EXPEDIENTE
Organização
Ana Paula Rabelo e Silva (FA7 / UFC)
Claudiana Nogueira de Alencar (UECE)
Dawton Lima Valentim (UECE)
Rayana Vasconcelos da Costa (UFC)
Ticiane Rodrigues Nunes (UECE)
Revisão de Texto
Carlos Eduardo Ferreira Cruz (UECE)
Dawton Lima Valentim (UECE)
Francisco Douglas Costa (UAB/UECE)
Hugo Leonardo Gomes dos Santos (UECE)
Jony Kellson de Castro (UECE)
Kélvia Cristina de Menezes Arrais (UECE)
Mádja Diógenes Maia (UECE)
Marco Antonio Lima do Bonfim (UECE)
Maria Eduarda Gonçalves Peixoto (UECE)
Nádja Diógenes Maia NJ (UECE)
Sabrina Costa Tanaka (UECE)
Sâmara Natasha Valente de Oliveira (UECE)
Projeto Editorial
Especialização em Linguística Aplicada – FA7
ISBN 978-85-62641-06-0
COMISSÃO ORGANIZADORA
Coordenação Geral
Claudiana Nogueira de Alencar (UECE)
Coordenação Adjunta
Ana Cristina Cunha da Silva (UNILAB)
Ana Paula Rabelo e Silva (FA7/UFC)
Dina Maria Martins Ferreira (UECE)
Maria de Fátima Vasconcelos da Costa (UFC)
Maria Izabel Santos Magalhães (UFC)
Nelson Barros da Costa (UFC)
Comissão Científica
Alice Cunha de Freitas (UFU)
Ana Paula Rabelo e Silva (FA7/UFC)
Angela Derlise Stübe (UFFS)
Anna Lúcia dos Santos Vieira e Silva (UFC)
Beatriz Maria Eckert-Hoff (UDF/ Brasília)
Catarina Tereza Farias de Oliveira (UFC)
Cicilia Maria Krohling Peruzzo (UMESP)
Celina Aparecida Garcia de Souza Nascimento (UFMS)
Claudiana Nogueira de Alencar (UECE)
Daniel do Nascimento e Silva (UNIRIO)
Deusa Maria de Souza Pinheiro Passos (USP)
Dina Maria Martins Ferreira (UECE)
Djane Antonucci Correa (UEPG)
Dylia Lysardo-Dias (UFSJ)
Ernesto Sérgio Bertoldo (UFU)
Geovani Jacó de Freitas (UECE)
Guilherme Veiga Rios (UnB/INEP)
Ines Silvia Vitorino Sampaio (UFC)
Jaileila de Araújo Menezes (UFPE)
Joana Plaza Pinto (UFG)
João Batista Costa Gonçalves (UECE)
José Ernandi Mendes (UECE)
José Wellington Dias Soares (UECE/FECLESC)
Liliana Cabral Bastos (PUC-Rio)
Lucineudo Machado Irineu (UERN)
Magna Maricelle Fernandes Moraes Valle (UECE)
Maria Bernadete Fernandes de Oliveira (UFRN)
Maria das Dores Alves Sousa (UECE)
Maria das Dores Nogueira Mendes (UFC)
Maria das Graças Dias Pereira (PUC-Rio)
Maria de Fátima Vasconcelos da Costa (UFC)
Maria Helena da Paula Frota (UECE)
Maria Izabel Santos Magalhães (UFC)
Maria José Rodrigues Faria Coracini (UNICAMP)
Maria Luiza Monteiro Sales Coroa (UnB)
Milena Marcintha Alves Braz (FGF)
Nádia Marques Gadelha (FGF)
Nelson Barros da Costa (UFC)
Raimundo Augusto Martins Torres (UECE)
Raimundo Ruberval Ferreira (UECE)
Renata Rosa Russo Pinheiro Costa Ribeiro (UECE)
Sandra Maia Farias Vasconcelos (UFC)
Sandra Maria Gadelha de Carvalho (UECE)
Vania Maria Lescano Guerra (UNICAMP)
Vera Regina Rodrigues da Silva (UNILAB)
Viviane de Melo Resende (UnB)
Comissão Técnica
Antonio Oziêlton de Brito Sousa (MAIE/UECE)
Elenice Rabelo Costa (MAIE/UECE)
Gustavo Cândido Pinheiro (UECE)
Kélvia Cristina de Menezes Arrais (UECE)
Paulo Martins Pio (MAIE/UECE)
Comissão Financeira
José Ernandi Mendes (MAIE/UECE)
Sebastião Wellington Veras (UECE)
Comissão de Comunicação
Benedita França Sipriano (UECE)
Catarina Tereza Farias de Oliveira (UECE/ UFC)
Dawton Lima Valentim (UECE)
Elayne Gonçalves Silva (UECE)
Filipe Fontenele Oliveira (UECE)
Hylo Leal Pereira (UECE)
Humberto Queiroz Santos da Silva (FA7)
Isabela Karízia Ramos Cavalcante (FA7)
Janaina Lisboa Lopes Freire (UECE)
Jony Kellson de Castro Silva (UECE)
Marco Antonio Lima do Bonfim (UECE)
Maria de Fátima Medina Lucena (UECE)
Morgana Ferreira de Lima (UECE)
Rayana Vasconcelos da Costa (UFC)
Thaysa Maria Braide de Moraes Cavalcante (UECE)
6
DISCURSOS, IDENTIDADES E QUESTÕES DE GÊNERO
ST
REINVENTING 21 CENTURY EMANCIPATION: THE FEMINISATION OF
RESISTANCE IN THE NETWORK OF PAZIFICA WOMEN, CALI, COLOMBIA
Sara C. Motta
Apesar dos movimentos sociais ativos em muitas partes do mundo que têm
colaborado com a aceitação relativa de vidas queer, dos vários discursos que
circulam na mídia e na Internet sobre tais performatividades, e da possibilidade
de usar a web para facilitar encontros sexuais queer, o que como nunca antes
aumentou a visibilidade de tais vidas, viver tais sexualidades distante da matriz
heterossexual (Butler, 1990), como um princípio orientador, é ainda uma
grande questão em muitos lugares. Tal ponto implica que a etiqueta
"modernidade reflexiva" (Giddens, Beck & Lash, 1995), criada para explicar o
tipo de mundo no qual vivemos ao questionarmos continuamente princípios
7
sociais entendidos como naturais - "as vozes da modernidade" (Bauman &
Briggs, 2003) - está ainda bem longe de dar conta da vida de uma grande parte
da população no mundo. A reflexividade é típica das vidas contigentes que
muita gente vive mais e mais performativamente hoje em dia, mas ao mesmo
tempo há discursos reacionários e efetivos em circulação em toda parte que
requerem que tal reflexividade seja escondida em muitos círculos. Esta
apresentação examina como a reflexividade tem lugar em um blog chamado "
A vida no armário", alimentado por um estudante de graduação mineiro entre
2011-2014. Acompanhei o blog durante dois anos, usando os princípios da
metodologia etnográfica virtual (Hine, 2005). Em particular, nessa apresentação
estudo a trajetória textual (Blommaert, 2010) de uma propaganda no you-tube
chamada "O homem homem", e analiso como ela é entextualizada (Bauman &
Briggs, 1990; Blommaert & Rampton, 2011) na postagem do blogueiro e re-
entextualizada nas postagens de 18 participantes do blog em um mundo de
intensa mobilidade de textos e pessoas. Em outras palavras, descrevo a
translocalização (Blommaert, 2005) do texto vídeo do you-tube, que o coloca
sob o escrutínio dos participantes. Na análise, chamo atenção para: a) como
escalas sociais diferentes (Blommaert, 2010) de gênero, sexualidade, raça e
classe social são indexadas interseccionalmente (Penedo, 2008; Somerville,
2000; Barnard, 2003; Sullivan, 2003; Halberstam, 2005, 20011), trazendo à
tona saltos escalares nessas trajetórias textuais, e b) como tais processos
sociolinguísticos são constitutivos da metareflexividade com a qual os
participantes estão envolvidos ao queerizar ordens heteronormativas de
indexicalidade (Blommaert, 2010), apesar de tudo isso ser feito em segredo na
blogesfera.
8
DISCURSOS DE RESISTÊNCIA, IDENTIDADES EM EDUCAÇÃO POPULAR
9
da realidade, atualiza sua potência criativa. Assim, trazemos alguns elementos
que consideramos fundamentais no contexto das experiências que temos
vivenciado no Ceará e no Brasil como trilhas de educação popular e que têm
sido base, esteio, para que essas histórias de luta e resistência se efetivem
gerando discursos que não se expressam de forma fragmentada mas em sua
inteireza, onde seres individuais e coletivos se expressam de forma polifônica
em múltiplas linguagens. A arte para nós é um desses elementos, olhar que
traz também a estética popular que nos pergunta por dimensões da vida que
constituem a saúde das comunidades. Arte como diálogo, “este encontro dos
homens, mediatizados pelo mundo, para pronunciá-lo, não se esgotando,
portanto, na relação eu-tu”, já nos dizia Freire (2000, p. 154) e que parece
expressar nos contextos dos movimentos e práticas populares, como espaço
de criação – transcendência, capaz de produzir sentidos e sentimentos,
contribuindo para conformar as trilhas dos caminhos, dos atos que ultrapassam
limites e transformam realidades. Nesse debruçar sobre os discursos de
resistência que reafirmam as identidades, referenciamos sinfonias ensaios da
alteridade como espaço polifônico do dizer das culturas humanas no universo
de Fortaleza e de outros contextos no Ceará e Rio Grande do Norte, que
advém da caminhada pelos territórios, cenários-campos de ação-reflexão onde
nos movemos. Dessa forma trazemos referencias ancoradas na experiência
das Cirandas da Vida no mangue em Vila Velha- Fortaleza -CE, na qual a arte
como potência de humanidade e devir social nos ajudou a pensar o cuidado
com a vida das comunidades e desvelou o potencial de apreensão da arte
como teia capaz de enlaçar a intersetorialidade em meio aos tensionamentos
das políticas públicas locais. A inserção do diálogo como prática de
intersetorialidade, pareceu-nos trazer para a comunidade novas dimensões da
luta popular, como a articulação de saberes e experiências no planejamento,
realização e avaliação de ações para alcançar efeito sinérgico em situações
complexas vividas do território como a saga da luta pela moradia daqueles que
ocuparam o mangue. Revelou como a ação ostensiva (e expulsiva) do Estado,
no sentido de dar lugar a empreendimentos privados, de grandes empresas em
detrimento da vida no território acirra as contradições de um modelo de
desenvolvimento acumulador de riquezas. A reflexão sobre o cuidado com a
vida nos revelou que não se tem ouvido o que a população tem a dizer sobre
cuidado. A arte, nesse campo dos diálogos, mostrou seu o dialogismo e trouxe
as subjetividades para tomar a cena junto às questões cotidianas resultando
em uma espécie de ressemantização das discussões vividas e que tentam
atos-limite (atos de transformação das situações-limite), que em sua polifonia
pareceu-nos, também, apontar caminhos metodológicos de realizar a
suspensão crítica e os ensaios de utopia necessários à problematização das
situações-limite em seu exercício transformador. Ação de subjetivação (e
sujeitificação) que alcança as interferências no mundo público, em um diálogo
com dimensões cujos resultados, pode aflorar também de grupos pequenos e
de ensaios de subjetivação, feitos com a reflexão sobre o feminino como
pudemos ver na experiência com as Mulheres em Movimento no Conjunto
Palmeira, Fortaleza – CE =, que, partindo de vivências com teatro fórum
montaram um espetáculo que problematiza a violência e referenda a
importância de discutir a Lei Maria da Penha. Considerando essa
10
contextualização e reconhecendo o Movimento Escambo Popular Livre de Rua,
originário do RN e que há duas décadas re-existe no contexto distante dos
grandes centros do RN e CE, como importante escola popular onde a
linguagem “cenopoética” ocupou o centro das rodas parecendo revelar-se ao
mesmo tempo como uma forma singular de produção artística onde dialogam
diversas linguagens e também como estratégia educativa a partir da qual é
possível refletir e problematizar a realidade, lançando mão de inumeráveis
possibilidades de criação e expressão considerando as possibilidades do
diálogo entre as linguagens sem que elas percam suas identidades estéticas,
mas, ao mesmo tempo, produzindo outra que as contém, parece-nos que a
“cenopoesia” se aproxima da noção de polifonia trazida por Bakhtin. Outra
reflexão, que gostaríamos de trazer diz respeito à experiência vivida no Espaço
Ekobé delineado na interface da Articulação Nacional de Movimentos e
Práticas de Educação Popular e Saúde (ANEPS), a Universidade Estadual do
Ceará (UECE), a Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza e o Ministério da
Saúde, como forma de estabelecer diálogos entre os saberes disciplinares da
Universidade, aqueles desenvolvidos na prática profissional e os gestados com
amparo nas experiências de movimentos populares. Tentando uma urdidura
que parte da busca da memória das lutas populares sem perder a ideia de que
a história é criação permanente, o percurso da ANEPS tem potencializado
leituras de compreensão do vivido e exercícios de intervenção e produção da
vida coletiva a partir da interação entre os diversos atores envolvidos,
concretizadas através de ações de formação, fortalecimento da articulação e
de comunicação na perspectiva de superação dos contextos de opressão
vividos pelos grupos e comunidades estruturando ações de transformação a
partir das potencialidades dos atores envolvidos e do agir solidário. O Ekobé,
gerido coletivamente por atores dos movimentos e práticas populares de saúde
de Fortaleza, atua com a ação militante dos sujeitos populares especialmente
com o cuidado, a formação e a ação cultural iniciadas com o protagonismo
desses atores e atrizes populares que desencadearam movimentos de
aproximação com os conteúdos temáticos de disciplinas integrantes dos cursos
da área da saúde na graduação e pós-graduação, bem como com os
processos de educação permanente desenvolvidos nos serviços de saúde de
Fortaleza e movimentos populares, ao mesmo tempo que produz diálogos
entre as práticas integrativas e populares de cuidado, a arte e a educação na
saúde, produzindo como um saber sobre cuidado que incorpora estratos
significativos da experiência popular e que parece realizar o que Boaventura
Santos nomeia de ecologia de saberes onde é possível se promover uma
tradução intercultural, que inclui a arte e as práticas populares de cuidado,
como expressões singulares dessa experiência, criando zonas de contato para
a efetivação do diálogo intercultural feito princípio de resistência, solidariedade
e caminho de emancipação. Nesse caminhar, vimos a educação popular, arte e
as práticas populares de cuidado constituírem-se linguagens de resistência e
vozes de emancipação.
11
DISCURSOS, FRONTEIRAS E ETNICIDADE NA AMÉRICA LATINA
12
subversivo da santa. Assim, a longa história de subalternização colonial do
pensamento e do corpo da mulher mestiça encontra uma frente de combate
exatamente através da subversão de sentidos efetuada pela sexualização da
imagem antes casta da Virgem de Guadalupe. Este movimento percorre o
corpo físico da santa, marcando o lugar de fala de sua escritura.
AFROLATINOAMÉRICA
Vera Rodrigues da Silva
14
DISCURSO, IDENTIDADES E INFÂNCIA
15
A PERCEPÇÃO DE RISCOS E OPORTUNIDADES
NO USO DA INTERNET POR MENINAS
Ana Cesaltina Barbosa Marques
16
CONSTITUIÇÃO DO ETHOS ESCOLAR EM NARRATIVAS DA INFÂNCIA
Maria da Conceição Passeggi
17
DISCURSO, IDENTIDADES E CRISE AMBIENTAL
Observamos aflitos sintomas de uma crise (ou serão várias?) que nos afeta,
direta ou indiretamente, a todos os seres humanos e, sistemicamente, a toda a
vida no planeta. É bem possível que esta seja a maior crise de repercussão
planetária que já presenciamos na história da humanidade.
18
a vem tornando cada vez menos capaz de conduzir à sobrevivência e
ao florescimento humanos. (WALLACE, 2011, p. 232)
19
tendência a se refugiar na segurança do que sempre foi igual.” (ZABALA, 2002,
p.49)
Para Le Moigne, Bogdanov foi o primeiro no mundo científico, e por muito
tempo o único, a anunciar que o processo mental e a ação que provoca a
construção e a criação de conhecimento "não é talvez a disjunção, mas a
conjunção." (LE MOIGNE in PENA-VEGA & ALMEIDA, 1999, p.57)
A criação de conhecimentos não pode ser uma ação meramente analítica e
destacada de seus contextos. Nada pode ser exclusivamente disjunto, se não
partir de uma comparação aproximada entre dois ou mais contextos. Isso quer
dizer que não devemos perder de vista que só é possível compreender as
partes de um todo se pudermos entender como essas partes se conjugam
entre si e como essas relações influenciam o todo. Bogdanov, em 1914, já
questionava a “doutrina dualista de Descartes" (1980, p.259) que reforçava a
fragmentação entre as disciplinas e conhecimentos científicos, deixando de
lado a visão orgânica e sistêmica das relações das partes entre si e com o
todo.
Almeida (2008) nos fala que a escola, sendo um espaço privilegiado de
experimentação e reconstrução culturais, deverá promover uma “aprendizagem
mestiça, capaz de transformar experiências singulares em configurações mais
híbridas, abertas, policompetentes." (ALMEIDA, 2008. p.138)
O efeito transdisciplinar na construção de um novo modo de pensar deve partir
de operações mentais distintas das que se operam em um pensamento
cartesiano e mecanicista.
Uma primeira e mais original característica-base do pensamento
Transdisciplinar é a não-separatividade. Esta característica permite a
reintrodução do sujeito (MORAES, 2008, p.105) no processo do conhecimento,
associando o ato de conhecer à história de vida, ao “que fazer” de quem
conhece. Essa integração entre sujeito e objeto em si já é uma grande
mudança, pois caracteriza, nesta simples, embora essencial idéia, um novo e
real paradigma, já que a dissociação sujeito e objeto está na gênese do
pensamento científico moderno.
Também são características relacionadas a um currículo Transdisciplinar: a
associação do corpo com o pensar e o sentir; a associação entre ciência,
tradição e arte; entre teoria, prática e sentido; a interligação de diferentes níveis
de realidade e a convivência harmoniosa com diferentes níveis de percepção;
dentre outras associações que com irão repercutir no currículo transdisciplinar
e na evolução humana que sua aplicação no ensino possivelmente
desencadeará.
Essa evolução humana possivelmente dará indícios através da incorporação no
comportamento humano de uma Ética humana planetária (MORAES, 2008, p.
110). Essa ética, genuína, não seria portanto um sistema de regras sociais a
serem seguidas. Teria origem no interior dos seres humanos, em seus
espíritos, como decorrência de uma nova operação lógica transdisciplinar.
20
dos saberes, das práticas, das culturas produzidas pelas sociedades
humanas, mas a cruzá-los, a estabelecer entre eles comunicações
inéditas que nos coloquem em condições de fazer face às exigências
sem precedentes da nossa época. (PRIGOGINE & STENGERS,
1984, p.225)
O amor, que nos torna cada vez mais humanos (MATURANA & VARELA,
2001), que nos permite a aceitação de si e do outro com legitimidade, é o
componente absoluto desta nova Ética.
A Ética em ação, provinda dos espíritos humanos, na interação social, a partir
da linguagem, é o melhor indicador de mutação paradigmática que podemos
ter. É o indicador do nascimento de um paradigma da convivência na
diversidade, mais responsivo para com os povos da humanidade e para com a
Terra, como um todo inseparável.
21
crescimento firme e continuado, em conformidade às teorias do crescimento
econômico que estabelecem a expansão do PIB como prioridade. Ao lado, uma
cultura que redefine o ser social como aquele indivíduo hedonista e insaciável,
ávido pela diversidade de bens de consumo a sua disposição nas “catedrais”
das mercadorias.
Da perspectiva que orienta a economia na sociedade capitalista, atender
necessidades das gerações atuais e futuras é um pacto complexo, pois envolve
gerações que ainda não nasceram. Em termos culturais, esta mesma economia
coloniza os significados “atribuídos à vida pelos diferentes povos, etnias e
nações” (Walter Porto-Gonçalves). As afetações ambientais ficam expressas
na matriz energética que alimenta o modo de produção e de vida nela vigente
que é a fonte principal da geração de gases de efeito estufa (GEE). Além de
inseparáveis, ambiente e economia precisam ser olhados como partes de um
mesmo processo de coevolução. Ademais, a primeira terá que determinar a
segunda.
Mas, de que necessidades estamos falando? Aquelas vitais ou aquelas
artificiais? Aquelas que movimentam os negócios ou aquelas necessidades que
são essenciais à vida? E o que dizer do aparato tecnológico e da organização
social e política que delimitam nosso modo de vida?
Temos que combinar algo muito importante! Em nome da prudência, a
finalidade da economia capitalista e o modo de vida a ela adequada – que
envolvem o quê, como e para quem fazemos – teriam que ser redefinidos para
dar conta, adequadamente, do atendimento das necessidades no presente e
no futuro. A relação de coevolução entre economia e ambiente terá que compor
o pacto de equidade entre gerações – atuais e entre estas as gerações futuras
– cujo teor nos remete, pelo menos, ao atendimento de necessidades básicas e
essenciais de cada indivíduo e de todos.
O problema econômico central, qual seja, o quê, como e para quem produzir,
nos coloca diante de uma escolha. Até o presente, essas decisões simultâneas
são resolvidas pelas “forças cegas dos mercados”, o que não se coaduna ao
conceito de “desenvolvimento sustentável” em Nosso Futuro Comum. Temos
uma questão política (por excelência) que subordina a economia a outros
objetivos que não o lucro e a acumulação de capital. Essas decisões
simultâneas terão de ser tomadas de maneira consciente (e não “cegas”); terão
que ser tomadas com a efetiva participação de todos os indivíduos que
compõem a sociedade humana. Não podemos deixar nossas vidas serem
conduzidas pela cegueira. (Lembram José Saramago?) Esta outra política
adquire uma dimensão humana fundamental para respaldar outra economia e
outro modo de vida.
Uma formação socioeconômica dominada pela lógica da acumulação de
riqueza abstrata e que pouco (ou nada) tem a ver com as necessidades
humanas e das demais espécies. Terá que ser substituída por outra na qual
prevaleça outro tipo de relação entre mulheres e homens e que nos atos da
produção material e cultural a biodiversidade e as condições termodinâmicas
onde se realizarem sejam adequadamente consideradas. Trata-se de outra
formação com outros valores, outros fins e outra dinâmica.
22
A ressignificação assim sugerida põe em questão o conceito de
desenvolvimento sustentável na sociedade capitalista e o torna “essencial para
uma sociedade de produtores associados” (FOSTER, 2005: 230-231).
Como se desenrola o processo econômico capitalista e o que o torna
ecologicamente insustentável?
Nicholas Georgescu-Rögen tornou-se um economista dissidente a partir do
momento em que tomou a iniciativa de questionar a teoria econômica
neoclássica com base na Termodinâmica. Segundo Óscar Carpintero (Ensayos
bioeconómicos, 2007: 11), no final da década de 1940, o matemático,
estatístico e economista neoclássico se deu conta de que a teoria econômica
ortodoxa ensinada em Harvard, bem como suas recomendações de políticas
econômicas, somente era aplicada – quando o fosse – em sociedades
industriais avançadas.
Com a publicação, em 1971, de sua obra decisiva estabeleceu importantes
relações entre a entropia e o processo econômico. Trata-se de The entropy
Law and the economic process na qual demarca seu reconhecimento de que a
produção econômica consiste na transformação de recursos de baixa entropia
em resíduos de elevada entropia. De acordo com o segundo princípio da
termodinâmica, essa transformação implica em perda de qualidade e
degradação da matéria e energia utilizada e redução das possibilidades de seu
reaproveitamento. (As cinzas de carvão são matéria e energia inutilizável
(elevada entropia); um metro cúbico de gás possui baixa entropia e é utilizável.)
O reconhecimento de que a Terra é um sistema aberto em termos de energia e
fechado em termos de matéria, fornece a chave para compreendermos por que
iremos nos defrontar com escassez de recursos naturais (estoques) e não de
energia (fluxos). Como consequência, esse reconhecimento decreta o
esvaziamento dos modelos de crescimento econômico, uma vez que os limites
físicos são visíveis. Pelo mesmo motivo, não é possível admitir que o progresso
tecnológico seja a solução para os problemas ambientais. Desse modo, a
economia terá que ser redirecionada para dar conta de mudanças qualitativas e
não quantitativas, como estabelece o pensamento econômico hegemônico.
A nova visão de economia terá que contemplar os direitos das espécies e da
Terra; uma distribuição equitativa dos bens comuns, entre as gerações atuais e
as futuras. Claramente, estamos diante de confrontos econômicos, culturais e
socioambientais cuja compreensão inicia-se com abordagens interdisciplinares,
mas com a perspectiva da necessária e vital transdisciplinaridade (fronteiras do
conhecimento). Ou seja, precisamos de diálogos para além das ciências
estabelecidas (cada uma em seu “quadrado”), enraizadas no paradigma do
crescimento econômico ilimitado como determinante da vida de todas as
espécies neste pequenino e frágil Planeta.
23
EIXO TEMÁTICO 1 – TERRITÓRIOS, FRONTEIRAS E ETNICIDADE
24
A MÚSICA E AS LUTAS POR INCLUSÃO DOS NEGROS NA BAHIA: OS
BRASILIANS BOYS
Débora Carla Pereira Guimarães (UFBA)
25
que gera diversos discursos e negociações entre os novos habitantes e a
sociedade receptora, e que persiste até os dias atuais. O escritor Cristian
Alarcón em seu segundo livro "Si me querés quereme transa" lança seu olhar
para esses territórios e sujeitos, e nos revela suas práticas culturais como
forma de negociação e afirmação da identidade e cultura dos imigrantes.
Utilizamo-nos como base teórica a hibridação de culturas de Nestor García
Canclini, os estudos referentes a quebra de territórios de Arjum Appadurai, a
formação de identidades de Stuart Hall e Maurice Halbwachs, a leitura das
cidades por Beatriz Sarlo e, ainda, os estudos dos que estão à margem de
Paulo Roberto do Tonani. Para a abordagem da questão religiosa dos
imigrantes nos apoiamos na "desritualização" do rito de Roberto da Matta. A
partir de trechos da obra realizamos a leitura de ditas representações,
atualmente, em nossa pesquisa, percebemos que estamos diante de uma obra
literária complexa, na qual a narrativa dialoga abertamente com o cânone da
literatura latino americana, transitando entre escrita literária e
jornalística. Nossa proposta é ler a representação desses sujeitos a partir de
seus Ritos, voltando o olhar a aqueles que estão à margem da sociedade a
partir de uma obra atual e um escritor que nos apresenta uma nova forma de
narrar a realidade.
26
ilê, ocupando o território circunvizinho: linha cruzada, encruzilhada fechada,
cruzamento de praia, terreiro, assentamento, ir ao chão, isolar, cruzar, abrir os
caminhos são parte de noções espaciais, por meio da qual se constrói toda
uma cartografia. Em consequência, o candomblé é altamente sensível a
processos de urbanização intensa e precária, de deslocamento forçado ou que
impliquem em alto impacto ambiental. Processos estes que exigem amplas
readaptações simbólicas das casas de axé ou podem levar à sua extinção.
Essa dinâmica influenciará a organização política dos segmentos religiosos dos
movimentos sociais negros, a formulação de suas demandas sociais e a
implantação das políticas públicas. A identidade "negro-africana" articula as
diversas identidades sociais, políticas ou religiosas do campo afrodiaspórico. O
"retorno à África" é um modo de territorialização diaspórica do espaço urbano,
condicionando a organização política dos movimentos religiosos, a formulação
de suas demandas sociais e a implantação das políticas públicas, influenciadas
pelos discursos políticos dos movimentos sociais negros, da academia e do
Estado.
27
Resumo: Este trabalho resulta de projeto de pesquisa na área de Linguística
Aplicada aos Direitos Linguísticos realizado entre outubro/2014 e julho/2015, no
qual procuramos compreender a articulação entre regimes metadiscursivos e
corpos falantes em contextos migratórios, a partir da análise de políticas
linguísticas explícitas no Brasil. Considerando a relação entre as novas
dinâmicas de circulação de pessoas e línguas ao redor do globo e o
fortalecimento dos Estados Nacionais enquanto instâncias reguladoras de
fronteiras, e tomando como referencial teórico estudos sobre ideologias e
diferenciações linguísticas (BLOMMAERT, 2014; BRAH, 2006; SILVERSTEIN,
1979), investigamos como os recursos linguísticos são significados nos
instrumentos legais sobre migração no Brasil, discutindo a relevância das
políticas linguísticas vigentes na hierarquização de identidades. Para tanto,
mapeamos os registros sobre práticas linguísticas no rol da legislação
migratória brasileira (CLARO, 2015), sistematizando-os em termos de
permissões, proibições, promoções e exigências. Os resultados mostram um
pequeno e genérico número de registros legais, limitados quase
completamente a exigências de uso do português - uma incongruência diante
de um ordenamento jurídico caracteristicamente extenso e detalhado. O
aparente incentivo à assimilação do(a) estrangeiro(a) por meio do uso e
aprendizado da língua nacional, associado à neutralidade das instâncias
oficiais e à despolitização das diferenças conduz, assim, a reflexões sobre o
apagamento institucionalizado de práticas linguísticas estrangeiras
indesejáveis, acompanhado da homogeneização linguística como parte das
estratégias de controle de territórios e legitimação nacional. Desse modo,
percebe-se que, enquanto o mercado globalizado e as forças de consumo e de
textualidade digital atuam em direção oposta ao controle nacionalista e
ameaçam padrões de estabilidade e linearidade, o projeto moderno de
concepção do Estado enquanto comunidade de fala territorialmente delimitada
insiste em manter determinados parâmetros discursivos, operando por meio de
nuances institucionais e assinalando relações assimétricas de poder
construídas num contexto de globalização.
28
apropriação inescrupulosa dos territórios indígenas sempre foram
acompanhadas de violência extremada. No período colonial, por exemplo,
embora os dados sejam discordantes sobre o tamanho da população brasileira,
especificamente no ano de 1500; os números mais aceitos, conforme Oliveira
(apud Fragoso e Gouvêa 2014), são os do historiador John Hemming (1978).
Hemming, afirma Oliveira, tomou por base tanto as fontes quinhentistas e
seiscentistas quanto criou índices de densidade populacional consoante à
fertilidade e potencialidade de 28 nichos ecológicos em que dividiu o território
brasileiro. Como resultado, as estimativas do referido historiador apontam para
uma população de 2,4 milhões de pessoas no Brasil de 1500. Setenta anos
depois, em 1570, Oliveira afirma que a população indígena era de
aproximadamente 800 mil, ou seja, estava reduzida a um terço de seu volume
demográfico do início do século XVI. Assim sendo, "conquista", "holocausto" e
"extermínio" são lexias passíveis de definir as ações portuguesas sobre os
nativos brasileiros. Tais ações implicaram não apenas na perda da identidade,
mas também na ocupação pela força daqueles territórios que sempre foram de
domínio das inúmeras e variadas etnias habitantes da terra recém-conquistada.
Dessa forma, os nativos brasileiros, em pleno século XXI, foram transformados
em estrangeiros, quase párias, em sua própria terra, tendo sido desde então
lesados em seus direitos mais elementares. Embora, na última década, a
delimitação de reservas e o reconhecimento de terras indígenas tenha se
tornado lei, o que em tese é uma vitória para os índios; na prática, a ocupação
predatória das suas terras continua sendo feita, seja por madeireiros,
mineradoras ou usinas, por exemplo, o que ocorre, na maioria das vezes, com
o beneplácito do Estado. Como aporte teórico para o desenvolvimento desta
pesquisa, recorremos aos trabalhos de Abreu (1954), Hemming (1978), Cunha
(1992, 2009), Gomes (2008) e Fragoso & Gouvêa (2014).
29
from characteristics such as race, religion, and ethnicity to shield from
homogenising Canadian nationality.
30
segundos, e vice-versa, gerando com isso uma atenuação e o controle dos
problemas da fronteira linguística e cultural entre ambos os grupos.
31
Resumo: Este trabalho vem problematizar o movimento identitário dos
indígenas guarani kaiowá, a partir do discurso do livro didático intitulado
"Kaiowá: um povo que caminha", organizado por Cledes Markus (2013) e
utilizado como guia pedagógico. Trata-se de uma oportunidade para conhecer
a história e a cultura kaiowá, por ocasião da "Semana dos Povos Indígenas",
ocorrida de 14 a 20 de abril de 2013. As teorias de cunho transdisciplinar desta
pesquisa, com base na visada discursivo-desconstrutivista, articulam estudos
de Coracini (2003, 2007), Deleuze (1992), Bhabha (1998) e Pêcheux (2009), ao
empreenderem reflexões sobre a alteridade e a desnaturalização dos
estereótipos. A coleta e a análise/discussão dos dados, fundamentadas nas
teorias e no método arqueogenealógico foucaultiano, utilizam distintos
procedimentos, a saber: (1) pesquisa em bibliografia pertinente; (2) pesquisa
documental; (3) seleção de enunciados; (4) constituição de corpus; (5) análise
de discursos (mediante seleção de enunciados e constituição de corpus), que
partem de uma representação das condições e do processo de produção do
discurso e consideram formações discursivas e os interdiscursos (CORACINI,
1991). Na relação entre memória coletiva, memória histórica e produção de
identidades, apesar de assumirmos que o passado ressurge nos discursos
didáticos, ele se configura como uma fonte para a construção, no presente, de
uma memória que fornece elementos para a construção de identidades; ele
não pode ser sujeito a qualquer apropriação. Resultados preliminares apontam
que nesse discurso manifesta-se um conjunto de questões que fomentam seu
aparecimento-acontecimento: as condições dos povos indígenas de Mato
Grosso do Sul (Brasil), as relações de poder, os interesses contraditórios, a
iminente destruição do espaço (u)tópico de nascimento desses povos. Nesses
enunciados, a disputa pela posse de terras e fronteiras ainda é o principal fator
desencadeador dos conflitos existentes entre o povo kaiowá e o branco. O
valor atribuído à terra se difere entre essas culturas: enquanto o branco
apropria-se dela, para explorá-la e tirar-lhe as riquezas, para a cultura indígena,
a terra é um bem sagrado, - por isso, deve ser preservado, pois simboliza a
vida e o seu povo.
32
Deus-dará (2003) e na obra infantil Flor do cerrado: Brasília (2004). Pretende-
se verificar de que maneira o Ceará apresenta-se como um espaço geográfico-
afetivo de pertencimento da sua identidade e abrigo da sua infância. Para isso,
veremos o conceito de desterritorialização delineado por Gilles Deleuze (1925 -
1995) e Félix Guattari (1930 - 1992) e refletiremos sobre o sentimento de exílio
a partir das contribuições teóricas de Maria José de Queiroz (1934).
Discutiremos também a experiência do deslocamento no contexto atual da
globalização, problematizando o contínuo "estar em trânsito" da escritora, a
partir dos estudos de Zygmunt Bauman (1925) e Stuart Hall (1932-2014).
Entendemos como um dos resultados obtidos neste estudo, o papel da
memória na construção do sentimento de louvação da sua cearensidade, que,
amparado nas recordações de infância, transcreve uma cartografia sentimental
dos diferentes locais que a escritora percorreu ao passo que ratifica sua
identidade. Neste transcurso literário perpassam impressões e reminiscências
ligadas à sua biografia, despertadas a partir de impressões multissensoriais.
Essa memória, ligada ao pertencimento e aos cinco sentidos, cria no trabalho
ficcional da autora uma lírica narrativa de saudades, influenciando, assim, na
criação e recriação da imagem do Ceará de sua meninice e aquela
representada em seus textos literários. Norteia a presente investigação, a
tentativa de perceber de que forma os conceitos de pertencimento, identidade,
desterritorialização, memória e exílio podem ser pensados também à luz da
Teoria Literária. É relevante, ainda, mencionar a investigação do universo
ficcional de Miranda como contributo da difusão das pesquisas sobre os
escritores contemporâneos, sobretudo, os cearenses em âmbito acadêmico.
33
estudos sobre interseccionalidade fundamentam a discussão sobre ideologias
linguísticas e identidades em contexto migratório. Cabe aqui considerar o
corpus a ser utilizado neste estudo qualitativo de base documental, a saber,
textos públicos brasileiros multimodais de circulação ampla e variada relativos
ao Programa Mais Médicos, um programa implementado pelo governo
brasileiro que inclui, entre outras ações, uma política migratória (nacional e
transnacional). Diante disso, tem-se por questão norteadora da pesquisa: como
as ideologias linguísticas e de marcação dos corpos (categorias de diferença)
se articulam em contexto de migração de mão-de-obra qualificada,
principalmente no contexto do Programa Mais Médicos? Por fim, admite-se a
necessidade de se extrapolar as projeções ideológicas sustentadas pelo
processo de midiatização a partir da comunicabilidade mediada a fim de
compreender e, mais que isso, transformar e/ou atualizar o movimento de
produção e reprodução das identidades culturais e sociais nacionais
dominantes difundidas e assimiladas por meio da linguagem e da diferenciação
dos corpos em contextos de migração qualificada e planejada, como é o caso
do Programa Mais Médicos.
