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CABELO LISO E SOLTO AO VENTO:

O RACISMO NA METÁFORA DA BOA APARÊNCIA


UMA PERSPECTIVA CRÍTICO-SOCIAL DA LINGUAGEM

Kelly Cristina de Oliveira


Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
kellycristina@usp.br

Moisés Olímpio-Ferreira
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFMG - Bambuí)
moisesolim@usp.br

Resumo: Este estudo pretende analisar a atual circulação do discurso racista em práticas
sociais, sob a forma de metáfora da boa aparência. O corpus é composto por notícias de
jornais (BBC-Brasil, Globo.com e Extra.Globo) relativas a um caso que ganhou notoriedade
após divulgação, em redes sociais, na forma de protesto, de um comunicado de escola de São
Paulo, dirigido aos pais de seus alunos. O fato noticiado gerou diversos comentários críticos e,
em consequência deles, um pedido oficial de desculpas da escola. O tema torna-se relevante
porque comprova que o racismo continua presente, naturalizado, fazendo parte das práticas
comuns do cotidiano brasileiro, ainda que, por anos, ele tenha se escondido atrás da boa
aparência. Pretendemos analisar, portanto, uma prática social que moveu várias outras, numa
rede, produzindo, assim, reações e ações, tanto nos produtores quanto nos leitores das mídias
jornalísticas e sociais. Para nossa análise, utilizaremos o arcabouço teórico da Análise Crítica
do Discurso, desenvolvido por Fairclough (2001, 2003), que, baseado em estudos do
Realismo Crítico, estuda a linguagem numa relação dialética com a vida social. Lançaremos
mão também do conceito de racismo em van Dijk (2010), que o considera um sistema social
de dominação bem complexo, envolvendo fundamentações éticas e questões de desigualdade,
além de ser composto por um subsistema social e cognitivo. Além desses autores, faremos uso
do ferramental de Argumentação da Nova Retórica, formulado por Chaïm Perelman e Lucie
Olbrechts-Tyteca (2000).
Palavras-chave: Racismo. Escola. Redes Sociais. Análise Crítica do Discurso.

Introdução
Está evidente a importância dos sites de redes sociais na sociedade contemporânea.
Entre eles, está o Facebook, que já registrou mais de um bilhão de acessos em um único dia,
segundo o jornal BBC (PELA 1ª. VEZ..., 25.08.2015). Constituído por pessoas das mais
anônimas às celebridades, por grupos com naturezas e interesses diversos, por instituições e
empresas de setores e atividades variados, ele permite, pela conexão virtual, a interação de
seus usuários numa nova forma de organização social. Em rede, todos se constroem, tornando
pública a representação de seu eu1 (GOFFMAN, 1985).
1
Goffman (1985, p. 29) define representação do eu “como toda atividade de um indivíduo que se passa num
período caracterizado por sua presença contínua diante de um grupo particular de observadores e que tem sobre
O Facebook se tornou ferramenta de marketing para várias empresas, organizações,
profissionais liberais, políticos, artistas e marcas, por meio das Fanpages. Ele oferece, ainda,
opções para calendários com datas de aniversários, agenda de eventos, convites coletivos,
opções de entretenimento, como jogos online, quizzes, testes diversos etc.
No caso específico dos indivíduos, essa imagem de si é discursivamente 2 elaborada
por meio de postagens íntimas, que revelam estados afetivos; de reações e tomadas de posição
diante de fatos e acontecimentos, criticando-os ou curtindo-os3; de fotos (individuais ou em
álbum), vídeos, filmes, músicas, jogos, esportes, autores, livros e pensamentos preferidos; de
lugares frequentados; de viagens realizadas, de participação ou divulgação de eventos, de
grupos com quem mantêm interesse comum etc., constantemente em fluxo de atualização no
feed. Com essa exposição, eles buscam tanto a aceitação de sua pessoa projetada (ainda que
ela possa não refletir o ethos efetivo, ou seja, se sabe se há defasagem entre o real e o
projetivo – MEYER, 2007), quanto a revalidação ou intensificação dos laços simpáticos em
relação às virtudes, aos modos de ver e de sentir o mundo, às crenças e valores e afetos,
compartilhados com amigos, parentes, conhecidos, ou mesmo com os simples seguidores
interessados nessa fabricação virtual da pessoa. Trata-se, de fato, da cara relação entre orador
e auditório de que fala Aristóteles, na Retórica, e, modernamente, Chaïm Perelman e Lucie
Olbrechts-Tyteca, na Nova Retórica.
É ainda por meio do Facebook que se mobilizam várias intervenções sociais
coletivas, tais como rolezinhos4, manifestações políticas5, campanhas de arrecadação de

estes alguma influência”. No caso das redes sociais, a presença se faz virtualmente.
2
Para Fairclough (2003, p. 26), o discurso reproduz e transforma a realidade social, porque é parte da ação. Ele
também é um modo de representação social, porque é parte das práticas sociais. É modo particular de ser,
porque aparece junto a comportamento corporal, sendo denominado particularmente de estilo. Por fim, pode
ainda legitimar as ideologias e as relações de poder.
3
Somente a partir de 2016, a pedido dos usuários, é que o Facebook disponibilizou cinco novos emoji
(pictogramas ou ideogramas que transmitem a ideia de uma palavra ou de uma frase completa), que permitem
outras reações, a fim de evitar que notícias tristes ou ruins recebam “curtir”, que está associado a “gostar”. Em
inglês, os símbolos são chamados de Love, Haha, Wow, Sad e Angry. Em Português, são traduzidas por Amei,
Haha, Uau, Triste e Grrr.
4
Rolezinho foi o nome dado à convocação de jovens de classes populares, por meio de redes sociais, para se
encontrar em várias locais públicos ou privados, no fim de 2013. Iniciou-se em São Paulo, mobilizando cerca de
3 mil pessoas, no Shopping Itaquera, na zona leste. A ação ganhou repercussão na mass media e gerou debates
sobre ocupação de lugares públicos e privados, necessidade de áreas de lazer e cultura para jovens, ordem social,
preconceito social, entre outros.
5
Um exemplo de manifestação pública, a partir de convocação por rede social, foi o “Protesto contra a
corrupção”. Após ampla divulgação pela mass media sobre o mau uso do dinheiro público em obras de evento
privado, a Copa do Mundo, sediada no Brasil, em 2014, da obrigatoriedade de ficha limpa a candidatos a cargos
efetivos, e outras investigações contra políticos envolvidos com corrupção, várias pessoas se mobilizaram no
Facebook para manifestação popular em junho de 2013 (MANIFESTANTES..., 1/07/2013).
fundos e de tratamento médico6, passeatas7, entre outras, que conectam e envolvem pessoas de
diversas partes do país ou fora dele, inicialmente criando uma realidade virtual, mas,
posteriormente, uma realidade presencial, física.
Além disso, essa mesma rede social se tornou um suporte de notícias da mass media
(rádio, televisão, cinema, revistas, jornais de grande circulação), que circulam por meio de
centenas (e até milhares) de compartilhamentos, entre seus usuários, como forma de
identificação ou de protesto. Em suma, como ela mesma anuncia: no Facebook você pode se
conectar e compartilhar o que quiser com quem é importante em sua vida8.
Tudo o que pode ser feito pelas redes sociais faz parte de fenômenos
comunicacionais - mediados pelo computador ou por celulares com acesso à internet - que,
segundo Recuero (2009, p. 16), estão transformando “profundamente as formas de
organização, identidade, conversação e mobilização social”. Essa nova forma de interação
está relacionada ao que Lévy (1999, p. 94) denomina de “cibercultura”. Trata-se de um
“conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de
pensamento e valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço”
(ibid.).
O fato que motivou a produção deste artigo foi um comunicado da escola Associação
Cedro do Líbano de Proteção à Infância9, endereçado aos pais de seus alunos, que, após ter
sido publicado no Facebook, produziu diversas reações de indignação e passou a ser
comentado nas principais mídias jornalísticas impressas, digitais e televisivas.

