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O problema

Jurem aA lc id e sCu n h a

/'\ p sic odiagnós t ic oé u m p ro c e s s o ,d e s e n - c o nvi vemcom o paci ente,i ncl usi vepor aque-,
L / ca d eadoquas es emp ree m v i s tad e u m e n - l a s que podem ser cl assi fi cadas como agentes
ca mi n ham ent o,que t e m i n íc i o n u ma c o n s u l - d e saúde mental (como professores,ori enta-
ta , a p a r t ir da qual s e d e l i n e i a mo s p a s s o sd o d o r es,padres,médi cos,etc.).
exa me , que c ons t it ui u m a d a s ro ti n a s d o p s r- Já em 1970, S haw e Lucasl embravamque
c ó l o g o c lí nic o. E nt r et a n to ,ta l ti p o d e a v a l i a - m u i tos_pai hesi
s tamem consi derarcerto com-
ç ã o d e c or r eda ex is t ên c i ad e u m p ro b l e m ap re - p o rtamento do fi l ho como moti vo de preocu-
vi o ,.q u e o ps ic ólogode v e i d e n ti fi c a re a v a l i a r, p a ção, al egando que mui tas cri ançaspodem
p a ra p o der c hegara um d i a g n ó s ti c o . a p r esentá-l o,no que mui tas vezestêm razão.
N ã o o bs t ant e,ent r e a e me rg ê n c i ad e s i n a i s F re qüentemente,é a fal ta -de di sti nção entre
ou si n tom as pr ec oc ese i n c i p i e n te s n , em sem- d e saj ustesocasi onai se prol ongados que faz
p re fá ce isde det ec t aro u d e i d e n ti fi c a r,e a c h e - c o m que as pessoasconfi em no tempo para
ga d a à pr im eir a c ons u l ta ,p o d e m s u rg i r mu r- q u e desapareçam.A s vezes.há certa tol erân- .
t a s d ú vi das ,f ant as iase b u s c a d e e x p l i c a ç o e s . c i a quanto a comportamentosque devem ser
qu e re tar dam a ajuda , p o d e m a g ra v a r o p ro - s u perados,sej a porque dei xaram de ser pro-
bl e ma e, ev ent ualm en te i,n te rfe re mn a o b j e ti - p o r ci onai sàs suas causas,porque uma deter-
vi d a d e d o r elat o do c a s o . m i nada i dade foi ul trapassada,por normas
Di zem que " os s in to m a s e s tã o p re s e n te s m a i s fl exívei sdo ambi ente ou, ai nda, porque
q u a n d o os lim it esda va ri a b i l i d a d en o rma l s ã o a l guém da famíl i aapresentavaos mesmossi n-
ul tra p a ss ados "( Y ager& Gi tl i n , 1 9 9 9 , p .6 9 4 1 . to mas na i nfânci a.
E n tã o , s e c ons ider ar m o sa a p a re n tec o n ti n u i - Quando o probl ema ocorre com um qqq-
da d e e nt r e ajus t am en to sq u e a s m u d a n ç a sd e to , pode-severi fi caruma tendênci a a enfren
ro ti n a i m põem , os es ta d o s e m o c i o n a i sa s s o - tá -l o sem aj uda, ou uma tentati va de expl i cá-
ci a d o sa ac ont ec im ento sd a v i d a d i á ri a ,a s re a - l o e m termos de fatores ci rcunstanci ai se, as-
çõ e s a s it uaç óeses t r e s s a n te fre s q ü e n te se o s s i m , tal vez resol vê-l oatravésde mudançasex-
si n to ma sinic iaisde um tra n s to rn om e n ta l ,e v i - te rnas. D e qual quer manei ra, desde o surg' -
d e n ci a -s ea dif ic uldad e d e j u l g a r q u a n d o s e m e nto do' probl ema e até a consul ta," a natu-
co n fi g ur a um pr oblema q u e n e c e s s i tad e u ma re z a e a expressãodos si nai s e si ntomas psi -
a va l i a çãoc lí nic a.E t al d i fi c u l d a d eta n to p o d e q u i átri cossão profundamenteal teradaspel os
se r se n tidapelo s ujeit oco mo p e l a sp e s s o a sq u e re c ursospessoai s,capaci dadesde enfrente-
!19-Lt9 lcopingl g defelas psicológìcas do pa- o s medos, por exempl o,são senti dospel o su-
ciente" (Yager& Gitlin, 1999, p.692). jeito, mas também podem se expressaratra-
'
Esta pré-história de um estudo de caso é vés de comportamentos observáveis.