34
INDÍGENAS NO FACEBOOK: NOVOS LOCI DE INTERAÇÃO
TRANSIDIOMÁTICA E DE PERFORMANCES IDENTITÁRIAS
FRONTEIRIÇAS
André Marques do Nascimento (UFG)
35
específico da investigação está em como a mídia (principalmente, a disponível
digitalmente) apresenta os migrantes recebidos no país em caráter humanitário
(ou como refugiados). Esse interesse se estende ao espaço de posts que
geralmente segue as notícias disponibilizadas online. A pergunta de pesquisa
que direciona este estudo qualitativo-interpretativo é: como, quando e de que
modo a mídia brasileira online, grande ou alternativa, focaliza e narra os
migrantes (e seus repertórios linguísticos) nas ondas migratórias recentes? Se,
na mídia investigada, há espaço para comentários (posts), o que dizem os
internautas? A geração de registros foi realizada em sites de jornais e canais
de TV, contudo, para esta apresentação, vou me deter a um recorte feito na
mídia comercial no período entre 2013 e 2015. A análise dos dados, ora em
andamento, vem indicando uma invisibilização desses migrantes no país. Ou
seja, as notícias na TV aparecem, esporadicamente, e muitas vezes, de forma
rápida, na esteira de manchetes sobre a crise dos refugiados na Europa ou,
então, na esteira de manchetes sobre o aumento do desemprego no país. Na
mídia online, encontra-se mais informação. Quanto aos posts até agora
compilados, nota-se, de um lado, uma mistura de onda de solidariedade, às
vezes, com notas de condescendência, e, de outro lado, uma reação negativa
aos migrantes/refugiados no Brasil. Essa reação negativa é atravessada por
comentários tanto xenofóbicos (ideologia nacionalista) como racializados
(ideologia de inferiorização do outro, empobrecido, enegrecido, usurpador de
empregos). O estudo, situado na (vertente Indisciplinar, Moita Lopes, 2006, da)
Linguística Aplicada, utiliza os seguintes conceitos teóricos: narrativas
(Threadgold, 2005), ideologias (Woolard, 1998), racialização (Butler, 1990),
multilinguismo (Martin-Jones et al, 2012), conceitos esses presentes nas
discussões sobre uma nova sociolinguística que contemple a complexidade
(Blommmaert, 2014, entre outros autores). Em relação ao olhar sobre a mídia,
a base é Briggs (2011) e Jackemet (2005).
36
discussões, a experiência da construção do sujeito angolano pós-colonial no
seio da luta de independência de Angola. A inevitável "mudança de pele" surge
à proporção que são questionadas a usurpação do território e dos sujeitos
angolanos pelo colonialismo e capitalismo português, revelando um novo
sujeito inserido em uma geografia específica do pós-colonial. O trabalho possui
capital importância visto que inaugura uma discussão sobre a metamorfose do
sujeito colonial para pós-colonial, a partir da metáfora empregada Mudança de
pele, ilustrando a transformação sofrida pelo sujeito pós-colonial. De cunho
bibliográfico, a pesquisa fundamenta-se no campo dos Estudos culturais e Pós-
coloniais. A grande eloquência demonstrada por Pepetela na obra Mayombe
(1980) reúne em si os esforços de um autor emblemático, dentro e fora da
história. Além disso, Pepetela traz a lume, a própria trajetória política
demonstrada a partir da escrita, de modo particular, com Mayombe, já que
Pepetela participou pessoalmente da Guerra de Independência de Angola,
entrelaçando o escrito ao vivido na obra em apreço. Na obra Mayombe, de
Pepetela projeta-se um sujeito que renasce e se redescobre em meio a uma
Angola destruída pela guerra colonial e pela guerra civil, apresentando esse
sujeito "com uma nova pele", sob a nova roupagem do pós-colonial, não
fechado, acabado, mas em constante mutação política, cultural, social,
metaformoseando-se cada vez que as circunstâncias e o arranjo da Angola
atual o exigirem.
37
Curso e de pesquisas publicadas online em anais de eventos científicos em
Dourados-MS. Os resultados mostram que a construção da identidade
apresentada no discurso científico sobre as plantas medicinais apresenta-se
como consolidada e generalizada no estereótipo do especialista competente
que ora evidencia mais claramente o conhecimento científico como legítimo e
apropriado, ora sutil, quando atua apenas como inventariante, colocando-se
como resgatador, registrando, catalogando e preservando o conhecimento
tradicional. Essa identidade foi construída para movimentar-se no espaço social
por meio de um comportamento autorizado para informar, contribuindo para
reforçar a autoridade e legitimidade do conhecimento científico sobre o
conhecimento tradicional. Dessa forma, o processo identitário construído no
discurso científico sobre as plantas medicinais revela o conflito das identidades
entre as comunidades indígena e científica, assim como a busca pela
agregação das culturas no processo identitário resultante desse encontro
étnico-racial, porém, a assimilação promovida pelo conhecimento científico é
preponderante.
38
sejam bilíngues. Além disso, nas atas são evidenciadas ideologias sobre
falantes nacionais: há a presunção de que brasileiro "de rincões do país" não
sabe sequer falar português, "quanto mais escrever". O monolinguismo seletivo
para certos grupos de estrangeiros se combina com a centralidade da escrita
na descrição das competências de falantes que importam no cenário nacional.
Para os que devem aprender o português, os desafios da mobilidade
(estrangeira ou nacional) e a centralidade da escrita como forma de
comunicação. Que fator(es) é(são) usado(s) para determinar que corpos para
que ideologias? Há uma corporificação da legitimidade
linguística/comunicacional, combinada com certas hegemonias sobre língua no
Brasil, daí a centralidade do letramento na avaliação de falantes e na "solução"
para problemas de contato linguístico. Trata-se de um campo de disputas de
representações em que o racismo é um forte componente nessas disputas,
uma xenofobia seletiva articulada com as hierarquias raciais no Brasil, assim
como o monolinguismo. Há a passagem entre avaliações identitárias e
avaliações linguísticas, das identidades (racismo, sexismo, xenofobia) para as
ideologias linguísticas, e a "barreira linguística" é enfrentada como uma marca
corporal.
39
Palavras-chave: Cibercultura. Identidade. Território.
40
Margarida do Amaral Silva (UFG)
41
Município de Monte Negro, região central do Estado de Rondônia, distante
cerca de 220 quilômetros ao sul da Capital do Estado, Porto Velho. A
comunidade de Massangana encontra-se numa região que abriga os principais
depósitos de estanho de cassiterita da Província Estanífera de Rondônia que
foi base de intensa atividade de mineração por cerca de 40 anos. O estudo
propõe um passeio pela ambivalência das fronteiras do entre lugares de
Massangana que contribui para o processo de hibridizada cultural no processo
de ocupação do norte do Brasil. A partir do olhar dos estudos culturais pós
críticos, este estudo propõe a desconstrução das histórias escritas no processo
de colonização na Amazônia. Massangana como um dos lugares de
hibridização da cultura amazônica passou por intensos processos de
colonização ocasionando vários momentos de diásporas relacionado as
ambivalências culturais do bioma amazônico. Na fronteira dos estudos culturais
relacionados a território, fronteira e etnicidade Massangana possui marcas
culturais constituídas pelos povos indígenas, seringueiros, ribeirinhos, entre
outros. Neste arco íris de cores das identidades culturais dos processos de
hibridização do bioma amazônico o presente estudo mostra as fronteiras dos
entre lugares de Massangana.
42
partir de contribuições da Crítica Pós-colonialista e da Análise do Discurso de
linha francesa. Perceber a presença desse discurso colonial em textos oficiais
como o hino analisado torna-se importante para se buscar compreender como
foi forjada a identidade dessa região e como essas representações perduram
até os dias atuais. Esse é o primeiro passo para se pensar na construção de
novos discursos que possam contra argumentar, combatendo-se estereótipos e
preconceitos.
Palavras-chave: Discursos oficiais. Representações. Estereótipos.
43
EIXO TEMÁTICO 2 – CORPO, SAÚDE E IDENTIDADE
44
alguns anos. O avanço da ciência, mais precisamente nos campos da
biotecnologia e da medicina, tem fomentado um movimento de psiquiatrização
da vida cotidiana e de psicopatologização do mal-estar subjetivo. A pluralidade
de abordagens, que outrora gozavam de reputação frente às vicissitudes
individuais, declina diante das concepções fisicalistas, reduzindo-as à sua
dimensão orgânico-biológica. Assistimos a uma série de ofertas e procuras no
campo do desenvolvimento de potencialidades e habilidades. Nestas
condições, o corpo, em sua materialidade, é tomado como objeto de
investigação, diagnóstico e medicalização. Uma lógica semelhante se estende
ao corpo infantil, associada a descrições psicopatológicas, ganhando espaço
na grande mídia. O presente trabalho pretende analisar o fenômeno da
medicalização da infância, especialmente, a partir de uma categoria nosológica
que desponta no discurso médico, se expandindo velozmente às outras áreas
não-médicas: o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).
Comumente associado à categorização diagnóstica e utilizado amplamente no
tratamento do TDAH, o cloridrato de metilfenidato, conhecido como ritalina,
desponta um crescimento exponencial de sua prescrição. Segundo relatórios
da ONU, sua produção mundial cresceu em torno de 357% entre os anos 1996
e 2012. Nesse mesmo período, sua comercialização no Brasil, saltou de 9 Kg
para 578 Kg, significando um aumento de aproximadamente 6.322%.
Portanto, partimos de uma reflexão de natureza eminentemente teórica,
baseada numa crítica de cunho psicanalítico, dialogando com dados
quantitativos coletados em diversos âmbitos. Considera-se que o TDAH é
ilustrativo do processo de psiquiatrização e psicopatologização do infantil,
evidenciando o lugar deste na contemporaneidade marcado pelas demandas
de adequação e de desempenho que orbitam na dinâmica social.
45
ao método de análise da Gramática do Design Visual (GDV), cujos maiores
representantes são Kress e Van Leeuwen (1996). Ambos focos analíticos
apontam para a construção social das identidades de atores sociais em relação
à saúde no Sistema Único de Saúde, destacando a importância da etnografia
como método de imersão do pesquisador no campo de pesquisa e de sua
compreensão ampla das questões que lhe são inerentes. Para compreender
aspectos identitários dos atores sociais envolvidos no contexto pesquisado,
analisaremos o discurso em entrevistas semi-estruturadas com usuários e
profissionais de saúde e em cartazes disponibilizados nas unidades básicas de
saúde de municípios do Estado do Ceará. Os dados dessa pesquisa fazem
parte do conjunto de artefatos fotografados e gravados em áudio durante
visitas feitas aos postos de saúde dos municípios de Crato, Fortaleza,
Pacatuba e Salitre, selecionados pelo projeto de pesquisa que integramos. Os
resultados apontam que o significado identificacional dos cartazes analisados é
construído por meio de uma relação entre o discurso preventivo e a prática
social de informar preconizados pelo PSF, sendo o "prevenir" um ato
característico da identidade dos usuários do PSF e o "informar" um ato
característico da identidade dos profissionais e do próprio PSF. Quanto aos
discursos em entrevistas, as identidades revelam-se a partir de
posicionamentos avaliativos acerca do PSF. Destacamos que esses são
resultados parciais de duas dissertações de mestrado em andamento e que
novos aspectos podem surgir com o aprofundamento da questão e de estudos
sobre a relação entre identidades e contextos de saúde.
46
divulgado pela mídia tradicional, pois está sempre atualizado com as pesquisas
do campo. Além disso, possui espaço para reunir profissionais da área,
familiares e pacientes em tratamento, em torno de inovações relacionadas ao
combate da doença. Para a proposta transmidiática, foi desenvolvido um
projeto de série para televisão com 13 episódios de 26 minutos cada. A série
venceu o edital PRODAV/TVE/2014 e será produzida em 2016. Os roteiros
foram inspirados no livro e criaram um universo médico com o oncologista
como protagonista e a cada episódio, há um paciente e um tipo de câncer que
reforçará esta nova postura e relação médico-paciente que coloca este como
co-protagonista no tratamento da doença. A série, em função do formato e do
tempo determinado de cada episódio, não abordará os detalhes do tratamento.
Para que se complete a informação às pessoas, objetivo desta pesquisa está
sendo desenvolver um game, no qual o jogador é o paciente e vivencia o
tratamento onde suas decisões determinarão o caminho do personagem. Os
resultados preliminares apontam para a ressignificação da identidade do
paciente com câncer, que demonstram incrementos nos índices de resposta ao
tratamento na clínica do Dr. James Fleck, com tempo de sobrevida cerca de
82% acima dos índices norte-americanos.
47
preservação da saúde e o aperfeiçoamento da aparência. O corpo, marcado
pelo surgimento de um novo imaginário social, torna-se matéria-prima para a
construção da identidade. Atualmente, imerso no cenário do excesso e da
urgência, como bem nos lembra Lypovetsky (2004), parece que essa relação
corpo e identidade ganha cada vez mais vitalidade. A idéia de identidade
enquanto projeto particular, de responsabilidade de cada indivíduo, faz com
que o valor de exposição do corpo assegure não apenas a difusão, mas
também a própria construção da identidade, situação que gera ansiedade e
sofrimento por parte dos indivíduos. Nessas circunstâncias, podemos verificar
que construir corpo é construir tacitamente uma identidade. Assim, as
prerrogativas de um corpo adaptado às exigências e voltado para performance
atendem aos ditames de um processo de construção identitária voltada para a
beleza, a juventude e o bem estar.
Resumo: Este trabalho busca situar uma reflexão crítica de identidades das
mulheres em trânse e em trânsito, sob o impulso caótico e transgressor dos
corpos em dores do parto. Caracteriza-se por um estudo etnográfico realizado
em uma maternidade de baixo risco para parto no nordeste do Brasil. As
principais questões teóricas abordadas estão situadas no campo
epistemológico da Análise de Discurso Crítica (FAIRCLOUGH, 1999, 2003), a
Teoria Crítica do Discurso e Texto (MAGALHÃES, 2004), relacionando-a, à
Teoria Social Crítica. A Teoria Crítica do Discurso (TCD) oferece uma
contribuição na identificação dos processos sociais relacionados às
transformações econômicas e culturais contemporâneas (GIDDENS, 1991;
HARVEY, 2000). O gineceu é a força catalizadora da norma que instaura uma
práxis médica obstétrica iluminada por concepções ideológicas onde o feminino
é satanizado e as mulheres aprisionadas ao sopro do Gênese lido pelas
instituições epistemológicas, como pecadoras condenadas ao sofrimento no
parto. O Gênese e gineceu aliados naturalizam os gritos de mulheres tidas
pecadoras atiradas nos abismos com seus castigos. O gineceu crava as garras
da águia protegendo ‘fragilidades' e desenvolvendo todo um arsenal científico
para vencer a morte. Entretanto, nas periferias da miséria social e política,
investe com a violência científica e discursiva com seus mantras da sujeição
sobre ‘corpos nus (AGAMBEN, 2002) nas maternidades do Sul do sofrimento
põe as mulheres num novo ordálio sem as místicas da sacralidade da dádiva
da vida. Sob tais sistemas de representação no sofrimento, as identidades das
mulheres em transes de dores, submissas, aflitas transitam.
48
Palavras-chave: Corpos em parto. Identidades. Análise de Discurso Crítica.
49
PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DA AUTOIMAGEM NA
HIPERMODERNIDADE E SUA INTRÍNSECA RELAÇÃO COM A NOÇÃO DE
SAÚDE E ESTÉTICA
Gabrielle Lima Feitosa (UFC)
Crislanny Fonteles da Silva (UFC)
Evelyn Cristina de Sousa Penas (UFC)
Raissa Sousa Osterno (UFC)
Renata Eudócia Melo Barreto (UFC)
Jurema Barros Dantas (UFC)
50
REFLEXÕES SOBRE O PROCESSO HISTÓRICO DAS POLÍTICAS DE
DOAÇÃO DE SANGUE: UM ESTUDO SOBRE OS CENTROS DE
HEMATOLOGIA E HEMOTERAPIA
Thinally Ribeiro Abreu (UECE)
Talita Cumme Gomes Mesquita (UECE)
51
foram gerados e coletados através de uma etnografia da linguagem no MST
durante dois anos. São registros em notas de campo, gravações de conversas
com militantes Sem Terra, fotografias e gravações em vídeo de várias práticas
linguísticas em momentos variados dentro deste movimento social camponês.
A análise foi realizada com base na noção de ordens de indexicalidade
(BLOMMAERT, 2005, 2010), ato de fala (AUSTIN, 1962; RAJAGOPALAN,
2014), jogos de linguagem (WITTGENSTEIN, 1989; ALENCAR, 2014) e
de pistas indexicais (WORTHAM, 2001), que podem ser entendidas como
índices linguísticos que sinalizam nossos posicionamentos interacionais na
negociação de sentidos. Percebemos que ordens de indexicalidade diversas
(socialismo, esquerda, feminismo) direcionam e selecionam o uso de
determinadas palavras empregadas pelos integrantes do MST-CE em seu
cotidiano de luta produzindo desta forma corpos militantes (o revolucionário, a
Mulher feminista, o jovem anti-capitalista) que materializam os valores, as
bandeiras de luta, as dores, as tarefas, estratégias dos/as agricultores Sem
Terra em luta pela Reforma Agrária popular no Brasil.
52
EIXO TEMÁTICO 3 – NARRATIVA E MEMÓRIA
53
moradora de uma área de risco que, após as fortes chuvas que atingiram o Rio
de Janeiro em 2010, perdeu sua casa e foi morar na rua com sua família.
Nosso objetivo é o de verificar como as repercussões individuais e sociais do
deslocamento se manifestam no modo como a narradora constrói e reconstrói
suas identidades (SHOTTER & GERGEN, 1989; HALL, 1996) de mulher, mãe
e esposa. A narrativa oral de deslocamento foi gerada a partir de uma
entrevista aberta, posteriormente transcrita conforme notações da Análise da
Conversa (OCHS; SCHEGLOFF & THOMPSON, 1996). Entendendo a
narrativa como a forma típica de esquematização da experiência e a memória
que temos dela, como tal, construída em torno das experiências canônicas
instituídas e do manejo mental dos desvios que incidem sobre as expectativas
(BRUNER, 1997), verificamos que a construção das identidades pessoais da
narradora é moldada pelos significados atribuídos à casa e à rua. É a partir
desse dualismo que ela reivindica quem ela é: apesar da rua (boa mãe e
esposa) e por causa da rua (viciada e sem direito à guarda dos filhos). O modo
como a trama é construída tira das mãos da narradora a responsabilidade não
só pelo seu sofrimento, mas também pelo esforço de superação. Se o primeiro
é explicado pela ação de agentes naturais, institucionais, biológicos,
psicológicos ou condições socioeconômicas, a superação é explicada pela
agência divina.
54
de constituição de identidades por meio do processo de rememoração no
testemunho. Além disso, conforme já sinalizado, busca-se analisar a maneira
como essas histórias se relacionam, ou seja, de que forma a segunda revive
elementos da primeira, mesmo com um vasto intervalo de tempo entre elas.
Para atingir os objetivos mencionados, este artigo situa-se nas fronteiras
epistemológicas que incluem os campos da Linguística Aplicada Indisciplinar,
da Memória Social e de Teorizações da Narrativa, com o intuito de
problematizar a vida social e a prática docente em seu contexto sócio histórico.
Os resultados apontam para uma surpreendente conexão entre significados
que permanecem e que se renovam, em um contexto no qual a profissão
docente é inserida.
Resumo: O projeto tem como objetivo suscitar nos alunos a produção escrita,
através das narrativas literárias autobiográficas, na qual esses alunos poderão
contar as histórias de suas famílias, com base na fluidez literária. Com isso,
eles irão relatar, através da produção de uma árvore genealógica narrada,
respeitando os princípios éticos, as memórias, as tradições e as heranças de
suas famílias, culminando na produção de um livro. Dessa forma, espera-se
que os alunos possam compreender melhor suas origens, aptidões,
preferências, dentre outros elementos que, possivelmente, podem ter reflexo
na sua identidade linguística e cultural. Sendo assim, esse projeto surge como
uma forma de ajudar na solução de problemas nas produções escritas, além de
contribuir para o estreitamento dos laços entre os membros da família e
manutenção dos valores familiares para as futuras gerações. A metodologia
aplicada é a pesquisa-ação, na qual o pesquisador busca melhorar suas
próprias práticas sociais e educacionais. Tem como base teórica COSSON
(2014), ROJO (2009) SCHNEUWLY, B.; DOLZ, J (2004). Em consonância com
a era atual que apresenta grande uso das redes sociais, procura-se através
dessas redes uma maneira de auxiliar na colaboração da busca dos dados e
da concretização desse trabalho; uma vez que, através desses meios, as
informações podem ser coletadas e armazenadas de forma mais célere. dentre
alguns pontos importantes no desenvolvimento dessa atividade é possível
destacar: maior envolvimento da família com as atividades escolares dos
55
alunos, o que pode gerar numa melhora na progressão desses alunos; serve
de instrumento para auxiliar o professor na tentativa de compreender as
dificuldades dos alunos no que diz respeito à escrita, buscando alternativas
para sanar tais dificuldades e procurar estimulá-los nas produções escritas a
partir de textos voltados para suas realidades sociais e históricas; além de
valorizar o respeito às diferenças, potencialidades e limitações de cada ser
humano.
56
ANÁLISE DO DISCURSO EM DOIS ENFOQUES: O DISCURSO ORAL DOS
RIBEIRINHOS E O PAPEL DA MÍDIA NA CONSTRUÇÃO SIMBÓLICA DOS
ENUNCIADOS SOBRE A CONSTRUÇÃO DAS USINAS HIDRELÉTRICAS
José Gadelha da Silva Junior (UNIR)
57
contínuos e inconscientes processos de transformação. Para consolidar-se
como nacional, a literatura modernista concebeu a identidade no sentido de
sua dessacralização e, portanto, subverteu a ideologia romântica sobre a "alma
brasileira imutável". Tematizando essa pluralidade étnica e cultural brasileira,
Mário de Andrade em sua obra emblemática da primeira fase do Modernismo
"Macunaíma", publicada em 1928, cria um sujeito permeado por ambiguidades,
repleto de avessos, acumulado de baixezas e descrito sem idealizações.
Simbolicamente, "o herói sem nenhum caráter" foi trabalhado como síntese de
um presumido "modo de ser brasileiro" - sem caráter definido e em constante
metamorfose, concentrando em si virtudes e defeitos inerentes ao indivíduo
multifacetado. Durante toda a narrativa, o protagonista percorre várias regiões
do Brasil numa incessante busca pela muiraquitã, pedra preciosa, única
lembrança de seu amor Ci. Através dos desdobramentos de diversas lendas,
fundidas para mostrar uma nação multirracial, Macunaíma vivencia diversas
aventuras na tentativa de recuperar o amuleto, mas o perde definitivamente.
Finalmente, o herói sem nenhum caráter, autodenomina-se uma estrela de
brilho inútil. Com base nas leituras teóricas de Zilá Bernd (2003), Stuart Hall
(2006), Manuel Cavalcanti Proença (1987) e Zygmunt Bauman (2005), entre
outras, este escrito visa analisar a questão da identidade nacional na obra de
Mário de Andrade, sua construção enquanto entidade abstrata e a relevância
da heterogeneidade cultural, na perspectiva de evidenciar a importância do
resgate da cultura popular brasileira no que tange à representação das
propostas estéticas e temáticas modernistas das primeiras décadas do século
XX.
58
programa alcançar as razões pelas quais a autora constrói sua história da
forma como constrói e, ao fazê-lo, automaticamente também se constrói. A
análise dos dados nos permite concluir que a narrativa da ouvinte foi toda
construída em cima da figura de mulher sofrida, vítima da tirania e dos
desmandos dos homens e do mundo por eles dominado. Considerando que as
histórias não apenas relatam eventos passados, mas também, e
principalmente, representam a atitude moral do falante em relação a esses
eventos (Linde, 2001), percebemos que fazer uso dessa imagem não muito
compatível com o que se esperaria de uma mulher contemporânea,
contextualizada da maneira como ela se contextualizou, é uma escolha
consciente dela e corroborada por parte da rádio, sem qualquer
problematização. A comoção causada por uma história de sofrimento feminino
parece ser mais benéfica para os fins do programa. Outra observação traçada
a partir da análise dos dados é a de que as particularidades discursivas como
as que buscamos apontar nesse trabalho que nos levam a perceber que às
vezes, o "coitadinha", a avaliação da narrativa de uma dada maneira, antecede
a história da coitadinha, ao mesmo tempo em que a gera, ao invés de ser
gerado por ela.
59
esta pesquisa se propõe a compreender experiências e movimentos de
resistência narrados de forma a nos ajudar a pensarmos estratégias que
contribuam para a formação de futuros professores de línguas para atuação em
diferentes espaços de construção de saberes. Os resultados indicam a
necessidade de se atentar para a construção crítica de saberes sobre a prática
de ensino, relacionando percepções individuais com o pensamento coletivo,
através do desenvolvimento de pontes entre universidade e escola e entre
todos os envolvidos no processo de formação.
60
sociocognitivas envolvidas na construção dos processos referenciais. Desse
modo, o escritor traz para o lócus dos textos dessas narrativas um
conglomerado de construções sociocognitivas e cognitivo-culturais,
especificamente no que se refere à reconstrução da memória coletiva da qual
faz parte.
61
Palavras-chave: Etnias. Justiça Colonial. Auto de Querela.
62
Resumo: Este trabalho analisa a relação narrativa/memória/identidade usando,
como fundamentação teórica, os conceitos de narrativa e história, de Walter
Benjamim e os conceitos de otredad,agoredad e corporeidade, de Otavio Paz.
Ora, sabemos que a memória não se constitui somente de lembrança. Na
Teogonia de Hesíodo, as Musas, filhas de Mnemosyne, além de proporcionar o
esquecimento também atuam na esfera do "pseudés". Assim, esse movimento
de perpetuar, esquecer e (re)inventar define a própria natureza da(s)
imagem(ns) que a sociedade faz de si mesma. E a identidade social imita o
traçado das narrativas de memória e também é constituída na matéria incerta
da lembrança, do esquecimento e da ficção. Walter Benjamin, em "O
Narrador", faz da oficina do artífice um ponto de convergência onde o saber
ancestral do camponês e o "saber das terras distantes" do viajante se
interpenetram constituindo a matéria viva do saber narrativo. Ambos trazem,
em sua própria voz, ecos de vozes emudecidas, fragmentos de mundos em
ruína. Assim o conhecimento do narrador benjaminiano pode ser pensado
como conhecimento tátil da experiência. Em seu texto repetido como camadas
translúcidas de laca sobre a madeira, podem-se perceber os traços do arcaico.
De maneira semelhante, Octavio Paz, em "Os filhos do Barro" e
"Convergências", analisa as construções sociais de memória como uma obra
de artesanato, elas compartilham com o corpo o seu caráter de ser-mortal e
inclui em seu formato a dimensão das narrativas orais. A obra do oleiro, para
Paz, transpira a linguagem da terra antiga e se deixa tocar pelo "outro". As
marcas dos dedos que se deixam ver na superfície do barro são vestígios,
fragmentos de passados distantes que convergem num agora cristalizado no
corpo do objeto. Dentro dessa lógica ligada à imagem do artesanato, pode-se
pensar as narrativas de memória como um momento de convergência entre a
sabedoria transmitida pela tradição e a própria vida experimentada no "agora"
do corpo. E os eixos: eu/outro e polifonia/monologia, opostos pela lógica da
exclusão, teriam, também, suas margens rasuradas constituindo um lugar de
convergência entre o encontro e exílio.
63
constantemente agenciam suas porções caribenha e estadunidense tanto em
solo caribenho quanto em solo estadunidense. Com efeito, essas relações
procuram dar conta da questão da identidade do imigrante e sua inserção tanto
na sociedade dominante de seu novo território quanto nos grupos minoritários
que tendem a pertencer, pois tais relações realçam a noção de que os
imigrantes tendem a ser "amphibians who do not have an old home and a new
home to so much as two half-homes simultaneously (IYER, 1993, p. 49)
[anfíbios que não possuem um velho lar e outro novo lar, mas sim dois meio-
lares simultaneamente] (IYER, 1993, p. 49, tradução nossa). A tentativa do
imigrante de se posicionar perante a sua situação diaspórica é propícia para
produzir diálogos entre os povos do mundo contemporâneo resultando na ideia
de que o sujeito, quando imerso na condição diaspórica, não está ligado
somente a uma localidade, já que tem a capacidade de reconhecer sua
identidade em qualquer lugar que ocupe. Dessa forma, o objetivo deste artigo é
compreender as transformações vivenciadas pelas personagens do romance
alvareziano depois que elas, juntamente com sua família, são forçadas a migrar
para os Estados Unidos e aprender a conciliar sua identidade fronteiriça com
os dois territórios, o da República dominicana, terra natal da família García, e o
dos EUA, terra escolhida por eles para escapar da ditadura militar que assolava
a ilha na década de 60.
64
social desligada de seus atores e de sua produção discursiva" (Fabrício e
Bastos, 2009) e crendo que "contar histórias por meio de narrativas orais
constitui-se numa forma privilegiada de projeção de sentido para a experiência
humana" (idem), este trabalho consistirá, quanto a seus aspectos
metodológicos, na análise da transcrição de testemunhos de vitória financeira
(em forma de narrativa de estrutura relativamente canônica quanto aos critérios
labovianos (cf. LABOV, 1972). No caso deste trabalho, os dados estão
disponíveis na página oficial de uma igreja evangélica alinhada ao evangelho
da prosperidade. A análise do testemunho sugere que a Teologia da
prosperidade é um sistema de coerência que subsiste como versão popular do
sistema de coerência experto constituído pelo protestantismo clássico. Além
disso, quanto aos aspectos de construção identitária, os dados mostram como
o narrador, ao longo do seu discurso, vai sofrendo uma metamorfose
relativamente ao seu engajamento com o evangelho da prosperidade, o que
corrobora a tese de que a organização das experiências feita por uma
narrativa, bem como a re-historiação estabelecida por ela, podem sim criar
perspectivas antes não previstas e também levar o narrador a um senso de si
próprio diferente (MISHLER, 2002).
65
Resumo: Na análise da peça teatral "Teodorico Majestade - as últimas horas
de um prefeito" publicada em 2012, de autoria de Romualdo Lisboa, nos é
possível observar possíveis maneiras que o teatro pode funcionar enquanto
mecanismo de mobilização social, bem como de preservação da memória. As
bases teóricas desta abordagem se assentam nas premissas relativas ao
teatro, sobretudo a partir de Sábato Magaldi, bem como relativas à memória
em Joel Candau e Jacques Le Goff. Trata-se de pesquisa descritiva-
interpretativa, cujas bases de compreensão se assentam na formulação que
faz com que a peça tenha funcionado como mecanismo de intervenção na
realidade local, fazendo uma clara opção pelo panfletismo político. A peça, uma
sátira em cordel montada pelo Teatro Popular de Ilhéus, estreou em 2006, e se
coloca entre a história recente do município e seus fragmentos negativamente
revelados, e a memória de uma época fausta construída e assentada na
produção cacaueira e ampliada simbolicamente na cultura nacional, sobretudo
na literária através de Jorge Amado. Deste modo, a peça imprime seu ponto de
vista acerca da história local, reinterpretando fatos, reconstruindo vivências e
experiências a partir das críticas presentes no texto. A Literatura de Cordel
empresta suas rimas soantes e ritmo para o texto bem como o vocabulário
repleto de coloquialismos que evidenciam seu apelo popular. O sarcasmo e
ironia presentes no tom da reinterpretação histórica evidencia o recorte
escolhido pelo grupo, destacando escândalos políticos de maior repercussão
na imprensa. Por outro lado, o estilo satírico não se compromete com a total
verossimilhança dos acontecimentos reais, todavia propõe a crença no teor da
peça, o qual vai além do entretenimento, assumindo um caráter de denúncia e
questionamento das relações entre os cidadãos e o poder público. "Teodorico
Majestade" ainda faz parte da identidade cultural da comunidade que reproduz
artisticamente. A peça, como também a montagem, integra suas práticas e
seus discursos particulares aos pontos de convergência históricos, mostrando
a capacidade da representação ficcional de intervir nos modos que
determinado grupo social pode representar de si mesmo.
66
condições da narrativa (tellership), como por exemplo, quem são os
interlocutores, e qual a sua agentividade na interpretação, na elaboração e no
resgate da memória do que está sendo narrado. Esse estudo, de cunho
etnográfico (O'REILLY, 2009) e fundamentado pelo arcabouço teórico-
metodológico dos estudos de Fala-em-interação social (GARCEZ; RIBEIRO,
2002) entende que toda narrativa se insere em um contexto único de produção
e é localmente coconstruída, turno após turno, na e pela interação. As análises
de interações telefônicas entre comunicantes e atendentes do serviço de
emergência "190" revelam que este(a)s participantes se engajam na
coconstrução de narrativas, enquanto negociam a prestação do serviço.
Nossos dados demonstram a orientação do(a)s comunicantes para a produção
de narrativas que buscam a construção de uma imagem positiva de si
consoante com os valores morais vigentes localmente situados (DEL
CORONA, 2011).
67
elementos para entender como representam a universidade, assim como lhes
tem sido oferecida, e como lidam com as diferenças linguístico-culturais e com
as normas impostas; diferenças que compreendem desde a indumentária às
condutas, valores, princípios e filosofias de vida aos padrões que
compreendem nosso forte comportamento grafocêntrico, específico de uma
sociedade letrada. A perspectiva teórico-metodológica é a do linguista aplicado,
conforme definida por Kleiman (1998), que ao se separar dos paradigmas
privilegiados da linguística passou a construir seus próprios objetos de
pesquisa, suas próprias perguntas, seus próprios métodos e reformulações
teóricas; tem ficado evidente, no percurso dessa separação, que para o
linguista uma questão linguística interessa na medida em que é,
prioritariamente, uma perspectiva de ação social realizada discursivamente.
68
FRADIQUE MENDES, O FAUSTO DA ALTA MODERNIDADE
José Carlos Siqueira (UFC)
69
Resumo: O registro das narrativas orais é de suma importância para a análise
no desenvolvimento social, econômico, histórico e cultural na região marajoara,
uma vez que a cultura se transforma a cada momento. A cultura mitológica
marajoara surgiu a partir da união da criatividade cabocla com a cultura
europeia, recebendo influência cultural também de outros estados.
Trabalharemos, especificamente, conhecimentos históricos e culturais da
região marajoara visando integrar suas narrativas ao mundo acadêmico,
contribuindo na qualificação e formação cultural na perspectiva inclusiva
sociocultural. Discutiremos o poder dessa cultura como lugar de reafirmação de
experiências históricas e a preservação da cultura a partir das narrativas orais
buscando aproximar a comunidade a sua formação histórica. Os
procedimentos teórico-metodológicos dar-se-ão através da fundamentação
teórica dada por Geertz (1997) que tem por consequência a reconfiguração do
pensamento social que se dá pela interação entre as diversas culturas,
Bauman (1990), Cascudo (1989 e 1972), que define a literatura oral como
conjunto de manifestações artísticas que advém da cultura popular e ainda por
Santos (1994), antropólogo, que nos lembra que o origem latina da palavra
cultura, ligada as atividades agrícolas, a partir do verbo colere que significa
cultivar. As narrativas marajoaras são representadas pelas lendas e mitos
contados pela população e que são passadas através das gerações. Também
esta relação é objeto de estudo de nosso projeto.
70
uma amplificação, uma complexificação, vai-se mais longe em termos de
produção de sentido, até esbarrar-se na questão: "Les choses je regarde ou je
suis regardé par les choses?" O "mergulho" em outra formação cultural traz o
contato com o novo, porém em que momento do percurso da percepção e da
estesia pode-se classificar algo como "novo"? Paul Valery (s.d., p. 22), em
"Discours sur l'esthétique", propõe uma formulação que sugere o mecanismo
de apreensão do "novo": "l'innovation n'est pas seulement la nouveauté.C'est
une réponse a um problème qui n'existe pas comme un problème et qui devient
a être un problème aprés la posé de la réponse." Os primeiros resultados
apontam para imagens pré-concebidas do outro ou, quando não, imagens
refratadas pelos conceitos cristalizados - que não deixam de ser pré-conceitos.
71
de receber e transmitir lembranças. Com isso, dos velhos espera-se a
lembrança. Mas quando não se valoriza essa função social há um
esvaziamento e desvalorização dessa nova etapa da vida. Metodologicamente
a pesquisa é bibliográfica com aporte teórico em: Bosi(1994), Bobbio (1997),
Velho (1987), Lima (2008) e também obras de Gabriel García Marquez e
Machado de Assis.
72
MEMÓRIA DISCURSIVA E INTERDISCURSO: A CONSTRUÇÃO DOS
EFEITOS DE SENTIDO NO DISCURSO DA INCLUSÃO DO SUJEITO COM
DEFICIÊNCIA NA MÍDIA.
Antonia Janny Chagas Feitosa (UERN)
Maria Eliza Freitas do Nascimento (UERN)
73
podem ter acontecido. Esta condição de memória desloca para a constituição
de sujeitos e de discursos. Entendemos, portanto, que a memória é constituída
de esquecimentos; de fragmentos que formam o inconsciente; de fagulhas de
acontecimentos que cruzam com os traços significantes responsáveis pela
constituição da subjetividade. É, portanto, atravessada pelos discursos
construídos socialmente. Nosso objetivo, nesta pesquisa, é analisar o discurso
de um idoso inserido no processo de Letramento do sistema Educação de
Jovens e Adultos da Escola Municipal Cirley Volpe Lopes, no Município de
Santa Fé do Sul-SP, ao relatar suas memórias, e, interpretar as representações
que circulam no imaginário desse idoso, estabelecendo, possíveis relações
com o processo de constituição identitária. Esta pesquisa situa-se sob os
pressupostos teóricos da Análise do Discurso de linha francesa, do Discurso,
Memórias e Representações em torno dos aparatos teóricos de Foucault
(1997), Pêcheux (1999), Coracini (2007) e outros. Ancoramos a identidade,
considerando que ela está em processo de transformação, portanto, torna-se
difícil identificá-la. O corpus foi constituído pela memória desse idoso, coletada
e transcrita em forma de narrativas e analisada de acordo com os pressupostos
teóricos da abordagem discursiva. Assim, a análise, foi direcionada por
questões como: problematizar a questão do idoso na sociedade
contemporânea, entender os ditos e não ditos presente em sua narrativa, que
ideologias defende, que valores apregoa, e como valoriza o letramento em sua
vida. A metodologia utilizada, nesta pesquisa, advém do método arqueológico
de Foucault, aliando aos pressupostos teóricos da Análise do Discurso de linha
francesa. Assim, ao analisar esse discurso, foi possível entender as
identificações do sujeito idoso e as múltiplas identidades constitutivas do sujeito
analisado, que está em processo mutável e contínuo.