6
Campanhas de arrecadação de fundos existem para ajudar pessoas que foram vítimas de tragédias naturais,
com grande impacto na sociedade, tais como tsunamis, furações, terremotos etc. As campanhas eram feitas
apenas pela mass media. Entretanto, com a expansão da Internet e com o advento da rede social Facebook,
pessoas anônimas podem pedir auxílio para defender uma causa ou problema pessoal. No Facebook, é possível
adicionar um aplicativo (APP) de arrecadação de fundos, tais como GoGetFunding.com e FundRazr, que
auxiliam os doadores no modo como devem proceder online.
Há também pedidos ligados à área da saúde, como o de doação de medula óssea feito por Juliana Chermont, de
Bauru - SP. Segundo Moraes (2016), do jornal online JCNET, a família criou uma página no Facebook para
encontrar um doador para a jovem e sensibilizou mais de 25 mil pessoas.
7
Entendemos passeatas como manifestações populares para defender posições políticas, sociais, ideológicas ou
religiosas. No Brasil, destacam-se: “marchas pelo direito das mulheres sobre os seus corpos (Marcha das
Vadias), das trabalhadoras do campo (Marcha das Margaridas), da população negra (Marcha Zumbi), de
lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (Paradas do Orgulho LGBT), de grupos religiosos (Marcha para
Jesus), pela liberalização do uso de drogas (Marcha da Maconha)” (JESUS, 2012, p. 163).
8
Em razão do foco deste artigo, não abordaremos questões emblemáticas sobre o mau uso das redes sociais, tais
como doenças patológicas geradas pelo excesso de uso, convocações para brigas entre torcidas de futebol, roubo
de dados pessoais, pedofilia, manifestações de ódio contra minorias ou religiões, rumores, desinformações e
tanto outros assuntos que afetam a sociedade negativamente.
9
A Associação, fundada em 1947, está situada em bairro nobre de São Paulo, na região Sul. Consta, em seu
próprio site, que atende, aproximadamente, a 2.700 crianças e jovens de 0 a 18 anos. Trata-se de uma Associação
que depende de doações, bazares e que mantém parceria com a Prefeitura de São Paulo e com o Governo do
Estado de São Paulo.
O bilhete trata de uma apresentação de Natal que seria realizada no dia 3 de
dezembro de 2015. Postado em 30 de novembro de 2015, por um dos usuários do Facebook,
em forma de manifestação revoltosa, contou, segundo o jornal Globo online, com mais de mil
compartilhamentos e mais de seis mil “curtidas”, em um único dia. Havia também
comentários indignados com o comunicado e outros em defesa da escola. Esse número de
compartilhamentos e o teor dos comentários de leitores/seguidores atraíram a atenção da mass
media, ganhando repercussão maior nos dias 1 e 2 de dezembro.
Sobre a expansão da problemática gerada, foi feita uma busca no site Google, entre
aspas, das palavras “Cedro do Líbano” e “cabelo liso” 10. Foram encontrados 494 resultados
em jornais online, blogs11, revistas digitais e em outras fontes que trataram ou apenas citaram
o assunto. O fato que circulou entre os conhecidos da pequena escola de São Paulo ganhou
notoriedade virtual, inicialmente entre os que acessaram a rede social Facebook e, mais tarde,
alcançou repercussão pelos diversos jornais do Brasil, tais como o de Belo Horizonte:
www.sitesuai.com.br, o do Sul do Brasil: http://diariogaucho.clicrbs.com.br, o do Rio de
Janeiro: www.bancariosrio.org.br, o do Paraná: www.parana-online.com.br, o de Pernambuco:
www.diariodepernambuco.com.br, o do Nordeste do Brasil:
http://minutosertao.cadaminuto.com.br, sem citar aqui as diversas outras notícias em jornais
impressos e televisivos.
Esse número de casos mostra - quando determinado fato ganha repercussão na rede
social - que se pode sensibilizar a sociedade em escala de tempo e de espaço muito mais
rapidamente. Isso porque qualquer assunto pode ser produzido a qualquer hora e a partir de
qualquer local, por qualquer um, desde que haja conexão com a internet, que o conteúdo
permaneça online no ciberespaço e que encontre público-leitor interessado. De fato, os altos
índices de “curtidas”, de “compartilhamentos”, de “comentários” e de migração para outras
formas de difusão midiática revelam o grau de interesse pela matéria, ou seja, quanta
comunhão efetiva dos espíritos (PERELMAN e OLBRECHTS-TYTECA, 2000) e quanta
emoção ela foi capaz de produzir em torno do universo compartilhado de crenças e valores.
Outro elemento que privilegia a fácil e rápida exposição das matérias é o fato de, nas
redes sociais, as publicações sofrerem menos intervenções ou censuras do que aquelas da
10
A busca foi feita em 22 de junho de 2016.
11
Segundo Komesu (2005, p. 121), o blog, conhecido como weblog de caráter midiático digital, foi criado num
período de transformação e modernização da tecnologia, estando associado a uma rede global de (inter)ação.
Inspirado em diários escritos, publica textos on-line e tem por objetivo tratar desde assuntos do cotidiano, banais,
pessoais, até políticos, sociais. Sua dinamicidade permite que sejam inseridas fotos, links que remetem a sites de
notícias ou qualquer outro blog. Pode ser acessado por anônimos que podem concordar ou discordar com os
textos dos autores. Também pode ser citado e divulgado em outras esferas digitais, tais como sites de
relacionamentos sociais, tendo seu alcance maior do que o pretendido.
mass media, permitindo, assim, um debate mais aberto, mais plural. Delas, qualquer anônimo
pode participar, tem a possibilidade de reconhecer-se no que está sendo discutido e de passar a
fazer parte de uma identidade coletiva, de um grupo constituído virtualmente no ciberespaço,
composto por pessoas em interação de diversas origens, idades, religiões, classes sociais etc.,
na maioria das vezes sem qualquer contato físico, compartilhando formas de sentir, ver e de
fazer ver o mundo.
Inverte-se, nesse ponto, a relação de poder unilateral advinda da mass media,
financiada por grandes empresários, políticos e corporações poderosas, em relação ao povo, à
massa. Integrado à rede social, é o anônimo não jornalista, não filósofo, não político, que
passa a ter a possibilidade de agir, de ser produtor crítico, de (re)criar a realidade, atraindo um
grande número de seguidores de suas ideias. Quando isso acontece, a rede social passa a se
tornar fonte de pautas para jornalistas 12, programas televisivos, rádio e internet, alcançando
um público maior número. Dessa forma, o velho jornalismo deixa de ser a única fonte de
produção de “verdades”13, passando, mesmo, a ser questionado.
Nessa perspectiva, o sujeito não é entendido como assujeitado (interpelado)
ideologicamente de forma definitiva. Se, por um lado, é evidente que ele não é totalmente
livre, visto que é constrangido pelas estruturas sociais14 a que está submetido e, por isso
mesmo, conforme nota Fairclough (2001, p. 121), ainda se encontra posicionado
ideologicamente15, por outro lado, ele é sujeito acional ou agente, porque pratica ações,
individuais ou coletivas, por meio de suas próprias práticas sociais que se materializam em
forma de eventos, ainda que em rede. O que ocorre é um equilíbrio constante entre o poder de
12
Trata-se do que Rublescki (2011) denomina jornalismo líquido. Baseada nos estudos do sociólogo polonês
Zygmunt Bauman sobre sociedade líquido-moderna, a autora discute uma nova forma de jornalismo que não é
construída apenas por pautas numa mediação apenas verticalizada. O jornalismo líquido, esclarece, “é antes um
cenário instável, em aberto, permeado por um contínuo de mudanças que aparentemente desencadeiam um
processo de alargamento das fronteiras do campo, cujo ponto de equilíbrio é uma questão que permanece em
aberto na sociedade e na academia” (ibid., p. 17) e “isso porque as práticas sociais propiciadas pelas redes
digitais ultrapassam o conjunto de regras referentes aos modelos tradicionais do jornalismo (ibid., p. 37).
13
Rublescki (2011, p. 67), baseada nos estudos de Charaudeau (2009), esclarece que há uma legitimidade social
pré-construída, dada a priori e não-negociável que “estabelece que o Jornalismo é apto, é legítimo para captar
informações e transmiti-las de forma verdadeira, tornando público o que de relevante há na sociedade para o
leitor”.
14
Chouliaraki e Fairclough (1999, p. 19), baseados nos estudos do Realismo Crítico, entendem a vida social
como um sistema aberto, não previsível, dividido em dimensões: a) estruturas sociais, isto é, entidades mais
abstratas, mais rígidas, tais como a estrutura econômica, a classe social, a classe racial, a língua etc., que definem
um potencial, um conjunto de possibilidades de práticas sociais; b) práticas sociais, ou seja, ações sociais que
os sujeitos agentes são capazes de realizar nas estruturas sociais, sempre ligadas a um tempo e espaço
determinados. Nessas ações, aplicam-se recursos materiais e simbólicos, bem como elementos que fazem parte
da vida, tais como atividade material, relações sociais e processos, fenômenos mentais e discurso, todos esses
elementos são articulados entre si; e c) eventos que são materializações das práticas sociais, podendo ser
discursivas, como textos, ou não discursivas, como construções, viadutos etc.
15
O discurso, quando incorpora significações (semiose) que contribuem para a estruturação e manutenção de
poder, adquire um sentido negativo e, por isso, é considerado ideológico (FAIRCLOUGH, 2001, p.121).
ação/transformação de suas práticas (consequentemente, de suas estruturas, constituídas de
códigos, convenções e normas) e sua limitação advinda dessas mesmas práticas e estruturas
que ele busca alterar, “as quais manifestam apenas uma fixidez temporária, parcial e
contraditória” (ibid., p. 94).
Acerca da repercussão do fato, a escola postou duas notas de esclarecimento no
próprio site (http://www.cedrodolibano.org.br), datadas de 1º. e 2 de dezembro, desculpando-
se. Entretanto, o modo como se posicionou gerou mais discussões, visto que, segundo alguns
leitores que deixaram seus comentários nos sites em que essas notas foram publicadas, a
escola não tratou o fato com a gravidade devida, mas como “procedimento equivocado” e
“individual”, acrescentando que o ocorrido “não pode representar a imagem de todo um
trabalho voluntário de 68 anos a favor da igualdade e contra qualquer tipo de preconceito”.
Aqui, a escola entende racismo como preconceito de cor. Lima e Vala (2004)
consideram importante diferenciar os termos e adotam a perspectiva de Allport (1952) e Jones
(1972) para explicá-los. De modo geral,

