringem o acesso a certos corpos d’água
para certos grupos de usuários, para certos petrechos, para
certas épocas do ano, para certos métodos de pesca e para
certas espécies. Por isso, os acordos freqüentemente entram
em conflito com a legislação em vigor. Afinal, pela lei todos
os corpos d’água estão ligados a um sistema fluvial principal,
considerado de domínio público e, portanto, aberto a qualquer
pescador devidamente registrado e autorizado. Por outro
lado, existem também acordos de pesca que não excluem
ninguém, mas apenas definem obrigações para aqueles que
concordam.
Como os acordos de pesca são fruto de um processo de
discussão envolvendo membros das comunidades, na maioria 67
2– Reuniões comunitárias
• Apresentar a problemática, considerando a legislação vigente,
assim como a proposta de solução e os critérios do acordo
de pesca.
• Discutir as diferentes idéias e propostas para se chegar a
um consenso, considerando a legislação vigente.
• Eleger representantes das comunidades para encaminhar,
discutir e defender suas propostas na Assembléia
Intercomunitária.
• Convidar, para acompanhamento técnico, representantes
68 do Ibama e de outras instituições parceiras.
3– Assembléia Intercomunitária
• Convidar os representantes de todas as comunidades envolvidas
no acordo, assim como os demais usuários e/ou grupos
de interesse nos recursos naturais da área a ser manejada,
tais como: colônia de pescadores local e de outros municípios
que porventura utilizam o ambiente/área, associações,
organizações ambientalistas, sindicatos, fazendeiros etc.
• Apresentar as dife-
rentes propostas exis-
tentes. A crescente consciência social e
• Agrupar as propostas. econômica da necessidade de
• Aperfeiçoar as pro- conservação dos recursos pesqueiros,
postas.
como garantia da diversidade
• Convidar, para
acompanhamento biológica futura e da sua
técnico, representantes sustentabilidade econômica, começa
do Ibama e de outras a se refletir em pressões de mercado.
instituições parceiras.
5– Assembléias Intercomunitárias
6– Encaminhamento ao Ibama
• O Acordo de Pesca, acompanhado da Ata da Assembléia
q u e o a p ro v o u ( c o n t e n d o a s a s s i n a t u r a s d o s
representantes das comunidades e demais participantes),
é protocolado no Ibama mediante ofício solicitando
sua regulamentação por meio de Instrução Normativa
complementar.
• A gerência executiva do Ibama irá elaborar parecer técnico
e minuta da IN e encaminhará para CGREP para formalização.
8– Monitoramento
• Recomenda-se que todo Acordo de Pesca seja monitorado
com base em métodos e indicadores fáceis de serem
cumpridos.
• Recomenda-se que o plano de monitoramento
estabelecido seja acompanhado de técnico do órgão
ambiental em âmbito local, tais como ONGs e órgãos
de meio ambiente.
9– Avaliação
• Com base nas informações disponibilizadas pelo
monitoramento, deverão ser realizadas avaliações anuais
do Acordo de Pesca para análise dos resultados e alterações
70 que se fizerem necessárias.
Regras de pesca
As regras de pesca integram normas culturais locais (mitos,
tabus), bem como econômicas e políticas (sistema de patronagem,
acordos) e regras externas (política governamental, mercado).
As regras normalmente envolvem as seguintes características
da pesca:
• aparelho de pesca;
• local de pesca;
• espécie de peixe;
• estação do ano;
• tecnologia de transporte e armazenamento; e
• função da pesca (comercial, subsistência e amadora).
O estabelecimento de regras de uso baseia-se no conhecimento
ecológico sobre o desenvolvimento e o comportamento das espécies,
bem como na viabilidade de monitoramento da atividade pesqueira.
A principal razão apontada para o sucesso dos acordos de
pesca tem sido as constantes checagens e ajustes nas regras, de
acordo com as demandas socioeconômicas e ecológicas (Castro
72 et al., 2001).