74
autobiográficas e coletivas, com efeitos sobre atuais formas de narração de si.
Em outras palavras, procuramos entender como as novas formas de fazer
imagem digital (principalmente aquelas que são produzidas para serem
compartilhadas) operam na forma como os usuários guardam memórias e
usam a fotografia para construí-las, forjando concepções de passado-presente-
futuro a partir da imagem que foi midiatizada. Além disso, investigamos como
essas novas maneiras de guardar memória atuam sobre a fabricação das
atuais narrativas de si. Para realizar a pesquisa, apoiamo-nos nos conceitos de
memória, narrativa e novas mídia de Van Dicjk, Brockmeier e Sibilia, e em
Dubois e Samain para construir os pilares do que compreendemos como
fotografia. O estudo qualitativo analisou fotografias compartilhadas em algum
álbum do Facebook, selecionadas de forma aleatória. O convite à participação
foi realizado pelo próprio Facebook. Através de um questionário semi-
estruturado digital, os respondentes dissertaram sobre a relação entre a
produção de fotografias digitais e a elaboração de memória e narrativa
autobiográficas. Dentre os resultados, percebeu-se que os indicativos materiais
de apreciação à imagem compartilhada (número de curtições e comentários)
predominam como preocupação primordial ao compartilhar uma fotografia,
moldando assim as memórias autobiográficas dos sujeitos. Ademais,
constatou-se também certos padrões de enquadramento e conteúdo da
imagem que parecem revelar um ethos negociado na rede que nivelam os tipos
de fotografias "publicizadas", e por consequência a produção de uma narrativa
e uma memória autobiográficas inspiradas em uma narrativa mestra.
75
das narrativas advindas de entrevistas semiestruturadas, tomando como base
à abordagem qualitativa da história oral, a partir dos postulados teóricos de
Bosi (1994), Halbwachs (2006), Pollak (1989), Portelli (1997) e Thompson P.
(1992). Enfatizamos a importância das memórias que afloraram nas narrativas
orais para a evocação do passado silenciado, esse posicionamento de luta pela
preservação da memória, no intuito de reinterpretar o passado, advém do
pressuposto de que os fatos, com pouca ou nenhuma visibilidade na
historiografia têm, no testemunho oral, a oportunidade de serem contados por
meio das narrativas dos sujeitos ordinários e anônimos das culturas
minoritárias Certeau (2011a e b), Benjamin (2012) Thompson, E. P. (1998). O
encontro com as memórias evidenciou a relevância das contribuições advindas
das ações de alfabetização e outras, que foram implementadas posteriormente
dentro do Movimento, a exemplo da mobilização da comunidade sertaneja em
torno das ações culturais do MOBRAL.
76
Palavras-chave: Espaço Ficcional. Casa. Memória.
77
ao relato para dar notícia da evolução da consciência histórica e social de
Graciliano, bastante focada no papel do escritor na sociedade brasileira de sua
época. Desse modo, as Memórias assumem o duplo valor das grandes obras
literárias que - além de revelar um profundo senso de mediação artística-
jogam luz sobre a realidade social, criando um novo modo de conhecimento
dos homens pelo tratamento literário de suas contingências históricas e sociais.
Nossa base teórica foi variada, partindo de Ficção e Confissão, de Antonio
Candido (panorama clássico da obra do escritor alagoano) e se estendendo
para estudos históricos e sociológicos como, por exemplo, a obra Intelectuais à
brasileira, de Sergio Miceli, que monta um quadro muito importante para o
conhecimento das razões da atuação literária de diversos escritores da década
de 30. Como metodologia de pesquisa, empregamos uma análise dialética das
relações entre forma literária e processo social, calcada especialmente nos
ensaios de Roberto Schwarz já que estes realçam a riqueza e a contradição
das posições nos textos literários, frequentemente jogando luz sobre homens e
obras. Em termos de resultados, as contribuições fundamentais da tese foram
se afastar da exploração exclusiva da visão do pessimismo atribuída ao escritor
(às vezes, obsessiva em sua fortuna crítica) bem como realçar questões de
posicionamento literário e político do escritor, as quais se entrelaçam num
relato que deixa de ser apenas pessoal e atinge o status de verdadeiro
documento literário de sua época.
78
terá como proposta a análise de textos enviados por pessoas surdas de
diversos teritórios do Brasil, compreendendo que as redes sociais extrapolam
os limites espaciais quando as tecnologias digitais são utilizadas. Como
proposta de análise dos resultados utilizar-se-á o método qualitativo, conforme
Minayo (2001) e o método comparativo segundo Schneider; Schmitt (1998) e
Boas (2009).
79
Resumo: O Movimento Brasileiro de Alfabetização - MOBRAL foi um Programa
criado durante o Regime Militar no ano de 1969, com o objetivo de erradicar o
analfabetismo no Brasil em um período de dez anos. Para isto, desenvolveu
atividades de alfabetização funcional, educação integrada e educação cultural.
Neste trabalho, teve-se como objetivo analisar o funcionamento do MOBRAL
no município de São João do Jaguaribe, de 1972 a 1979, de forma
contextualizada, a partir da reconstituição das memórias de ex- participantes,
observando os limites enfrentados e possibilidades de criatividade e autonomia
na prática pedagógica. Para o desenvolvimento desta pesquisa, recorreu-se a
Ricoeur (2007), acerca da importância da categoria memória; Paiva (1973),
Paiva (2005), Coelho (2007) e Furtado e Pereira (2015), a fim de discutir a
Educação de Jovens e Adultos com um breve histórico das ações
desenvolvidas entre as décadas de 1950 e 1960, culminando com criação do
MOBRAL. Realizaram-se entrevistas com a participação de ex-professoras, ex-
alunos e membros da Comissão Municipal do MOBRAL, na perspectiva de
(re)construir a memória existente sobre o Programa. Constatou-se a existência
de atividades de turmas de alfabetização funcional e educação integrada,
desenvolvidas nos contextos rural e urbano, nos anos de 1972 e 1978-1979,
respectivamente. Refletiu-se, diante das narrativas das professoras, sobre o
rendimento das atividades nestes contextos, em que as atividades
desenvolvidas no âmbito rural tiveram rendimento abaixo do esperado, evasão
acentuada, desestímulo e cansaço físico dos alunos. Na turma de educação
integrada, segundo a professora, alguns alunos conseguiram ter bom
rendimento, concluindo os estudos e recebendo habilitação para o magistério.
Sobre os alunos, constatou-se que a maioria buscava a alfabetização na
perspectiva de aprender a escrever a fim de participar como eleitor, e alguns
relatam terem sido vítimas de preconceito. O Programa teve também atividades
inovadoras, como a MOBRALTECA, a biblioteca ambulante que trazia livros
para emprestar à população. Constatou-se que através das memórias os
participantes enriquecem suas narrativas, incorporando avaliações do que
representou a experiência em suas vidas. Por fim, o MOBRAL foi um programa
que beneficiou parte da população São-Joanense, entretanto, alguns dos seus
objetivos e práticas pedagógicas deveriam ter sido repensados e melhor
desenvolvidos.
80
Resumo: O presente artigo tem como objetivo analisar como é construída a
narrativa sobre a Revolução Nacional na revista O Cruzeiro. O periódico que
circulou entre 1928 e 1975 era editado pelos Diários Associados, comandado
por Assis Chateaubriand, e tornou-se uma das principais revistas brasileiras do
século XX. O Cruzeiro trazia em suas páginas temáticas variadas - moda,
esporte, colunismo social, política, história, cinema, arte - em modalidades de
escritas diferenciadas - crônicas, contos, charges, poesias - e com uma
estética que valorizava a fotografia. Desenvolvemos este trabalho adotando o
conceito de narrativa a partir da perspectiva de Genette (2011) e Paul Ricoeur
(2010), que entendem a narrativa como elemento de representação da
realidade social, onde o fato representado não significa a coisa em si,
verdadeira e autêntica, mas um retrato imaginário e simbólico. Desta forma,
buscamos aproximar aspectos da narrativa jornalística e histórica na revista O
Cruzeiro, a partir de uma análise qualitativa da edição especial Revolução
Nacional - documentos para a História -, publicada no fim do ano de 1930. O
exemplar traz reportagens que abordam esse momento político mostrando
como se organizou a revolução, fatos que corroboraram para a ascensão de
Getúlio Vargas ao poder e personagens históricos que participaram
diretamente deste contexto. Ao final, é possível constatar que a publicação de
natureza memorialística mostra o alinhamento do periódico aos ideais
getulistas e legitima, através de sua narrativa, o movimento conhecido como
Revolução Nacional. Assim, a edição especial de O Cruzeiro, embora reflita o
posicionamento político da revista, possui uma potência multiplicadora de criar
novos significados sobre este momento da história política brasileira.
81
momento quase fictício da história. Nesse sentido, a partir da leitura comparada
de trechos referentes a representação da imagem e personagem histórica e
ficcional Antônio Conselheiro, em Os Sertões, Euclides da Cunha (1984), A
Guerra do Fim do Mundo, Llosa (2008), e História do Brasil, Boris Fausto
(1995), teceremos algumas considerações dos processos convergentes de
construção das narrativas e representação das memórias presentes nas obras
citadas. Apoiaremos nossa análise nos conceitos, nas modalidades e
problemas que Ricouer propõe. No caso da ficcionalização da história, os
conceitos de conectores, rastros e reentrâncias e as modalidades do papel
mediador do imaginário; do efeito de ficção e de dicção e dos acontecimentos
marcantes (epoch-making); já para o caso da historicização da ficção,
voltaremos atenção ao problema da marcação temporal de passado e da
verossimilhança. Nosso objetivo, portanto, é pautado em leituras sobre Antônio
Conselheiro, discutir os entrecruzamentos entre as intencionalidades da ficção
e da história na construção - reinserção e imaginação - das representações
culturais de fenômenos sociais nas memórias e narrativas, enquanto
refigurações do tempo humano.
82
de motivações, que variam desde querer seguir o exemplo de uma pessoa
estudiosa da família ou próxima ao sujeito, passando pela realização de testes
vocacionais, e também, pela identificação com a profissão docente, dentre
outras motivações. Sendo que a escolha do curso, a partir do conjunto de
motivações de cada um, foi determinada por um sentido afetivo atribuído pelos
sujeitos.
83
Bárbara Silva Teles de Menezes (UECE)
Elayne Castro Correia (UECE)
84
marcar sua trajetória. Marcar não no sentido teleológico, evolutivo, que esta
palavra pode dar a entender, mas para demonstrar as diferentes concepções a
respeito da arte e da literatura, bem como procurando reforçar o caráter
relacional da literatura com os demais saberes e o mundo. No século XVIII,
segundo Todorov, há uma espécie de deslocamento, do criador para o
observador, ou seja, "o objetivo da poesia não é nem imitar a natureza nem
instruir e agradar, mas produzir o belo, que "se caracteriza pelo fato de não
conduzir a nada que esteja além de si mesmo". No texto literário, as
consequências do deslocamento para as construções identitárias são
discutidas em um leque de representações variadas que confirma a pertinência
de seu estudo como um dos traços presentes na literatura contemporânea,
como argumenta o escritor argentino Juan José Saer. Na obra de Verônica
Stigger, o deslocamento, se configura como a viagem de volta, de volta ao
mundo.
85
oportunidade de participar da caça ao tesouro de D. Loura, sem deixar,
contudo, de entender a inovadora aventura que é desbravar os enigmas
escolhidos por suas memórias.
86
“POR QUE O DISCURSO ERA UM HINO DE LIBERDADE”: NARRATIVAS
DE MÃES CHOPES SOBRE MUDUNGAZI/NGUNGUNHANA: CONTO DE
PAULINA CHIZIANE (1955)
Denise Rocha (UNILAB)
Resumo: "De como a personagem foi mestre e o autor seu aprendiz" é o título
do discurso que o escritor português José Saramago (1922-2010) proferiu em
dezembro de 1998, em Estocolmo, ao receber o Prêmio Nobel de Literatura.
Nesse texto, publicado posteriormente (SARAMAGO, 1999), o autor faz uma
espécie de balanço da sua produção literária até então, acentuando, de um
lado, a estreita relação entre vida e obra, bem como a influência de suas
personagens na sua formação como escritor e como homem; e de outro, o
papel da memória como fundamento dessa formação. Evidentemente
autobiográfico, o discurso contém as marcas que delinearam a obra do autor,
oriundas todas dessa relação com a memória (pessoal, histórica e da tradição
literária que o formou), constatação que não é consensual entre os críticos
literários. O objetivo deste trabalho é analisar alguns aspectos da memória
embutidos no discurso de Saramago, utilizando categorias ou conceitos
fundamentais para os estudos que tratam da relação entre literatura e vida: a
escrita de si, considerando o pressuposto de que toda escrita literária é uma
escrita autobiográfica (GUSDORF, 1991), o espaço autobiográfico (LEJEUNE,
1996), que abriga tanto as obras ficcionais quanto as autobiográficas de um
autor, contribuindo para a construção de sua imagem; o campo literário
87
(BOURDIEU, 1986), de cuja relação com outros campos dependeria a
ocupação do escritor no espaço de uma tradição; o contexto da obra literária
(MAINGUENEAU, 2001), que admite a existência de reciprocidade entre a vida
e a obra de um autor. Diante dessas categorias, que serão colocadas em
discussão, o texto de Saramago revela-se como uma defesa da presença do
autor em sua obra, considerada esta não como o reflexo de sua vida, mas
como a transfiguração do seu pensamento, da sua memória e, em última
instância, da sua subjetividade.
88
cada criança em relação à escola, sejam estes de pertencimento ou de
cumprimento de um mandato jurídico-institucional.
89
UM GRITO SUSPENSO NO AR: O RESGATE DA MEMÓRIA NO CONTO IN
THE VILLAGE, DE ELIZABETH BISHOP
Georgia Gardenia Brito Cavalcante Carvalho (UECE)
Francisco Carlos Carvalho da Silva (UECE)
90
tempos de criança em sua cidade natal, Recife, capital de Pernambuco, estado
do Nordeste do Brasil, ditando moldes a serem seguidos na Fase Iconoclasta
do Modernismo Brasileiro, chamada também de "A Primeira Geração Poética",
de 22. Para tanto, são definidas segundo a organização, a edição e a
publicação dos escritos reunidos por Albert Sechehaye e Charles Bally, com a
colaboração de Albert Riedlinger, da então obra do mestre genebrino intitulada
de Cours de Linguistique Générale ("Curso de Linguística Geral"). Eles a
apresentam ao mundo sendo fieis aos escritos realizados, às anotações feitas
e aos cursos ministrados pelo considerado "pai" da Linguística Moderna. Têm-
se como objetivos, tanto apresentar o belíssimo poema que localiza e
representa a cidade do Recife do início do século XX sob a ótica de um dos
maiores escritores do Modernismo Iconoclasta Brasileiro de 1922, da Literatura
Brasileira e da Literatura Moderna de Língua Portuguesa de todos os tempos,
como explicitar tais teorias, de uma forma sucinta e didática, em excertos do
corpo poético do supracitado, das quatro oposições da Ciência denominada de
Linguística Estrutural, fundada por tal pensador, estudioso e teórico dos
Conhecimentos Linguísticos.
91
CARNAVALIZAÇÃO EM TEXTOS SAGRADOS: UM ESTUDO
BAKHTINIANO DA NARRATIVA BÍBLICA DO EVANGELHO DE MATEUS
COMO UMA SÁTIRA MENIPEIA
João Batista Costa Gonçalves (UECE)
92
Alecrisson da Silva (UFS)
93
UM ESTUDO HISTÓRICO-LINGUÍSTICO. Estudar os testamentos se faz
relevante, pois por meio dessa fonte histórica é possível recuperar vivências da
mais variada gama social, ou seja, o ato de testar e as referências existentes
no testamento revelam dados importantes da população residente em uma
determinada região (LIMA; SILVA, 2010). Nossa proposta com este trabalho é
alertar para importância dessa espécie documental e apontar os resquícios
históricos pertencentes a sociedade aracatiense através de seus testamentos.
Os documentos analisados foram produzidos na antiga capitania do Ceará,
durante o período colonial brasileiro, mais precisamente no século XVIII, e
fazem parte do acervo do Arquivo Público do Estado do Ceará (APEC). A
primeira etapa de nosso trabalho foi a coleta dos documentos e, em seguida,
foi feita a edição semidiplomática dos mesmos. Posteriormente iniciamos a
análise dos aspectos históricos, diplomáticos, linguísticos e filológicos, em que
descreveremos a estrutura textual da espécie documental. Para tanto,
baseamos nossas análises em Bellotto (2002), (2004), e (2008), Spina (1977),
e Cambraia (2005).
94
famílias estudadas. Em um contexto familiar, a narrativa da vivência escolar
encontra-se imbricada na rotina familiar, usufruindo de espaço privilegiado, e
possibilitando uma projeção afetivo-emocional personalizada da experiência.
Em outro contexto familiar, a vivência escolar requer um esforço interacional
para manter-se em curso, projetando fronteiras para a imbricação entre o
espaço doméstico-familiar, personalizado, e o espaço institucional escolar. Tais
configurações possibilitam a construção de repertórios e memórias familiares e
individuais distintas no que diz respeito aos entendimentos sobre o lugar de
cada criança em relação à escola, sejam estes de pertencimento ou de
cumprimento de um mandato jurídico-institucional.
95
AUTORITARISMO, SILÊNCIO E MEMÓRIA EM EL SIGLO DEL VIENTO DE
EDUARDO GALEANO: NARRATIVAS A CONTRAPELO
Liana Márcia Gonçalvez Mafra (IFMA)
96
partindo-se, assim, para um trabalho à luz da história oral híbrida, em que a
memória traz à tona lembranças de um ou de ambos os contextos aqui
delimitados. Desse modo, pelos itinerários estabelecidos pelo conhecimento
acadêmico, e mais especificamente pela História Oral, são ressaltados os
valores universais de justiça, de liberdade e de compromisso moral para com a
formação, a integridade e a sobrevivência da família. Neste estudo, as formas
de linguagem que expressam os valores éticos, presentes nas cartas e nas
entrevistas com os colaboradores, fazem permanecer vivas as mensagens
originadas de guerras. Entre o referencial teórico, encontram-se consagrados
estudos da linguagem, da memória, da história oral, da ética, entre outros, de
renomados historiadores. Para a busca da resposta à questão norteadora
deste trabalho, estabeleceu-se, por objetivo geral, detectar e analisar, à luz de
referenciais teóricos e por meio de estudo comparativo e pormenorizado, o
legado de afeto, conhecimentos e valores, expresso na linguagem que compõe
as cartas originadas de guerras, considerados o contexto histórico-social a que
elas se prendem e as narrativas das entrevistas com os colaboradores. Por
meio deste estudo sobre narrativa e memória em escritos de guerras e na
oralidade, sob as orientações expressas na metodologia preconizada pela
História Oral, que prevê a preponderância das ideias, e não exclusivamente
das palavras, buscou-se dar vez e voz àqueles que, em meio às incertezas de
um tempo e às agruras da guerra, viveu e sobreviveu às angústias de seu
próprio tempo.
Palavras-chave: Escrita e oralidade. Narrativa e memória. Legado de Família.
97
EIXO TEMÁTICO 4 – EXCLUSÃO E VIOLÊNCIA
98
Resumo: Concomitante ao processo das transformações do espaço urbano de
Fortaleza, em meados do século XIX, surge todo um conjunto de discursos
construídos por uma elite política e econômica que busca delimitar espaços e
moralizar práticas daqueles que não se enquadravam no projeto de civilização
construído para a cidade. A partir dos conceitos de civilização em N. Elias e de
discurso em M. Foucault, propomo-nos a analisar o processo de construção de
estereótipos marginalizadores sobre as camadas mais pobres da população
fortalezense. A construção desta identidade transgressora dos pobres urbanos
permite a concretização da diferença entre "nós” e “eles" tão desejada pelas
elites. Esta construção simbólica reafirma um conceito de cidadania que
distingue e delimita espaços que devem ser apropriados pelos civilizados
cidadãos membros da elite em contraposição aos espaços da massa turbulenta
de pobres e indesejáveis que insistiam em desfrutar da urbanidade. Uma
pobreza que aumentava assustadoramente, principalmente nos períodos de
seca, quando então proporcionavam verdadeiro espetáculo de horror aos
distintos membros da sociedade. Não podendo livrar-se efetivamente desta
massa, que afinal compunha a reserva de trabalhadores e consumidores da
lógica burguesa que se estabelecia da cidade, a elite urbana se arma de um
complexo sistema de discursos - morais, médicos e jurídicos - para disciplinar
as formas de viver na cidade. Da análise dos códigos e posturas (1835 a 1879),
de dois dos jornais de maior circulação na Província e dos relatos dos viajantes
estrangeiros e nacionais que percorreram as ruas de Fortaleza, conseguimos
compreender a transformação da pobreza urbana em alvo da vigilância e
violência das políticas de controle social impostas pela elite fortalezense.
99
contemporânea em nossa sociedade. Como metodologia, faremos pesquisa
bibliográfica sobre a Análise do Discurso para marcar o lugar teórico de
Pêcheux e as categorias que serão mobilizadas no percurso analítico. Em
seguida, realizaremos a análise da materialidade, observando a produção de
sentido no enunciado jurídico da Lei Maria da Penha, buscando enfocar as
ideologias, o interdiscurso e o resgate da memória discursiva. De acordo com
a Constituição Federal do Brasil de 1988, é defendida a ideia de que homem e
mulher são iguais, por isso, pretende-se averiguar como o contexto histórico e
ideológico propiciou o surgimento da Lei Maria da Penha. Consideramos que
persiste nesta lei uma concepção sobre a mulher vinculada a uma sociedade
com ideologias machistas e que, por isso, concebe-a como a parte mais frágil
na relação homem/mulher. Nossa reflexão aponta para esse discurso jurídico
que revela as relações de poder e as ideologias que o formam representando a
mulher como alguém que necessita de amparo legal para firmar-se e constituir-
se enquanto cidadã e sujeito de direitos.
Resumo: O presente tema para pesquisa intenta, como objetivo central, propor
um estudo que visa à investigação, à descrição e à análise de determinadas
estruturas linguísticas presentes em artigos, editoriais, informes e panfletos
publicados em jornais africanos lusófonos - especificamente os de Angola e os
de Moçambique-, durante o correr dos séculos XIX e XX, textos estes de
autoria de escritores, poetas e intelectuais da África sob o período de
colonização. A partir dessas fontes, este trabalho busca uma observação
minuciosa das referidas estruturas (como as estruturas narrativas e discursivas,
as formulações/organizações discursivas, as enunciações e relações
intertextuais etc.), baseando-as em estudos insertos no contexto da Análise
Crítica do Discurso (ACD) e nas inter-relações próprias da diacronia,
possibilitando estabelecer paralelos entre perfis reconhecidamente ideológicos,
bem como o de propiciar a apresentação de modelos de análise de Retórica
que certifiquem o caráter do que se entende por discurso "engajado".
Periódicos como O Progresso, O Africano, O Brado Africano e O Itinerário, de
Moçambique; de Angola, A Aurora, A Civilização da África Portuguesa, Jornal
de Luanda, O Futuro de Angola ou O Pharol do Povo, Echo de Angola, A
Província de Angola, Jornal de Angola, Vozd'Angola, entre outros, são as
fontes de onde parte o exame científico aqui desejado. Dessa forma, poder-se-
100
á edificar um material que vise a contribuir com a diminuição de possíveis
lacunas existentes na direção pretendida por esta pesquisa que tem como
fulcro a conjugação do pensamento literário-jornalístico sob a África colonizada
de língua portuguesa com os estudos linguísticos que pensam a complexa
natureza dos fenômenos discursivos.
101
(JASPER, 1997), observamos que essas construções identitárias são
marcadas por avaliações (LABOV, 1972) que expressam como essa
manifestante entende que o choque produzido pela violência policial levou ao
'esvaziamento das ruas', quando os protestos já não reuniam multidões.
Resumo: A eleição presidencial de 2014 foi marcada não apenas pelo elevado
grau de disputa entre os dois partidos que a protagonizaram, mas
principalmente pelo acirramento de tensões sociais e políticas em algumas
manifestações populares que mostraram não apenas o uso de violência
simbólica, mas também de violência física. Este trabalho parte da hipótese de
que o acirramento dessas tensões, que se deu na passagem da violência
simbólica para a violência física, em alguns casos, deve ser analisado em
função de dois fatores: o primeiro é o uso da internet e das redes sociais como
novo espaço de ação, intervenção e mobilização política; o segundo é o tipo de
visibilidade que a questão da corrupção vem ganhando, no Brasil, nos últimos
anos, no chamado segmento hegemônico da mídia brasileira. A hipótese em
relação a este segundo fator é a de que o tipo de tratamento jornalístico que a
mídia hegemônica brasileira tem dado à questão da corrupção no Brasil, por
não conferir visibilidade às razões estruturais do problema, pouco tem
contribuído para um debate esclarecedor para tal questão. Nesse sentido,
tomando como referência a discussão de Zizek (2014) sobre a dimensão
espectral das formas de violência e sua tese de que "a realidade em si própria
nunca é intolerável: é a linguagem que a torna intolerável", a teoria do discurso
de Ernesto Laclau (1990) segundo a qual os discursos e as relações sociais se
constituem antagonicamente, e algumas proposições da nova pragmática, este
trabalho tem por objetivo discutir a relação entre os atos de fala violentos do
curta-documentário produzido pela TV Carta, por ocasião da manifestação
política que aconteceu na véspera da realização do segundo turno da eleição
presidencial de 2014, em Belo Horizonte, e o tratamento discursivo da revista
Veja para os escândalos de corrupção do chamado "mensalão" e da Petrobrás.
Considerando as teses de que todo discurso se constitui antagonicamente
(LACLAU, 1985) e a de que é a linguagem que torna toda realidade
insuportável (ZIZEK, 2014), a segunda hipótese deste trabalho é a de que o
alvo das formas de violência em questão configura três instâncias de
alteridade: a) uma empírica (atores políticos e grupos sociais específicos); b)
uma simbólica (a perspectiva ideológica suposta para o projeto político
102
antagonizado nos atos de fala em questão); c) uma espectral que, de acordo
com a hipótese zizekiana sobre a dimensão fantasmática da violência, por
constituir o alvo obsessivo de toda violência dirigida contra toda forma de
alteridade, pode ser concebida, em última instância, como o elemento fundador
da política e de toda demanda de democracia.
103
violência urbana e fundamentando práticas de resistência a discursos
majoritários de criminalização de adolescentes e jovens negros e pobres.
104
DIREITO, LINGUAGEM E VIOLÊNCIA NA INTERPRETAÇÃO DA LEI MARIA
DA PENHA
Kélvia Cristina de Menezes Arrais (UECE)
105
cristalizadas pela sociedade contemporânea. E neste estudo, partimos das
questões indígenas, pois pesquisas nos relatam que ainda este povo enfrenta
discriminação (GUERRA, 2010). Neste trabalho, propomo-nos rastrear os
conflitos e tensões que Seattle enfrentou na relação com o branco ao proferir o
seu apelo sobre a terra e tudo que está posto sobre ela. Sua resistência à
imposição do governo de compra e venda da Terra fez com que Seattle
questionasse suas ações e práticas ao se ver no olhar do outro. Para que
pudéssemos alcançar os objetivos que propomos, nos apoiamos nos
procedimentos teóricos e metodológicos da Análise do Discurso, de linha
francesa (PÊCHEUX, 2002; CORACINI, 2011; AUTHIER-REVUZ, 1998), em
uma perspectiva foucaultiana, sobretudo tendo como base as fases
arqueológica e genealógica (FOUCAULT, 1995). Valemo-nos também nas
concepções postuladas por sociólogos e filósofos sob a pluma da
transdisciplinaridade, como Homi Bhabha (1998), Néstor Canclini (2011),
Sousa Santos (2010), Stuart Hall (2006), Zygmunt Bauman (2005) que
discorrem a respeito do processo identitário diante da crise da modernidade
ocidental. Até o momento, foi possível perceber que ao ser confrontado, Seattle
recorre à sua história para buscar na memória concepções culturais e sociais
que o ajude a compreender o pensamento capitalista, assim engendrando uma
(des)construção de identidades ao tentar negociar as diferenças diante das
dimensões proporcionadas pela alteridade.
106
bairro paulistano, balizada nos princípios de estudos linguísticos críticos e
transgressores (PENNYCOOK, 2008; SÁ, 2015). É levada à termo num grupo
focal por meio de entrevistas, histórias de vida e narrativas orais e visuais.
Dentre as constatações que elenco até este momento, ressalta-se: i) o modo
como tais imigrantes são afetados individual e coletivamente por esse tsunami
social a partir do enfeixamento dos construtos: inclusão e identidade; ii) como
são tornados invisíveis socialmente, embora não o sejam, de fato, no cotidiano
da cidade; iii) como são alocados numa lógica binária de normalidade e
anormalidade; iv) como tal evento afeta de forma nevrálgica a identidade de
tais imigrantes envolvidos nessa diáspora internacional (SILVA, 2014; HALL,
2008); e, por fim, v) como a composição de uma (nova) identidade de espectro
(bi)nacional formata-se em detrimento da identidade primeira dos imigrantes
visto que almejam ser aceitos socialmente (RAJAGOPALAN, 2003; SILVA,
2008).
107
construídas pelo outro que constitui sua subjetividade. Foram gravados,
transcritos e analisados para esta comunicação 10 relatos de vida, obtidos na
rua ou em um abrigo na cidade de Campinas (SP).
108
OS DISCURSOS MIDIÁTICOS DOS ARTIGOS DE OPINIÃO DA REVISTA
VEJA ACERCA DA “LEI DA PALMADA”
Marcela Pachêco Chaves (UFPI)
Francisco Laerte Juvêncio Magalhães (UFPI)
109
POLÍTICA DE ESCRITA E PRÁTICAS DE RESISTÊNCIA NO ESPAÇO
PRISIONAL: A TRAJETÓRIA DE ADÃO
Leonardo Damasceno de Sá (UFC)
Izabel Accioly (UFC)
Deiziane Aguiar (UFC)
110
PRÁTICAS DISCURSIVAS E MÚLTIPLAS POSSIBILIDADES DE LEITURA:
O BULLYING E O PRECONCEITO RACIAL
Hely Cantalice Neto (UERN)
111
Joelma Rodrigues Da Silva (UNB)
112
aula. Pretende-se ainda observar como essa violência linguística causa danos
na construção da identidade dos sujeitos. A base teórica se constitui em duas
vertentes que se entrecruzam para assegurar maior aprofundamento nas
análises. Primeiramente, a Nova Pragmática, de Silva & Alencar (2014) e
Rajagopalan (2010) que aponta perspectivas para estudar os fenômenos
linguísticos transpassados pelo social, pela história e pela cultura, assumindo
uma postura contra-hegemônica e crítica dessas relações que são
indissociáveis. Em segundo, as máximas e princípios de (Im)Polidez Linguística
de Leech (1983, 2005), especialmente ao que ele chama de banter ou mock-
impoliteness, ou seja, viola-se a polidez nos turnos da interação ao usar termos
de sentido amigável dissimulando ofensas. A metodologia utilizada foi
observação participante em sala de aula, acompanhando por um ano aluno
autista em escola do ensino regular. Os principais resultados indicam que há
ocorrências constantes de violências linguísticas dos professores para com o
aluno, mas de forma velada e sem a intenção de agir com impolidez.
Observou-se ainda o despreparo profissional para lidar com a subjetividade do
autista em sala, reforçando sensação de distanciamento social do autista em
relação ao grupo.
113
Alemanha"), com bases teóricas na Análise Crítica do Discurso (ACD) e nos
Estudos Críticos do Discurso (ECD), parte do pressuposto de uma relação
dialética entre o discurso e a sociedade na qual a socio-cognição opera como
interface. Essa posição teórica oferece a possibilidade de uma análise social
através de métodos linguísticos aplicados. Na tradição da ACD, que propõe um
engajamento social para mudar as estruturas de desigualdade e exclusão,
nesta pesquisa estuda-se o debate sobre a inclusão de surdos no sistema de
educação regular na Alemanha. A aplicação dos métodos da Linguística
Cognitiva (LC) permite focar os processos mentais evocados pelo discurso e
explicar a contribuição do discurso à construção e constituição de identidades.
Pelos resultados da análise, demostra-se que a inclusão educativa para os
surdos é um conceito ainda não aceito pela sociedade alemã inteira. Além
disso, indicam-se as consequências que a discussão pública sobre a exclusão
ou inclusão pode trazer para a constituição da identidade surda.
Resumo: Este trabalho tem como objetivo geral analisar o conto "Pai contra
mãe", de Machado de Assis, sob o prisma da instituição da escravidão. Nesta
obra, o autor traz essa temática de forma dramática e contundente, pois a
insere num contexto ambíguo e complexo. Para auxílio da análise, foi feito um
estudo sobre a sociedade da época (focalizando a questão da escravidão, do
trabalho, da família e da desigualdade) e, a partir deste, realizamos
comparações com as situações postas pelo enredo: instrumentos de tortura,
caça aos escravos fugidos, o papel do feitor, a roda dos enjeitados. Foi
observado também o papel do homem e da mulher no âmbito familiar e social.
Em função desse paradigma de leitura, concluímos que Machado de Assis
constrói um enredo cruel, porém real, além de observarmos a desigualdade de
papel e funções exercidos pelos personagens (brancos e negros) numa
sociedade escravagista. Tais funções divergem e refletem a exclusão e a
desigualdade vigentes na época, que depreendemos também estarem
fortemente presentes nos dias de hoje. O autor faz uma crítica forte e expõe as
deficiências dessa sociedade que não vê o outro como igual, mas como
desmerecedor de seu amparo. Escravismo e trabalho, portanto, atravessam os
tempos e adquirem na sociedade brasileira significados que têm sua origem na
manutenção de estruturas patriarcais que datam de séculos atrás, o que
comprova a atualidade do texto machadiano e a inquietação da sua leitura.
114
Palavras-chave: Escravidão. Desigualdade. Análise comparativa.
115
116
EIXO TEMÁTICO 5 – SEXUALIDADE E GÊNERO
117
Resumo: O artigo em questão analisa o debate em torno da supressão dos
termos "orientação sexual" e "identidade de gênero" do Plano Municipal de
Educação, a partir da realidade do município de Iguatu, considerando a tônica
que o debate ganhou no cenário nacional e quais os seus rebatimentos para a
realidade objetiva do contexto educacional no que tange à formação de sujeitos
e à evasão escolar. Essa análise busca sua luz no referencial marxista e no
seu método histórico dialético e na análise de discurso por considerar que
essas vertentes teóricas são capazes de acompanhar o movimento da
realidade de forma a suspender o cotidiano e perceber quais determinações da
realidade objetiva incidem ideologicamente sobre a formação da prática
discursiva dos sujeitos. Entendendo dessa forma, que o contexto educacional
assim como todas as demais instituições não são espaços neutros,
representam interesses de classe e que são passíveis de disputa hegemônica,
é que a problemática causada pela supressão dos termos ganha mais
relevância, por produzir evidências (ORLANDI, 2013) sobre como os sujeitos
que compõem o espaço público veem a importância de abordar os temas
suprimidos com vistas a evitar a evasão escolar e a discursividade que
envolvem a situação. Compreendendo, também, como a história e os discursos
se escrevem dialeticamente no cotidiano e como as relações de gênero são
determinantes para entender como esse processo diário influi na perpetuação
de opressões sobre as sexualidades que transgridam a heteronormatividade
(TOITIO, 2013) e firam princípios patriarcais. O estudo considerou a análise
dos posicionamentos públicos dos sujeitos envolvidos no processo, desde
postagens no Facebook até a observação participativa em sessão da Câmara
dos Vereadores. Podemos concluir que dentro da fenda das contradições da
sociedade capitalista é que o terreno de atuação mostra-se necessário e a
situação que envolve a questão dos Planos Municipais de Educação tem
evidenciado o crescente desafio que é promover o debate sobre gênero e
sexualidade dentro do âmbito educacional, ficando clara a imagem cristalizada
que a escola carrega como sendo uma mera reprodutora de discursos
"neutros".
118
funcionando como modalidade enunciativa (FOUCAULT, 2007, 2009; DE
CERTEAU, 2007), a partir de um lugar institucional definido por regras,
modalizações e textualizações específicas. Apresentamos neste estudo uma
análise da prática jurídica numa perspectiva socioconstrucionista do discurso e
das identidades sociais (MOITA LOPES, 2003). Enquanto delimitação,
objetivou-se, especificamente, empreender uma análise discursiva de um
pedido de adoção homoafetiva, deferido pelo juiz da infância e juventude de
Goiânia, Maurício Porfírio Rosa, em junho de 2009. Tomado enquanto
materialidade discursiva, o parecer do jurista foi analisado em sua
historicidade, nas regras do funcionamento jurídico e na especificidade do
posicionamento enunciativo do juiz em meio às memórias das relações de
gênero e sexualidade atuais. Do ponto de vista da análise do discurso francesa
(ORLANDI, 2009; SARGENTINI, CURCINO & PIOVEZANI, 2011; GREGOLIN
& KOGAWA, 2012), a descrição e interpretação do enunciado jurídico em
questão apontou para movimentos da memória e do sentido que marcam a
sentença enquanto um posicionamento afirmativo em relação às novas
dinâmicas sociais e ao direito do instituto da adoção por parte de casais
homoafetivos, mesmo na ausência de lei específica, projetando-se no parecer
do juiz uma atualização dos discursos de identidade de gênero e sexualidade
que apontam para um conceito de família baseado na afetividade. Da análise,
evidenciou-se, ainda, o modo como a materialidade discursiva jurídica redefine
certos conceitos sociais e os recontextualiza no cenário atual marcado por
novos modos de subjetivação e novas práticas identitárias de gênero e
sexualidade, a exemplo da possibilidade de amparo legal para adoção
homoafetiva à luz dos princípios da dignidade humana, da isonomia e da ideia
de família alicerçada na dimensão da afetividade.
