Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Ficções
pós-apocalípticas
nas vertentes do fantástico
David Roas
Flavio García
Marisa Martins Gama-Khalil
(Organizadores)
Série
A escrita literária: teorias, histórias e poéticas - nº 8
Ficções
pós-apocalípticas
nas vertentes do fantástico
David Roas
Flavio García
Marisa Martins Gama-Khalil
(Organizadores)
2021
Universidade do Estado do Universidade Federal
Rio de Janeiro de Uberlândia
Reitor Reitor
Ricardo Lodi Ribeiro Valder Steffen Junior
Vice-Reitor Vice-Reitor
Mario Sergio Alves Carneiro Carlos Henrique Martins da Silva
Produção:
Unidade de Desenvolvimento Tecnológico Laboratório Multidisciplinar de Semiótica (UDT LABSEM)
Realização:
Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários (PPLET) – mestrado e doutorado – da Universi-
dade Federal de Uberlândia (UFU)
Conselho Editorial
Estudos de Língua Estudos de Literatura
Darcilia Simões (Presidente) Flavio García (Presidente)
Claudia Moura da Rocha (UERJ) Júlio França (UERJ)
Denise Salim Santos (UERJ) Norma Sueli Rosa Lima (UERJ)
Maria Aparecida Cardoso Santos (UERJ) Regina Michelli (UERJ)
Renato Venâncio Henrique de Souza (UERJ) Tania Camara (UERJ)
Claudio Manoel de Carvalho Correia (UFS) Ana Crélia Dias (UFRJ)
Eleone Ferraz de Assis (UEG) André Cardoso (UFF)
Kanavillil Rajagopalan (UNICAMP) Claudio Zanini (UFRGS)
Kleber Aparecido da Silva (UNB) Daniel Serravalle de Sá (UFSC)
Lucia Santaella (PUCSP) Diógenes Buenos Aires (UESPI)
Maria Carlota Rosa (UFRJ) Enéias Tavares (UFSM)
Maria do Socorro Aragão (UFPB; UFCE) Jane Fraga Tutikian (UFRGS)
Maria Jussara Abraçado (UFF) José Nicolau Gregorin Filho (USP)
Maria Luísa Ortiz Alvarez (UNB) Marisa Martins Gama-Khalil (UFU)
Nataniel dos Santos Gomes (UEMS) Rita de Cássia Silva Dionísio Santos (UNIMONTES)
Paolo Torresan (UFF) Teresa López Pellisa (UAH, ES)
Rita de Cássia Souto Maior (UFAL) Ana Mafalda Leite (ULisboa, PT)
Simone Rezende (EBAC, SP) Ana Margarida Ramos (UA, PT)
Vânia Casseb Galvão (UFG) Dale Knickerbocker (ECU, EUA)
Dora Riestra (Universidade do Rio Negro, AR) David Roas (UAB, ES)
Paulo Osório (UBI, PT) Inocência Mata (ULisboa, PT)
Maria João Marçalo (UÉvora, PT) Maria João Simões (UC, PT)
Massimo Leone (UNITO, IT; Universidade de Xangai, CH) Xavier Aldana Reyes (MMU, EN)
Pareceristas ad hoc
Christiano Mendes Lima (Escola Brasileira de Psicanálise/ AMP)
Ricardo Gomide Santos (Instituto Sedes Sapientiae)
Copyright© 2021 David Roas; Flavio García; Marisa Martins Gama-Khalil (Orgs.)
Imagem de Capa:
Ahasuerus at the End of the World - Adolph Hiremy-Hirschl
Tratamento Técnico:
Cinthia Hellen Martiniano Teixeira
Dauro Silveira Moura
Janaína Monteiro da Silva (Coordenadora)
Luana Ferreira Gonçalves
Karen Paula Quintarelli (Coordenadora)
Luana Ferreira Gonçalves
Pedro Henrique Tenório
Tatiane Ludegards dos Santos Magalhães
CATALOGAÇÃO NA FONTE
FUTUROS POST-APOCALÍPTICOS EN
EL TEATRO LATINOAMERICANO: HUGO BOLÓN Y CAIO
FERNANDO ABREU 222
Elton Honores (UNMSM)
AUTORES 323
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
APRESENTAÇÃO
Bárbara Maia das Neves
8
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
Sendo assim, seguindo por esta vertente mais otimista, percebo que
vários autores ao redor do mundo estão se dedicando à FC. No Brasil não
é diferente. Existem canais em redes sociais dedicados a levar ao público
leigo explicações acessíveis e a apresentar-lhes novos nomes, novas
correntes, audaciosamente indo aonde quase ninguém quer ir. Com isso,
percebo também um aumento na produção autoral aqui no país. Vejo
novos escritores surgindo com boas ideias, jogando-se no mar da internet
para divulgar seu trabalho, e alguns com bons resultados, como foi o caso
da série brasileira transmitida pela plataforma Netflix® 3% (2016-2020).
Com isso, a academia também passou a dar espaço estudos voltados
para FC. Trabalhos de conclusão de cursos de graduação, dissertações
e teses abordando a temática começaram a se tornar mais visíveis, e
compêndios, antologias e coletâneas de contos ou de artigos, como este,
passaram a ter um maior destaque dentro do mundo literário.
Todavia, antes de apresentar as queridas pessoas que vieram dar
sua contribuição para este bebê tão cuidadosamente gerado por Marisa
Martins Gama-Khalil, Flavio García e David Roas, ao estilo de família de
três pais de Marge Piercy, no seu Woman on the Edge of Time (1976),
algumas considerações de ordem mais técnica se fazem necessárias.
A primeira delas seria levar a pensar a questão sobre o que é ficção
pós-apocalíptica. Richard K. Emmerson debate como a noção de fim de
mundo já fazia parte de várias religiões, mas foi com aquelas de vertentes
judaico-cristã e islâmica que adquiriu seu valor mais sombrio. Mais tarde
o mundo secular/científico se apodera do termo ao levantar o ponto da
entropia, que pode levar o universo a uma paralisia final da qual não se
poderá escapar. Mas são a literatura e, posteriormente, o cinema que
vão dar o toque final ao trazerem para o fim do mundo vários outros
motivos, como guerras, epidemias, ambição humana, crises ambientais,
entre outros.
9
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
No entanto, este fim de mundo não pode ser total, senão não haveria
as narrativas pós-apocalípticas. Segundo Diletta de Cristofaro (2013), o
que ocorre é o fim de um mundo, com o subsequente geralmente sendo
bem pior para os que ficaram para trás, tendo que lutar para garantir a
sobrevivência. Em geral, o que se vê é que a Humanidade vai ter que lidar
com os restos e refugos de uma vida que, aparentemente, não tem mais
como retornar. Ainda que existam, poucas narrativas pós-apocalípticas
chegam a trazer uma promessa de um mundo melhor. Por exemplo, no
primeiro episódio da série Jornada nas Estrelas: a Nova Geração (1987-
1994), ao serem julgados pela entidade intergaláctica conhecida como
Q, o Capitão Picard lembra seus amigos de que a humanidade passou
por um apocalipse sim, e viveu de modo bárbaro durante muito tempo,
mas que conseguiram emergir das cinzas e se unirem em prol de uma
sociedade melhor, mais justa e solidária. Porém, isto está mais para
exceção do que para a regra.
Outro ponto que merece atenção é a própria questão da distopia.
É muito comum que as pessoas achem que distopias são histórias
necessariamente pós-apocalíticas. Mas isso não é bem verdade, histórias
pós-apocalípticas podem ser distópicas ou não. Raffaella Baccolini e
Tom Moylan (2003) discorrem sobre o caráter profético e desastroso
das sociedades distópicas na sua obra Dark Horizons, mas nem sempre
elas são obrigatoriamente sociedades pós-apocalípticas. Para John Clute
e Peter Nicholls (1992), a principal característica da distopia é ser uma
sociedade estruturada na opressão de um grupo tomado por “inferior”
por outro tudo considerado “elite”. Por exemplo, em Fahrenheit 451
(1953), de Ray Bradbury, não se tem notícia de nenhuma grande guerra ou
destruição cataclísmica que fizesse com que a sociedade ficasse daquele
modo, apenas a acomodação das pessoas já foi o suficiente.
Ainda assim, o que tanto a narrativa pós-apocalíptica quanto a
distopia claramente compartilham é esta visão de alerta e preocupação
10
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
11
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
12
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
13
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
14
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
Referências
ATWOOD, Margaret. A história da aia. Tradução de Márcia Serra. São Paulo:
Marco Zero, 1987.
BACCOLINI, R., MOYLAN, T. (Ed.). Dark Horizons: Science Fiction and the
Dystopian Imagination. London: Routledge, 2003.
BRADBURY, Ray. Fahrenheit 451. Tradução de Cid Knipel. São Paulo: Globo, 2003.
CLUTE, John & NICHOLLS, Peter. The Encyclopedia of Science Fiction. Nova
Iorque: St. Martin’s Griffin, 1992.
CRISTOFARO, Dilleta de. The representational impasse of post-apocalyptic fiction:
The Pesthouse by Jim Grace. Saggi/Ensayos/Essais/Essays, n. 9, p. 66- 80, 2013.
EMMERSON, Richard K. Apocalypse Illuminated: The visual exegesis in medieval
illuminated manuscripts. Pennsylvania: Pennsylvania State University Press, 2018.
MATHESON, Richard. Eu Sou a Lenda. Tradução de Delfin. São Paulo: Aleph, 2015.
PIERCY, Marge. Woman on the Edge of Time. Nova Iorque: Fawcett Columbine,
1997.
15
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
16
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
17
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
18
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
19
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
20
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
21
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
22
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
23
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
24
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
25
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
26
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
27
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
ilha de Taiwan, fizeram com que países do oriente que também estavam
em processo de expansão respondessem criando a Liga Oriental, formada
pela China e pela Coreia do Norte. Desta forma, Spohr prevê o que seria
uma Terceira Guerra Mundial e com ela, o fim do mundo.
É interessante ressaltar que o romance de Spohr foi escrito há quase
quinze anos, quando ainda não éramos aterrorizados por ameaças como
é o caso da atual pandemia do COVID-19, que até o presente momento
já aniquilou mais de 2 milhões de vidas no mundo. Ainda assim, o autor
prevê epidemias, que sempre estiveram presentes não apenas na
história da humanidade como no nosso imaginário como uma grande
ansiedade coletiva.
Na obra de Spohr, no entanto, não apenas os homens entrariam em
guerra, mas também os seres celestiais, pois, de acordo a última citação,
“os eventos espirituais encontram reflexos no plano físico”. O mundo
espiritual e os seres celestiais também estão, nesse momento da narrativa,
nas iminências da Batalha Final.
O profeta João, no livro de Apocalipse narra que o Cordeiro abrirá
sete selos, e, a partir da abertura destes selos, sete anjos tocarão sete
trombetas. Cada selo representa uma parte dos eventos do fim do
mundo. As interpretações do que cada selo e cada trombeta representam
são inúmeras, e não temos a intenção de analisar os textos bíblicos
propriamente ditos neste artigo. Para nós, é necessário apenas que
saibamos que, tanto os termos “sete selos” e “sete trombetas”, quanto seu
significado, ou seja, a destruição gradual do mundo, foram empregados e
expandidos por Spohr.
No caso dos sete selos, sua existência é apenas mencionada no romance
como precursores das sete trombetas, assim como no livro de Apocalipse:
[q]uando o Cordeiro abriu o sétimo selo, houve silêncio
no céu cerca de meia hora. Então, vi os sete anjos que
se acham em pé diante de Deus, e lhes foram dadas
28
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
29
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
30
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
31
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
32
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
33
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
34
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
Como vimos, o soar das três primeiras trombetas nas duas narrativas
têm alguns aspectos em comum, embora sejam poucos. Não resta dúvida
que o texto de Spohr é excessivamente mais ilustrativo que a narrativa
do livro de Apocalipse, além de não abrir espaço para interpretações, ao
contrário do texto que o originou. A partir deste ponto, Spohr afasta
sua narrativa da narrativa bíblica. Assim como as três primeiras, a
quarta, quinta e sexta trombetas, no romance, são referentes a bombas
nucleares e, portanto, à destruição de uma imensa parte da população
mundial. Ao soar de cada trombeta, Spohr se afasta mais da descrição
das trombetas do livro de Apocalipse. Nota-se, portanto, que o autor
se baseia na ideia geral de que cada trombeta corresponde a um tipo
de destruição e, a partir disso, continua a desenvolver sua história de
acordo com a sua própria imaginação.
Na Bíblia, as trombetas são metafóricas e não há uma conclusão sobre
o que cada uma das figuras associadas a elas significam. Seria necessário
uma maior compreensão desta parte do texto bíblico para uma comparação
entre as duas narrativas. No entanto, não temos a intenção de analisar os
mitos bíblicos propriamente ditos. Assim, considerando que o próprio autor
do romance se afasta do texto bíblico e, a partir de certo ponto, apenas
associa o soar de cada uma das trombetas à destruição de uma parte do
mundo, não vamos nos ocupar com a análise individual de cada uma delas.
35
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
36
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
Referências
ALTER, Robert; KERMODE, Frank. Guia literário da Bíblia. Tradução de Raul Fiker.
São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1997.
BÍBLIA. A Bíblia Sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida. Barueri:
Sociedade Bíblica do Brasil, 1988.
CESERANI, Remo. O fantástico. Tradução de Nilton Tripadalli. Curitiba: Ed. UFPR,
2006.
FRYE, Northrop. The Great Code: The Bible and Literature. New York: Houghton
Mifflin Harcourt Publishing Company, 1982.
FRYE, Northrop. Littérature et Mythe. Poétique, v. 8, p. 489-503, 1971.
FURTADO, Filipe. Fantástico: modo. In: E-dicionário de termos literários.
Disponível em: https://edtl.fcsh.unl.pt/encyclopedia/fantastico-modo/. Acesso
em: fev. 2021.
GAMA-KHALIL, Marisa. Fantástico: modo. In: Dicionário Digital do Insólito
Ficcional. Disponível em: http://www.insolitoficcional.uerj.br/site/f/fantastico-
modo/. Acesso em: jan. 2021.
GENETTE, Gérard. Palimpsestes: La littétature au second degré. Paris: Éditions
du Seuil, 1982.
GÓMEZ PONCE, Ariel. Ficção pós-apocalíptica. In: Dicionário Digital do Insólito
Ficcional. Disponível em: http://www.insolitoficcional.uerj.br/site/f/ficcao-pos-
apocaliptica/. Acesso em: jan. 2021.
37
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
IVANOV, Viacheslav. Mitos escatológicos. In: ACOSTA, Rinaldo (Ed.). El árbol del
mundo. Diccionario de imágenes, símbolos y términos mitológicos. La Habana:
Casa de las América/Criterios, p. 321-323, 2002.
ROAS, David. A ameaça do fantástico: aproximações teóricas. Tradução de
Julián Fuks. São Paulo: Editora Unesp, 2014.
SANT’ANNA, Affonso Romano. Paródia, paráfrase e cia. São Paulo: Ática, 1985.
SPOHR, Eduardo. A Batalha do Apocalipse: da queda dos anjos ao crepúsculo do
mundo. 58. ed. Campinas, São Paulo: Verus, 2014.
TIPPLE, Rebeca. A Batalha do Apocalipse: A apropriação de mitos bíblicos para
a criação de uma narrativa de ficção. 2018. Dissertação (Mestrado em Letras e
Linguística) – Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística, Faculdade de
Letras, Universidade Federal de Goiás, Goiás, 2018.
TODOROV, Tzvetan. Introdução à literatura fantástica. Tradução de Maria Clara
Correa Castello. 4. ed. São Paulo: Perspectiva, 2014.
38
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
39
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
1 Tradução nossa de “a literary genre whose necessary and sufficient conditions are
the presence and interaction of estrangement and cognition, and whose main formal
device is an imaginative framework alternative to the author’s empirical environment”
(SUVIN, 2016, p. 20).
40
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
por nós), bem como uma abertura cognitiva para a própria condição
humana. Como tal abertura é um efeito produzido pelo texto, trata-se
de um potencial que habita o texto e que pode ou não se realizar na
circunstância real de leitura. O distanciamento cognitivo é, mais do que
um procedimento poético, uma potencialidade estética.
O potencial de ser lida como ficção científica, de ter o distanciamento
cognitivo plenamente realizado na leitura, habita em maior ou menor
medida as narrativas pós-apocalípticas de maneira geral. O curto
exemplo de Brown trata de uma variante muito presente desse tipo
de narrativa, as histórias de “último homem sobre a terra”. Numerosos
são os possíveis exemplos, como o romance I am legend, de Richard
Matheson, o filme Last woman on Earth, de Roger Corman, e a série
em quadrinhos Y, the last man2, com roteiros de Brian K. Vaughan e
desenhos de Pia Guerra, Goran Sudzuka e Paul Chadwick.
O microconto de Brown é modelar justamente por sintetizar em
apenas duas sentenças elementos básicos constituintes de todas essas
narrativas: o paradoxal medo de estar sozinho... e de não estar; a ambígua
simultaneidade de um desejo pelo contato com o outro e de um temor de
que esse contato de fato aconteça.