o racismo repousa sobre uma crença na distinção natural entre os grupos, ou


melhor, envolve uma crença naturalizadora das diferenças entre os grupos,
pois se liga à ideia de que os grupos são diferentes porque possuem
elementos essenciais que os fazem diferentes, ao passo que o preconceito
não implica na essencialização ou naturalização das diferenças. Outra
diferença entre racismo e preconceito é de que o racismo, diferentemente do
preconceito, não existe apenas a um nível individual, mas também a nível
institucional e cultural (...)[sic] - (LIMA e VALA, 2004, p. 402).

Van Dijk (2010, p. 135) admite, por sua vez, que a definição de racismo não pode ser
pensada de forma tão simplista e vai além da ideia de ideologia racista. Ele (ibid., p. 134)
esclarece que o racismo não é inato ao ser humano e tão pouco se desenvolve
espontaneamente, visto que é adquirido e aprendido na sociedade, em suas práticas diárias.
Ele advém de um sistema social bem complexo de dominação que envolve fundamentações
éticas e questões de desigualdade, além de ser composto por um subsistema social e
cognitivo. Esse subsistema envolve práticas sociais de discriminação nos níveis micro (local)
e macro (grupos, organizações, instituições dominantes) que mantêm relações de abusos
discursivos de poder praticadas pelas elites simbólicas 16, isto é, mantêm relações de
dominação. O autor (ibid., p. 234) entende que a manipulação é um fenômeno social, porque a
“interação e abuso de poder ocorrem entre grupos e atores sociais” (ibid., p. 236), em razão da

16
Van Dijk (2010, p. 134) define elites simbólicas como “aquelas elites que literalmente têm tudo ‘a dizer’ na
sociedade, assim como suas instituições e organizações”. Seus membros podem ser professores, jornalistas,
acadêmicos, políticos, escritores etc.
posição social que ocupam; é também um fenômeno cognitivo, porque exerce influência nas
mentes das pessoas, por meio da escrita, fala ou imagens.
Há uma “inculcação”, segundo Fairclough (2003, p. 8; 30), realizada a longo prazo,
nunca de forma automática, de valores, crenças e comportamentos desejados pela elite, por
meio dos textos17, que podem produzir efeitos causais (biológicos, físicos, mentais), sociais,
políticos e materiais nas pessoas, alterando seus saberes, crenças, atitudes, valores,
identidades, ações, e assim por diante, quando inseridos no cotidiano das pessoas.
Na linguagem e no pensamento, encontram-se também as metáforas. Longe de serem
analisadas como adorno linguístico, elas são estudadas por pesquisadores retóricos como
recurso para convencer, persuadir e modificar os valores existentes numa sociedade. Para
Perelman e Olbrechts-Tyteca (2000), o conceito dado à metáfora que melhor reflete a sua
importância na argumentação é o que a apreende a partir da teoria argumentativa da analogia.
Eles nomeiam a primeira estrutura, sobre a qual recai a conclusão, tema, o termo comparado
(“a” está para “b”), e a segunda, que sustenta o raciocínio, foro, o termo comparador (“c”
está para “d”). Partindo dessa perspectiva, a metáfora será tratada como uma analogia
condensada por meio da fusão de um dos elementos do tema com um dos do foro,
estabelecendo, assim, um alto grau de identidade entre os elementos, e reduzindo ou
eliminando, ainda que por efeito, a diferença existente nos conjuntos disjuntos (MEYER,
1998, p. 144 ss).
Para o Tratado da Argumentação, é justamente essa união dos termos das áreas
diferentes -- tornando simétricos o foro e o tema, com graus de contaminação e com
operações de aproximação diversos --, da qual não se tem mais lembrança, senão para fins de
análise e, mesmo assim, por meio de elementos variados, que é responsável por efeitos
argumentativos. É assim condensada que a metáfora é expressão que tem o poder de descrever
um homem ou um grupo:

Dizendo que um homem é um urso, um leão, um lobo, um porco ou um


cordeiro, descreve-se metaforicamente o seu caráter, o seu comportamento,
ou o seu lugar entre os outros homens, graças à ideia que se forma do
caráter, do comportamento, ou do lugar de tal ou tal espécie no mundo
animal, tentando suscitar a seu respeito as mesmas reações que as que se
verificam comumente a respeito dessas mesmas espécies (PERELMAN,
1970, p. 274)18

17
De acordo com Fairclough (2003, p. 22-25), uma análise discursiva deve considerar não só as relações internas
da língua, mas também as relações extralinguísticas, tais como as estruturas sociais, as práticas sociais e os
eventos sociais. Os textos fazem parte dos eventos sociais e, por isso, são capazes de modificá-los, e, ao mesmo
tempo, serem moldados pelos mesmos eventos. Eles são estruturados e estruturantes socialmente. É ainda por
meio de textos que os sujeitos agem e interagem na sociedade.
Baseado nos estudos de Lakoff e Jonhson (2002), Fairclough (2001) relata que as
metáforas desempenham um papel fundamental na construção da realidade social. Além disso,
é um fenômeno cognitivo resultante tanto de nossa experiência física quanto mental do
mundo. O autor afirma que elas

penetram em todos os tipos de linguagem e em todos os tipos de discurso,


mesmo nos casos menos promissores, como o discurso científico e técnico.
Além disso, as metáforas não são apenas adornos estilísticos superficiais do
discurso. Quando nós significamos coisas por meio de uma metáfora e não
de outra, estamos construindo nossa realidade de uma maneira e não de
outra. As metáforas estruturam o modo como pensamos e o modo como
agimos, e nossos sistemas de conhecimento e crença, de uma forma
penetrante e fundamental (ibid., p. 241).

Para este autor, elas estão tão enraizadas e naturalizadas nas culturas que sua
identificação, muitas vezes, pode ser impossível, assim como escapar delas no seu discurso,
pensamento ou ação e, por isso, elas podem servir para legitimar ideologias hegemônicas de
poder19.
Nessa perspectiva, a metáfora da boa aparência resulta de nosso sistema cultural que
considera belo tudo o que é branco e feio tudo o que é negro, pensamento advindo da elite
branca ocidental. Para pôr em prática essa metáfora, é preciso criar no imaginário coletivo a
representação de uma estética padrão, elitizada, do que seja belo. Isso se constrói socialmente
e discursivamente, como van Dijk (2008, p. 20) esclarece:

Nossos discursos e outras ações sociais são, portanto, baseados em modelos


mentais (planos etc.) que são transformados por ideologias e atitudes
socialmente compartilhadas. Temos assim um círculo vicioso e vemos como
o discurso está crucialmente envolvido na reprodução do racismo, em geral,
e na formação de ideologias racistas subjacentes, em particular.

Após a internalização mental desses valores, há a ação social que ocorre quando se
persuade o outro a fazer procedimentos estéticos para se “tornar” branco e, assim, produzir
18
Nossa tradução para: “En disant d’un homme que c’est un ours, un lion, un loup, un porc ou un agneau, on
décrit métaphoriquement son caractère, son comportement, ou sa place parmi les autres hommes, grâce à l’idée
que l’on se forme du caractère, du comportement ou de la place de telle ou telle espèce dans le monde animal, en
essayant de susciter à son égard les mêmes réactions que celles que l’on éprouve communément à l’égard de ces
mêmes espèces”.
19
Fairclough (2001) utiliza a noção hegemônica de Gramsci (1971, p. 12). Para este, o poder hegemônico é o
“espontâneo” consentimento dado pela grande massa da população para a direção geral imposta à vida social,
pelo grupo essencialmente dominante (e.g., por meio de seus intelectuais que atuam como agentes ou adjuntos) é
“historicamente” causado pelo prestígio (e consequente confiança) de que o grupo dominante se serve, por causa
da sua posição e função no mundo da produção.
Nossa tradução para: “The 'spontaneous' consent given by the great masses of the population to the general
direction imposed on social life by the dominant fundamental group [i.e, through their intellectuals who act as
their agents or deputies]; this consent is 'historically' caused by the prestige (and consequent confidence) which
the dominant group enjoys because of its position and function in the world of production”.
uma mudança física nesse indivíduo. Esse ideal estético do branco ganha uma dimensão
ideológica, quando re(produzido) pela mass media, principalmente em revistas e programas
relacionados à beleza, e pelas diversas instituições, nem sempre de modo impositivo, mas
fazendo com os não-brancos aceitem esse modelo como o ideal. Dentre as instituições que
perpetuam essas crenças e padrões culturalmente definidos, destacamos a escola.
Tradicionalmente entendida como o lugar onde se manifestam as relações
assimétricas de poder (professor/aluno), a escola padroniza as normas de conduta, (re)produz
práticas que asseguram o funcionamento ideológico do Estado 20. Para Gomes (2002), a escola
é impositora de padrões de currículo, de conhecimento, de comportamento e, de certa forma,
também de estética, já que ela impõe um padrão, uma uniformização física e moral, havendo
uma “exigência na aparência, e os argumentos para tal nem sempre apresentam um conteúdo
racial explícito” (p. 45).
Entretanto, baseados nos estudos da Análise Crítica do Discurso, entendemos que as
ideologias21, que também advém do Estado, não têm poder de ação permanente. As estruturas
sociais mais rígidas podem ser modificadas por meio das práticas sociais exercidas pelos
sujeitos agentes, a longo prazo. Por essa razão, entende-se também a escola como um lugar de
resistência às ideologias impostas pelo Estado, ou seja, o lugar de onde saem reflexões críticas
visando a alterar a lógica do sistema, não apenas perpetuando-a22.
Quanto ao corpus, foram selecionados: o bilhete enviado aos pais, postado no
Facebook e difundido na mass media; três notícias sobre esse bilhete, divulgadas nos jornais
BBC Brasil, Globo.com e Extra.Globo, na forma digital; duas notas de esclarecimento da
Associação Cedro do Líbano, dos dias 1º. e 2 de dezembro de 2015, divulgadas no próprio
site da escola; e, finalmente, dois comentários de internautas, um do Facebook da escola e