119
“Agora eu sou piranha” da cantora Valesca Popozuda, como o discurso sexual
do funk é modificado do baile-funk, consumido na periferia, para circular nas
mídias hegemônicas. Nessa perspectiva, o que se pretende observar é como e
de que modo o discurso sexual feminino é docilizado, de uma versão para a
outra da música, para evitar a circulação de um discurso feminino que é oposto
ao socialmente aceito no imaginário vigente. Tal análise será basificada nas
perspectivas da análise do discurso propostas por Dominique Maingueneau,
juntamente a Michael Foucault e outros pensadores que versam sobre a
sociedade de controle e as discussões acerca da sexualidade. De todo modo, é
importante ressaltar que a utilização de uma das músicas da Valesca
Popozuda se faz necessário para que diálogo bibliográfico seja melhor
exemplificado, não para tomá-lo como ícone, mas para a partir dele criar
diálogos com outras músicas e outras funkeiras.
120
produção de materiais pedagógicos; algumas foram realizadas em parceria
com secretarias de educação e universidades; todas enfatizaram discussões
sobre gênero e violência contra a mulher; percebeu-se resistência de escolas
em relação à discussão sobre violência de gênero e em apresentar a temática
numa perspectiva transversal. Os resultados parciais reforçam a necessidade
de se analisar os discursos de gênero e enfrentamento à violência contra a
mulher presentes nas formações em andamento, assim como os processos de
recepção e (re)articulação destes discursos no campo escolar, como condição
para se investir em intervenções que permitam modificar o contexto de
violência de gênero ainda presente em nossa sociedade.
121
de abril e julho de 2015. Trata-se de um estudo sobre mídia, tendo o artigo de
opinião como objeto de análise, com discussão acerca das categorias de
ideologia, discurso e poder. Nessa perspectiva, podemos partir da seguinte
questão: quais sentidos são produzidos pela mídia acerca da
homossexualidade? Para responder à questão, este trabalho se fundamenta
nas perspectivas teóricas de Pinto (2002), Dijk (2008), Thompson (1995).
Como resultados, percebe-se que o artigo constrói uma imagem negativa dos
homossexuais como indivíduos promíscuos que seguem um estilo de vida que
o autor considera errado, associando-os à imagem de transgressores da lei,
que não respeitam as outras pessoas, estimulando o preconceito e
discriminação.
122
Palavras-chave: Literatura de massa. Romances sentimentais. Relações de
gênero.
123
materiais audiovisuais, há a emergência de padrões corporais homossexuais
que, performativamente, delineiam padrões de normalidade para o corpo
homossexual no fio da história. O corpo é, notadamente, ritualizado, sendo
inserido, por isso, em uma cadeia de acontecimentos na história. Pode-se dizer
que, no e pelo corpo, há a manifestação de uma iterabilidade. Há práticas que
são imputadas aos corpos para que os seus atos de linguagem produzam
efeitos na sociedade. O que pode e deve fazer o corpo homossexual? Nesse
sentido, vejo que o kit atende aos requisitos de uma sociedade heteronormativa
que, antes de impedir a emergência do corpo homossexual, quer regular, de
forma sutil, as suas práticas nos ambientes escolares. A emergência do kit, no
fio da história, traz à tona a tensão que questões de sexualidade causam na
educação e, especificamente, na escola.
124
através da negação do corpo e da identidade de Bianca, especialmente pela
escola e pela família.
125
Idilva Maria Pires Germano (UFC)
126
Resumo: Este trabalho, inserido nos debates em torno dos modos de
subjetivação e práticas identitárias na contemporaneidade, numa perspectiva
socioconstrucionista das identidades sociais e do discurso (FABRÍCIO &
MOITA LOPES, 2002; MOITA LOPES, 2003), reflete a mídia enquanto prática
e modalidade enunciativa (FOUCAULT, 1995, 2007, 2009) de dizibilidade e
visibilidade das inflexões, incertezas, angústias e rupturas com a tradição que
marcam nossos modos de vida e que, entre outros pontos, definem a
modernidade líquida (BAUMAN, 2005) e as formas de tematizar, interpretar,
questionar, assumir e construir identidades de gênero e sexualidade no cenário
atual. Enquanto gesto inicial de pesquisa no Programa Institucional de Iniciação
Científica - PIBIC, objetivamos, na análise do discursivo publicitário produzido
para o grupo empresarial O Boticário, descrever e analisar nos movimentos da
memória e do sentido o modo como as campanhas publicitárias desta marca
vem construindo discursivamente novas identidades de gênero e sexualidade
por meio de descontinuidades, na forma de deslocamentos, rupturas e
transformações no modo de refletir e tematizar as práticas identitárias e os
modos de subjetivação. Orientado nos procedimentos teóricos e metodológicos
que norteiam a análise histórica e semiológica desenvolvida em diversas
frentes de análise do discurso (SARGENTINI, CURCINO & PIOVEZANI, 2011;
GREGOLIN & KOGAWA, 2012), nosso percurso analítico tem apontado
descontinuidades nos discursos de identidade materializados nas campanhas
de O Boticário, entre recorrências, repetições e diferenças nos jogos de
memória e nos efeitos de sentido em torno das relações de gênero e
sexualidade historicamente construídas. Além disso, a análise dos enunciados
publicitários possibilita-nos teorizar as identidades sociais enquanto efeitos de
sentido (GREGOLIN, 2008), ou seja, enquanto processos históricos de
produção de sentido em torno de relações de saber, poder e subjetividade,
construções na e pela linguagem.
127
literatura proposta pelo escritor. Esta pesquisa investigará o desejo e a
transgressão da identidade sexual como ponto de partida para a verificação
dos conflitos sexuais que permeiam a relação homoafetiva do casal de
amantes David e Giovanni no romance “Giovanni's Room”, de James Baldwin.
Essa relação antagônica entre o comportamento hétero-normativo e o
comportamento homossexual aponta, na interpretação do romance, uma
perspectiva crítica de caráter ideológico, social e identitário, que irá traçar a
problemática da marginalização da homossexualidade calcada na
transgressão, no desejo proibido e na subversão. Marginalização que, ao longo
da narrativa, trará efeitos danosos no plano das relações interpessoais e no
campo das performances homoafetivas vividas pelo casal. “Giovanni´s Room” é
a história dos amores silenciados e abafados nas ruas, mas regados a suor e
êxtase entre as quatro paredes de um quarto. O quarto de Giovanni abre em
suas páginas o espaço para o errante, o cambiante, que vivencia seu desejo
maldito nos guetos e nos becos. “Giovanni's Room” é a manifestação da arte
literária, em sua expressão mais libertária, marginal, subversiva e
transgressora. Ao publicar “Giovanni's Room”, em plenos anos 50, Baldwin deu
voz ao homoerotismo, à multiplicidade, ao amor entre os iguais, à transgressão
das identidades. James Baldwin criou, em “Giovanni's Room” o quarto-fronteira,
o entre-lugar, o espaço da margem. Sobre as questões da identidade e do
desejo, utilizarei as teorias e considerações de Michel Foucault (1984, 1988),
Judith Butler (2010, 2012, 2013), Guacira Lopes Louro (2008), Gilles Deleuze,
(1995, 2003), Stuart Hall (2011), George Bataille (1993), entre outros.
128
torno dos efeitos de sentido construídos pelo grupo G0ys. Enquanto objetivo
deste estudo, analisamos a formação e funcionamento deste discurso de
identidade em torno do grupo G0ys, numa perspectiva socioconstrucionista dos
discursos e das identidades sociais (MOITA LOPES, 2003) e a partir dos
pressupostos e das categorias analíticas da análise do discurso francesa
(FOUCAULT, 1995, 2007, 2009; ORLANDI, 1999; FERNANDES, 2007;
SARGENTINI, CURCINO & PIOVEZANI, 2011; GREGOLIN & KOGAWA,
2012). De forma preliminar, a análise vem apontando para a constituição
discursiva da identidade G0ys enquanto espaço de debates e polêmicas,
formas de se posicionar em relação a si e ao Outro que materializam de forma
singular a memória social e discursiva em torno das relações de gênero e
sexualidade e dos modos de subjetivação contemporâneos.
Resumo: O estudo teve enfoque nos discursos dos/as jovens acerca das
sexualidades e das relações de gêneros a partir de programas realizados na
web rádio, que é um canal online na internet de comunicação, cultura e saúde.
É uma pesquisa descritiva e exploratória, com abordagem qualitativa. A coleta
de dados ocorreu através das interações nos programas "Em Sintonia com a
Saúde" veiculados na Web Rádio AJIR. Esta emissora digital é utilizada como
estratégia de educação em saúde com as juventudes a partir do
desenvolvimento de práticas pedagógicas realizadas pelos estudantes do curso
de graduação em enfermagem e de outras graduações das áreas de humanas
e exatas, para promover o cuidado dialogado mediados pelos ambientes
virtuais. Os instrumentos de coleta de dados foram a observação in lócus e as
interações escritas postado no site da web rádio, no Skype, no Facebook e
Twitter. A análise dos dados ocorreu a partir das "perguntas-discursos" geradas
nas interações nos programas e amparadas pela produção discursiva em
Foucault (1979, 1984, 1985, 1988, 1996, 2006, 2007). Este estudo tem registro
no Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Ceará - No. FR
424380/2011. Participaram 49 jovens em 04 programas sobre sexualidades,
gêneros e diversidade sexual. As perguntas-discursos mostraram que eles/elas
têm interesses pelos temas e conhecimentos prévios, expressados pela
129
convivência social, familiar, religiosa e escolar. E ansiavam em entender o "por
quê" das diferenças e discriminações de gêneros e como superá-las. Sobre as
sexualidades, buscaram explicações sobre como assumir suas orientações
sexuais, tendo em vista que algumas perguntas expressavam o medo de se
assumir publicamente. A influência da mídia televisiva também foi considerada,
visto que atualmente peças novelística de televisões de sinal aberto, exibiram
beijos entre homens e homens e mulheres com outras mulheres. Contudo, as
juventudes veem na web rádio um meio de problematizar questões não são
feitas no cotidiano escolar e familiar, seja por medo, receio ou
desconhecimento. Portanto, a partir dessas trocas dialógicas construídas pelas
demandas dos sujeitos foi possível compreender melhor seus discursos sobre
sexualidades e relações de gêneros.
130
discursos racializados que inferiorizam suas performances em suas práticas
interacionais. Defende-se que as noções apontadas acima são a chave de
leitura para a compreensão de como tais discursos são estrategicamente
utilizados pelo jovem, ao construir suas performances nas interações com
amigos dessa rede social. As análises apontam ainda que identificações de
raça são entremeadas por marcas de gênero/sexualidade e que estratégias de
agenciamento surgem associadas a significados normativos.
Resumo: O processo de pesquisa que envolveu este artigo está baseado num
estudo da formação das masculinidades no âmbito do trabalho sexual de
homens para outros homens na Cosa Rica. Nesse sentido, inspiramo-nos a
partir dos aportes teóricos que provem de diversas vertentes do pós-
estruturalismo, além da problematização que se faz desde as teorias de gênero
e a teoria queer sobre a performatividade na formação dos discursos sobre
identidades. Em termos metodológicos, procuramos nos aproximar aos aportes
do método etnográfico, operando com observação participante, entrevistas,
análises do discurso com respeito as falhas dos sujeitos, os conteúdos que
aparecem em jornais, entre outros. Quando investigamos uma questão que
envolve a formação de masculinidade e trabalho sexual, possivelmente, seja a
metáfora daquele que anda através de territórios minados, atravessa rotas
tensionadas, onde circulam discursos da cultura sexual hegemônica que é
fundamentalmente heteronormativa e baseia-se nos valores do cristianismo
católico e se cruzam com testemunhas de lutas, solidariedades, violência,
decisões e outras experiências que envolvem as biografias dos rapazes que se
prostituem nos parques de San José, Costa Rica. Pesquisamos as marcas
morais produzidas pelo trabalho sexual, a partir da narrativa dos sujeitos:
ganhos, perdas, transformações em suas vidas, dinâmicas de ocultação. A
tarefa de encontrar saídas para estes desafios nos leva à análise de projetos
de vida, para tornar visíveis os sonhos, objetivos, os porquês das atividades,
cujos conteúdos têm permitido a estes jovens investir seu corpo para que
também outros façam fantasias possíveis. Finalmente, analisamos as
formações discursivas que provém das políticas de Direitos Humanos
desenvolvidas pelas populações LGTB e problematizamos como elas resgatam
as necessidades e experiências dos trabalhadores do sexo. Além disso,
desafiamos a ficção binária construída ao redor da convivência histórica entre
discursos morais com base na moral cristã heteronormativa e o
131
reconhecimento mundial da Costa Rica como destino para o prazer a partir dos
mercados do sexo e como eles se materializam.
Resumo: O gênero é uma identidade instável, rizomática, cujos efeitos não são
produtos de atos intencionais desempenhados pelos indivíduos. Os sujeitos no
processo de engendramento dos corpos vão se emaranhando às redes
instáveis e multidirecionais do gênero. Eles vão tomando contornos específicos
ao longo de suas existências; seus corpos são nomeados e com isto assumem
uma coerência segundo códigos de inteligibilidade culturais. Não é um
processo que inspira a finitude, mas uma constante materialização corporal.
Suas identidades vão sendo modeladas ao longo do tempo por meio da
repetição estilizada de atos. As normas do gênero são apreendidas em um
processo pedagógico no qual os indivíduos vão incorporando, através da
reprodução de gestos, movimentos, estilos corporais entre outros. Em suma,
toda performance de gênero é efeito de materialização corporal dentro do
campo da linguagem. O gênero é performativo, porque as ações resultantes
dele não procedem da subjetividade de um ator, tudo o que é presentado é
efeito de solidificação discursiva. O conceito de performatividade atribui à
linguagem a qualidade de veículo de ação. Por meio de um processo de
nomeação dos corpos e reiteração dos discursos, os seres vão tomando forma.
Os proferimentos performativos carregam em si ações ritualísticas que trazem
a existência aquilo que ainda não existe. Materializam e constituem aquilo que
não está formado. Neste sentido, o discurso desempenha um papel
performativo importante, ele modela os sujeitos ao nomeá-los. Ao produzir as
esferas binárias do masculino e feminino, estabelece fronteiras e espaços
inóspitos. Entre lugares reservados a "vidas infames", os transgêneros são
nômades que circulam por estes territórios, seus corpos demonstram as
incertezas presentes no processo de constituição das identidades. Eles
desterritorializam as referências, colocando em crise a noção de permanência
e naturalidade do gênero. Transgêneros são sujeitos que intervêm em seus
corpos, muitas vezes, desejando estar em outro território, mascarando-se por
algumas horas ou simplesmente exacerbando determinadas referências e
elementos da heterossexualidade. Seus corpos muitas vezes encenam, outras
vezes assumem e trocam papéis ou simplesmente caminham por eles
despreocupadamente. São sujeitos, cujas performances desterritorializam as
normas constitutivas na noção de gênero.
132
Palavras-chave: Performatividade. Discurso. Transgêneros.
133
Pedro Henrique Lima Praxedes Filho (UECE)
Izabel Santos Magalhães (UFC)
134
na pós-modernidade, em particular, com o processo de formação das
identidades. Partindo desse entendimento e aliando-se à pesquisa qualitativa
com enfoque sócio-histórico, em que a linguagem é diretamente correlacionada
ao contexto do qual os sujeitos fazem parte, esta comunicação objetiva
apresentar uma pesquisa realizada com mulheres que concluíram o curso
denominado Beneficiamento do Pescado, no ano de 2013, inserido no
“Programa Mulheres Mil: educação, cidadania e desenvolvimento sustentável”,
no município de Macau, localizado no estado do Rio Grande do Norte/Brasil.
Esse programa foi promulgado pela Organização das Nações Unidas no ano
2000 e aprovado por, aproximadamente, duzentos países a partir da análise
dos maiores problemas mundiais. Em contribuição para o alcance das metas
do milênio, o Programa Mulheres Mil corresponde ao conjunto de prioridades
das políticas públicas brasileiras, especialmente, nos eixos da promoção da
equidade, igualdade entre gêneros, combate à violência contra a mulher e
acesso à educação. No referido percurso investigativo, o corpus está composto
de questionários aplicados a partir de entrevista face-a-face, com questões
abertas. Assim, na perspectiva da Linguística Aplicada de enfoque
transdisciplinar, a análise dos enunciados ajuda a compreender algumas
questões acerca da identidade de gênero e de como as entrevistadas
constroem significados para suas vidas.
135
realidade, conforme Amorós y Álvarez (2010). Além disso, é um movimento
que, no decorrer do tempo, tem agregado as contribuições de todas as ondas.
É, pois, considerado, dentre outros, o pensamento de Simone de Beauvoir,
para quem a mulher é um constructo social; Judith Butler, que reconsiderou o
conceito "mulher" como representante do feminismo e fez a distinção entre
sexo e gênero, concebendo-os como construções discursivas e culturais; Joan
Scott, por acreditar que os sujeitos são construídos discursivamente, cujas
experiências são coletivas e também individuais. Depois, tem-se a
apresentação de Carmen da Silva e os processos pelos quais ela passou, até
descobrir-se um "ser plural", momento em que aparece sua consciência
coletiva e a descoberta de sua identidade feminista. Finalmente, o foco recai
sobre o seu pensamento em relação à condição da mulher e à sociedade de
um modo geral, evidenciando a atualidade de sua obra e a necessidade de
(re)conhecê-la, como bem defende Ana Rita Fonteles Duarte.
136
padrão de beleza consolidado pelo discurso hegemônico, fazendo crer que
somente este estilo de vida/modo de consumo é o adequado e que qualquer as
outras alternativas são inaceitáveis.
137
Palavras-chave: Velhice. Envelhecimento. Gênero.
138
que propiciou, e pelos novos modos de significação e de construção identitária
hipersemióticos que o caracterizam, o ciberespaço passou a ser uma realidade
inescapável para muito/as estudantes. Pode-se dizer, assim, que os
letramentos escolares convencionais são, cada vez mais intensamente,
afetados pelos letramentos virtuais. Tendo em vista esse cenário, o presente
trabalho propõe-se a investigar processos de produção de significados e rituais
interacionais envolvendo práticas comunicativas entre aluno/as de ensino
médio e sua professora de História em um blog educacional, por ela elaborado
e batizado de "FALLA TU!" - um espaço de reflexão conjunta sobre padrões de
normatividade, estereótipos sociais e diferenças. Meu interesse pontual é
observar as relações entre cadeias textuais, atribuição de sentido e
performances semiótico-identitárias de sexualidade coconstruídas ao longo de
sucessivos encontros interativos nesse contexto virtual, atentando tanto para o
diálogo entre processos sociohistóricos persistentes e experiências sociais
contingentes. Como referencial teórico-metodológico-analítico norteador, o
trabalho articula nexus analysis (SCOLLON; SCOLLON, 2004) - na projeção de
conectividade entre diferentes "ciclos do discurso”- e os conceitos de
iterabilidade (DERRIDA, 1977), entextualização (SILVERTEIN; URBAN, 1987),
plasticidade (MALABOU, 2009) e footing (GOFFMAN, 1981) - construtos
teórico-analíticos que, associados, permitem descrever e criar entendimento
sobre a construção de paisagens espaço-temporais e intersubjetivas instáveis,
em diálogo com algum nível de durabilidade. Os dados, gerados a partir de
etnografia virtual, seguindo trajetórias de socialização de alguns/mas aluno/as
focais, apontam para o potencial de ressemiotização, advindo de processos
incessantes de repetição-transformação.
139
um trabalho de seleção, organização e análise de materialidades discursivas
da publicidade focada para o setor automobilístico, recuperadas em revistas e
em sites da internet. Para tanto, buscou-se problematizar: como a memória em
torno das relações de gênero se atualiza no discurso publicitário
automobilístico? Que representações e efeitos de sentido em torno do
masculino e do feminino são construídos nos enunciados publicitários de
marcas de automóveis nacionais e importadas? Previamente, o percurso
analítico evidenciou especificidades no modo como a publicidade
automobilística atualiza a memória das relações de gênero para produzir
efeitos de sentido que materializam permanências e redefinições no modo
como são significados o masculino e o feminino enquanto objetos do discurso
publicitário. Ademais, a análise aponta para a centralidade da publicidade
enquanto operadora de memória e enquanto prática de visibilidade para novas
formas de pensar a vida social, os modos de subjetivação e as práticas
identitárias de consumo.
140
Entretanto, no atual contexto, as mulheres ao se empoderarem constroem na
sua luta contra o poder do macho o seu próprio falo - o seu lugar de
independência e autonomia como um ser social.
141
muitos movimentos de militantes em prol das mulheres pela conquista de seu
espaço e pela igualdade de direitos. O alvo deste trabalho é enriquecer o
debate no campo das ciências sociais e políticas, tendo em vista as pesquisas
decorrentes dessa área no que tange à participação das mulheres no campo
político partidário. A busca pelo entendimento do processo participativo é
constante, pois sempre se encontra novas indagações que fazem deste tema
um campo inesgotável de investigação. Neste artigo, serão apresentados
contextos históricos sobre lutas, sufrágio feminino, as principais mulheres na
política brasileira, militâncias e batalhas no campo político.
Resumo: Este artigo tem por objetivo analisar de que maneira o pastor
pentecostal Silas Malafaia constrói a identidade gay em seus discursos orais
em seu programa de TV Vitória em Cristo, tendo como uma das principais
preocupações a violação da dignidade da pessoa homossexual. Para a análise
dos discursos de Malafaia, buscou-se o pressuposto teórico da Análise do
Discurso de Patrick Charaudeau (2008; 2009), mais especificamente o seu
contrato de comunicação. O contrato de comunicação é resultado de
características inerentes a situação de troca: os dados externos e os dados
internos. Além dos conceitos de Análise do Discurso, foi necessário utilizar Hall
(1999) para uma reflexão sobre o conceito de identidade cultural. A pesquisa
qualitativa, desenvolvida como trabalho de conclusão de curso, deu subsídio
para o desenvolvimento deste artigo. Os discursos analisados foram retirados
da internet, tanto do site pessoal do pastor, quanto na mídia social Youtube.
Pôde-se entender, ao final, que Silas Malafaia é responsável por uma série de
discursos com teor homofóbico, pois demonstra hostilidade psicológica e social
contra os indivíduos que sentem desejo ou mantêm práticas sexuais com
pessoas do mesmo sexo.
142
Resumo: A presente proposta de comunicação tem como objetivo investigar
a (re/des) construção das identidades apresentadas nos livros didáticos da
coleção Cercanía Joven 1º, 2º e 3º anos do ensino médio 2015/2017, escolhido
pelo PNLD/MEC. Para tanto, iremos analisar os textos, as imagens,
analisando-os no que concerne ao trato dado à categoria gênero e à formação
familiar do sujeito no contexto de uma época denominada de pós-moderna.
Desse modo, em virtude da "crise de identidade" o sujeito pós-moderno é visto
como fragmentado ou deslocado. Segundo Hall (2005), este sujeito que antes
era visto como tendo uma identidade unificada e estável, está se tornando
fragmentado, composto não de uma única, mas de várias identidades. O "efeito
da pós-modernidade" vem afetando a humanidade em diferentes esferas,
modificando o ideológico, o cultural e o social, favorecendo novos costumes e
atitudes comportamentais. Sendo o livro didático, com suas plurais linguagens,
conceitos, ilustrações e distintos gêneros discursivos, uma ferramenta usada
no processo aprendizagem o mesmo assume um papel relevante na
construção da identidade dos indivíduos enquanto aluno. Lopes (2007) define o
livro didático como uma versão didatizada do conhecimento para fins escolares
e/ou com o propósito de formação de valores que configuram concepções de
conhecimentos, de valores, identidades e visões de mundo. Para ampliar nossa
investigação buscaremos através da pesquisa bibliográfica literaturas que
abordem o diálogo existente entre identidade, gênero e livro didático. As teorias
que irão ancorar essa investigação serão: Stuart Hall (2005) Guacira Louro
(2007), Judith Butler (2003), Alice Lopes (2007) dentre outros, pois têm a visão
de uma identidade descentralizada, onde a formação dos indivíduos constrói-se
em contato com a sociedade.
143
campos de discurso e de poder (Butler, 2003/2007). Nesse contexto do corpo
como construção discursiva, carregada de simbologias de valor positivos ou
negativos que adquirem significados politicamente em contextos específicos,
questiona-se o eurocentrismo como perspectiva que ignora o pluriversal e o
abjeto. As escritas que não reproduzem padrões eurocêntricos e (des) coloniza
o imaginário dos colonizados, proposta por Quijano (2002), faz-se impeditiva na
publicação - as escritoras publicam em pouquíssimas editoras - e na crítica -
quase inexistente fora da academia e também dentro dela.
144
EIXO TEMÁTICO 6 – LINGUAGEM E SUBJETIVIDADES
145
discursivizar sobre os sentidos construídos em uma propaganda eleitoral do
candidato Tiririca, na ocasião da eleição de 2014. Com um humor sarcástico e
irônico sobre o atual momento da política brasileira, o candidato usa isso a seu
favor e acaba com um resultado satisfatório que foi a reeleição. Com isso,
nosso objetivo com a pesquisa é analisar a construção de sentidos na
materialidade propaganda eleitoral, para isso, buscamos nas categorias;
discurso, memória discursiva, interdiscurso e sujeito entender como esses
sentidos foram sendo construídos. Para tanto, nos firmamos nos pressupostos
teóricos da análise do discurso de vertente francesa e, principalmente, nos
estudos de Michel Foucault (1999, 2010), Michel Pêcheux (1997, 2007) e de
pesquisadores brasileiros que estudam o discurso, tais como: Gregolin (2001),
Nascimento (2010) e Santos (2008) que contribuíram para tal discussão sobre
as categorias analíticas. Os resultados nos mostraram como os sentidos foram
sendo construídos a partir de discursos que em outros momentos foram
discursivizados e que ao serem retomados pelo sujeito Tiririca há um deslize e
outros sentidos são construídos, isso se dá tanto pela posição do sujeito, no
caso, Tiririca conhecido como um palhaço, o que permite, nessa posição
discursiva, brincar com a linguagem de modo a fugir daquilo que outros
candidatos não poderiam fazer em uma propaganda eleitoral, como também
por uma memória discursiva, por interdiscursos, ou seja, por discursos que
foram ditos em outros momentos e que ao serem discursivizados novamente
pelo político ganham outros sentidos, havendo assim um deslocamento de
sentidos.
146
ligados às produções poéticas. Não se trata de um estudo folclórico, dentro dos
moldes tradicionais, acerca das lendas e dos costumes regionais, mas sim um
trabalho visando aos aspectos literários, históricos e sociais que emanam
desses cantares. Fazer Arte com e na fronteira representa experimentação
subversiva e tentativa de ruptura epistêmica estratégica, a partir da inserção de
humanidades e suas culturas recheadas de sentidos tencionadas com os
processos recolonizadores do poder, do saber e do ser. Essas manifestações
literárias constituem cena cultural recorrente na literatura nortista, no entanto
alguns pesquisadores não tem sensibilidade para reconhecer os meandros
dessa estética subalterna-resistente. Abrir passagens para outras alteridades
requer uma polissemia de ações, a partir da pesquisa, há o desejo de
desnaturalizar certos projetos imperialistas partindo de um estado de Arte
paradoxal "articulado", mas ao mesmo tempo, devorador das práticas das
literaturas hegemômicas.
147
dos morfemas. Este trabalho relaciona a posição do prefácio sobre o
neologismo à avaliações acerca da invenção e da autoria que interagem com a
historicidade da matéria linguística e dos discursos nos quais intervém.
148
produção de sentidos com que essas disputas se efetivam. Nosso trabalho
centra-se exatamente nesse universo: 2 articulistas do jornal Folha de São
Paulo, Guilherme Boulos e Reinaldo Azevedo, publicam textos em que se
atacam mutuamente. Boulos publica primeiro. No dia 27de novembro de 2014
publica o artigo intitulado "Sugestões para o Ministério de Dilma". Boulos é
professor, psicanalista e membro da Coordenação Nacional do MTST -
Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto. Nesse artigo, Boulos produz um texto
repleto de ironias, sugerindo a presidente Dilma Rousseff, recém-eleita, um
ministério com nomes como, por exemplo, Reinaldo Azevedo e o Deputado
federal, Bolsonaro. Azevedo, além da Folha de São Paulo é também articulista
da revista Veja. As ironias no texto de Boulos são produzidas por conta da
presença de Kátia Abreu no Ministério da Agricultura e de Kassab no Ministério
das Cidades de Dilma Rousseff. No dia 28 de novembro, Reinaldo Azevedo, a
pretexto de responder ao artigo de Boulos, publica um texto agressivo contra
Boulos, sob o título "A galinha pintadinha de vermelho". É esse material, esses
dois artigos, que pretendemos pesquisar em buscar de compreender as
estratégias enunciativas empreendidas pelos autores dos textos com o objetivo
de posicionarem na luta política. Nosso aporte teórico metodológico é a Análise
de Discurso. Trazemos, então, para nossa análise autores tais como
Fairclough, Resende, Ramalho, Verón e Pinto, além de outros que produzem
nessa área. Mas também recorremos a autores tais como Bakhtin,
Kierkegaard, Muecke e Eco, com seus estudos acerca da ironia e do irônico,
além de outros recursos discursivos. Entendemos que esse tipo de estudo
contribui para compreendermos os mecanismos de ataque e defesa com que
agentes políticos se digladiam na oferta de suas matérias enunciativas,
especialmente, pelo agenciamento de ideologias que constituem o tecido
discursivo. De um certo modo, essas estratégias, que são comuns na
cotidianidade, ganham amplitude quando ocorrem no campo da mídia, dado o
alcance dos sentidos, então, produzidos.A disputas de sentido ocorrem pelo
tensionamento do tecido discursivo. O uso de ironias é, certamente, uma das
possibilidades de produção de sentidos com que essas disputas se efetivam.
Nosso trabalho centra-se exatamente nesse universo: 2 articulistas do jornal
Folha de São Paulo, Guilherme Boulos e Reinaldo Azevedo, publicam textos
em que se atacam mutuamente. Boulos publica primeiro. No dia 27de
novembro de 2014 publica o artigo intitulado "Sugestões para o Ministério de
Dilma". Boulos, é professor, psicanalista e membro da Coordenação Nacional
do MTST - Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto. Nesse artigo, Boulos
produz um texto repleto de ironias, sugerindo a presidente Dilma Rousseff,
recém-eleita, um ministério com nomes como Reinaldo Azevedo, também
articulista do mesmo Folha de São Paulo e da revista Veja. O Deputado
Federal Bolsonaro. As ironias vêm por conta da presença de Kátia Abreu no
Ministério da Agricultura e de Kassab no Ministério das Cidades. No dia 28 de
novembro, Reinaldo Azevedo, a pretexto de responder ao artigo de Boulos,
publica um artigo agressivo contra Boulos, sob o título "A galinha pintadinha de
149
vermelho". Azevedo é jornalista, blogueiro e escritor. Bom, é esse material,
esses dois artigos que pretendemos pesquisar em buscar de compreender as
estratégias enunciativas empreendidas pelos autores dos textos com o objetivo
de em encetar uma luta política. Nosso aporte teórico metodológico é a Análise
de Discurso. Nesse sentido, trazemos para nossa análise autores tais como
Fairclough, Resende, Ramalho, Verón e Pinto, além de outros que produzem
nessa área. Mas também recorremos a autores tais como Bakhtin,
Kierkegaard, Muecke, Aistóteles e Eco, com seus estudos acerca da ironia e do
irônico além de outros recursos discursivos. Entendemos que esse tipo de
estudo contribui para compreendermos os mecanismos de ataque e defesa
com que agentes políticos se digladiam na oferta de suas matérias discursivas,
especialmente pelo agenciamento de ideologias que constituem o tecido
discursivo. De um certo modo, essas estratégias que são comuns na
cotidianidade ganha amplitude quando ocorrem no campo da mídia, dado o
alcance dos sentidos, então, produzidos.
150
Elomar consegue soluções inusitadas a partir da mescla do gênero lírico
operístico ao canto sertanês, criando assim insólitos contextos dramáticos.
Reelabora, em seu cancioneiro, a cantoria regional tradicional, e as formas
literárias por ele utilizadas resultam em qualidade estética inigualável. Nesta
comunicação faz-se uma análise das marcas da subjetividade e das estratégias
discursivas em "A Leitura", a partir da discussão do léxico atualizado em um
excerto do 4º ato da ópera A Carta. O subsídio teórico é a teoria da iconicidade
verbal (Simões, 2009).
151
em A Garota Ideal - também nos auxilia a interpretar o discurso do longa
estadunidense. Apoio FAPESP 2013/14759-9.
152
América Latina, de Eduardo Galeano. A obra, escrita na década de 1970,
quando grande parte da América Latina era governada por regimes ditatoriais
apoiados pelos Estados Unidos, tornou-se um dos clássicos de economia
política por apresentar os modos como a América Latina foi espoliada pelos
países europeus e pelos Estados Unidos e como esse continente sofreria ainda
a expropriação por seus exploradores. Recentemente, em entrevista ao jornal
El Pais, mais de 40 anos do lançamento do clássico, Eduardo Galeano rejeita a
própria obra, dizendo-se incapaz de reler o livro, pois "cairia dormindo". O
enunciado de Galeano repercutiu em vários textos de jornalistas, em uma
citabilidade de negação ao discurso da esquerda clássica que teria
"desmascarada" sua bíblia anticolonialista e anticapitalista e, em textos de
intelectuais, que, por sua vez, posicionaram-se textualmente em defesa do
valor histórico da obra, independente do que hoje pensa o seu autor. Com foco
na polêmica, pretendemos investigar o modo como os textos viajam, a partir
das categorias de transcontextos, citabilidade e iterabilidade de atos de fala,
para mostrar que os estados de fluxo e mudança contínuos da atividade de
significar e interpretar textos são constitutivos dos processos de subjetivação.
Para isso, utilizamos os estudos da nova pragmática em seu foco tanto sobre
os processos de manutenção de certos regimes de significação, quanto pelos
processos culturais e históricos de ressignificação. Percebemos, com a análise
pragmática dos diversos textos sobre a polêmica, divulgados na imprensa
nacional e internacional, que a produção, circulação e consumo de um texto
seguem os fluxos de seus atos de fala, conforme os efeitos do performativo,
mostrando o deslocamento de uma visão de contexto saturado e de
significação cristalizada no autor como sujeito autônomo, para a noção de
construções fluidas das subjetividades e de significação histórica e cultural, que
podem ser sempre negociadas e subvertidas.
153
configura-se como histórico-genético com foco no desenvolvimento da
atividade discursiva e laboral. A canção Construção faz parte do discurso
literomusical brasileiro e está inserida no movimento intitulado música popular
brasileira - MPB, caracterizada como um tipo de canção urbana, geralmente
consumida pela população da classe média, com intenção de fortalecer a
identidade nacional. A canção analisada foi composta em um contexto sócio
histórico da realidade brasileira caracterizada pela ditadura militar e pela forte
censura e repressão. A canção é emblemática da vertente crítica das
composições do autor, configurando-se como um testemunho doloroso das
relações aviltantes entre o capital e o trabalho. Contribuições acerca da noção
de sujeito, do social como constitutivo do humano e de sentidos foram
discutidas a luz dos referenciais citados. A canção sugere um processo de
repetição em relação às ações executadas na vida e no trabalho de um
operário do segmento da construção civil, denunciando uma mecanização do
corpo e da vida. A canção Construção nos ajuda a entender que uma atividade
esvaziada de sentido perde-se em seus objetivos e em potência de ação,
destruindo sua vitalidade. A produção de sentidos favorece a tomada de
consciência e amplia o poder de agir sobre a realidade. O discurso
literomusical é pois um recurso apropriado para a análise social e política da
realidade, e também favorece uma compreensão integradora de aspectos
cognitivos e afetivos. A análise da canção Construção apontou caminhos
interventivos na emergência de um discurso crítico capaz de reverberar em
trabalho vivo.
154
vista como um castigo divino; c) O nordestino é forçado, devido à falta de
recursos, a migrar para outros estados, sendo explorado e humilhado, perde
sua dignidade; d) O Nordeste e o nordestino são retratados como pobres,
porém guerreiros; e) O povo nordestino é dividido pelo poeta entre os que
sofrem mais e os que sofrem menos em virtude da seca. Doravante,
perceberemos que Patativa do Assaré retrata em suas canções a realidade de
seu povo, tanto pelas suas manifestações na escrita (texto oralizado), quanto
pela caracterização e descrição da seca, que segundo ele é um dos principais
males que atinge o Nordeste.
155
Resumo: Este trabalho tem como foco de estudo os
verbos cutucar, curtir, comentar e compartilhar como expressões das relações
virtuais afetivas contemporâneas na rede social Facebook. Constituem-se
objetivos deste trabalho identificar e descrever os sentidos e valores dos
verbos cutucar, curtir, comentar e compartilhar em esferas de circulação
discursivas virtuais. O referencial teórico ancora-se nas concepções de
linguagem dos autores do Círculo de Bakhtin que levam em conta os sujeitos
envolvidos, a situação sociodiscursiva e as posições axiológicas desses
sujeitos; bem como nos estudos da modernidade líquida (BAUMAN, 2001) e de
identidade do sujeito contemporâneo (HALL, 2011). Quanto à metodologia,
configura-se como uma pesquisa qualitativa, ancorada em critérios da
abordagem qualitativa dos dados de base interpretativista. O corpus de análise
constitui-se de enunciados nos quais os sujeitos virtuais esboçam práticas
discursivas de toda ordem e reveladoras das fugazes relações afetivas,
construídas a partir dos contatos virtuais pela rede mundial de computadores.