i mp o rta nt e por qué a p e rc e p ç ã od a d i fi c u l d a - P areceque, se tomarmos num senti do am-
d e , a g r av idade m aio r o u m e n o r a tri b u íd a a p lo, a di sti nçãotorna-seuma questãode pon-
u m o u a v ár ios s int oma s ,a s d ú v i d a s s o b re a to de vista, Shaw (1977), por exemplo, afirma--
e xi stê n c iade pat olog i a , a c o n fi a b i l i d a d e d e v a que " si ntoma é um si nal " (p.8), porque se
q u e m pos s at er s uger i d ou m a a v a l i a ç ã op s i c o - torna si gni fi cati vona medi da em que evi den-
l ó g i ca , par a náo f alar e m a ti tu d e s p re c o n c e i - c i a uma perturbação. E ntão, é consi derado
tu o sa s s obr e a pos s ib i l i d a d ed e d o e n ç a me n - c o mo um si nal de perturbação,que pode pre-
ta l , a l é m de out r os f a to re s , tu d o p o d e i n fl u i r cocemente servir de alerta, mesmo que não
n a d i n â m ic a da int er a ç ã oc l ín i c a ,n a m a i o f o u tenha si do regi stradaqual quer quei xa expl íci -
me n o r at it ude de c ol a b o ra ç ã od u ra n te a te s - ta, i sto é, mesmo que não tenha se veri fi cado
ta g e m e na s elet iv ida d ed a s i n fo rm a ç õ e sp re s - a i denti fi caçãode um si ntoma.
ta d a s. Cons eqüent em e n te ,s e a c o n s u l ta fo i P or outro l ado, na práti ca, fal a-seem si n-
p re ce d ida de um a f as e tu m u l tu a d a e c ríti c a , tema quando parece possível atri bui r-l he
co m for t e s obr ec ar gae m o c i o n a l ,p o d e h a v e r u ma si gni fi cação mai s cl íni ca. P ode-se,en-
u ma fa c ilit aç ão da oc o rrê n c i ad e p e rc e p ç Õ e s tão, afi rmar " que os si ntomas estão presen-
d i sto rc idas ,de f ant as i a sv a ri a d a se d e u m i n - te s quando os l i mi tes da vari abi l i dade nor-
cremento de defesasdificultando a coleta de m al são ul trapassados"(Y ager& Gi tl i n, 1999,
d a d o s. p . 6s3).
Ca b e, pois , ao ps i c ó l o g o e x a m i n a r a s c i r-
cu n stânc iasque pr ec e d e ra ma c o n s u l ta ,a v a -
l i a r a s m aneir asde pe rc e b e ro p ro b l e ma e d e - C RITÉ R IOSU S U A ISD E D E FIN IC Ã O
l i mi tá -lo,at r ibuindoa si n a i se s i n to m a ss u a s i g - D E U M P R OB LE MA
nificação adequada. Esta náo é uma tarefa fá-
ci l , p ri nc ipalm ent epa ra o p s i c ó l o g oi n i c i a n te . U m probl ema é i denti fi cadoquando são reco-
n heci dasal teraçõesou mudançasnos padróes
d e comportamento comum, que podem ser
SIN AISE S I NT O M A S p ercebi dascomo sendo de naturezaquanti ta-
ti va ou qual i tati va.