O conto “A espingarda”, de André Carneiro, é uma narrativa desse
tipo. Foi publicado pela primeira vez na segunda coletânea de contos
do autor, O homem que adivinhava, e posteriormente incluído na
antologia Os melhores contos brasileiros de ficção científica, organizada
por Roberto de Sousa Causo. Como é recorrente, estamos diante de
uma situação tensa que se institui quando o protagonista, que se crê o
último de sua espécie, é surpreendido pela presença de um semelhante
2 Na série, apenas os homens foram dizimados com exceção de um; as mulheres não
foram afetadas. Como há a abordagem da solidão em um mundo apocalíptico e a presença
de um último homem, cremos que em determinada medida a série pode ser enquadrada
na categoria em pauta.
41
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
42
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
43
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
44
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
3 Tradução nossa de “it is not the ‘truth’ of science that is important to SF; it is the scientific
method, the logical working through aof a particular premise” (ROBERTS, 2006, p. 9).
45
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
Insiste até ser forçado a ceder: o outro dispara duas vezes e uma
bala provoca “um talho no ombro” (CARNEIRO, 1966, p. 92). Tomado
pela fúria e pela frustração de ver sua busca terminar dessa maneira,
ele revela enfim que também possui um potencial destrutivo. De dentro
de um armário, retira a espingarda que dá título ao conto. Ele é capaz
de perpetrar a violência, de participar de um encontro negativo com o
outro. Não a cooperação, mas a mútua vontade de exterminar o que não é
o mesmo:
Abriu o armário, pegou a espingarda carregada, saiu
para a rua, sem se deter. O peito arfava, como se
tivesse arma repetia “maldito”, “maldito”, o caminho
de volta como um pesadelo, seu controle tombando em
frangalhos. Não sabia se pensava ou estava gritando.
Sôbre o muro, o vulto odiado. Foi correndo em sua
direção com a espingarda levantada, o dedo puxando o
gatilho. (CARNEIRO, 1966, p. 91)
46
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
47
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
Referências
BLOCH, Ernst. O princípio esperança vol. I. Tradução de Nélio Schneider. Rio de
Janeiro: EdUERJ/Contraponto, 2005.
BROWN, Fredric. Knock. In: BROWN, Fredric. The Fredric Brown Megapack: 33
Classic Science Fiction Stories. Rockville: Wildside Press, 2013.
CARNEIRO, André. A espingarda. In: CARNEIRO, André. O homem que
adivinhava. São Paulo: Edart, 1966.
CAUSO, Roberto de Sousa (Org.). Os melhores contos brasileiros de ficção
científica. São Paulo: Devir, 2007.
LAST Woman on Earth. Direção: Roger Corman. AIP, 1960. Filme (71 min).
LOVECRAFT, Howard Phillips. O horror sobrenatural na literatura. Tradução de
João Guilherme Linke. São Paulo: Francisco Alves, 1987.
MATHESON, Richard. I am legend. London: Gollancz/Orion, 2001.
ROBERTS, Adam. Science Fiction. London: Routledge, 2006.
SUVIN, Darko. Metamorphoses of Science Fiction: on the poetics and history of a
literary genre. Bern: Peter Lang Press, 2016.
VAUGHAN, Brian K.; GUERRA, Pia; SUDZUKA, Goran; CHADWICK, Paul. Y: the last
man. Califórnia: DC Comics, 2002-2005.
48
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
49
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
50
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
1 Como argumenta Yi-fu Tuan (2005, p. 149): “Quando uma doença ataca repentinamente,
como em uma epidemia, é como se os deuses ou um deus justo estivesse zangado e as pessoas
sendo castigadas pelas suas transgressões. Unir doença com pecado e castigo é, de fato, um traço
importante da fé judaico-cristã. As dez pragas do Egito são um exemplo bem conhecido da Bíblia”.
2 O mesmo imaginário também está presente fora das narrativas-catástrofe, como
demostra a perspectiva anárquica do romance Clube da Luta, de Chuck Palahniuk,
51
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
52
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
53
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
54
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
4 Susan Sontag (2007) argumenta que qualquer doença sobre a qual não se tenha muitas
informações é construída em volta de um sentimento de mistério, aspecto que acentua o
medo acerca das possibilidades de contágio e contaminação.
5 A expressão “teatro da higiene” (em inglês: hygiene theater) foi empregada pela primeira
vez pelo jornalista Derek Thompson, em julho de 2020, na revista The Atlantic, para fazer
referência a medidas insuficientes ou ineficazes na prevenção à covid-19, práticas que
apenas dariam uma falsa sensação de segurança. Nesse sentido, a desinfecção de compras
de supermercado seriam menos eficientes, posto que o risco de contágio em superfícies é
mínimo, que o uso de máscaras e de álcool gel para higienizar as mãos (ALEGRETTI, 2021).
55
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
6 Yi-fu Tuan dá um panorama interessante sobre a peste negra de 1348 e que parece
análogo ao momento inicial da pandemia de covid-19: “A peste transformava todos, ao
mesmo tempo, em desconfiados e suspeitos – vizinhos muitos amigos e parentes próximos
podiam ser portadores da morte. O medo da infecção era tanto que os que tinham de
andar pelas ruas ziguezagueavam, cruzando de um lado para outro a fim de evitar contato
com outros pedestres” (2005, p. 158).
56
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
57
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
58
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
7 Como não há nenhuma declaração “oficial” da editora sobre a divisão dos capítulos,
exceto comentários dos/as autores/as escapados em entrevistas, optei por manter a
ideia multiautoral perpassando o livro como um todo, sem vínculo personagem-autor/a.
Não oficialmente, tem-se: Mateus (trama de Samir Machado de Machado), Murilo (Luisa
Geisler), Regina (Marcelo Ferroni) e Constância (Natália Borges Polesso).
59
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
60
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
61
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
Ao que tudo indica, a origem do corpo seco seria europeia, mas foi
apropriada pelo imaginário local e encontrou uma forma indigenizada,
sobretudo, nas regiões sul e sudeste do país. Conforme argumenta o
historiador Daniel Neves Silva (2021), trata-se de um sujeito amaldiçoado
em função dos crimes, maldades e pecados cometidos8 – punição que nos
remete a uma narrativa instrutiva de conduta moral (ou seja: faça o bem,
senão verá no que se transforma). Rejeitado tanto por deus quanto pelo
diabo, o corpo seco estaria destinado a errar – ao modo do Judeu Errante
– pela Terra, não sendo possível morrer. Na condição de um morto-vivo,
uma figura de natureza intersticial, não apodrece como um morto e nem
se alimenta como um vivo, razão para que a pele resseque e o corpo
emagreça – condição de onde a criatura retira sua alcunha –, podendo os
cabelos e unhas crescer sem fim. O errante proscrito – misto de zumbi e
alma penada – teria como função aterrorizar as pessoas e sugar o sangue
dos incautos.
A proposta do romance Corpos secos distancia-se do mote original
da lenda ao recusar o caráter mágico-religioso da transformação
e propor uma motivação química (agrotóxicos não testados) e de
propagação viral (a partir da mordida)9. Ainda persiste certo aspecto
moral, mas o tema não incorre no mau comportamento individual, sendo
este deslocado para uma prática coletiva – no caso, as implicações da
liberação de defensivos agrícolas não regulamentados. Nesse sentido,
o zumbi é o resultado de uma maldade política, perpetrada pelo Estado
62
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
10 Em certo sentido, parece bastante irônico que uma lenda de origem rural expresse,
em sua releitura moderna, os malefícios do agronegócio. Parece, mais uma vez, que o
espaço rural é visto como inferior e monstruoso em oposição ao espaço urbano.
11 No roteiro do filme, há uma crise de saúde pública a partir do vírus necroambulis,
proveniente de lavouras infectadas, sugestivamente por sementes transgênicas, não
havendo nem cura nem vacina. A única medida governamental posta em prática é a queima
das plantações. A história tem como centro o ambiente rural.
63
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
64
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
65
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
Ao longo do livro também há críticas indiretas a Jair Bolsonaro, o “mito”. Além disso, no
apocalipse zumbi previsto pela trama, os políticos – os mesmos que teriam levado adiante
liberação de pesticidas – teriam sido os primeiros a evacuarem do país em seus jatinhos.
15 Cabe recordar que uma das medidas de controle da pandemia de covid-19 é o
distanciamento social recomendado de 1,5 a 2 metros de outra pessoa. Novos estudos já
demonstram que o raio que uma pessoa pode ser atingida é de 8 metros. Por isso, uma
doença ficcional como essa possui bastante ressonância com o momento atual.
66
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
67
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
68
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
69
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
Considerações finais
Desagregação social, perda de governo central, formação de
milícias para sobrevivência, criação de cidadelas em pontos propícios.
17 Pode ser visto com ironia o fato de o protagonista gay da trama ser o único
sujeito imune ao vírus. Afinal, durante a pandemia de HIV nos anos 1980, os gays foram
circunscritos a um grupo de risco e a AIDS foi construída nos discursos como um câncer gay.
À comunidade gay, desde então, atribui-se uma característica de abjeção, sendo os corpos
caracterizados como naturalmente “portadores” de uma doença.
18 Aqui parece haver uma contradição no interior da própria história, mesmo a escrita
por Samir Machado de Machado. A mudança da terminologia “matilha” surgida no
primeiro capítulo dedicado a Mateus para “manada” no segundo pode ser motivada
pela crítica política. Como a história carrega críticas ao atual governo de Jair Bolsonaro, a
referência aos infectados pelo coletivo de bovinos parece se referir ao “gado”, modo como
a esquerda alcunha os seguidores e defensores das ideias do presidente.
70
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
19 Vale lembrar que é uma imagem forte, remetendo a uma terra sem proteção de Deus,
mas que recai nos clichês dos filmes-catástrofe.
71
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
72
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
Referências
ALEGRETTI, Laís. Covid: por que ventilar ambientes é mais importante do que
limpar compras. BBC Brasil. Caderno Geral. 13 abr. 2021. Disponível em: https://
www.bbc.com/portuguese/geral-56723635. Acesso em: 14 abr. 2021.
ARGULLOL, Rafael. O fim do mundo como obra de arte – um relato da cultura
ocidental. Tradução de Ebréia de Castro Alves. Rio de janeiro: Rocco, 2002.
BAZIN, André. Sobre Why We Fight. In: BAZIN, André. O que é cinema? Tradução
de Eloisa Araújo Ribeiro. São Paulo: Cosac Naify, p. 41-46, 2014.
BBC Brasil. Coronavírus: EUA são acusados de “pirataria” e “desvio” de
equipamentos que iriam para Alemanha, França e Brasil. BBC Brasil. Seção
Internacional. 4 abr. 2020. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/
internacional-52166245. Acesso em: 8 abr. 2020.
DOMINGUES, Filipe. Entenda o que é o glifosato, o agrotóxico mais vendido do
mundo. G1. Caderno Natureza. 26 maio 2019. Disponível em: https://g1.globo.
com/natureza/noticia/2019/05/26/entenda-o-que-e-o-glifosato-o-agrotoxico-
mais-vendido-do-mundo.ghtml. Acesso em: 9 abr. 2021.
ECO, Umberto. Seis passeios pelos bosques da ficção. Tradução de Hildegard
Feist. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
73
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
74
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
MATHESON, Richard. Eu sou a lenda. Tradução Delfin. São Paulo: Aleph, 2015.
MOREIRA, Carlos André. Romance escrito a oito mãos narra distopia sobre
uma infecção letal que coloca o mundo em colapso. GZH. GZH Livros. 9 abr.
2020. Disponível em: https://gauchazh.clicrbs.com.br/cultura-e-lazer/livros/
noticia/2020/04/romance-escrito-a-oito-maos-narra-distopia-sobre-uma-
infeccao-letal-que-coloca-o-mundo-em-colapso-ck8rl0y62010201qw7aop7oxp.
html. Acesso em: 5 abr. 2021.
MORI, Leticia. Glifosato: mitos e verdades sobre um dos agrotóxicos mais usados
do mundo. BBC Brasil. Caderno geral. 23 fev. 2019. Disponível em: https://www.
bbc.com/portuguese/geral-47320332. Acesso em: 5 abr. 2021.
PALAHNIUK, Chuck. Clube da luta. Tradução de Vera Caputo. Nova Alexandria:
São Paulo: 2000.
SILVA, Daniel Neves. Corpo-seco. Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.
uol.com.br/folclore/corpo-seco.html. Acesso em: 9 abr. 2021.
SONTAG, Susan. A imaginação da catástrofe. In: SONTAG, Susan. Contra a
interpretação. Tradução de Ana Maria Capovilla. Porto Alegre: L&PM, p. 243-262,
1987.
SONTAG, Susan. Diante da dor dos outros. Tradução de Rubens Figueiredo.
São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
STUENKEL, Oliver. A pandemia revela que mundo pós-ocidental já chegou. El País.
Seção de Opinião. 6 abr. 2020. Disponível em: https://brasil.elpais.com/
opiniao/2020-04-06/pandemia-revela-que-mundo-pos-ocidental-ja-chegou.
html. Acesso em: 8 abr. 2020.
TOOGE, Rikardy. Governo libera mais 2 agrotóxicos inéditos e 55 genéricos. G1.
Caderno Agro. 27 nov. 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/
agronegocios/noticia/2019/11/27/governo-autoriza-mais-57-agrotoxicos-sendo-
2-ineditos-total-de-registros-em-2019-chega-a-439.ghtml. Acesso em: 6 abr.
2021.
TUAN, Yi-Fu. Paisagens do medo. Tradução de Lívia Oliveira. São Paulo: Editora
Unesp, 2005.
VERDÚ, Daniel. Itália se prepara para conviver com o coronavírus. El País.
Internacional. Ciência. 6 abr. 2020. Disponível em: https://brasil.elpais.com/
ciencia/2020-04-05/italia-se-prepara-para-conviver-com-o-virus.html. Acesso
em: 8 abr. 2020.
75
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
VIEGAS, Anderson. Se fosse país, município que produz mais soja em MS seria
o 14º maior produtor mundial do grão. G1. Caderno Mato Grosso do Sul.
11 abr. 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/ms/mato-grosso-do-sul/
noticia/2019/04/11/se-fosse-pais-municipio-que-produz-mais-soja-em-ms-seria-
o-14o-maior-produtor-mundial-do-grao.ghtml. Acesso em: 7 abr. 2021.
VIVAS, Fernanda Vivas; Modzeleski, Alessandra. Comissão especial da Câmara
aprova projeto que flexibiliza o uso de agrotóxico. G1. Caderno Política. 25 jun.
2018. Disponível em: https://g1.globo.com/politica/noticia/comissao-especial-
da-camara-aprova-texto-base-de-projeto-que-flexibiliza-uso-de-agrotoxico.
ghtml. Acesso em: 9 abr. 2021.
WALLACE, Rob; WALLACE, Rodrick. Ebola, doença do colonialismo. Jornal
Outras Palavras. Caderno Descolonizações. 7 ago. 2019. Disponível em: https://
outraspalavras.net/descolonizacoes/ebola-doenca-do-colonialismo/. Acesso
em: 9 abr. 2021.
76
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
77
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
78
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
1 O termo imaginário está sendo empregado para designar o conjunto de imagens textuais,
compostas pelo autor de um texto, a partir do recurso aos referentes extratextuais. Subjaz
a essa questão, a teoria dos mundos possíveis e a estrutura dos signos, em que se têm o
significante, correlacionado às imagens, e o significado, aos referentes.
2 Cataclismo, significa, em sentido lato, desastre, e é o móvel das narrativas apocalípticas
distópicas ou pós-apocalíticas.
3 Guerras, revoluções, matanças são exemplos de cataclismos movidos pelas mãos do
homem; erupções vulcânicas, terremotos, maremotos, furações, pandemias são exemplos
de cataclismos naturais, cuja ocorrência raramente depende da ação humana, ainda que o
homem os possa deflagrar ou agravar.
4 A narrativa apocalíptica estrutura-se em um mundo possível cujo tempo presente
(narrado no passado) é ruim, tendo sido produto de referentes de um tempo passado que se
supunha melhor, prenunciando um tempo futuro quer se imagina inaceitável (RAMOS, 2002).
5 O mundo possível da narrativa distópica é a imagem do tempo presente (narrado no
passado), com espaço, personagens e ações compostos a partir dos referentes de barbárie
que nele se manifestam (HILÁRIO, 2013).
6 A narrativa pós-apocalíptica encena, narrando no passado, um tempo presente, de
natureza distópica, que foi produto de um tempo passado apocalíptico. Em geral, essas três
vertentes discursivo-textuais se imbricam, e a narrativa apocalíptica é igualmente distópica,
ou a narrativa distópica também o é pós-apocalíptica.
79
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
80
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
81
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
82
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
83
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
84
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
Ele dá início à peleja e pede “ao visitante que baixe a pistola e tome
lugar na única cadeira que [...] [lhe] resta[va]” (COUTO, 2020a, online).