20
A escola, nessa perspectiva, advém dos estudos de Althusser que a considera parte de um dos Aparelhos
Ideológicos do Estado (AIE). Para o autor (1987, p. 22), ela ensina o “‘know-how’ mas sob a forma de assegurar
a submissão à ideologia dominante ou o domínio de sua ‘prática’”, ou seja, a escola torna-se instrumento de
reprodução dos valores sociais capitalistas, por meio da inculcação constante da ideologia dominante e do ensino
que garanta o bom funcionamento do sistema produtivo.
21
A definição de ideologia adotada é a de Fairclough (2003, p.9), que a entende como forma de representação de
aspectos do mundo que pode contribuir para o estabelecimento, manutenção e mudança de relações sociais de
poder, domínio e exploração.
22
A esse respeito, citamos o caso de alunas de uma escola do ensino médio de São Paulo que, influenciadas por
discursos feministas, amplamente divulgados nas mídias sociais movimentaram-se contra as normas de
vestimenta do renomado colégio Etapa. Como regra, a escola pedia para que alunas usassem shorts e saias
abaixo do joelho. Houve uma manifestação na rede social Facebook denominada “Vai ter shortinho sim”,
convocando alunas a refletir e a lutar contras as normas escolares tidas como machistas, pois eram impostas
apenas às meninas. Após a manifestação na rede social, o caso recebeu atenção da mass media ( ver COLLUCI e
GRAGNANI, 2015). Um mês após o ocorrido, com a coleta de 4.000 assinaturas de pessoas aderindo ao ato, a
escola repensou suas regras, aceitando vestimentas mais curtas.
outro da notícia do Globo.com, que representam exemplos de opiniões naturalizadoras do
racismo.

Por uma busca de uma estética identitária


Desde o século XIX, a ideia de branqueamento de raças é perpetuada por diversos
meios23, sendo a estética apenas um deles. Domingues (2004, p. 287-290) assevera que o
modelo branco de beleza era o modelo padrão desejado. Para tanto, muitos afrodescendentes
recorriam a procedimentos estéticos para amenizar seus traços negroides, tais como
afinamento de nariz, uso de cremes para clarear a cútis, procedimentos cirúrgicos para afinar
os lábios e alisamento de cabelo.
A estética do branco como modelo do belo e a do afro como do feio eram divulgadas
em jornais, revistas e anúncios, tanto da imprensa branca quanto da afro. O resultado foi a
proliferação, durante todo o século XIX e início do XX, de salões de beleza especializados em
alisar cabelos crespos, bem como a venda de produtos como pentes e cremes específicos para
combater o cabelo “ruim”. Esse conceito de beleza segundo, Gomes (2012, p. 3),

é expressão do racismo e da desigualdade racial que recai sobre esse sujeito.


Ver o cabelo do negro como “ruim” e do branco como “bom” expressa um
conflito. Por isso, mudar o cabelo pode significar a tentativa do negro de sair
do lugar da inferioridade ou a introjeção deste. Pode ainda representar um
sentimento de autonomia, expresso nas formas ousadas e criativas de usar o
cabelo.

Nesse contexto, o alisamento de cabelo significa algo maior do que a bela estética:
significa a aceitação ou rejeição social. É por meio do olhar do outro, da relação de alteridade,
que os afrodescendentes aceitam ou não sua identidade, que é um construto psíquico 24e
discursivo social: o sujeito se constrói em contexto repleto de valores, crenças e práticas
sociais. Apesar de o contexto compor as relações externas ao discurso, aquele está sempre
numa relação dialética com este, que é socialmente construído e colabora na (re)construção
social da realidade. O discurso é, portanto, parte irredutível da vida social. Esse conceito é
desenvolvido por Fairclough (2001, p. 91) que, baseado nos estudos de Foucault, entende que

23
Domingues (2002, p. 1) baseado em Andreas Hofbauer , relata que o branqueamento é uma categoria analítica
que pode ser estudada tanto como interiorização de modelos culturais brancos pelos negros, acarretando na
própria perda de sua identidade africana, quanto como o processo de clareamento da população por meio da
miscigenação. Adotaremos a primeira opção para este trabalho.
24
Segundo Hall (2008, p. 114), há um ponto de intersecção entre o psíquico, social e o linguístico. Entretanto, há
uma dificuldade em estabelecer uma articulação conceitual entre o social e psíquico, por isso este é sempre
adiado, mas nunca abandonado. Nesta pesquisa, centraremos nos campos social e linguístico e, brevemente, na
questão cognitiva discutida por van Dijk (2008 e 2010).
o discurso contribui para a constituição de todas as dimensões da estrutura
social que, direta ou indiretamente, o moldam e o restringem: suas próprias
normas e convenções, como também relações, identidades e instituições que
lhe são subjacentes. O discurso é uma prática, não apenas de representação
do mundo, mas de significação do mundo, constituindo e construindo o
mundo em significado. [grifos nossos]

Quando incorpora significações (semiose) que contribuem para a estruturação e


manutenção de poder, o discurso adquire um sentido negativo e, por isso, é considerado
ideológico. Entretanto, Fairclough (2001, p. 121) acredita que as ideologias podem ser
superadas pelo sujeito:

As ideologias surgem nas sociedades caracterizadas por relações de


dominação com base na classe, gênero social, no grupo cultural, e assim por
diante, e à medida que os seres humanos são capazes de transcender tais
sociedades, são capazes de transcender a ideologia.

As ideologias são bem mais eficazes quando se tornam naturalizadas e conseguem


atingir o status de senso comum. É nesse ponto que se naturalizam as relações desiguais de
poder, como na metáfora da boa aparência. O sujeito não identifica as formas de dominação,
porque elas não são explícitas, e colabora para reproduzir crenças e valores que advêm das
elites.
No entanto, a dominação não funciona como um cimento social, com status
permanente, ela pode ser reelaborada por sujeitos agentes, por meio de diversas práticas
sociais, resultando na alteração das relações de dominação. Quando o sujeito consegue
identificar essas formas de poder, pode, coletivamente, agir. Baseado em Gramsci (1971,
p.12), Fairclough (2001, p. 122) relata que o poder de uma classe é parcial, com durabilidade
limitada. Isso ocorre porque as hegemonias (re)produzidas podem ser refutadas e modificadas,
quando há lutas hegemônicas contra as desigualdades produzidas nesses setores, de diferentes
níveis e domínios.
Isso pode ser visto nas décadas de 1970 e 1980, com o movimento Black Power que
criava o cabelo da moda. Nascido na década de 1960, nos Estados Unidos, ele tinha o
objetivo de fortalecer a identidade e a cultura africanas e, assim, militar contra o racismo.
Nesse período, movimentos contra o preconceito e o racismo ganharam força, especialmente
no Brasil. Dentre os vários movimentos instaurados aqui, no século XX e XXI, destacamos: o
Movimento Negro Unificado, em 1978; o Movimento de Mulheres Negras, na década de 1980;
a criação da Secretaria de Promoção e Defesa das Populações Afro-Brasileiras
(SEDEPRON), em 1991; os Movimentos Negros no Brasil, em 1995; a Marcha Zumbi +10,
em 1995; e a criação, em 2003 pelo Governo Federal, da Secretaria Especial de Políticas de
Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (SEPPIR).
De acordo com Nascimento e Nascimento (2000, p. 232), “a militância dos afro-
brasileiros, ao longo da história do Brasil, sempre foi uma luta pela sobrevivência e pelos
direitos humanos na sua forma mais simples e universal – a da vida em sua totalidade”. Esses
movimentos buscam, de modo geral, por meio de políticas e ações afirmativas étnico-raciais,
o respeito à igualdade, à cultura e à identidade afro.
Uma das formas de reafirmação da identidade é exatamente a aceitação de seu
cabelo. Fala-se em “empoderamento” contra a estética opressora, que queima a raiz, machuca
o couro cabeludo e desnuda a alma. É o cabelo que se torna instrumento de resistência e
cultura do branco.