Conselhos de Pesca
Os Conselhos Regionais de Pesca constituem uma boa alternativa
para organizar as discussões. Tratam-se de entidades jurídicas,
ou seja, associações civis que têm como objetivo promover a
preservação e conservação dos recursos naturais, principalmente
da pesca. Representam os setores de suas respectivas regiões,
que buscam promover e
organizar as discussões sobre
pesca. A constituição de um
Conselho Regional de Pesca A pesca esportiva, uma atividade
é feita a partir de uma econômica de importância
organização civil, com estatuto
crescente, introduz conceitos-chaves,
social e registro de pessoa jurídica
(CGC). como o do “pesque-e-solte”, em que
se privilegia o contato com a
Incentivos de natureza e a educação ambiental
mercado, com a do pescador esportivo.
certificação e o
ecoturismo
Além da adoção de processos participativos de discussão,
aprovação, aplicação e avaliação das medidas de manejo, deve-se
também incorporar conhecimento econômico sobre a atividade.
Uma grande novidade no enfoque atual do processo de ordenamento
pesqueiro vem emergindo com a certificação da pesca.
A crescente consciência social e econômica da necessidade de
conservação dos recursos pesqueiros, como garantia da diversidade
biológica futura e da sua sustentabilidade econômica, começa a
se refletir em pressões de mercado.
Certificação – A partir da iniciativa de organismos não-
governamentais, como o Fundo Mundial para a Natureza – WWF,
e de empresas privadas, como a Unilever – grande multinacional 73
Fiscalização participativa
A fiscalização é tarefa-chave para a implementação dos Acordos
de Pesca. A falta do cumprimento dos acordos por alguns pescadores
locais e de fora é tida pela maioria dos pescadores como principal
problema para a implementação de uma co-gestão da pesca.
Nesse sentido, e até como uma fase do processo de co-gestão,
estabeleceu-se uma forma sistemática de participação da comunidade,
complementar à atuação do Estado – a fiscalização participativa.
A fiscalização participativa tem objetivos e princípios próprios.
A participação da comunidade pesqueira na fiscalização visa
principalmente mudar o papel dos usuários. De objetos, tornam-
se atores na tarefa-chave de fiscalização, agora sugerindo, controlando
74 e monitorando a sua execução e seus resultados.
Guia de Pesca
Se a ênfase da atuação do Agente Ambiental Voluntário recai
sobre a fiscalização, a do Guia de Pesca refere-se muito mais à
ação educativa junto ao turista-pescador. Desde 1998, o Ibama,
por meio do Programa Nacional de Desenvolvimento da Pesca
Amadora, vem formando guias de pesca em parceria com os
Sebrae estaduais e prefeituras municipais, governos estaduais,
associações de turismo, associações de pescadores artesanais, ONGs.
O objetivo é melhorar a capacitação profissional dos guias/piloteiros,
para seu crescimento pessoal, social e econômico, bem como
preparar hotéis, pousadas e estruturas receptivas do turista de
pesca para que ofereçam serviços com melhor qualidade.
O treinamento aborda temas como ecologia, biologia, pesque-
e-solte e iscas artificiais. Além de se tornarem agentes do incentivo
ao turismo em sua região, essas pessoas começam a associar a
defesa do meio ambiente à continuidade de sua atividade profissional,
constituindo-se em importantes agentes educativos e fiscalizadores
do meio ambiente.
76
D
o ponto de vista legal, o ordenamento consiste em um
conjunto de preceitos ou métodos para o tratamento e
a exploração de determinado assunto ou área de atuação.
Pode-se falar de ordenamento florestal, em se tratando de matas
e florestas, e de ordenamento pesqueiro, quando o assunto está
ligado à área da pesca.
Sendo o ordenamento um “conjunto de preceitos”, vale dizer
que o ordenamento pesqueiro é um conjunto de regras de
procedimentos e normas legais que regem a atividade da pesca.
A Constituição Federal ocupa o topo da escala hierárquica no
ordenamento jurídico. Não se subordina a qualquer outro parâmetro
normativo supostamente anterior ou superior. Todas as demais
normas devem se conformar a ela (Canotilho & Moreira, 1991).
Logo, a Constituição é a referência obrigatória de todo o
sistema jurídico, inclusive dela própria, uma vez que estabelece
no seu próprio corpo as formas pelas quais poderá ser reformada,
ou seja, por intermédio do processo de emenda ou de revisão.