Tal informação reforça a pobreza e a solidão antes prenunciadas. Quase
85
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
tudo o que pudesse ter se lhe foi ou pilhado pelos soldados que por ali
passavam ou consumido pelo tempo, restando-lhe apenas uma cadeira,
e mais não havia de precisar, pois vivia solitário naquela casa, e ninguém
o ia visitar.
Tornando aos meandros do grotesco moderno, em que se combinam,
como destaca Roas (2008), o humor e o terrível para constatar o absurdo
e o horror do mundo, o velho repara que o mascarado está com os
sapatos envoltos por sacos de plástico e conclui que pretendia não deixar
marcas de suas pegadas no chão. Obviamente, tratava-se de um ladrão.
Sem abandonar o jogo, pede-lhe para baixar a máscara, diz-lhe que pode
ter toda a confiança. Todavia, “[o] homem sorri com tristeza e murmura
– Nestes dias não se pode confiar, as pessoas não sabem o que trazem
dentro delas” (COUTO, 2020a, online). O idoso acredita que a fala do
inesperado visitante fosse uma “enigmática mensagem” (COUTO, 2020a,
online), ele estaria pensando que “sob [...] [aquela] aparência desvalida, se
esconde um valioso tesouro” (COUTO, 2020a, online).
O homem olhou ao redor, e o velho pensou que ele o fizera em busca
do que pudesse roubar. Depois de observar o entorno, “[d]iz que vem dos
serviços de saúde” (COUTO, 2020a, online), mas o ancião não crê e ri. Para
ele, é “um jovem ladrão, [que] não sabe mentir” (COUTO, 2020a, online).
O mascarado continua e “[d]iz que os seus chefes estão preocupados com
uma doença grave que se espalha rapidamente” (COUTO, 2020a, online).
Mantendo o fingimento, o senhor faz de conta que acredita.
Nesse momento, anuncia-se o acontecimento apocalíptico – uma
doença grave que se espalha rapidamente, a covid-19 –, em um cenário
distópico – devastado pela guerra –, que se configura como pós-apocalíptico
– resultando em isolamento e pobreza. A personagem-narrador enumera,
então, uma sequência de cataclismos – epidemias, endemias, pandemias –
que se abateram sobre a gente do lugar, que fazem parte de sua memória,
levando-o àquela existência solitária e desassistida:
86
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
87
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
88
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
89
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
21 “[...] estas ficciones también ponen de manifiesto una revisión de nuestra historia:
de los errores que la sociedad ha cometido, de los eventos que estarían signando el
90
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
Referências
COUTO, Mia. O gentil ladrão. Revista Visão, Portugal, 24 abr. 2020a. Disponível
em: https://visao.sapo.pt/opiniao/a/mapeador-de-ilhas/2020-04-24-um-gentil-
ladrao. Acesso em: 27 abr. 2021.
COUTO, Mia. A quarentena infernal. Revista Visão, Portugal, 22 mai. 2020b.
Disponível em: https://visao.sapo.pt/opiniao/a/mapeador-de-ilhas/2020-05-22-
a-imortal-quarentena. Acesso em: 27 abr. 2021.
ECO, Umberto. Seis passeios pelos bosques da ficção. São Paulo: Companhia das
Letras, 1994.
fin de nuestra existencia, y del destino trágico que nosotros mismos hemos forjado. En
tal sentido, lo pos-apocalíptico parece, más bien, funcionar como advertencia que nos
previene de los males que pueden acaecer a un mundo, hoy agobiado por las crisis que
instaura el capitalismo, por las cruentas formas de la violencia y de la guerra, y por un
medioambiente que cada vez da más signos de agotamiento” (texto original em espanhol).
91
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
FURTADO, Felipe. Metaempírico. In: REIS, Carlos; ROAS, David; FURTADO, Filipe;
GARCÍA, Flavio; FRANÇA, Júlio (Editores). Dicionário Digital do Insólito Ficcional
(e-DDIF). Rio de Janeiro: Dialogarts. Disponível em: http://www.insolitoficcional.
uerj.br/m/metaempirico. Acesso em: 27 abr. 2021.
GARCÍA, Flavio. “O assalto”, de Mia Couto: ficção insólita de crime e mistério.
Abusões, Rio de Janeiro, n. 13, p. 71-90, 2020. Disponível em: https://www.e-
publicacoes.uerj.br/index.php/abusoes/article/view/52459/34830. Acesso em:
21 abr. 2021.
HILÁRIO, Leomir Cardoso. Teoria crítica e literatura: a distopia como
ferramenta de análise radical da modernidade. Anuário de Literatura,
Florianópolis, v. 18, n. 2, p. 201-215, 2013.
MATOS, Elmer Agostinho Carlos de; MEDEIROS, Rosa Maria Vieira. Exploração
mineira em Moçambique: uma análise do quadro legislativo. Nera, Presidente
Prudente, n. 38, p. 280-315, 2017.
MIAMBO, Eliso. Periodização da literatura moçambicana. Rectasletras,
29 abr. 2012. Disponível em: https://rectasletras.blogspot.com/2012/04/
periodizacaoda-literatura-mocambicana.html. Acesso em: 27 abr. 2021.
PESSOA, Fernando. Autopsicografia. Presença, Coimbra, n. 36, nov., 1932.
PONCE, Ariel Gómez. Ficção pós-apocalíptica. In: REIS, Carlos; ROAS, David;
FURTADO, Filipe; GARCÍA, Flavio; FRANÇA, Júlio (Editores). Dicionário Digital do
Insólito Ficcional (e-DDIF). Rio de Janeiro: Dialogarts. Disponível em: http://www.
insolitoficcional.uerj.br/f/ficcao-pos-apocaliptica. Acesso em: 27 abr. 2021.
RAMOS, José Augusto M. A literatura apocalíptica e a ideia de ordem e de fim.
Revista portuguesa de Ciência das Religiões, Lisboa, n. 1, p. 43-53, 2002.
REIS, Carlos. Dicionário de estudos narrativos. Coimbra: Almedina, 2018.
ROAS, David. Grotesco. In: REIS, Carlos; ROAS, David; FURTADO, Filipe; GARCÍA,
Flavio; FRANÇA, Júlio (Eds.). Dicionário Digital do Insólito Ficcional (e-DDIF).
Rio de Janeiro: Dialogarts. Disponível em: http://www.insolitoficcional.uerj.
br/g/grotesco/. Acesso em: 27 abr. 2021.
ROAS, David. En los límites de lo fantástico: el cuento grotesco a finales del siglo
XIX. In: AMORES, Monteserrat; MARTÍN, Rebeca (Eds.). Estudios sobre el cuento
español del siglo XIX. Vigo: Editorial Academia del Hispanismo, p. 203-222, 2008.
92
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
93
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
94
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
95
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
enuncia por experiência própria, pois foi ensaísta, escritora (de romances
e contos), revisora, editora e proeminente figura do modernismo, além de
ter estudado em casa (ao contrário dos irmãos) e sido influenciada pelo
pai (escritor e crítico literário).
Ressaltamos que, apesar de Woolf referir-se predominantemente
à história da Inglaterra do fim do século XVIII ao início do século XX,
bem como a mulheres inglesas romancistas de relevo da época – Jane
Austen, Emily Brontë, Charlotte Brontë e George Eliot –, sua discussão
continua atual e se aplica à história de outros países, outras escritoras
e suas produções literárias e/ou teórico-críticas. Os textos ficcionais
de autoria feminina, segundo Woolf, deixam de ter características
com predominância autobiográfica, assuntos voltados para o interior
doméstico, protestos com efeito de distração contra tratamentos
recebidos pelo gênero feminino, para ainda explorar a sexualidade da
mulher, as personagens na ótica das próprias escritoras, o anonimato
de algumas vidas em contraposição ao empoderamento de outras
pela abertura ao mundo exterior (mercado de trabalho, política), com
relações familiares e sociais marcadas pelo emocional, intelectual e
político. “O velho sistema, que a condenava a olhar de esguelha para
as coisas, pelos olhos ou pelos interesses do marido ou do irmão, deu
lugar aos interesses diretos e práticos de alguém que tem de agir por
si mesma, e não somente influenciar ações dos outros” (WOOLF, 2019,
p. 17). Avultam, como também veremos no tópico a seguir, reflexões
sobre mazelas sociais, questões sobre o destino humano e do planeta, o
sentido da vida e das guerras, conflitos pessoais e grupais, dentre outras.
No livro A mulher escrita – cuja primeira edição é de 1989 e pode
ser considerado como dois livros em um por estar divido em duas partes
interrelacionadas: “A mulher escrita” e “A escrita mulher” –, a carioca
Lucia Castello Branco e a mineira Ruth Silviano Brandão, com uma incursão
pela literatura e psicanálise, apresentam a mulher sob dois enfoques,
96
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
97
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
98
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
99
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
100
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
101
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
O seu corpo em contato com outro corpo faz com que a imagem de
vida sobrepuje à de morte. No final de O corpo utópico, Michel Foucault
fala-nos sobre essa rica experiência do nosso corpo, que é o ato sexual:
“fazer amor é sentir o corpo refluir sobre si, é existir, enfim, fora de toda
utopia, com toda densidade, [...] amamos tanto fazer amor, é porque
no amor o corpo está aqui” (2013, p. 16). É, pois, o sexo que permite
a Rye a sensação extrema de seu corpo e a coloca de volta à vida,
naquele lugar real, porque, mesmo estando o mundo dizimado, é neste
mundo que seu corpo encontra seu lugar e dá sentido à sua existência.
Não interpretamos essa cena sexual como um simples entrega de
um corpo feminino que, submisso, se entrega a um corpo masculino,
perspectiva essa muito associada a uma leitura dirigida por uma visão
masculina do mundo; nossa interpretação dirige-se a uma outra linha
de entendimento, que coloca o corpo de Rye como protagonista desse
processo, um corpo que goza, um corpo que sente o mundo de volta
a partir desse acontecimento; logo, um corpo que experimenta um
empoderamento por intermédio da assunção do orgasmo, assunção
essa tão negada às mulheres ao longo da história.
A fala do narrador, guiada pelos olhos e pelas sensações de Rye,
aparecem carregadas de experiência, uma experiência corporal, cênica e
dramática. James (2003) explica que o narrador refletor contribui para a
intensidade dramática da trama, porque se trata de uma visão que vem
acompanhada por uma experiência, por uma ação, ou seja, o mundo
diegético é narrado em movimento. No conto de Butler, o leitor é levado a
aderir a ações, afetividades, repulsas, prazeres, gozos, medos e curiosidades
102
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
de uma personagem que sente o mundo ao seu redor com toda a força
erótica do seu corpo, com toda a rede de sensações que lhe são possíveis
em um mundo onde a linguagem foi quase totalmente aniquilada.
É um conto que trata, pois, da falta de comunicação humana,
porque a doença a atinge, assim como mata diversas pessoas e silencia
as demais. Uns não conseguem mais falar nem entender o que os outros
dizem; e outros, como a protagonista, não conseguem ler e escrever.
Não há, como nos outros contos analisados a seguir, uma separação
entre os infectados e os não infectados. Rye, a protagonista, consegue
expressar-se falando e ouvindo, mas perde a capacidade de ler e
escrever, justamente ela, que tinha uma casa cheia de livros. Agora eles
ficaram à deriva, sem a função originária. Os livros, depois do vírus,
têm a única finalidade de servir de combustível, isto é, o que sobra do
valor do livro é sua destruição. Um mundo sem fala é um lugar sem
livros. Neste conto, o vazio se apresenta a partir da imagem do vazio
da linguagem, da palavra, o qual estará vinculado, como enfatizaremos
adiante, a práticas dessubjetivadoras e desumanizadoras.
A falta de linguagem é associada à falta de civilidade, ao crescimento
da violência. Em seu livro Tremores: escritos sobre a experiência, Jorge
Larrosa (2014, s.p.) esclarece que “as palavras produzem sentido,
criam realidades e, às vezes, funcionam como potentes mecanismos de
subjetivação”; elas determinam nosso pensamento, na medida em que
não pensamos por meio de pensamentos, mas através de palavras, que
nos atravessam e nos constituem. Vivemos em uma tradição que reforça
o ensinamento de que pensar é raciocinar, mas pensar é “sobretudo dar
sentido ao que somos e ao que nos acontece. E isto, o sentido ou o sem-
sentido, é algo que tem a ver com as palavras” (LARROSA, 2014, s.p.). O
conto de Butler relata o esfacelamento do ser em decorrência da perda
da linguagem exatamente em função de ser esta a base para a formação
de subjetividade dos sujeitos; por isso, destituídos de linguagem, eles se
103
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
104
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
trocam socos dentro de ônibus” (UOL, 2021)3. Parece-nos que essas cenas
e a cena da briga no ônibus do conto assemelham-se bastante, uma vez
que nelas percebemos seres supostamente humanos em um descontrole
total, o qual desencadeia uma agressividade que coloca em suspensão a
humanidade dos humanos. Averiguando mais a fundo, podemos também
chegar à conclusão de que essas cenas agressivas e desumanas acontecem
em função de um motivo: a falta de diálogo. Assim, a afasia, que gera
descontroles e figurações zoomórficas, conecta igualmente o conto com
nossos tempos. Hoje, experimentada em vários contextos (orais, escritos,
virtuais, digitais), a palavra parece perder-se, sendo muitas vezes ineficaz e
incapaz de expressar quem somos. Butler parece sugerir isso a cada linha do
seu conto, entretanto, ao final, ela abre uma lacuna que pode figurar como
uma possibilidade de saída da afasia: primeiro, o sexo, que restitui a vida de
Rye; segundo, o fato de ela levar as crianças órfãs e traumatizadas com ela
para sua casa. Um recomeço (do apocalipse à gênese)?
O conto termina com a instauração dessa lacuna. Wolfgang Iser
afirma que o processo de comunicação literária se elabora “através
da dialética movida e regulada pelo que se mostra e se cala” (1979, p.
90). O não-dito instiga a instauração de um vazio e o decorrente ato de
ideação do leitor, pois o “calado” adquire vida apenas por intermédio da
atualização do leitor. Pairam, no fim do conto, algumas dúvidas, dentre
elas se a doença acabou ou não – com a descoberta das duas crianças
de 3 anos que falam: “E as crianças... elas deviam ter nascido depois do
silêncio. Será que a doença tinha chegado ao fim, então? Ou essas crianças
eram simplesmente imunes? [...] E se elas só estivessem precisando de
professores? Professores e protetores” (BUTLER, 2019, p. 387). O que traz
uma esperança para Rye, que se considera uma boa professora e também
105
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
106
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
107
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
108
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
109
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
110
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
111
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
112
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
113
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
114
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
115
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
116
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
117
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
118
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
119
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
homens que “voltavam mudos dos campos de batalhas não mais ricos,
e sim mais pobres em experiência comunicável” (1987, p. 198). A razão
desse aniquilamento de experiências após a guerra acontece, em nosso
ponto de vista, em função de serem essas experiências exercícios de
desumanidade, tais como as experiências narradas nessas seis histórias
que são objeto de estudo deste ensaio, histórias que têm a peculiaridade
de serem escritas por mulheres.
Perguntamo-nos a cada movimento de leitura e de análise quais
seriam os traços literários, formais ou temáticos, que eram desvelados
por essas histórias, além do fato de todas terem como voz condutora
– direta ou indiretamente – a de uma mulher. Ademais, uma tendência
pareceu ganhar relevo a cada página: o tratamento estético-filosófico
sobre a humanidade – sobre a fragilidade ou ausência dela, sobre a
necessidade de seu retorno, sobre sua construção ilusória ou real;
enfim, em todos os contos dessas escritoras, seja por meio de metáforas
muito bem urdidas, seja através dos discursos das personagens, o leitor
encontra os processos de humanização e desumanização das mulheres
e homens que experimentam o acontecimento do apocalipse. Essas
imagens estético-filosóficas vêm sempre perpassadas e construídas por
um discurso da ausência, de um vazio constitutivo, um vazio existencial
e sensível, atravessador e avassalador, que está relacionado àquilo que
constitui nossa humanidade.
O vazio de cada história parece figurar como metáfora da mulher,
que tem em si a marca de um vazio (BRANCO, 2004), mas de um vazio
gerador de vida. Se os contos trazem o vazio provocado por paisagens pós-
apocalípticas desoladoras, por outro lado, a figuração das personagens
femininas tende a desvelar a possibilidade de uma recriação desse vazio.
Assim, no e pelo espelhamento de folhas tão bem redigidas, com seus
vazios constitutivos, somos convocadas a realçar a reconfiguração da
figura mulher e suas criações no imaginário literário e social, a força de
120
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
Referências
BENJAMIN, Walter. O narrador. In: BENJAMIN, Walter. Magia e Técnica, arte e
política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Tradução de Sérgio Paulo
Rouanet. São Paulo: Brasiliense, p. 197-221, 1987.
BRANCO, Lucia Castello; BRANDÃO, Ruth Silviano. Uma porta, duas entradas.
In: BRANCO, Lucia Castello; BRANDÃO, Ruth Silviano. A mulher escrita. Rio de
Janeiro: Lamparina, p. 7-8, 2004.