Fa l a -seem s inaise s in to ma sn a p s i c o l o g i ae n a S e, como observam K -apl an e S adock
p si q u i at r ia,m as t al t ermi n o l o g i aé o ri u n d a d a (1999b),a mai ori adas mani festações de trans-
me d i ci na.E m s ent idol a to ,ta i ste rmo stê m u m a tornos psiquiátricosrepresentavariaçóesde di-
acepçáo comparável nas três áreas. Em geral, ferentes graus de um continuum entre saúde
re fe ré m - s ea s inais ,p a ra d e s i g n a rc o m p o rta - mental e psi copatol ogi a,então, na mai or par-
mentos obseÀiãveÌs,"achados objetivos" (Ka- te das vezes,as mudanças percebidassão de
p l a n & S adoc k ,1999b,p 5 8 a ),e n q u a n too s " s i n - n aturezaquanti tati va.
tomas são experiênciasdo sujeito, são por ele Pode-seÍalar, em primeiro lugal em altera-
se n ti d os .E nt r et ant o,e s s ad i fe re n c i a ç ã os e to r- ç õ es autol i mi tadas,que se veri fi cari am.pel a
n a va g a ou pr at ic am e n tei n e x i s te n ten o â m b i - p resençade um exageroou di mi nui çãode um
to d a doenç a m ent al, p o rq u e e s ta e n v o l v ee s - p adrão de comportamentousual ,di to normal .
tados internos, psicopatologia subjetiva, difí- ïais mudançasquantitativas podem ser obser-
cil de descrever.E, "em comparação com os v adas em vári asdi mensões,como na ati vi da-
tra n sto r nosm édic os "- s a l i e n ta mY a g e re G i t- d e (motora, da fal a, do pensamenÌó),nol u-
l i n (1 9 9 9) - " os t r ans to rn o sp s i q u i á tri c o sn ã o mor (depressãovs. eufori a),em outros afetos
p o d e m s er ent endidoss e m u m a c o mp l e taa v a - (embotamento,excitação),etc. Freqüentemen-
l i a çã o e c om pr eens ãod o a mp l o c o n te x to d a s te , esseti po de al teraçõessurge como-respos-
q u e i xasdo pac ient e" (p .6 9 4 ). Po r o u tro l a d o , ta a determi nadoseventosda vi da. e a pertur-
baçãoé proporcional às causas,ficandocir- bavam a rotina da vída c_otidiana,ignorando
cunscritaaosefeitosestressantes dosmesmos. a l guns si ntomasmai s graves.
Não obstante,se sua intensidade for despro- Quando-as mudanças percebidas sã-q_de
porcionalàs causase/outal alteraçãopersistir natureza qualitativa, habitualmente chamam
alémda vigêncianormaldos efeitosdas mes- a atençãoporseu cunho estranho,bi zarro,i di -
mas(porexemplo,no luto patológico), já pode o ssi ncrási co,i napropri adoou esqui si toe, en-
ter um a significação clínica.Naturalmente, tã o, mesmo o l ei go tende a associ á-l ascom
deveserconsiderada a possibilidade de outras d i f i cul dadesmai s séri as.A pesar di sso, ai nda
variaçóes,quandoumaalteração aparentemen- q ue sej amgeral mentetomadas como si nal de
te pareceuserautolimitada, masreaparece sob perturbação,eventualmentepoderão ser expli-
diferentesmodalidades, numamutaçãosinto- c a das em termos cul turai s ou subcul turai s.
mática,ou da mesmamaneira, repetitivamen- Pode-seafi rmar que " um comportamento ou
te, de formacíclica. e xperi ênci asubj eti vadefi ni doscomo si ntomá-
Porcerto,essescritériosde intensidadee/ ticos em um contexto podem ser perfeitamen-
ou persistênci-à póOemsertambémaplicados te acei távei se estardentro dos l i mi tesnormai s
à dímensão desenvolvimento, considerando os e m outro contexto" (Y ager & Gi tl i n, 1999.