Conflito de competências
O último parágrafo do artigo 24 da Constituição Federal
estabelece que “a superveniência da lei federal sobre normas gerais
suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.” As
normas gerais estabelecem princípios fundamentais. No âmbito
da legislação concorrente, portanto, compete à União estabelecer
as normas gerais. No que tange à pesca, o Decreto-Lei nº 221/67
é considerado a norma geral que rege a matéria.
Contudo, conforme o disposto na própria Constituição, de
forma harmônica e observada a superveniência da lei federal, os
estados poderão legislar sobre a pesca, procedimento já adotado
por Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, Amapá,
Acre, Amazonas, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Pará, que
promulgaram leis próprias e nas quais tratam de suas especificidades.
O essencial é que o legislador estadual observe sempre a legislação
federal (normatizadora) e, na ausência desta, utilize plenamente
a competência para legislar. As leis estaduais regulamentam e
proíbem tão somente no que diz respeito às suas peculiariedades
ou, ainda, de forma suplementar, enriquecendo, ampliando os
atos normatizadores federais existentes, cuidando para não lhes
ser contrários, sob pena de perderem a sua validade. 79
Decreto-Lei no 221/67
Lei no 7.679/88
Lei no 9.605/98
A Lei de Crimes Ambientais estabelece sanções penais e
administrativas derivadas das condutas e atividades prejudiciais
82 ao meio ambiente. É importante salientar o Capítulo V – Dos
Modalidades de pescadores
e registros necessários
O exercício da pesca em todas as suas modalidades, seja, profissional
ou amadora, deverá ser realizado mediante registros e matrículas.
A exigência de registro é estendida também às embarcações pesqueiras.
Para se conhecer melhor a obrigatoriedade de matrículas e registros,
é importante ter em mente alguns conceitos ditados pelo Decreto-
Lei no 221/67, com regulamentações adicionais dadas pelos Decretos
no 62.458/68 e 64.618/69 e pelas Leis no 6.586/78 e 9.059/95.
O Decreto-Lei no° 221/67, em seu artigo 26, ao conceituar o
pescador profissional, também determina a sua matrícula:
“Pescador profissional é aquele que, matriculado na repartição
competente segundo as leis e regulamentos em vigor, faz da pesca
sua profissão ou meio principal de vida”.
Pescador amador é aquele que pratica a pesca exclusivamente
para lazer e desporto, sem finalidade comercial. O exercício da
pesca amadora pode ser realizado de forma desembarcada (que é
86 aquela realizada na beira de rios, lagos ou mar) e embarcada,
A menos de 200 m de
Restrição de localização
confluências de rios, fechando
de redes
mais de 1/3 da largura
Proibição de épocas
de pesca (peixes de Época de defeso para reprodução
piracema, pirarucu)
Duplo licenciamento
O direito de associação
Associação é todo ato ou efeito de associar ou associar-se. É
um agrupamento permanente de pessoas com fins que não são
exclusivamente patrimoniais ou, ainda, a reunião de coisas para
obtenção de um efeito único.
As associações – pessoas jurídicas de direito privado - passaram
a ter legitimidade para agir em defesa do meio ambiente, sendo-
lhes possível propor, inclusive, ação civil pública, desde que
constituídas há pelo menos um ano, nos termos da lei civil e
que inclua, entre suas finalidades, a proteção ao meio ambiente,
ao consumidor, aos bens e direitos de valor artístico,estético,
histórico, turístico e paisagístico.
Um grupo de pessoas, ao se reunir para a formação de uma
associação, deverá, em princípio, formular o seu estatuto. Neste
estatuto deverão constar:
• a denominação, o fundo social, quando houver, os fins e a
sede da associação, bem como o tempo de sua duração;
• o modo como é administrada e representa a sociedade,
92 ativa e passivamente, judicial e extrajudicialmente;
93
94
Referências
Bibliográficas
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101
102
Anexo 1
Espécies de
interesse
comercial
da Amazônia
104
Anexo 2
Espécies
amazônicas
de interesse da
pesca amadora
106
Anexo 3
Espécies
sobrexplotadas
da Amazônia
114
Anexo 4
A pesca
amadora e os
pólos de ecoturismo
Definição
Tipos de áreas
120