BRANCO, Lucia Castello. A escrita mulher. In: BRANCO, Lucia Castello; BRANDÃO,
Ruth Silviano. A mulher escrita. Rio de Janeiro: Lamparina, p. 11-94, 2004.
BRANDÃO, Ruth Silviano. A mulher escrita. In: BRANCO, Lucia Castello; BRANDÃO,
Ruth Silviano. A mulher escrita. Rio de Janeiro: Lamparina, p. 97-215, 2004.
BUTLER, Octavia E. Sons da fala. In: ADAMS, John Joseph (Org.). Mundos
apocalípticos: histórias do fim dos tempos. Tradução de Rogério Galindo;
Rosiane Correia de Freitas. São Paulo: Planeta, p. 373-387, 2019.
FOUCAULT, Michel. Conversa com Michel Foucault. In: FOUCAULT, Michel. Ditos
e escritos – volume VI: Repensar a política. Organização, seleção de textos e
revisão técnica Manoel de Barros da Motta. Tradução de Ana Lúcia Paranhos
Pessoa. Rio de Janeiro: Forense Universitária, p. 289-347, 2010.
FOUCAULT, Michel. O corpo utópico. As heterotopias. Tradução de Salma Tannus
Muchail. São Paulo: n-1 Edições, 2013.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
FUEGO, Andréa del. Aníbal. In: OLIVEIRA, Nelson de (Org.). Fractais Tropicais:
o melhor da ficção científica brasileira. São Paulo: SESI-SP Editora, p. 130-141, 2018.
GENETTE, Gérard. Discurso da narrativa. Tradução de Fernando Cabral Martins.
Lisboa: Vega, 1979.
HARAWAY, Donna J. Manifesto ciborgue Ciência, tecnologia e feminismo-
socialista no final do século XX. In: TADEU, Tomaz (Org. e trad.). Antropologia do
121
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
122
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
123
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
124
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
125
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
126
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
127
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
128
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
129
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
130
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
131
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
132
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
Nesta jornada, que traz a mente romances medievais como Sir Gaiwan
e o cavaleiro verde (século 14) ao apresentar um herói trajado em armadura
enfrentando criaturas fantásticas no caminho de sua missão, o narrador
passa meses atravessando centenas de quilômetros da Terra da Noite. Este
é o momento em que o leitor e a leitora têm contato direto, juntamente
com o narrador, com os horrores deste mundo pós-apocalíptico. O primeiro
deles é o Grande Homem Cinzento que farejava o protagonista na escuridão.
Após se esconder em moitas de musgos, o herói vê a criatura: “Era grande,
rastejava e não tinha outra cor: era todo cinzento” (HODGSON, 2018, p.
97). Na sequência, o herói se aproxima da região conhecida como Lugar da
Destruição e encontra misteriosas criaturas conhecidas como os Silenciosos:
Observei com muita atenção e distingui uma grande
fila de figuras silenciosas e esguias, cobertas até os pés,
que não se moviam nem produziam qualquer som, mas
permaneciam lá, no cinza, parecendo manter vigília
constante sobre mim, de tal forma que meu coração
enfraqueceu e senti que as moitas de musgos não
podiam me esconder. (HODGSON, 2018, p. 105-106)
133
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
134
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
135
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
136
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
137
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
Referências
BUTLER, Alison. Victorian occultism and the making of modern magic: invoking
tradition. New York: Palgrave Macmillan, 2011.
CLUTE, John; NICHOLLS, Peter. Quests. In: CLUTE, John; NICHOLLS, Peter. The
encyclopedia of fantasy. New York: St. Martin’s Griffin, p. 796, 1997.
DODD, Kerry. From the Inevitable to the Inexplicable: Investigating the Literary
and Linguistic Roots of the Weird. FANTASTIKA Journal. volume 1, issue 1, p.
36-53, april, 2017. Available at: https://fantastikajournal.com/publications/.
Accessed on: Feb. 10, 2021
FURTADO, Filipe. O fantástico: procedimentos de construção narrativa em H. P.
Lovecraft. Rio de Janeiro: Dialogarts Publicações, 2017.
GÓMEZ PONCE, Ariel. Ficção Pós-Apocalíptica. In: REIS, Carlos et al (Eds.). Dicionário
Digital do Insólito (e-DDIF). Rio de Janeiro: Dialogarts. Disponível em: http://www.
insolitoficcional.uerj.br/site/f/ficcao-pos-apocaliptica/. Acesso em: 13 mar. 2021.
HODGSON, William Hope. A terra da noite. Tradução de José Geraldo Gouvêa;
Ilustração de Leander Moura. Jundiaí: Editora Clock Tower, 2018.
HURLEY, Kelly. The Gothic Body: sexuality, materialism, and degeneration at the
fin de siècle. Cambridge: Cambridge University Press, 2004.
LOVECRAFT, H. P. O horror sobrenatural em literatura. Tradução de Celso M.
Paciornik. São Paulo: Iluminuras, 2007.
MENDLESOHN, Farah. Rhetorics of Fantasy. Middletown, Connecticut: Wesleyan
University Press, 2008.
MIÉVILLE, China. Weird Fiction. In: BOULD, Mark; BUTLER, Andrew M.;
ROBERTS, Adam; VINT, Sherryl. The Routledge companion to science fiction.
New York: Routledge, p. 510-515, 2009.
NICHOLLS, Peter. Holocaust and After. In: CLUTE, John; NICHOLLS, Peter (Eds.). The
encyclopedia of science fiction. New York: St. Martin’s Griffin, p. 581-584, 1995.
PARAVISINI-GEBERT, Lizabeth. Colonial and post-colonial Gothic: the Caribbean.
In: HOGLE, Jerrold E. (Ed.). Gothic Fiction. New York: Cambridge University
Press, p. 229-258, 2008.
SAWYER, Andy. Future history. In: BOULD, Mark; BUTLER, Andrew M.; ROBERTS,
Adam; VINT, Sherryl. The Routledge companion to science fiction. New York:
Routledge, p. 489-493, 2009.
138
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
139
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
140
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
a uma única palavra: apocalipse. O apocalipse é o fim dos tempos, o fim dos
ciclos de encarnação, o necessário retorno às cinzas para que delas surja
algo novo, o julgamento que separa o joio do trigo e permite a emergência
de uma nova Jerusalém, um mundo renovado. Guerra, destruição e morte
são o seu modus operandi, e disso deve emergir a paradoxal esperança
de que, após sua ocorrência, tudo será melhor. O apocalipse é, nesse
entendimento, um mal necessário para se atingir um estado existencial
utópico pautado por um bem-estar imutável. Esse é o sentido corrente
do termo e, por consequência, de pós-apocalipse, disseminado ao longo
do tempo e impresso no inconsciente coletivo ocidental por meio da
interpretação católica do último livro da Bíblia. A ficção contemporânea
– de zumbi, mas também a que ficou conhecida e se sedimentou entre o
público leitor/consumidor e entre os acadêmicos como pós-apocalíptica –
tem, no entanto, minado essa conotação salvífico-religiosa da palavra e a
tornado sinônimo de resiliência e luta pela sobrevivência em um mundo
em ruínas, abandonado pelos deuses.
Todavia, independente da acepção conferida ao termo pela cultura
e imaginário populares e pela ficção atual, tal ideia de apocalipse está
incorreta, pois não se coaduna com o significado da palavra na língua que
a originou. Em grego, apocalipse (αποκάλυψις), vocábulo formada por
apo, “tirado de”, e kalumna, “véu” – literalmente, “tirar o véu” –, guarda
o sentido de revelação, a qual se dá no momento em que as divindades
retiram o véu que encobre e condiciona a temporalidade da existência a
uma percepção linear (cronológica) e concedem a alguém ou a um grupo
o dom profético da Visão, a qual possibilita o vislumbre sincrônico, não-
linear, do presente, do passado e do futuro. Tomado pelo dom, causa, lei e
efeito deixam de existir para o vidente – entendido vidente como qualquer
um, indivíduo ou grupo, podendo ser o mesmo ou outro, que se permita
tomar pela Visão, a qual não requer engajamento religioso, crença ou fé
para se manifestar, já que dom inerente à fenomenologia do Ser –, que
141
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
142
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
143
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
144
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
145
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
146
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
147
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
148
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
149
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
ser, que as espalhou pelo globo para que seu culto se disseminasse entre
os humanos. Entretanto, um certo William Channing Webb, professor
de Antropologia da Princeton University e ex-explorador, contou aos
presentes que, em uma de suas viagens à Groenlândia e à Islândia para
pesquisar inscrições rúnicas, se deparara com uma tribo muito específica
de esquimós que mantinha um culto demoníaco e de sangue em torno
de um ídolo muito parecido com o representado na estatueta trazida por
Legrasse. Diante desse dado, o inspetor e o professor trabalharam juntos
e conseguiram estabelecer um ponto de conexão entre os cultistas dos
pântanos da Louisiana do caso investigado por Legrasse e os cultistas
esquimós da Groenlândia com os quais o professor Webb teve contato:
ambos os grupos entoavam, em seus cânticos rituais, o verso “Ph’nglui
mglw’nafh Cthulhu R’lyeh wgah’nagl fhtagn”, que Legrasse descobriu,
ao interrogar os cultistas que prendeu, significar “In his house at R’lyeh
dead Cthulhu waits dreaming” (LOVECRAFT, 2011, p. 363). Tomados pela
curiosidade e pelo assombro, os especialistas quiseram saber do detetive
como ele havia feito aquela descoberta, ao que Legrasse lhes relata o
ocorrido nos pântanos da Louisiana e suas conversas com um homem
chamado Castro, cuja narrativa traz uma grande quantidade de detalhes
sobre o Culto de Cthulhu.
Finalizada sua leitura do longo manuscrito do professor Angell – o
qual, como se pode notar, é composto pelo encaixe de vários outros
relatos –, o narrador-leitor ainda não se mostra convencido de que não
está diante de charlatanismo – “My attitude was still one of absolute
materialism, as I wish it still were” (LOVECRAFT, 2011, p. 370); em
suma, ele resiste às evidências – e desiste de dar prosseguimento às
investigações demandadas pela sua curiosidade científica sobre o
assunto até que, ao visitar um amigo, curador de um museu, e apreciar
os objetos de uma de suas estantes, as quais eram forradas com jornais,
teve sua atenção chamada por “an odd picture in one of the old papers
150
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
spread beneath the stones. It was the Sydney Bulletin […]; and the
picture was a half-tone cut of a hideous stone image almost identical
with that which Legrasse had found in the swamp” (LOVECRAFT, 2011,
p. 371). De pronto, o narrador-leitor retira a folha de jornal da estante
e a lê. Para seu espanto, o relato ali publicado constitui “new treasuries
of data on the Cthulhu Cult” (LOVECRAFT, 2011, p. 373), o que reacende
sua curiosidade e espírito investigativo ao ponto de, naquela mesma
tarde, partir para a Nova Zelândia para confirmar os dados publicados
no jornal e tentar encontrar um marinheiro norueguês chamado Gustaf
Johansen, que vivenciara situações envolvendo o culto e certamente
detinha novas informações sobre o assunto.
Após perambular sem sucesso por Dunedin e Auckland na Nova
Zelândia e Sydney na Austrália, o narrador-leitor acaba descobrindo que
Johansen havia retornado a Oslo, sua cidade-natal, e decide ir ao seu
encontro. Ao chegar a esse destino, recebe a notícia de que o marinheiro
havia morrido – em circunstâncias bastante suspeitas e muito similares
às da morte de seu tio. Resolve então procurar a esposa do falecido, de
quem recebe um manuscrito no qual Johansen relata em detalhes sua
experiência com as ascensão da cidade-necrópole de R’lyeh e com a
manifestação factual de Cthulhu, bem como a maneira com que, ao atirar
o barco que navegava contra a criatura, de algum modo a fez retornar ao
sono de éons em que se encontrava, postergando assim, por mais algum
tempo, o final da existência humana.
He must have been trapped by the sinking whilst within
his black abyss, or else the world would by now be
screaming with fright and frenzy. Who knows the end?
What has risen may sink, and what has sunk may rise.
Loathsomeness waits and dreams in the deep, and
decay spreads over the tottering cities of men. A time
will come – but I must not and cannot think! Let me pray
that, if I do not survive this manuscript, my executors
151
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
152
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
153
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
154
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
155
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
156
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
through which not even thought can pass, had cut off the
spectral intercourse. But memory never died, and high-
priests said that the city would rise again when the stars
were right. Then came out of the earth the black spirits
of earth, mouldy and shadowy, and full of dim rumours
picked up in caverns beneath forgotten sea-bottoms.
But of them old Castro dared not speak much. He cut
himself off hurriedly, and no amount of persuasion or
subtlety could elicit more in this direction. The size of
the Old Ones, too, he curiously declined to mention.
Of the cult, he said that he thought the centre lay amid
the pathless deserts of Arabia, where Irem, the City of
Pillars, dreams hidden and untouched. It was not allied
to the European witch-cult, and was virtually unknown
beyond its members. No book had ever really hinted of
it, though the deathless Chinamen said that there were
double meanings in the Necronomicon of the mad Arab
Abdul Alhazred which the initiated might read as they
chose, especially the much-discussed couplet:
“That is not dead which can eternal lie,
And with strange aeons even death may die.”
Legrasse, deeply impressed and not a little bewildered,
had inquired in vain concerning the historic affiliations
of the cult. Castro, apparently, had told the truth when
he said that it was wholly secret. (LOVECRAFT, 2011,
p. 367-368)
157
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
158
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
159
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
160
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
Referências
BARTHES, Roland. O prazer do texto. São Paulo: Perspectiva, 2006.
CESERANI, Remo. As raízes históricas do fantástico. In: CESERANI, Remo.
O fantástico. Curitiba: Editora da UFPR, p. 89-104, 2006.
DERRIDA, Jacques. A farmácia de Platão. São Paulo: Iluminuras, 2005.
DERRIDA, Jacques. Khōra. In: DERRIDA, Jacques. On the Name. Stanford:
Stanford University Press, p. 87-127, 1995.
GINZBURG, Carlo. Sinais: raízes de um paradigma indiciário. In: GINZBURG,
Carlo. Mitos, emblemas, sinais. São Paulo: Companhia das Letras, p. 143-179,
1989.
HEIDEGGER, Martin. A origem da obra de arte. Lisboa: Edições 70, 1990.
HEIDEGGER, Martin. Sobre a essência da verdade. In: HEIDEGGER, Martin.
Heidegger. São Paulo: Abril Cultural, p. 127-145, 1979. (Os pensadores).
161
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
162
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
163
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
Presentación
La valla constituye un ejemplo reciente de producción audiovisual
seriada de carácter distópico, cuya primera (y única) temporada cuenta
con 13 episodios en total. Fue preestrenada en enero de 2020, estrenada
después en septiembre de ese mismo año en la cadena española Antena
3 y, posteriormente, ofertada en Netflix, en que se optó por emitir
un episodio nuevo cada semana, un formato poco habitual en esta
plataforma. De esta manera, la mayoría de espectadores pudieron ver
el final de la serie a principios de diciembre de 2020. En el reparto se
hallan algunas figuras emblemáticas de las producciones audiovisuales
de las últimas décadas en España. Así, la protagonizan dos de las caras
más conocidas de las series comerciales, como son Olivia Molina5 y Unax
Ugalde, a la vez que tienen un papel muy importante en ella dos actores
de larga carrera en el mundo del cine y el teatro, pasándose después
al trabajo en producciones televisivas: la madrileña Ángela Molina y el
catalán Abel Folk6. Otro de los personajes principales de la serie no está
encarnado por una estrella del panorama español, sino que se trata de
la actriz argentina Eleonora Wexler, con una larga carrera en el ámbito
de las telenovelas.
4 Como constata Quinn, “[…] lo fantástico no deja de ser un género poroso, híbrido, que
puede hermanarse con modalidades tales como la ciencia ficción o el terror” (2017, p. 291).
5 Este es el nombre artístico por el que es conocida Olivia Tirmarche Molina.
6 También es reconocido por su voz al haber participado en el doblaje de numerosas
producciones audiovisuales extranjeras emitidas en el Estado español tanto en catalán
como en castellano.
164
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
165
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
8 Sin disponer de los datos que Netflix se guarda para sí, la afirmación se basa en la
repercusión de la serie en las redes. Por lo que respecta a la audiencia concreta durante su
166
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
167
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
El espacio distópico
La valla se desarrolla en una España ficcionalizada ubicada en el año
2045, aunque la serie se inicia en lo que parece ser la época coetánea a la
filmación de la misma (2020). Según el lacónico relato que ofrece el nuevo
12 Herrero Cecilia afirma que la gemelidad presenta cierto paralelismo con el motivo
del doble cuando se trata de un personaje que hace dudar de las leyes del mundo en que
vivimos (2011, p. 31).
13 Por falta de espacio no se puede tratar con detenimiento la cuestión de género: el
entramado matrilineal femenino que se establece entre los personajes positivos de la serie
y la antagonista, Alma López-Durán.