limitesde variabilidade paraa aprendizagem p .694. U ma mani festaçãoi nusi tada,do pon-
de novospadrõesde comportamento, para to de vi staqual i tati vo,deve,assi m,serj ul gada
certoscomportamentos imaturosseremsupe- dentro do contexto em que o indivíduo está e,
rados,em determinadas faixasetárias.Por c o mo si ntoma, será tanto mai s grave se for
exemplo,o controledefinitivodo esfíncterve- c o mpel i da mai s por el ementos i nteri oresdo
sicaldeveseralcançado, no máximo,ao redor q u e pel o campo de estímul osda real i dade,que
dostrêsanos.Então,um episódiode aparente é praticamente ignorada. Entretanto, é preci-
fracasso em faseposterior nãoteriamaiorsig- s o fi car bem cl aro que um si ntoma úni co não
nificação,sefosseuma reaçãoa uma situação te m val or di agnósti copor si , o que val e di zer
estressante. Mas sua persistência já pode re- q u e nenhumsi ntomaé patognomôni code uma
presentarum sinalde alerta,justificando-se d e termi nadasíndrome ou condi ção reconhel -
uma avaliação clínica. c i d a. A ssi m, " todos os si ntomas psi qui átri cos
Note-seque aqui estamosutilizandoum devem ser consideradoscomo inespecíficos-
julgamentoclínico.Entretanto, sobrequestões v i s tos em uns poucos e, mai s provavel mente,
de desenvolvimento, há muita coincidência e m mui tos transtornos"(Y ager& Gi tl i n. 1999,
entre o sensocomum e o que é sancionado p.694).
pela ciência.A expectativa social,porém,às D ada a rel ati vi dadedos cri téri osusuai sna
vezes,não é corroborada pelasnormase cos- d e fi ni çáode um probl ema,a abordagemci en-
tumesde uma ou outrafamília.Nota-seque, tífica atual para a determi nação di agnósti ca
na prática,,asfamíliaspodemdiferirna deter- advoga o uso de critériosoperacionais.E-pois,
minaçãode quaissãoos limitesda variabilida- necessárioque o paciente apresenteum certo
de normal,por rigidezou, pelocontrário,por: n ú mero de característi cassi ntomatol ógi cas,
protecionismo. lssofaz com que determinado durante um certo período de tempo, para ser
comportamento pareçasintomático num de- p o ssívelchegara uma deci sãodi agnósti ca.
terminadoambientefamiliar,masnãoem ou-
tro. Poroutro lado,nemsempreos problemas
que chamama atençãoda famíliasãoclinica- PR OB LE MA SP S IC OS S OC IA IS E A MB IE N TA IS :
menteos maissignificantes. Num estudode ACONTECIMENTOSDA VIDA
B0 crianças,realizado por Kwitko(1984),hou-
ve diferençaquantoà médiados sintomasin- O concei to de estresse,termo cunhado no
formadose a registrada pelostécnicosduran- â mbi to da pesqui saendocri nol ógi ca,pel a me-
te o exame.Poroutrolado,asqueixas de fami- tade do séculoXX. teve o seu sentido extrema-
liaresreferiam-se maisa sintomasque pertur- m e nte expandi do para expl i car,de um modo
geral,"a relaçãoentreo indivíduoe o ambien- Dadoo rigorcientíficointroduzidonaspes-
te e se comprovouparticularmente útil duran- quisassobreestresse, poucoscientistasassu-
te a Segunda GuerraMundial"(Klerman, 1990, miriamhojeem dia uma posiçãotão extrema-
p.34). da.Aindasemantémcomoum conceitoextre-
Na realidade, pode-sedizerque a impor- mamenteimportante,no que se referea duas
tânciaatribuídaao estresse, no campoda saú- categorias diagnósticas, o Transtorno de Estres-
de mental,é de certa maneira herdada do con- se Agudo e o Transtorno de Estresse Pós-trau-
ceitode crise que, originário de investigaçóes mático. Ademais, o Eixo lV do DSM-IV (APA,
com sobreviventes de desastres, por vezes de 1995) ainda é reservado para "o relato de pro-
grandes.proporçóes, resultou aplicável a uma blemas psicossociais e ambientais que podem
grandevariedadede situações pessoais. Alga|- afetaro diagnóstico, tratamentoe prognósti-
mentefcrisese referemaisa uma reaçáo,as- co dos transtornos mentais", especificados nos
sociadaà especificidade de uma situaçãoou Eixoslell (p.30).