Diante disso, buscamos entender como se constroem e como se desfazem
essas relações, bem como os discursos encontrados por ocasião do uso
desses verbos. A pesquisa encontra-se em desenvolvimento e observa-se que
as primeiras análises parecem revelar nuanças das relações afetivas na
contemporaneidade, em que se percebem a busca pelas relações instantâneas
e sem compromissos mais sérios, como também o uso da tecla delete nas
situações em que não se deseja discutir a relação e, assim, buscar uma outra
na velocidade do mundo virtual. Nessa perspectiva, ratificam não só a fluidez
dos relacionamentos afetivos, os chamados relacionamentos de bolso, mas
ainda a multiplicidade e fragmentação do sujeito contemporâneo.
156
Estudos Culturais ingleses, percebe que o discurso é fruto das condições
sócio-histórico-ideológicas em que é produzido e também da posição discursiva
que o sujeito ocupa no momento de/do dizer. Articulando o pensamento de
Norman Fairclough (2001) e Teun van Dijk (2008), esta pesquisa observa como
o discurso desse meio jornalístico constrói a cultura do carnaval, atentando
para as relações ideológicas e para a representação dos sujeitos presentes na
reportagem. Ao final, é possível constatar que o enunciado divide-se em dois
momentos: primeiro o carnaval do Rio de Janeiro é apresentado a partir das
desigualdades financeiras que existem entre as escolas de samba que figuram
no grupo especial e aquelas que estão na quinta divisão. Essas condições
influenciam nos papeis que os sujeitos ocupam dentro de suas agremiações e
no modo de significação do carnaval. No segundo momento, a reportagem se
passa em São Paulo abordando a importância do carnaval enquanto símbolo
de expressão cultural e a emoção daqueles que se envolvem nesse evento,
mostrando o trabalho das agremiações a partir do olhar do repórter francês
Pierre Morel. Os sujeitos nesse ponto são construídos a partir da criatividade e
do envolvimento emocional com a realização do carnaval.
157
diferenciado sobre a realidade e as questões sociais que a envolvem. Diante
disso, adotamos a Análise de Discursos (AD), na perspectiva da Teoria dos
Discursos Sociais, que compreende os fenômenos sociais como fenômenos de
produção de sentido (PINTO, 1994; 1995; 1999; ARAÚJO, 2000; LOPES,
2004). De acordo com Pinto (1999), esta proposta procura, através de uma
análise comparativa, descrever, explicar e avaliar criticamente os processos de
produção, circulação e consumo dos sentidos vinculados a determinados
produtos culturais em sociedade. Na análise é possível constatar que as
charges constroem seus dizeres através da ressemantização de determinados
elementos presentes na cultura, buscando legitimar sua fala, convidando o
leitor a partilhar de seu ponto de vista.
158
Resumo: Os enunciados que circulam em nossa sociedade, conforme postula
Bakhtin e o círculo, apresentam em si avaliações sobre as mais diversas
situações, sujeitos, vida e mundo, de modo que é por meio da análise e estudo
do enunciado que se podem alcançar os diversos acentos de valor, sendo seu
ponto de intersecção. Isto posto, é o enunciado o espaço em que se gestam,
apresentam e disseminam as avaliações em embate presentes tanto nas
práticas linguísticas quanto nas práticas sociais. Se todos os enunciados
carregam consigo julgamentos os mais variados, com os textos de viés
humorístico não poderia ser diferente. Sob tal perspectiva, a piada se
apresenta como um campo fértil para a análise da disseminação e do
entrecruzamento dos pontos de vista existentes em nossa sociedade, em
virtude da especificidade do riso apresentar um tom positivo na atualidade e
apaziguar as tensões nos embates valorativos. Assim, em consonância com o
já exposto, este trabalho tem por objetivo analisar os acentos de valor
presentes em piadas que circulam no meio social, atentando para o uso das
diversas avaliações e dos estereótipos sociais. Para a realização desta
pesquisa, utilizamo-nos do aporte teórico da Análise Dialógica dos Discursos
(ADD) com foco principalmente nos conceitos de língua, riso (BAKHTIN, 2010,
1987) e axiologia (VOLOCHINOV, 2010). A respeito do gênero piada,
recorremos às postulações teóricas pensadas por Ramos (2012). Este trabalho
se enquadra na área de investigação da Linguística Aplicada em virtude de ser
um estudo acerca das práticas de linguagem na sociedade e pela contribuição
de diversas áreas do conhecimento. Esta pesquisa é qualitativa em função de
trabalhar com a construção de sentidos a partir da análise de enunciados e ser
recomendado para a área das Ciências Humanas.
159
ESTRATÉGIAS PROSÓDICAS:
CONTRIBUIÇÃO PARA LEITURA ORAL DE TEXTO
Luciana Virgínia Prazeres Teixeira Santos (FADIMAB)
Marcia Perecin Tondato (ESPM-SP)
160
não só de divulgação, mas também um de auto-organização do discurso
feminista, possibilitando discussões sobre os temas do feminismo, do gênero e
da violência. Este trabalho buscou realizar uma análise de postagens de duas
páginas feministas do facebook: Frieda Explica se Precisar Repete e Moça,
você é machista. Foi possível apontar que a ironia é uma estratégia linguístico-
discursiva constante nas páginas elencadas para compor nosso corpus, e foi a
partir dessa visão que buscamos compreender o porquê e a forma de
aparecimento da ironia, a partir da análise da mobilização dessa estratégia nas
postagens dessas páginas. O discurso das páginas em estudo caracterizou-se,
então, pelo uso da ironia, no sentido de se contrapor aos valores expressos por
discursos anteriores a ele, apresentando, portanto, uma dimensão crítica e
ideológico-valorativa. Para a análise, tomamos como base o pensamento de
Lévy (1990), no que se refere à cibercultura e às relações entre o virtual e o
real, associado às perspectivas de gênero de Butler (2010) e aos estudos de
ironia de Brait (2008). Sendo assim, acreditamos que a linguagem teve um
papel fundamental na construção e na subversão de certas características
associadas às identidades femininas e, sobretudo, à desigualdade de gênero
presente na nossa sociedade. Além disso, com essa pesquisa, foi possível
concluir que, através do uso dessa estratégia linguístico-discursiva, as
postagens das páginas, de certa forma, contribuem para uma deslegitimação
de discursos depreciativos, bem como para uma auto-afirmação do feminismo
e da necessidade da luta contra o machismo.
161
desconstrução (DERRIDA:1992) como referência para analisar os dizeres
sobre os quais este estudo incide, buscando apreender os sentidos que deles
emergem. Como resultados preliminares, verificou-se, em relação aos dizeres
dos participantes, a tendência de afirmarem que a contribuição do curso foi
nula. Em relação aos materiais escritos dirigidos aos professores, foi possível
elencar uma série de injunções pelas quais se identifica uma tentativa de
padronizar o modo de exercer a docência e de realizar o ensino de língua
materna.
162
processo de socialização de "menino educadinho" para "homem mal-educado".
Concluo, portanto, que a masculinidade encenada pelos participantes é
construída discursivamente e aprendida, e que, portanto, pode ser feita de
forma diferente e menos violenta.
GÍRIAS LUDOVICENSES
Erika Nunes da Silva (UEMA)
Auristélia dos Santos Sodré (UEMA)
163
HIBRIDISMO DE PAPEIS DO INSPETOR NOS INTERROGATÓRIOS
POLICIAIS NA DELEGACIA DA MULHER
Priscila Júlio Guedes Pinto (UJFJ)
164
Resumo: Este trabalho caracteriza-se como um estudo de cunho teórico e
propõe articular estudos sobre políticas linguísticas (RICENTO, 2006;
JOHNSON, 2013; McCARTY, 2011) e ideologias linguísticas (WOOLARD,
1998; KROSKRITY, 1998; 2004) à perspectiva de que a linguagem é
constitutivamente híbrida (BAKHTIN, 1975/1998), pois 1) os signos configuram-
se como arenas de conflitos sociais e a linguagem é constitutivamente
dialógica (hibridizando valores provenientes de diferentes posições ideológicas)
(BAKHTIN/VOLOSHINOV, 1929/1986; BAKHTIN, 1975/1998); 2) os usos da
linguagem frequentemente configuram-se pela articulação entre diferentes tipos
de signos (produzindo multissemioses). Tal proposta parte da compreensão de
que os estudos da linguagem precisam levar em consideração os hibridismos
implicados nos fenômenos contemporâneos relacionados às globalizações
(SANTOS, 2002; CANCLINI, 2007) - que se referem às mobilidades dos
sujeitos e suas línguas e culturas, às reconfigurações das políticas nacionais e
globais, aos processos de interação no contexto do ciberespaço caracterizado
pelos multiletramentos, pelas multissemioses e pelos multilinguismos e,
sobretudo, às (re)construções das identidades (sociais, étnico-raciais, de
gênero, sexuais, culturais, religiosas) dos sujeitos em relação a esses
fenômenos. Partindo de textos que tem assinalado a necessidade de romper a
noção de sistema que historicamente orientou os estudos de linguagem e a
necessidade de focalizar aqueles usos linguísticos/discursivo constitutivamente
híbridos (CÉSAR; CAVALCANTI, 2007; ASSIS-PETERSON; COX, 2007;
CAVALCANTI; CÉSAR, 2004; SANTOS; CAVALCANTI, 2008; CAVALCANTI,
2013; CANAGARAJAH, 2013a; 2013b), busco refletir sobre as contribuições da
concepção de linguagem do Círculo de Bakhtin para os estudos das ideologias
linguísticas e das políticas linguísticas nesse contexto de globalizações. Para
os estudos de políticas linguísticas, tem se mostrado fundamental a
investigação sobre as ideologias linguísticas (Woolard, 1998; Blommaert,
2006), como afirma Rampton (2006). Compreende-se que uma língua constitui-
se como "um projeto discursivo e não um fato estabelecido" (Woolard, 1998:
20). Assim, uma língua configura-se como uma construção dos sujeitos
falantes não-especialistas e dos especialistas; o que os sujeitos dizem que é e
como é uma língua.
165
Resumo: As tecnologias vêm, de há muito, sido apropriadas por povos
indígenas brasileiros: a escrita, gravadores e vídeos, por exemplo, têm sido
frequentemente utilizados como instrumento de suas ações políticas e de
expressão de suas identidades culturais particulares. Mais recentemente,
vimos assistindo, como atestam Ferreira (2009), Tavares (2012) e Bessa Freire
e Leite (2015), também à apropriação de novas tecnologias digitais por esses
povos para registrarem suas manifestações culturais e performatizarem o que
Nunes (2009) denomina suas interneticidades. Tendo como pano de fundo
esse panorama, pretendo, nesta comunicação, refletir sobre o impacto
do videogame "Huni Kui - Yube Baitana (Os Caminhos da Jiboia)", produzido
pelo coletivo Beya Xina Benã e coordenado pelo antropólogo Guilherme
Menezes, no modo como um professor indígena Huni Kui, Ibã Sales, se
posiciona frente ao papel das tecnologias no registro do "patrimônio cultural" de
seu povo. Para tanto, compararei um depoimento dado por esse professor em
1994 com o que ele afirma, em 2015, isto é, 21 anos depois, em entrevista hoje
disponibilizada na internet. Argumento, em primeiro lugar, que o discurso de
Ibã sobre o videogame em questão, que conjuga sonoridades do meio oral com
intertextualidades imagéticas e da escrita, evidencia o fato de que "o que a
tecnologia mobiliza e catalisa hoje não é tanto a novidade de alguns aparatos,
mas, sim, novos modos de percepção e de linguagem, novas sensibilidades e
escrituras" (MARTÍN-BARBERO, 2002, p. 13). E, em segundo, que o discurso
desse professor indígena contribui para deslegitimar a imagem paternalista de
uma suposta fragilidade das culturas indígenas frente às novas tecnologias
(GALLOIS; CARELLI, 1995) aprisionando-os no papel de vítimas de suas
próprias ancestralidades (MAHER, 2013). Os dados a serem analisados nesta
comunicação fazem parte do corpus gerado para o projeto de pesquisa
etnográfica, por mim coordenado, "Retratos de um Brasil Plural: línguas,
culturas e identidades em práticas discursivas". O aparato teórico de referencia
para a análise desses dados está assentado no conceito de identidade cultural,
tal como proposto em Hall (2005) e Bhabha (2005), e no conceito de
posicionamento discursivo descrito por Jaffe (2009).
166
partir daí, um grupo de enunciadores caracteriza de forma pejorativa sobre o
que significa agir "tipo menina", e somente um enunciador se posiciona de
forma positiva em relação ao enunciado "tipo menina". A análise da campanha
em questão apoiou-se nos postulados de Mikhail Bakhtin e de seu Círculo,
mais especificamente na obra Estética da Criação Verbal (BAKHTIN, 2003) e
no texto Discurso na vida e Discurso na arte (VOLOSHÍNOV, 2010). Na análise
do vídeo, buscamos mostrar que as escolhas verbo-visuais que implicam
discursos do que corresponderia agir "tipo menina" estão impregnadas de
traços subjetivos e de índices de valor. A partir desse estudo, foi possível
identificar que a campanha acaba por retomar um conjunto de
enunciados/discursos que se caracterizam por atribuir valores negativos a
expressão "tipo menina", associando-a à falta de capacidade/habilidade de
realizar determinada coisa, à fraqueza, à ideia de sexo frágil e mesmo à
vulnerabilidade. Por fim, podemos observar que é com esse conjunto de
discursos que o enunciado em questão se relaciona e é, também, a eles que tal
construção responde. Além disso, identificamos que o propósito
da Always, junto com a audiência da campanha, de promover, uma
ressignificação da expressão #LikeAGirl corresponde uma iniciativa notável e
permite-nos perceber como a linguagem atua no sentido de representar
determinadas identidades sociais.
167
lugar da exclusão sócio-historicamente marcado. Especificamente, temos por
meta desvelar o gesto interpretativo e compreender como se dá a
materialização, em seus enunciados, da subjetivação do sujeito indígena, via
subsídio das novas tecnologias articuladas na produção de vídeos; e observar
como se legitimam as políticas reguladoras, que criam perfis de subjetividade
estatalmente coordenados, instituindo, dessa maneira, um processo de
"invenção do outro" por meio de dispositivos de saber-poder que funcionam
como o cerne da construção de representações no bojo da sociedade
contemporânea.
Resumo: Em sua produção poética Ana Cristina Cesar faz do "eu" questão de
escrita, tensionada entre adesão à consciência crítica de que "o "eu" é uma
ação discursiva" (difundida na vanguarda dos estudos literários da década de
1970) e uma prática de escrita coalhada de elementos e dispositivos
indissociáveis de algum "eu": o corpo, a confidência, o afeto. Dentre esses
procedimentos destaca-se a aproximação do gênero diário, que propicia a
exploração de questões como a subjetividade, o oferecer-se ao olhar do outro e
a intimidade. O tema é extensamente abordado pela fortuna crítica da escritora,
com privilégio para os deslocamentos literários que Ana C. faz do diário, na
contrapartida de muitos coetâneos que trabalhavam a relação entre escrita e
cotidiano sob a estética do flagra, do despojamento de artifícios literários.
O diário é terreno fértil para trânsitos entre subjetividade, escrita e experiência.
Consideramos a subjetividade conforme proposta por Benveniste ("La nature
des pronoms") - a capacidade do locutor de se colocar como sujeito no e pelo
discurso, e o autor à maneira esboçada por Barthes no prefácio de seu Sade,
Fourier, Loyola: um nome que não designa uma unidade nem propicia ao texto
uma origem ou um sentido uno; inversamente, uma subjetivação dispersa que
tem no texto um espaço de coagulação de seus traços, ou ainda um
receptáculo de todo o afeto que o texto propicia mas não pode acolher. Em
nossa apresentação leremos o poema "Guia semanal de ideias". Buscaremos
traçar opções de um projeto poético que, se investe em um intrincado trabalho
literário que fragiliza protocolos da leitura diarística - como a sinceridade e uma
concepção da escrita como expressão -, não abre mão de modulações do
biográfico. Explorando o gênero diário no limite do funcional, Ana C. opera uma
indiferenciação entre o que reconhecemos como literário e o que
reconhecemos como linguagem comum, propondo essa coexistência como
uma imbricação entre escrita e experiência, onde distinguimos uma
168
subjetividade que não se esgota em nenhuma das duas, nem tampouco em
sua intersecção.
169
Maria Jackeline Rocha Bessa (UERN)
Maria Eliza Freitas do Nascimento (UERN)
Resumo: Disse Judith Butler que "como corpos, sempre somos algo mais que
nós mesmos e algo diferente de nós mesmos. Articular isto como um direito
não é sempre fácil, mas talvez não é impossível". Os sujeitos trans estão em
170
nossa sociedade se articulando no campo do possível no sentido de questionar
o que pode ser dito enquanto homem/mulher real e/ou o que deve sê-lo,
mostrando como a viabilidade e as condições de inteligibilidade do que seja o
humano perpassam normas/discursos e práticas sociais naturalizadas a
respeito do gênero e do corpo. O propósito deste estudo se baseia na busca
por elucubrações acerca dos investimentos dos diversos sujeitos trans, os
quais passam por processos diversos de transexualização, que estabelecem
por meio de suportes da rede (como páginas web, blogs e perfis de Facebook)
a exposição dessas transformações de seus corpos corroborando na
transgressão e desnaturalização dos estatutos do gênero e do sexo, como
também nos de corpo e humanidade, a partir das perdas dos limites entre
orgânico e tecnologia, químico/fármaco e subjetividade. O que se tem visto é
que o narrar, dialogado e polissêmico, dessas experiências tem estabelecido
uma ideia compartilhada de corpo a qual se intenta compreender tendo apoio
os estudos pós-gênero (Judith Butler, Donna Haraway, Teresa de Lauretis e
Paul B. Preciado), pós-humanistas e pós-históricos (Lúcia Santaella, Erick
Felinto e Vilém Flusser). Também a filosofia da comunicação de Vilem Flusser
sobre imagem, discurso e diálogo contribuíram em tal empreitada, assim como
os estudos de discurso de Teun A. van Dijk.
171
que guiam suas escritas, mesmo que para algumas isto não deva ser
considerado o foco de sua escrita. É peculiar às produções aqui estudadas que
sua circulação se dê em contextos individualizados (colunas em blogues e
entrevistas etc.) e letrados (fortemente acadêmico), em que as autoras, para
ganhar espaço legitimado, investem na construção de uma subjetivação
autônoma, independente e letrada como ganho e rebeldia para o lugar
discursivo da mulher negra. Basicamente, portanto, essas produções defendem
a busca de elementos identitários e de resistência por meio das práticas
linguísticas que se vinculam ao campo da literatura e se baseiam em suas
experiências corporais.
172
SELFIE: IMAGEM E SUBJETIVIDADE EM TEMPOS CONTEMPORÂNEOS
Fernanda Carvalho de Almeida (UFC).
173
Resumo: Este artigo é produzido a partir de parte da pesquisa de mestrado em
andamento no Programa de Mestrado e Mudança Social, da Escola de Artes,
Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo e está estruturada a
partir dos seguintes pontos: a construção discursiva, os processos de
subjetivação e a produção de subjetividades juvenis e a partir das conferências
de juventude no município de Santa Bárbara d'Oeste-SP. Através de revisão
bibliografia a autores como Michel Foucault, Félix Guattari, Gilles Deleuze,
Suely Rolnik, Maria Rita de Assis Cesar, Ricardo Castro e Silva, Maria Tereza
Arruda Campos, Luiz Antônio Groppo, Renato Janine Ribeiro, Jurandir Freire
Costa, Maria Rita Kehl, Regina Novaes, Helena Wendel Abramo, Paulo
Carrano, Elizabete Franco Cruz, Guita Grin Debert, Claudia Mayorga e Norma
Missae Takeuti se busca refletir a juventude e o jovem como uma construção
histórica, produzida por um conjunto de procedimentos discursivos que lhe
conferiu o caráter de verdade. Estas discursividades são produzidas por
adultos, mas também por jovens que são subjetivados por uma série de
dispositivos, tornando a juventude como identidade fixa. Tal construção é
engendrada a partir do viés da diferença, narrada em diversas enunciações no
campo educacional, psicológico, médico, jurídico, bem como na participação
social. Através de entrevistas semi-estruturadas de participantes das
Conferências de Juventude em Santa Bárbara d'Oeste realizadas em 2008,
2011 e 2014, bem como análise de documentos e relatórios aí produzidos,
buscou-se para além dos enunciados e da programação oficial, observar como
a juventude tem desterritorializado e reterritorializado os espaços das
conferências construindo novos discursos sobre o “ser jovem”, sobre a
juventude e a participação, produzindo assim possibilidades de “potência” e
“resistência”. A partir da participação juvenil, é possível transformar em espaço
liso, o espaço estriado das conferências?
174
valemo-nos da Metafunção Ideacional (Halliday e Matthiessen, 2004) e do
Significado Representacional (Fairclough, 2003). A partir de algumas das
categorias analíticas que esses aportes teóricos nos proporcionam,
apresentaremos como os/as participantes da pesquisa posicionam-se a
respeito do que conceituamos como uma ordem visiocêntrica do discurso.
Adotamos, portanto, a perspectiva teórico-metodológica da Análise de Discurso
Crítica (ADC), mais especificamente, a versão encontrada em Fairclough
(2001, 2003) em seu diálogo teórico com a Linguística Sistêmico-Funcional
(LSF) (Halliday e Matthiessen, 2004); valemo-nos, igualmente, do Modelo
Social de Letramento (Magalhães, 2012; Rios, 2009, 2010, 2012, 2013; Street,
1984, 2012) e da perspectiva do Modelo Social de Deficiência (Martins, 2006;
Diniz, 2012). Tratando-se de um estudo discursivo crítico de caráter
etnográfico, a investigação adotou métodos da pesquisa etnográfica, quais
sejam observações participantes, entrevistas semi-estruturadas e diários de
participante (Magalhães, 2000; Rios, 2009; Bhatt, Martin-Jones, Jones, 2012).
Os resultados advindos de nossas análises interpretativas revelam que os
posicionamentos dos/as participantes oscilam entre uma conformação à ordem
visiocêntrica do discurso, bem como em uma resistência a ela. Com base
nesses resultados, concluímos que do embate entre essas representações
discursivas é possível - levando-se em conta a perspectiva do discurso como
mudança social (Fairclough, 2001) - pensar a reestruturação e consequente
desestruturação de uma forma simbólica ideológica (Thompson, 2011) que
imprime às pessoas com DV os "referentes do infortúnio e da incapacidade"
(Martins, 2006), enquanto uma narrativização (Thompson, 2011) característica
da vida das pessoas com DV.
175
linguagem, ancoramos nossos estudos em autores que dialogam entre si, tais
como Benveniste (1995, 2006), Le Breton (2010, 2012), Agamben (2005,
2008), Dufour (2000) e Ginzburg (1989). De modo geral, almejamos - com base
nos fatos de cultura-linguagem retirados do documentário e nas reflexões
propostas pelos autores acima - responder a questões que norteiam nossa
pesquisa, quais sejam: como o homem faz para se inscrever em determinadas
esferas da cultura? Se a linguagem é o fio condutor da dispersão desses
sujeitos que se colocam/são colocados à margem da cultura hegemônica,
como uma realidade tão dispersa e desterritorializada se une na linguagem?
Como o homem faz para poder falar de si e ao mesmo tempo se unir ao outro
(Outro) dessa cultura? As análises e reflexões buscarão, em alguma medida,
apontar para possíveis respostas para esse diálogo entre culturas em conflito.
176
Palvras-chave: Identidade. Trabalho nas muralhas. Discurso.
177
POR TRÁS DO POSTO, A FORÇA IDEOLÓGICA PRECONIZADA PELAS
CAPAS DA VEJA
Ana Cláudia Soares de Paiva (UNICAP)
178
meio de uma abordagem de natureza etnometodológica (COULON, 1983), vez
que a coleta dos tweets que compuseram o corpus foi guiada pelos princípios
de indicialidade, reflexividade, reportabilidade e as noções de membro e grupo,
que apontam para as regras do engajamento dos sujeitos nas interações.
Chegamos a um conjunto de sessenta capturas de tela compostas por tweets
que faziam referência às denúncias de abuso sexual relacionadas a um perfil
influente entre determinado grupo de perfis, em debate que emergiu na rede
entre novembro e dezembro de 2014. Categorizamos os tweets à luz de uma
visão da aceitabilidade social do comportamento dos sujeitos no ambiente em
tela, através de expressões que referenciam a estima (nos termos de
normalidade, capacidade e tenacidade) e a sanção social (em termos de
veracidade e propriedade) do objeto de discurso avaliado. Procedemos ao
exercício de análise dos dados, que nos permitiu perceber que a expressão da
avaliatividade como julgamento dos participantes do Twitter se dá,
sobremaneira, pelo expediente da ironia e do sarcasmo com os quais os
termos de uma formação discursiva são apropriados por outra. Tal opacidade
fundamenta o que chamamos de "polêmica infinita", processo no qual a
interincompreensão entre os sujeitos é continuamente reforçada, o
que confirma o caráter constitutivo da interimcompreensão, da impossibilidade
de trégua quando do embate entre arautos da sanção e guardiões da estima.
179
textual-linguística dos seus gêneros. Coimbra (1993), outro autor estudado,
aponta em seus trabalhos caminhos de análise e abre horizontes para
possibilidade nos estudos dos gêneros jornalístico, em específico o perfil
jornalístico. Verificou-se que, embora o gênero estudado guarde sua essência
de reportagem descritiva, ele passa a se comportar de outra forma no blog em
questão, revelando que os gêneros são dinâmicos e ao circularem em outros
suportes podem perder ou agregar características, nas especificadas da
estrutura, na economia das palavras, na produção de sentido, etc. configurando
uma nova forma de produção e recepção dos textos.
180
(idem) do alunato utilizadas por professores ao mesmo tempo identificados
como observadores e como responsáveis por sufocar e destruir ações inúteis
ou perigosas. Sabemos que ao longo dessa pesquisa encontraremos traços,
complementares e contrastantes, e esperamos compreender como ocorrem
essas construções e, possivelmente, a que ponto os enunciados de 1911 se
reatualizam em monumentos (FOUCAULT, 2014) muito mais recentes.
Resumo: Este trabalho tem por objetivo refletir sobre o papel da linguagem na
representação do "eu" no mundo moderno com o advento das redes sociais.
Buscamos refletir de que forma as relações sociais são significadas e
atualizadas na internet, em especial no facebook, e qual o papel da linguagem
na representação do "eu" nesse contexto. Para isso, utilizamos o conceito de
identidade (BAUMAN, 2001); (HALL, 2006); (SILVA, 2009), uma vez que
refletimos de que modo as relações sociais são delineadas em relação aos
grupos que os indivíduos consideram ou não que fazem parte na rede. Além
disso, consideramos as perspectivas de cultura (CUCHE, 1999) e de língua
atrelada a poder (BOURDIEU, 1974), já que parece haver relações de poder
que envolvem a expressão pela linguagem na rede e cerceiam a interação
entre os usuários. Consideramos a linguagem, dessa forma, não como um
meio neutro de comunicação, mas sim como um conjunto de práticas
socialmente incorporadas nas quais certos tipos de discurso podem refletir e
formar identidades sociais (AHEARN, 2011). Para realização desta pesquisa,
também nos valemos do conceito de footing, criado por Goffman (1985), uma
vez que os internautas parecem assumir alinhamentos que são expressos na
maneira como conduzem as interações. Desse modo, através da análise de um
evento ocorrido no país, procuramos refletir de que forma os usuários
do facebook expressam suas opiniões, demarcando sua identidade e seus
posicionamentos culturais através da linguagem. Dentro dessa perspectiva, a
abordagem qualitativa foi empregada, de modo que realizamos um recorte
temporal dos dados que foram analisados. Esperamos, com este trabalho,
contribuir com a análise do papel da linguagem na representação do "eu" e,
desse modo, elaborar possíveis conclusões acerca de questões identitárias e
sociais.
181
O MANUAL DO PROFESSOR DE UM LIVRO DIDÁTICO DE PORTUGUÊS: A
OBJETIVAÇÃO DE UM SUJEITO PROFESSOR
Wesley Luis Carvalhães (UFG-FAPEG)
Eliane Marquez da Fonseca Fernandes (UFG).
182
se baseiam nos moldes oitocentistas de produção. Nessa perspectiva,
objetivamos nesse trabalho realizar um estudo acerca do momento
espelhístico, de estranhamento que permite a narradora-personagem, G.H., se
construir ao longo da narrativa enquanto ser identitário na obra "A Paixão
Segundo G.H." Como subsídio teórico selecionamos autores com Gotlib (1995),
Hall (2006), Maffesoli (2001), Sá (1993), Kristeva (1994), dentre outros que
tratam das personagens clariceanas e da construção nômade do ser humano.
Ao longo da narrativa, G.H. vai ao deserto quarto da empregada e lá busca a
fonte que saciaria sua sede existencial. No mesmo ambiente, encontra-se com
uma barata da qual bebe seu líquido branco. Esse fato desencadeia uma série
de inferências, tais como o instante epifânico de transformação humana ao
espelhar-se num inseto; o estranhamento e o nomadismo na busca pela
identidade em meio ao reconhecimento de si; e a construção da alteridade, um
espelhar-se no outro que refrata e reflete traços do ser. Para a concretização
deste estudo, realizamos pesquisa bibliográfica acerca dos principais teóricos
que discutem o nomadismo e a estrangeiridade que constituem a identidade do
ser humano na pós-modernidade, bem como análise dos escritos clariceanos.
Pela paixão narrada por G.H., chegamos mais perto da introspecção, do
monólogo interior, do intimismo, do fluxo de consciência, da crise de identidade
e do estranho que há em nós mesmos.
183
se tornou necessário pensá-los em sua nova posição, seja ela deslocada ou
descentrada. Conforme Bauman (2005), a identificação se torna cada vez mais
importante para os sujeitos que buscam desesperadamente um nós a que
possam pedir acesso. As novas relações começam a interferir em nossas
construções cotidianas, nossas práticas sociais, como forma de entendimento
do mundo. Com isso, as identidades, antes consideradas seguras e estáveis,
começam a fragmentar-se. Nesse contexto, o objetivo deste artigo é o de fazer
uma reflexão acerca das identidades culturais nesse indubitável mundo
globalizado, pós-moderno, líquido, no qual estamos inseridos, e, para tanto,
respaldamo-nos nos estudos de Hall (1996, 2001, 2012), Bauman (2001,
2005), dentre outros, que corroboram com a questão das identidades nesse
novo contexto social.
184
identidades de resistência, criadas pelos próprios camponeses diante das
contradições. Os processos de letramentos vivenciados nas práticas
educacionais desenvolvidas no Projovem se materializaram tanto como
representativas do modelo ideológico quanto do modelo autônomo, temos,
assim, um espaço de disputas, onde os letramentos têm contribuído com os
processos de opressão e libertação, colonialidade e descolonialidade. Portanto,
embora o Projovem seja construído com base em diversas experiências dos
povos do campo não chega a construir um processo emancipatório ou
libertador semelhante ao que Freire postula, mas se constitui como uma
iniciativa de mediação, na medida em que oferece as condições necessárias
para que os sujeitos reflitam sobre a realidade em que estão inseridos.
185
com as discussões acerca dos estudos da linguagem e do campo dos estudos
identitários.
186
Resumo: Esse artigo é uma reflexão sobre o encarceramento e seus impactos
sobre a identidade cultural dos indivíduos que são privados de liberdade. Ele
analisa o depoimento dos indivíduos presos sobre suas experiências
vivenciadas durante o encarceramento que influenciaram sua identidade
cultural. Para tanto foi utilizada uma abordagem qualitativa e realizou-se um
grupo focal com seis presos do sexo masculino, com idades entre 28 e 66
anos, que cumprem pena privativa de liberdade, em regime fechado, em uma
Unidade Prisional da Região Metropolitana de Belo Horizonte, em Minas
Gerais. Esta amostra é conveniente[1] e foi selecionada com base no tempo de
encarceramento a que esses presos estão submetidos. Este tempo varia de
vinte e cinco anos a um ano e dois meses de prisão. Foram feitas quatro
perguntas básicas a estes presos: (1) como era sua vida antes da prisão? (2)
No seu estilo pessoal de vida o que mudou com a prisão? (3) O que mais o
incomodou depois de ser preso, no que tange o encarceramento? Como você
vê ou interpreta as normas e regras da prisão? Foi realizada também uma
pesquisa documental de autores que transitam sobre o tema como Stuart Hall
(2006), Erving Goffmam (1999) e Michel Foucault (2011). O artigo inicia pelo
olhar de Stuart Hall na desconstrução da idéia de uma identidade única. Pelo
contrário, surge multifacetada e fragmentada em muitas outras identidades.
Contraditórias, concordantes, incompletas e em constante transmutação. Em
contra partida a tais mudanças, surge uma nova identidade para contrapor a
essa explosão de liberdade: a identidade institucional, cujo principal objetivo é
manter a dominação e exercer o poder pela vigilância. Nesse artigo destaca-se
o exercício desse poder em uma instituição específica - a prisão. E por fim,
apresenta-se o resultado da pesquisa realizada com o grupo focal, buscando
construir uma discussão sobre as experiências encontrada a luz da reflexão
teórica apresentada. A principal descoberta é o surgimento de uma nova
identidade como resistência ao encarceramento.
187
de uma redação. Um dos critérios utilizados para avaliar as redações, e
explicitado no manual do candidato, relaciona-se à construção autoral. Assim, a
capacidade do candidato de exercer uma autoria na redação, posicionando-se
frente aos temas propostos é testada. Diante desse contexto, a presente
dissertação objetiva investigar os indícios de autoria e as marcas identitárias
presentes em redações nota mil dos candidatos participantes do Enem. Para a
referida investigação, são utilizadas dez redações do concurso 2014 que
obtiveram nota máxima e foram publicadas na internet por seus próprios
autores. Para discutir as questões autorais são usados os estudos de Michel
Foucault, Roland Barthes, Mikhail Bakhtin e também obras de autores
brasileiros como Maria José Coracini, Sirio Possenti e outros estudiosos que se
debruçam sobre o tema. Da mesma forma, para tratar das questões identitárias
são utilizados os estudos de Stuart Hall, de Eni Orlandi e de outros autores.
Além disso, propõe-se uma matriz de avaliação inovadora cujos critérios
contemplam também alguns indícios de autoria.
188
aplicadas à leitura como um instrumento metodológico de mediação
pedagógica para docentes da área de Língua Portuguesa, uma vez que
consideramos esta atividade um importante meio de aquisição de
conhecimento e desenvolvimento da compreensão leitora.
189
definitivas para a sua constituição. Com base em tal realidade, objetiva-se
problematizar, nesta pesquisa, a construção identitária dos habitantes de uma
dessas comunidades de colonização alemã, processo que é forjado na tensão
que se estabelece nesses contextos interlinguísticos e interculturais que são
resultado, em grande parte, da globalização e de seus desdobramentos. As
diversas culturas são, assim, produto de hibridização cultural e linguística, de
modo que se pode afirmar que são formadas pela alteridade, caracterizando-se
por ser resultado de vários "dizeres" e de múltiplas "vozes". A pesquisa em
questão centra-se em uma representação fílmica da localidade de Walachai,
povoado fundado em 1829 por imigrantes alemães e ainda hoje habitado por
descendentes desses colonizadores. Dessa forma, a análise é realizada com
base no documentário Walachai (2009), obra cinematográfica brasileira dirigida
e roteirizada por Rejane Zilles, que recolhe impressões dos descendentes de
imigrantes que ainda vivem no distrito a respeito da vida, do tempo, da língua,
da cultura e da identidade, de modo a instigar o estudo do plurilinguismo
dialógico e intercultural que se estabelece nos enunciados postulados. A
realidade de vivência entre-línguas e entre-culturas experienciada pela
comunidade teuto-brasileira em questão justifica o trabalho analítico que leva
em consideração as falas dos habitantes do lugar. Assim, como procedimento
metodológico, efetua-se uma análise dos discursos registrados no
documentário, a fim de se evidenciarem marcas culturais e traços identitários
construídos por fenômenos como hibridismo, multilinguismo e plurilinguismo.
190
mutuamente, dos quais a língua é apenas o principal, não o único. Em virtude
de um intentado, sobre o tecido significativo da instância de discurso, instaura-
se a categoria da pessoa e, com ela, a intersubjetividade, por meio de uma
semantização que não é exclusiva da língua. O sujeito se vale de sistemas
semiológicos cuja materialidade é expressa pelo/no corpo, seja com a voz, com
o olhar, com gestos ou com formas ainda mais sutis e específicas de
determinada enunciação - o balanço do corpo, sua vibração, por exemplo.
Partimos dos textos de Émile Benveniste (2005; 2006; 2011; 2012) que dão
corpo à teoria da enunciação e encontramos nos estudos de David Le Breton
(1992; 1998; 2004; 2011) a reflexão que nos permite construir um arcabouço
teórico que nos auxilia a compreender o que está para além da língua na
enunciação do sagrado.
191
subjetivando-o à mais-valia de poder, que toma conta da subjetividade e a
transforma em produto, em identidade.