168
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
169
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
170
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
16 Los eventuales intentos de saltar la frontera para pasar de Marruecos a España, si los
hay, no tienen repercusión pública.
171
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
analogía a los personajes de la serie que buscan cruzar ese muro –pese
a las barreras legales que lo dificultan o impiden – con los inmigrantes
que llegan a España para sobrevivir o prosperar. De esta manera, la serie
se construye un relato alegórico paralelo cercano ideológicamente a la
izquierda más progresista del país.
Naturalmente, el establecimiento de marcos espaciales
compartimentados constituye uno de los recursos más habituales en las
obras de cariz distópico, puesto que remiten al temor sociopolítico más
profundo que subyace en este tipo de creaciones. En primer lugar, este
temor puede corresponderse con la tensión existente con el modelo de
explotación actual, el modelo del capitalismo avanzado que nos aísla y nos
hace dependientes de la tecnología, tensión cuyo rendimiento distópico
se observa en la película de Àlex y David Pastor Los últimos días (2013),
una creación fantástica en que una enigmática dolencia agorafóbica
impide a las personas salir al exterior (fuera de las construcciones hechas
por el ser humano), perdiendo por lo tanto la capacidad de convivir con la
Naturaleza y llegando a morir si se hallan al aire libre17; otro ejemplo de ello
sería la serie El barco (2011-2013), en la cual mientras un grupo de jóvenes
pretende gozar de una experiencia iniciática en el buque escuela Estrella
Polar, tiene lugar una catástrofe natural que cubre de agua la mayor parte
de la Tierra, convirtiendo esa experiencia en una pesadilla de aislamiento
y monotonía que duró tres temporadas18. En segundo lugar, la distopía
puede remitir al temor a la regresión hacia modelos socioeconómicos
17 Aunque sucede en una Barcelona ficcional, como afirma Sánchez Trigos (2017, p. 283)
se atenúan sus elementos más distintivos, representando por lo tanto una problemática
que incide en una época (la del capitalismo avanzado) y no tanto en una realidad política
inscrita espaciotemporalmente, como La valla. Para una interesante lectura poliédrica de
Los últimos días, Gallardo Torrano (2018).
18 De hecho, esta monotonía acabó afectando al género mismo de la serie, como
expresa su cocreador, Iván Escobar: “Hay que decir que el concepto que yo ideé y que vendí
en un principio era una serie de suspense y ciencia ficción. Después, el mercado lo convirtió
en una serie costumbrista” (CASCAJOSA VIRINO, 2018, p. 367).
172
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
173
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
serie india Leila (2019), basada en una novela homónima y distribuida por
Netflix, que presenta una zona inconcreta del país asiático bajo el nombre
de Aryavarta, un nuevo estado dictatorial en la década de los años 40
del siglo XXI, es decir, en un momento próximo al de La valla. Igual que
en la producción española aquí tratada, la separación surge a raíz de una
limitación de los recursos naturales, en este caso el aire puro y el agua no
contaminada (potente símbolo de pureza y vida en la tradición védica),
aunque no aparece la cuestión de la pandemia mundial19. En este caso,
la discriminación de grupos sociales bajo el poder totalitario en que se
fundamenta la serie evoca el sistema de castas todavía presente en la
sociedad india, sometiéndola a una estricta compartimentación social.
Por otro lado, pasamos a un ejemplo bastante más conocido: la película
de producción estadounidense Elysium (2013), que combina lo distópico
con la ficción prospectiva. El argumento gira alrededor del hecho de que
a mediados del siglo XXII la Tierra ha quedado convertida en el espacio
baldío de reclusión de una mayoría pobre que lleva una vida miserable,
mientras que los poderosos disfrutan de una existencia placentera en
una nave espacial homónima de la película, gracias también a ingentes
avances científicos en el campo de la medicina y la salud. Esta distribución
tan poco equitativa, donde el espacio es el nuevo muro fronterizo, evoca
singularmente la lacerante desigualdad de recursos entre los billonarios
estadounidenses y el resto de ciudadanos, así como la extrema dificultad
de estos para pasar a formar parte de las élites oligárquicas que han
dirigido durante largo tiempo el país20.
174
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
Distopía e Historia
En este sentido, ¿no podría ser La valla una transformación de
antiguas amenazas o de situaciones todavía presentes de exclusión,
como se ha visto más arriba? Una serie de factores parecen señalar
en la primera dirección, y vamos a detallarlos en este apartado. El
relato está focalizado en la situación distópica en el Estado español,
ignorando la suerte concreta que han corrido otros países en ese
escenario posapocalíptico21. Se ha consolidado un régimen dictatorial
que defiende el aislamiento y la jerarquía por encima de cualquier
valor como la solidaridad, la libertad de expresión o la participación de
ciudadanía en la toma de decisiones. Siendo España un país en que el
nacionalcatolicismo – acompañado de elementos propios del fascismo
– fue el eje ideológico central del franquismo y una fórmula que no
desentonaba con el régimen anterior de Primo de Rivera (sumados, casi
la mitad del siglo XX), no sorprende encontrar en la serie elementos
ideológicos paralelos: un nacionalismo22 presente a través de las
banderas y los discursos políticos, o en el himno patriótico que cantan
los niños retenidos como cobayas en el primer episodio, himno que
175
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
23 Lo religioso sí que parece haber pasado a la historia. En ese mismo episodio vemos
cómo Hugo lanza al mar la cruz de madera que había puesto junto con su hija en la
sepultura improvisada de su difunta esposa.
24 De la Torre advierte que tener un cineasta de renombre detrás de las cámaras de
un piloto (en este caso los dos primeros episodios) sirve para dar “categoría” a la ficción
televisiva (2016, p. 587).
176
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
25 Resulta muy acertado el lema del régimen dictatorial que aparece en la propaganda
del paisaje urbano de ese Madrid ficcional: “El futuro nos pertenece”, es decir, desde
el pasado se apropian del futuro y no ocultan que lo están haciendo, puesto que el
pronombre “nos” tendría como referente la oligarquía gobernante (y no la ciudadanía).
26 Recordemos, por ejemplo, que el encabezamiento de muchas protestas en el
tardofranquismo fue “Libertad y amnistía” o “Libertad, amnistía y estatuto de autonomía”,
177
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
178
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
179
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
Conclusiones
Una serie de elementos de La valla contribuyen a la formación de
una atmósfera de misterio y suspense, como lo incierto de los dispositivos
implantados en las gemelas y posteriormente a Marta. Lo inexplicado tantea
aquí lo inexplicable, aunque entre en realidad en el campo de lo científico,
igual que en el caso de los motivos analizados del doble y la vampirización.
Todo ello enlaza, pues, con un fantástico que, sin darse explícitamente,
conforma una de las fronteras de esta serie posapocalíptica. Además,
el espacio distópico que se presenta, focalizado alrededor de un muro
símbolo de desigualdad e injusticia, resulta un terreno perturbadoramente
30 Se llama Ernesto Gamboa y estaba interpretado por Juan Pablo Shuk. Otras
dos curiosas coincidencias con la actriz argentina: ambos trabajaron previamente en
telenovelas de sus respectivos países más bien como antagonistas y ninguno de los dos
lleva apellidos de procedencia románica; esto último cabe tratarlo simplemente como una
mera casualidad del destino.
31 El personaje positivo de Manuela, criada en la mansión del ministro que mantiene
una relación con el hijo de este, merecería un capítulo aparte que las limitaciones de
espacio no permiten desarrollar.
32 Para un análisis en la misma línea sobre distopía e historia, pero en un relato literario,
la novela de Manuel de Pedrolo Mecanoscrit del segon origen, Gregori (2019).
180
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
181
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
Referencias
ACOSTA SÁNCHEZ, Miguel Ángel. Las fronteras terrestres de España en Melilla:
delimitación, vallas fronterizas y “tierra de nadie”. Revista Electrónica de Estudios
Internacionales (REEI), Madrid, n. 28, p, 1-34, 2014. Disponible en: http://www.
reei.org/index.php/revista/num28/articulos/fronteras-terrestres-espana-melilla-
delimitacion-vallas-fronterizas-tierra-nadie. Acceso en: 2 ene. 2021.
CASCAJOSA VIRINO, Concepción. Televisión 2000-2015. In: LÓPEZ-PELLISA,
Teresa (Ed.). Historia de la ciencia ficción en la cultura española. Madrid/
Frankfurt am Main: Iberoamericana/ Vervuert, p. 357-379, 2018.
DE LA TORRE, Toni. Historia de las series. Barcelona: Roca Editorial de Libros, 2016.
GALLARDO TORRANO, Pere. Les bones intencions contra el futur incert: el
Mecanoscrit de Manuel de Pedrolo i Los últimos días d’Àlex i David Pastor. In:
MARTÍN ALEGRE, Sara (Ed.). Explorant Mecanoscrit del segon origen: noves
lectures. Tarragona: Orciny Press, 2018.
GREGORI, Alfons. ¿Hacia una renovación de la Historia? Post-apocalipsis,
ideología y lengua en Mecanoscrito del segundo origen de Manuel de Pedrolo.
Studia Romanica Posnaniensia, Poznan, v. 47, n. 1, p. 19-29, 2019.
HERRERO CECILIA, Juan. Figuras y significaciones del mito del doble en la literatura:
teorías explicativas. La Laguna, n. 2, p. 15-48, 2011. Disponible en: https://www.ull.
es/revistas/index.php/cedille/issue/view/78. Acceso en: 19 dic. 2020.
JAMESON, Fredric. Archaeologies of the Future. The Desire Called Utopia and
Other Science Fictions. 2. ed. Londres/ Nueva York: Verso, 2007.
LA valla. Dirección de David Molina Encinas et al. España: Atresmedia/ Good
Mood Productions, 2020.
MORENO, Fernando Ángel. Teoría de la literatura de ciencia ficción. Poética y
retórica de lo prospectivo. Vitoria: Portal Editions, 2010.
QUINN, Paul Patrick. Televisión 1990-2015. In: ROAS, David (Dir.). Historia
de lo fantástico en la cultura española contemporánea (1900-2015). Madrid/
Frankfurt am Main: Iberoamericana/ Vervuert, p. 289-309, 2017.
182
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
183
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
184
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
2 Remito al sitio web del CDC, especialmente a su apartado “Preparación Zombi”, en donde
se aprovechó el éxito cultivado por The Walking Dead para explicar, a través del monstruo
reviniente, cómo se debe proceder ante una emergencia sanitaria de alcance masivo. La
información se encuentra disponible en: https://blogs.cdc.gov/publichealthmatters/2011/05/
preparedness-101-zombie-apocalypse/. Acceso en: 12 abr. 2021.
185
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
186
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
187
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
188
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
189
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
190
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
191
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
3 En este párrafo, recupero la lectura que propone el documental Eli Roth’s: History
of Horror, emitido por AMC en 2018. El primer episodio, dedicado a la figura del zombi,
incluye la voz de Greg Nicotero, productor de The Walking Dead y director de efectos
especiales en los filmes tardíos de Romero.
192
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
193
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
194
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
Figura 2 – Fotograma de los zombis en The Walking Dead (AMC/Valhalla Entertainment, 2010).
195
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
196
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
197
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
198
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
audiencia, somos esos testigos que toman distancia crítica para diputar a
los personajes por sus obras y por aquello que la serie nos propone como
una “esencia” de lo humano.
Como fuere, es la presencia del zombi lo que genera las condiciones
de posibilidad para esta lectura. Pero la estrategia diste de ser nueva.
Bakhtin lo percibió años atrás: la peste fue siempre marco privilegiado
para explorar la naturaleza humana, porque “las desgracias liberan al
individuo de las relaciones habituales, sociales y jerárquicas, y descubren a
la persona en la persona” (2019[1961], p. 655). Cierto rasgo carnavalesco
aflora, en el sentido de un momento de liberación transitoria con extensa
tradición literaria, pero cuyo germen Bakhtin, sin dudarlo, localiza en
El Decamerón. Se dirá que no puede buscarse en The Walking Dead la
celebración carnavalesca de la vida en un marco funesto como hiciera
Boccaccio, ni tampoco la ambivalencia bufonesca que Rabelais le da a
la muerte. Sin embargo, la peste aquí sigue siendo condición necesaria
de aquello a lo que alude la cita que abre mi escrito: si algo enseñó
Boccaccio, es que la plaga parece estar al servicio de mostrar el verdadero
rostro de una sociedad, y lo hace al “relajar los vínculos de las leyes, de
las costumbres, de las convenciones, es decir, al instaurar un régimen de
libertad, propicio para el desahogo de los instintos […] la peste es una
coartada para la anarquía” (PAPINI, 2005, p. 29).
Para ir concluyendo, habría que agregar que la peste zombi motiva
también un ideal de grupo, porque el peligro lleva a delimitar una identidad
colectiva, la establece frente a otras, y refuerza los vínculos entre sujetos
que han sido unidos solo por la contingencia de la catástrofe. Cuando
Hershel afirma que “quizá la naturaleza nos juegue una mala pasada, pero
esa ley sigue siendo invariable” (THE WALKING DEAD, 2011, T2, E13), refiere
precisamente a este mandato social de proteger a los propios, deriva de
una idea de “familia” que deja de privilegiar los lazos consanguíneos para
articular, más bien, un concepto de comunidad. Es esto lo que Fernández
199
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
200
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
Referências
BAKHTIN, Mikhail (1961). La novela. Respuesta a V.V. Koshinov. In: La novela como
género literario. Zaragoza: Prensas de la Universidad de Zaragoza, p. 655-661, 2019.
CUVILIER, Elian. Los apocalipsis del Nuevo Testamento. Navarra: Verbo Divino,
2002.
DELUMEAU, Jean. El apocalipsis recreado. In: ECO, Umberto; DELUMEAU, Jean;
CARRIÉRE, Jean-Claude; JAY GOULD, Stephen. El fin de los tiempos. Barcelona:
Anagrama, p. 69-213, 1999.
ECO, Umberto. Historia de las tierras y los lugares legendarios. Barcelona:
Lumen, 2013.
ECO, Umberto; MARTINI, Carlo María. ¿En qué creen los que no creen? Un diálogo
sobre la ética en el fin del mundo. Buenos Aires: Arte Gráfico Editorial, 1996.
201
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
202
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
ROTH, Eli (Productor Ejecutivo). Body Horror. In: Eli Roth’s: History of
Horror (Documental seriado). Temporada 2. Estados Unidos: AMC/ Asylum
Entertainment, 2019.
THE Walking Dead. Frank Darabont (Creador). Estados Unidos: AMC/ Valhalla
Entertainment, 2010-2021.
203
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
Introducción
A lo largo de las últimas seis décadas, el estudio del cine fantástico
ha reservado un espacio específico para examinar una hipotética relación
entre los picos de producción de películas inscritas en esta forma narrativa
y las distintas crisis que han tenido lugar en el siglo XX y en lo que llevamos
del XXI, ya sean estas de alcance local o global, de carácter económico,
social o bélico. Un claro precursor de esta vertiente es, por supuesto,
Kracacuer (1947) y su fundacional revisión crítica de la historia del cine
alemán pre-régimen nazi (donde, si aceptamos la corriente expresionista
como una expresión de lo fantástico, se incide en esta hipótesis). No
obstante, fue entre los años 50 y 60 cuando estudios como los de Pirie
(1973) o Esiner (1952) abrieron el camino a analizar el cine de terror en
relación a las épocas, la cultura específica de cada país y los ciclos de
producción concretos, al contrario que lo propuesto previamente por
Clarens (1967), que estudia cada película como un sistema autónomo. Este
enfoque prefiguró gran parte del léxico teórico de la mayoría de trabajos
sobre el género producidos desde entonces.
En lo que respecta al cine español, la recién clausurada década de
2010 ha deparado la significativa confluencia de dos fenómenos decisivos,
y hasta cierto punto inéditos, en el orden social y cinematográfico: por un
lado, una crisis geo-económica (la más profunda en el mundo occidental
204
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
205
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
206
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
Un fantástico “glocal”
La idea de un cine fantástico español permeable a las fricciones
socio-económicas contemporáneas a su contexto de producción no es
inédita. Sin embargo, el caso actual presenta una especificidad: se trata
del carácter “glocal” que tanto los efectos de la crisis como la producción
que nos ocupa comparten como parte de un paisaje sociológico que,
cada vez en mayor medida, difumina las fronteras entre las distintas
identidades culturales y aboca a los agentes interesados en este conflicto
a resolver aquellas tensiones subyacentes entre las inercias globales y la
preservación de aquellos marcadores locales que se perciben amenazados
por estas. Como Fasenfest recuerda, el término “glocal” tiene unos
orígenes eminentemente económicos:
Some may worry that glocalization runs the risk of
generalizing the global into the local to defuse local
cultural differences, and indeed the increased migration
flows between more and less developed countries, the
ever expanding internationalization and standardization
of consumption, and the uniformity of cultural symbols
that threatens local variation and undermines the
intergeneration transmission of social practices and
norms are a threat. (FASENFEST, 2010, p. 263)
207
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
208
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
El horror interior
No hay duda de que uno de los puntos de presión más importantes
sobre los que la crisis española ha pivotado es la vivienda; de hecho, si el
relato de los últimos tiempos necesitase de una imagen de portada esa
bien podría ser la de una geografía de edificios y chalets abandonados a
medio construir, grúas que languidecen en las calles desiertas y cárteles
que anuncian las promociones inmobiliarias interrumpidas a la entrada de
las urbanizaciones vacías. En el año 2006, con los precios creciendo a un
17% y una inflación reducida, llegó a construirse una media de 762.540
casas, más que Alemania, Italia, Francia y Reino Unido juntos (datos del
Ministerio de Fomento cit. en López Letón, 2005). A su vez, la cultura de la
construcción instauró una serie de inercias indisociables del (por entonces
seguro) denominado milagro económico español: empleo de baja
cualificación, devaluación de la educación con el consiguiente aumento
del abandono escolar, cultura hipotecaria (la cantidad hipotecada en estos
años pasa del 50% al 70%, es decir, si en el año 2002 se conceden 800.000
hipotecas, en 2007 este número aumenta hasta los 1,06 millones).