fase,e envolveuma perturbação, relacionada Porexemplo,emborapesquisas salientem
com a dificuldadede manejá-la pelos meios a existência de úmããliociação entre fatores
usuais.Pode-se afirmar que de crise
o ç.o.nce!-to joCiôeconômicos e esquizofrenia, "poucoste-
é extremamenteútil em termosde diagnósti- óricoi sustentam, atualmente, que um ambien-
co,especialmente fiíra o entendimento do fun- te socioeconômico fraco causa esquizofrenia,
cionamentopsicolõgitodo ìndivíduoem pon- mas poucosduvidamque estetem um efeito
tos nodaisdo desenvolvimento, por exemplo. importantesobreo seu curso" (McGlashman
Já a ênfasedo conceitodg._e.*s,tre:sgpare- & Hoffman,1999,p.1035).
ce que.está no ippq_çto, no fato de seconsti-
tuir como um fator potencialpara conse-
qüênciasfutulas,que podemvariarem ter- A AVALTAçÃODA PSTCOPATOLOGTA*
mos do poder do estressor-e da vulnerabili-
dade do sujeito. Num sentidolato, psicodiagnóstico consiste,
Durante'á'Sègunda GuerraMundial,foram sobretudo,na identificação de forçase fraque-
desenvolvidos extensosprojetospara pesqui- zasno funcionamento psicológico e se distin-
sassobre"o papeldo estressor como um pre- gue de outrostipos de avaliação psicológica
cipitadordádõênçamental"(Klerman, 1990, de diferenças individuaispor seufoco na exis-
p.34).A comprovação supostamente encontra- tênciaou não de psicopatologia.
da pelasobservaçóes de estressores em situa- Falando em psicopatologia, é bom lembrar
çoesde guerrafoi aplicadaa estressores civise que p-çs-gr.1i1gÇorgs19gsag,1e.a têm destacado
caiucomouma luvano ambientede insatisfa- modelosde psicopatologia utilizados. Referem-
çãoda comunidadepsiquiátrica da épocacom se ao modelo categórico e ao modelo dimen-
o modelo médico,que adotou a pressuposi- sional(Dobson& Cheung,1990).
ção teó/icade um continuumde saúdemen- O modelo categórico,de enfoque_qy_alita-
tal-doençamental,dandoao impacto provo- tivo_,_
exemplifica-se pelo julgamentoclínico
cado pelo estresse a significação de um fator- sobre a presença ou não de uma configuração
chaveparao desenvolvimento de transtornos de sintomas significativos. Jáo modelodimen-
mentais. sional, de enfoque quantitativo, exemplifica-
Aindano DSM-lll-R (APA,1987),quejá com- se pelamedidada intensidade sintomática.
portavaa avaliação multiaxial,haviaa orienta- Tradicionalmente, o psiquiatratem dado
ção de avaliara gravidade da ocorrênciade mais ênfase ao modelo categórico,embora
estresse,no ano anterior, quanto ao "desen-
volvimentode um novotranstornomental",à
"recorrência de um transtornomentalanterior" *Grande
parte destetema Íoi apresentadopela autora,
e quanto à "exacerbação de um transtorno no Vlll CongressoNacionalde AvaliaçãoPsicológica,
mentaljá existente" (p.18). PortoAlegre,1999.
c ada ve z m ais não ignor e a i mp o rtâ n c i a d o N o D S M-IV(A P A ,1995), é reapresentadaa
m ode l o d i m ens ional.J á o p s i c ó l o g o ,n a p rá ti - d e fi n i çãode transtorno mental que foi i ncl uí-
c a, co stu m a dar ênf as ea o mo d e l o d i m e n s i o - d a n o D S M-l l le no D S M-l l l -R não
, por parecer
nal. Na re alidade,av aliard i fe re n ç a si n d i v i d u a i s e s p e c i al mente adequada,mas " por ser tão úti l
env o l vea l gum t ipo de m e n s u ra ç ã oA . lém dis- q u a n to qual quer outra defi ni ção di sponível "
s o, o e n fo que quant it at iv oo fe re c efu n d a m e n - (p .x x i).