192
Resumo: A medicalização da sociedade é um fenômeno que tem sido
sinalizado por vários autores desde o século XIX, quando o saber científico se
espalhava pelos vários domínios sociais. Mas foi a partir da década de 1940,
com a introdução dos psicofármacos, que este fenômeno se tornou cada vez
mais intrusivo na vida cotidiana. A discussão que se pretende aqui diz respeito
ao processo de medicalização da existência na contemporaneidade, tomando
como base analisadora uma fenomenologia dos discursos desta medicalização
na forma de tecnificação do viver cotidiano. Ao pensar a relação entre
medicamento e tecnologia queremos problematizar o aprisionamento quase
total da vida nas malhas de uma lógica técnica que pretende entender a
existência humana por princípios deterministas. Percebemos que o homem
moderno parece estabelecer com a técnica uma relação instrumental e utilitária
em busca não apenas de um viver satisfatório, mas, essencialmente, de uma
solução para quase todos os seus problemas. Há a implicação de uma prática
social, que por meio de todo um aparato tecnológico, tem transformado a vida
cotidiana num problema médico-farmacológico e é esta prática que
pretendemos compreender. Trata-se de pensar o fenômeno da medicalização
como um operador do poder (Foucault, 1977), como uma estratégia e uma
forma de assujeitamento. Um fenômeno produtor de tecnologias que operam
nos corpos como estratégias de controle legitimadas político e socialmente por
estarem acopladas aos modos de subjetivação contemporâneos. Na condição
de uma das principais tecnologias contemporâneas de cuidado, o consumo de
psicofármacos aparece associado à instalação de uma eficaz química no
organismo e emerge como um veículo de acesso à saúde. Parece haver um
processo perverso onde o consumo de substâncias, ou melhor, de pílulas cada
vez mais diversificadas, torna-se uma forma de produzir equivalências às
noções atribuídas à saúde e uma forma de gerar pertencimentos de
normalização legitimados socialmente. Assim, compreender os efeitos
agenciadores do fenômeno da medicalização nos modos de subjetivação
contemporâneos implica em entender como se atualizam as estratégias
biopolíticas que instauram uma normalidade medicalizada, na qual a expressão
de qualquer sofrimento não se torna objeto de reflexão e busca de construção
de outras formas de ser, mas sim de um entorpecimento das emoções.
193
Veja, buscando compreender a produção de sentidos e as estratégias
construídas, pelas quais a Veja designa o papa Francisco como o papa dos
pobres comparando-o com os seus antecessores. Analisar-se-á a construção
do discurso através da imagem que se pretende passar sobre o papa
Francisco, sobretudo pelo contexto sociodiscursivo através da formulação de
um dado momento e de dadas situações em que o discurso foi veiculado pela
revista. Será, portanto analisada de que forma a Veja tem contribuído para a
construção da imagem do papa Francisco pelo imaginário construído
correlacionado aos sentidos que os dizeres o caracterizam. Como base para
este estudo Bakhtin (2000) explica que as diversas esferas das atividades
humanas estão ligadas ao uso da linguagem, a concepção de Orlandi (2005)
toma a linguagem como mediadora indispensável entre o homem e o meio
social e natural em que vive e afirma que o discurso é o lugar em que se pode
observar a relação entre língua e ideologia Peirce (1977) diz que o signo
exerce uma representatividade na realidade natural e social e Aumont (1993)
diz que toda imagem tem suporte material, afirmando que toda imagem é
também um objeto, portanto está carregado de sentidos. Pretende-se
comprovar que a produção de sentidos e a imagem repassada pela Veja sobre
o papa Francisco busca categoriza-lo como o papa dos pobres, designando-o
como um papa diferente e mais próximo de todos, portanto exerce um papel
privilegiado de influencia que através das suas praticas religiosas arraigadas
em sua pregação faz tornar-se um referente pela fidedignidade do seu
discurso.
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo analisar como a imagem dos
candidatos à presidência da república brasileira foi construída durante o
segundo turno das eleições de 2014 pela revista Veja. Para isto, foram usadas
as três edições semanais do mês de outubro após a votação do primeiro turno
e uma antecipada do mês de novembro, totalizando quatro capas, onde
pudemos perceber marcas enunciativas que demonstram uma posição parcial
em relação à construção da imagem dos sujeitos evidenciados. Adotamos o
método de Análise do Discurso Crítica, pois ela permite compreender a
linguagem segundo as suas práticas sociais, usando autores como: Fairclough
(2003), Bakhtin (1997), bem como Resende & Ramalho (2011) e Magalhães
(2003). Utilizamos intertextualidade e representação de atores sociais como
categorias analíticas. A partir da análise crítica através das categorias
194
utilizadas, levando em consideração as discussões sobre a imagem como
possibilidade de sentido e o lugar do jornalismo na fabricação de comentário
político, podemos perceber marcas enunciativas na revista Veja no período do
segundo turno das eleições presidenciais de 2014 a partir de suas capas, uma
posição parcial em relação à construção da imagem dos sujeitos evidenciados.
Através da Análise do Discurso Crítica, que se interessa sempre pelas relações
de poder e de dominação, observando o modo como atuam discursivamente
em suas estratégias de produção de consenso, o que, particulariza um e outro,
opondo-os discursivamente e definindo seus lugares na rede social do sentido,
percebe-se uma preferência pelo candidato Aécio Neves, evidenciada pela
maneira pela qual se dá a ordem do discurso vigente na capa das revistas
veiculadas durante o processo de campanha, supondo que tem o intuito de
influenciar eleitores para optar pelo candidato pelo qual a revista apresenta
positivamente. Através da categoria de identificação de atores sociais em
textos, pode-se dizer que a identidade da candidata Dilma Rousseff foi
construída negativamente, pois é trazida à tona a partir da representação de
seu partido associado à corrupção a partir caso da Petrobras, que foi exposto
repetidas vezes junto ao nome do partido político representado pela candidata.
A repetição do tema credita o interesse da revista em dar a voz ao assunto,
mesmo que seja através de depoimentos de apenas dois personagens. E
assim, pode formar uma opinião coletiva sobre determinado tema a partir da
interpretação de seus leitores. Independente das ideologias políticas que
constituem os sujeitos que fazem a revista, o papel do jornalismo nesta época
decisiva é buscar dar a informação buscando imparcialidade e deixar com que
seus leitores tirem suas próprias conclusões.
O DISCURSO EM FOUCAULT
Maria Adriana de Souza (UERN)
Gessione Morais Da Silva (UERN)
Cícera Alves Agostinho de Sá (UERN)
195
chamamos relação de sentido. Segundo esta noção, não há discurso que não
se relacione com outros. Dessa forma, os sentidos resultam de relações e o
discurso passa a ser múltiplo porque traz marcas de vários outros e está
interpelado por todas as instâncias sociais, fazendo com que os efeitos de
sentido variem de acordo com o contexto histórico que nos inserimos. A
contribuição de Foucault para a Análise do Discurso é fundamental ao
demonstrar a importância e função do discurso nos processos de comunicação.
De um estilo literário instigante, o autor analisa conceitos que são pertinentes à
compreensão do discurso. Para ele, as formulações discursivas, os processos
interacionais entre os interlocutores e o contexto de enunciação entram como
elementos basilares na constituição de um processo comunicacional. Além de
Foucault, utilizamos as concepções de Orlandi como uma autora secundária
que trás suas contribuições teóricas para o artigo. O objetivo deste artigo é
apresentar elementos para uma discussão teórica sobre o conceito de discurso
em Foucault, bem como uma respectiva contribuição para possíveis reflexões
acerca da temática. Serão discutidos, aqui, conceitos como sujeito, enunciado,
formação discursiva, relação poder/conhecimento e interdiscurso para
chegarmos à noção de discurso apresentada por Foucault.
196
para os filhos e cuidados com a família, associando tal identidade ao processo
de fabricação de seus produtos, sucos de fruta, destacando associações entre
as características da relação mãe e filhos e o discurso da saudabilidade,
utilizando argumentos como "100% suco, sem conservantes e só com açúcares
da fruta, tudo que você sempre quis em uma caixinha". Para melhor
caracterizar os estereótipos utilizados, serão também analisados blogs com
conteúdos voltados para o perfil identitário de mães, como "Macetes de mãe",
"Mil dicas de mãe" e "De mãe para mamãe". Conduziremos nossos olhares a
partir das imbricações conceituais de sociedade, cultura, mídia e consumo com
base em Kellner, Slater, Baccega, Martín-Barbero e Garcia Canclini. Os
conceitos sobre identidade, sistemas de significação e representação cultural
postulados por Stuart Hall e Manuel Castells também irão permear a análise
proposta, possibilitando, enfim, uma reflexão consistente sobre as teias de
sentido que engendram o campo midiático e, especificamente, a publicidade de
produtos industrializados, no atual cenário de ênfase em uma alimentação
saudável.
197
consumidoras para adquirir o produto anunciado? Nesta perspectiva, o
resultado do estudo ressalta que os anunciantes utilizam o discurso científico
no gênero discursivo publicitário como estratégia persuasiva para convencer as
leitoras destes textos a adquirir o produto anunciado, alimentando, neste caso,
práticas sociais da sociedade pós-moderna que se refletem, também, em
outros aspectos de circulação do gênero. Esta tendência apresenta-se nos
anúncios contemporâneos, revelando diferentes desdobramentos do discurso
científico no gênero anúncio publicitário.
198
podem ser muito eficazes quando se tornam naturalizadas e atingem o status
de ‘senso comum'.
199
Emanoel Pedro Martins Gomes (UECE)
Resumo: Este trabalho faz uma reconsideração crítica à prática de análise dos
discursos teorizada por Norman Fairclough para a Análise de Discurso Crítica
(ADC) buscando trazê-la para os trilhos das redes de práticas dos discursos,
como são discutidas e preconizadas nos trabalhos de Bruno Latour.
Considerou-se como as justificativas ontoepistemológicas construídas na ADC,
uma vez baseadas no Realismo Crítico (RC) de Roy Bhaskar, recaem nas
"grandes divisões" modernas, como discutidas por Bruno Latour (2009): a
separação entre conhecimento científico e o conhecimento comum; entre
percepção crítica e percepção empírica; entre o resgate transcendental dos
sentidos e a compreensão imanente deles. Encarando as práticas de análise
do discurso em termos de práticas de purificação (que atestam a
transcendência da natureza e, por conseguinte, da ciência/teoria) ou de
tradução (que defendem a imanência da própria natureza e, por extensão, da
ciência/teoria), como se veem em Latour, percebeu-se que o trabalho da ADC
via RC é tanto o de purificação, quanto o da negação da purificação. Este duplo
trabalho constitui o científico e o crítico que se imiscuem nos resultados
calculados na ADC, bem como nos princípios advogados na agenda do
pesquisador em ADC, já que há a primazia da representação-mor da natureza
(tratada aqui como a dos sentidos) pela ciência, mas não da ciência pelos
homens, a fim de assegurar à ciência o juízo societário de sua transcendência.
Dessa forma, notou-se que ou aí reside um ponto artificializado de sustentação
- o impedimento tradutório da ciência pelos homens -, ou surge uma eleição
sem eleitores, uma transcendência do tradutório - o locamento da ciência na
imanência transcendentalizada, mas não na transcendência imanentizada. Ou
seja, a ciência traduz transcendentalmente a natureza e purifica-se
imanentemente dos homens. Com essa discussão, tentou-se, por fim,
aproximar a proposta teórica da ADC da Teoria do Ator-Rede de Latour, para
que seja possível vislumbrar uma análise que, em vez de cair na aporia
epistemológica de justificar para quais resultados pode ser auferido o título de
científico, crítico, religue-o aos mundos sustentados pelo discurso, aos sujeitos
envolvidos na significação, à transcendência nesta pressuposta, mas
construída como fruto de lutas para tal.
Palavras-chave: Análise do Discurso Crítica. Realismo Crítico. Purificação.
202
EIXO TEMÁTICO 7 – COMUNICAÇÃO, DESIGN E VIDA URBANA
203
tanto, partimos do conceito de atos ilocucionários desenvolvido por Austin
(1990) e do conceito de vozes apresentado por Mey (2000). Este trabalho tem
como pano de fundo a perspectiva da pragmática social, em que os atos de
fala realizados pelos falantes são entendidos como uma ação, ou parte de uma
ação, "expressão linguística que não consiste, ou não consiste, apenas, em
dizer algo, mas em fazer algo, não sendo um relato verdadeiro ou falso sobre
alguma coisa" (AUSTIN, 1990, p.38). Neste sentido, a análise pragmática do
fazer jornalístico leva a uma reflexão mais profunda sobre a prática jornalística
como uma ação política sobre a realidade e sobre a própria ética profissional.
O panorama que hora apresentamos é parte de um estudo mais amplo que
busca analisar os usos de linguagem realizados pelo jornal Gazeta do Povo
(Curitiba/PR) na cobertura jornalística dada ao Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Paraná (IFPR) entre os anos de 2008 e 2014. Neste
estudo maior, o jornalista é encarado como um falante e também como um
personagem-narrador que desempenha um papel central dentro de uma
formação societal específica, que é o campo jornalístico. Desta formação
societal resultam as notícias e reportagens, textos que não são formados
unicamente pela voz do jornalista, mas também pelas vozes de outros falantes,
que auxiliam na construção dos relatos sobre a realidade. "Uma voz pressupõe
um papel [role] (cf. latim rotula) um personagem; portanto, uma atividade, uma
ação" (MEY, 2001, p. 19).
204
utiliza toda qualidade de índices, registros e rastros, como documentos de
processo criativo. Neste caso, não apenas rascunhos e estudos visuais são
analisados, mas também propostas que alunos desenvolveram nos cursos de
Design e de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Ceará, além
da manifestação da própria comunidade em forma de grafite no local. Como
resultados parciais temos a elaboração de estratégias comunicativas para a
inclusão da comunidade na construção do lugar e um sistema de signos
gráficos que habilitam a aplicação de uma identidade visual do projeto em
diferentes meios. Isto passa por soluções que variam desde o uso da fotografia
como um tipo de plataforma de observação e interação com o mundo social,
até a apropriação das mídias sociais como ferramentas de disseminação de
informações que tornam públicos e inclusivos os eventos relativos ao projeto.
205
Resumo: A comunicação apresenta alguns aspectos relacionados a analise
dos dados gerados durante a realização do projeto "AGORA VOCÊ TÁ
FALANDU A MINHA LÍNGUA! O RAP NA TRAJETÓRIA ACADÊMICA DE
ESTUDANTES DE PAÍSES AFRICANOS DA UNILAB - CEARÁ", desenvolvido
junto com um grupo de estudantes oriundos de diversos países africanos de
língua oficial portuguesa - Angola, Cabo-Verde, Guiné-Bissau, Moçambique
e São Tomé e Principe, e também Timor Leste. A centralidade recai sobre a
constituição identitária que se dá em meio a um processo de letramento,
desenvolvido entre os anos de 2014-2015, no qual os elementos políticos e
artísticos do hip hop, em especial o rap, possibilitaram trazer ressignificações
da palavra/conceito integração sob a ótica do grupo de rap A.SE.Front, e em
diálogo com os estudos decoloniais. Ressalta-se que os estudantes deslocados
de seus espaços de origem, e quase sempre chamados de "alunos africanos",
por meio de seus discursos e performances forjaram outros espaços de viver e
nos mostram quais foram os efeitos do projeto em suas trajetórias dentro e fora
da Universidade. Salienta-se que esta comunicação, a partir de um corpus de
letras de rap, videos, fotografias e entrevistas analisa de que
maneira, linguístico discursivamente, a poesia-rap oferece caminhos para
pensar conexões e desconexões entre os países africanos de língua oficial
portuguesa.
206
na nossa análise: a definição de discurso, enquanto prática social, de
Fairclough, aliada à sua concepção de texto como formação social, o processo
conceitual simbólico sugestivo da Gramática do Design Visual e a concepção
dinâmica de texto proposta por Hanks. O conjunto visual formado por texto e
imagem nos grafites revela o discurso multimodal de um movimento negro que
busca questionar os sentidos impostos pelo discurso racista dominante.
Imagem e textos se relacionam para contraporem-se à ordem imposta nas
práticas discursivas e sociais assimétricas do racismo contra negros. Ao
contrário do que o senso comum defende, os grafites são construções
fecundas de sentido que produzem subjetividades e podem transformar o
imaginário social.
207
Palavras-chave: Capa das revistas Veja e istoé. Gramática do design visual.
Habilidades interpretativas.
208
TEORIA GERAL DOS SISTEMAS NO ENTENDIMENTO DA VIDA URBANA
EM UMA PRÁTICA DE DESIGN SOCIAL
Naggila Taissa Silva Frota (UFC)
Anna Lúcia dos Santos Vieira E Silva (UFC)
Carlos Eugênio Moreira de Sousa (UFC)
209
PESQUISA-AÇÃO, IDENTIDADE E DESIGN SOCIAL APLICADOS EM UMA
INICIATIVA DE REGENERAÇÃO URBANA EM FORTALEZA
Anna Lúcia dos Santos Vieira E Silva (UFC)
Carlos Eugênio Moreira de Sousa (UFC)
Nággila Taissa Da Silva Frota (UFC)
210
REQUALIFICAÇÃO DE VIAS COMERCIAIS: ANÁLISE E REFLEXÕES DOS
PROJETOS EXECUTADOS NAS RUAS OSCAR FREIRE (SÃO PAULO/SP)
E VIDAL RAMOS (FLORIANÓPOLIS/SC)
Karine Petry de Aguiar (USP)
211
EIXO TEMÁTICO 8 – AÇÃO POLÍTICA E MOVIMENTOS SOCIAIS
212
José Ernandi Mendes (UECE)
Sandra Maria Gadelha de Carvalho (UECE)
João Paulo Guerreiro de Almeida (UECE)
213
(1999) e de Austin (1990), distancia-se de pesquisas que adotam concepções
essencialistas da linguagem e trabalham com um uma noção sujeito idealizado,
individualizado e abstraído de suas formas de vida e de seus jogos de
linguagem. Nesse sentido, este trabalho não poderia negligenciar as pessoas
como agentes da linguagem e nem as sociedades das quais elas/eles fazem
parte. Desse modo, adotando a perspectiva teórica da Pragmática Cultural
(ALENCAR, 2008), essa pesquisa foi desenvolvida a partir da etnografia do
grupo Tambores de Safo com o intuito de compreender a (re)construção e
(re)afirmação performativa das identidades de gênero e raça das integrantes do
grupo em seus jogos de linguagem. Para o alcance desse objetivo, foi reunido
um corpus composto por gravações e vídeos de ensaios, apresentações e atos
públicos do grupo, letras de músicas do repertório, bem como entrevistas com
algumas das integrantes. No entanto, como recorte para esse estudo,
analisaremos os jogos de linguagem das integrantes em suas participações em
atos públicos. A análise dos atos de fala das integrantes nos possibilitou
compreender que as identidades de gênero e, principalmente, as identidades
de raça, ritualizadas a partir dos modos de se vestir e da cor da pele, são,
antes de tudo, um posicionamento político. Também pudemos identificar que
os atos de falas proferidos em atos públicos dialogam e ganham força com a
sua repetição em outros jogos de linguagem de outros grupos, em outras
manifestações e por serem enunciados por outras mulheres em jogos de
linguagem diferentes.
214
capital, destacando experiências sócio-educativas do MST, e as categorias do
discurso sobre a educação popular que a elegem como metodologia para uma
consciência política e uma possível reestruturação social. Como metodologia, o
estudo insere-se numa abordagem qualitativa, fundamentando-se em pesquisa
bibliográfica e documentos e falas de militantes do MST. Destacam-se na
fundamentação teórica as obras que abordam as categorias Educação Popular
e Movimentos Sociais, dentre elas destacam-se os autores: Brandão (2013),
Gohn (2013), Vendramini (2000). Dessa forma, os estudos revelaram que a
Educação Popular aparece como mecanismo de conscientização no MST,
incidindo na luta pela terra, saúde, educação e condições de vida. Assim, no
discurso que a fundamenta como instrumento de conscientização destacam-se
as categorias de criticidade, reflexão coletiva e politização as quais são
avaliadas como proporcionadoras da formação dos sujeitos sociais tornando-os
ativos socialmente na luta contra-hegemônica.
215
discussões realizadas a partir das memórias e realidades dos sujeitos
observados estão.
216
BREVE TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO DO CAMPO NO BRASIL
Diana Nara da Silva Oliveira (UECE)
Elenice Rabelo Costa (UECE)
Luis Távora Furtado Ribeiro (UFC)
Sandra Maria Gadelha Carvalho (UECE)
217
do mundo. Em 2013, este espírito chegou às terras brasileiras, gerando as
chamadas Jornadas de Junho. Estas findaram, mas o espectro continuou
rondando nossas terras, fazendo-se presente, por exemplo, no Ceará - através
da greve dos estudantes, dos professores e dos funcionários da UFC - no ano
de 2015. Neste trabalho, tivemos o objetivo de analisar criticamente a
construção discursiva deste movimento cearense nas páginas do Jornal O
Povo. Isto é, analisamos, a partir da dimensão representacional do discurso, o
texto Estudantes ocupam reitoria da UFC e promovem quebradeira, publicado
no jornal O Povo em 01/09/2015. Analisando esse texto, procuramos
compreender criticamente de que maneira o discurso manifestado por ele e,
consequentemente, pelo Jornal O Povo, importante instância midiática do
Ceará, participa de práticas sociais ligadas aos movimentos sociais
contemporâneos. Para a consecução de nossos objetivos, articulamos os
pressupostos teórico-metodológicos da Teoria Social do Discurso, principal
vertente da Análise do Discurso Crítica, desenvolvida pelo linguista britânico N.
Fairclough (1999, 2001, 2003), com discussão de Zizek (2006, 2012, 2013)
sobre violência e sobre movimentos sociais contemporâneos. Ao se analisar o
corpus selecionado a partir de sua dimensão representacional, ou seja, a partir
dos modos particulares de designação e de distribuição de papéis dos agentes
e das ações no espaço discursivo das práticas sociais, fez-se possível dizer
que o discurso por ele materializado, de certa forma, constrói sentidos que não
problematizam a violência objetiva presente no âmbito do modo de organização
social brasileiros contemporâneo, centrando-se na desqualificação e, de certa
forma, na criminalização das intervenções dos estudantes no edifício da
reitoria.
Resumo: Nos dias de hoje as pessoas têm menos tempo para ler,
completamente, revistas ou publicações inclusive porque todo dia surge muita
informação e nos muitos recursos: além das revistas impressas, tem revistas
na internet com quantidade considerável de informação. Fica impossível dar
conta de todo o conteúdo. Nesse contexto, aumentou muito a importância dos
títulos das publicações jornalísticas. Primeiro, porque dependendo do título o
leitor toma a decisão de ler ou não o conteúdo. Segundo, porque o título da
publicação já fornece alguma informação ao leitor sobre o assunto relatado e
também possui um conteúdo implícito. O objetivo deste artigo é analisar o
discurso que circula sobre a Rússia nos títulos de notícias da agência
internacional Thompson Reuters. Para analisar os sentidos dos enunciados,
218
nos títulos e subtítulos dos artigos midiáticos que constituem o corpus da
pesquisa, adotou-se como referencial teórico e metodológico os trabalhos de
Michel Pêcheux e Eni Orlandi, onde a linguagem é compreendida como um
sistema materializado na ideologia e a discursividade como a inserção dos
efeitos materiais da língua na história, através das relações de metáfora
(transferência) (ORLANDI, 2005, p.11). Os resultados mostraram que o
discurso na mídia, sobre a Rússia, seria ideológico e subjetivo, com o propósito
de apoiar os sentidos favoráveis para o locutor na chamada guerra informativa.
219
INTELECTUAIS CATÓLICOS E O PODER POLITICO NO CEARÁ:
DISCURSO, AÇÃO POLÍTICA E ELEIÇÕES EM FORTALEZA (1933-1935)
Janilson Rodrigues Lima (UECE)
Resumo: As eleições que ocorreram nos anos de 1933, 1934 e 1935 no Ceará
foram eleições que contaram com fortes disputas em torno dos cargos do
poder legislativo e executivo de nosso Estado. Junto a estas disputas surgia
em meio a esse contexto histórico um grupo de intelectuais católicos
fortalezenses que se reuniram para concorrer às eleições nos anos
mencionados. O grupo era composto essencialmente por Andrade Furtado,
Menezes Pimentel, Waldemar Falcão e Edgar de Arruda, todos estes
personagens teriam papel importante no campo político das eleições que foram
realizadas na década de 1930. Usando o jornal católico "O Nordeste", esse
grupo vinculou seus discursos para a sociedade cearense, defendendo valores
ligados à fé religiosa a que pertenciam ao mesmo tempo em que usaram desse
jornal em suas ações políticas de forma estratégica para a disputa das eleições
no Estado e na capital cearense, naqueles anos. Nossas análises partem de
alguns referenciais teóricos que nos auxiliam em nossa abordagem a respeito
da ação desses intelectuais dentro do campo político. Utilizamos o conceito de
"discurso" de Michel de Foucault, assim como os conceitos de "campo político"
e de "poder simbólico" do autor Pierre Bourdieu. A metodologia de pesquisa
aplicada segue um modelo qualitativo de análise, no qual dialogamos com a
corrente historiográfica da História Cultural que amplia o conceito de fontes
históricas para além das fontes oficiais. Dessa maneira utilizamos como fonte
de pesquisa alguns jornais da época como o jornal católico "O Nordeste" e o
jornal "O Povo", juntamente com algumas correspondências trocadas entre os
intelectuais analisados por nós. Analisamos com o cruzamento dessas fontes
os discursos católicos em torno das eleições nos anos de 1933, 1934 e 1935,
assim como, as ações e articulações que esse grupo social teceu no campo
político que possibilitou sua ascensão e consolidação política no Estado do
Ceará, principalmente em sua capital, Fortaleza, nesses anos.
220
por cidadania. O texto inicia abordando as transformações acarretadas com a
emergência das novas tecnologias nas vivências dos sujeitos da
contemporaneidade, especialmente a partir dos aportes de Morley (2008) e
Castells (1998). Segue refletindo sobre as relações entre as mídias digitais e a
construção de cidadania, em um cenário que permite que os receptores
possam participar, também, como produtores de conteúdos e gestores de
políticas comunicacionais, especialmente no seio de ONGs e projetos sociais
que atuam a partir desta perspectiva. Neste caso o debate é construído através
dos alicerces conceituais de Martín-Barbero (2008) e Peruzzo (2008). O artigo
explora, também, a associação que dá vida à investigação, a ONG Aldeia, que
trabalha com jovens em situação de vulnerabilidade social, moradores do
Morro Santa Terezinha, região da cidade de Fortaleza, conhecido nos meios
hegemônicos de comunicação local como uma área de criminalidade e
delinquência juvenil. O Aldeia tem como guia de suas atividades a perspectiva
da inserção social e cultural de jovens através do uso e empoderamento das
novas tecnologias comunicacionais. Por fim o trabalho analisa as experiências
e intervenções audiovisuais dos jovens participantes de suas oficinas e
projetos, que produziram um documentário (Mirada) sobre a vida cotidiana no
morro, que não aparece na tradicional mídia local. Como principais elementos
conclusivos, podemos apontar: a) afirmação e fortalecimento de uma
autoestima das pessoas do morro e tentativa de resgate e de valorização de
importantes fatos na história da cidade, elementos simbólicos e inspiradores
para qualquer iniciativa de resistência; b) associação do documentário com a
estética do videoclipe e da televisão.
221
interagir umas com as outras. O exemplo poderia ser seguido se não fosse à
falta de investimentos ou recursos de fato. OBJETIVO: Relatar a experiência
dos acadêmicos de enfermagem em uma ONG localizada em Maracanaú, CE.
METODOLOGIA: Estudo descritivo, um relato de experiência, vivenciado por
acadêmicos de enfermagem, realizado em janeiro de 2015, em uma ONG no
distrito de Maracanaú-CE. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Ao observarmos
nosso padrão de vida nos deparamos com contrastes diversos e temos em
mente que podemos contribuir, de alguma forma, para o bem estar do outro. O
profissional de saúde precisa exercer sua função de maneira holística e focada
na melhoria do quadro geral do paciente. Os trabalhos realizados em
comunidade traduzem a simplicidade e a cultura de um povo que deseja
atenção. A ONG traz consigo a responsabilidade de tornar mulheres da melhor
idade, ativas, em um meio que as exclui, restringindo suas atribuições e
qualidades. CONCLUSÃO: A prática de um profissional de saúde é mais bem
compensadora se for exercida com cautela e empatia. A mudança na rotina
das mulheres frequentadoras da ONG é notável mediante o grau de
comprometimento de cada participante e da qualidade de vida almejada
individualmente pelas mesmas. Projetos deste tipo deveriam servir de exemplo
e destaque já que enriquecem a região e cativam adeptas a se engajarem em
atividades antes nunca realizadas, ou por falta de oportunidade ou pelo pouco
investimento e atenção direcionado a este público. A inovação é sem dúvidas a
solução.
222
com os instrumentais metodológicos da netnografia e da análise da
conversação online, investigamos as motivações para o engajamento dos
atores sociais na plataforma, bem como os sentidos que atribuem às categorias
de participação, cidadania e democracia. A título de resultados preliminares
(dado que a pesquisa encontra-se em andamento), percebemos a
predominância, nos discursos presentes na rede social em análise, da
valorização de repertórios de ação propositivos ou colaborativos, tidos como
mais eficazes na obtenção de melhorias no espaço urbano do que os
repertórios confrontacionais que costumam pautar as relações entre
movimentos sociais e Estado. A possibilidade de acesso direto dos cidadãos às
esferas de decisão política - sem necessidade da mediação dos meios de
comunicação ou de instituições representativas, como partidos, sindicatos e
associações - é apontada como uma das "vantagens" das novas formas de
ativismo, assim como a "facilidade" da participação online e a "visibilidade" e o
"reconhecimento" que esta pode proporcionar. Dentre os obstáculos à
ampliação dessa participação estão a baixa permeabilidade do poder público
aos projetos apresentados, a falta de conhecimentos técnicos para elaboração
das propostas e a fragilidade dos vínculos sociais entre os integrantes da rede.
223
Louis Althusser (1985), Jacqueline Authier-Revuz (1990), Dominique
Maingueneau (2005), entre outros. As análises feitas aqui procuraram
observar quais discursos atravessam (e determinam) os textos selecionados
para a composição do corpus, a fim de perceber a que posição (ões) as peças
analisadas filiam-se. Nesse sentido, observamos como os discursos político e
jurídico, por exemplo, constituem o sujeito da posição jornalística de modos
específicos.
224
Palavras-chave: Discurso. Redes sociais. Movimentos sociais.
225
A IDENTIDADE DO EVANGÉLICO BRASILEIRO A PARTIR DA
REFERENCIAÇÃO
Valney Veras da Silva (UFC)
Mônica Magalhães Cavalcante (UFC)
226
paradigma e construção de uma nova ética que induza a participação social na
construção de novos valores, práticas, hábitos e atitudes em relação ao meio e
à responsabilização da administração pública pela adoção de políticas voltadas
para a melhoria das questões socioambientais. Para tanto o presente trabalho
foi desenvolvido a partir de uma pesquisa qualitativa sendo aplicados
questionários com questões abertas e fechadas a moradores de setores
diferentes do município, entrevista oral junto funcionários públicos ligados à
área, registro fotodocumentado, tendo como referencial teórico autores como
Calderoni (2003), Dias(2004), Luzzi (2005) e outros que discutem a
problemática. Os resultados alcançados apontam para a necessidade de se
intensificar propostas que aproximem poder público e sociedade civil com
vistas a desenvolver ações para minimizar os impactos negativos causados ao
meio ambiente, tendo como principal ferramenta a educação ambiental em
todas as suas vertentes.
227
consequentemente, a cultura brasileira - estão sendo traduzidas. Suportado
pelas proposições acerca da centralidade da cultura e da identidade cultural da
pós-modernidade (HALL, 1997; 2005), e pela teoria dos polissistemas (EVEN-
ZOHAR, 1990), este trabalho objetiva refletir sobre a importância das iniciativas
do governo federal, aliadas à publicação do referido título da Granta, para a
(nova) literatura brasileira e o papel da revista como ferramenta de autoridade
nessa dinâmica. Baseado nos fundamentos da invisibilidade do tradutor
(VENUTI, 1995), pretende-se, também, advertir sobre os diferentes métodos de
tradução - considerando-se a função que essa atividade desempenha no
reposicionamento da literatura brasileira no contexto global - e as implicações
das escolhas do tradutor em relação a aspectos culturais formadores de uma
identidade nacional.
228
Ditadura Militar bem como nos elementos ligados ao natural/nacional e como
isto colaborou para o "protesto velado" dos escritores de FC. Para tanto, utiliza-
se como base teórica M. Elizabeth Ginway, Rachel H. Ferreira e Gustavo
Ribeiro.
229
país. As especificidades do contexto diaspórico das ilhas, bem como do próprio
deslocamento da identidade multicultural da cabo-verdiana que fez parte da
luta pela independência de sua gente, aparecem como parte desta construção
de um espaço político. Em consonância com este âmbito, faz-se necessário
compreender a discussão da trajetória política de gênero ancorada na terceira
onda feminista e suas principais divergências e convergências dentro das
próprias teorias que servem de aporte para o contexto dos estudos de gênero.
Contudo, nota-se a desigualdade ainda persistente que prioriza o falocêntrico e
o patriarcal e que conduz a falta de uma presença atuante do feminino no
território político. Assim, torna-se inevitável os questionamentos que possam
fazer compreender a persistência desta falta de ações que conduzam a uma
democracia efetivamente paritária. E mesmo em face a representação
feminina, interpela-se a aproximação identitária para a perpetuação do
empoderamento por parte das que estão na condição de empoderadas e de
quem estas de fato representam. Toma-se como base teórica para realização
das discussões no campo literário e no campo feminista estudiosos e
pesquisadores como Spivak (2010); Hall (2014); Gomes (2008); Butler (2003);
Valcárcel (2012); Pinto (2010); Lugones (2014).
Palavras-chave: Feminismo. Política e empoderamento. Literatura feminina.
230
EIXO TEMÁTICO 9 – ARTES, MEDIAÇÕES E PRÁTICAS CULTURAIS
231
A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DO “FANÁTICO RELIGIOSO” EM
OBRAS DA TRADIÇÃO HISTÓRICO-LITERÁRIA BRASILEIRA
Benedita França Sipriano (UECE)
232
Resumo: A presente pesquisa trata de um trabalho interdisciplinar entre os
campos da História e da Música, tendo como objeto de estudo os registros em
partitura e os discos de 78rpm das composições de Humberto Texeira,
produzidos em gravadoras brasileiras, no período que ficou comumente
conhecido como "A Era do Rádio". Como fontes históricas, os registros do
passado musical, encontrados nos acervos do Miguel Ângelo de Azevedo e da
Biblioteca Nacional, ajudam a analisar a construção discursiva sobre o
Nordeste como uma terra ligada, sobretudo, à seca e à pobreza. As escolhas
de Fortaleza e do Rio de Janeiro como o recorte espacial da pesquisa foram
feitas pelo fato de o referido artista transitar entre essas duas capitais. O aporte
teórico utilizado na pesquisa estabelece uma discussão com os trabalhos de
HomiBhabha (em O local da Cultura), Durval Muniz (em A Invenção do
Nordeste), GárciaCanclini (em Culturas Híbridas), Martín-Barbero (em Dos
meios às mediações) e Stuart Hall (em Da diáspora: Identidades e Mediações
Culturais).
Palavras-chave: Discurso. Construção. Humberto Teixeira.
233
de análise discursiva da canção popular, fundamentado nos conceitos de
ethos, de cenas de enunciação e de interdiscurso. Esta escrita pretende
identificar as marcas do diálogo sujeito-cidade nas letras da canção cearense;
analisar a constituição do sujeito-artista a partir de suas marcas autorais
dialogadas com a cidade cantada; examinar a construção da imagem do
interlocutor-cidade-povo, a partir de elementos textuais inseridos no cantar
verbal dessas referidas criações.
234
Resumo: O Projeto Arte na escola: um projeto de leituras e releituras com
alunos da educação de jovens e adultos-EJA trabalha com uma
abordagem interdisciplinarque envolve Arte, Educação e Práticas Culturais.
Utilizamos como base teórica o autor Paulo Freire e a Abordagem Triangular,
de Ana Mae Barbosa, que tem por base um trabalho pedagógico integrador das
três facetas do conhecimento em arte: a história da Arte, o fazer artístico e a
leitura da obra de Arte. Trabalhamos a releitura como produção, por meio da
experimentação de materiais artísticos, de uma produção em que o aluno seja
o sujeito da criação, não um mero reprodutor de imagens. O projeto acontece
anualmente e, em cada ano, é contemplado um pintor brasileiro diferente. No
ano de 2014, o artista escolhido foi a pintora Tarsila do Amaral, pois a mesma é
considerada uma das mais importantes pintoras brasileiras,além de ser
reconhecida como a maior representante feminina nas artes na Semana de
Arte Moderna de 22. A atividade iniciou-se com a pesquisa sobre a vida e a
obra da referida pintora. A seguir, foi explicado aos alunos o que é releitura,
conscientizando-os de que ela não é uma simples cópia, mas um novo olhar
artístico sobre a obra. Depois, os alunos fizeram a primeira versão da releitura
em folha de papel 40kg, com uso de lápis de cores, de canetinhas e de giz de
cera. Adiante, produziram a segunda versão nas telas apropriadas, com o uso
de tinta guache e de outros materiais. O projeto foi finalizado com a exposição
no Museu da Boneca de Pano, que se localiza nas proximidades da escola.
Como resultado da aplicação do projeto, concluiu-se que os alunos se
reconhecem como sujeitos das práticas sociais, visto que a parceria da escola
com o Museu, em que os alunos expuseram as suas criações para os
visitantes (seus familiares, alunos de outras escolas, dentre outros), fez com
que eles também conhecessem e participassem de outros eventos culturais
oferecidos pela instituição.Ao fim, nota-se que os educandos passaram a ver a
arte como algo que eles têm direito ao acesso, passando a serem sujeitos mais
críticos.
235
maiores (arquitetura, pintura e escultura) e menores (todos os gêneros de
artesanato), fica claro que os estilos arquitetônicos são notáveis obras de arte.