209
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
210
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
211
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
212
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
213
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
sus antiguos hogares (que han abandonado por culpa de una epidemia
global de agorafobia), mientras que los de Extinction se aferran a las que
fueran sus casas y se niegan a abandonarlas a pesar (o precisamente por
culpa de) las criaturas mutantes que acechan en algún lugar del exterior.
Frente a la problemática de lo común que, como bien plantea Pueyo,
subyacía como discurso anti-capitalista en las acampadas de Tahir, Sol
o Zuccoti (PUEYO, 2013, p. 35), estas películas se esfuerzan por erigir un
simulacro de normalidad en torno al antiguo concepto inmobiliario de
“propiedad privada”: curiosamente, ambos títulos eluden la posibilidad
de un nuevo orden social que enmiende los errores del anterior.
Entre los personajes no hay, en rigor, discusión de orden político que
procese en la ficción aquellas tensiones que la agenda social española
parece haber “re-descubierto” en los últimos años. Sólo Fin, que
narra la estupefacción de un grupo de antiguos amigos ante la súbita
desaparición del resto del mundo, se atreve a proponer un imaginario
de casas deshabitadas en el que la fantasía de lo común planteada por
los indignados se hace tangible (no sólo la acampada de Sol, también los
muchos mercadillos populares que han ido floreciendo en los años de la
crisis por la geografía española constituyen una práctica de indudable
valor catártico). Compárese, por ejemplo, las muchas escenas en que
los protagonistas de esta película penetran en las viviendas desiertas
y toman acopio de todo lo que necesitan con la escena del asalto y
posterior batalla que tiene lugar en el supermercado de Los últimos
días, donde los supervivientes se atrincheran para defender sus víveres
de otros supervivientes dispuestos a arrebatárselos. Ambas suponen la
cara y la cruz del modo en que la población española ha enfrentado
la crisis: proponiendo una nueva reconfiguración del binomio público/
privado por un lado (reivindicando lo común) y aferrándose a los restos
del naufragio neo-liberal por otro. También El año de la plaga incide en
esta paradoja: la película está plagada de escenas en las que ciudadanos
214
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
215
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
216
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
217
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
218
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
Referencias
CARROLL, Jordan. The Aesthetics of Risk and Dawn of the Dead and 28
Days Later, Journal of the Fantastic in the Arts. Disponible en: http://www.
readperiodicals.com/201201/2730413241.html. Acceso en: 20 ene. 2021.
CARROLL, Noël. Filosofía del terror o paradojas del corazón. Madrid: A. Machado
libros, 2005.
CLARENS, Carlos. An Illustrated History of Horror and Science-Fiction Films. New
York: G. P. Putnam’s Sons, 1967.
EISNER, LOTTE. L’écran démoniaque: influence de Max Reinhardt et de
l’expressionisme. Paris: A. Bonne, 1952.
219
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
FASENFEST, David. The Global Crisis and the Politics of Change. Critical
Sociology, v. 36, n. 3, p. 363-368, 2010.
FERNÁNDEZ-SAVATER, Amador. La Cultura de la transición y el nuevo sentido
común. elDiario.es, 14 jun. 2013. Disponible en: http://www.eldiario.es/
interferencias/Cultura_de_la_Transicion-segunda_transicion_6_113798632.
html. Acceso en: 8 ene. 2021.
HIGUERAS FLORES, Rubén. El cine de terror español contemporáneo o el
borrado identitario como garantía de exportación. In: BERTHIER, Nancy; DEL
REY-REGUILLO, Antonia. (Eds.). Cine iberoamericano contemporáneo y géneros
cinematográficos, Valencia: Tirant Humanidades, p. 103-122, 2013.
KEISNER, Jody. Do you want to watch? A study of the visual rhetoric of the
postmodern horror film. Women’s Studies: An inter-disciplinary journal, v. 37,
Issue 4, 2008.
KRACACUER, Siegfried. From Caligari to Hitler: A Psychological History of the
German Film. Princeton: Princeton, 1947.
LÁZARO-REBOLL, Antonio. Spanish horror film. Edinburgh: Edinburgh University
Press, 2012.
LÁZARO-REBOLL, Antonio. Now Playing Everywhere: Spanish Horror Film
in the Marketplace. In: BECK, Jay; RODRÍGUEZ ORTEGA, Vicente (Eds.).
Contemporany Spanish Cinema and Genre. Manchester: Manchester
University Press, p. 65-87, 2008.
LÓPEZ LETÓN, Sandra. La burbuja que embriagó a España. Elpais, 24 oct.
2015. Disponible en: http://economia.elpais.com/economia/2015/10/20/
actualidad/1445359564_057964.html. Acceso en: 3 ene. 2021.
MUÑOZ, Alberto. 100.000 familias perdieron su vivienda habitual en los dos
últimos años. Elmundo. Madrid, 23 jun. 2015. Disponible en: http://www.
elmundo.es/espana/2015/06/23/5588055fe2704e960b8b457a.html. Acceso en:
3 ene. 2021.
MUNTEAN, Nick; PAYNE, Matthew. Attack of the Livid Dead: Recalibrating Terror
in the Post-September 11 Zombie Film. In: SCHOPP, Andrew; HILL, Matthew
B. (Eds.). The War on Terror and American Popular Culture: September 11 and
Beyond. Madison, WI: Fairleigh Dickinson University Press, p. 239-258, 2009.
OLNEY, Ian. Eurohorror. Indiana: Indiana University Press, 2013.
220
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
221
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
222
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
223
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
224
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
2 Paolini registra otras reseñas a Water 2000 de Tabaré J Freire, las firmadas con las
iniciales C. T. y J. C. C. y una cuarta sin firma, a las que no hemos podido acceder.
3 Los encargados de la escenografía fueron Carmen Prieto (arquitecta, escenógrafa y
vestuarista), Jorge Carrozzino (pintor, diseñador gráfico y escenógrafo) – ambos contraerán
matrimonio en 1966 – y el escenógrafo Mario Galup. Para la música lo hizo Leonel Hainintz,
seudónimo de Coriún Aharonián.
4 Disponible en: http://mnav.gub.uy/m.php?a=564. Acceso en: 16 mar. 2021.
5 Disponible en: https://graffica.info/montevideo-arte-conceptual/. Acceso en: 16 mar. 2021.
225
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
226
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
227
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
228
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
dice Dervy el caprichoso. La turba asalta y roba el agua del río Santa Lucía,
que había sido comprado por Hugo en ese contexto. Frente a este caos
el argumento del personaje central será el de “defender el patrimonio
nacional, la economía del país, las instituciones democráticas…” (p. 35).
Llama la atención la lucidez temprana del autor en criticar el capitalismo
(como sostienen los primeros reseñadores), pero sobre todo a la
democracia. En su mensaje radial vuelve a aparecer esta misma idea:
6 De otro lado, hay que considerar que la publicidad real de la época en torno a los
objetos de baño construye la imagen de una mujer sensual en posición manierista para
la mirada masculina, y el narcisismo femenino que se mira a sí misma como bella joven
y perfecta, tal como se puede apreciar en la gráfica de empresa española Roca de 1936
o 1969. Disponible en: https://antiguosanunciosdeantes.blogspot.com/2019/10/roca-
calefaccion-52-anuncios.html.
229
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
230
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
231
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
reducto humano (del capitalismo) a los que han llegado Dervy, Alberto
y Josefina y visten harapos y llevan tres días sin beber agua. También
tienen la computadora electrónica. Josefina asume momentáneamente
el liderazgo para repartirse el dinero del cofre y de refundar la empresa
con dinero del Estado “usaremos mano de obra barata. Sobrará carne
de cañón después de la Sequía Universal” (p. 69). Ella piensa que en
algún lugar del planeta todavía hay sobrevivientes a quienes seguirán
explotando. Pero la voz de la computadora anuncia la catástrofe: “Sin
señales de vida en todo el planeta. Información verificada por todas las
computadoras en circuito espacial. ¡Atención! Información verificada por
todas las computadoras en circuito espacial. Sin señales de vida en todo
el planeta” (p. 71). Luego se escucha un ruido y como un sobreviviente
más aparece Hugo, quien mata a Josefina inyectándole ácido de baterías
y luego a Dervy y Alberto al darles de beber agua con estroncio flora. Al
final Hugo viene a ser el último humano vivo que cumple con tener su
objeto de deseo: el cofre, pero le sobreviene la Epilepsia sin Retorno y
muere abrazado al cofre. Luego de un silencio la máquina –como único
testigo del fin de la humanidad- anuncia:
¡Atención! ¡Atención! Habla la computadora electrónica.
Información verificada por todas las estaciones
espaciales. ¡Atención a la información! Llueve en todo
el planeta. Llueve en todo el planeta. Lloverá por mucho
tiempo, por mucho tiempo, por mucho tiempo… (p. 77).
232
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
233
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
234
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
ofrecer una puesta en la cual, las escenas de cada plano ocurran de modo
simultáneo (dependiendo del tipo de teatro), en el que el espectador
estaría “cercado” por estos planos. De otro lado, para el plano de medios
sugiere Abreu como posible decorado
un telón, exhibiendo eventualmente escenas de Grandes
Catástrofes o calles desiertas, montañas de basura. El
director queda libre para enloquecer, de los horrores
de los campos de concentración nazis, pasando por
la Talidomida, explosiones nucleares (un buen hongo
atómico), los virus ampliados (como el VIH), las flores
carnívoras, etc. (p. 31, traducción nuestra)
235
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
236
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
237
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
238
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
Así, se irá invirtiendo los valores, Vera pasa a creer, mientras que
Carmem entra en un pesimismo sin retorno, ya que como le dice Carmem,
ella no tiene a nadie. Esto se agrava aún más cuando el hombre sea
capturado y confiese la ubicación de las “Sisters salvadoras” en la tienda
funeraria. El D. J. Nostradamus Pereira anuncia por la radio la inminente
captura de las hermanas:
Batallones armados hasta los dientes sobrantes ya
rodean el lugar. Si es verdad lo que afirma el semental,
no habrá fuga posible para las Hermanas. Y si no, se
rascarán las heridas allí, que un día será. Mientras la
funeraria está rodeada, mantén la voz de la tía Jagger,
muerta en el Gran Catástrofe, en el hit más expresivo
del siglo pasado: ¡Sa-tis-fa-ti-on! Hoy más que nunca,
aunque muerta, la tía tenía razón: ¡nadie consigue
estar satisfecho! (La voz de Mick Jagger, y el Coro
de Acompaña contaminado, muy animado). (p. 43,
traducción nuestra)
239
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
240
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
Conclusiones
Las piezas de Bolón y Abreu confrontan su realidad político-social
y logran representarla en el plano de la ficción teatral. Ambas utilizan el
recurso brechtiano de la ruptura de la cuarta pared con el fin de que el
espectador tome conciencia en términos políticos, de aquello que acontece
en escena, interpelando desde la realidad ficcional hacia la historia concreta
y compartida, vinculada a inestabilidades en el orden político. De otro lado
imaginan futuros postapocalípticos que si bien se enmarcan en la Guerra Fría
(como la amenaza nuclear), también recogen los ansiedades del momento –
hoy más actuales- como la escasez del agua o el totalitarismo de la dictadura
militar. Ambas piezas comparten esta noción de lo contaminado (el agua en
Bolón; el planeta en Abreu) como metonimias de un estado de cosas distópico
que amenaza la estabilidad social y planetaria, cuyo colapso permite que se
mantengan en las sombras formas de poder opresivo (la empresa en Bolón;
el Poder Central en Abreu). En última instancia, ambos autores critican
principalmente al capitalismo como sistema económico (que en Bolón se
amplía a la democracia como sistema político) al presentar escenas de
pobreza que aliena constantemente al sujeto, cosificándolo o reduciéndolo a
simple consumidor, con la inevitable pérdida de la condición humana.
Referencias
ABREU, Caio Fernando. Teatro completo. Porto Alegre: Instituto Estadual do
Livro, 1997.
BARBOSA DA SILVA, Mara Lúcia. Zona contaminada: o processo de criação
dramatúrgica em Caio Fernando Abreu. 2009. Tese (Doutorado em Letras) –
Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
BOLÓN, Hugo. Water 2000. Montevideo: Círculo editorial, 1966.
FERNÁNDEZ, Gerardo. Los caminos de la dramaturga nacional. Marcha,
Montevideo, p. 26, 22 jul. 1966.
Apocalipsis en El Galpón. Marcha. Montevideo, p. 2, 15 jul. 1966.
241
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
Introducción
Al hablar de la ficción postapocalíptica se debe realizar un recorrido
a sus orígenes para rastrear las formas en las que se ha concebido la
vida en la Tierra y cómo sobrevivir en lo que queda de ella después de
una crisis mundial. Al pensar en este género literario, es indispensable
remitirse a la obra que la inaugura: The Last Man (1826), escrita por Mary
Shelley (1797-1851). Durante el desarrollo de la ficción postapocalíptica se
pueden encontrar otras escritoras pioneras que se inclinaron por concebir
el mundo después del fin o posterior a un gran cambio de paradigma
social durante el siglo XX1. Sin embargo, la ficción postapocalíptica ha sido
catalogada en el imaginario colectivo como un espacio literario creado
por hombres que conciben un fin del mundo donde los sobrevivientes
y héroes solamente son masculinos. Las ficciones postapocalípticas
escritas por mujeres anteriores al éxito de obras adaptadas al cine o a la
1 Es el caso de las autoras Rokeya Sakhawat Hossain y su novela Sultana’s Dream (1905),
Charlotte Perkins-Gilman y su novela Herland (1915), Jacquetta Hawkes y su cuento “The
Unites” incluido en A Woman as Great as the World and Other Fables (1953), Margot
Bennett y su novela The Long Way Back (1957), Anna Kavan y su novela Ice (1967), Angela
Carter y su novela Heroes and Villains (1969) y Doris Lessing y sus novelas The Memoirs of a
Survivor (1974) y Mara and Dann (1999).
242
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
2 “Abya Yala, que significa Tierra Madura, Tierra Viva o Tierra en Florecimiento, fue el
término utilizado por los Kuna, pueblo originario que habita en Colombia y Panamá, para
designar al territorio comprendido por el Continente Americano” (Carrera Maldonado y
243
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
Ruiz Romero, 2016, p. 12). Algunas organizaciones y comunidades indígenas prefieren este
apelativo para referirse al continente americano como una postura ideológica en contra
de la designación de origen europeo fruto de la Conquista. Este trabajo prefiere su uso ya
que considera que es un término que incluye las literaturas del continente americano y
sus diferentes tradiciones, como es el caso de la latinoamericana y la lusófona, de las que
forman parte las dos escritoras aquí analizadas.
3 Los tres cuentos entretejen la historia de Lalia, una mujer que sobrevive el apocalipsis
por desarrollar una mutación. Acerca del primer cuento consultar: https://452f.com/de-
ficciones-climaticas-centroamericanas-abel-de-la-escritora-costarricense-anacristina-rossi-
lucia-leandro-hernandez/. Acceso en: 18 feb. 2021.
244
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
245
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
8 La primera edición de este libro se realizó en Costa Rica por Uruk Editores en 2008. Sin
embargo, para este trabajo se utilizará la edición realizada en España por Editorial consonni en
2019. “La flor del Espíritu Santo” se publicó originalmente en el libro Contra-corriente (1994).
246
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
247
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
Ambos textos evocan una añoranza del mundo antes del apocalipsis:
en Escudos, de quien lo vivió, en Prospero de quien lo desea sin haberlo
conocido. Es así que se puede decir, según lo planteado por Salvioni,
que Prospero se ubica más dentro del modelo catastrofista, ya que sus
personajes viven después del cambio de paradigma social/ambiental y
solo saben del mundo anterior a través de lo que leen o de los restos del
mismo que se mantienen artificialmente en la ciudad interior. Mientras
que Escudos está más cercana al modelo anticipatorio, mostrando un
personaje que vivió antes del cataclismo y que lo describe a partir de su
experiencia personal.