t os p a ra i n f er ênc iasc om u m g ra ü ra z o á v e ld e N a tradução brasi l ei radessa cl assi fi cação,
c er te za . Mas o ps ic ólog o u ti l i z a , ta m b é m , o c o n s ta que transtorno mental pode ser con-
m ode l o cat egór ic o.Na m a i o ri a d a s v e z e s ,p o - ceituado "como uma síndromeou padrão com-
r ém , a sso c iao enf oque qu a n ti ta ti v oe o q u a l i - p o rta mental ou psi col ógi cocl i ni camentei m-
t at ivo , n o d es env olv im en tod o p ro c e s s op s i c o - p o rta nte,que ocorre no i ndi víduo" , regi stran-
diagn ó sti co, ut iliz ando estra té g i a sd i a g n ó s ti - d o -s e ,a segui r," que está associ adocom sofri -
cas (e n tre v is t as ,ins t r um e n to sp s i c o mé tri c o s ,
me n to (...) ou i ncapaci tação(...) ou i õÌi i um
t éc n i ca sp rojet iv ase julga m e n to c l ín i c o )p a ra ?isão sigìiticativamente aumentádo de-3ofri-
cheg a r a o diagnós t ic o. mento atual, morte, dor, deficiênciaou perda
E evidente que, conforme o objetivo, o pro- i m p o r tante da l i berdade" e, ademai s, " não
c es sod i a g n ós t ic ot er á m a i o r o u me n o r a b ra n -deve ser meramente uma respostaprevisívele'
gên ci a , a d ot ar á um enf oq u e m a i s q u a l i ta ti v o tu l tu ra l mente sanci onadaa um determi nado
ou ma i s q uant it at iv o,e, c o n s e q ü e n te me n teo, è v e n to, por exempl oa morte de um ente que-
elenco d e es t r at égiasf ic a rá v a ri á v e l n o s e u i i A o ' . R tém di sso,i ndependentementeda cau-
núme ro o u na s ua es pec i fi c i d a d e . s a o ri gi nal ," deve ser consi deradano momen-
Emb o ra o ps ic odiagn ó s ti c ote n h a u m d o - to como uma manifestaçãode uma dirf_unção
mí n i o p ró p r io, o s eu f oc o n a e x i s tê n c i ao u n ã o
.c-om po rtamental, psicológ ica ou bioló_g ica no
de psi co p at ologiat or na e s s e n c i aal ma n u te n - indivíduo" (p.xxi).Comportamentos sociãlmen-
ção d e ca nais de c om un i c a ç ã o c o m o u tra s Ìe d-esviantesnão são consideradostranstor-
áreas,precisandoo psicólogoestaratento para n o s mentai s, a não ser que se caracteri zem
que stÕe sq u e s ão f undam e n ta i sn a d e te rm i n a - c o m o si ntoma de uma di sfunção,no senti do
ção d e u m diagnós t ic o. j á d e scri to.
A partir dessaconceituação,vê-seque é cla-
ra a e xi gênci ade uma associ açãocom sofri -
TR,ANSTORNOS MENTAISE m e n to ou i ncapaci taçãoou, ai nda, com ri sco
CLASST FrCAçÓESNOSOLOGTCAS d e c o mprometi mentoou perda de um aspec-
to v i tal mentesi gni fi cante.E m segundo l ugaç
5e ab ri rmos o Nov o Dic io n á ri oA u ré l i o (F e rre i - fi c a e v i denteque os si ntomasdevam ser com-
ra. 'l 986), na página 1.703,vamosencontrarque portamentais ou psicológicos,embora possa
transtorno é sinônimo de perturbação mental. h a v e r uma di sfunção bi ol ógi ca. E m tercei ro
Entende-seque se pode categorizaçcomo tal; lugar, esseconceito descaracterizaos serviços
uma d i ve rs idadede c ond i ç õ e s ,q u e s e s i tu a m e o s m embros da comuni dadede saúde men-
e nt re o q u e s e c os t um ac a ra c te ri z acr o m o n o r- ta l c o mo agentes de control e soci al , no mo-
m ali d a d ee pat ologia.P orta n to ,é u m a e x p re s - me n to em que consi deraque um confl i to en-
são me n o s c om pat í v elc o m a a n ti g a c o n c e p - tre i n di víduo e soci edade pode ser i denti fi -
ção d e d o e nç a m ent al. N ã o o b s ta n te , te m o s c a d o como um desvi o, condenável pel os pa-
de convir que, semanticamente,bastariao ter- d rõ e s soci ai s, mas que, por si , não é ti do
mo transtorno, embora a sua significaçãonão c o mo transtorno mental , a menos que, ao
modificassea críticafeita à expressãotranstorno m e s mo tempo, consti tua o si ntoma de uma
mental,que, "infelizmente,implica uma distin- d i s fu n ção.