Busca-se destacar o conhecimento a respeito das seis aglomerações
arquitetônicas que compõem o citado conjunto histórico e paisagístico
parnaibano, procurando mostrar suas características principais. Além
disso,objetiva-se apresentar a valorização de uma visão artística desse
patrimônio e a preservação efetiva do mesmo, que podem ajudar a fortalecer a
identidade da comunidade. Parte-se dessa afirmação de suas raízes,
colaborando para o desenvolvimento econômico e social da população local e
despertando, em cada indivíduo, o sentimento de que seus patrimônios
culturais lhes pertencem. Os indivíduos podem e devem valorizá-los e utilizá-
los para preservar sua história, desenvolverem-se e proporcionarem o
desenvolvimento também das gerações futuras. Dessa forma, são
apresentados, na pesquisa, conceitos a respeito do patrimônio cultural, material
e imaterial. Os dados utilizados para corroboração do estudo foram obtidos
mediante pesquisa bibliográfica e documental. Portanto, infere-se que o
município de Parnaíba é dotado de um grande patrimônio cultural material,
possuindo, ainda, um enorme valor artístico, especialmente no que se refere às
construções do conjunto histórico e paisagístico. Tais paisagens podem gerar o
fortalecimento da identidade da população local, bem como ajudar no
desenvolvimento socioeconômico da região, por meio do processo de
valorização e de preservação do patrimônio, que devem ser despertadas no
seio da comunidade.
Resumo: Na cultura brasileira, o orixá Iemanjá, para além dos muros dos
terreiros de candomblés, transbordou em direção ao mar, local em que ela é
também intensamente reverenciada por meio de festas e de rituais. Os fiéis
acreditam-se próximos de Iemanjá, ao entrarem em contato com o local da
natureza que ela habita. Na festa de Iemanjá à beira-mar, encontramos
elementos como a dança, o canto, a música, o figurino, o cenário, entre outros,
e, principalmente, a atuação fundamental do adepto das religiões afro-
brasileiras. Esses elementos relacionam e interagem um conjunto de
dinâmicas culturais que, segundo o professor Zeca Ligiéro, são denominadas
de práticas performativas (2011). Para o autor, "as práticas performativas se
referem à combinação de elementos como a dança, o canto, a música, o
figurino, o espaço, entre outros, agrupados em celebrações religiosas em
distintas manifestações do mundo afro-brasileiro." (2011, p. 107). Nas idas a
236
campo, na festa à beira-mar, no dia 2 de fevereiro, na praia de Paciência, no
litoral da cidade de Salvador/BA, buscamos pesquisar e analisar as principais
práticas performativas presentes nas celebrações e nos rituais de Iemanjá.
Partindo dessa análise, verificamos a maneira como o corpo aciona as
dinâmicas culturais e expressa significados: o que o corpo faz, como ele se
apresenta, quando executa as práticas e a forma com que ele interage com os
outros, com o espaço e com os objetos. Examinamos o corpo em ação e suas
expressões gestuais e energéticas no ato da experiência e tudo o que o
envolve. O conceito de "comportamento restaurado", apresentado por Richard
Schechner (2003), é fundamental para compreendermos como a memória de
Iemanjá é atualizada por práticas que sobressaem na praia, sendo nesse
espaço memorizada, reinterpretada e transmitida. O comportamento restaurado
ou reiterado é uma experiência concreta, pessoal, que instrui o performer
(adepto) como deve ou deveria atuar (desempenhar o seu papel). São roteiros
e ações, textos conhecidos, movimentos codificados. O corpo do performer
(aquele que realiza a ação) nas práticas performativas é fonte de resistência,
de propagação da cultura e de memória. Memória restaurada através de
expressões, atos e práticas corporais que se mostram singulares na
representação de um intérprete a outro.
237
e de Fagner aparentam, o qual pode ensejar um incômodo no ouvinte, pode ser
visto como uma transgressão, o que denota, para essa dimensão do
investimento vocal, um tom polêmico, quando comparada a outros
investimentos vocais surgidos no campo discursivo literomusical brasileiro.
Como esse tom não se separa de um caráter, tais qualidades vocais, metálica
e nasal, contribuem para que o ouvinte elabore para o fiador
um ethos questionador e agressivo, semelhante àquele já constatado por Costa
(2011) no plano verbal das canções. Tal ethos vocal participa, desse modo, da
composição de diversos temas e de tons das canções, inclusive, o
erótico/sensual.
Resumo: O presente projeto tem por finalidade realizar uma pesquisa que
busque contribuir com a formação continuada dos professores nas séries
iniciais do ensino fundamental para o ensino das artes: como os professores
(pedagogos) das séries iniciais do Ensino Fundamental podem compreender e
visualizar o ensino de música na escola, atuando sobre ele? A partir dessa
pergunta, pretendo discutir sobre o trabalho docente e o ensino de artes na
educação pública brasileira, bem como, num segundo momento, permitir aos
pedagogos a organização, a reflexão e a percepção de sua prática docente no
ensino de artes através da música. O escopo não é substituir os educadores
musicais, massim cooperar e colaborar com conhecimentos e com atitudes em
busca da melhoria da qualidade de ensino, que visa à educação integral dos
alunos das séries iniciais da educação básica. Para tanto, utilizamoso
pensamento de Duarte Jr. (2007) acerca da importância da arte na Educação e
o de Santos (2011) e Moraes (1993) sobre uma breve abordagem histórica a
respeito da inserção da Arte e da Música na escola, bem como os papéis que
desempenharam e desempenham através das práticas docentes no Brasil.
Uma vez que alguns documentos de base curricular (PCN, Arte e Diretrizes
Curriculares de Fortaleza) trazem propostas de ensino da arte e da música, é
preciso transcorrer uma discussão e, assim, proporcionar aos pedagogos, que
atuam como polivalentes, a incorporação de conhecimentos que possibilitem
e/ou os auxiliem o trabalho com música na escola. A observação participante
será uma estratégia empregada como procedimento metodológico, com o uso
de diários de campo, de videogravações e de fotografias como recursos para o
registro dos respectivos dados obtidos em campo.
238
Palavras-chave: Educação. Currículo. Ensino de Música.
Resumo: Este trabalho teve o objetivo de fazer uma análise da canção Tributo
a Martin Luther King, interpretada pela cantora Elza Soares. No que se refere
aos fins metodológicos, utilizamos como critérios para a escolha dessa canção,
em vez de outra, o fato de ela apresentar uma maior diversidade de elementos
textuais referentes à historicidade do povo negro. Além disso, a canção em
foco faz referência ao ativista político estadunidense, um dos mais importantes
líderes do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos e no
mundo, Martin Luther King. Para a análise, levamos em consideração os
estudos discursivos da linguagem, tomando como recurso analítico categorias
provenientes da Análise do Discurso, em especial dos estudos realizados por
Maingueneau (2004, 2008), que define posicionamento como sendo o
correspondente à posição que um locutor ocupa em um campo de discussão e
os valores que esse defende (consciente ou inconscientemente). O trabalho
também busca investigar a representação identitária do negro no âmbito da
canção mencionada, analisando qual seria, no interior desse objeto lítero-
musical, o posicionamento discursivo assumido pelo negro. Para realizar esse
estudo, utilizamo-nos das categorias de posicionamento, que diz respeito à
instauração e à conservação de uma identidade enunciativa, e
de cenografia, frequentemente empregada em concorrência com a situação da
comunicação, mas que também se relaciona à dimensão construtiva do
discurso, que se "coloca em cena", instaurando seu próprio espaço da
enunciação. Com a pesquisa, foi possível concluir que, conforme afirma
Maingueneau, o posicionamento implica numa tomada de posição que define a
identidade do sujeito, sendo, para além disso, uma categoria referente à
instauração e à conservação de uma identidade enunciativa.
239
Para tanto, escolhe como objeto, para reflexão teórica, o movimento cultural do
funk ostentação, objetivando entendê-lo na sua qualidade, também, de produto
cultural midiático, sem deixar de desvelar os sentidos que a teia midiática lhe
impinge. Desse modo, elege, como aporte metodológico, levantamentos
documentais e bibliográficos. Em um primeiro momento, traça um panorama do
funk ostentação na região paulista, enfatizando seu lugar como movimento
cultural. Para isso, articula pesquisas documentais com as reflexões dos
autores Vianna (1998) e Essinger (2005). Além disso, propõe uma reflexão
acerca do campo da comunicação, a partir de autores como Martín-Barbero
(2004), Orozco Gomez (2011), Baccega (2001) e Lopes (2010). Em um
segundo momento, busca entender como o movimento cultural do funk
ostentação relaciona-se com o campo da comunicação e com as práticas de
consumo. Nesse sentido, destaca o funk ostentação na cultura da mídia a partir
dos autores Kellner (2001) e Silverstone (2011), além de refletir sobre esse
produto cultural midiático cujo consumo enseja determinadas práticas e cujas
composições, por outro lado, despertam reflexões acerca do próprio consumo.
Para refletir sobre consumo, mobiliza autores como Miller (2013), Canclini
(2008), Slater (2008), McCracken (1990), Douglas &Isherwood (2013) e Rocha
(2005), entre outros. Por fim, a partir de Hall (2013), Serres (1997), Baccega
(2008) e Melo Rocha (2008), busca entender de que modo o funk ostentação
marca os processos identitários nos apreciadores de funk (os chamados
funkeiros).
Resumo: Este trabalho tem por objetivo principal analisar algumas canções de
Congado, como manifestação religiosa de matriz africana, e, a partir das
teorias de performatividade de Austin (1998), analisar como essas canções são
tecidas como identidade no fio da diáspora africana. A partir disso, buscamos
fazer levantamento de material bibliográfico sobre identidade negra no
Congado e observar como a linguagem presente em canções, como "AbáCuna
Zambi Pala Oso", dentre outros cânticos entoadas em seus festejos religiosos,
podem afirmar essas identidades. Há também a retomada da temática africana,
que, mesmo com grandes pesquisas, é invisibilizada no Brasil e na Academia.
Para essa apresentação, utilizamos, como referencial teórico, as reflexões no
campo da Pragmática, por meio dos conceitos de Performatividade (AUSTIN,
1998), e os estudos culturais e identitários na pós-modernidade de Hall (2010).
Portanto, os resultados das discussões teóricas exibidas nos ajudam a
240
entender os cânticos entoados no Congado, que acabam por performatizar,
restabelecer e ressignificar a memória do povo africano trazido ao Brasil, o que
se pode observar em versos e em tambores das canções do Congado.
241
Suiany Tereza De Freitas Paiva (UECE)
Ticiane Rodrigues Nunes (UECE)
242
humano e, enquanto elemento constitutivo do patrimônio cultural, deve ser
compreendida como uma das maneiras pelas quais os indivíduos dimensionam
sua relação com o mundo. A partir disso, verifica-se a necessidade de buscar
formas de preservar, de valorizar e de difundir esse patrimônio em âmbito local,
nacional e internacional, como estratégia para o aumento de seu prestígio
social. Os procedimentos teórico-metodológicos dão-se através da
fundamentação teórica proposta por Vicente Salles (2004), que trabalha com
cultura negra ou a resistência do negro do quilombo, apontando
representações populares brasileiras. Paul Zumthor (1993)indica a dimensão
da historicidade de uma dada voz, isto é, seu uso por um determinado grupo, e
Abreu (2007) esclarece que saberes, celebrações, lugares e formas de
expressão, musicais e festivas, dos diferentes grupos formadores da sociedade
brasileira, especialmente os afrodescendentes, passam a receber o título de
patrimônio brasileiro.
243
(2013), no que refere à necessidade do exercício do sensível na formação.
Buscando discutir, analisar, comparar e construir experiências sensíveis,
destinadas a provocar e a instigar a construção de saberes de modo
interdisciplinar, o programa do componente foi estruturado coletivamente. A
princípio, elegeu-se um tema considerado estruturante, capaz de transpassar
os limites das áreas de estudo. A escolha foi Território. Entendeu-se que, a
partir dessa temática, dialogada com a arte e com os exercícios de
sensibilidade, podem ser desenvolvidos trabalhos nas cinco grandes áreas nas
quais a Universidade atua.
244
desenvolvem e contribuem para a interpretação, o reconhecimento e a
construção de representações do mundo real. No caso específico da tradução,
a representação do mundo do "Outro". Avançando na reflexão sobre cultura e
formação de identidades, Stuart Hall figura como um de seus mais eminentes
estudiosos. O autor define identidade como ponto de encontro, de sutura, no
qual os discursos que convocam o sujeito para assumir um lugar na sociedade
se unem aos processos que produzem subjetividades que tornam esse sujeito
reconhecível (HALL, 2000, p. 112). Como nossa pesquisa trata justamente da
formação de identidades culturais por meio da representação que se faz delas
na imagem e no texto, a noção de ponto de sutura entre o discurso e os
processos de reconhecimento das identidades é fundamental.
245
envolvidas nesse processo, pois a tradução é uma intervenção e possibilita
deslocamentos identitários e culturais.
246
carnavalescamente, parodiando certos aspectos constitutivos delas, como é o
caso da imagem das personagens femininas.
247
destacar traços formais, estilísticos e de conteúdo que possam corroborar uma
preocupação consciente ou não deste cineasta africano com o chamado
"cinema de autor". O trabalho parte de uma revisão teórica da "ideia de
autoria", tal como foi transposta pelas instâncias da crítica cultural e
cinematográfica e por alguns estudiosos no campo dos cinemas africanos,
para, em seguida, examinar os modos como ela é assumida, negociada, e
afirmada na obra de alguns cineastas, à exemplo do guineense Flora Gomes.
Palavras-chave: Cinemas africanos. Teoria autora. Flora Gomes.
248
EIXO TEMÁTICO 10 – PROCESSOS DE FORMAÇÃO E ENSINO
249
Port (2012) e Português Teláris (2012), todos aprovados pelo PNLD. Estas são
as coleções que servirão como corpora do referido trabalho. Pretendemos
verificar se essa classe gramatical, quando descrita nos livros didáticos,
abordam aspectos enunciativos, ou se apenas ficam na descrição normativa da
gramática. Esta pesquisa é parte de um grupo de pesquisa realizado na
Universidade Federal do Piauí que apenas está em fase de iniciação, estamos
ainda na coleta de dados nos materiais didáticos dos pronomes demonstrativos
presentes nessa corpora, que busca articular descrição gramatical e ensino, e
de que forma este está sendo praticado de acordo com os moldes
enunciativos. Tal estudo tem cunho bibliográfico, pois as informações que
sustentarão as análises serão retiradas de Manuais de Linguística e de
Gramáticas Descritivas e busca responder à seguinte questão: os livros
didáticos analisados contemplam aspectos descritivos ou se limitam à
descrição normativa. Portanto, usaremos como referencial teórico gramáticas e
teorias que abordam tal conteúdo tais como, Neves (2002) e Mateus et al
(2003), Ataliba de Castilho (2003), Antunes (2010) dentre outras. A hipótese a
ser testada é a de que os livros didáticos não contemplam os aspectos
enunciativos de forma adequada, fazendo uma abordagem metalinguística; e
outra hipótese é que os pronomes demonstrativos são descritos fora dos usos
vivos da língua portuguesa, ou seja, não se dá um enfoque aos pronomes
numa abordagem que os coloque em situações reais de comunicação o que
não é interessante ao aluno do ensino fundamental que precisa destes
conceitos.
Resumo: Este trabalho tem como objetivo apresentar uma breve análise de
textos publicitários produzidos em sala de aula a partir de abordagens
pedagógicas de gênero distintas, por dois grupos de discentes, focalizando a
seguinte questão: em que medida as abordagens pedagógicas adotadas
influenciam na produção final desse gênero textual? Este estudo fundamentou-
se nas múltiplas abordagens pedagógicas de ensino e gênero, especificamente
nas abordagens implícitas e explícitas de gênero, desenvolvidas por teóricos
como Bazerman, Freedman, Macken-Horarik e Desiréé Motta-Roth. Para tanto,
foram escolhidas duas turmas do 8º ano do Ensino Fundamental de uma
escola pública federal do Estado de Pernambuco. Na primeira turma, que
chamaremos de Grupo A, foi adotada a pedagogia explícita de gênero,
recebendo informações acerca das características do gênero textual a ser
produzido em sala; enquanto no Grupo B, aplicou-se a metodologia implícita de
250
gêneros em que os alunos produziram a peça publicitária sem nenhuma
recomendação prévia. Desta feita, percebemos a importância do docente
conhecer previamente as múltiplas abordagens pedagógicas de gêneros, para
identificar e escolher o melhor método a ser utilizado, a fim desenvolver as
competências discursivas dos discentes acerca de como os gêneros se
relacionam nas diversas situações de comunicação.
251
Palavras-chave: Prática reflexiva. Formação docente em exercício. Práticas
pedagógicas.
252
David da Silva Pereira (UTFPR)
Silvana Dias Cardoso Pereira (ALLE – FE/UNICAMP)
Jackeline Lidiane de Souza Prais (UTFPR)
253
Resumo: Procurar compreender os mecanismos de um dado gênero do
discurso é também movimentar-se na direção da compreensão das relações
sociais associadas ao uso desse gênero. Entretanto, as questões relacionadas
aos mecanismos de estruturação e às diversas manifestações dos gêneros do
discurso são complexas. Em função dessa complexidade, diversas pesquisas
vêm sendo desenvolvidas desde a década de 1980. Observamos, porém, que
ainda não existe um número significativo de pesquisas sobre a relação entre as
escolhas léxico-gramaticais e a tipificação dos gêneros do discurso.
Consideramos, pois, oportuno que observemos essas escolhas e a maneira
como estão relacionadas à organização das diversas unidades que compõem o
texto. Uma análise de gêneros do discurso fundamentada em pressupostos da
Gramática Sistêmico-Funcional parece-nos o caminho a ser trilhado em direção
à caracterização de textos de modo a vinculá-los a determinado gênero. Tendo
em vista esse contexto teórico, pretendemos responder à seguinte pergunta: de
que maneira os elementos da metafunção interpessoal podem ser elementos
caracterizadores do gênero artigo científico? Assim, esta pesquisa teve como
objetivo construir reflexões acerca da metafunção interpessoal (HALLIDAY,
1994) no gênero artigo acadêmico. Para tanto, realizamos a análise integral de
um exemplar de artigo acadêmico da cultura disciplinar da área de Linguística,
relacionando a configuração retórica recorrente do gênero e a escolha de
recursos léxico-gramaticais vinculados à metafunção interpessoal. Os
resultados apontam para um olhar sobre como autores(as) podem construir seu
posicionamento e suas interações em um exemplar típico do gênero na área
em questão. A abordagem teórico-metodológica figura ao lado de outras
pesquisas que são desenvolvidas à luz do projeto maior “Práticas Discursivas
de Comunidades Disciplinares Acadêmicas”, coordenado pela Prof.ª Dr.ª Cibele
Gadelha Bernardino, na Universidade Estadual do Ceará.
254
implementação da lei nas escolas. A Secretaria da Educação do Ceará -
SEDUC - realizou nos anos de 2013 e 2014 duas edições da "Formação em
História e Cultura Afro indígena Cearense", com encontros presenciais e
acompanhamento por meio de plataforma virtual. A proposta dessa formação
continuada está pautada na ação conjunta da SEDUC com a sociedade civil
organizada, em especial, o Movimento Negro e Indígena representado pelas
Comunidades Tradicionais de Terreiros e Povos Originários. Abordaremos
nesse trabalho as atividades, experiências e resultados dessas formações,
observando os reflexos na prática pedagógica dos professores cursistas e no
cotidiano das escolas nas quais eles trabalham, além de analisar as estratégias
desenvolvidas em busca de gerar os professor a assumir uma postura
autorreflexiva sobre sua prática pedagógica. A metodologia empregada nesse
estudo consiste em compreender qualitativa e quantitativamente os dados
registrados na plataforma virtual do curso, nas enquetes aplicadas aos
professores cursistas e na observação dos encontros presenciais. A análise
dos dados forneceu um panorama dos avanços, das conquistas e dos desafios
da inserção desses saberes no currículo e no cotidiano escolar. Por fim,
constatou-se a necessidade premente de que a escola seja um ambiente de
qualificação do trabalho docente, sendo assim um o espaço de formação
continuada, articulando-se com o movimento social de matrizes africanas e
indígenas, propiciando abertura no espaço escolar para que esses sujeitos
detentores dos saberes tradicionais contribuam com a escola, dando-lhes
condições de participação efetiva na agenda da escola, democratizando
espaços e o saber escolar, e combatendo os próprios medos e preconceitos
travestidos de moralidade ou pudor.
255
(2006). Os dados analisados foram coletados através de questionário aplicado
antes da aula em que houve um debate acerca de questões de gênero e
sexualidade e também de produção textual dos discentes após o debate. Além
do questionário e das produções, seguindo os princípios da pesquisa
etnográfica, a experiência vivenciada pelo professor estagiário, assim como as
interações observadas por ele, serviram, se não como corpus, como suporte
que balizaram as análises realizadas, traçando uma ponte entre teoria e
prática. Durante a apresentação da análise, os pontos expostos serão
observados pelo prisma da linguística aplicada crítica (RAJAGOPALAN, 2009)
e indisciplinar (MOITA LOPES, 2006). Por fim, a partir dessa experiência
individual, será proposta uma intervenção de ordem prática a fim de tornar os
alunos, ao mesmo tempo, capazes de expor suas opiniões de maneira mais
formal e respeitosa, características do gênero já citado, e também capazes de
ouvir o discurso do Outro de uma forma mais reflexiva.
256
argumentação, em uma atividade prática, em um gênero essencialmente
argumentativo. O registro das falas dos debatedores permite-nos afirmar que,
embora a argumentação esteja presente em todos os campos das relações
humanas, a utilização de técnicas para aprimorar a argumentatividade deve ser
função da escola, a quem cabe criar condições para que o aluno aprenda
efetivamente a defender seu ponto de vista, o que implicará a melhoria da
escrita, da leitura e da oralidade.
257
A IDENTIDADE DOCENTE: DIMENSÕES DE SUA CONSTITUIÇÃO
Luciana De Sousa Santos (UECE)
José Ernandi Mendes (UECE)
258
Resumo: Esta comunicação tem como objetivo apresentar alguns resultados
de pesquisa de mestrado concluída em 2013 no Programa de Pós-Graduação
de Letras (UFPA). Propõe-se investigar a maneira como se configura a autoria
em materiais didáticos de Língua Portuguesa produzidos por graduandos de
Letras. A fundamentação teórica para a leitura e análise dos dados se deu a
partir das noções - no campo do discurso - de autoria (FOUCAULT, 2006a;
2006b; BARTHES, 1984; POSSENTI, 2002; entre outros), subjetividade
(Pêcheux, 2010; Bakhtin, 1997; Authier-Revuz, 1990; 2004; entre outros),
escrita (Nasio, 1993; Geraldi, 1997; Riolfi, 2003; 2008). Esta pesquisa teve uma
abordagem qualitativa, já que foi de caráter descritivo/interpretativista, com a
coleta do corpus em dois contextos: (i) na disciplina Recursos Tecnológicos no
Ensino do Português (1º semestre de 2011), como professor e (ii) na
disciplina Estágio no Ensino Fundamental (1º semestre de 2012), como
observador das aulas ministradas pelo professor da disciplina. Nesses dois
momentos, houve registro e documentação dos materiais para ensino de língua
elaborados pelos graduandos. Analisamos a maneira como se deu o
gerenciamento das vozes, a constituição da subjetividade e por fim os indícios
de autoria presentes nos materiais escritos. Os resultados mostram certa
dificuldade dos graduandos em gerenciar as vozes (i) das orientações teórico-
metodológicas da área, (ii) do material linguístico-discursivo objeto de ensino e
(iii) do suposto aluno alvo da atividade para que consigam de forma original
serem autores de seus exercícios, e não serem meros consumidores de teorias
e de materiais didáticos prontos para serem aplicados em sala de aula.
259
adquirida pelo educando, é um processo que está a serviço do ensino e da
aprendizagem, possibilitando a construção de aprendizagens significativas e
um pensar crítico reflexivo. O percurso metodológico consistiu em revisão
bibliográfica com consistente fundamentação teórica, que nos fornecesse
aparato teórico para discutirmos sobre o tema abordado. Para tanto,
recorremos a Luckesi (2003), Hoffmann (1998), Vianna (2005), e Romão
(2011). Nessa discussão é perceptível que a atividade educativa em questão, é
um instrumento de emancipação que propicia a apropriação dos saberes de
forma reflexiva. Portanto faz-se necessário rompermos com a perspectiva
positivista de avaliação, buscando um fazer pedagógico avaliativo pautado na
dialética. Enquanto que a dialética baseada numa abordagem progressista de
educação, considera todo o processo, valorizando o sucesso e o insucesso,
reconhecendo as peculiaridades do indivíduo, proporcionando a busca de
mudanças por parte dos sujeitos envolvidos no processo. Diante do exposto, é
salutar considerarmos o ato de avaliar como um trabalho pedagógico dinâmico
e sistemático, construído através de uma ação conjunta entre educador e
educando, em que ambos precisam impreterivelmente percebê-la como uma
prática conjunta que possibilita subsídios para diagnosticarmos as habilidades
e fragilidades que circundam o processo.
260
trabalho em sala de aula, levar o grupo a perceber a mais valia de um trabalho
construído, refletido e implementado em equipe e conscientizá-las sobre os
seus papéis de agente letrador Bortoni-Ricardo (2010). Dessa prática
formadora em curso, desde março de 2015, algumas estratégias de trabalho
foram planejadas e elaboradas, adotando-se para tal fim a proposta de Dolz,
Noverraz e Schneuwly (2004). Constituindo-se nosso principal objetivo: dar a
conhecer essa prática formadora, bem como os primeiros resultados dessa
ação de formação, destacando os conhecimentos teórico-metodológicos
adquiridos e vivenciados e os reflexos desses no âmbito do fazer pedagógico
das professoras.
261
Palavras-chave: Linguagem. Interacionismo Sociodiscursivo. Representações.
Resumo: Este trabalho visa apresentar os resultados obtidos por meio das
análises preliminares dos Projetos Político Pedagógicos (PPPs) dos cursos de
licenciatura da UFOP e dos PPPs de escolas públicas da região de Mariana e
Ouro Preto. Para a análise dos cursos selecionamos os PPPs de Matemática,
Artes Cênicas, Educação Física, Pedagogia, Letras, História e Ciências
Biológicas por ilustrarem, de formas diferenciadas, a presença ou não de
temáticas afro-brasileiras. Já para a análise dos PPPs das escolas
selecionamos a Escola Estadual Dom Oscar, a Escola Estadual Santa Godoy e
a Escola Municipal Wilson Pimenta por serem instituições de ensino que se
localizam em pólos distintos na cidade de Mariana. Um dos principais objetivos
é analisar os PPPs dos cursos e escolas citados acima a fim de observar neste
corpus alguma referência à pluralidade afro-cultural do estado de Minas Gerais.
A análise linguística dos PPPs e grades curriculares está sendo empreendida a
partir do aparato teórico sobre Linguagem e Identidades, dentro do campo da
Lingüística Aplicada e dos estudos sobre performatividade austinianos. A
análise dos PPPs das licenciaturas se fundamentou na perspectiva de que os
futuros professores precisam reconhecer a heterogeneidade cultural e
identitária de seus estudantes sem homogeneizá-las. Já a análise dos PPPs
das escolas públicas representa a relação que estas têm com a própria região
em que se encontram, uma vez que se localizam na região dos "Inconfidentes"
e, fortemente marcada pelo patrimônio de uma população de origem afro-
descendente. Constatamos por meio da pesquisa que quando os PPPs deixam
de abordar a diversidade cultural como fundamental para a formação de um
profissional ou de um aluno, deixam também de abrir as portas para o tema
das africanidades e das relações étnico-raciais. Se levamos em consideração
que a região é predominantemente negra, isso se torna mais preocupante e a
implementação da lei 10.639/03 mais urgente.
262
hegemônico neoliberal, na verdade, dependem de uma modificação substancial
dos currículos vigentes. Por esse motivo, este trabalho tem como objetivo
refletir sobre a construção de um currículo multicultural para o
ensino/aprendizagem de espanhol com língua estrangeira no Colégio Pedro
II/RJ. Visa, também, elaboração de práticas pedagógicas orientadas por uma
postura crítica, política e comprometida que contribuam para a (re)construção
das identidades desses alunos por meio da interação entre culturas e o
questionamento das identidades hegemônicas. Baseamos nossa investigação
nas Teorias Socioconstrucionistas do Discurso e das Identidades, campos nos
quais se destacam, dentre outros, os trabalhos de Moita Lopes (1996, 2003,
2005) que nos auxiliam na compreensão da linguagem como discurso
construído socialmente e da relevância deste para construção das identidades
e, ainda, na compreensão de discurso como prática social relacionando-o com
conceitos como os de poder, ideologia e hegemonia (cf. Fairclough, 2001). No
que se refere ao aporte teórico Intercultural, utilizamos os estudos de Mendes
(2004 e 2007) e Byram (2000 e 2002) que contribuem para a conceituação e a
reflexão sobre "interculturalismo". Valemo-nos, também, dos estudos
contemporâneos sobre construção e questionamento de identidades. (cf. Hall,
2000, 2009 e Silva, 2009). A experiência desenvolvida na sala de aula buscou
desconstruir o caráter homogeneizador e monocultural, muito presente no
ambiente escolar e, por meio de leituras de textos de diversas realidades
culturais e do contato com o diferente, construímos em sala de aula práticas
pedagógicas interculturais e, consequentemente, contribuímos para a
(re)construção das identidades tanto dos estudantes quanto da professora.
263
como uma atividade interativa (BAKHTIN, 2011), como um modo de
ação/performance (BUTLER, 2014), porque ao interagirem, os sujeitos
constroem índices linguísticos de posicionamento ideológico que permitem o
confronto com outras vozes e a construção de identidades sociais. Para essa
compreensão, foram bastante significativas as contribuições de estudos como
os de Bakhtin (2010), Butler (2014), Hall (2014), Louro (2013), Moita Lopes
(2003). Por entendermos que a compreensão dos significados não se limita a
aspectos estritamente linguísticos, buscamos auxílio no campo dos estudos em
Linguística Aplicada, visto que o modo como esse tem se configurado
atualmente (de forma indisciplinar, transdisciplinar), tem possibilitado a
articulação de diversas teorizações, no sentido de criar inteligibilidade sobre
problemas sociais nos quais a linguagem tem papel decisivo (MOITA LOPES,
2006). Nesse sentido, a análise das questões de exercícios apontou para a
construção de uma visão essencializada das feminilidades em que
características como doçura, beleza, fragilidade estariam ligadas à morfologia
das mulheres. Além disso, foi constante uma visão dicotômica das relações de
gênero social.
264
decorrente da agenda politica neoliberal, denominado protagonismo docente,
considerando os impactos dessas iniciativas na identidade do professor. A
reflexão sobre os dados coletados, a luz do exame bibliográfico e do estudo de
caso, nos levou a considerar que os professores ainda concebem as formações
do Projeto Professor Aprendiz como algo descontextualizado de sua prática e
pouco identificam elementos que favoreçam o seu desenvolvimento
profissional. No entanto, a estratégia de formação entre pares, tendo a escola
como locus de formação, continua sendo apontada como a melhor sistemática
de formação e a que mais propicia o desenvolvimento da identidade e da
profissionalização docente. Pode-se intuir, portanto, que, o Projeto Professor
Aprendiz, apesar de se estruturar numa ação de formação ancorada no
protagonismo docente, apresenta fragilidades estruturais que impedem a
promoção de mudanças significativas nos saberes, aperfeiçoamento
profissional e na transformação das estruturas sociais vigentes, fragmentando
ainda mais a identidade do professor.
265
pedagógicas críticas e fazer reflexões mais sistemáticas sobre tais práticas
como meio de enfrentamento a documentos silenciadores. Como base
metodológica desta análise, lançamos mão de encaminhamentos de
regularidades em categorias de análise de registro em Análise de Discurso, o
que nos permite estudar o funcionamento discursivo presente no contexto de
produção dos documentos (Santos et al 2004). Estudos dessa natureza
culminam no cumprimento de um dos objetivos da Linguística Aplicada Crítica,
como esclarece Pennycook (2001), a saber, primar pelo engajamento em
questões de poder e desigualdade, pela compreensão histórica das relações
sociais e refletir sobre aquilo que é visto como dado, normal e natural.
266
Palavras-chave: Formação Docente Continuada. Discursos. Identidades.
267
Palavras-chave: Surdos(as). Inclusão Escolar. Professores(as) de Matemática.
Resumo: Nos últimos anos, a discussão sobre a docência passou a ser tema
de interesse nas pesquisas e análises em diversas áreas das ciências
humanas e sociais. Porém, quando trazemos esse debate para o campo das
ciências exatas, em especial da Física, poucos registros são encontrados na
literatura. De acordo com estudos recentes (KUSSUDA, 2012; LEME, 2012), há
um número crescente de professores que abandonam a Educação Básica e
isso coloca em questão a capacidade de atração da sala de aula atual. Estas
mesmas pesquisas, indicam que esses altos índices de desistência estão
relacionados a fatores como: baixos salários, insatisfação no trabalho e
desprestígio profissional. É importante salientar, que tais dados emergem em
paralelo às políticas de incentivo desenvolvidas pelo Ministério da Educação -
MEC, para despertar o interesse dos/as estudantes para atuarem em salas de
aula no ensino básico como, por exemplo, o programa PIBID - Programa de
Iniciação a Docência. Este trabalho apresenta um estudo sobre os discursos a
respeito da docência, produzidos por discentes de um Curso de Licenciatura
em Física, no Agreste Pernambucano. A noção de discurso que adotamos é
aquela proposta pela Teoria do Discurso de Laclau e Mouffe (2001), um
sistema específico de significados e práticas das sociedades, constituintes das
identidades dos sujeitos e objetos, que são construídos ao longo de suas
histórias. O discurso não se restringe à fala ou escritos, é um conjunto de
vários elementos fundamentais que se intercruzam como em um jogo.
Fundamentamo-nos numa abordagem qualitativa da pesquisa em educação. O
corpus foi constituído por transcrições de entrevistas do tipo semiestruturada,
com dez estudantes que fizeram parte do PIBID em Física no campus da
UFPE, em Caruaru. De acordo com Ludke e André (1986) a entrevista do tipo
semiestruturada se dá a partir de um roteiro básico de perguntas, porém não
aplicado rigidamente. Todas as entrevistas foram registradas com o auxílio de
MP3 e transcritas a partir das recomendações de Marcushi (2003). Ao
analisarmos os discursos dos/as estudantes sobre a docência, percebemos
que embora vários/as tenham optado pela licenciatura, a maioria deles/as
nunca pensou em exercer a função de professor/a e ingressou no curso devido
à facilidade de deslocamento entre seus municípios e a instituição de ensino, a
oportunidade de ter um diploma de nível superior e com isso conseguirem
melhores salários e oportunidades de emprego. A maioria afirmou que após se
formar, pretendem abandonar a profissão docente no ensino básico e migrar
268
para áreas das engenharias, física pura, física médica ou a docência no ensino
superior. Os/as mesmos/as percebem a importância do papel social do/a
professor/a, no processo de mediação do conhecimento, porém relatam que,
atualmente, não há condições apropriadas de trabalho para ser docente do
ensino básico, pois existe uma grande desvalorização por parte dos órgãos
oficiais da educação e da sociedade.
269
Palavras-chave: Educação de Jovens e Adultos. Prática Pedagógica.
Recursos Tecnológicos.
270
Francisco Ricardo Miranda Pinto (SEDUC)
Jefrei Almeida Rocha (SEDUC)
Rosendo Fritas de Amorim (UNIFOR)
271
aprendê-la estudando apenas por meio de atividades de sala de aula.
Considerando esta perspectiva, a pesquisa em questão expõe uma análise da
participação ativa do professor em seu processo de formação nas aulas e
atividades propostas pelos professores formadores do curso nas disciplinas
referentes à LE/LI e seu (des)empenho na realização e no estudo da língua de
forma autônoma. O estudo tem caráter qualitativo/interpretativista, seguindo
referências de Moita Lopes (1994), que considera a pesquisa desta natureza
mais apropriada para estudos na área da Linguística Aplicada por enriquecer o
trabalho devido ao fato de que ela permite a revelação de conhecimento de
naturezas diversas por conta de seu enfoque inovador, e Flick (2009), para o
qual a pesquisa qualitativa/interpretativista proporciona a oportunidade de
escolha de diferentes métodos e teorias de acordo com o que for conveniente
e, ainda, pela possibilidade de analisar o objeto por diversas perspectivas. Para
analisar os níveis de autonomia exercidos pelo professor durante o processo
de formação, apóio-me em discussões de Cruz e Lima (2009), Little (1991),
Santos (2006) e Leffa (2003) acerca do que seria autonomia no contexto
educacional, chegando, enfim, à conclusão de que o professor em formação
teve grande capacidade de se comportar de maneira autônoma, colaborando
com sua própria aprendizagem.
272
híbrido (Kalantzis & Cope, 2012). Alinhadas a essa perspectiva, ancoro-me nas
teorias críticas para a adaptação e produção de materiais didáticos propostas
por Kullman (2012) e Tomlinson & Masuhara (2012). Dessa forma, busco, por
meio da produção desses materiais, promover práticas críticas e reflexivas de
usos da língua inglesa na contemporaneidade e, especificamente, no contexto
do mercado de trabalho do turismo na cidade do Rio de Janeiro, e, sobretudo,
defendo uma formação profissional e cidadã que possa atender às demandas
de uma sociedade cada vez mais plural e híbrida.
273
séries anteriores. Por sua vez, a formação continuada não tem dado conta de
atender aos anseios e desafios desta etapa de ensino, pela pouca efetividade
das políticas públicas, tanto a nível federal, estadual quanto municipal.
274
social para refletir e se posicionar frente a este e demais problemas sociais
abordados nas aulas.
275
Charlene S. M. Meneses de Paula (UFG)
276
prática docente. É relevante salientar que os sujeitos envolvidos no processo
de formação inicial carregam visões de mundo, influenciados pelo contexto
histórico, social e econômico em que se inserem. Tais visões produzem
"discursos" que representam o processo de constituição do ser professor.