Análise do corpus: Cabelo liso e solto sem tiara

Em meio a essa luta, há um grande combate a ser vencido, pois, muitas vezes, as
vozes de opressão são ecoadas em grandes instituições, como nas escolas 25, que, muitas vezes
não tratam os casos relatados por quem sofreu os abusos com seriedade. Aqui,
especificamente, trataremos da escola Associação Cedro do Líbano de Proteção à Infância
que, no dia 30 de novembro de 2015, enviou o seguinte comunicado aos pais:

Para que a nossa apresentação fique ainda mais bonita, conto com a sua colaboração
enviando o seu(a) filho(a) no dia da nossa apresentação de natal 03/12 com o seguinte
penteado: MENINAS: CABELO LISO SOLTO. OBS: sem a tiara. [grifos nossos]

Na mensagem, havia ainda a foto da personagem Maria Joaquina, interpretada por


Larissa Manoela, da telenovela Carrossel (baseada numa telenovela mexicana, exibida no
25
Seja na forma institucional, seja, como relata Cordeiro (2011), no racismo presente nos colegas de classe
canal aberto SBT - Sistema Brasileiro de Televisão, em 2012). A imagem agravou ainda mais
a situação, visto que a personagem, segundo o próprio jornal Extra.Globo (2015) recordou,
tinha atitudes racistas contra o colega de sala de aula, negro e pobre, Cirilo, interpretado por
Jean Paulo Campos.
Ao unirem a fotografia com o adjetivo bonito, com o advérbio intensificador mais e
com o pedido de cabelo liso, reforçou-se, no imaginário coletivo, o ato de racismo, visto que
o cabelo liso pertence à imagem do cabelo ocidental, de maioria branca, como a marca do
belo. Há uma internalização do racismo quanto ao padrão branco de beleza implícito nesse
pedido, na metáfora implícita da boa aparência, carregada de valores ideológicos da
supremacia branca.
Após o comunicado ter sido postado, no mesmo dia, na rede social Facebook, ele foi
compartilhado mais de mil vezes e curtido mais de seis mil vezes, com muitos comentários de
repúdio e outros que questionaram a existência do racismo. O debate teve maior relevância,
principalmente, porque tal pedido foi oriundo de uma escola. Para Gomes (2002, p. 44), há
espaços específicos onde se reforçam estereótipos contra o cabelo e o corpo do negro e um
desses espaços é justamente a escola. A autora (ibid., p. 40-41) ainda esclarece que

a trajetória escolar aparece (...) como um importante momento no processo


de construção da identidade negra e, lamentavelmente, reforçando
estereótipos e representações negativas sobre esse segmento étnico/racial e o
seu padrão estético. O corpo surge, então, nesse contexto, como suporte da
identidade negra, e o cabelo crespo como um forte ícone identitário.

Segundo Fairclough (2003, p 23), os agentes sociais tecem os textos, isto é,


estabelecem relações entre os elementos dos textos e produzem o sentido. Ao optarem por
certas palavras e não outras, ao combinarem certos sentidos e não outros, os agentes
demostram seus poderes causais. Nesse caso, a combinação das palavras cabelos lisos e mais
bonito forma uma relação semântica que enfatiza uma cultura (do branco) em detrimento da
outra (do não-branco), reproduzindo o racismo internalizado.
Isso pode ser observado quando alguns usuários entenderam o ocorrido como algo
normal, como pode ser visto no comentário do usuário Júlio, que entrou no Facebook da
escola para se manifestar, em 2 de dezembro de 2015, e no do internauta Marcelo, que fez o
comentário no site da Globo, no mesmo dia. Seus comentários estão transcritos
respectivamente a seguir:
“Meu deus e muito mimimi, minha nossa senhora, não dá pra fazer nada que já gera
revoltinha, pqp que época horrível pra se viver, o politicamente correto esta destruindo as
interações humanas, nos deixando cada vez mais distantes e nem percebemos, triste muito
triste. [sic]. [grifos nossos]

“Não achei nada de racismo!!! O problema é que tem mães que mandam os filhos todos
largados pro colégio com o cabelo todo despentiado cheio de piolhos e não estão nem ai
com a vida ...(...)” [sic] [grifos nossos]

Júlio considerou o comunicado como “nada” e as reclamações de outros usuários


como “mimimi” e “revoltinha”. Ele ainda acrescenta que as vozes contrárias ao que ele
acredita ecoam a partir dos princípios do que seja politicamente correto26, maneira de
depreciação aos que buscam igualdade étnica social. A luta contra a perpetuação do racismo é
denominada “revoltinha”, termo usado no diminutivo para indicar a inexpressividade da
polêmica gerada. O usuário não reconhece o pedido de cabelo liso como racismo, o que indica
a força da metáfora que o esconde, reproduzindo os discursos de branqueamento estético.
Se, por um lado, o comunicado, ainda que implicitamente, descreve o indivíduo que
torna a festividade de Natal “mais bonita”, como se pode deduzir do raciocínio retórico em

26
Dentre os possíveis sentidos do politicamente correto (PC) estudados por WEINMANN e CULAU (2014, p.
635) o autor destaca a de Renato Janine Ribeiro que serve melhor ao que foi empregado pelo internauta: a
antipatia em relação ao PC, inclusive entre acadêmicos, decorre sobretudo do fato de o PC consistir em um efeito
da organização de minorias contra atitudes discriminatórias profundamente arraigadas em nossa cultura.
que a conclusão permanece apenas sugerida, ocultando-se, portanto, da fácil contestação que
pode surgir a qualquer momento:

Uma apresentação mais bonita requer cabelo liso por parte das meninas.
[Só as meninas brancas têm cabelo liso,
Logo, somente elas poderão torná-la assim]

por outro lado, a identidade metafórica de seu conteúdo produz o efeito de presença do objeto
e a sua admissão como prática social naturalizada corresponde à aceitação do juízo de
importância das características que ela põe em evidência.
O mesmo ocorre no comentário de Marcelo, que associa o cabelo não-liso, crespo, à
falta de higiene, e “nada de racismo”. Sua postagem teve oito “curtidas” a favor e dezessete
contra. De fato, Marcelo assume a postura de quem confirma “a presunção de credulidade
natural, que faz com que nosso primeiro movimento seja acolher como verdadeiro o que nos
dizem, e que é admitida enquanto e na medida em que não tivermos motivo para desconfiar”
(PERELMAN e OLBRECHTS-TYTECA, 2008, p. 79), ou seja, ele parte do que é normal, do
habitual, do que presume ser fato ou verdade ao auditório universal, e, ao assim admitir,
assume a função de porta-voz desse seu grupo de referência, interpretando o comunicado sob
a presunção da naturalidade: “Não achei nada de racismo!!! O problema é...”, ainda que
associe o par liso/crespo a limpo/sujo. Nesse sentido, coloca-se em prática o funcionamento
da estética do sujo (preto de cabelo crespo, já que a resposta diz respeito a uma discussão
gerada por causa do racismo) em contraposto à do limpo (branco de cabelo liso). Note que a
estética está associada a uma identidade étnica, logo, ao criticar a estética, critica-se a etnia de
um povo.
Para a Análise Crítica do Discurso, embora existam diversas maneiras para exercer a
dominação, como, por exemplo, os modos coercivo ou persuasivo, ela não é feita pela
imposição, de maneira que há um consentimento “espontâneo” por parte das demais classes.
Os discursos dominantes são tão presentes que levam à naturalização ou à automatização no
modo como entendemos e vemos o mundo. Passamos, então, a reproduzir o sistema de
crenças e valores, o sistema de relações e identidade dos grupos sociais, conforme afirmam
Chouliaraki e Fairclough (1999, p. 24).
Entretanto, Fairclough (2003, p. 160) também cita a capacidade de pessoas, que
nasceram em certas sociedades e classes sociais menos favorecidas, de mudar seu estado por
meio da própria capacidade de reflexão e ação:
Poucas pessoas nas sociedades contemporâneas permanecem dentro dos
limites dos seus posicionamentos, mas suas habilidades para transformá-los
dependem de reflexões e da capacidade de tornarem-se Agentes
Corporativos capazes de ações coletivas e formações de mudança social.

Por causa dessa possibilidade de mudança hegemônica é que a Análise Crítica do


Discurso, de Fairclough, entende os sujeitos como agentes sociais, porque são parcialmente
afetados pelas estruturas, mas isso não os impede de, quando ativadas suas potencialidades,
serem capazes de ter autorreflexão para agir socialmente e transformar as relações de poder.
Dessa forma, o agente social é capaz de agir sobre o mundo e sobre os outros, dentro de uma
liberdade relativa.
Foi exatamente exercendo essa capacidade de reflexão que o caso não foi tratado por
todos de maneira naturalizadora, como os que destacamos. A assessoria de imprensa da atriz
Larissa Manoela, por exemplo, fez questão de se manifestar sobre o ocorrido, pois a imagem
da atriz foi vinculada a uma mensagem que gerou polêmica. Em nota à imprensa, relatou-se
que a imagem foi usada sem autorização, que a atriz “não tinha conhecimento do uso da foto e
sempre se mostrou contrária a qualquer tipo de preconceito, e sempre orienta as crianças sobre
a importância da diversidade” (CRECHE..., 02.12.2015) Além disso, mais de mil usuários do
Facebook e as principais mídias também criticaram a escola, trazendo à tona questões
importantes sobre a imposição de padrão estético.

Resposta da escola ao ocorrido


Após grande repercussão midiática, a Associação Cedro do Líbano de Proteção à
Infância emitiu duas notas de esclarecimento em seu site. Entretanto, muitos leitores que
acompanhavam o desfecho dos fatos não consideraram que a escola tratou a questão com a
gravidade devida. Trechos dos comunicados foram discutidos e vistos apenas como
amenizadores. Abaixo o trecho da primeira nota:

1ª. NOTA DE ESCLARECIMENTO


(...)
O procedimento equivocado e individual de um funcionário sem autorização da Direção
(o qual as medidas administrativas já estão sendo tomadas), não pode representar a imagem de
todo um trabalho voluntário de 68 anos a favor da igualdade e contra qualquer tipo de
preconceito. [sic] [grifos nossos]
São Paulo, 01 de dezembro de 2015.

Nessa nota, o ato de racismo foi chamado procedimento equivocado e individual, ou


seja, há visivelmente uma tentativa de minimizar a gravidade do fato e de tentar isolá-lo sem
que a escola pudesse ser responsabilizada pelo que seu funcionário produziu, pois foi feito
sem autorização da Direção. Van Dijk (2008, p. 18-19) relata que há estratégias globais
discursivas que enfatizam o racismo do Eles, do grupo de fora, e não o do Nós, do grupo de
dentro. O uso de eufemismo, enquanto técnica de atenuação (PERELMAN e OLBRECHTS-
TYTECA, 2008, p. 530), faz parte dessa estratégia argumentativa à busca de produzir a
impressão favorável de ponderação, de sinceridade.
A escola, nesse momento, está salvando a sua face (GOFFMAN, 1985), já que o caso
alcançou repercussão negativa na mass media e ela vive de doações. Por essa razão, ela
reforça, em sua nota, que a escola que atua há 68 anos com trabalhos contra qualquer forma
de preconceito. Além disso, argumenta que a comunidade, pais e alunos, a avaliaram muito
bem e que isso consta nos indicadores de Qualidade de Educação, como pode ser lido na
mesma nota:

Citamos ainda que recentemente foi implantado pela Prefeitura Municipal de São Paulo os
indicadores de Qualidade de Educação, onde esta instituição foi muito bem avaliada pela
comunidade e pais de alunos. [grifos nossos]

O que pode ser discutido aqui é o entendimento da gravidade dos fatos pela escola,
visto que, como já mencionado, tem papel fundamental na constituição das identidades
sociais. Isso ocorre no segundo comunicado da Associação:

2ª. NOTA DE ESCLARECIMENTO DA ESCOLA:


A Associação Cedro do Líbano de Proteção à Infância e seus educadores repudiam
qualquer forma de preconceito e discriminação. Reconhecemos e já esclarecemos sobre o
equívoco da mensagem e tomamos todas as medidas administrativas cabíveis para que erros
lamentáveis como esse não se repitam e possam ferir os preceitos postos na Lei 10639/2003 e
Lei 11645/2008. [grifos nossos]
São Paulo, 02 de dezembro de 2015.