En “Reposiçao”, se presenta una sociedad altamente segregada donde
sus personajes principales ‒ Jô y Marcos ‒, viven en una de las favelas de
São Paulo, ahora llamadas ciudad exterior, donde sus habitantes sobreviven
a partir de recambiar partes de su cuerpo por partes artificiales para vender
sus órganos o miembros a personas que puedan pagarlos. Según comenta
Jô, “[e] os padres diziam que você precisava ser inteiro pra entrar no céu.
Outra piada. Era fácil para os desgraçados ricos que compravam as partes
de gente como ele, sempre se renovando. Mas se sua única fonte de
renda era seu corpo, não havia muita escolha” (PROSPERO, 2020, p. 33).
La ciudad de São Paulo concebida por Prospero se muestra como una Junk
City, que Samuel R. Delany define de la siguiente manera:
248
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
249
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
9 En relación con las clínicas clandestinas se presenta este fragmento: “Não está
iluminado agora, apesar do sol que o fustiga e reflete o aço ao seu redor. A casa da doutora
é uma Caixa como todas as outras, mas seu cheiro é inconfundível, uma mistura de sangue
e antisséptico. Ela não é uma doutora de verdade, claro, não como os inteiros com seus
diplomas – o apelido é um meio deboche, do jeito que as coisas funcionam por ali. De
vez em quando ela é presa, mas sempre a soltam no fim, porque alguém precisa fazer o
serviço” (PROSPERO, 2020, p. 35).
10 “[…] un organismo cibernético, un híbrido de máquina y organismo, una criatura de
realidad social y también de ficción” (HARAWAY, 1995, p. 253).
250
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
251
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
Marcos tenía una posición un poco mejor que Jô: su papá poseía un
empleo y sus padres lo mandaron a estudiar cuando aún las escuelas
estaban abiertas. Además, casi no había recambiado partes de su cuerpo.
Jô vive solo con su mamá y ya ha sufrido bastantes recambios, lo que a
ella le asusta porque en la iglesia promueven la idea de que se debe ir
“entero” al cielo, sin partes recambiadas: “[a] mãe chorava toda vez,
dizendo que ele nunca entraria no céu, mas Marcos dizia que isso era
13 Es importante destacar que la novela Brown Girl in the Ring (1998) de Nalo Hopkinson
problematiza desde el afrofuturismo la venta de órganos clandestina en una Toronto
escindida entre ricos y pobres. Lo que potencia su trama es la compra-venta de un corazón
para mantener con vida a la primera ministra canadiense.
252
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
bobagem. Se havia um Deus, ele argumentava, ele tem que saber que a
gente não teve escolha. Senão, pra que serve?” (PROSPERO, 2020, p. 34).
Sin embargo, también se presenta la pérdida de partes del cuerpo
como algo determinante en la subjetividad. Marcos fue acusado de ladrón
por tocar una flor a la que se le cayó un pétalo por el contacto y el castigo
fue extraerle sus manos y ponerle unas de recambio. Como consecuencia,
Marcos se puso muy triste y se dio cuenta de que con esas manos no
le quedaría más fuente de ingresos que comenzar a recambiar partes de
su cuerpo. Sin embargo, parece que algo salió mal en el procedimiento,
porque Marcos fallece. Jô recuerda lo sucedido cuando indica que: “[n]ão
é culpa da doutora, ele pensa ao entrar [no cemitério]. Ela é boa. As vidas
só são curtas ali fora” (PROSPERO, 2020, p. 37).
En el cuento “La flor del Espíritu Santo” una mujer indica que fue
despedida de su lugar de trabajo en un invernadero, dado que al gobierno
no le interesa invertir en esa empresa ya que no le encuentra “[...] utilidad
práctica, material, exportable o comerciable [...]” (ESCUDOS, 2019, p.
106). En este escenario, también se puede ver la relación sujeto/objeto,
identidad/cuerpo dentro de una Junk City en la personaje principal: “[m]
e condenaron por inconforme a perder el pulgar derecho, cuando en
una asamblea del Sindicato, argumenté que a las mujeres embarazadas
debería proporcionárseles un vaso adicional de agua, tomando en cuenta
su estado” (ESCUDOS, 2019, p. 106). A partir de este hecho, la mujer
decide no volver a hablar.
Un día decide caminar sin rumbo por la ciudad en ruinas, donde
encuentra un local que le llama la atención porque tiene hojas de papel
en su vitrina. En la tienda, hay un hombre chino que le enseña caracteres
en su idioma y ella comienza a recordar la sensación de escribir su nombre
en un papel: Doramar. La mujer continúa yendo asiduamente donde el
hombre, hasta que un día lo encuentra fallecido. A partir de esta pérdida, la
mujer se sorprende porque se da cuenta de que aún puede albergar cariño
253
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
254
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
255
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
256
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
La mujer del cuento de Escudos relata un entorno donde solo hay ciudades
en ruinas:
No sentía gozo ni ánimo por los humanos. Donde hay
personas siempre hay destrucción. Ahora la naturaleza
está muerta. El sol lo guardo en mis recuerdos porque
casi no puede verse. Al mediodía, los vehículos
encienden sus luces porque todavía no terminan de
pasar las nubes negras de la última guerra que terminó
hace dos años. A veces, según la dirección del viento,
no puede verse nada, y aunque no haya alarma de crisis
ambiental, es necesario ponerse máscara porque no se
puede respirar. (2019, p. 111)
257
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
14 Fredric Jameson define al deseo utópico como “[…] algo parecido a un impulso
utópico detectable en la vida cotidiana y en sus prácticas mediante una hermenéutica
especializada o un método interpretativo” (2009, p. 15).
258
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
Conclusiones
“Reposiçao” y “La flor del Espíritu Santo” se presentan en
escenarios postapocalípticos que denuncian la crisis ecológica que
padece actualmente el planeta. Además, problematizan cómo el
259
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
Referencias
BELLAMY, Brent; SZEMAN, Imre. Life after People: Science Faction and
Ecological Futures. In: CANAVAN, Gerry; ROBINSON, Kim Stanley. Green Planets:
Ecology and Science Fiction. Connecticut: Wesleyan University Press, p. 192-
205, 2014.
BENJAMIN, Walter. Tesis II. In: LÖWY, Michael. Walter Benjamin: Aviso de incendio.
Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica de Argentina, p. 54-55, 2002.
BUTLER, Judith. Vida precaria: El poder del duelo y la violencia. Buenos Aires:
Paidós, 2006.
CANAVAN, Gerry. Introduction: If This Goes On. In: CANAVAN, Gerry;
ROBINSON, Kim Stanley. Green Planets: Ecology and Science Fiction.
Connecticut: Wesleyan University Press, p. 1-21, 2014.
CARRERA MALDONADO, Beatriz; RUIZ ROMERO, Zara. Prólogo. In: CARRERA
MALDONADO, Beatriz; RUIZ ROMERO, Zara. Abya Yala Wawgeykuna. Artes,
260
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
261
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
262
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
1 “No hay mitología ni religión que no haya previsto de alguna manera el fin del universo
en el que vivimos”. Salvo indicación contraria, todas las traducciones de citas son nuestras.
263
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
especulativo, esto es, sin un vínculo directo con sucesos históricos reales. La
leyenda platónica de la Atlántida es tal vez el ejemplo más famoso de esta
clase de apocalipsis ficticio localizado en un tiempo pretérito legendario
y presentado con todas las características de la “imaginación razonada”
y sus subsiguientes exigencias de verosimilitud y coherencia interna, con
tanta eficacia que muchos han creído en la existencia real de aquella isla-
continente hundida por los dioses y han buscado por todo nuestro planeta
su ubicación, e incluso sus ruinas. Ninguna de estas exploraciones ha
tenido éxito, por el simple motivo de que la Atlántida es un territorio tan
ficticio como la Hyboria donde el personaje de Conan, creado por Robert
E. Howard, se abre camino entre ciudades y civilizaciones tan imaginarias
como la Atlántida platónica.
La comparación no está tan desencaminada como se podría creer a
primera vista. Aunque Platón utiliza el discurso historiográfico y Howard
el novelístico, sus universos ficticios presentan características similares.
En ambos casos, se trata de mundos secundarios distintos del mundo
primario o fenoménico en el que vivimos y en el que se desarrollan
asimismo las ficciones miméticas o realistas, incluidas las ambientadas
en cualquier período histórico que haya existido. En cambio, los mundos
secundarios de Platón y Howard son el resultado de un proceso que
J. R. R. Tolkien llamaba subcreation, subcreación mediante la cual se
generan en la ficción universos que guardan plena autonomía respecto al
primario, pero que reclaman un pacto de lectura basado en lo que Tolkien
denominaba secondary belief, esto es, la creencia secundaria por la que
se admite voluntaria y ficticiamente la existencia real de esos universos.
Los mundos secundarios subcreados a la manera tolkieniana tienen sus
propios parámetros espaciales y temporales, su propio orden social,
cultural y ontológico, y su propia causalidad, que puede ajustarse o no a
las leyes naturales de nuestro universo primario, pero que es coherente y
lógica dentro de sus universos especulativos. A diferencia de los mundos
264
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
265
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
266
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
267
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
5 “La ruina emociona precisamente porque tiene un significado que han dejado
de tener los meros vestigios, porque remite a un antes y, a veces, a un después. Hace
tangible el movimiento de la historia, la noción de un flujo irreversible, y le da un sentido
dolorosamente premonitorio”.
268
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
269
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
6 “que estrecha entre sus brazos una larga isla” (FRANCE, 2021, p. 169).
7 Esta convicción subyace a un poema aún más decadente que el de France escrito en
catalán por Jeroni Zanné y titulado “L’urbs ignota” (Imatges i melodies, 1906). En este
abundan los “detalles desrealizadores y marcadamente simbólicos, como la imagen de
la ciudad en ruinas bajo la púrpura o que en ella sean permanentes el otoño y una luz
fantasmal de crepúsculo. La arquitectura pagana y bizantina, además del repaso en los
vicios de unos habitantes físicamente refinados, recalcan el aire decadente de la urbe”
(MARTÍN RODRÍGUEZ, 2019-2020, p. 197), cuya atmósfera no corresponde a la de un
misterioso mundo secundario épico-fantástico en el que impera el vicio. No se trata,
270
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
empero, de un universo postapocalíptico indudable, porque entre las ruinas de esa urbe
ignota sigue habiendo habitantes que, a diferencia de las sombras humanas de un cuento
simbolista francés de Bernard Lazare que comentaremos más adelante, no parecen
haber sido víctimas de otra catástrofe que no sea su propia degradación moral. De esta
se desprende la posible explicación de unas deficiencias cívicas que parecen impedirles
poner remedio a la decadencia de una ciudad en la que “[s]’aguanten per miracle les
trèmules ruïnes / de vells bocins cobertes de porpra imperial” (ZANNÉ, 2019, p. 274),
frase traducida al castellano como sigue: “Aguantan por milagro las trémulas ruinas de
viejos pedazos cubiertos de púrpura imperial” (ZANNÉ, 2019-2020, p. 208).
8 “Es el cuerpo de una mujer en cuclillas, un cuerpo lascivo, joven y cansado que acarició
sin duda la mirada de un siglo impío” (FRANCE, 2021, p. 169).
9 “ángeles y reyes, vírgenes y magos” (FRANCE, 2021, p. 169).
271
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
272
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
273
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
anterior de los navíos que solían fondear en sus muelles. La visión adopta
entonces la forma de viaje mental a aquel tiempo al modo de las fantasías
del ciclo onírico de H. P. Lovecraft, pero se trata solo de una ilusión que
acaba resultando, más que el recuerdo que aparenta ser, una engañosa
ensoñación personal, tal y como señala el yo poético en el último verso:
“[u]n vis amăgitor, pierdut – in mine”12 (PETROFF, 1987, p. 128).
Pese al evidente subjetivismo de estos poemas de Feijó y Petroff, las
ruinas imponen en ellos su propia presencia. Su materialidad se resalta
mediante unas imágenes sensoriales que les confieren notable visualidad,
a veces muy sugestiva, por ejemplo, en el pasaje en el que Petroff describe
unos islotes sedimentarios petrificados “[î]n tragica pustietate / a apelor
opace”13 (p. 127). De este modo, la visión fantástica de unas ruinas sin
referentes reales directos genera unos universos ficticios ambientados
en un legendario pasado preapocalíptico que sustenta la perspectiva
lírica. Por otra parte, al igual que los de France y Samain, esos universos
podrían considerarse no estrictamente épico-fantásticos, ya que la
correspondencia ontológica es casi total en ellos entre el mundo primario y
el secundario. Aunque este aparezca delimitado y separado en el espacio y
el tiempo, carece en todos estos poemas de “its own social and ontological
order, and its own causality, unusual from the point of view of mimetic
reality but perfectly coherent and logical within the fictional universe”14
(TRĘBICKI, 2014, p. 488). En otras palabras, la construcción de tales
universos ficticios no incluye la invención y el funcionamiento coherentes
de mecanismos imposibles en el mundo primario, pero normales en el
secundario, a diferencia de lo que nos tiene acostumbrados la fantasía
274
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
15 Esta definición, que creemos precisa y correcta, excluiría de la fantasía épica varios de
las ficciones sobre ruinas consideradas en el presente ensayo. Para superar esta limitación
perfectamente justificada desde el punto de vista de la teoría literaria, podríamos proponer
una categoría más amplia de fantasía fabulosa. Esta abarcaría la fantasía épica y los demás
mundos secundarios de cualquier clase, esto es, todo lo que en inglés se denomina fantasy
en general, incluidos aquellos a los que se accede desde el mundo primario (portal fantasies
o fantasías liminares). Se trataría entonces de lo que los antiguos llamaban la fábula como
modalidad literaria opuesta a la historia, que se supone ser real y fiel a los sucesos del mundo
primario. La literatura mimética funciona como la historia, pues su búsqueda de la ilusión o el
efecto de realidad implica que, a efectos semióticos y narratológicos, una ficción mimética o
realista equivalga a un reportaje, como bien advirtió Stéphane Mallarmé.
16 “ciclo de la decadencia y de las decrepitudes” (ANGELLIER, 2021, p. 171).
275
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
17 “cuando Natura / oía los votos de la humana estirpe” (GRAF, 2021, p. 170).
18 “mucho antes que Babel y la Atlántida” (DIERX, 2020, p. 20).
19 “era un templo que emergía de las espesuras de arena, en ruinas, aunque todavía
276
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
colosal, mil veces más grande que los de Karnak y Angkor. Escaleras sin fin, que sostenían
avenidas de monstruos, se superponían y caían entre las nubes, a las que parecían servir de
torrentera” (DIERX, 2020, p. 20).
20 “en los que todo se confunde” (DIERX, 2020, p. 20).
277
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
21 “un arte inimitable aparece unido a una fuerza sobrehumana, a un ingenio divino”
(GRAF, 2018, p. 112).
278
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
279
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
280
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
281
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
sino, como un calvario mucho más insoportable, a la mirada y las preguntas sin respuesta
que dirige a seres privados de voz y de mirada, es decir, privados de su humanidad”.
23 “restos de los arcos de triunfo, desposeídos de las antiguas glorias” (LAZARE, 2018, p. 112).
24 “cuyas acanaladuras rezumaban lágrimas evocadoras de duelos prodigiosos” (LAZARE,
2018, p. 112).
25 “sombras prisioneras, retenidas en los lugares que otrora habían amado” (LAZARE,
2018, p. 115).
282
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
283
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
284
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
285
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
Referencias
ANGELLIER, Auguste. La ville ruinée. In: ANGELLIER, Auguste. Dans la lumière
antique: Les Épisodes (seconde partie). Paris: Hachette et Cie, p. 94-104, 1909.
ANGELLIER, Auguste. La ciudad arruinada. Hélice: Reflexiones Críticas sobre
Ficción Especulativa, v. 7, n. 1, p. 171-174, 2021. Disponible en: https://www.
revistahelice.com/revista_textos/n_30/H%C3%A9lice%2030%202021%20
Primavera-Verano%20VISIONES%20TRAS%20LOS%20APOCALIPSIS.pdf. Acceso
en: 15 jun. 2021.
BRAGA, Corin. La littérature “fantasy”. In: BRAGA, Corin. Pour une morphologie
du genre utopique. Paris: Classiques Garnier, p. 39-44, 2018.
DAVID, Marie-France. Antiquité latine et décadence. Paris: Honoré Champion,
2001.
DIERX, Léon. La Ruine. In: DIERX, Léon. Œuvres poétiques complètes. Poèmes et
poésies. Les Lèvres closes. 7. ed. Paris: Alphonse Lemerre, p. 172-174, 1925.
DIERX, Léon. La ruina. Delirio, n. 27, p. 20, 2020.
FEIJÓ, António. Ruínas. In: FEIJÓ, António. Sol de Inverno: seguido de Vinte
Poesias Inéditas. Lisboa: Imprensa Nacional Casa de Moeda, p. 142, 1981.