Como suporte teórico desse estudo, elegemos entre outros, a perspectiva de
discurso institucional de Foucault (1986) para compreender como o licenciando
se enuncia não só perante a universidade, mas também em relação à outras
instituições que afetam seu processo de profissionalização docente. Assim, os
discursos produzidos evidenciam a crise de identidade da sociedade pós-
moderna citada por Hall (1987) ocasionada pelo descentramento da posição do
sujeito. Constantes rupturas são recorrentes em uma realidade onde o
significado de um discurso é instável e constantemente influenciado pela
diferença conforme cita Derrida (1981). A fim de perceber uma situação com
base no discurso dos licenciandos em Letras, além do levantamento
bibliográfico, utilizamos a técnica de entrevistas semiestruturadas para obter a
geração de problematizações aprofundadas. Os grupos de alunos escolhidos
para a investigação são os bolsistas de dois programas de extensão em língua
inglesa. Atualmente a pesquisa encontra-se em fase de leitura e análise das
informações coletadas. Os dados já mostram que a maioria dos alunos que
ministram aulas de língua inglesa nos programas citados não ingressou no
Curso com o objetivo de ser docente, mas pela vontade de aprimorar seus
estudos na habilitação estrangeira; que a escolha de ser professor se deu a
partir do 5° período por uma possibilidade de maturação pessoal e profissional,
que fazem pouca conexão com o que estudaram na academia com o que
encontraram na prática de sala de aula e que as identidades construídas estão
diretamente ligadas à interpretação social da profissão docente.
277
sociocognitiva da Análise Crítica do Discurso (ACD); na Linguística textual (LT);
e nas propostas relativas ao ELP e aos sentidos e categorizações do humor. A
metodologia utilizada é teórico-analítica e aplicada ao ensino. Os resultados
obtidos são parciais e, com base na crônica Natal, de Luis Fernando Verissimo,
indicam que: a) efeitos de humor construídos, por meio da seleção e
organização vocabular e da exposição de situações inusitadas, podem conduzir
à mudança de emoção nos interlocutores; b) mediante a alternância de papéis
sociais, as personagens, na crônica, ora são observadores ora alvos da
observação, propiciando estratégias humorísticas; e c) interdiscursos
recorrentes na crônica contribuem com ensino multidisciplinar em aulas de
PLE. Nesse sentido, o ensino intermediado pelo gênero crônica, conforme as
condições criadas pelo professor, pode auxiliar o aluno estrangeiro na
apreensão da língua-cultural alvo - estabelecendo-se um diálogo com a sua
língua-cultura materna - bem como no desenvolvimento das habilidades
necessárias para a comunicação dentro e fora do âmbito escolar.
278
bibliográfica, com revisão de literatura baseada em alguns autores, dentre
eles: PLACCO E ALMEIDA (2010), VASCONCELLOS (2007), TARDIFF
(2007), etc. e de pesquisa virtual, utilizando-se de alguns sites da internet, com
a leitura de artigos na área pesquisada.
279
em encontros organizados e desenvolvidos na forma de grupo focal. Para a
seleção dos alunos houve a colaboração dos professores de Língua
Portuguesa com a realização de atividades diagnósticas. A análise dos dados
possibilitou verificar: o percurso escolar dos participantes, as ocorrências
escolares, a relação com a leitura e a escrita, a visão que os alunos possuem
da escola, sentimentos e estratégias para permanecerem no ambiente escolar
sem dominar a leitura e a escrita. Os resultados indicaram que, mesmo
reconhecendo o papel e a importância social da escola como responsável por
seu processo de escolarização e inserção social, os alunos se mostraram
desestimulados com a escola e não atribuem sentido a ela em suas vidas,
anunciando possível evasão da instituição. Permanecem na escola utilizando
estratégias de indisciplina ou de invisibilidade na sala de aula. Esse estudo é
finalizado com a apresentação de uma intervenção pedagógica no campo da
leitura e da escrita, a ser desenvolvida a partir do resgate da autovalorização
do aluno e da formação de sua identidade (pessoa e estudante), de modo que
perceba sua capacidade para construir conhecimentos, reconhecendo-se como
ser constituído de saberes e valores. Portanto, a superação das dificuldades de
leitura e escrita o estimulará a (re) construir o sentimento de pertencimento ao
ambiente escolar, gerando novas perspectivas de vida.
280
concepção de educação como prática política e das relações étnico-raciais
tendo como referência os estudos de Barth (2011), Demo (1992), Munanga
(2000/ 2005), Silva (2000). Os resultados parciais evidenciam que o processo
de inserção dessas professoras no ODEERE foi um diferencial para que as
intercessões direcionassem novos olhares e posturas capazes de interferir
diretamente no contexto educacional, especialmente no que tange à etnicidade.
281
RELATO DE EXPERIÊNCIA DOCENTE PARA O LETRAMENTO CRÍTICO-
LITERÁRIO DE ALUNOS DE LÍNGUA ESPANHOLA: UMA ANÁLISE DA
OBRA EL TÚNEL, DE ERNESTO SABATO
Michelle Soares Pinheiro (UECE)
282
Resumo: Esta comunicação tem por finalidade analisar os interdiscursos de
formação e ensino de Língua Portuguesa delimitados em crônicas jornalísticas
recorrentes nos livros didáticos: Português: língua e cultura e Português:
linguagens, adotados para estudantes da rede pública de ensino médio, no
triênio 2015/2016 e 2017. A escolha por essas coletâneas se deu em virtude de
estar entre as 10 (dez) aprovadas pelo Programa Nacional do Livro Didático -
PNLD/2015, para utilização na rede pública de ensino. Nesse sentido, os
aportes teóricos são fundamentados nas concepções da Linguística Textual, da
Análise Crítica do Discurso - ACD, de vertente sociocognitiva, que trata das
inter-relações das categorias discurso, sociedade e cognição, na medida em
que essas categorias relacionam-se e se definem como relevância
comunicativa e informativa enunciadas nas práticas sociais. Com essas
concepções objetiva-se contribuir com ensino de leitura e produção da crônica
jornalística no livro didático de Língua Portuguesa; e como objetivos
específicos: a) identificar e examinar, nos livros didáticos de língua portuguesa,
as formas de utilização do gênero crônica jornalística no ensino-aprendizagem
dos alunos em cada série; b) analisar, nos enunciados das crônicas
jornalísticas, as estratégias de construção do discurso jornalístico; e c)
relacionar frequentes propostas de práticas de ensino situando os
interdiscursos. Para tanto, a metodologia usada é teórico-analítica, propiciando
como resultado parciais: 1) abrangência no tratamento do gênero crônica, visto
que o aluno vivencia-o, fora de sala de aula; 2) enunciados retomam
habilidades leitoras: decodificação, interpretação e compreensão; e 3) relação
de prática de ensino textual e gramatical, tangibilidade do discurso jornalístico.
Pode-se depreender que a crônica é o gênero discursivo que apreende e
representa outros discursos, ou seja, uma tessitura de práticas sociais.
283
professores de língua espanhola que atuavam/atuam nessas escolas buscando
perceber como desenvolvem/desenvolviam sua atividade docente e sua visão
sobre os alunos matriculados. Em seguida, investigamos como os alunos se
percebiam dentro desse contexto educacional. Evidenciamos os efeitos de
sentido produzidos por esses discursos e o papel que desempenham na
constituição da identidade dos aprendizes adultos, uma vez que podem
contribuir para reforçar o estigma atribuído aos sujeitos constituintes dessa
modalidade de ensino. Em um primeiro momento, nos foi possível perceber,
por exemplo, que o termo "supletivo" foi incorporado às políticas de educação
de adultos e que o mesmo apresenta características de "fórmula discursiva". A
partir do corpus de entrevistas realizadas com os professores e alunos,
observa-se, igualmente, que concepções designadas aos aprendizes em
períodos educacionais anteriores ainda perpassam o discurso de alguns
professores. Além disso, percebe-se o lugar central que o discurso ocupa na
compreensão das identidades dos adultos que retornam aos bancos escolares.
284
até o momento, aponta para a necessidade urgente de discussão do tema, não
apenas no âmbito acadêmico, mas, também, entre as pessoas leigas que, de
uma forma ou de outra, serão afetadas pelo projeto.
Resumo: A pesquisa teve por objetivo analisar, sob a luz da teoria Histórico-
Cultural, qual o papel da utilização de jogos e práticas lúdicas para a
aprendizagem de língua japonesa em estudantes do idioma do Núcleo de
Línguas da Universidade Estadual do Ceará - UECE. Consistiu em um estudo
285
observacional, de abordagem qualitativa, com 20 estudantes do 1º semestre do
curso de japonês, realizado entre os meses de agosto e dezembro de 2014. Na
primeira parte do conteúdo programático do primeiro semestre, período em que
foi realizado o estudo, os alunos aprendem os dois alfabetos fonéticos do
japonês - hiragana e katakana. Nessa etapa, é comum a utilização de jogos
para facilitar a aprendizagem dos alunos, que são, em geral, elaborados pelos
professores e monitores. Contudo, nem sempre há um aprofundamento teórico-
metodológico do motivo da utilização do jogo ou da brincadeira, ou uma
compreensão científica sobre que benefícios podem realmente trazer, sendo os
jogos utilizados de forma não estruturada, baseada muitas vezes na
experiência do professor. Atualmente, no curso de língua japonesa da UECE,
utiliza-se como metodologia de ensino a abordagem comunicativa, em que,
desde o início, o aluno é incentivado a falar na língua que está aprendendo e a
ter contato com a cultura correspondente. O professor é visto como um
mediador do processo de aprendizagem, assim como o material didático e
outros recursos, como jogos. Assim, o estudo teve como foco compreender
esse processo, sendo os jogos um importante meio de comunicação e
transmissão do conhecimento, e também um meio de interação social entre os
alunos e professores. Foi possível observar que os alunos estabeleceram um
maior contato com o conteúdo abordado em sala de aula e houve a
continuidade da turma no ensino da língua.
286
de ferramentas tecnológicas, que possibilitaram a construção de atividades
virtuais com o intuito de alfabetizar letrando. Essas atividades foram criadas
através do recurso website, que consiste na criação de páginas agrupadas que
se relacionam entre si por meio da utilização de um navegador, embora não
haja a necessidade do uso da internet para a utilização do mesmo. Os sujeitos
com os quais trabalhamos foram oito crianças que cursam o primeiro ano do
Ensino Fundamental I cujas mães se disponibilizaram a cooperar com a
pesquisa. Os resultados demonstraram que as crianças se interessavam pelas
aulas e se motivavam a aprender a ler e a escrever com das tecnologias de
comunicação e informação. Além do mais, percebemos que os alunos
apresentaram uma elevação significativa da aprendizagem da língua
portuguesa.
287
entre as práticas discursivas de leitura dos sujeitos e contextos específicos da
Formação Docente.
288
Resumo: Este trabalho mostra que a docência superior é um processo de
extrema complexidade que se constrói ao longo da trajetória docente e envolve
a relação entre as dimensões pessoal, profissional e institucional. O estudo
acadêmico tem como objetivo refletir acerca dos desafios da docência na
educação superior. Dessa forma, o método escolhido foi o de revisão
bibliográfica e fundamenta-se nos seguintes autores: ALARCÃO (1998),
BOLZAN (2004), FRANCO (2011), ISAIA (2001), LIBÂNEO (1999), MARCELO
GARCIA (1999), PIMENTA e ALMEIDA (2011), SCHÖN (2000), VEIGA (2006),
ZABALZA (2004) e ZABALA (2002). O trabalho parte da caracterização do
termo docência como pressuposto para compreensão de como se desenvolve
os saberes docentes e as práticas educativas necessárias à educação de
qualidade. Por fim, após análise crítica dos desafios à docência superior,
conclui-se que estes decorrem da imensa complexidade e da multiplicidade de
indagações que permeiam este campo do saber.
289
entraves ou facilitadores para o processo de ensino e aprendizagem de
línguas.Entrevistamos oralmente docentes e aprendizes envolvidos com
diferentes LEs em âmbito diversos, tais como a escola regular, a universidade,
os institutos de idioma e o ensino particular de língua. Essas esferas podem
facilitar o contato com diferentes línguas modernas e, principalmente, elucidar
aspectos distintos da relação do sujeito com a língua e do sujeito com o
processo de ensino-aprendizagem. Não obstante, este olhar nos possibilita
examinar a língua como "material fundador do psiquismo" (REVUZ, 1998) sem
referirmo-nos especificamente a metodologias ou a instituições, por exemplo.
Coletamos o corpus com entrevistas orais semiestruturadas, a fim de
tendenciar o mínimo possível os dizeres dos entrevistados, e as
transcrevemos, considerando seu caráter oral (CORACINI, 1999). Procedemos
à análise, a partir de uma perspectiva discursiva (ORLANDI, 1997; CORACINI,
1999) e, ainda em fase inicial, atentamo-nos aos excertos em que há referência
ao modo pelo qual o sujeito representa sua relação com a LE. Há dizeres que
apontam para possíveis pontos de entrave ou pontos facilitadores nesta
relação, decorrentes da relação do sujeito com o processo de ensino e
aprendizagem de LE, dentre outros fatores. Uma discussão a respeito da
relação sujeito-língua e sujeito-processo de ensino e aprendizagem é o que
objetivamos destacar nesta apresentação.
290
áreas do conhecimento, as relações entre elas, bem como seus componentes
curriculares, contextualizadas no Projeto Político Pedagógico da escola. Nessa
perspectiva o objetivo desta pesquisa é analisar os impactos do referido Pacto
na elevação dos indicadores de qualidade da aprendizagem em Língua
Portuguesa na Escola Estadual de Educação Profissional Irmã Ana Zélia da
Fonseca - Milagres/CE, comparando os resultados alcançados nas edições
2013 e 2014 do Sistema Permanente de Avaliação do Estado do Ceará
(SPAECE), e assim evidenciar a importância do processo de formação
continuada para a melhoria dos indicadores da qualidade da educação. Para
esta pesquisa, baseamo-nos primordialmente nos postulados de Bakthin (2012)
e Geraldi (2006), que estão dentro da proposta defendida pelo Pacto; que traz
em sua proposta uma relação entre teoria e prática, relacionando os objetos
significativos à formação linguística do estudante, perpassando a concepção de
linguagem como forma de interação social. Assim, Para o desenvolvimento dos
objetivos fizemos levantamentos dos dados de base qualitativa de apoio
quantitativo, através desse levantamento foi possível evidenciar os impactos do
Pacto nos resultados do SPAECE, sobre a escola. Além disso, foi constatado
que a escola subiu no ranking de resultados, do quarto para o primeiro lugar,
dentre as escolas profissionais da 20ª CREDE - doravante Coordenadoria de
Desenvolvimento da Educação/CE.
291
etnicorraciais propagadas pela cultura hegemônica no cenário educacional.
Destarte, o cordel sempre retrata a cultura de um povo com arte e gracejos, tão
próprios do linguajar do homem simples. Implica-se, assim um espaço de
reflexão em torno do reconhecimento das diversas formas de representações
estético-cultural materializadas pelos versos do cordel, repletos de elementos
memorialísticos e orais. Assim, o corpus pesquisado da cultura popular será o
cordel de Antônio Barreto, cordelista e também professor de língua portuguesa
de Salvador-Ba.
292
contribuindo para a constituição de identidades docentes representativas dos
processos de resistência.
293
LEITURA E ESCRITA NA PERSPECTIVA DO GÊNERO PARÓDIA
Edimara Sales Cordeiro (UEMA)
Rebecca Rocha Baldez (UEMA)
Maria Augusta Costa de Brito Rosa (UEMA)
294
compreensão leitora nos anos finais do Ensino Fundamental no Colégio de
Aplicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (CAp UFRGS). Este
segmento de ensino é chamado de Projeto PIXEL, a utilização de seu nome
está devidamente autorizada e encontra-se em construção epistemológica e
metodológica conjunta por parte dos professores da equipe que atuam nos
anos finais do Ensino Fundamental (EF). Os objetivos específicos deste estudo
são: verificar se existe e qual seria o limiar linguístico mínimo dos alunos do 8º
e 9º anos para que desenvolvam a habilidade da leitura em uma LE durante o
período de um ano escolar; quais estratégias de leitura em LE/língua inglesa
esses alunos utilizam; quais estratégias de leitura em português (LM) esses
alunos utilizam em língua inglesa; quais estratégias de leitura em língua inglesa
(LE) auxiliam para a compreensão em língua portuguesa. O referencial teórico
abarca estudos relativos ao - linguistic threshold - limiar linguístico
(ALDERSON, 1984, BERNHARDT; KAMIL, 1995, PARK, 2013, YAMASHITA,
2011), às transferências de estratégias de leitura de língua materna para língua
estrangeira e o processamento da leitura. O leitor faz uso de pistas contextuais
e textuais para a compreensão de um texto escrito por meio de estratégias de
leitura, tais como, a ascendente (botton-up), a descendente (top-down) e a
integradora (SCARAMUCCI, 1995, RAYNER, K. et al., 2001). A metodologia
empregada será condizente com um estudo qualitativo e quantitativo para dar
conta dessa pesquisa relativa ao nível do limiar linguístico nos anos finais do
Ensino Fundamental na perspectiva longitudinal de um ano letivo e as suas
interfaces quanto ao desenvolvimento da capacidade leitora desses alunos
socialmente inscritos na realidade de ensino do segmento PIXEL, CAp UFRGS.
295
possibilita ao sujeito leitor. Para isso, esse estudo se respalda nos estudos
contemporâneos, discorrendo pelo viés da abordagem (auto)biográfica e
formação de leitores, que, conforme Cordeiro (2006), releva-nos uma
concepção crítica do sujeito colaborador que ao falar de si ressignifica a sua
autoformação. Logo, este estudo propõe a análise da constituição identitária
desse sujeito-leitor, perpassando pelo viés do letramento a partir das suas
memórias vividas no âmbito escolar. A proposta é conceber a leitura como um
dispositivo operacionado pelo professor de um modo que venha mobiliza o
currículo escolar ressignificando as diversas práticas de leituras que compõem
esse cenário. Desse modo, este estudo nos leva a refletir sobre as práticas de
leituras presente no currículo escolar, cujos estudos não partem mais da teoria
social hegemônica e sim das diversas questões sociais que estão vigentes,
tendo como noção básica as práticas de leituras articuladas com a prática
social do professor-leitor.
296
as próprias estruturas e objetivos; Gêneros (SWALES, 1990; BAZERMAN,
2006), dentre outros. A partir das leituras realizadas em bibliografia direta,
livros, textos e artigos de periódicos e das discussões elencadas sobre o
letramento acadêmico, é possível concluir que as ideias advindas da área do
Letramento podem dar suporte aos educandos recém-ingressos na
universidade, especificamente, no que concerne a contribuir para a produção
de gêneros acadêmicos.
297
posicionamentos, das discussões em grupo, da interação e das
problematizações. Isso oportunizado pelos princípios defendidos pela
aprendizagem cooperativa.
298
Palavras-chave: Letramento. Formação de Professores. Prática Social.
299
BA, realizam práticas metodológicas diferenciadas em função de possuir em
classe alunos surdos usuários de uma língua visoespacial. Este trabalho segue
os contornos de uma pesquisa-ação. Como técnicas de coleta de dados fez-se
uso da observação simples e de questionário semiestruturado. A técnica de
análise de dados adotada foi a Análise de Conteúdo aplicada às pesquisas
qualitativas. Abordou-se conceitos sobre surdez e bilinguismo à luz de autores
como Skliar (1998, 1999), Botelho (2005), Eulália Fernandes (2005) e Sueli
Fernandes (2006) e Sá (2010, 2011). Abordou-se também conceitos sobre
Letramento Visual com base em Oliveira (2006), Buratini (2004) e Santaella
(2012). Apresentou-se, ainda, discussões sobre formação de professor,
Pedagogia Surda, escola bilíngue para surdos e Português como segunda
língua (L2), seguindo os fundamentos de Botelho (2005), Guarinello (2007),
Slomski (2011), Ribeiro (2013) e outros. Como intervenção para a problemática
pesquisada, foi proposto, às professoras, oficina de produção de material
didático no intuito de colaborar para a ressignificação da práxis docente com
foco no aluno surdo. A pesquisa aponta que as professoras buscam realizar
práticas pedagógicas diferenciadas, na tentativa de atender ao aluno surdo em
sua experiência visual de mundo. Entretanto, o uso da oralidade ainda é muito
marcado na sala de aula em detrimento dos recursos visuais. Essa prática não
contempla o aprendizado dos surdos, que continuam matriculados na escola
regular, mas sem o efetivo aprendizado. As docentes reconhecem que a
ausência de recursos pedagógicos apropriados, bem como a inadequada
formação docente constituem impedimento para que a inclusão dos surdos se
efetive, pois na escola regular não há espaço para as manifestações culturais
do surdo. Nesta escola não se faz uso da Língua de Sinais Brasileira (LSB)
como língua de instrução, tampouco currículo, pedagogia e métodos de ensino
são pensados para contemplar os surdos.
300
como relação social e de poder. Buscamos entender, analisar e traduzir o
ensino e a educação, a partir da cartografia, através dos avanços e recuos na
perspectiva da educação para as relações étnico-raciais. Analisamos as
imagens do livro didático, os conteúdos ministrados na formação de
professores pela Secretaria de Educação do Município, os diálogos em sala de
aula, os significados para alunos e professores em relação à temática,
objetivando entender se a práxis educativa tem proporcionado aprendizagens
significativas, relacionando-se de maneira não arbitrária com o conhecimento
do aluno. Dentre os principais resultados percebemos que: apesar de muito
material produzido, estes não chegam até o professor; a secretaria de
educação oferece formações pontuais e fragmentadas as quais não têm
atendido às necessidades e dificuldades dos professores; o discurso
eurocêntrico e a colonialidade do saber, através do currículo e das relações de
poder que se estabelecem no espaço escolar, impõem sentidos, os mais
variados possíveis, refletindo interesses dos grupos que representa. A
dominação colonial branca exerceu e exerce até hoje o controle sobre os
processos de trabalho, sobre a ciência, e, é dessa forma, que o conhecimento,
na maioria das vezes, carrega a lógica de quem o traduziu, justificando e
colaborando com a reprodução do capitalismo e do racismo. Trabalho na
perspectiva da valorização de outras epistemologias não convencionais, uma
ecologia dos saberes, que rompam com o pensamento abissal e com o modelo
de educação que tenta homogeneizar uma realidade heterogênea e plural.
301
análise linguística devem estar articuladas, conforme preconizado pelos PCNs
(1998) e por autores que defendem o texto como unidade básica no ensino da
língua materna (Antunes 2009, Rojo e Cordeiro [2004] 2011; Wittke 2009).
Apresentamos também como referencial teórico Bakhtin (1997); Kaufman e
Rodrigues (1995); Rildo Cosson (2004) e Marcuschi (2008). Por fim, sugerimos
contribuições e intervenções aos cadernos das 7ª e 8ª séries do Gestar, com o
objetivo de subsidiar a prática dos docentes do ensino fundamental II do estado
da Bahia/Brasil, que utilizam a coleção nas aulas de língua portuguesa
302
ESTÁGIO DE DOCÊNCIA EM TELP – REFLEXÕES SOBRE UMA
EXPERIÊNCIA INTEGRANDO GRADUAÇÃO E PÓS- GRADUAÇÃO
Maria Helenice Araújo Costa (UECE)
303
(2008) e Mendoza (2002; 2004; 2007; 2008), a concepção sociocultural da
leitura de Cassany (2006) e a proposta de exploração didática do TL de
Acquaroni (2007), elaboramos três atividades de leitura, contemplando as
etapas de pré-leitura, leitura e pós-leitura e que foram realizadas em três
encontros distintos, durante o tempo normal de aula, atestando sua
aplicabilidade em outros contextos de ensino. Com relação aos resultados
dessas atividades, verificamos, através da aplicação de um questionário antes
e depois da realização das atividades, a mudança nas crenças dos alunos com
relação à leitura de obras literárias em seu curso. Também verificamos, através
da aplicação de um teste de leitura antes e depois das atividades, melhora na
competência leitora dos estudantes, principalmente no que se refere à
aspectos específicos do gênero Teatro. Estas atividades fizeram parte de
nossa pesquisa para a obtenção do título de Mestre pelo Programa de Pós-
Graduação da Universidade Estadual do Ceará, parte integrante de nossa
dissertação intitulada LEITURA DE OBRAS LITERÁRIAS NOS CURSOS DE
LÍNGUA ESTRANGEIRA: DE JUSTIFICATIVA PARA AVALIAÇÃO ORAL A UM
USO EFICAZ PARA O FOMENTO DA COMPETÊNCIA LEITORA, defendida e
aprovada em março de 2015.
304
metodologia de análise descendente, partindo dos tipos de discurso e
chegando às estratégias enunciativas. Como resultado, percebermos a
bifurcação da rede de interpretações gerada pelos professores, ora referindo-
se ao seu próprio agir, ora referindo-se ao agir dos alunos. O agir profissional
do professor é, portanto, um agir sobre a ação do outro. O professor avalia seu
agir a partir da eficácia ou não da sua ação sobre o agir dos alunos. Para dar
conta desse critério externamente ancorado, o professor necessita de
ferramentas formativas que o ajudem a demarcar os graus de participação
entre os agentes do agir-referente educativo e a refletir sobre a progressão das
capacidades linguístico-discursivas dos alunos.
Resumo: A Educação não é de hoje, que é o foco nas pesquisas e nas mesas
de discussões. Porém a aplicabilidade nas escolas ainda requer análises e
muito estudo científico. O professor habilitado conhece a Educação pelos
livros e pelo que aprende na faculdade, porém ao chegar na realidade escolar
depara-se com situações que não consegue administrar. Principalmente nas
escolas públicas, o descaso com o ensinar fica a mercê das más condições
das escolas, do material didático, da remuneração e inclusive da indisciplina.
Ensinar já não é uma tarefa fácil. Portanto este artigo, apresenta uma visão
mais Holística do modo de ensinar com uma metodologia diferenciada
fundamenta em autores como HERNANDES(1998), PERRENOUD (2000) que
trazem uma explicação do ensino através de Projetos. Ensinar através de
Projetos de Aprendizagem, buscar fazer com que o aluno compreenda o
processo de aprendizado através do aprender o apreender (RIGON 2007).
Nesse processo ensinar parece mais fácil, fortalecer o ensino através da
pesquisa e do aprendizado em equipe, buscando aprender junto com o outro e
dividindo as habilidades e competências de cada um. O resultado deste artigo
é a prática de professores do Ensino Médio do Colégio SESI Paraná. A
metodologia acontece na rede do Colégio SESI Paraná há 10 anos, e, portanto
os resultados da aprendizagem e autonomia no ensinar e no aprender, é que
traz a reflexão que ensinar pode ser diferente quando o professor está focado
no processo educacional. A intenção é apresentar os resultados desta prática
em sala de aula bem como apresentar através de questionários como os
professores veem a foram de trabalhar em sala de aula deste modo
diferenciado, Metodologia de Projetos.
305
O PROFESSOR DE LINGUA PORTUGUESA E O LIVRO DIDÁTICO:
RELAÇÕES DE PODER E DE SUBJETIVIDADE
Aline Batista Rodrigues (UFPA)
306
Resumo: As transformações econômicas, políticas e sociais decorrentes do
desenvolvimento científico e tecnológico da chamada era da informação ou era
do conhecimento, estão demandando um novo paradigma educacional. Não
se pode negar, por um lado, que as novas tecnologias têm proporcionado
avanços imensuráveis em todos os setores da sociedade (não) letrada
digitalmente. Por outro, estas têm proporcionado às instituições de ensino
novos e grandes desafios pedagógicos. O letramento digital é, hoje, no
contexto da sociedade da informação e do conhecimento, um dos pontos mais
críticos no que se refere à inclusão digital. O que se percebe é que existe uma
série de entraves que dificultam a inserção de conhecimentos e competências
digitais no cotidiano das salas de aula da maioria das escolas brasileiras.
Dessa forma, estes avanços proporcionam, simultaneamente, um maior
letramento digital e uma maior segregação social daqueles que não o
possuem. A presente pesquisa teve como objetivo apresentar discussões
acerca das competências, habilidades e dos posicionamentos políticos
necessários aos professores na nova sociedade (não) letrada digitalmente.
Para tanto, foram realizadas diversas pesquisas teóricas, a fim de
compreender como os estudiosos têm tratado os avanços tecnológicos e o
letramento digital e pesquisas de campo em escolas e universidades de Goiás
e do Distrito Federal, com o propósito de buscar informações, in loco, acerca
da realidade destas instituições com relação ao letramento digital dos seus
alunos. As discussões teóricas foram fundamentadas em Castells (1999),
Coscarelli (2011), Kleiman (2008), Behar (2013), Lévy (2001), Perrenoud
(2003), Soares (2009), Tarouco (2013), Marcurshi (2010) entre outros.
307
postulados da integração dos saberes. De Cosson, utilizamos o modelo de
sequência básica, série didática que permite a exploração do texto verbal numa
interação com outras linguagens. Em cada escola cadastrada no programa foi
ministrada uma oficina em que se apresentou a escritora Rachel de Queiroz,
em sua identidade com o sertão, na vida e na ficção, atividade que culminou
numa visita guiada à fazenda da escritora, localizada na cidade de Quixadá,
momento em que os alunos participantes adentraram à casa da escritora,
conheceram a história do local, fizeram trilhas e exploraram um dos espaços
inspiradores dos textos anteriormente analisados. Entende-ses que a leitura
das obras da Rachel de Queiroz, mais especificamente alguns episódios do
romance O Quinze e algumas crônicas do livro O Não Me Deixes: suas
histórias e sua cozinha, além de ter ajudado para o desenvolvimento do
letramento literário no espaço escolar, com uma literatura bastante próxima do
leitor, em termos de linguagem e temática, contribuiu para um melhor
entendimento de algumas questões que permeiam as circunstâncias do
homem do sertão, principalmente em sua relação com aspectos da flora local,
preparando os participantes a pensar e executar ações conservacionistas no
ambiente em que vivem, levando-os à restauração de áreas da Caatinga, numa
minimização dos efeitos negativos de desmatamentos e queimadas em plantas
e organismos do solo, práticas naturalizadas no contexto do sertão.
308
objetivo revisitar a literatura da área de ensino de línguas LE/LA (em particular
na língua inglesa e espanhola) com o intuito de mapear trabalhos que versam
sobre o tema das relações étnico-raciais, tanto no ensino quanto na formação
docente. Para alcançar nossos objetivos neste artigo, partimos de uma reflexão
sobre formação de professores de línguas e das contribuições dos documentos
oficiais sobre relações étnico-raciais para pensar como as políticas públicas
vigentes auxiliam (ou não) no desenvolvimento de ações em prol de uma
educação mais intercultural (PARAQUETT, 2012). Após isso, direcionamos a
discussão para uma síntese de pesquisas e práticas que versam sobre a Lei nº
10.639/03 na aula de línguas, a Teoria Racial, o material didático e/ou os
aspectos identitários da formação de professores para o tema das relações
étnico-raciais em sua prática (CRUZ, 2015). Esperamos com este artigo
fomentar a sensibilização dos participantes sobre a formação étnico-racial na
formação inicial/ continuada de professores de LE/LA e divulgar a produção
acadêmica de cunho teórico-prático preocupada na construção de educação
anti-racista.
309
estudo promovam um seminário sobre multimodalidade e ensino, afim de
ampliar o conhecimento dos professores acerca desse tema para capacitá-los
a explorar a multimodalidade efetivamente com seus alunos e desenvolver-lhes
o letramento visual crítico.
310
EIXO TEMÁTICO 11 – INFÂNCIA E MÍDIA
311
sobremodernidade proposto por Marc Augé (AUGÉ, 2005), discutiremos os
efeitos do excesso de informação e de imagens e como o "instantâneo"
caracteriza a vida contemporânea. Em uma pesquisa realizada com crianças
entre 08 e 12 anos, buscou-se verificar a relação existente entre as crianças e
as telas: trata-se de uma relação de sedução, fascinação ou educação? A partir
do conceito lacaniano de imaginário (LACAN, 1949; 1974), verificaremos se o
"poder das imagens" faz com que elas ocupem o lugar das referências
familiares e educacionais, quais seus efeitos nos laços sociais entre alunos e
nas relações entre professor e aluno, e entre aluno e conhecimento. Se o aluno
contemporâneo tem sido caracterizado como um "aluno multimídia",
problematizaremos o modo como o sujeito comunicante (CHARAUDEAU,
2005) se inscreve no circuito comunicacional contemporâneo.
312
organizações que tratam do assunto no Brasil são: Instituto Alana e Movimento
Infância Livre pelo Consumismo. A Constituição Federal, no Artigo 227, declara
que a criança e o adolescente são prioridade absoluta tanto da família quanto
do Estado.
313
Marcus Henrique Linhares Ponte Filho (UFC)
314
Fortalecimento de Vínculos a partir dos aportes teóricos como Benveniste,
Chomsky, Morin e suas respectivas considerações sobre a complexidade e a
recursividade. O objetivo desta comunicação é evidenciar como deveria se
posicionar o pedagogo nesse contexto e desenvolver a perspectiva
transdisciplinar em educadores sociais, possibilitando o diálogo entre os
saberes, definindo assim as rotas a partir de conversas com os sujeitos
envolvidos, contribuindo sistemicamente para a sua transformação. A
metodologia constitui-se em uma pesquisa in loco no Serviço de Convivência e
Fortalecimento de Vínculos para crianças entre 6 e 12 anos, a partir do resgate
de conversas e anotações referentes ao desenvolvimento destes indivíduos,
desenhando as rotas nos discursos apresentados durante o período de
frequência das crianças ao Programa. E, ao final, tendo em vista a
possibilidade da construção de suas práticas, a partir de temas transversais,
oferecer instrumentos para o desenvolvimento de trabalhos com crianças entre
6 e 12 anos.
315
cultura escolar ressencialize e naturalize a voz da criança por meio de várias
estratégias, invisibilizando seus efeitos para as relações intrageracionais e
intergeracionais. As relações adulto/criança, quando analisadas do ponto de
vista das posições discursivas, mostram as ambiguidades que constituem os
processos de subjetivação, potencializando-os como fonte de aprendizagem.
Nessa perspectiva, aprender com/sobre as crianças aproxima-nos da
ignorância e da fragilidade que resultam do encontro com a alteridade infantil.
Esse não-saber relaciona a escolarização à temporalidade do acontecimento,
fortalecendo as possibilidades de reinvenção dos lugares sociais pelos quais
nos constituímos sujeitos.
316
sociedade por meio de uma veiculação midiática, recolheram-se alguns
discursos jornalísticos de veículos midiáticos nacionais e internacionais, como
o portal G1, The Independent etc.
317
Palavras-chave: Indústria Cultural. Infância. Galinha Pintadinha.
318
Resumo: Trata o presente estudo sobre as relações instituídas através cultura
midiática em nossa sociedade, especificamente da mídia televisiva e sua
influência na construção do pensamento social das crianças. Para isso,
partimos da pergunta problema: Como a mídia televisiva na sociedade de
consumo influencia na construção e formação do pensamento da criança?
Nosso objetivo geral se consolida em analisar como a mídia televisiva, a partir
de suas estratégias midiáticas, influencia no pensamento social da criança.
Para subsidiar nosso referencial, utilizaremos Adorno (1947; 1985; 1995),
Vygostky (1196;1998), Aries (2014) e Andrade (2008) na busca de conceitos
que permitam seus entrelaçamentos para percebermos as influências entre
consumo midiático e formação do pensamento das crianças. A metodologia
traz um enfoque fenomenológico, do tipo qualitativo, através de uma
larga pesquisa bibliográfica. Nossos resultados apontam que adultos, mas
principalmente as crianças, vivem em confinamentos residenciais ou de
condomínios em virtude do pouco investimento do governo em diversas
políticas públicas, deixando as crianças sem alternativa de locais públicos e
seguros de lazer, recreação e distração. Aponta ainda que o governo
brasileiro busca minimizar tais problemas limitando com leis de proteção à
criança da ação da mídia televisiva, mas que esta mesma mídia consegue,
através de diversas estratégias de publicidade e propaganda, transmitir às
crianças toda uma carga de influência capitalista voltada à construção do
pensamento numa sociedade de consumo. Essa imposição ideológica midiática
às crianças influência de tal forma que inverte por muitas vezes os valores,
hábitos, pensamentos e costumes, pois atualmente as crianças nascem, vivem
e convivem em uma sociedade movida pela mídia de consumo exacerbado e
desenfreado.
319
lidar com a opressão. Diante da difícil situação do menino, JJ Veiga nos
apresenta crianças que possuem olhar e sensibilização diferenciada: enquanto
os adultos não conseguem perceber a dimensão do sofrimento de Cedil, as
crianças parecem ver além dos adultos, parecem se importar mais com o
próximo. Embora possuam essa sensibilidade diferenciada, as crianças não
deixam de expressarem-se como crianças, sentir-se como tal. O autor intercala
assim momentos de extrema maturidade misturados a atitudes pertinentes a
idade delas, criando personagens não infantilizados nem com pretensões de
características adultas. Veiga, portanto, encontra um caminho que parece
posicionar-se no meio disso tudo, encontrando um equilíbrio entre a
maturidade, a sensibilidade, com aspectos da vida infantil sem artificialidade.
Nesse contexto, o presente trabalho, tem por objetivo analisar as relações
entre as personagens do conto, principalmente no que se refere a amizade
existente entre meninos que buscam, como podem ajudar o amigo a escapar
da tirania do mundo dos adultos. Para tanto, utilizaremos como método de
análise a pesquisa bibliográfica, bem como a hermenêutica da profundidade.
Nesse sentido, observa-se que o autor de Os Cavalinhos de Platiplanto (2011)
consegue apresentar-nos crianças que embora estejam subjugadas à violência
doméstica, principalmente dos adultos, encontram na amizade que possuem
uns com os outros, uma possibilidade de escape, de amenização da dor.
320