Nesse segundo momento, a escola diferencia preconceito de discriminação, afirmando


que, assim como o seu corpo docente, repudia-os. Além disso, preocupou-se em citar as leis
10639/2003 e 11645/2008, enquanto argumento de autoridade que reforça o seu modo de
fazer, já que a escola as conhece e reconhece a ilegalidade de desacatá-las. Nesse contexto,
quanto mais importante e reconhecida pelo auditório for a autoridade, mais indiscutíveis serão
suas palavras.
A instituição deixou claro que usará o ocorrido para ampliar sua visão a respeito da
diversidade e do reconhecimento à identidade, como continua dizendo:
O ocorrido nos faz ampliar sobre a nossa visão acerca da construção coletiva de uma
educação pautada no respeito à diversidade, reconhecendo as identidades de todos e todas,
com práticas pedagógicas, materiais e ambientes planejados para combater o racismo, o
preconceito e qualquer forma de discriminação. [grifos nossos]

Verifica-se que a escola se inclui para construir uma “visão coletiva” de educação,
nossa visão, e não culpa o(a) professor(a) individualmente, como fizera no comunicado
anterior. Por fim, diz que irá se engajar para combater o racismo, o preconceito e outras
formas de discriminação.
É importante ressaltar que o que deve ser combatido não é apenas o racismo declarado,
facilmente identificado, mas também aquele que está disfarçado na metáfora da boa
aparência, como estudado por Damasceno (2000) e, neste caso, na forma do cabelo liso. O
que foi revelado à sociedade, via rede social Facebook, e mais tarde, pela mass media, é
apenas parte de algumas práticas escolares que ainda tentam impor a estética do branco
ocidental aos não-brancos. Cabe aos que constituem a escola (professores, alunos, diretores e
outros), o papel de refletir sobre as suas próprias práticas, por vezes internalizadas, como
adverte van Dijk (2008, p. 16): “Se o ‘racismo’ não se tornar um assunto público, a
dominação étnica continuará inalterada”.

Considerações finais

O sentido de boa aparência ou, neste estudo, mais bonita, ainda encontra-se
estritamente relacionado à estética de branqueamento, amplamente disseminado no século
XIX e perpetuado por meio de práticas que o naturalizaram. A ideia de “brancura limpa”
como padrão de beleza contra o “sujo não-branco” representou, segundo Domingues (2004, p.
292), “um entrave para a formação positiva da autoestima do negro, pois este passou a
alimentar um certo autodesprezo”.
Entretanto, pode-se dizer que há vozes de resistência que permitem a reflexão crítica
acerca dessas condutas. Surgem, nesse processo, os sujeitos agentes capazes de transformar o
limite de seus posicionamentos, como afirmou Fairclough (2003, p. 160), e “empoderar-se” 27
de suas raízes, identidades, culturas, por meio de ações assertivas que rejeitem toda e qualquer
imposição de padrões estéticos do branco. A rede social torna-se, nesse processo, um lugar
27
“Processo pelo qual um indivíduo, um grupo social ou uma instituição adquire autonomia para realizar, por si,
as ações e mudanças necessárias ao seu crescimento e desenvolvimento pessoal e social numa determinada área
ou tema. Implica, essencialmente, a obtenção de informações adequadas, um processo de reflexão e tomada de
consciência quanto a sua condição atual, uma clara formulação das mudanças desejadas e da condição a ser
construída” (SCHIAVO e MOREIRA, 2005, p. 59).
onde se realiza a participação cívica de anônimos, o lugar onde as opiniões, as decisões e as
ações coletivas sobre determinado assunto são mobilizadas pelo e para o cidadão.
É preciso, contudo, que essa reflexão possa atingir a sociedade de forma mais
abrangente, começando pelo lugar onde são formadas as consciências dos pequenos cidadãos:
a escola. Nesse sentido, a educação passa a ter um papel social transformador que visa menos
ao aumento da adesão àquilo que está aceito e mais a uma reavaliação das crenças e valores;
deve ser ela lugar de espírito investigativo crítico, de força de resistência contra toda
manifestação que menospreza e exclui a diferença. Isso implica opor-se às concepções, às
perspectivas estabilizadas, naturalizadas, ou seja, pôr-se em conflito com a doxa, ainda que
responsável pela construção da identidade social, quando estiver tendente ao estático.

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WEINMANN, Amadeu de Oliveira e CULAU, Fábio Vacaro. Notas sobre o politicamente
correto. Revista Estudos e pesquisas em psicologia. Rio de Janeiro. v. 14, n. 2, p. 629-645,
2014. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-
42812014000200014. Acesso em: 25 jun 2016.

Reportagens
ASSOCIAÇÃO Cedro do Líbano. Nota de esclarecimento. Disponível em:
http://www.cedrodolibano.org.br. Acesso em: 15 jan. 2016.

CRECHE de SP pede a alunas 'cabelo liso e solto' em festa e causa polêmica. Globo.com, 2
dez 2015. Disponível em: http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2015/12/creche-de-sp-pede-
alunas-cabelo-liso-e-solto-em-festa-e-causa-polemica.html.. Acesso em: 15 jan 2016.

EM SP, escola acusada de racismo após comunicado em que pede ‘cabelo liso’ em alunas para
apresentação, Extra.Globo, 2 de dez 2015. Disponível em:
http://extra.globo.com/noticias/brasil/em-sp-escola-acusada-de-racismo-apos-comunicado-
em-que-pede-cabelo-liso-em-alunas-para-apresentacao-18198982.html. Acesso em: 15 jan.
2016.

ESCÓSSIA, Fernanda. Escola de SP causa polêmica ao pedir que meninas usem cabelo 'liso e
solto’. BBC-Brasil, 2 dez. 2015. Disponível em:
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/12/151201_escola_racismo_fe_rb. Acesso em:
15 jan. 2016.

MANIFESTANTES fazem protesto contra a corrupção em São Paulo. Folha de S.Paulo. 1º.
jul. 2013. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/07/1304559-
manifestantes-fazem-protesto-contra-a-corrupcao-em-sao-paulo.shtml. Acesso em: 08 abr.
2015.

PELA 1ª. VEZ, Facebook tem mais de 1 bilhão de usuários em um único dia. BBC Brasil. 25
ago. 2015. Disponível em:
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/08/150828_facebook_recorde_lab. Acesso em:
16 jun. 2016.
STRAIGHT HAIR AND LOOSE HAIR TO WINDY:
THE RACISM IN THE METHAPHOR OF GOOD LOOKING
A SOCIAL CRITICAL PERSPECTIVE OF LANGUAGE

Abstract: This study aims to analyse the current circulation of racist discourse in social
practices, in the form of metaphor of looking good. The corpus is composed by news from the
following newspaper: BBC-Brasil, Globo.com and Extra.Globo related to a case that gained
attention, after being posted in social media as a protest way. The case was a message from a
school of São Paulo to the parents via diary. The fact reported spawned several critical
comments and, as a result of them, in an official request school apology. The issue becomes
relevant because it proves that racism is still present, naturalized as part of common Brazilian
daily practices, although it has been hiding for years behind the good looking. We intend to
analyse, therefore, a social practice which moved several others in a network, thereby
producing reactions and actions, both in the producers and in the readers of newspaper and
social media. For this analysis, we will use the theoretical framework from Critical Discourse
Analysis, developed by Fairclough (2001, 2003), who studies the language in a dialectical
relationship with social life based on Critical Realism. We will also use the concept of racism
from van Dijk (2010) who considers it as a very complex social system of domination, which
involves ethical foundations and inequality issues, as well it is composed of a social and
cognitive subsystem. In addition to these authors, we will use the Argumentation theoretical
tool from New Rhetoric, formulated by Chaim Perelman and Lucie Olbrechts-Tyteca (2000).

Palavras-chave: Racism. School. Social Media. Critical Discourse Analysis.

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