FEIJÓ, António. Ruinas. Hélice: Reflexiones Críticas sobre Ficción Especulativa,
v. 7, n. 1, p. 176, 2021. Disponible en: https://www.revistahelice.com/
revista_textos/n_30/H%C3%A9lice%2030%202021%20Primavera-Verano%20
VISIONES%20TRAS%20LOS%20APOCALIPSIS.pdf. Acceso en: 15 jun. 2021.
FRANCE, Anatole. La Vision des ruines. In: FRANCE, Anatole. Les Poëmes dorés.
Paris: Alphonse Lemerre, p. 41-46, 1873.
FRANCE, Anatole. La visión de las ruinas. Hélice: Reflexiones Críticas sobre
Ficción Especulativa, v. 7, n. 1, p. 169, 2021. Disponible en: https://www.
286
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
revistahelice.com/revista_textos/n_30/H%C3%A9lice%2030%202021%20
Primavera-Verano%20VISIONES%20TRAS%20LOS%20APOCALIPSIS.pdf. Acceso
en: 15 jun. 2021.
GARCÍA PÉREZ, Rafael. Interpretaciones de la ciudad muerta en la poesía francesa
y española. Çédille: Revista de Estudios Franceses, n. 4, p. 119-130, 2008.
GRAF, Arturo. Tempio distrutto. In: GRAF, Arturo. Le Danaidi. 2. ed. Torino:
Ermanno Loescher, p. 14, 1905.
GRAF, Arturo. Templo destruido. Hélice: Reflexiones Críticas sobre Ficción
Especulativa, v. 7, n. 1, p. 170, 2021. Disponible en: https://www.revistahelice.
com/revista_textos/n_30/H%C3%A9lice%2030%202021%20Primavera-
Verano%20VISIONES%20TRAS%20LOS%20APOCALIPSIS.pdf. Acceso en: 15 jun.
2021.
GRAF, Arturo. La città dei titani. In: GRAF, Arturo. Le Danaidi. 2. ed. Torino:
Ermanno Loescher, p. 15-18, 1905.
GRAF, Arturo. La ciudad de los titanes. Hélice: Reflexiones Críticas sobre Ficción
Especulativa, v. iv, n. 10, p. 112, 2018. Disponible en: https://revistahelice.com/
revista_textos/n_24_sup/Suelto%20La%20ciudad%20de%20los%20titanes.pdf.
Acceso en: 15 jun. 2021.
LACARRIÈRE, Jacques. La Fin du monde. In: LACARRIÈRE, Jacques. Au cœur des
mythologies: En suivant les Dieux. Paris: Oxus, p. 325-339, 2004.
LAZARE, Bernard. La Vie sans effroi. In: VIBERT, Bertrand (Ed.). Contes
symbolistes. Vol. I. Grenoble: Ellug, p. 205-212, 2009.
LAZARE, Bernard. La vida sin temor. Hélice: Reflexiones Críticas sobre Ficción
Especulativa, v. 4, n. 10, p. 113-116, 2018. Disponible en: https://www.
revistahelice.com/revista_textos/n_24_sup/Suelto%20La%20vida%20sin%20
temor.pdf. Acceso en: 15 jun. 2021.
MARTÍN RODRÍGUEZ, Mariano. Fantasía épica panlatina: lugares simbólicos.
Hélice: Reflexiones Críticas sobre Ficción Especulativa, v. 5, n. 2, p. 194-205,
2019-2020. Disponible en: https://www.revistahelice.com/revista_textos/n_27/
Helice%2027%202019%20Oto%c3%b1o-Invierno%20FANTASIA%20EPICA%20
PANLATINA.pdf. Acceso en: 15 jun. 2021.
MARTÍN RODRÍGUEZ, Mariano. Originalidad y representatividad de un erudito
escritor toledano: Francisco Navarro Ledesma y la literatura finisecular. In: NAVARRO
LEDESMA, Francisco. Los nidos de antaño. Toledo: Ledoria, p. 11-99, 2020.
287
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
MORTIER, Roland. La Poétique des ruines en France: Ses origines, ses variations
de la Renaissance à Victor Hugo. Genève: Droz, 1974.
NAVARRO LEDESMA, Francisco. La Ciudad Eterna. In: NAVARRO LEDESMA,
Francisco. Los nidos de antaño. Toledo: Ledoria, p. 124-131, 2020.
PETROFF, Alexandru. Cetatea moartă. In: SCARLAT, Mircea (Ed.). Climat poetic
simbolist. București: Minerva, p. 127-128, 1987.
PETROFF, Alexandru. La ciudad muerta. Hélice: Reflexiones Críticas sobre
Ficción Especulativa, v. 7, n. 1, p. 175, 2021. Disponible en: https://www.
revistahelice.com/revista_textos/n_30/H%C3%A9lice%2030%202021%20
Primavera-Verano%20VISIONES%20TRAS%20LOS%20APOCALIPSIS.pdf. Acceso
en: 15 jun. 2021.
PIERROT, Jean. L’Imaginaire décadent (1880-1900). 2. ed. Mont-Saint-Aignan:
Publications des Universités de Rouen et du Havre, 2007.
SAMAIN, Albert. Ciudad muerta. In: SAMAIN, Albert. El jardín de la infanta.
Granada: Comares, p. 229, 1993.
SAMAIN, Albert. Ville morte. In: SAMAIN, Albert. Œuvres poétiques complètes.
Paris: Classiques Garnier, p. 162, 2015.
TRĘBICKI, Grzegorz. Mythic Elements in Secondary World Fantasy and
Exomimetic Literature. In: RATAJCZAK, Tomasz; TROCHA, Bogdan (Eds.).
Mityczne scenariusze. Od mitu do fikcji, od fikcji do mitu. Zielona Góra: Oficyna
Wydawnicza Uniwersytetu Zielonogórskiego, p. 41-52, 2011.
TRĘBICKI, Grzegorz. Supragenological Types of Fiction versus Contemporary
Non-Mimetic Literature. Science Fiction Studies, v. 41, n. 3, p. 481-501, 2014.
VIBERT, Bertrand. La Vie sans effroi. In: VIBERT, Bertrand (Ed.). Contes
symbolistes. Vol. i. Grenoble: Ellug, p. 203-205, 2009.
ZANNÉ, Jeroni. L’urbs ignota. In: ZANNÉ, Jeroni. Poesia original completa.
Barcelona: Trípode, p. 274, 2019.
ZANNÉ, Jeroni. La urbe ignota. Hélice: Reflexiones Críticas sobre Ficción
Especulativa, v. 5, n. 2, p. 208, 2019-2020. Disponible en: https://www.
revistahelice.com/revista_textos/n_27/Helice%2027%202019%20Oto%c3%b1o-
Invierno%20FANTASIA%20EPICA%20PANLATINA.pdf. Acceso en: 15 jun. 2021.
288
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
289
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
290
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
291
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
292
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
293
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
294
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
295
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
296
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
297
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
en las primeras décadas del siglo XX: su desvelamiento como distopía. Eso
significa abrazar, por una parte, el impulso latente de las sociedades y de
sus intérpretes hacia un mundo mejor y que se contempla como posible
– frente a la posmodernidad y nuestro presente donde la utopía se ha
convertido en impensable, esto es, parece no poder ser pensada – y, por
otra parte, patentiza un doble reconocimiento: el del lado oscuro y perverso
que puede contener de todo proyecto ambicioso de experimentación
radical con los fundamentos sociales; y las dificultades efectivas para la
realización. Y eso patentiza falta de confianza ante las transformaciones
sociales extremistas – y los discursos que las sostienen – que explica, claro,
el pesimismo del texto. Este no se basa en las dificultades de ejecución
de un proyecto de reconstrucción posapocalíptico, en su temporalidad,
o en su carencia de medios, sino que el fracaso anida más adentro: en la
naturaleza humana, agresiva, egoísta y posesiva. A diferencia de Clarín,
que parecía situar el (primer) fracaso (pre-apocalíptico) en el estadio
civilizatorio alcanzado, que había provocado el surgimiento de tipos
humanos ‘cansados’ e ineficaces (esos de los que Ganivet proporcionaba
una taxonomía al final de “Las ruinas”), o de Calderón, que plantea un
conflicto de conciencia entre racionalidad e instinto, o entre deber y
querer, aquí se entiende que es la esencia humana invariable la que
impide la construcción en un espacio sin reglas ni autoridad.
“Cuento absurdo” quiere proporcionar una fábula moral o
“cautionary tale” que prevenía, primero, ante los intentos de imposición
revolucionaria de una ideología en la sociedad, y por tanto preconizaba
una transformación gradual. Además, servía de recordatorio de las
enormes dificultades – de orden económico, político, material, de gestión,
de implantación – que afrontaría cualquier intento de transformación.
Previa a esta era necesario todo un trabajo de aclimatación de la sociedad,
de apertura, de aculturación, y de disolución del tradicionalismo y la
cerrazón. Ni las buenas intenciones ni la bondad de los planteamientos
298
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
299
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
300
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
301
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
humana, sino que pone en acto en sí mismo una crítica implícita del
momento histórico. Para finales del XIX, después del éxito de los textos de
Edward Bellamy (Looking Backward, 1888) y William Morris (News from
Nowhere, 1890), se habían implantado con claridad dos tendencias frente
al progreso generalizado: la de aquellos que deseaban más desarrollo
industrial y tecnológico, y la de los que reclamaban que el mundo volviera
a un tipo de vida más simple y cercana a la naturaleza. Los tres textos
aquí analizados se alinean con la segunda posición. Comparten con otros
muchos una lógica contra el progreso, en el que este es entendido como
supresión (de lo ineficaz, de lo superfluo), especialización, rutinización,
sustitución, simplificación, deshumanización, ultrarracionalización,
automatización, progresión (in crescendo), estandarización (eliminación
de diferencias y alcance global y para toda la población, i.e. igualación),
asepsia y desigualdad. Esta sería una razón más junto a lo dicho hasta
ahora por la cual estos cuentos pueden leerse como ficcionalizaciones
de inadaptación al medio, ante el cual se produce un doble intento de
huida, el primero en la causación del desastre, y el segundo una vez que
la duración indiferenciada, percibida como pesadilla anterior al evento
apocalíptico, retorna tras él en la forma de carencia de cambio efectivo.
Como hemos visto, estas narraciones constituyen visiones
escatológicas donde los cataclismos adquieren suprema importancia,
pues se entienden como rupturas en el orden de la historia. Los textos
presentan el relato del fin del mundo y sus secuelas como el acto
creativo de una imaginación secular, que además está narrado como
produciéndose bajo circunstancias racionalmente concebibles, con lo que
así se rechazan visiones fantásticas, así como el apocalipticismo ingenuo
basado en la noción de que el futuro puede ser predicho. Como hemos
visto, eso no impide que en este apocalipticismo secular se presenten
reinterpretaciones de motivos pertenecientes a religiones antiguas, entre
los que sobresalen por razones evidentes los motivos bíblicos.
302
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
303
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
304
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
Referencias
ALAS, Leopoldo. Cuento futuro. In: MOLINA PORRAS, Juan (Ed.). Cuentos
fantásticos en la España del realismo. Madrid: Cátedra, p. 227-254, 2006.
FOUCAULT, Michel. Los espacios otros. Disponible en: http://textosenlinea.
blogspot.com/2008/05/michel-foucault-los-espacios-otros.html. Acceso en: 17
mar. 2021.
JAMESON, Fredric. Progress versus Utopia; or, Can We Imagine the Future?.
In: LATCHAM, Rob (Ed.). Science Fiction Criticism: An Anthology of Essential
Writings, Londres: Bloomsbury, p. 211-224, 2017.
SONTAG, Susan. The Imagination of Disaster. In: LATCHAM, Rob (Ed.). Science Fiction
Criticism: An Anthology of Essential Writings, Londres: Bloomsbury, p. 188-199,
2017.
VICENTE, Ángeles. Cuento absurdo. In: HERRERO SENÉS, Juan (Ed.). Mundos
al descubierto. Antología de la ciencia ficción de la Edad de Plata (1898-1936).
Sevilla: Renacimiento, p. 339-350, 2021.
305
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
306
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
307
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
308
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
4 Dado que no sucede en otro mundo sino en otro tiempo podemos también considerar
esta novela como ucronía.
309
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
Fue por entonces que surge, casi por casualidad, una invención,5 un
proyecto científico que consistía en lograr la inmortalidad de la mente humana,
convirtiéndola en una mente virtual con memoria y sensaciones. Tal proyecto
retoma antiguas utopías religiosas que gobiernan las vidas con la promesa
de eternidad y de felicidad ilimitada, pero fundada ahora en la ciencia que
recuperaba un deseo profundo del inconsciente humano. Así sucede siempre
que se descubre algo: el deseo estaba allí pero nadie lo había visto.
La crónica de los cambios y accidentes que sufrió el descubrimiento
(con su costado idealista) y el producto comercial que gracias a la
tecnología (como siempre y cada vez más) originó su aplicación, conforma
el contenido de la narración que transcurre a lo largo del siglo XXI, dándole
carácter de novela anticipatoria sobre un futuro que es la proyección de
lo que vivimos en este presente y de una utopía realizada que al mismo
tiempo es también una distopía.
Y tal como afirmaba Piglia (1990), los géneros utópicos forman
parte de una política de la literatura que indaga en el tejido de ficciones
5 Con el tema de la invención técnica, la novela Sinfín se inscribe en una larga tradición
de la narrativa argentina de ficción fantástica asociada a lo científico, que hace su aparición
con Holmberg y Lugones, continúa con Quiroga y Arlt y la hallamos en Bioy Casares (La
invención de Morel, 1940), que la convierte también en metáfora de la creación artística
y como parte del programa antirrealista que los ocupaba con Borges a la cabeza. En cada
caso los conflictos que devienen de los descubrimientos de la ciencia son resueltos según
la época y la perspectiva ideológica. En Piglia la Máquina inventada por Macedonio es,
entre otras significaciones, una imagen de la novela concebida como resultado del tejido de
ficciones sociales que la alimentan, pero también, imagen de una psiquis sin cuerpo y modo
de vencer a la muerte (ARÁN, 2003).
310
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
311
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
312
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
313
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
314
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
315
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
316
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
317
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
318
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
6 Caparrós utiliza una frase muy conocida: “es más fácil imaginar el fin del mundo que el fin del
capitalismo, y posiblemente ello se deba a una falta de nuestra imaginación” (JAMESON, 2000).
319
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
320
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
Referencias
ARÁN, Pampa. Voces y fantasmas en la narrativa argentina. In: ARÁN, Pampa
et al. Umbrales y catástrofes: literatura argentina de los ‘90. Córdoba: Epoké
ediciones, 2003.
BAJTÍN, Mijail. El problema del contenido, del material y de la forma en la
creación artística verbal. In: BAJTÍN, Mijail. Teoría y estética de la novela.
Madrid:Taurus, p. 13-75, 1989.
BORGES, Jorge L. Ficciones. In: BORGES, Jorge L. Obras completas. Buenos Aires:
Emecé editores, 1974.
CAPARRÓS, Martín. Sinfín. Bs.As.: Random House Grupo editorial, 2020.
CUETO, Sergio. Notas para una política de la literatura. Boletín/3, Rosario: UNR,
p. 1-10, setembro, 1993.
321
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
DIEGO, Matías de. Martín Caparrós: “Nos resulta más fácil imaginar el final
del mundo que el fin del capitalismo”. elDiario.es. 9 mar. 2020. Disponible
en: https://www.eldiario.es/cultura/martin-caparros-imaginarnos-fin-
capitalismo_128_1042390.html. Acceso en: 7 de feb. de 2021.
JACKSON, Rosemary. Fantasy: literatura y subversión. Buenos Aires: Catálogos
Editora, 1986.
JAMESON, Fredric. Las semillas del tiempo. Madrid: Trotta, 2000.
PIGLIA Ricardo. Crítica y ficción. Buenos Aires: Siglo XX, 1990.
PIGLIA Ricardo. La ciudad ausente. Buenos Aires: Sudamericana, 1992.
322
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
AUTORES
323
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
324
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
325
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
326
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
327
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
Rubén Sánchez Trigos – Se doctoró con una tesis sobre el cine de zombis
español. Imparte clases de guion y literatura en U-Tad y en el Máster de
Guión y Series de Televisión de la URJC. Ha publicado artículos en revistas
como Brumal, Pasavento o Science Fiction Studies y en libros como Historia
de lo fantástico en la cultura española o Historia de la ciencia ficción en
la cultura española. Es autor del ensayo La orgía de los muertos. Historia
del cine de zombis español (Shangrilá, 2019). Ha publicado las novelas Los
huéspedes (Finalista del Premio Drakul, 2009) y Bajo el barro (Planeta,
2020). Es co-guionista de los cortos Cambio de turno (2006), La luz (2021)
y El intruso (2005), nominado al Goya al Mejor Cortometraje de Ficción.
Entre otros proyectos audiovisuales, ha trabajado en el guion de Verónica
(Paco Plaza, 2017).
328
FICÇÕES PÓS-APOCALÍPTICAS NAS VERTENTES DO FANTÁSTICO
329
Ficções
pós-apocalípticas
nas vertentes do fantástico
Série
A escrita literária: teorias, histórias e poéticas - nº 8