ção entre transtornos'mentais'e transtornos'fí- E s sacaracteri zação de transtorno mental é
sicos',que é um anacronismoreducionistado a p re sentadapel o D S M-IV que é a edi çãomai s
dualismo mentdcorpo" (APA,1995, p.xx). re c e nte da cl assi fi caçãoofi ci al nos E stados
U n i d o s .Depoisde m u i ta s m o d i fi c a ç õ e se m re - l i ação Gl obal de Funci onamento (vi de A P A ,
l a çã o à abor dagem e c l a s s i fi c a ç ãdoa p s i c o p a - 1995, p.33).
to l o g i a, dur ant e o s é c u l oXX , o D S M -IVre c a p i - O DSM-lVé compatívelcom a classificação
tu l o u o c onc eit ode t r a n s to l n o sd i s ti n to s ,m a s uti l i zada na E uropa, a C ID -10, desenvol vi da
co m u m enf oque " at e ó ri c oc o m re l a ç ã oà s c a u - pel a Organi zação Mundi al da S aúde (OMS ,
sa s" (S adoc k& K apla n ,1 9 9 9 , p .7 2 7 ).O m o d e - 1993)." Todasas categori asusadasno D S M:IV
lo pode ser consideradocategórico,mas a clas- são encontradasna C ID -10, mas nem todas as
sificaçáonosológicapassoua se basearem cri- categori asda C ID -10estão no D S M-IV "(S ado-
térios operacionaisou critériosdiagnósticoses- ck & K apl an,1999, p.727).
p e cífi c os que
. c ons t i tu e m" u m a l i s ta d e c a ra c - P araquem trabal ha com psi codi agnósti co,
terísticas que devem estar presentespara que é essenci ala fami l i ari dadecom os si stemasde
o d i a g nós t ic o s eja f e i to " (S a d o c k& K a p l a n , nosol ógi ca,j á que a nomencl atu-
c l assi fi cação
1 9 9 9 , p. 727) . ls s o nã o p re s s u p õ e" q u e to d o s ra ofi ci al dos transtornosé extremamenteúti l
o s i n d iv í duosdes c r it o sc o mo te n d o o me s m o na comuni caçãoentre profi ssi onai s,al ém do
tra n stor no m ent al sã o s e me l h a n te se m u m fato de que outros documentos, como atesta-
g ra u i m por t ant e" ( A P A.1 9 9 5 , p .x x i ). d os, al ém de l audos,podem exi gi ro códi go do
O D S M - I Vpr ev êa p o s s i b i l i d a d d
e e u ma a v a - tr anstorno de um paci ente.C onfi ra cui dado-
l i a çã o m ult iax ial,s en d o q u e to d a a c l a s s i fi c a - s amentetodos os cri téri osa parti r de suas hi -
ção dos transtornos mentais consta nos EixosI póteses di agnósti cas, pondere bem sobre
e 'l l . O E ix o lll pr ev ê a i n c l u s ã o d e tra n s to rn o todas as características do caso,examineo que
fíi i co ou c ondiç ão m é d i c a a d i c i o n a l . Q Ei x o õiíéiencia b caso de outros transtornos e te-
Ú é res er v adopar a o re g i s tro d e p ro b l e ma s nha em mente cri téri osusadospara a excl usão
p Èi coS s oc iais e am bi e n ta i s . e n o Ei x o V e fe i - de outros diagnósticos(Consulteo capítuloUso
to o j u lgam ent o do n ív e l g e ra l d e fu n c i o n a - do Manual, no DSM-IV,bem como Sadock &
me n to do pac ient e,co n fo rme a Es c a l ad e A v a - K apl an,1999, p.737).

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